sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Redes sociais e a denúncia contra Bolsonaro - César Felício

Valor Econômico

Fato quebrou sequência de narrativas favoráveis ao ex-presidente

Três empresas de monitoramento de redes sociais foram a campo entre terça e quarta-feira e chegaram à mesma conclusão. A denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por golpismo, apresentada pela Procuradoria-Geral da República, representou uma tomada de fôlego para a esquerda.

O ex-presidente e seus aliados até o início dessa semana estavam com várias operações em curso que geram engajamento massivo nas redes sociais. Pesquisas mostraram não só a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a dianteira de Bolsonaro em simulações sobre 2026. A ação do presidente americano Donald Trump contra a agência governamental Usaid mobiliza a extrema-direita no Brasil e em todo mundo. As convocatórias para manifestações públicas em 15 de março estão crescendo. O ovo está caro e a direita tenta convencer a opinião pública que a culpa é do governo.

No meio dessa saraivada de balas da direita, surge a denúncia da PGR que torna a prisão de Bolsonaro ainda este ano bastante palpável, com acusações gravíssimas. Os defensores do ex-presidente em um primeiro momento se encolheram.

Um dos sinais evidentes nesse sentido foi detectado pela Nexus.

Usando ferramentas de “social listening”, a empresa pinçou de forma aleatória as 402 postagens sobre o tema que geraram mais engajamentos nas plataformas X, Instagram e Facebook. Dessas, 54% são neutras, ou seja, foram veiculadas pela mídia. Dos 46% opinativas, somente 17% foram manifestações contrárias à denúncia de Bolsonaro e 29% favoráveis. Isolando apenas as expressões de opinião, foram 63% pró-denúncia e 37% contra. O levantamento da Nexus foi da meia-noite da terça-feira até às 15 horas da quarta. A denúncia do procurador Paulo Gonet tornou-se pública por volta das 20h30 da terça.

A Datatora, ferramenta usada pela empresa de monitoramento Torabit, faz um raio X das postagens feitas por deputados federais.

Além das três plataformas já citadas, também foi incluída a Bluesky. Foram 808 postagens que geraram 2,2 milhões de interações. Nada menos que 82% das publicações foram feitas por deputados favoráveis à denúncia. Os 18% contrários à denúncia conseguem gerar engajamento médio maior, mas ficaram com 39% do total de interações, ante 61% da ala pró-PGR.

A atividade febril de deputados governistas foi medida pelo levantamento. O ex-ministro de Comunicação Social Paulo Pimenta (PT-RS) fez 25 postagens nas 48 horas do levantamento da Torabit, nos dias 18 e 19.

Contra a denúncia quem mais se destacou em quantidade foi Evair Melo (PP-ES), com oito publicações. Quem teve mais engajamento nesse campo foi Mario Frias (PL-SP), que fez nesse período seis postagens.

O levantamento “Autoridades Brasil”, do Ibpad, monitora postagens de detentores de mandatos eletivos e dirigentes partidários. Entre os dias 18 e 19 foram detectadas manifestações de 333 autoridades, sendo 52% delas da esquerda.

As publicações com maior engajamento contra a denúncia foram feitas pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e pelo ex-deputado Deltan Dallagnol (Novo-PR). Os deputados federais Guilherme Boulos (Psol-SP) e Lindbergh Farias (PT-RJ) tiveram mais interações pela esquerda.

A reação do campo bolsonarista começou de fato na quinta-feira, período não monitorado pelas empresas, com a tentativa de desconstruir a delação do coronel Mauro Cid e a isenção processual do relator do caso, o ministro do STF Alexandre Moraes. O argumento central é que Moraes teria coagido Cid a alterar o seu depoimento inicial, ameaçando retomar os processos contra familiares do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Uma enxurrada de bolsonaristas mimetizou em 2025 a mesma argumentação que petistas usaram entre 2016 e 2018. Naquele tempo os mesmos que festejam a denúncia contra Bolsonaro acusaram a força-tarefa da Operação Lava-Jato e o então juiz Sergio Moro de induzirem as delações submetendo os réus a uma pressão psicológica gigantesca. Defensores incondicionais do lava-jatismo hoje veem exorbitâncias de Moraes na condução do caso contra o ex-presidente, mas não pensavam assim quando Moro sentenciava Lula. Querem a intervenção de cortes estrangeiras no processo brasileiro, assim como a defesa de Lula no passado procurou acionar até a ONU. Tudo muito similar no “modus operandi” das partes envolvidas. Resta saber se o efeito final será o mesmo.

 

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