O Estado de S. Paulo
Jogar fora a soberania, a Constituição, a bandeira e os brios nacionais para salvar Bolsonaro?
O que Donald Trump exige, e o clã Bolsonaro
defende, despudoradamente, ao vivo e em cores, é que o Brasil se renda à sua
chantagem, cale o Supremo Tribunal Federal, rasgue a Constituição e a bandeira
verde e amarela e jogue sua soberania no lixo com um único objetivo: livrar o
ex-presidente Jair Bolsonaro da cadeia.
Isso já era claro e agora está sendo assumido até pelo senador Flávio Bolsonaro, o mais sensato da família, que diz em entrevistas, com todas as letras, que basta “o Brasil voltar à normalidade” para que Trump recue da taxação de 50% em todos os produtos brasileiros que cheguem nos EUA. O que seria essa “volta à normalidade”? Segundo o senador, na GloboNews, “uma anistia ampla, geral e irrestrita”.
Ele replica, assim, o recado de Steve Bannon,
ideólogo da extrema direita, estrategista da primeira campanha de Trump à
presidência e ainda hoje seu porta-voz informal, em entrevista ao site UOL:
“Derrubem o processo de Bolsonaro, derrubamos as tarifas”. Simples assim.
Mas, afinal, do que se trata? Uma negociação
comercial entre países ou uma chantagem política e uma ingerência grosseira de
um presidente estrangeiro em questões nacionais? O mundo inteiro, como nós, os
brasileiros, sabe a resposta, até porque o Brasil é o único país deficitário
nas relações comerciais com os EUA, entre todos os que receberam cartinhas
abusadas e ameaças de Trump. Logo, não há a mínima justificativa técnica para
50% de taxação.
Flávio Bolsonaro compara o Brasil com a
Venezuela, que vive sob o controle de Maduro no Judiciário, no Congresso e na
mídia e sofre sanções dos EUA por fraude nas eleições. Não faz sentido. No
Brasil, há problemas, como em todos os países, mas temos democracia funcional,
independência entre Poderes, imprensa livre e eleições limpas, com urnas
eletrônicas inexpugnáveis. O que Trump exige, pró-Bolsonaro, é que Lula aja
como Maduro e interfira no Supremo, neutralize Alexandre de Moraes e anule o
julgamento do golpe. Coisa de louco!
O tiro saiu pela culatra. O ataque não muda
nada para Bolsonaro no STF e pode piorar bastante o processo contra Eduardo
Bolsonaro, que não para de produzir provas de que age contra o Brasil no
exterior. E mais: dá palanque e condições ideais para Lula assumir a
resistência democrática e unir adversários e o País, em nome da soberania.
Como exemplo, o agronegócio não gosta de
Lula, Lula tem lá seus preconceitos contra o agronegócio, mas a aliança de
Bolsonaro e Trump contra o Brasil põe os dois do mesmo lado: o interesse
nacional. Agora, vem o mais difícil: como, e o que, negociar com o irracional
Trump?
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