Folha de S. Paulo
Argumento da austeridade fiscal de Tarcísio é
verniz para sabotagem de câmeras corporais
Tarcísio
de Freitas procurou muitas desculpas para se livrar das câmeras
corporais da Polícia
Militar. Na campanha, dizia que o equipamento tirava a privacidade dos
agentes. Eleito, alegou que as gravações não
tinham efetividade na segurança do cidadão. Agora, ele poliu o discurso com
um argumento financeiro.
O edital para a contratação de novas câmeras para a PM permite que os policiais deixem o equipamento desligado. Segundo Tarcísio, a gravação contínua "gera muitos custos ao estado pela necessidade de armazenamento". O governador afirmou que o sistema atual gasta dinheiro para guardar um material que, "no final das contas, não serve para nada".
A economia estimada com o novo modelo não
chega a 0,5% do orçamento da PM paulista. Especialistas apontam que, se o
governo precisa reduzir custos, pode abrir mão de outras funcionalidades dos
equipamentos, como o reconhecimento facial e a transmissão de dados em tempo
real, já que não há evidências de que esses dispositivos tenham eficácia no
trabalho da polícia.
O registro de imagens das ações da PM, por
outro lado, é capaz de reduzir em cerca de 60% as mortes provocadas por
policiais e diminuir o número de mortes dos próprios agentes. Para isso, é
claro, as câmeras precisam estar funcionando.
Tarcísio oferece um argumento que não fica de
pé. O governador diz que a gravação ininterrupta é cara demais e "grava
muita coisa que não tem interesse para a investigação".
Dar ao agente o poder de decidir o que deve
ser registrado para uso numa eventual investigação é uma brecha valiosa apenas
para os maus policiais. Na operação que terminou em matança na Baixada
Santista, no ano passado, a maioria das ocorrências não foi registrada pelas
câmeras.
Não há nada como um discurso de corte de
gastos para revelar as prioridades de um governo. A bandeira da austeridade já
se mostrou um verniz eficaz para encobrir barbaridades patrocinadas por certos
políticos. Todo bolsonarismo precisa de um pouco de Paulo Guedes.
Um comentário:
Artigo de ontem.
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