O Estado de S. Paulo
Se os presidentes evitarem declarações e
tomarem decisões técnicas, é possível ter estabilidade
Esta semana tivemos a feliz surpresa com a
inflação de janeiro. O IPCA foi de 0,16%, a menor taxa para o mês desde o
início do Plano Real, em 1994. O índice caiu principalmente devido à redução de
tarifas de energia elétrica resultante do bônus de Itaipu. Mas não podemos nos
enganar, acreditando que a fera foi dominada – o IPCA de janeiro está
escondendo problemas estruturais, que irão manter a inflação alta nos próximos
meses.
Por seu lado, o presidente Lula e outras autoridades culpam os supermercados pela alta dos alimentos e dão dicas de como reutilizar pó de café e de outras mudanças de hábitos alimentares. Noutra frente, culpam o Banco Central pela alta de juros. Dizem que o governo está ajudando no controle da inflação com medidas sociais e incentivo ao crescimento econômico. Esquecem de falar nos gastos elevados do governo e desconsideram a inflação de serviços.
Mas esse hábito de culpar os outros pelos
problemas não existe somente aqui. Nos EUA, o presidente Trump diz que a
inflação é culpa de Biden e começa a aumentar as tarifas de importação para
proteger os americanos da alta dos preços. Quer também cortar impostos para
estimular a economia sem aumentar o endividamento e, ainda, diz que o Fed
(banco central americano) tem de baixar os juros. Em resumo, Trump promete
acabar com a inflação, mas suas políticas protecionistas e de cortes de
impostos vão, na prática, aumentar os preços e pressionar o Fed.
Isso nos leva a pensar que poderia ser criado
um curso bem didático, até com desenhos, para ensinar presidentes a combater a
inflação. O título seria: Inflação para Presidentes: Como Não Destruir a
Economia. O curso seria composto de módulos: 1 - O que é inflação e por que ela
é um problema; 2 - O que REALMENTE causa inflação; 3 - Como NÃO combater a
inflação (mas muitos presidentes insistem!); 4 - Como REALMENTE combater a
inflação.
Este último seria o módulo mais importante e
trataria de temas como: a) manter a disciplina fiscal (se o Congresso deixar);
b) garantir a independência do Banco Central; c) estimular o aumento da
produtividade; d) garantir previsibilidade e estabilidade.
O fato é que a inflação não é uma força da natureza, mas resultado de decisões econômicas ruins e políticas públicas frágeis. Inflação é a febre da economia, não a doença. Controlá-la é difícil, exige ações concretas e pensadas. Mas se os presidentes e outras autoridades evitarem declarações que assustam os mercados e tomarem decisões técnicas, em vez de populistas, é possível garantir crescimento sustentável e estabilidade econômica. Pronto, quem completar esse programa está preparado para liderar com responsabilidade e manter a inflação sob controle!
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