Folha de S. Paulo
Queda de popularidade do presidente, seja aguda ou estrutural, força governo e outros agentes a se reposicionarem
Se até o mês passado a grande dificuldade de Lula era não
conseguir que alguns bons indicadores econômicos se convertessem em
popularidade, ele agora precisa lidar com um problema bem mais grave, que é
a acentuada
deterioração das avaliações positivas de seu governo, inclusive em coortes
historicamente simpáticas ao petista.
Só o tempo dirá se estamos diante de um movimento agudo ou de algo mais estrutural, que reduziria as chances de a esquerda vencer o pleito presidencial de 2026, eventualmente fazendo com que o próprio Lula desista de concorrer à reeleição.
Qualquer que seja o cenário, a queda na
popularidade produz efeitos não triviais. O mais óbvio deles é que o governo
precisará se reposicionar –e de modo mais incisivo do que a contratação
de Sidônio
Palmeira e uma reforma ministerial.
Lula terá de definir se enfrentará a situação
adotando uma agenda de responsabilidade fiscal capaz de conter a
inflação, notadamente
a inflação dos alimentos, apontada como principal razão da má avaliação de
sua gestão, ou se vai abraçar de vez programas populistas com previsão de
maturação em 2026.
Gostaria que ele seguisse o primeiro caminho,
mas receio que adote o segundo, que está mais de acordo com seus instintos e
com o cronograma eleitoral.
Outro ponto importante é a relação com
o Congresso.
Teremos a partir de agora um governo enfraquecido, o que cria uma situação
propícia para parlamentares se apropriarem de mais nacos de poder e do
Orçamento. Os grandes avanços do Congresso que desequilibraram o jogo em favor
do Legislativo se deram sob Dilma 2 e Bolsonaro, dois governantes que estiveram
nas cordas.
Há, por fim, o efeito potencialmente divisivo
sobre a oposição. A perspectiva de derrota da situação em 2026 aumenta a
pressão para que o campo conservador lance um candidato capaz de atrair os
moderados (que foram para Lula em 22). Bolsonaro deve se opor com unhas e
dentes a esse movimento, que, se for exitoso, decretaria o fim de sua
influência sobre a direita.
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