O Globo
A cena veio à tona ontem,
dois dias depois da denúncia contra Jair Bolsonaro e seus comparsas. Em
depoimento ao Supremo, o tenente-coronel Mauro Cid se desesperou e chorou.
“Parece que a imprensa não me larga. Parece que qualquer coisinha minha eles
querem vazar”, lamuriou-se.
O militar reclamava da revelação, pela revista Veja, de áudio em que investia contra os investigadores e o ministro Alexandre de Moraes. “Não sou só eu que estou sofrendo com isso. É eu (sic) e toda a minha família”, queixou-se. Ele tentou reduzir seus ataques à Justiça a um “desabafo num momento ruim”. “É um desserviço que essa porcaria da imprensa faz”, protestou.
Esse não foi o único choro
de Cid. Em outra sequência de imagens liberada pelo Supremo, o oficial aparece
atônito, leva as mãos à cabeça e se debulha em lágrimas ao saber que seria
preso novamente. Ele desmaiou em seguida, mas a gravação já havia sido encerrada.
Treinado nas Forças
Especiais do Exército, o militar foi preparado para saltar de paraquedas,
enfrentar terroristas e combater na selva. É espantoso que não tenha conseguido
se controlar num ambiente refrigerado, onde foi tratado com respeito e contou
com a presença de seu advogado.
Durante quatro anos, Cid foi
a sombra de Bolsonaro. Não desgrudou do presidente nem nas motociatas da
campanha à reeleição. A simbiose transformou o militar num Forrest Gump de
escândalos. Ele já confessou ter participado de múltiplos crimes, incluindo o
contrabando de joias, a falsificação de certificados de vacina e o complô para
solapar a democracia.
Além disso tudo, Cid
confidenciou que também atuou como dublê de psicólogo. Quando o capitão se
sentia abalado, ele deixava a família em casa para dormir no Palácio da
Alvorada.
Com tanta intimidade, o kid
preto não foi capaz de prever que seria abandonado quando delatasse o chefe. “O
presidente Bolsonaro ganhou Pix, aquele negócio todo”, disse. “No meu caso,
não. Eu perdi tudo. Estou vendo minha carreira desabar”, choramingou.
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