O Globo
Paulo Gonet demorou, mas enfim denunciou Jair
Bolsonaro ao Supremo. O capitão foi acusado de articular um golpe de Estado em
causa própria. Segundo o procurador-geral, ele transformou o governo numa
organização criminosa para tentar se manter no poder sem votos.
As conclusões do Ministério Público não são novas. Já estavam no relatório em que a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e seus asseclas, em novembro passado. Isso não tira a relevância histórica da denúncia. No momento em que o país celebra 40 anos de democracia, um ex-presidente deve se enviado ao banco dos réus por conspirar contra a Constituição e impor uma nova ditadura.
A expectativa no Supremo é de que o
julgamento ocorra até o fim do segundo semestre. Neste caso, o ano eleitoral de
2026 poderá começar com Bolsonaro na cadeia, o que muda a dinâmica da sucessão
presidencial.
O capitão já estava inelegível, mas
continuava a se apresentar como o único candidato viável da direita. Seus
aliados tramavam uma manobra para sepultar a Lei da Ficha Limpa, o que abriria
caminho para recolocá-lo no páreo. As chances de a operação dar certo eram
remotas, mas o ex-presidente poderia se manter em evidência até indicar o
substituto. Preso, ele terá dificuldade para impor suas vontades a todo o campo
antipetista.
Até aqui, o governador Ronaldo Caiado foi o
único a confessar o desejo de concorrer com ou sem apoio do capitão. Agora
outros aspirantes ao Planalto devem se sentir à vontade para pleitear a
candidatura. Isso inclui o governador Tarcísio de Freitas, que desponta como o
favorito do establishment para enfrentar Lula nas urnas.
Com a popularidade em queda, o presidente
amargava o pior momento desde que voltou ao poder. Agora tende a ganhar um
refresco com a nova carga contra Bolsonaro.
Ontem o capitão tentou fazer pouco caso da
situação. “Eu não tenho nenhuma preocupação com as acusações. Zero”, desdenhou.
Apesar do esforço para encenar tranquilidade, ele sabe que acaba de ficar mais
longe das urnas — e mais perto do xadrez.
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