sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Caminho para Bolsonaro é estreito - Vera Magalhães

O Globo

Nos fronts jurídico e político, opções para o ex-presidente são parcas, e velocidade do processo tende a reduzi-las ainda mais

A apresentação da denúncia contundente de Paulo Gonet contra Jair Bolsonaro e os atos subsequentes de Alexandre de Moraes evidenciam que o caminho para o ex-presidente se contrapor a uma maré de más notícias judiciais e políticas se estreitou muito, e rápido. Digamos que Bolsonaro atrapalha muito qualquer estratégia de defesa por falar demais e sempre antecipar os próximos lances.

A óbvia manobra de seus advogados de tentar ganhar mais tempo na largada, pedindo mais prazo para a defesa, já nasceu fadada ao fracasso quando, um dia após o outro, Moraes levantou o sigilo da delação premiada de Mauro Cid e divulgou sua transcrição, com o bônus de áudios e vídeos para deleite da audiência da imprensa e das redes sociais. Depois, diante da própria decisão, negou os dilatados 83 dias pedidos pelos advogados de Bolsonaro, por desnecessários.

Todos os fatores colaboram para que esse rito acelerado se repita nos próximos lances depois da apresentação da peça de Gonet. A Primeira Turma deve analisar a denúncia ainda neste semestre, e uma simples leitura da escalação do colegiado permite cravar o resultado: Bolsonaro e os demais 33 denunciados se tornarão réus por tentativa de golpe de Estado e colaboração para a depredação do patrimônio histórico.

Mesmo a tentativa de levar o julgamento ao plenário do Supremo, que pode contar com pedido de algum dos ministros nomeados por Bolsonaro para o presidente Luís Roberto Barroso, além dos óbvios recursos da defesa dos denunciados, tem pouca chance de produzir resultado diferente — tanto no recebimento da denúncia quanto no próprio julgamento.

A dissidência possível se circunscreve justamente a André Mendonça e Kássio Nunes Marques. Além dos dois, apenas Luiz Fux é visto como alguém capaz de divergir quanto a um ou outro nome, uma ou outra imputação. Outro fator que joga contra a estratégia da defesa de Bolsonaro e dos demais são justamente os vários julgamentos, com condenações, dos perpetradores dos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Além de traçar um nexo temporal e causal entre a tentativa de golpe, cujo marco inicial determina ter sido junho de 2021, Gonet usa os julgamentos do 8 de Janeiro como jurisprudência justamente para caracterizar o que é tentativa de golpe. Portanto os ministros serão instados a julgar crimes que vêm analisando seguidamente nos últimos dois anos, e sempre na mesma direção.

Ninguém com quem se converse a respeito das chances de sucesso de Bolsonaro no front judicial acredita que haverá êxito na investida para anular a delação de Mauro Cid. Mesmo diante da atual tendência do próprio Supremo de anular toda e qualquer delação da Lava-Jato, como visto mais recentemente com a de Antonio Palocci.

O advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, crítico histórico do instituto da colaboração da forma como tem sido usado no Brasil, apontou, não sem razão, a contradição desses movimentos e o silêncio de parte da advocacia criminal. Mas pau que deu em Chico não baterá em Francisco desta vez.

Também na seara legislativa as coisas não devem ser fáceis para o capitão reformado. Por mais que seus aliados façam coro por anistia ou mudança na Lei da Ficha Limpa, todos os caminhos para esses projetos — ainda que passassem pela barreira que Davi Alcolumbre anunciou que erguerá no Senado — levam ao… Judiciário.

Nem os bolsonaristas mais ferrenhos acreditam na cantilena, que ele segue repetindo, de que poderá ser candidato em 2026. Há quem acredite que as prováveis condenações penais ainda possam alongar o prazo que ele ficará fora do jogo eleitoral. Assim, o cacife para manter a direita unida vai se esvair aos poucos, à medida que os processos avançarem. E, como se vê, será num ritmo razoavelmente acelerado.

 

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