sexta-feira, 11 de julho de 2025

Inflação mais baixa. Até quando? - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A inflação de junho, relativamente mais baixa, de 0,24%, veio dentro do esperado, mas não reflete uma melhora significativa da economia interna. Agora, é preciso observar que tipo de impacto o tarifaço do presidente Donald Trump sobre o Brasil pode produzir nos preços internos.

O despejo de moeda pelo governo continua intenso, como indica o avanço do rombo fiscal neste exercício e a expectativa de aumento nos dois anos seguintes, diante da omissão do governo e da baixa vontade política de atacar a gastança.

Essa inflação mais baixa decorre de dois fatores de origem externa: a valorização do real frente ao dólar, em função da política econômica dos Estados Unidos; e a queda dos preços do petróleo e de outras matérias-primas, provocada pela desaceleração da economia global, também consequência da política tarifária de Trump.

A queda acumulada das cotações do dólar no câmbio interno neste ano supera os 10%. Por um lado, é provável que esse movimento ainda não tenha se esgotado, já que o presidente Trump parece desejar um dólar mais fraco frente a outras moedas, a fim de baratear os produtos norte-americanos — inclusive em dólares — e, assim, favorecer as exportações. Mas cobra alto preço da economia dos Estados Unidos, pois esse enfraquecimento do dólar reduz seu atrativo como moeda global de reserva. Outra grande consequência é o avanço dos juros de longo prazo.

Por outro lado, temos a pancada da bomba tarifária sobre o Brasil, que pode afugentar dólares que normalmente viriam para cá. Até agora, a baixa do câmbio atuou como fator de barateamento das importações do Brasil e de redução das cotações em moeda estrangeira dos produtos dolarizados, como petróleo, minérios e as commodities agrícolas. Essa é a principal razão para a desaceleração dos preços dos alimentos no Brasil.

A partir do enfraquecimento da inflação por aqui, parece inevitável também a desaceleração dos preços dos serviços à medida que a percepção de uma inflação mais baixa levar os formadores de preços a remarcar mais devagar o preço dos seus serviços, sob ameaça de perder mercado.

Ainda assim, a inflação acumulada em 12 meses, de 5,35%, segue acima do teto da meta estabelecida — de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual. Esse é um dos motivos pelo qual o Banco Central não deve flexibilizar sua política monetária tão cedo, especialmente em meio a falta de colaboração do governo federal no enfrentamento do déficit fiscal. Diante desse cenário, é provável que os juros básicos (Selic) permaneçam ao longo de todo este 2025 à altura dos 15% ao ano.

 

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