domingo, 10 de agosto de 2025

O golpe avança - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Com dossiês e chantagens, os golpistas querem o Brasil refém de Donald Trump

O nosso Brasil, tão varonil, está se tornando refém da aliança Bolsonaro-Trump, que ataca e chantageia o Supremo, tenta controlar o Congresso, desqualifica a mídia, captura corações e almas na sociedade e joga o setor privado contra a parede, com o intuito cada vez mais claro de não só livrar Jair Bolsonaro da cadeia, mas de isolar o governo Lula e dominar o País em 2026. É um projeto muito mais ameaçador do que parece a olho nu.

Depois da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, promoveram ataques coordenados a ministros do Supremo: um post ultrajante e sem precedentes da embaixada americana sobre “monitoramento” de quem apoia Moraes e um vídeo indecente de Eduardo Bolsonaro citando Gilmar Mendes e Cristiano Zanin. A intenção é deixar no ar a existência de dossiês para amedrontar o STF.

Instituições, mídia e especialistas têm de evitar repetir os sucessivos erros de não dimensionar corretamente o fenômeno Jair Bolsonaro em 2018: a vantagem bolsonarista na disseminação de fake news e mobilização da opinião pública pela internet; a cooptação de militares para um golpe de Estado; o armamento da população civil; o próprio 8/1. E, depois de tudo, a capacidade de articulação de Eduardo Bolsonaro nos EUA.

Os sinais de alerta falharam. Só nas eleições de 2022 a resistência se uniu em torno do que havia à disposição e só após o 8/1 começaram, de fato, o cerco e o isolamento de indivíduos e grupos articulados para um golpe no Brasil. Um dado perverso é que, apesar das evidências e provas, milhões ainda negam esse risco e aderem a Trump, sem entender que não há “caça às bruxas”, há caça a golpistas e a traidores da Pátria.

Quanto mais próxima a provável condenação de Bolsonaro, almirante e generais, mais Trump ameaça o Brasil e mais os Bolsonaro ecoam essas ameaças: dossiês contra ministros do STF e suas famílias, Seção 301 e comércio com a Rússia após tarifaço, pressões e humilhações contra os presidentes da Câmara e do Senado, jogo combinado com grupos internacionais com dinheiro e influência no Brasil.

O presidente Lula reage ao tsunami com palavrório, palanques diários, promessas para bolsões do eleitorado e telefonemas para Índia, México, França. As Forças Armadas estão caladas. O Itamaraty enfrenta posts mal-educados e portas fechadas em Washington. Os setores privados estão no modo “salvese quem puder”. Os setores de inteligência do País, funcionam? De que lado?

Criticar e exigir limites a Alexandre de Moraes é parte da democracia, mas sem esquecer que o Supremo é nossa principal fortaleza. Se o STF se render às chantagens, o que sobra?

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