- Valor Econômico
Em 2018, eleição definirá que Brasil queremos
A economia brasileira começa a dar sinais de que está saindo do atoleiro, depois de um pesadelo que durou mais de três anos. Os ventos são favoráveis e as notícias são boas, então, a dúvida é: até quando? A recuperação é para valer ou estamos diante de um soluço? Como a retomada pode ser crível e sustentável se o Estado brasileiro faliu e, por essa razão, exigirá da sociedade nos próximos (muitos) anos sacrifícios que, ao fim e ao cabo, poderão resultar em menos crescimento econômico? O grupo que chegar ao poder em 2018 terá força para tocar a agenda de reformas institucionais necessária para a manutenção do país na trajetória iniciada pelo atual governo?
A parte boa da história se traduz pelos seguintes fatos:
1) a inflação já é a segunda menor da história e as expectativas do mercado para os próximos anos estão devidamente ancoradas - no boletim Focus, que traz a mediana das projeções de mais de cem instituições, o IPCA esperado para este ano está abaixo do limite (3%) permitido pelo regime de metas neste momento e já é inferior (4,02%) à meta de 4,5% para 2018;
2) a taxa básica de juros (Selic), atualmente fixada em 8,25% ao ano, caminha para o menor patamar desde o lançamento do Plano Real, em 1994. Analistas experientes apostam que possa cair abaixo de 6% ao fim do atual ciclo de alívio monetário. No momento, o juro real (descontada a inflação) está em torno de 3% ao ano, uma taxa à qual a economia brasileira nunca esteve, de fato, submetida;
3) a atividade opera em terreno positivo desde o primeiro trimestre, com o consumo voltando a crescer graças ao aumento do poder de compra decorrente da redução drástica dos índices de preços - uma lição que os inflacionistas do governo anterior jamais aprenderam: inflação baixa é algo bom para todos, mas principalmente para quem não tem como se proteger dos preços altos: a população de baixa renda;
4) o desemprego começou a diminuir, quando inicialmente se esperava que isso só fosse ocorrer no próximo ano;
5) depois de anos de estagnação, o setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) voltou a respirar;
6) a indústria automobilística, cuja produção caiu a 50% de sua capacidade, está saindo da depressão dos últimos anos, a ponto de o novo presidente da Volkswagen para a América do Sul, Pablo Di Si, manifestar preocupação com a capacidade dos fornecedores de autopeças de atender à demanda das montadoras. Com a rápida e vertiginosa queda de produção, muitas empresas da cadeia entraram em dificuldade, e Di Si projetou avanço de 40% do mercado de veículos leves nos próximos quatro anos;
7) a queda da taxa de juros a níveis nunca antes alcançados está reduzindo o chamado custo de oportunidade, isto é, o custo a partir do qual vale a pena, para o empresário, investir em seu negócio em vez de aplicar seu capital na taxa Selic (em títulos públicos). Como a redução da Selic é significativa - no início do ciclo, estava em 14,25% ao ano -, abre-se uma avenida para que as empresas captem recursos no mercado de capitais, o que já está ocorrendo.
O drama da parte negativa da história - aquilo que provocou a depressão dos últimos anos - pode ser resumido assim: mesmo tendo estancado a escalada populista dos gastos federais promovida pela gestão anterior, o governo tem enfrentado enorme dificuldade para reduzir o déficit primário (que não contabiliza a despesa com juros), estacionado em 3% do PIB. Embora não possa ser responsabilizada por todo o problema fiscal, Dilma Rousseff ignorou sua existência e exponenciou os gastos, inclusive, por meio de emissão de dívida. A elevação de despesas obrigatórias aumentou a rigidez orçamentária ao ponto em que, sem déficit, isto é, sem aumento da dívida, não se pagam as contas.
Ora, se o governo não consegue baixar o déficit primário abaixo de 3% do PIB e tem uma despesa anual com juros em torno de 6,5% do PIB, a dívida pública tem crescido à ordem de 10 pontos percentuais de PIB ao ano. Nos 12 meses até agosto, já estava em 73,7% do PIB. Até quando? Esta é a parte da equação de difícil compreensão neste momento: diante da calamidade das finanças públicas e da enorme incerteza quanto ao resultado eleitoral de 2018, por que os empresários e o mercado financeiro estão otimistas quanto à recuperação da economia?
A explicação está na qualidade da equipe que vem conduzindo a economia desde maio do ano passado e, claro, nas políticas que ela adotou desde então, apesar das dificuldades políticas de um governo de baixíssima popularidade. O problema fiscal, cuja solução ainda é uma miragem no deserto, explica um fenômeno curioso: assim como duvidou da sustentabilidade da redução dos juros no primeiro mandato da presidente Dilma, o mercado também questiona o sucesso agora. Isso aparece na curva de juros, isto é, nas taxas que estão sendo contratadas a partir de 2019.
Nos dois momentos - agora e em 2012 -, a curva de juros aparece inclinada para cima, indicando a desconfiança do mercado. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, diz que, quando isso ocorre, a explicação pode estar na inflação esperada ou no prêmio de risco exigido pelos investidores para continuar financiando o governo.
No caso da inflação esperada, há duas formas de verificar como os agentes econômicos estão vendo o futuro: o boletim Focus e a inflação implícita nos títulos públicos de prazos mais longos negociados no mercado. Em ambas as medições, a inflação esperada não é fonte de preocupação, portanto, não está contribuindo para a inclinação da curva de juros. "Inflação ancorada em ambos os casos é bom para o BC, nos dá um alento", disse Ilan a esta coluna.
O problema reside, portanto, no prêmio de risco estimado para 2019. "Há um pulo relevante de 2018 para 2019 no prêmio de risco. E, depois, mais ou menos fica constante. O que acho que tem um risco aqui é a incerteza política de quem será o próximo governo. A segunda razão, muito ligada à primeira, é se não vier uma reforma da previdência até 2018. Não são razões isoladas, políticas ou econômicas. Elas estão embaralhadas", observou Ilan.
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