sexta-feira, 25 de julho de 2025

Opinião do dia – Karl Marx*

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar e nessa linguagem emprestada.”

*Karl Marx (1818-1883), O 18 Brumário de Luiz Bonaparte, p.7, v. ll Os Pensadores – Marx. Nova Cultura, 1988.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso acerta ao conter radicalismo de bolsonaristas

O Globo

Lideranças rechaçam tentativas de pautar pacote de medidas anti-STF e contrário ao interesse nacional

Até o momento, a cúpula do Congresso e líderes do Centrão têm agido com sensatez ao conter os arroubos radicais em resposta às restrições impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao ex-presidente Jair Bolsonaro. É essencial que mantenham tal posição. Políticos ligados ao ex-mandatário aproveitam o ambiente conturbado para tentar emplacar uma série de pautas descabidas.

Uma delas, que faz parte do chamado pacote anti-STF, é a que muda a Lei do Impeachment para ministros da Corte, ampliando as hipóteses de crime de responsabilidade. Outra impõe prazos e novos critérios para tramitação dos pedidos de afastamento, de modo a evitar que fiquem engavetados. A pauta, que sempre vem à tona em momentos de crise entre os Poderes, tem potencial para dinamitar as relações entre Legislativo e Judiciário. Outra proposta desconexa é a que prevê anistia aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro.

Os bajuladores que parasitam as altas estruturas do poder no Brasil - José de Souza Martins

Valor Econômico

‘Quem fica oito anos no Senado sem nunca ter posto a mão da maçaneta de uma porta para abri-la, nunca mais quer sair daqui’, dizia Mário Covas

Era de Mário Covas, que fora senador e foi governador de São Paulo, a frase: “Quem fica oito anos no Senado sem nunca ter posto a mão na maçaneta de uma porta para abri-la, nunca mais quer sair daqui”. Referia-se ele aos muitos bajuladores que parasitam as altas estruturas do poder no Brasil.

Covas era sintético e objetivo, conseguia expressar em poucas palavras, em frases simples e diretas, uma realidade política complexa, retrógrada e, de certo modo, antirrepublicana. Nelas conseguia dizer o que o Brasil era justamente por não conseguir ser o que deveria e poderia. Esse Brasil sempre no meio do caminho de uma estrada que nos desencaminhava apesar das valorosas caminhadas do povo brasileiro em direção ao destino de país do futuro, como o definiu Stefan Zweig.

A disputa política é nas redes e nas ruas - Andrea Jubé

Valor Econômico

Lula se desdobra para chegar mais competitivo até o fim do ano

Num momento em que a esquerda revelou uma, até então, inédita capacidade de reação nas redes, com os motes do tarifaço de Donald Trump e do “BBB” - mais impostos para “big techs”, bilionários e “bets” -, cresceu a pressão de aliados para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedique mais aos seus perfis digitais. Lula resiste, e mostrou ontem que não renuncia ao velho estilo de política de palanque, de microfone na mão e contato direto com o povo.

A coluna “Pergunte aos Dados”, deste Valor, trouxe na terça-feira uma amostra do bom desempenho da esquerda nas plataformas nos dez primeiros dias da crise provocada pela tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump aos produtos brasileiros, ao argumento de que o ex-presidente Jair Bolsonaro seria alvo de uma “caça às bruxas”.

As pressões dos EUA por acesso preferencial a minerais brasileiros - Assis Moreira

Valor Econômico

Governo Trump tem mais margem de manobra agora, mas os europeus já garantiram acesso melhor

Os EUA nos últimos governos sempre tem tentado garantir o acesso sem restrições e de preferência somente para eles a minerais críticos brasileiros. São minerais essenciais para muitas tecnologias modernas e para a segurança nacional e econômica.

O apetite dos EUA por minerais estratégicos do Brasil já foi manifestado no primeiro mandato de Donald Trump (janeiro 2017-janeiro 2021), mas negociações não prosperaram. A demanda continuou no governo do democrata Joe Biden, sem resultado.

A ameaça de sanção agora por Trump envolvendo tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pode acelerar negociação mais concreta nessa área sensível, a margem de manobra de Washington é bem maior, mas a exclusividade exigida pelos EUA parece não ter como ser obtida.

O homem é bom – José Sarney*

Correio Braziliense

O lado bom da humanidade está nos pequenos gestos, nos desinteressados afetos e carinhos puros dos namorados, dos casais e dos heróis que dão a vida pelos outros, nas missões de caridade espalhadas pelo mundo

Não é falta de assunto. O Brasil está vivendo uma tempestade de crises. E a humanidade está se agredindo com a demonstração de uma violência devastadora que nos fere a alma no testemunho do que acontece em Gaza, na Ucrânia, na Líbia e em outros conflitos menores, além do terrorismo desumano que espreita em qualquer lugar, fazendo vítimas no mundo inteiro.

Mas não é disso que vou tratar: é justamente do lado bom da humanidade, que está nos pequenos gestos, nos desinteressados afetos e carinhos puros dos namorados, dos casais e dos heróis que dão a vida pelos outros, nas missões de caridade espalhadas pelo mundo inteiro, salvando a vida de mães, pais, filhos e órfãos.

Moraes alivia pressão sobre Bolsonaro, mas a corda continua esticada – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

"Apesar de reconhecer que houve descumprimento das restrições, o magistrado classificou o gesto e as declarações do ex-presidente uma 'irregularidade isolada', advertindo, porém, que qualquer nova infração resultará em prisão imediata"

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu não converter em prisão preventiva as medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro. Apesar de reconhecer que houve descumprimento das restrições, o magistrado classificou o gesto e as declarações do ex-presidente uma "irregularidade isolada", advertindo, porém, que qualquer nova infração resultará em prisão imediata. A decisão alivia a tensão entre Bolsonaro e o Judiciário, mas o ambiente político permanece carregado, especialmente diante do impasse diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos por causa do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros, que está a sete dias de entrar em vigor.

Ao ter trechos de seu discurso na Câmara dos Deputados divulgados on-line, Bolsonaro burlou, ainda que indiretamente, a decisão de Moraes de proibir o uso das redes sociais. O ministro ressaltou que "a Justiça é cega, mas não é tola" e proibiu explicitamente o uso de entrevistas ou discursos como "material pré-fabricado" para postagens de aliados. Todas as cautelares estão mantidas: tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana, restrição de contato com outros investigados, proibição de se aproximar de embaixadas e de manter comunicação com diplomatas estrangeiros.

Irregularidade isolada - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump deu uma boia para Lula, Alexandre de Moraes deu para Jair Bolsonaro. E depois recuou

Alexandre de Moraes está sendo para Jair Bolsonaro o que Donald Trump foi para Lula, pelo menos no primeiro momento da guerra do tarifaço de 50%: uma boia de salvação, ou a chance de ouro para sair do fundo do poço, ganhar apoio, visibilidade, propaganda e o discurso da união.

Quanto mais o relator da trama do golpe endurece contra o réu, mais o réu se passa por vítima e até chora, de olho no Congresso e nas próximas pesquisas de opinião. Nas últimas, ele foi o que mais caiu, enquanto Lula foi o que mais ganhou pontos após as investidas de Trump e já até articula reação em todos os continentes – ainda mais com os EUA de olho grande nos minerais críticos do Brasil.

O tarifaço e o andar da economia - Celso Ming

O Estado de S. Paulo 

Como investimentos e acertos nos negócios têm de ser feitos a partir de certas apostas, a hora é de perguntar como fica a economia, levando-se em conta que as ameaças do tarifaço de 50% devem se cumprir.

A primeira consequência será o impacto sobre o crescimento econômico. Antes do anúncio do tarifaço, as projeções eram de um avanço do PIB do Brasil de 2,2%. As exportações para os Estados Unidos giram em torno dos 2% do PIB. Como começam apenas em agosto, as perdas para este ano não devem ser superiores a 0,5 ponto porcentual, já levando-se em conta que a maioria dos exportadores prejudicados terá diversificado seus fornecimentos para outros países ou para o mercado interno. O PIB mundial também pode ser beneficiado com o acerto comercial dos Estados Unidos com o Japão e, possivelmente, com a União Europeia. Ou seja, parte das enormes incertezas globais que pairam sobre a economia pode ser dissipada. Isso significa que será preciso revisar as projeções do PIB para alguma coisa abaixo dos 2% neste ano.

A Riviera de Netanyahu - Bernardo Mello Franco

O Globo

Enquanto palestinos passam fome, integrantes do governo de Israel fazem planos para anexar enclave, expulsar população local e faturar com turismo e consumo de luxo

Muhammad Zakariya Ayyoub al-Matouq tem um ano e meio e pesa apenas seis quilos. É uma das centenas de milhares de crianças que sofrem de desnutrição em Gaza. Em pele e osso, o menino foi fotografado no colo da mãe num campo de refugiados. O retrato correu o mundo como novo símbolo da fome no enclave controlado por Israel.

Na quarta-feira, 115 organizações de ajuda humanitária divulgaram um apelo por socorro. O texto descreve um cenário de “caos, fome e morte” e pede o fim dos bloqueios militares que restringem a entrada de águia, comida e medicamentos. “Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários agora se juntam às mesmas filas de alimentos”, afirma.

Questionado sobre o documento, o gabinete de Benjamin Netanyahu voltou a se eximir de responsabilidade. “Hoje não existe fome causada por Israel em Gaza”, declarou o porta-voz David Mencer.

Janela de negociação – Flávia Oliveira

O Globo

No palanque, Lula rechaça cobiça: 'Este país é do povo brasileiro'

A uma semana do prazo de aplicação, por Donald Trump, de inéditas sanções comerciais ao Brasil, os Estados Unidos sinalizaram com uma hipótese de negociação. Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada em Brasília, representação sem titular desde o início de 2025, manifestou a representantes do setor privado o interesse do governo americano nos minerais críticos e estratégicos. O Brasil, junto com a China, tem as maiores reservas globais das chamadas terras-raras, insumos essenciais para tecnologia de ponta e transição energética. Muito dessa riqueza jaz em territórios indígenas.

O representante dos Estados Unidos deu o recado a Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa, hoje presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em reunião convocada pelo próprio Escobar. Foi a segunda referência ao tema com o mesmo interlocutor, num intervalo de três meses. Jungmann teria informado que propriedade e gestão dos recursos minerais no Brasil são atribuição da União, mas levou o pleito ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, encarregado das negociações com os Estados Unidos. De um palanque em Minas Gerais, o presidente Lula rechaçou a cobiça:

— Nós temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro.

Como é fácil desmontar um país - Ruth de Aquino

O Globo

É didático e assustador acompanhar a destruição dos valores democráticos nos EUA de Donald Trump

O tarifaço de Trump é apenas a ponta internacional do iceberg. As taxas são chantagens comerciais e políticas, ao Brasil e outros. Mas a tragédia, hoje, dentro dos EUA, é o fracasso da democracia americana, nas mãos de um tirano eleito legitimamente.

Muitos fatores levam alguém a escolher um presidente. Quem votou em Trump levou em conta que tipo de pessoa ele é? O que acontece ao longo de um mandato presidencial é, muitas vezes, imprevisível. Tem bastante a ver com a personalidade do político. Essa é a visão de um ex-juiz da Suprema Corte britânica, Jonathan Sumption.

“Mesmo que eu fosse americano e concordasse inteiramente com as políticas de Trump, não votaria nele. Porque é desonesto, narcisista, ignorante e inexperiente. Suas tendências autocráticas eram óbvias na campanha. Essa escolha dos eleitores pode levar ao fracasso da democracia americana”.

Centrão deixa PL isolado - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Veto ao uso da Câmara como palanque de ex-presidente é claro sinal de isolamento dos bolsonaristas

Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado deixaram os bolsonaristas falando sozinhos quando decidiram vetar o uso das dependências do Congresso como palanque de retaliação ao Supremo Tribunal Federal e defesa de Jair Bolsonaro.

A rigor, a alegação formal de que o recesso impediria o funcionamento da Casa é questionável. Oficialmente, o período de férias só começa depois da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, e isso não aconteceu.

Moraes não é tolo, evita embate e dá recado político - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Resposta do ministro à defesa do ex-presidente foi sobretudo política ao evitar esticar a corda e deixar entendido o que espera

Alexandre de Moraes tornou-se figura central na cena política brasileira –e tem incomodado poderosos dentro e fora do país. Sua tenacidade no combate ao golpismo e às ciladas da extrema direita para corroer o Estado de Direito, por meio de redes sociais e outros estratagemas, merecem o aplauso dos democratas que não vivem no mundo da lua.

São conhecidos os motivos que têm levado ao ativismo do Legislativo. Não se resumem a casos específicos como foi a flagrante omissão da PGR no governo Bolsonaro. Dizem respeito a uma nova configuração do mundo pós-moderno, na qual a revolução tecnológica, a crise das promessas liberais o desequilíbrio da economia de mercado convivem com a ascensão internacional de um tipo de ultradireita nacionalista e extremada que usa os espaços da democracia para miná-la.

Dignidade não se negocia - Roberto Amaral*

“Vamos recuperar nosso quintal.”
— Pete Hegseth, secretário de Defesa dos EUA,
em discurso no US Army War College (23/04/2025)


A agressão dos EUA ao Brasil, interrompendo uma negociação que apenas se iniciava — por iniciativa nossa, aliás —, vem sendo recebida pelo que ela é: intempestiva e isenta de qualquer sorte de causalidade. Em síntese, essencialmente ilegítima, como toda intervenção estrangeira na ordem política de um país independente. Seu caráter é ostensivamente político (a aparência econômica do tarifaço é apenas um disfarce) e se apresenta como insólita punição a um país soberano.

O Brasil é acusado de, nos rigorosos termos de sua Constituição, estar, por intermédio do poder competente, julgando os crimes de uma quadrilha de delinquentes (civis e militares) que, valendo-se inclusive do aparelho público, intentou um golpe de Estado contra o sistema representativo. Vitorioso, o assalto da extrema-direita frustraria a manifestação eleitoral da soberania popular, feriria de morte a democracia há tanto custo humano posta de pé e embarcaria o país no desvão de uma ditadura neofascista. A partir daí... o inferno seria o limite.

Poesia | Laços - Marcelo Mário de Melo

Laço de pegar o boi

laço de vestido novo

laço de enfeitar cabelo

laço de enganar o povo.

 

Laço de amor nascendo

laço que mais nada inova

laço que se está testando

laço que passou na prova.

 

Laço de trilha comum

laço de festa e de dança

laço de fel e desdita

laço nó cego na trança.

Música | Maria Bethânia, Zeca Pagodinho - Sonho Meu