terça-feira, 4 de junho de 2024

Míriam Leitão - Razões da boa notícia do PIB

O Globo

Dados do 1º trimestre mostram crescimento maior do que era previsto. Desemprego e inflação em baixa completam a lista de boas notícias

O primeiro trimestre do ano foi bom, o PIB cresceu 0,8%, mais do que o inicialmente previsto pelo mercado. Além disso, houve queda do desemprego e queda da inflação, dois dados que não costumam cair juntos. Isso é ainda mais notável quando há um aumento da renda, como houve. Entre janeiro e março deste ano, o Brasil exportou US$ 78,3 bi, 3,2% mais do que no ano passado. Tanto a exportação, quanto o saldo de US$ 19 bi, foram recordes. O ano começou melhor do que o esperado, mas deve crescer menos do que o ano passado, ainda que de forma mais distribuída pelo país e pelos setores. A tragédia do Rio Grande do Sul vai ter um impacto forte no segundo trimestre, mas o efeito da recuperação também será sentido este ano ainda.

A desinflação tem sido rápida. Para se ter uma ideia, a inflação que terminou o ano passado em 4,62%, chegou em março meio ponto mais baixa, em 3,9%. Em abril, o acumulado em doze meses foi de 3,69%, quase um ponto percentual menor em apenas quatro meses. O ano será muito diferente de 2023.

— Em 2023, o crescimento foi basicamente o agro. Desta vez, os serviços também se destacam, mas há três impulsos, o primeiro é o mercado de trabalho muito forte. É impressionante, a taxa de desemprego não para de cair, tanto no IBGE, quanto no Caged. O segundo impulso tem a ver com o crédito. E o terceiro impulso, que explica a história dos serviços, é o gasto público. A expansão fiscal pode trazer preocupação no médio prazo, mas no curto prazo ajuda o crescimento — diz o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.

O gasto público veio pelo aumento da despesa social e o pagamento dos precatórios pendentes deixados pela administração anterior. Ao acertadamente pagar as dívidas judiciais vencidas e transitadas em julgado, que haviam sido caloteadas, o governo acabou também injetando recursos e estimulando a economia. Em relação ao gasto social, o aumento é consequência do novo valor do Bolsa Família. Era R$ 200, mas o governo passado levou para R$ 600, numa tentativa de ganhar a eleição, e esse novo valor acabou subindo um pouco no governo Lula.

— Esses devem ser os destaques do PIB, esses três motores. A renda tem um indicador, que a gente começou a usar na pandemia, que é a renda disponível real, que soma a renda do trabalho com as transferências do governo. É impressionante como a renda cresce acima da inflação e num ritmo muito forte — explica Padovani.

No crédito, ao contrário de 2023, tem havido um relaxamento monetário com a queda das taxas de juros. O crédito está voltando, mas com a inadimplência mais controlada. O aumento da oferta de crédito se soma à elevação da renda e isso permite o crescimento dos serviços.

Esses fatos juntos — aumento de renda, alta de crédito e queda do desemprego — preocupam quando a inflação começa a subir. Mas ela está em queda. A inflação de serviços, para a qual todos estão olhando, parou de cair, continua rodando em torno de 5%, mas a avaliação dos economistas é que ela vai ceder.

— Comecei o ano prevendo 0,2% de crescimento no primeiro trimestre, e agora estou em 0,7%. Eu não me lembro na minha carreira de ter feito um revisão dessa magnitude — diz Padovani.

A FGV também aposta em 0,7%, no seu monitor. Em 2023, a previsão inicial dos economistas foi totalmente superada. Eles apostavam no começo do ano em menos de 1% de crescimento do PIB e ele foi de 2,9%. Em 2024, deve ser menor, em torno de 2%.

Independentemente do número, o que os economistas têm repetido é que a qualidade desse crescimento será maior do que o do ano passado, que foi muito concentrado num único setor, o agronegócio. Nos dados divulgados hoje pelo IBGE, o crescimento estará mais espalhado pela economia, como um todo.

Apesar das notícias boas do trimestre, a tragédia do Rio Grande do Sul impedirá que se reveja para cima as previsões para o ano. O PIB gaúcho deve ter uma queda de 20% a 30% no segundo semestre, o que é muito forte, mas ao mesmo tempo deve ter uma recuperação rápida, na estatística, como efeito dos estímulos da reconstrução. Ainda que o estado precise de tempo para se recuperar de toda a violência da crise climática, os indicadores do ano econômico devem mostrar um mergulho no segundo trimestre e dados positivos nos últimos trimestres.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Excelente! Novamente as pessimistas previsões do "mercado" se mostraram erradas.

ADEMAR AMANCIO disse...

O ser humano precisa mudar a ''natureza'' dentro de si e não fora de si.