Folha de S. Paulo
A sugestão é que o presidente se sente à mesa
pela anistia de quem planejou seu assassinato
O presidente Lula (PT) tem sido instado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a intermediar um acordo para redução de pena dos vândalos que depredaram as sedes dos três Poderes em 8/1 de 2023.
Ainda que sejam boas as intenções, a proposta
beira o indecoroso. É sugerir que se sente à mesa pela anistia de quem
planejou seu assassinato, pôs fogo em carros nas ruas de Brasília e pilhou
o Palácio do Planalto.
Sem falar no alto risco de fracasso. Lula está preocupado com o acirramento dos ânimos e aberto ao diálogo, mas hesitante quanto à eficácia dessa articulação, relatam aliados.
Desde a suspensão
das emendas, o contencioso entre STF (Supremo Tribunal Federal) e Congresso
Nacional é tamanho que são parcas as chances de conciliação. É real a
hipótese de o presidente contrariar um dos vizinhos da praça dos Três Poderes.
A ministra Gleisi Hoffmann é prova disso.
Após admitir eventual negociação, viu-se obrigada a ir às redes para
desfazer mal-estar com o Judiciário.
Governo está sob pressão. Ao voltar de
Honduras, Lula foi surpreendido com a adesão de aliados ao requerimento de
urgência para a votação da anistia. Valendo-se de uma expressão que remete à
ditadura, o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) reivindica que seja "ampla, geral e
irrestrita". Leia-se para ele mesmo.
Os signatários do requerimento são de
partidos confortavelmente acomodados na Esplanada. Questionados, chegaram a
alegar desconhecimento da amplitude da anistia proposta. Será?
Líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ)
cobrou: "Não tem como ficar dos dois lados. É hora de saber quem está ao
lado do governo e quem não está".
Como se fosse possível apostar na lealdade de
uma base gelatinosa, fundada na concessão de espaço e recursos públicos. Seria
o mesmo que acreditar que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) —que
ostentou boné pós-Trump— enxerga uma
janela de oportunidades para o Brasil no tarifaço americano.
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