quarta-feira, 23 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Proibir entrevista é indevido e inoportuno

O Globo

Para se defender de imensa pressão, Supremo não pode atropelar direitos fundamentais

Réu por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro é julgado em meio à indevida pressão de Donald Trump sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de tarifas sobre as exportações brasileiras e ameaças aos ministros da Corte. Desde o início das investigações, são notórias as tentativas de obstrução de Justiça perpetradas pelo ex-presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro nas plataformas digitais. Dado o histórico de desprezo pelas instituições democráticas, é alto o risco de fuga ou pedido de asilo. Ciente disso, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou na semana passada o uso de tornozeleira eletrônica e proibiu a aproximação do ex-presidente a postos diplomáticos. Também o impediu de usar redes sociais, “diretamente ou por intermédio de terceiros”.

As prévias dos Bolsonaros - Thiago Prado*

O Globo

Ex-presidente ainda custa a aceitar o governador Tarcísio de Freitas como o melhor candidato para enfrentar Lula

Na viagem que o pastor Silas Malafaia fez para Angra dos Reis com Jair Bolsonaro em março, quando posaram para fotos andando de lancha, o líder evangélico que o ex-presidente tanto escuta deixou o seguinte recado numa conversa privada: não achava seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, a melhor escolha para disputar o Planalto em 2026. Naquele mês, o parlamentar deixara o Brasil rumo aos Estados Unidos, e tirar sarro da viagem dele era o esporte preferido das rodas de conversa da direita à esquerda.

— Quem é Eduardo Bolsonaro para fazer o governo americano tomar decisões? — questionou o próprio Malafaia, em maio, quando começaram a crescer as especulações sobre uma possível sanção do governo americano a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na sexta-feira, depois do anúncio feito pelos Estados Unidos de que os vistos do ministro Alexandre de Moraes, “seus aliados e familiares imediatos” estavam sendo suspensos, Eduardo Bolsonaro lembrou, nas redes, as ocasiões em que sua capacidade de articulação no exterior foi ironizada. Postou as reportagens “Eduardo Bolsonaro vira chacota em jantar na casa de Moraes”, de Igor Gadelha, do Metrópoles; e “Ministros do STF fazem piada sobre quem terá visto para os EUA cancelado por Donald Trump”, de Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo.

O espetáculo da tornozeleira - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ex-presidente exibiu aparelho para inflamar seguidores contra o Supremo

Na sexta-feira, Jair Bolsonaro acordou com a Polícia Federal na porta de casa. Ainda não era a hora da tranca. Os agentes tinham ordens para fazer buscas e liberá-lo após a instalação de uma tornozeleira eletrônica.

Cumprido o mandado judicial, o capitão passou a conceder uma série de entrevistas. Em todas elas, recusou pedidos para mostrar o aparelho recém-acoplado. “É humilhante, degradante. Eu tenho vergonha de falar que estou com uma tornozeleira”, justificou. 

O mistério do dólar de 9 de julho – Elio Gaspari

O Globo

O ministro Alexandre de Moraes atendeu ao pedido da Advocacia-Geral da União para que se investigue o que aconteceu com o dólar no dia 9 de julho passado. O caso tramitará sob segredo de Justiça.

Parte do que aconteceu, todo mundo sabe: o presidente Donald Trump anunciou, às 16h17, uma sobretaxa de 50% para as exportações brasileiras.

O que nem todo mundo sabia, e o Jornal Nacional mostrou, era que, às 13h30, alguém comprou entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões cotados a R$ 5,46. Poucos minutos depois do anúncio das sanções, esse alguém (ou alguéns) vendeu o ervanário comprado três horas antes, com dólar cotado a R$ 5,60. A 14 centavos para cada dólar comprado e vendido (diferença entre as duas cotações), alguém ganhou R$ 140 milhões para cada bilhão operado às 13h30m. Grande tacada, das maiores já vistas. Em tese, quem a armou poderia não ter desembolsado um só real. Pelos mecanismos existentes, um operador pode comprar dólares num dia para pagar só no dia seguinte.

‘Pela primeira vez conseguimos dialogar com parte do eleitor de Bolsonaro’, diz novo presidente do PT

Por Renata Agostini e Sérgio Roxo / O Globo

Edinho Silva afirma que que todas as lideranças da sigla terão de 'cumprir missões' nas eleições do ano que vem, o que inclui Haddad, que tem dito não querer se candidatar

Novo presidente do PT, Edinho Silva diz que o tarifaço anunciado por Donald Trump e a discussão sobre justiça tributária, colocada na rua após o Congresso derrubar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), fizeram com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguisse, pela primeira vez desde sua posse, conversar com parte do eleitor de Jair Bolsonaro. Em entrevista ao GLOBO, ele vê essa aproximação com o que chama de eleitor "conjuntural" do ex-presidente. "Não é o eleitor ideológico, convicto", avalia. Edinho, que tomará posse em agosto e dirigirá a legenda até 2029, afirma que todas as lideranças do PT terão de “cumprir missões” nas eleições do ano que vem, e isso inclui o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem dito não querer se candidatar. O novo presidente do PT ainda defende uma reforma política com a adoção do voto em lista para a Câmara, com os indicados escolhidos pelos partidos.

Para militares, crise com Trump remete à Guerra da Lagosta - Fernando Exman

Valor Econômico

Episódio da década de 1960 entre Brasil e França deixou como mensagem a reflexão sobre a necessidade de se discutir a fundo o significado da palavra “soberania”

No meio militar, menciona-se a “Guerra da Lagosta” quando se analisa os possíveis desdobramentos da atual turbulência nas relações bilaterais com os Estados Unidos. Aquele episódio ocorreu na década de 1960 entre Brasil e França e, apesar do nome, não culminou com um conflito armado. Mas deixou como mensagem a reflexão sobre a necessidade de se discutir a fundo o significado da palavra “soberania”.

Defesa oferece a Moraes saída para adiamento de prisão - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O acolhimento da tese da defesa sobre a impossibilidade de conter o uso que as redes sociais fazem de Bolsonaro conferiria um rótulo “garantista” ao processo

Ante a saída espetaculosa de Jair Bolsonaro da Câmara dos Deputados, com a exibição da tornozeleira e o testamento de um perseguido frente a uma multidão de jornalistas, a prisão do ex-presidente parecia um desfecho certo. Afinal, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que proibia a veiculação de entrevistas até por perfis em redes de terceiros, havia sido frontalmente descumprida. De inevitável, porém, a prisão do ex-presidente findou improvável.

Apenas na manhã desta quarta, quando cai a inviolabilidade do domicílio, garantia constitucional para o período noturno, será possível saber se o ex-presidente será preso, mas, no fim da terça, não era esta a expectativa entre advogados, procuradores e até no Supremo Tribunal Federal.

Simpatia de Trump por Bolsonaro é parte de padrão ‘alarmante’ - Edward Luce

Valor Econômico/ Financial Times

Assessores poderiam apontar para o presidente dos EUA que ele está atrapalhando a própria agenda de interesses

Você está mal nas pesquisas? Preocupado em ser esquecido nas eleições? Mark Carney, do Canadá, Anthony Albanese, da Austrália, e, agora, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, têm uma solução para você. Basta que Donald Trump lance uma guerra comercial contra seu país. Poucas coisas são melhores para arregimentar eleitores em torno à bandeira de um país do que o ataque de uma superpotência contra o bolso deles.

O primeiro pontífice dos Estados Unidos, Robert Francis Prevost, também poderia creditar sua eleição a Trump, embora o Vaticano não seja uma entidade comercial. Trump e o falecido papa Francisco, antecessor do papa Leão XIV, não nutriam grande admiração entre si.

Na cartilha de Trump, no entanto, o Brasil está em uma categoria à parte. No início de julho, citando o processo contra Jair Bolsonaro, o presidente anterior do Brasil, Trump prometeu impor tarifas de 50% sobre os produtos da segunda maior democracia do Hemisfério Ocidental, a menos que o julgamento contra o político autoritário fosse cancelado. Poucos dias depois, o secretário de Estado americano, Mark Rubio, anunciou a revogação do visto entrada nos EUA do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que preside as audiências do processo contra Bolsonaro.

A inusitada aliança entre Gleisi e Haddad - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai fazer dobradinha com a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, nas articulações políticas com o Congresso para isolar aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a partir de agosto, quanto terminam as férias parlamentares. Ferrenhos adversários no PT, os dois se uniram no governo para cumprir a meta fiscal, dispostos a enfrentar a rebelião que se anuncia com a possível prisão de Bolsonaro.

Diário de um louco - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

É cada vez mais improvável que o Brasil consiga um acordo para evitar o tarifaço dos EUA

A escalada da tensão entre o governo Lula e o de Donald Trump, com o Supremo Tribunal Federal (STF) no centro da crise, torna menos provável que se chegue a um acordo para evitar que a tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros entre em vigor no dia 1.º de agosto. O problema é que, no atual mandato, Trump vem se mostrando mais irracional que o imaginado, o que aumenta o risco de um desfecho com consequências ainda mais graves para o Brasil.

Nas últimas semanas, um racha com importantes influenciadores do movimento MAGA (sigla para “Make America Great Again”), a base mais radical dos seus apoiadores, por conta do “escândalo Epstein”, vem deixando Trump emparedado politicamente e, pior, descontrolado. O empresário Jeffrey Epstein foi condenado por crimes sexuais e suicidou-se na prisão. Os apoiadores do MAGA pressionam Trump a divulgar uma suposta “lista Epstein”, de celebridades e políticos envolvidos com o empresário.

Lula e Bandung – Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

Bolsonaro e seus aliados ajudaram, Trump catapultou. Lula teve a firmeza e o vazio de lideranças mundiais fez aflorar um novo líder planetário

Em 1955, líderes mundiais se reuniram na cidade de Bandung, na Indonésia, para criar um movimento de países não alinhados com a União Soviética (URSS) nem com os Estados Unidos (EUA). Lutavam contra o colonialismo, pela soberania e pelo desenvolvimento nacional. Os líderes reunidos naquela conferência tornaram-se figuras icônicas em todo o mundo. Jawaharlal Nehru, Gamel Abdel Nasser, Chou En-Lai, Sukarno encarnaram o ideal de independência e progresso, simbolizando a possibilidade de que os países descolonizados superassem a pobreza e não fossem submetidos nem à Casa Branca nem ao Kremlin. No mundo inteiro, esses nomes passaram a significar independência e aspiração ao desenvolvimento econômico dos países libertados, livres da tutela das duas potências de então. Setenta anos depois, pode-se dizer que Bandung foi vitoriosa. 

8 de janeiro, o dia sem fim - Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

Agarrados a uma base radical e extremista, com a qual criaram uma relação simbiótica, pregam a perpetuação no poder e fomentam ódio, cizânia, divisão e ressentimento

"Dê poder a um homem e verá quem ele realmente é." A frase do filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) parece ter sido feita sob medida para alguns líderes (ou pseudolíderes) da atualidade. Eleitos pela democracia representativa, muitos deles governam para o próprio ego e representam mais suas ambições de poder do que a população. Por vezes, adquirem comportamento de déspotas: ignoram as leis e a Constituição, que prometeram honrar e respeitar ao serem empossados.

Agarrados a uma base radical e extremista, com a qual criaram uma relação simbiótica, pregam a perpetuação no poder e fomentam ódio, cizânia, divisão e ressentimento. Não suportam ser contestados por terceiros e muito menos pelas urnas. Tanto que, mesmo depois de derrotados, instigam o séquito mais reacionário a contestar a derrota. Os mesmos seguidores, que não se furtam em tripudiar sobre a morte de uma artista apenas porque ela simpatizava com uma corrente político-ideológica antagônica.

Rota de colisão entre Trump e Lula põe em xeque a democracia brasileira - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O “grande cargueiro” conduzido pelo temperamento abusivo e errático de Trump impõe sua rota ao mundo, sem se preocupar com os pequenos ou médios navegantes. É melhor corrigir o curso para evitar o naufrágio

Quando a marcação (rumo) é constante e a distância diminui, a rota é de colisão, diz uma regra básica de navegação. O direito de passagem é sempre daquele que tem maior dificuldade de manobra, por exemplo, um barco à vela em relação ao barco a motor. Entretanto, qualquer velejador experiente sabe que a regra não funciona quando o rumo cruzado é com um grande cargueiro. Nesse caso, é melhor ser feliz do que ter razão, ou seja, corrigir o curso para evitar um naufrágio.

A rota de colisão entre Trump e Lula não é apenas uma metáfora de relações diplomáticas tensas, mas um dilema real para o Brasil, que precisa equilibrar interesses comerciais estratégicos com a defesa de sua soberania e da democracia. O “grande cargueiro” norte-americano, conduzido pelo temperamento abusivo e errático de Trump, impõe sua rota ao mundo, sem se preocupar com os pequenos ou médios navegantes. O Brasil, nesse cenário, precisa escolher entre ser “feliz” – preservando sua democracia e autonomia -, como fariam os experientes velejadores, ou “ter razão” e colidir com a potência hegemônica.

Judiciário caça bruxas de direita - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Não há nada de novo sob o Sol quando Donald Trump resolve intervir no Brasil sob o pretexto de perseguição a Jair Bolsonaro

Se você, caro leitor, anda impressionado com a difusão da tese divulgada por bolsonaristas de que vivemos uma ditadura de toga e de que o Supremo Tribunal Federal faz parte de uma trama para prejudicar a direita radical, saiba duas coisas.

Primeiro, essa opinião não decorre de nada especificamente brasileiro. Trata-se de um discurso que a extrema direita repete em todo país onde é forte.

Segundo, ela integra uma metanarrativa transnacional já consolidada: a de que haveria uma "maquinação judicial" —ou "‘lawfare’ sistêmico"— orquestrada por elites globalistas ou instituições aparelhadas para neutralizar, criminalizar ou banir forças nacionalistas, populistas e iliberais.

Trump aceitaria uma derrota eleitoral? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Cientista político Adam Przeworski acredita que presidente americano poderia resistir a resultados desfavoráveis, em 2026 ou 2028

Meu filho David vinha havia várias semanas insistindo para eu conferir as postagens de Adam Przeworski, um cientista político de cujas obras gosto bastante, em seu substack. Przeworski, que é polonês, mas vive nos EUA e tem cidadania americana, mantém uma espécie de diário em que registra suas impressões e reflexões sobre o segundo mandato de Donald Trump.

Nos atropelos de um dia a dia que nos oferece muito mais material de leitura do que tempo disponível para fazê-lo, eu vinha adiando o encontro com Przeworski. Eis que, na semana passada, Maria Hermínia Tavares, que escreve aqui ao lado, também me sugeriu Przeworski e muito gentilmente ainda anexou sua última postagem ao email. Não daria mais para evitá-lo.

Eleição agora é mera miragem – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Candidaturas inexistentes levam a prognósticos fantasiosos de uma corrida eleitoral ainda distante

Pesquisas de opinião sobre projeções de votos nesta altura dos acontecimentos animam ou desanimam os engajados, mas estão a um passo de se configurar obra de ficção se considerado o universo completo do eleitorado.

Agora significa pouco ou quase nada fulano estar "xis" pontos à frente ou atrás de beltrano, como se diz, se as eleições fossem hoje. Fato é que serão só daqui a mais um ano num ambiente volátil, propício a erro de cálculos.

Síndrome de vira-lata do brasileiro acabou? - Michael França

Folha de S. Paulo

Apesar dos Bolsonaros, há um sentimento diferente no país

Quem acompanhou as declarações de Eduardo Bolsonaro nas últimas semanas pode até pensar o contrário. Expressões como "Deus abençoe os Estados Unidos da América", depois de ele ter influenciado a taxação de Trump e conspirado contra o próprio país, deixaram confusa a cabeça de muitos patriotas. Afinal, os Bolsonaros realmente queriam o "Brasil acima de tudo"? Ou será que seus ideais sempre estiveram voltados em colocar "sua família acima de todos"?

Os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais, embarcaram na onda. Pegou mal, muito mal. E logo tentaram voltar atrás, com os rabinhos entre as pernas. Apesar desse vira-latismo, parece que falar mal do Brasil está saindo de moda. Esse é justamente o tema de uma ótima reportagem da DW Brasil publicada no YouTube, que discute como parte de nossa atrasada elite econômica e política cultivou, ao longo de décadas, um certo desprezo pelo próprio país, enquanto exaltava tudo que vinha de fora.

Poesia | Sertão, de Ascenso Ferreira

 

Música | Novos Baianos - Brasil Pandeiro (Assis Valente)