sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Não há alternativa à dependência de fertilizantes russos

O Globo

Investida tarifária de Trump para pressionar Putin expõe lado vulnerável do agronegócio brasileiro

As tarifas de 50% impostas por Donald Trump sobre produtos indianos acenderam um alerta no Brasil. Trump impôs a sobretaxa como forma de pressão para a Índia parar de comprar petróleo da Rússia. Dado o caráter mercurial da política tarifária americana, o receio é que, na tentativa de asfixiar a economia russa para forçar Vladimir Putin a assinar a paz com a Ucrânia, Trump mais uma vez volte os olhos ao Brasil. Estamos expostos em dois setores: transporte e agropecuária. Três em 10 litros de óleo diesel vendidos aqui são importados (a Rússia responde por 60%). Nos fertilizantes químicos, matéria-prima do agronegócio, a dependência é crítica: o Brasil importa 90%, tendo a Rússia como maior fornecedor, com 30%.

Com o estouro da guerra na Ucrânia em 2022, os russos foram alvo de sanções e passaram a vender diesel e petróleo com desconto. Importadores brasileiros não foram os únicos a aproveitar. Se Trump impuser restrições ao diesel russo, não faltam fornecedores alternativos. “O risco de desabastecimento no Brasil é próximo de zero”, diz o consultor de energia Adriano Pires. O maior problema será o custo alto e o impacto inexorável na inflação de um país onde o transporte rodoviário predomina.

A questão mais preocupante são os fertilizantes. A demanda brasileira tem crescido acima da global. A Rússia é um dos dois maiores produtores, e há poucos fornecedores alternativos. No curto prazo, uma saída seria importar mais de China, Canadá, Marrocos ou Egito. Mas, num momento em que outros países serão forçados a fazer o mesmo, haverá escassez e preços altos. O próprio agronegócio americano está preocupado. Quase metade do nitrato de ureia e amônio usado nos Estados Unidos vem da Rússia. No ano passado, o país importou mais fertilizantes russos que antes da guerra na Ucrânia.

A produção de fertilizantes exige uso intensivo de energia. Além de contar com reservas minerais, os russos têm gás barato para queimar. No curto e no médio prazos, não há saída: não só o Brasil, mas o mundo todo depende da Rússia para produzir alimentos. Mesmo que o Brasil explorasse o potássio que tem (em áreas de risco ambiental), dificilmente seria autossuficiente no médio prazo (foi esse, vale lembrar, o argumento usado pelo governo Jair Bolsonaro para fazer acenos a Putin quando o conflito eclodiu na Ucrânia). Para fábricas de fertilizantes se tornarem viáveis, o preço do gás teria de cair à metade. “Para diminuir a dependência, só com subsídio”, diz José Carlos Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria. “Mas até isso é difícil. Que empresa privada poria bilhões numa fábrica se a sobrevivência do negócio depende de vários governos honrarem o compromisso de manter gás barato?”

O governo até tem tentado incentivar o setor. A Petrobras anunciou investimentos de R$ 6 bilhões no segmento até o fim da década, e uma de suas subsidiárias deu o primeiro passo para retomar a produção de fertilizantes. Mas ainda são iniciativas tímidas.

Em três das quatro principais classes de fertilizantes, o Brasil depende de importações para suprir 90% da demanda. Não seria problema se o mundo não estivesse sujeito ao temperamento volátil de Trump. Não haverá solução rápida nem fácil, mas a relevância estratégica do agronegócio exige uma política consistente para fertilizantes. Tal desafio está claro desde o início da guerra na Ucrânia. A volta de Trump o torna mais urgente.

Lula pode perder o discurso e timing - Vera Magalhães

O Globo

Atraso no pacote de alívio a exportadores permite a governadores tentar emplacar narrativa falsa de que medidas são culpa do governo, e não de Trump e da família Bolsonaro

Uma situação inédita e desprovida de racionalidade, como o tarifaço enfiado goela abaixo do Brasil por Donald Trump, testa a acurácia, a capacidade de reação e o timing político do governo federal. Estes quase três anos de Lula 3 não têm sido pródigos em bons exemplos de todos esses atributos, que ameaçam falhar de novo numa hora crucial.

Depois de prometer uma resposta imediata e à altura da agressão, o governo patina e demora em anunciar o pacote em sua totalidade, algo essencial aos setores perdidos diante da falta de canais claros com que negociar situações que, em muitos casos, significam manter ou fechar negócios que geram empregos e sustentam famílias em todo o país.

O sequestro do Congresso - Bernardo Mello Franco

O Globo

Para salvar ex-presidente, extrema direita quer forçar guerra entre Legislativo e Judiciário

Os bolsonaristas realizaram por 30 horas o sonho de fechar o Congresso. Na manhã de terça, parlamentares de extrema direita se entrincheiraram nos plenários da Câmara e do Senado. Foi um motim contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, decretada na véspera pelo ministro Alexandre de Moraes.

A rebelião evoluiu para um sequestro do Parlamento. Os amotinados avisaram que só permitiriam a retomada dos trabalhos mediante três exigências: anistia aos golpistas, fim do foro especial e impeachment do ministro Moraes.

Porta-voz dos sequestradores, Flávio Bolsonaro apresentou a pauta como “pacote da paz”. Na verdade, o senador quer empurrar o Legislativo para uma guerra contra o Judiciário. Tudo em nome da impunidade do pai.

Cortina de fumaça - Pablo Ortellado

O Globo

Verdades objetivas desaparecem — até para os atores que provocaram o encobrimento

É um pouco angustiante acompanhar a evolução do entendimento dos conservadores sobre as movimentações antidemocráticas de 2022 e 2023. No começo, vemos algum estranhamento e mal-estar com os acampamentos em frente aos quartéis. Em 2023, o quebra-quebra do 8 de Janeiro é tão rejeitado que a principal explicação para ele era tratar-se de uma armadilha desenhada pela esquerda. A própria existência dos planos golpistas é inicialmente negada, de tão abjeta. Mas, aos poucos, uma cortina de fumaça vai sendo lançada, e as verdades objetivas desaparecem — até para os atores que provocaram o encobrimento.

Intervenção da Embaixada dos EUA exuma velhos fantasmas de golpes - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O gesto diplomático dos EUA pode ser lido como tentativa de pressionar o Supremo e isolar Alexandre de Moraes, cujo desgaste não se restringe aos aliados de Bolsonaro

A nota divulgada pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, ontem, alertando aliados do ministro Alexandre de Moraes no Judiciário e em “outras esferas” para que não apoiem ou facilitem sua conduta, reacende memórias da história latino-americana que nos remetem aos golpes de Estado que destituíram os presidentes João Goulart, no Brasil, em 1964, e Salvador Allende, no Chile, em 1973. Ambos eram líderes de esquerda, como os atuais presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Gabriel Boric.

Embora revestida de linguagem diplomática, a mensagem no X (antigo Twitter) chama Moraes de “arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores”. O texto ainda ameaçou outras autoridades: seus flagrantes violações de direitos humanos resultaram em sanções pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Donald Trump. Os aliados do ministro no Judiciário e em outras esferas estão avisados para não apoiar nem facilitar a conduta de Moraes. “Estamos monitorando a situação de perto”, escreveu a Embaixada.

O brasileiro de fabricação ideológica - José de Souza Martins*

Valor Econômico

Já não somos um país verde e amarelo, apenas amarelo, com a camisa da seleção brasileira, bolsonorizada. Torcemos pelo time, mas não pela pátria

Não basta nascer no Brasil para ser brasileiro. Aos poucos, vamos sendo outra coisa que ainda não sabemos o que exatamente é. Cada vez mais, muitos nascidos no Brasil gostariam de ter nascido em outro país. As demonstrações nesse sentido avolumam-se. Agora mesmo, nas manifestações direitistas e antipatrióticas na avenida Paulista, em favor de réus de crimes políticos contra o Brasil, muita gente abraçada à bandeira americana, a aplaudir Trump, o presidente americano que nos vê como fundo de seu quintal.

Já não somos um país verde e amarelo, apenas amarelo, com a camisa da seleção brasileira, bolsonarizada. A esfera azul é hoje uma bola de futebol. Torcemos pelo time, mas não pela pátria. Um traidor da pátria anexou-se ao quintal da Casa Branca e conspira contra a economia brasileira e contra as instituições brasileiras.

Contornos da nova ideologia econômica - Armando Castelar Pinheiro

Valor Econômico

É preciso ter um plano de ação. Ficar concentrado na polarização política não vai levar a isso

Esta semana entraram em vigor as novas tarifas sobre importações dos EUA, aí incluídas as aplicadas às compras de produtos brasileiros. Trata-se de uma mudança não trivial na política comercial americana e, de forma mais ampla, no comércio internacional. De acordo com o Budget Lab da Universidade de Yale, a tarifa média americana subiu de 2,42% em 2024, e de uma média de 2,5% em 1975-2024, para 17,35%, a mais alta taxa em 90 anos. No caso do Brasil, se calcula que a tarifa média é quase o dobro disso: 33%. E há mais por vir, com o presidente americano já prometendo para este mês tarifas sobre semicondutores e produtos farmacêuticos.

Repercussão negativa da arruaça contém aproximação entre as duas forças - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Lula retomou a iniciativa com aprovação do IR e encontro com Gilberto Kassab

No dia seguinte ao “8/1 de paletó”, governistas e oposição delimitaram novas fronteiras. No Senado, a retomada dos trabalhos legislativos foi marcada pela aprovação do projeto de lei que atualiza a tabela do IR e pelo rechaço do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), a incluir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, que conseguiu 41 assinaturas, na pauta de votação.

Na Câmara, que registrou o arrependimento público dos arruaceiros, o presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou que pautará, sim, a anistia, se assim for decidido pelo colégio de líderes. Diante de situações semelhantes, os dois presidentes de mesas assumiram posturas diferentes em dois temas polêmicos. Motta negou, no entanto, que o compromisso de pautar o projeto tenha derivado de um acordo feito na noite de quarta-feira para que ele pudesse sentar-se na cadeira do presidente da Casa, tomada pelos bolsonaristas.

Aliança entre Centrão e bolsonarismo, pode selar destino de Motta - César Felício

Valor Econômico

Presidente da Câmara não foi o condutor das negociações, ou não aparece como tal; papel de Arthur Lira foi fundamental

As versões sobre o acordo que fez a tropa de choque baixar a guarda e a Câmara e o Senado retomarem seus trabalhos mudaram a cada três horas, em média, na quinta-feira (7) pelos corredores do Congresso, mas convergem em dois pontos: o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) teve um papel central e um confronto do Congresso com o Judiciário se aproxima. A PEC do foro privilegiado ganhará protagonismo.

A PEC do foro privilegiado poderá ser vendida para o público externo como o fim de privilégios, a igualdade de todos perante a lei, com ônus de detentores ou ex-detentores de mandatos eletivos serem julgados por instâncias inferiores do Judiciário e o bônus de contar com a múltipla jurisdição. Mas essa embalagem é fina e relativamente transparente: o objetivo real será a blindagem total de deputados e senadores.

Tudo o que seu mestre mandar – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Do que PL e bolsonaristas serão capazes quando, e se, Jair Bolsonaro for condenado? Outro 8/1?

Depois que vândalos saíram do entorno do QG do Exército para violar as sedes dos três Poderes, no fatídico 8/1, agora são os vândalos do próprio Congresso que invadem os plenários, tomam de assalto as cadeiras dos presidentes da Câmara e do Senado e horrorizam o País, em cenas deploráveis contra o Parlamento e a democracia. Do que serão capazes quando, e se, Jair Bolsonaro for condenado à prisão definitiva?

O Brasil está sob ataque externo e interno, depois de ter sobrevivido, mais unido e mais forte, a um golpe de Estado que começou a ser articulado ainda nas eleições de 2018 e ganhou corpo no mandato de Bolsonaro, com cooptação de militares, intervenção em instituições, planos, minutas e trocas de mensagens em 2022. Quanto mais perto da eleição, mais o golpe se tornava real, concreto. A democracia, porém, venceu.

O cisne vermelho - Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Uma resposta equivocada é dizer que a educação deve se preocupar com as competências, e não mais com o conteúdo

Cisnes negros, na imagem criada por Nassim Taleb (The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable, Random House, 2007), são fenômenos inesperados, como uma crise financeira ou a pandemia de covid-19, que forçam pessoas, empresas e instituições a buscar novos caminhos. Cisnes vermelhos são previsíveis, mas afetam de maneira tão profunda os hábitos e as rotinas que as pessoas preferem fingir que não existem, até que seja tarde demais. É essa a imagem que os irmãos Silvio e Luciano Meira usam para descrever o impacto da inteligência artificial (IA) na educação brasileira, num conciso e importante documento cujo título já diz tudo (Inteligência Artificial na Educação: Ruptura Paradigmática em um Sistema em Crise Crônica, Recife, tds.company, 2025).

“Ruptura paradigmática” é um termo complicado para descrever uma situação em que, daqui por diante, tudo será diferente. Os sistemas educacionais, com suas escolas e universidades, foram criados como instituições destinadas a transmitir conhecimentos, de forma semelhante aos sistemas fabris inventados séculos atrás, em que as pessoas são agrupadas em turmas homogêneas e trabalham para incorporar pacotes de conhecimento organizados por especialidade e nível de dificuldade. O que a inteligência artificial faz é tornar todos esses conteúdos misturados e facilmente acessíveis, de maneira quase imediata e a um custo mínimo para o usuário.

A COP-30 ameaçada de irrelevância - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Desta vez, não se trata de nenhum alarmismo. A realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), prevista para novembro, em Belém do Pará, está seriamente ameaçada.

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP-30, advertiu que os altos custos de hospedagem tornam o evento proibitivo. O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, cancelou nesta semana sua participação na conferência em razão dos preços incompatíveis com o orçamento de seu país. Enquanto isso, a rede hoteleira local se recusa a justificar ao Ministério da Justiça o aumento de até dez vezes nos valores das diárias.

O minigolpe no Congresso – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Violência no Parlamento é parte da insurreição permanente que pretende destruir a democracia

Deputados e senadores bolsonaristas e a direita do já direitista Centrão promoveram um minigolpe nesta semana. Ocuparam os plenários de Câmara e Senado a fim de impedir o funcionamento do Congresso, à força, o que foi chamado de modo equivocado de "obstrução".

Obstrução é instrumento legal previsto em regimentos de Parlamentos importantes. O que aconteceu foi violência anticonstitucional, sequestro com o objetivo de chantagear outros parlamentares a fim de colocar em tramitação projetos de anistia de Jair Bolsonaro e de outros golpistas de 2022 e 2023.

Fardas em sala de aula - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Se os garotos civis estudam o duque de Caxias, por que jovens militares não aprendem sobre Joaquim Nabuco?

O governador de um importante estado quer transformar 728 das 3.400 unidades de sua rede escolar em "escolas cívico-militares". Com seu salivante servilismo a certos poderosos, sugere plantar homens fardados em sala de aula para aplicar conceitos dúbios como "mediação de conflitos, desenvolvimento de atividades preventivas e promoção de valores como respeito, disciplina e responsabilidade".

É a volta da velha Educação Moral e Cívica, matéria de estimação da ditadura, imposta em 1969 por Costa e Silva e só revogada em 1993, por Itamar Franco. A EMC constava de "aperfeiçoamento do caráter e da moral do aluno", o "culto à pátria e aos seus símbolos, tradições e instituições" e a mesma "promoção de respeito, disciplina e responsabilidade". Se isso lhe soa como "Deus, pátria e família", acenda uma vela para Mussolini e outra para Bolsonaro.

Festa da Selma no Congresso – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O método dos amotinados só será vencido se a maioria os relegarem ao merecido isolamento

arruaça dos amotinados bolsonaristas no Congresso, notadamente na Câmara, não é um episódio que possa ser visto como superado, a despeito da retomada dos trabalhos depois de 30 horas de ensaio de insurreição.

Primeiro, porque a recuperação do controle foi relativa, dada a dificuldade de o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) alcançar sua cadeira na Mesa Diretora, sob cerco cerrado de deputados que, ao fim da sessão, ainda continuavam atrás dele insuflando o plenário aos gritos de "anistia já".

Depois, porque a celebração da violência é um método da ala radical da oposição que, no Parlamento, evocou o ocorrido no acampamento no quartel-general do Exército do qual partiram as hordas para a "festa da Selma", em 8 de janeiro de 2023.

Motim na Câmara era caso de polícia - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Hugo Mota, presidente da Casa, não atuou com o vigor necessário contra bolsonaristas que fazem chantagem parlamentar

Achei o Hugo Motta bem frouxo. A resposta adequada da Presidência da Câmara à tomada da Mesa por parlamentares bolsonaristas teria sido mandar a polícia legislativa retirar os insurrectos do local, recorrendo à força se necessário. Se há alguém que não pode reclamar de autoridades usarem o poder de polícia para fazer cumprir a lei é justamente um deputado bolsonarista —ou estariam legitimadas todas as ações do MST.

Congressistas podem valer-se de todas as medidas regimentais para obstruir trabalhos do Parlamento, mas apenas das regimentais. Não podem impedir fisicamente o presidente da Casa de sentar-se em sua cadeira. Isso não é só jogo feio, é falta mesmo. Motta precisaria remeter os casos dos deputados amotinados ao Conselho de Ética, para decidir se a falta é para cartão vermelho.

Um museu de grandes novidades: Onda da extrema-direita continua - Cláudio Carraly

A ascensão da extrema-direita no Brasil é um fenômeno que se insere em um contexto global de polarização política, evocando paralelos históricos e preocupações quanto à estabilidade democrática. A extrema-direita no Brasil supera o carisma individual de sua maior liderança, Jair Bolsonaro, mesmo com sua inelegibilidade e várias investigações criminais, as ideias e valores que mobilizou permanecem vivos. A atual transição do campo conservador está esmagando o que havia da direita centrista, radicalizando esses grupos e jogando-os para o espectro mais agudo do reacionarismo. Essa onda do chamado neofascismo fez emergir novas lideranças e novas formas de abordagem política, ampliando sua base de apoio e garantindo sua continuidade por ainda bastante tempo.

O enfraquecimento de Bolsonaro não implica o fim desse novo ciclo da extrema-direita. A figura do ex-presidente, antes central, hoje convive com um movimento fragmentado que se reorganiza em torno de agendas comuns, surfando sempre na insatisfação popular difusa, que antes era canalizada pela figura do ex-presidente, agora se pulveriza, permitindo a emergência de líderes regionais e setoriais. Nomes como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Nikolas Ferreira ilustram a diversidade dentro da direita.

Poesia | E agora, José, de Carlos Drummond de Andrade

 

Joyce Cândido e João Bosco - Rancho da Goiabada (João Bosco e Aldir Blanc)