Valor Econômico
A percepção de aliados é de que, demorou, mas Lula, enfim, compreendeu que deve investir na disputa política e no confronto direto com os adversários para não perder a eleição
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu
sinais de ter saído, finalmente, do modo “adagio”, que embalou sua operação
política neste terceiro mandato, para entrar em modo “presto”, enquanto aliados
o empurram para um “prestissimo”, mais acelerado, porque o tempo urge, a
campanha está nas ruas e os fatos se atropelam no compasso veloz e dramático da
“Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner.
Soa a um clichê, mas pareceu oportuno lembrar a cena da invasão de helicópteros, ao som dos acordes de Wagner, lançando bombas sobre um vilarejo do Vietnã, no filme “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola. Troque o cenário, adicione suspense, e o leitor visualizará Black Hawks americanos bombardeando o Palácio do Planalto. Nos últimos dias, o governo Lula foi alvejado com a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros de Donald Trump, quando mal se reerguia da derrota sobre o decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Congresso Nacional.
A percepção de aliados que efetivamente
frequentam o núcleo próximo de Lula é de que, demorou, mas ele, enfim,
compreendeu que se não abandonar o perfil conciliador, vulgo “paz e amor”, para
investir na disputa política e no confronto direto com os adversários vai
perder a eleição no ano que vem. “A ficha caiu”, afirmou um aliado à coluna.
Um exemplo da nova atitude seria a decisão de
gravar um pronunciamento para se dirigir diretamente aos brasileiros em rede
nacional de rádio e televisão nos próximos dias. Já na derrota do IOF, aliados
o pressionavam nesse sentido, mas ele se mostrava reticente. Veio o tarifaço de
Trump, e Lula se mexeu. O pronunciamento ainda está no radar, mas ele já deu
entrevistas, publicou artigos na mídia internacional, e traça mais estratégias
nos bastidores.
Um aliado enumerou quatro episódios que
demarcam a lenta mudança de opinião do mandatário até o reconhecimento de que
precisa adaptar seu estilo de fazer política aos tempos atuais, de mais
velocidade, menos acordos, mais embates e vale tudo nas redes digitais.
Num retrospecto, segundo este aliado, o
primeiro susto de Lula veio com o resultado das eleições municipais de 2024, em
que os partidos de centro e de direita emergiram como grandes vencedores. O PSD
de Gilberto Kassab conquistou 891 prefeituras, seguido do MDB, com 864, e do
Progressistas (PP), com 752. O PT terminou em 9º lugar, com 252 prefeituras, e
apenas um prefeito de capital, Evandro Leitão, de Fortaleza (CE). Ficou atrás
do PSB, que teve o melhor desempenho entre as legendas de esquerda, com 312 prefeitos.
Ainda em relação a 2024, Lula espantou-se com
o fenômeno Pablo Marçal (PRTB), que quase excluiu o seu candidato, Guilherme
Boulos (Psol), do segundo turno da disputa para a Prefeitura de São Paulo.
Boulos garantiu a vaga na segunda rodada com 1,776 milhão de votos (29%), com
Marçal nos calcanhares, que ficou de fora por apertados 57 mil votos, menos de
1% do total.
O segundo tombo de Lula, segundo este aliado,
deu-se com a “crise do Pix”, quando uma avalanche de “fake news” de que o
governo passaria a cobrar imposto sobre as transações bancárias, xodó dos
brasileiros, derrubou a popularidade do presidente. Nesse episódio, a aprovação
ao governo caiu ao nível mais baixo desde o início do terceiro mandato.
Pesquisa Datafolha divulgada em fevereiro, no calor dos acontecimentos, mostrou
que 24% consideravam a gestão do petista ótima ou boa, uma queda de 11 pontos
em relação ao resultado de dezembro de 2024: 35% de ótimo e bom. Até hoje, Lula
não recuperou o patamar do final do ano.
O terceiro choque de realidade de Lula
operou-se com a estrondosa derrota do decreto que havia elevado alíquotas do
IOF, uma prerrogativa do presidente da República, assegurada pela Constituição
Federal, e pela qual ele está decidido a brigar - tendo levado a disputa ao
Supremo Tribunal Federal (STF). A Câmara dos Deputados revogou o ato
presidencial por 383 votos a 98, mostrando que a base governista não reuniu nem
uma centena de votos.
Quando Lula ainda cambaleava, recuperando-se
do abalo com o IOF, e já recepcionando conselhos do ministro da Secretaria de
Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, aos quais era refratário, os
helicópteros lançaram a bomba de Trump sobre Brasília. Mas as reações vêm a
galope. Na economia, reuniram-se ministros, autoridades diplomáticas,
parlamentares, setor produtivo e empresários para definir respostas ao tarifaço
de Trump.
Na política, Lula, ministros e magistrados do
STF discutem ações diante do avanço da Casa Branca sobre a soberania do Brasil
e a autonomia do Poder Judiciário, com inevitável impacto nas eleições. No
mundo digital, uma militância mais articulada surpreendeu.
Lula é cobrado a reagir em “presto,
prestissimo”. Se não recuar, pretende entrar nos lares dos brasileiros nos
próximos dias, na rede nacional de televisão, com uma resposta dura em defesa
da soberania, aliada ao novo impulso na campanha digital pela “justiça fiscal”,
com o avanço na Câmara da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5
mil, além do início do reembolso dos descontos ilegais em aposentadorias do
INSS.
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