O Estado de S. Paulo
A credibilidade das Forças Armadas e o
julgamento do golpe, de Bolsonaro e de generais
No ano do julgamento da tentativa de golpe, a
dias do parecer da PGR sobre os golpistas e na véspera da ida do presidente
Lula a uma cerimônia da Marinha no Rio, nesta segunda-feira, pesquisa Atlas
apontou que 72% dos ouvidos não confiam nas Forças Armadas. Mesmo militares que
consideram esse porcentual exagerado admitem que a imagem da instituição vem
sofrendo desgaste e que nenhum outro presidente foi tão pernicioso para as FA
do que o capitão insubordinado Jair Bolsonaro.
“Quando a política entra por uma porta no quartel, a ordem e a disciplina saem pela outra”, diz a máxima jogada no lixo por Bolsonaro, que entupiu o Planalto de generais e acentuou privilégios da carreira que um dia foi a sua. Enquanto “comprava” militares no varejo, ele infiltrava a política nos comandos e nas tropas de uma forma jamais vista após a redemocratização.
O presidente Lula, que não tinha motivo para
ser amigão de generais, brigadeiros e almirantes, soube conviver muito bem com
eles nos seus dois primeiros mandatos e investiu no atacado: renovação dos
caças da FAB, dos submarinos da Marinha e dos tanques do Exército, além de
estabelecer a Estratégia Nacional de Defesa.
O que se tem depois de Bolsonaro são 28
militares, inclusive de altas patentes, entre os 40 indiciados na tentativa de
golpe. Não há dúvida de que o procurador-geral, Paulo Gonet, vai deixar muito
clara a responsabilidade de cada um, com base na minuciosa investigação da PF,
mensagens de internet, planos impressos, reuniões, delações e depoimentos,
inclusive de excomandantes.
Gonet foi implacável com sete ex-integrantes
do comando da PM do Distrito Federal que já foram para a Praça dos Três Poderes
no 8/1 dispostos a lavar as mãos. Se foi assim com PMs, como o PGR será com o
ex-presidente e os generais que articularam o golpe a partir do Planalto?
A área militar considera a pesquisa Atlas
muito triste, mas previsível, com uma ressalva: Datafolha e Ipec de dezembro de
2024 detectaram perda de aprovação das FA, mas elas se mantinham como
instituição mais bem avaliada do País. Isso pode continuar se, como diz o
ministro da Defesa, José Múcio, houver separação entre CPFs (culpados) e CNPJ
(FA).
Não depende de Supremo, governo e mídia, mas,
sim, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que não devem, jamais, defender
qualquer um que tenha imaginado, discutido e articulado o assassinato de um
presidente legitimamente eleito, seu vice e o então presidente do TSE. Quanto
mais distantes desse tipo de gente e quanto mais baterem a porta para a
política nos quartéis, melhor para as Forças Armadas. •
Nenhum comentário:
Postar um comentário