domingo, 15 de julho de 2018

Vinicius Torres Freire: O país surtado e um pacto de paz

- Folha de S. Paulo

Próximas conversas mais importantes sobre o destino do país vão acontecer até o fim do mês

As discussões sobre o que será da economia brasileira no resto do ano se tornaram quase irrelevantes. Não há providências eficazes a tomar, o crescimento será um troco maior que o do ano passado.

As próximas conversas mais importantes sobre o destino deste país escorchado vão acontecer até o fim do mês. Os candidatos mais relevantes a presidente vão tentar levar o apoio dessa gente dos partidos do centrão ou assemelhados.

A distribuição desses apoios vai dar a primeira medida mais séria do potencial dos candidatos. A depender da possibilidade de vitória de tal ou qual nome, maior será a possibilidade de tumulto econômico-financeiro durante a campanha e além. É óbvio, mas convém prestar atenção.

A formação de alianças partidárias não vai definir a eleição, também óbvio que não. Certas coligações de forças, porém, podem adiar o pânico, ao menos.

Não vem ao caso a nossa opinião política, econômica, moral, parapsicológica ou patafísica a respeito dos credores do governo, o grosso disso que se chama de "o mercado".

Um programa de governo que implique o aumento sem limite da dívida pública vai provocar debandada do dinheiro, alta de juros e dólar, em português claro.

A degradação financeira levará também empresas e consumidores a correr para o quarto do pânico.

Por ora, são candidatos do dito "centro" (direita comportada) que apresentam programas com potencial de estabilizar a dívida e de, quem sabe, promover mudanças no furdunço impraticável que é o ambiente econômico brasileiro.

A princípio, as alternativas de política econômica são muito restritas, dado o tamanho do desastre, opções que foram sendo reduzidas a quase nada desde 2013.

Mas, excetuada a questão da dívida que cresce sem limite, da iminência de colapso das contas públicas, o cardápio dos programas de governo pode se estender além desta entrada pobre (pão e água até 2020, alguma manteiga depois disso). Não se trata de dizer que não há alternativas.

No entanto, ainda que proponham ideias razoáveis, certos candidatos têm antigos problemas de reputação, não interessa se condizente com fatos, embora dizer jequices econômicas eleitoreiras em 2018 não contribua para a melhora da imagem.

Não é insanável. É possível forjar candidaturas que sejam uma repactuação de forças relevantes do país, não apenas gambiarras eleitorais.

Será esta a segunda conversa relevante para o futuro da economia, depois da definição de alianças.

Mesmo o Lula da Silva, o demônio encarnado em 2002, reverteu a desconfiança imensa em si, lá pela altura de sua eleição. Sim, Lula é muito inteligente e tinha a vantagem de ser então politicamente muito esperto, além de líder nacional relevante.

São atributos escassos na praça. Ainda assim, um candidato a presidente que se preze, com inteligência mínima para o cargo, pode liderar um pacto de estabilização da economia e de pacificação de ânimos, sem o que mal terá como governar.

Por falar nisso, liderar, propor um rumo, alguma coalizão social ampla, seria novidade tão grande que talvez criasse esperança. O país está à matroca, ninguém está no comando.

Ao contrário, a cúpula dos três Poderes arruína o que resta de funcionamento institucional.

São mais desejos do que esperanças. Quem sabe o país esteja menos surtado quando o colunista voltar de férias. Até.

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