Correio Braziliense
Foram as declarações mais duras do petista, até agora, sobre a denúncia do Ministério Público Federal (PGR) contra seu principal adversário político
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista exclusiva ao programa do
Clóvis Monteiro, na Super Rádio Tupi, na manhã de ontem, disse que o
ex-presidente Jair Bolsonaro se comporta como quem é culpado pela tentativa de
golpe de 8 de janeiro de 2023, ao defender a própria anistia.
"Olha, se o cidadão está sendo acusado, não pode ficar pedindo perdão antes de ser julgado. Tem que, primeiro, provar que é inocente. Quando esse presidente fica pedindo anistia, está provando que é culpado. Está provando que cometeu um crime. Deveria estar falando: 'Vou provar minha inocência'", afirmou.
Durante a entrevista, da qual também participaram Sidney Rezende e Isabele Benito, âncoras de programas da emissora dos Diários Associados, campeã de audiência no Rio de Janeiro, Lula falou que Bolsonaro deve ser preso se for comprovada a culpa.
"Se for provada a denúncia feita
pelo procurador-geral
(Paulo Gonet) da tentativa de golpe, da participação do ex-presidente
e do escalão de primeiro grau dele, o primeiro escalão dele, na tentativa de
morte de um ministro da Suprema Corte Eleitoral, na tentativa de assassinato de
um presidente da República e do vice-presidente, é uma coisa extremamente
grave. Tenho certeza de que, se for provado, ele só tem uma saída: ser
preso", disse.
Foram as declarações mais duras de Lula até
agora sobre a denúncia do Ministério Público Federal (PGR) contra Bolsonaro.
Revelam uma mudança de tom em relação à tentativa de golpe de 8 de janeiro e ao
seu principal adversário político.
Segundo o petista, quando defende a anistia,
Bolsonaro está dizendo: "Gente, eu sou culpado. Eu tentei bolar um plano
para matar o Lula, tentei bolar um plano para matar o (Geraldo) Alckmin, tentei
bolar um plano para matar o Alexandre Moraes. Não deu certo porque tive uma
diarreia no dia, fiquei com medo. Tive que voar para os Estados Unidos
antecipadamente para não ficar com vergonha de dar posse para meu adversário.
Então, por favor, me perdoem antes de eu ser condenado", completou.
Lula vinha sendo cauteloso em relação às
acusações contra Bolsonaro, ancorando suas declarações na defesa dos princípios
do devido processo legal, da presunção de inocência e do amplo direito de
defesa. Mas, agora, aposta na polarização e na radicalização políticas.
Demonstrou irritação com o comportamento de Bolsonaro, que mobiliza seus
aliados e articula apoio a um projeto de anistia que foi apresentado na Câmara
por seus segudiores.
Também passou recibo ao comentar as
declarações de Bolsonaro por ocasião da posse do novo presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump. "Ele age como se fosse o dono. 'Ah, se não puder
fazer uma coisa, vai ser minha mulher que vai fazer. Se não puder fazer meu
filho, se não puder fazer meu neto'. Fala como se fosse uma monarquia, como se
fosse uma coisa hierárquica que não só quer para ele, mas quer uma questão
hereditária", acusou Lula. "Quer uma questão de a família governar
esse país. Olha, ele tem que se mancar. Isso aqui é uma república democrática,
aqui tem eleição", arrematou.
Estratégia eleitoral
Acontece que a denúncia trouxe Bolsonaro de
volta ao centro do noticiário político. Sua liderança estava sendo esvaziada
para que surgisse um candidato de centro competitivo contra Lula, afastando a
possibilidade de um membro da família Bolsonaro ser o principal candidato de
oposição.
Denunciado ao lado de 33 aliados por compor
uma organização criminosa com o objetivo de anular o resultado do pleito e
impedir a posse de Lula, Bolsonaro partiu para a ofensiva, numa reação
desafiadora em relação à Justiça: "Caguei para prisão", disse,
durante o I Seminário Nacional de Comunicação do PL, um evento voltado para a
capacitação da base na comunicação digital, que reuniu deputados, senadores e
vereadores do partido, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
Ao reforçar a narrativa de que está sendo
vítima de perseguição, Bolsonaro dá ressonância na sociedade à iniciativa de
seus advogados no terreno jurídico. Segundo o ex-presidente, as investigações e
a denúncia têm por objetivo afastá-lo da disputa de 2026. Na verdade, ele está
inelegível por ter cometido crime eleitoral, não em razão das investigações em
curso. Entretanto, sustenta que é candidato e, com isso, inibe o surgimento de
candidaturas mais competitivas no campo da oposição, como seria a do governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
"O PL tem três planos: plano A, plano B
e plano C. E em todos eles é o Bolsonaro", disse o deputado federal
Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara.
Ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), divulgou os vídeos da delação premiada do
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Transcrições
tinham sido tornadas públicas na quarta-feira, mas mídias eram mantidas em
sigilo. Os depoimentos foram colhidos no ano passado pela Polícia Federal (PF).
Em um dos vídeos divulgados, Moraes dá uma
bronca em Cid. A defesa de Bolsonaro pretende usar os vídeos para desqualificar
a delação do militar, com o argumento de que foi obtida sob pressão do
ministro.
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