sexta-feira, 11 de julho de 2025

A chantagem e sabujice - Bernardo Mello Franco

O Globo

Capitão e aliados usam mote “Brasil acima de tudo”, mas bajulam quem ataca o país

O tarifaço de Donald Trump contra o Brasil é um ato de chantagem em favor da impunidade de Jair Bolsonaro. Em carta enviada a Lula, o presidente dos EUA anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. Ao justificar a medida, cobrou o fim “imediato” do processo contra o aliado no Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro é réu por tentativa de golpe. Arquivar a ação sem julgá-lo não é uma alternativa. Ao exigir que o Judiciário se dobre à sua vontade, Trump agride as instituições brasileiras e trata o maior país da América Latina como uma república de bananas.

A carta também acusa o Brasil de “ataques insidiosos” contra as eleições livres. A expressão ecoa as mentiras da extrema direita contra a Justiça Eleitoral. Quem atentou contra o pleito de 2022 foi Bolsonaro, que moveu uma campanha de desinformação contra a urna eletrônica e disse que só perderia em caso de fraude. No segundo turno, seus aliados bloquearam estradas para tentar impedir pobres de votar.

Ao felicitar Lula pela vitória, o governo americano atestou que a eleição brasileira foi “livre, justa e crível”. O fato de o atual inquilino da Casa Branca preferir o candidato derrotado não apaga nem reescreve a História.

As reações ao tarifaço americano escancaram o falso patriotismo dos Bolsonaro. O capitão e os filhos usam o mote “Brasil acima de tudo”, mas festejaram uma medida que prejudicará empresários e trabalhadores brasileiros. Diante da repercussão negativa, tentaram mudar o discurso e empurrar a culpa para o Brics. Conversa fiada, porque a carta de Trump não cita o bloco e não impõe taxas a seus outros dez integrantes.

No dia em que o republicano atentou contra a soberania brasileira, Tarcísio de Freitas voltou a se ajoelhar diante de Bolsonaro e disse que Lula seria o responsável pela agressão ao país. Pré-candidato ao Planalto, o governador já havia vestido o boné vermelho de Trump. Ontem pegou um avião para almoçar com o padrinho inelegível.

 

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