terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Lula tem um problema - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Queda de popularidade do presidente, seja aguda ou estrutural, força governo e outros agentes a se reposicionarem

Se até o mês passado a grande dificuldade de Lula era não conseguir que alguns bons indicadores econômicos se convertessem em popularidade, ele agora precisa lidar com um problema bem mais grave, que é a acentuada deterioração das avaliações positivas de seu governo, inclusive em coortes historicamente simpáticas ao petista.

Só o tempo dirá se estamos diante de um movimento agudo ou de algo mais estrutural, que reduziria as chances de a esquerda vencer o pleito presidencial de 2026, eventualmente fazendo com que o próprio Lula desista de concorrer à reeleição.

Qualquer que seja o cenário, a queda na popularidade produz efeitos não triviais. O mais óbvio deles é que o governo precisará se reposicionar –e de modo mais incisivo do que a contratação de Sidônio Palmeira e uma reforma ministerial.

Lula terá de definir se enfrentará a situação adotando uma agenda de responsabilidade fiscal capaz de conter a inflação, notadamente a inflação dos alimentos, apontada como principal razão da má avaliação de sua gestão, ou se vai abraçar de vez programas populistas com previsão de maturação em 2026.

Gostaria que ele seguisse o primeiro caminho, mas receio que adote o segundo, que está mais de acordo com seus instintos e com o cronograma eleitoral.

Outro ponto importante é a relação com o Congresso. Teremos a partir de agora um governo enfraquecido, o que cria uma situação propícia para parlamentares se apropriarem de mais nacos de poder e do Orçamento. Os grandes avanços do Congresso que desequilibraram o jogo em favor do Legislativo se deram sob Dilma 2 e Bolsonaro, dois governantes que estiveram nas cordas.

Há, por fim, o efeito potencialmente divisivo sobre a oposição. A perspectiva de derrota da situação em 2026 aumenta a pressão para que o campo conservador lance um candidato capaz de atrair os moderados (que foram para Lula em 22). Bolsonaro deve se opor com unhas e dentes a esse movimento, que, se for exitoso, decretaria o fim de sua influência sobre a direita.

 

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