quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Brasil na Opep sinaliza mais carbono e menos energia limpa - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Com a decisão de explorar petróleo até a última gota, o país abdica de ser um líder da nova economia descarbonizada

O Brasil aderiu à Carta de Cooperação entre Países Produtores de Petróleo (CoC), um fórum de discussão ligado à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep). A decisão sinaliza uma mudança de rumo na política ambiental do governo, às vésperas da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), em Belém (PA), ao lado da controversa decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de explorar o petróleo na região da Margem Equatorial, na bacia da Foz do Amazonas.

Com as bênçãos de Lula, a decisão foi tomada nesta terça-feira pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e anunciada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, enquanto a ministra do Meio Ambiente (Rede), Marina Silva, muito pressionada por seu próprio partido e pelas organizações e lideranças ambientalistas, ainda permanece numa espécie de “silêncio obsequioso”.

Silveira minimizou as críticas de ambientalistas sobre a entrada do país no grupo. “É apenas uma carta e fórum de discussão de estratégias dos países produtores de petróleo. Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, argumenta. O governo também anunciou a intenção de aderir à Agência Internacional de Energia (EIA, em inglês) e à Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, em inglês).

A entrada na Opep sinaliza um projeto de desenvolvimento assentado na economia do carbono pelo espaço de mais ou menos uma geração, com eixo da Região Norte do país, para onde se deslocou a Vale, já faz tempo, outra empresa de grande porte e atividade altamente agressiva ao meio ambiente: a mineração. Indústrias primárias e altamente poluentes sempre foram atrativas para estados carentes de investimento. Para políticos, empresários e a população de baixa renda da Amazônia, essas atividades são uma alternativa ao avanço do cultivo e do tráfico de drogas pelo crime organizado.

Entretanto, pode haver um erro de estratégia da Petrobras ao dobrar a aposta na exploração de petróleo no Amapá e retardar sua transição para uma empresa de tecnologia de energia limpa e produção de combustíveis verdes. Hoje, temos reservas de cerca de 16 bilhões de barris de petróleo no pré-sal; a estimativa da exploração da Margem Equatorial da Foz da Amazônia é de 14 bilhões de barris. Isso equivale às reservas do Cazaquistão. O que pode acontecer nos próximos 25 anos, em termos de transição energética?

Carro elétrico

Criada em 1960, a Opep reúne 13 grandes produtores de petróleo: Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Venezuela, Iraque, Argélia, Equador, Gabão, Indonésia, Líbia, Nigéria, Catar e Emirados Árabes Unidos, um cartel que jogou o preço do petróleo para cima e pode baixá-lo quando houver redução do consumo de combustíveis fósseis, inviabilizando a exploração para quem tem custos de produção mais elevados. Os países árabes têm uma estratégia de transição para a nova economia, da qual Dubai é o principal “case”, com horizonte de 50 anos.

O Brasil foi convidado, em 2023, para a Opep . Criado em 2016, esse grupo reúne países produtores e exportadores de petróleo que não fazem parte oficialmente do cartel, mas colaboram em políticas internacionais de petróleo. São mais de 20 nações, entre as quais Azerbaijão, Bahrein, Malásia, México e Rússia. Com produção de 3,672 milhões de barris de petróleo por dia, o Brasil hoje é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro da América Latina. Mas isso não elimina o risco de ficar com um mico na mão.

Onde mora o perigo? No carro elétrico. Sua popularização seria a chave para manter o crescimento, liderado pelo mercado interno e pela economia dos serviços, e sem os inconvenientes da gasolina. A China aposta fortemente nessa opção, e o Brasil tem a possibilidade de adoção de modelos híbridos, com o etanol. Um ciclo de exploração de petróleo em águas profundas leva de 15 a 20 anos para recuperar o investimento. A Petrobras corre o risco de perder o bonde para o carro elétrico, sobretudo quando os chineses inundarem o mercado mundial, e o consumo de petróleo se reduzir.

 

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