quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Bolsonaro mais perto do xadrez - Bernardo Mello Franco

O Globo

Paulo Gonet demorou, mas enfim denunciou Jair Bolsonaro ao Supremo. O capitão foi acusado de articular um golpe de Estado em causa própria. Segundo o procurador-geral, ele transformou o governo numa organização criminosa para tentar se manter no poder sem votos.

As conclusões do Ministério Público não são novas. Já estavam no relatório em que a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e seus asseclas, em novembro passado. Isso não tira a relevância histórica da denúncia. No momento em que o país celebra 40 anos de democracia, um ex-presidente deve se enviado ao banco dos réus por conspirar contra a Constituição e impor uma nova ditadura.

A expectativa no Supremo é de que o julgamento ocorra até o fim do segundo semestre. Neste caso, o ano eleitoral de 2026 poderá começar com Bolsonaro na cadeia, o que muda a dinâmica da sucessão presidencial.

O capitão já estava inelegível, mas continuava a se apresentar como o único candidato viável da direita. Seus aliados tramavam uma manobra para sepultar a Lei da Ficha Limpa, o que abriria caminho para recolocá-lo no páreo. As chances de a operação dar certo eram remotas, mas o ex-presidente poderia se manter em evidência até indicar o substituto. Preso, ele terá dificuldade para impor suas vontades a todo o campo antipetista.

Até aqui, o governador Ronaldo Caiado foi o único a confessar o desejo de concorrer com ou sem apoio do capitão. Agora outros aspirantes ao Planalto devem se sentir à vontade para pleitear a candidatura. Isso inclui o governador Tarcísio de Freitas, que desponta como o favorito do establishment para enfrentar Lula nas urnas.

Com a popularidade em queda, o presidente amargava o pior momento desde que voltou ao poder. Agora tende a ganhar um refresco com a nova carga contra Bolsonaro.

Ontem o capitão tentou fazer pouco caso da situação. “Eu não tenho nenhuma preocupação com as acusações. Zero”, desdenhou. Apesar do esforço para encenar tranquilidade, ele sabe que acaba de ficar mais longe das urnas — e mais perto do xadrez.

 

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