O Globo
Ex-presidente ainda custa a aceitar o
governador Tarcísio de Freitas como o melhor candidato para enfrentar Lula
Na viagem que o pastor Silas
Malafaia fez para Angra dos Reis com Jair
Bolsonaro em março, quando posaram para fotos andando de lancha, o
líder evangélico que o ex-presidente tanto escuta deixou o seguinte recado numa
conversa privada: não achava seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, a melhor
escolha para disputar o Planalto em 2026. Naquele mês, o parlamentar deixara o
Brasil rumo aos Estados Unidos, e tirar sarro da viagem dele era o esporte
preferido das rodas de conversa da direita à esquerda.
— Quem é Eduardo Bolsonaro para fazer o
governo americano tomar decisões? — questionou o próprio Malafaia, em maio,
quando começaram a crescer as especulações sobre uma possível sanção do governo
americano a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na sexta-feira, depois do anúncio feito pelos Estados Unidos de que os vistos do ministro Alexandre de Moraes, “seus aliados e familiares imediatos” estavam sendo suspensos, Eduardo Bolsonaro lembrou, nas redes, as ocasiões em que sua capacidade de articulação no exterior foi ironizada. Postou as reportagens “Eduardo Bolsonaro vira chacota em jantar na casa de Moraes”, de Igor Gadelha, do Metrópoles; e “Ministros do STF fazem piada sobre quem terá visto para os EUA cancelado por Donald Trump”, de Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo.
— Aguardando as risadas de canto de boca
agora — escreveu Eduardo para os seus seguidores.
Ao mesmo tempo que foi, sim, subestimado por
um espectro que vai de Malafaia a Moraes nos últimos meses, o deputado ganhou
moral com o eleitorado bolsonarista, segundo pesquisa divulgada pela Quaest na
semana passada. Na pergunta “Se Bolsonaro não for candidato em 2026, quem
deveria ser o candidato da direita?”, a ex-primeira-dama Michelle manteve a
liderança do levantamento passado com 33% das menções entre os simpatizantes do
ex-presidente, mas agora Eduardo aparece em segundo lugar (22%) e o governador
de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, em terceiro, com 20%. Mesmo assim, seu projeto presidencial
esvaziou-se. Bolsonaro não gostou nada, nada, da briga pública que o filho
protagonizou com Tarcísio, que vem buscando meios próprios para evitar o
tarifaço de Trump. Irritou-se mais ainda com as várias vezes em que telefonou a
Eduardo para interromper os ataques e não foi atendido.
— Ele, apesar de ter feito 40 anos de idade
agora, não é tão maduro assim para a política — alfinetou o ex-presidente, em
entrevista ao site Poder 360.
As prévias da família Bolsonaro — que só
ocorrem porque o ex-presidente ainda custa a aceitar Tarcísio como o melhor
candidato para enfrentar Lula —
registraram novos lances nos últimos tempos. Assim como Eduardo, Michelle
também perdeu força na interpretação de aliados para concorrer ao Planalto.
Depois de um discurso forte na manifestação de abril na Avenida
Paulista, em que até abraço deu no vereador e antigo desafeto Carlos
Bolsonaro, ela passou a ser defendida para o voo presidencial por nomes
como Malafaia e o presidente do PL,
Valdemar da Costa Neto. Passados três meses da euforia, o apoio minguou porque
Bolsonaro definitivamente não comprou a ideia.
— Acho que, de 0 a 10, 9 de Michelle vir
mesmo só ao Senado — afirma Malafaia, que já morreu de amores por Tarcísio, mas
hoje desconfia da voz mansa do governador contra o STF.
Nas últimas semanas, quem vem ganhando
terreno nas primárias dos Bolsonaros é o senador Flávio (PL). Tanto pelo canal
aberto com lideranças do Centrão quanto por ter incorporado recentemente um
discurso radical e bajulador do pai. Aquele que sempre vestiu a fantasia de
“filho mais moderado do clã” defendeu, no mês passado, a inacreditável tese de
que o futuro presidente poderá usar a força para garantir o indulto de
Bolsonaro depois da posse.
A força do filho “Zero Um” já entrou no radar
de quem manda na política nacional. Se a eleição fosse hoje, Gilberto
Kassab, presidente do PSD e
dos melhores avaliadores de cenário da política nacional, apostaria em Flávio
como o escolhido da família para a missão de enfrentar Lula. É ele hoje o
principal porta-voz da família em entrevistas na mídia tradicional e de direita
sobre o tarifaço de Trump e a tornozeleira eletrônica colocada no pai. Flávio
provavelmente terá o mesmo papel após o encerramento do julgamento da trama
golpista no STF, que poderá colocar Bolsonaro na cadeia.
*Thiago Prado é editor de Política e Brasil
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