O Estado de S. Paulo
É cada vez mais improvável que o Brasil consiga um acordo para evitar o tarifaço dos EUA
A escalada da tensão entre o governo Lula e o
de Donald Trump, com o Supremo Tribunal Federal (STF) no centro da crise, torna
menos provável que se chegue a um acordo para evitar que a tarifa de importação
de 50% sobre os produtos brasileiros entre em vigor no dia 1.º de agosto. O
problema é que, no atual mandato, Trump vem se mostrando mais irracional que o
imaginado, o que aumenta o risco de um desfecho com consequências ainda mais
graves para o Brasil.
Nas últimas semanas, um racha com importantes influenciadores do movimento MAGA (sigla para “Make America Great Again”), a base mais radical dos seus apoiadores, por conta do “escândalo Epstein”, vem deixando Trump emparedado politicamente e, pior, descontrolado. O empresário Jeffrey Epstein foi condenado por crimes sexuais e suicidou-se na prisão. Os apoiadores do MAGA pressionam Trump a divulgar uma suposta “lista Epstein”, de celebridades e políticos envolvidos com o empresário.
Na semana passada, o presidente processou o
The Wall Street Journal e seus donos, incluindo o magnata Rupert Murdoch,
depois que o jornal publicou uma reportagem sobre uma carta que Trump teria
enviado a Epstein, em 2003, pelo seu aniversário, com um desenho de uma mulher
nua. Como indenização, Trump pediu nada menos que US$ 10 bilhões (quase R$ 56
bilhões).
O estrago causado por Trump não se restringe
apenas à guerra tarifária ou à cruzada anti-imigração. Na quarta-feira passada,
o dólar e as Bolsas de Valores americanas chegaram a despencar logo após
rumores de que Trump iria demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome
Powell. E que Trump já teria escrito a carta de demissão. Diante da reação do
mercado, o presidente negou e os preços se recuperaram, mas segue a
desconfiança de que ele ainda tentará trocar o comando do banco central e
baixar os juros à força.
Rodeado de bajuladores e de assessores
submissos, Trump vem tomando decisões erráticas e fora da realidade, para não
falar em traços de delírios. Como negociar nessas condições? O presidente Lula
precisa manter o foco nas exportações e no emprego, deixando de lado arroubos
retóricos ou estratégias eleitorais.
Aliás, Lula não errou ao dizer que Trump não foi eleito para ser “imperador do mundo”. Em junho, americanos foram às ruas em protestos chamados “No Kings” (“Sem Reis”), diante dos excessos da gestão do republicano. Nessa toada, não dá até para descartar Trump se coroando de Napoleão III e dizendo a interlocutores pasmados: “O melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão”.
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