quarta-feira, 30 de julho de 2025

O que a mìdia pensa Editoriais /Opinoes

Inflação de serviços continua um entrave para BC atingir meta

Valor Econömico

Preços dos serviços subiram 6,18% nos doze meses encerrados em junho

A inflação de serviços continua oferecendo resistência à queda da inflação, e seu nível se mantém incompatível com a meta de 3%. O Copom se reúne hoje e deve manter o forte aperto monetário, com taxa de juro real de quase 10%, por um período prolongado. A sustentação dos preços dos serviços tem suporte na política oficial de correção do salário mínimo acima da inflação — INPC mais a variação do PIB de dois anos antes, com ajuste real garantido de 3% neste e no próximo ano.

A política de reajuste real do salário mínimo influencia a elevação de outras faixas salariais, a remuneração dos servidores públicos e até dos trabalhadores informais e sem carteira assinada, além da correção das aposentadorias e pensões — de resto sustentados também pela baixa taxa de desemprego e pelo mercado de trabalho aquecido. Estudo da LCA4Intelligence constatou que o reajuste dos salários tem forte impacto na demanda de serviços. Em números, quantifica o estudo — ele justifica quase 70% da inflação de serviços (Valor, 24/7), que costuma subir mais lentamente e é difícil de ser reduzida depois.

A inflação de serviços está rodando em patamar superior ao do IPCA geral, segundo o IBGE. Após subir 0,26% em maio e 0,24% em junho, o IPCA acumula 2,99% no semestre. Em 12 meses, ficou em 5,35%, pelo sexto mês consecutivo acima da banda perseguida pelo BC, que tem centro em 3% e teto em 4,5%. No agregado especial de serviços, porém, a inflação mais que dobrou, de 0,18% em maio para 0,40% em junho, acumulando 6,18% em 12 meses, quase 1 ponto acima do índice geral.

Quem são os radicais? - Vera Magalhães

O Globo

Bolsonaro perdeu apoio ao rasgar a fantasia patriótica e deixar claro que seu verdadeiro lema é ‘eu acima de tudo, os meus acima de todos’

A contagem regressiva da chantagem do governo Donald Trump contra o Brasil, combinada com as ameaças cada vez mais coléricas de Eduardo Bolsonaro e seus acólitos a um número cada vez maior de autoridades brasileiras, representa a chance mais efetiva que Lula teve até aqui de recompor os canais de diálogo com setores que integraram a chamada frente ampla em 2022, e até com franjas da direita simpáticas ao bolsonarismo.

Na sua febre de relevância, o filho Zero Três de Jair Bolsonaro está se sentindo onipotente. Diz que fará o máximo para evitar que senadores — vários deles simpatizantes do seu campo político — obtenham êxito em tentar negociar que o tarifaço não atinja o Brasil. Acredita que possa regatear mudança de votos de ministros do Supremo negociando com a Casa Branca quais deles devem ser alvo de sanções por parte dos Estados Unidos. Não se vexa em estender as ameaças que fazia ao Supremo também ao Congresso, do qual faz parte. E acha que é chefe dos governadores bolsonaristas.

Nada nesse surto autoritário — que sabe-se lá de quem ele herdou, não é mesmo? — ajuda o pai, que também não consegue parar quieto em casa e fica apelando a repetições tristes de seus eventos do passado, como as fatídicas motociatas.

Para sabotar o Brasil, Eduardo Bolsonaro ataca até aliados do pai - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em cruzada por tarifas, deputado trata senadores bolsonaristas nos EUA como patetas

Eduardo Bolsonaro se apresenta como deputado em exílio. No mundo real, é um deputado em fuga. O Zero Três fugiu do país para escapar da polícia e insuflar o governo Trump a atacar o Brasil. Agora tenta sabotar todos os esforços contra o tarifaço.

No fim de semana, oito senadores brasileiros chegaram a Washington em missão diplomática. “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, reagiu Eduardo. Nem os cinco bolsonaristas que integram a comitiva escaparam ao boicote do Bananinha. Obcecado em livrar o pai da cadeia, ele trata os aliados da família como patetas.

O Zero Três já havia torpedeado os governadores Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, que sonham em herdar os votos do clã. Na segunda-feira, passou a incitar a tropa contra o deputado Nikolas Ferreira, menino prodígio da extrema direita.

Lula vive dilema político: resistir ao tarifaço de 50% ou aceitar humilhação – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O retorno do chanceler Mauro Vieira ao Brasil, sem conseguir sequer uma audiência com representantes da Casa Branca, sinaliza o fracasso da última tentativa diplomática de alto nível antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto

O governo brasileiro enfrenta, neste momento, um dos mais complexos dilemas da política externa contemporânea: aceitar a humilhação implícita nas exigências políticas do presidente Donald Trump para suspender o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros ou arcar com as consequências econômicas de uma medida punitiva, injusta e de motivação extra comercial.

O retorno do chanceler Mauro Vieira ao Brasil, sem conseguir sequer uma audiência com representantes da Casa Branca, sinaliza o fracasso da última tentativa diplomática de alto nível antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto. O nosso ministro das Relações Exteriores sequer foi recebido pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, um falcão da extrema-direita da Flórida.

PT defende Alckmin e prega aliança com o centro em 2026

Cristiane Agostine / Valor Económico

Partido deve reconduzir a tesoureira Gleide Andrade no comando das finanças petistas

O PT deve aprovar no fim de semana, em encontro nacional do partido, um documento com a defesa da atuação do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), nas negociações para evitar o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos e com críticas às ações da família Bolsonaro contra a soberania nacional.

No texto, o PT apoiará também a política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a atuação do governo Luiz Inácio Lula da Silva na política externa. O documento servirá de norte para o partido nas eleições de 2026 e pregará um amplo leque de alianças, especialmente com o centro, para reeleger Lula.

A legenda defenderá ainda a busca pelo apoio dos evangélicos e dos empreendedores, que ainda resistem ao governo petista, segundo as pesquisas de opinião.

A tese será debatida e aprovada durante o 17º Encontro Nacional do PT, que será realizado entre sexta-feira (1) e domingo (3), em Brasília, com a presença de Lula. No evento, o presidente eleito do partido, Edinho Silva, tomará posse, assim como a nova direção petista. A atual tesoureira, Gleide Andrade, deve ser mantida no cargo, após negociações feitas por Edinho.

Sistema presidencialista sai fortalecido da crise - Fernando Exman

Valor Econômico

Reintegra de 3% para médias exportadoras - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Crédito tributário para empresas de médio porte é uma das possibilidade em estudo pelo governo em reação ao tarifaço de Trump

Caso seja concretizado o tarifaço de 50% na próxima sexta-feira, empresas de porte médio que vendem para os Estados Unidos poderão receber um crédito tributário de 3% sobre o valor exportado. Essa é uma das possibilidades em exame, informou à coluna um integrante do governo.

Esse crédito, chamado Reintegra, já existe hoje ao nível de 0,1%. Elevá-lo a 3% é antiga reivindicação dos exportadores, reforçada agora no contexto da escalada tarifária promovida pelo presidente Donald Trump. Está na lista de sugestões entregues pelo setor privado ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Na última segunda-feira, o Reintegra de 3% foi instituído para MEIs, micro e pequenas empresas que exportam, independentemente de mercado destinatário, como parte do programa Acredita Exportação. O que se examina no momento é se as médias que exportam para os Estados Unidos também terão acesso à alíquota de 3%.

A liberdade de expressão nas redes sociais - Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

O artigo 19 protege o exercício da liberdade de expressão, liberdade esta que não inclui a prática de nenhum crime

Discordo da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet (MCI, Lei 12.965/14). Mas discordo ainda mais de algumas críticas que têm sido feitas à decisão, como se a Corte tivesse autorizado a censura contra cidadãos nas redes sociais. Num cenário em que o Direito tem relevância cada vez maior na vida social e econômica do País, é fundamental entender o sentido e o alcance, seja do ordenamento jurídico, seja da jurisprudência. Não se enfrenta uma decisão judicial atribuindo-lhe algo que ela não faz.

O erro do STF foi entender que, para proteger direitos fundamentais, era necessário declarar inconstitucional o artigo 19 do MCI. Em vez de dar ao dispositivo uma interpretação sistêmica – alinhada com a finalidade explícita no próprio texto: “Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão” –, a maioria dos ministros do Supremo achou que a inconstitucionalidade era a solução.

A ‘rataria’ quer envolver o Exército - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo.

Oficiais tentam constranger generais com o objetivo de colocar a Força Terrestre no golpe

Os réus apareceram fardados. E tentaram trazer para o processo da trama golpista os generais Alcides Valeriano de Faria Júnior e Luiz Gonzaga Viana Filho. O primeiro comandava a 6.ª Divisão (6.ª DE) e o outro, o Centro de Inteligência do Exército (CIE) nos messes que antecederam a intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023. Ambos ganharam a quarta estrela na última promoção decidida pelo Alto-Comando da Força.

Mais do que comprometer os generais na trama, o que os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Fabrício Moreira de Bastos pretendiam era arrastar o Exército para o banco dos réus, em uma estratégia parecida à do coronel Brilhante Ustra durante seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade. A diferença é que Ustra dirigira nos anos 1970 um órgão da Força Terrestre. Não desbordou a hierarquia nem agiu clandestinamente contra o Alto-Comando.

As tentações ao Copom - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo.

O perigo é o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos

Faz muito tempo que uma reunião do Copom não acontece em meio a uma irrefutável queda tanto das expectativas inflacionárias dos analistas quanto da inflação implícita nas taxas dos títulos públicos, mostrando um progresso efetivo da política monetária restritiva que levou os juros a 15%. Mas a melhora ainda é incipiente, e o perigo é de o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos.

Essa é a primeira reunião em que o Copom deverá deixar a taxa Selic parada após ter indicado, em junho, que pretende mantê-la inalterada por “período bastante prolongado”. Assim, a atenção recairá sobre o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão de hoje. O desafio do Copom é dissuadir o mercado de apostar num eventual início de um ciclo de corte de juros antes do desejável, o que colocaria a perder todo o esforço do BC em levar as expectativas inflacionárias em direção à meta de 3%.

Bolsonarismo quer que o Brasil se curve perante Donald Trump - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

O que presidente americano tem demandado é completamente inaceitável para andamento de qualquer governo democrático

direita bolsonarista brasileira não gosta de ser chamada de extrema direita. Rejeita a classificação por considerá-la uma tentativa deliberada de desqualificação por parte dos adversários. Prefere identificar-se apenas como direita —rótulo de que se orgulha e faz questão de ostentar.

Temos aqui um caso clássico de dissociação: identifica-se como direita, com orgulho, mas pensa e age como um movimento extremista que, por falta de opção melhor, aceita operar numa democracia liberal —ao menos enquanto ela ainda lhe serve. Sua inclinação natural, porém, é bem outra: atropelar as regras quando possível, driblar as instituições quando conveniente e, se a ocasião permitir, desferir um golpe contra o Estado de Direito —tudo em nome de valores, é claro.

Os quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro demonstraram isso. Desde o início, o bolsonarismo se comportou como uma força hostil às amarras do Estado liberal-democrático, que nunca reconheceu.

País precisa discutir o que fazer da gangue política aliada de Trump - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Mais do que ligação de Lula, é preciso discutir mínimo de civilidade e nova diplomacia

Telefona? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ligar para Donald Trump? Isto é, o governo deve tentar criar pelo menos uma situação em que essa conversa não sirva apenas para a avacalhação do país?

O que Lula poderia dizer a Trump além de tentar criar um clima para alguma conversa, na melhor das hipóteses?

Pouco adianta dizer que os ataques americanos não têm base nos fatos ou são contraproducentes. Não é o que está em questão, assim como as proteções comerciais brasileiras também não são a questão maior. Talvez por meio de conversas racionais sobre vantagens e desvantagens, os lobbies da Embraer, do café e da laranja, por exemplo, e seus parceiros nos EUA consigam atenuar o dano. Faz algum efeito, claro, mas não é o que está em questão.

Unidos em ação e pensamento -Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A versão de que a trama do golpe foi fruto de meras elucubrações é de difícil digestão pelos juízes do processo

Réus no processo por tentativa de golpe de Estado têm alegado que documentos e registros de mensagens de incentivo a um levante eram cogitações individuais sem consequências práticas.

Uma estratégia de defesa válida, mas de difícil digestão para observadores de fora do Supremo Tribunal Federal e ainda mais improvável de ser aceita pelos juízes. Convenhamos, é muita gente pensando na mesma coisa ao mesmo tempo. Não tendo havido golpe, não houve crime, argumentam os pensadores na esperança de que não se leve em conta a tipificação de tentativa constante na lei. Ora, se pensaram, logo existiram como articuladores de uma intentona.