quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A via sindical para o poder :: Leôncio Martins Rodrigues

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Eu sou torneiro mecânico e é a única coisa que eu sei fazer... Não tenho pretensões políticas; não sou filiado a partido político e tenho certeza de que jamais participaria da vida política porque eu não sirvo para político." Essas frases são de Lula e foram pronunciadas numa entrevista ao Programa Vox Populi, da TV Cultura, de maio de 1978, quando era ainda presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. O presidente estava sendo modesto na avaliação de sua capacidade para a política. Para a sorte de alguns e azar de outros, não voltou para a fábrica nem para o sindicato.

A trajetória de Lula não é incomum na história do sindicalismo mundial. Quando os sindicatos eram frágeis e frequentemente clandestinos, a atividade sindical era mais uma missão do que uma profissão, missão que poderia dar cadeia e perda do emprego. Mas, na maioria dos países capitalistas, os sindicatos transformaram-se em poderosas, ricas e complexas organizações de massa. Como uma das mais bem-sucedidas instituições das sociedades capitalistas, transformaram-se numa via de ascensão social e econômica e, em alguns casos, de ascensão política para seus dirigentes.

No Brasil, antes de Lula, outros sindicalistas haviam tentado entrar para a classe política. A maioria o fazia pela via do PTB ou do PCB, portanto, de um modo subordinado às chefias partidárias. O caso do PT inverteu o processo: foram os sindicalistas que criaram o partido. Apesar da presença de outros segmentos sociais que ajudaram a viabilizar o PT - como a ala progressista da Igreja Católica e da intelligentsia de esquerda -, os sindicalistas constituíram sempre a facção dominante do partido. Controlavam a Articulação, considerada de direita pela esquerda petista. Dessa facção, à qual Lula pertencia, saíram os principais dirigentes do PT para as diferentes instâncias da estrutura de poder: Presidência da República, Ministérios, governadores, prefeitos e os vários níveis do Poder Legislativo.

Tomemos como exemplo a Câmara dos Deputados. Refletindo o fortalecimento do sindicalismo e dos partidos de esquerda, a bancada sindical cresceu. Na legislatura de 1991-1995 (pelos dados do Diap) havia 25 ex-diretores de sindicatos no Congresso. Na legislatura seguinte, o número foi para 36. Passou em seguida para 44. Na legislatura que resultou da eleição de 2002 (primeira eleição de Lula) chegou a 74. Para o Senado da República, cinco sindicalistas foram eleitos, todos do PT. Pode-se, de outro ângulo, perceber a forte vinculação do PT e do PCdoB com a estrutura sindical no fato de metade dos deputados desses dois partidos ter sido de diretores de sindicatos (53.ª legislatura, 2007-2010).

Mas na eleição de 2006, contrariando a tendência até então observada, nenhum sindicalista foi eleito para o Senado. Para a Câmara o número caiu para 56: 41 eram do PT, seis do PCdoB e três do PDT. Os demais dividiram-se entre PPS, PV (dois cada), PMDB e PSB (um cada). Um dos fatores que explicam esse declínio da bancada sindical foi a queda da votação no PT. Na eleição anterior, 91 petistas tinham sido eleitos. O PT transformara-se no maior partido da Câmara. Contudo, na legislatura seguinte, o PMDB, com 89 deputados, ultrapassou o PT, que ficou com 83. Uma vez que o PMDB está longe de ser um partido de sindicalistas, seu crescimento, acompanhado do pequeno declínio do PT, provavelmente foi uma das razões da diminuição da bancada sindical.

A manutenção da estrutura corporativa, juntamente com o fim dos controles antes exercidos pelo Ministério do Trabalho, transformou a instituição sindical numa via de entrada "por cima" na classe política. Na 53.ª legislatura (eleição de 2006), quase a metade dos parlamentares do PT e do PCdoB que foram diretores sindicais começou a carreira política elegendo-se diretamente para a Câmara. Apenas cerca de um terço teve uma trajetória mais sofrida, começando pela vereança.

Em princípio, a considerar a denominação oficial dos sindicatos brasileiros, além de representantes do povo, todos os ex-sindicalistas seriam representantes dos "trabalhadores". O termo comumente leva a pensar no operário manual. Na década de 1960, a figura que mais comumente o representava era o João Ferrador, que trazia estampada em sua camisa a frase ameaçadora: "Hoje eu não tô bom."

Mas a composição social das classes assalariadas mudou. E também a do sindicalismo. Os sindicatos em que predominavam trabalhadores manuais do setor privado perderam força. Os sindicalistas na Câmara são em sua ampla maioria de classe média, não manuais, do setor público, em que se destacam professores e bancários. Quase 70% dos membros da bancada sindicalista têm curso superior completo.

Não seria possível analisar mais detidamente a influência desse "fator sindical" na política brasileira, mas avancemos sumariamente duas observações. De um lado, ele aumenta o peso político dos segmentos assalariados das classes médias sindicalizáveis, que no momento, em aliança com o PT, empreendem a colonização do aparelho de Estado. Pode, desse ângulo, ser entendido como um fator de democratização social relacionado a uma mudança na elite política e social e na popularização da classe dos políticos profissionais. De outro lado, uma vez que os ex-sindicalistas vêm das estruturas corporativas, num movimento de retroação, a bancada sindical tende a reforçar o peso das instituições, dos interesses e valores corporativos na sociedade brasileira. Ao fim e ao cabo, se todos os demais fatores permanecerem iguais, o fator sindical tende a enfraquecer a democracia representativa, que sempre convive mal com a política de massas e os impulsos populistas que nela despontam.

Ex-professor titular dos Departamentos de Ciência Política da USP e da UNICAMP, é autor de "Destino do sindicalismo"

O tom do recado:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A pergunta feita a um empresário, numa conversa com várias pessoas, foi: "É verdade que emissários do PT telefonam para empresas avisando que sabem quem não está fazendo doações para a campanha?" O empresário respondeu: "Para mim, telefonaram e foram pessoalmente dizer que notaram que eu não tinha feito doação na última eleição nem tinha feito ainda nesta."

Eu ouvi essa conversa estarrecedora. Esse tipo de encaminhamento do pedido de doação, se estiver generalizado, é uma forma de ameaça. A frase: "Notamos que você não fez doação na última eleição e ainda não fez nesta" pode ser entendida pelo que está embutido: estamos de olho em você.

O Estado, hoje, é quem concede a maioria do crédito; o BNDES aumentou de forma extravagante suas concessões de empréstimo subsidiado e a arbitrariedade de suas escolhas dos "campeões", que o faz negar créditos a alguns e conceder em excesso a outros que, na visão do banco, estão mais aptos a vencer a competição global. A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida e morte sobre as empresas; de outro, emissários do partido do governo com uma ameaça embutida na formulação do pedido.

Hoje, um dos grandes riscos que a sociedade brasileira corre é exatamente esse poder excessivo do Estado, controlado como donataria pelo partido do governo. O Estado é o grande comprador, o grande financiador, o grande sócio em qualquer empreendimento. Como ficar contra ele? Por outro lado: ficando a favor dele, que grandes vantagens se pode ter! Os empresários só falam mal do governo se seus nomes não aparecerem; todos eles estão sendo beneficiados por alguma grande obra, algum grande contrato, alguma licença; ou sonham ser beneficiados no futuro. Um dos maiores empresários do país foi chamado para uma conversa cheia de ameaças indiretas por ele ter feito declarações contra uma das polêmicas obras que promete ser sorvedouro de dinheiro público.

O governo cooptou movimentos sociais, sindicalistas, parte do movimento cultural, através da distribuição de benesses, patrocínios, contratos e financiamentos. Mas a cooptação dos empresários é mais direta. Algumas empresas não têm capacidade alguma de bancar os empréstimos que recebem, ou outras são viabilizadas por aderirem aos grandes projetos em que todo o risco é público.

Nas sombras de um Estado gigante, tudo viceja, como os intermediários de negócios, mesmo que eles não tenham delegação para entregar o que prometem. Com um Estado todo poderoso, qualquer espertalhão pode dizer que é a ligação direta com quem decide e pedir uma comissão para isso. Mesmo que não houvesse casos de corrupção, comprovadamente ligados ao governo, ainda assim, seria o ambiente certo para a propagação dos casos nebulosos de pedidos de propina.

A redução do tamanho do Estado faz esse favor ao país: diminui os guichês nos quais se oferecem favores com dinheiro público e se pedem em troca comissões para enriquecimento pessoal ou para o partido que está no poder. A privatização tirou do Estado um sem número de cargos de distribuição política em empresas siderúrgicas, concessionárias de serviços de energia e de telefonia. As empresas que o país decidiu manter estatais deveriam ser isoladas das pressões políticas e concederem mais acesso às suas contas e aos critérios de decisão. Essa seria uma forma de reduzir o risco que o contribuinte e o consumidor dos serviços correm hoje com problemas como os dos Correios. Já houve tantos casos nebulosos nos Correios no governo Lula - dos indicados do ex-aliado Roberto Jefferson até os indicados da ex-primeira-amiga Erenice Guerra - que não resta dúvida a esta altura: a melhor forma de produzir um colapso postal no país é continuar entregando os cargos de direção da estatal na mão dos políticos e seus afilhados e evitar a administração profissional da empresa. É um espanto que se consiga em tão pouco tempo provocar tanto extravio numa empresa centenária e que sempre teve reputação de eficiência.

Há quem considere que a melhor forma de evitar constrangimentos como o vivido pelo empresário que cito no começo dessa coluna é o financiamento público exclusivo de campanha. Como ser ingênuo a ponto de achar que, se o Estado der ainda mais dinheiro para os partidos, os que estão hoje viciados em caixa dois fecharão o balcão de pedidos impróprios aos empresários? O que ajuda a resolver o problema é, como tenho escrito aqui, a trindade: punição, fiscalização, transparência.

Nada é panaceia contra a corrupção, mas há formas de reduzi-la e outras de aumentá-la. O gigantismo do Estado é o caminho mais curto para aumentar a corrupção. Quando ele se torna o parceiro inevitável em qualquer negócio, tudo pode acontecer. Quando seu poder é usado para amedrontar as empresas, qualquer doação para campanhas políticas pode ser extorquida. E o que houve nos últimos anos no Brasil foi o crescimento descomunal do Estado, primeiro, à sombra do Plano de Aceleração do Crescimento e, depois, sob o pretexto de que era preciso evitar a crise econômica mundial. Conter esse gigantismo é fundamental hoje, não apenas por razões econômicas, mas para melhorar a qualidade da democracia brasileira.

Programa eleitoral na TV é ficção:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Se há marca do primeiro turno, foi a ausência da política

Por mais que se procure nos discursos, nos programas de governo, nas entrevistas, nas reuniões partidárias e nas exibições de televisão do horário eleitoral gratuito, desta campanha eleitoral que se encerra em primeiro turno esta semana, não se encontra a política. Foi uma campanha de pouca, ou nenhuma política.

Dos três principais candidatos a presidente foi José Serra (PSDB) quem mais cuidou de lançar ao seu eleitorado algumas ideias - começou em março - sobre o que vem pensando ser importante hoje, para o Brasil. Aí apareceram, antes de outros, considerações em torno de uma política sobre uso drogas e atenção a deficientes físicos, uma reflexão mais abrangente sobre a segurança pública, indicações de programas específicos para melhorar a qualidade dos serviços públicos no país, da educação à saúde, alguns dos flagelos nacionais que persistem. Entre outros.

Foi o primeiro a propor - lá naqueles idos - e insistir, até para viabilizar sua candidatura, que a campanha se desse em torno da discussão de propostas e soluções. Queria que o eleitor comparasse a qualificação dos candidatos. Não encontrou eco, e recuou quando a campanha entrou na sua fase formal.

A candidata Marina Silva (PV) quis tanto fugir das críticas sobre o fato de ser monotemática que fez sumir de seu discurso as questões de fundo relacionadas ao ambiente. Repetir exaustivamente a palavra prioridade, tudo sendo prioritário, nada é, e a divulgar, ela sim, a única, um programa de governo completo e extenso com avalanches de prioridades, ao TSE. Quando mencionou uma preocupação específica, com o uso abusivo do crack no país, e o governo Lula lançou imediamente um programa nessa área, no afogadilho da campanha, recolheu suas ideias para evitar plágio.

A candidata favorita, em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff (PT), defendeu, em síntese, a continuidade. O governo Lula é bem avaliado, popular, e quer continuá-lo. Continuar o quê? Preferiu não entrar em detalhes certamente por ser óbvio que, como candidata do presidente, continuaria tudo que o eleitor aprova, mas não poderia anunciar descontinuidade do que pretende corrigir para não ser indelicada com seu criador.

Aí chegaram os programas de televisão no horário eleitoral gratuito e, neles, salpicados aqui e acolá, uma rede de creches, duas de ambulatórios, o aumento do percentual do PIB para uma área, ou outra. Relevância e credibilidade zero.

A política se esgotou nas preliminares, a formação das coligações. Que resultaram em definição do tempo de propaganda na televisão. Onde a política não apareceu.

Nesta campanha, se houve, ninguém percebeu uma discussão sobre o assunto mais momentoso do país, há dois anos na agenda, a nova proposta de exploração do petróleo. Ou se a capitalização da Petrobras deveria ter sido feita em um momento difícil como este, de campanha e a empresa perdendo parte do seu valor. Não se trata de não fazer, mas de discutir.

Onde se deu a discussão sobre o modelo de energia do país, que ainda submete o eleitorado a apagões sucessivos como nos últimos dez anos? E as medidas provisórias, que viraram instrumentos únicos de governo, distorcendo a relação entre os poderes? As reformas são assunto vetado em campanha eleitoral porque incomodam corporações, que têm e puxam voto, ficaram de bom grado ausentes.

O mesmo se dá com a criação de impostos, que oneram a classe média assalariada e nenhum candidato quer assumir sua intenção de recorrer a esta arrecadação fácil, subentendida na pseudo defesa de mais verbas para a saúde. Deixam o dilema na mão do eleitor. A corrupção política, um tema forte sempre presente até em sociedades mais desenvolvidas, foi agora atropelado pela interdição do debate, pela intimidação promovida por quem se sentiu mais atingido em suas perspectivas eleitorais.

Nem a internet, que ensaiou ser uma presença inovadora no início, principalmente pela repercussão em noticiários de meios de maior alcance, e poderia ser o veículo para a política, vingou até o fim. A campanha de primeiro turno, em 2010, foi o programa de TV, e, esse, tem sido ficção quase pura, até para ter alguma audiência.

Em seu livro "Emoções Ocultas - Estratégias Eleitorais", o sociólogo Antonio Lavareda havia previsto que neste, e nos próximos ciclos eleitorais, a televisão continuaria jogando as principais cartas. Hoje constata que no primeiro turno de 2010 foi mesmo absolutamente preponderante.

Mas acha que o bom senso dos envolvidos vai levar à mudança, numa reforma das normas de campanhas eleitorais, desses programas em bloco, por serem inócuos. "A audiência diminui sensivelmente quando entram na programação, são um transtorno para as pessoas, um estorvo para as campanhas porque constituem o principal item do seu orçamento e o menos útil". A audiência medida em pesquisas, diz Lavareda, anota as pessoas que estão com a TV ligada, sem prestar atenção, porque na verdade não chegam a 15% os que estão vendo, de verdade.

"Em grande medida essa audiência é composta de aficionados, assim como quem assiste jogo de futebol é torcedor de futebol. Não se conhece ninguém que tenha mudado de time assistindo o jogo de futebol pela TV". Em sua opinião, uma reforma simples das normas de campanha poderia fragmentar esses blocos, diluir a propaganda nos comerciais, que teriam ampliado o tempo de sua exibição, inclusive para durar todo o período de campanha legal, que começa em julho. Como os comerciais são mais frequentes, o registro de memória é maior. As campanhas seriam não só menos caras, mas mais úteis.

Profissionais que trabalham em campanha adversária à do ex-presidente Fernando Collor, em Alagoas, que disputa o governo, estão impressionados com o percentual de jovens entre seus seguidores. São pessoas que, em 1991, tinham acabado de nascer, e para quem, hoje, com o título de eleitor em mãos, um Fiat Alba é o carro da namorada. Collor, como fez quando candidato a presidente, trabalha orientado por pesquisas, e apostou nesta faixa etária. O Rap pontua toda a sua propaganda.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Marolinha vermelha:: Marco Antonio Villa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Campanha sem ideologia é o que sempre quis o governo; caso ocorra segundo turno, o artifício deverá ter vida curta

A soberba faz mal a política. A eleição não está decidida. A onda vermelha, parece, não passou de uma marolinha.

A avidez dos apoiadores, que já estavam dividindo os cargos do futuro governo, foi contida. A comemoração da vitória, antes do apito final do juiz, pode explicar a violência dos ataques à liberdade de imprensa e à oposição em geral.

É importante para o país uma discussão de programas e propostas. Até o momento, a campanha ficou resumida ao protagonismo de Lula e às graves denúncias envolvendo ministros e aliados do governo. É preciso muito mais que isso.

Os debates entre os presidenciáveis foram inúteis. Viraram monólogos. O enfrentamento democrático entre candidatos acabou se transformando numa repetição enfadonha de promessas, recheadas de números, sem sentido algum.

Ninguém aguenta mais debates que não são debates, onde as grandes questões nacionais são ignoradas. Até os ataques aos adversários são mal elaborados. O cronômetro, indicando que o tempo para a resposta do candidato está terminando, é o melhor aliado do telespectador.

O desinteresse popular é evidente. A ausência de política empobreceu a eleição. A repetição das velhas fórmulas esgotou a paciência do eleitor.

A falsa euforia do corpo a corpo nas ruas, que serve simplesmente para obter imagens para a TV, é a melhor representação de uma campanha pobre de ideias e recheada de marketing vazio.

Para a estratégia do governo é essencial despolitizar a eleição. Transforma-la em um plebiscito. As diferenças políticas devem ser diluídas.

Daí que não causa estranheza a aliança oficial combinar o apoio do empresariado, com os beneficiados pelos programas assistencialistas e os dirigentes sindicais amarelos.

Nesse coquetel infernal deve ser acrescentado o apoio dos oligarcas estaduais. Barbalho, Sarney, Calheiros e Collor servem para obter votos nos burgos podres. Mas é o típico apoio envergonhado: nos grandes centros seriam hostilizados.

Uma campanha sem ideologia sempre foi o desejo do governo. Até este momento conseguiu o seu intento. Caso ocorra um segundo turno, o artifício deverá ter vida curta.

A polarização, com a apresentação de dois projetos para o país, é tudo o que Lula não quer. Os candidatos terão tempos iguais na televisão. E nos debates o confronto será inevitável.

A oposição vai ter um teste de fogo. Terá de apresentar um programa de governo. Mostrar unidade e combatividade. E realizar algo que tinha esquecido nos últimos tempos: fazer política.


Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Últimas semanas:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Ao fim de uma semana em que os fatos prevaleceram sobre as versões oficiais e ameaçaram deixá-lo em posição insustentável diante do escândalo na edícola em que se transformou sua Casa Civil, o presidente Lula, enfim, se deu conta da conveniência de melhorar a situação criada com os jornais. Não demora, a contagem regressiva estará nos seus calcanhares. Dispõe de três meses para fazer as malas e desfazer situações que não pode deixar como estão. Não quer, ao por os pés fora do governo, que o tempo possa piorar e ele tenha esquecido o guarda-chuva em casa.

No dia seguinte à passagem do poder a outras mãos, o presidente não escapará de experimentar a sensação desagradável de que a famosa roda da história passou a girar ao contrário. Nem sentir o chão fugir-lhe aos pés antes de fazer uma revisão geral da engrenagem que o levou ao poder sem lhe garantir o terceiro mandato. As incógnitas pela frente precisam ser resolvidas.

O primeiro tranco, dado pelo mensalão na Casa Civil, não foi assimilado em toda a extensão. Pela mão de denúncias terceirizadas, o presidente precisou de novo vir a público, no segundo mandato, para se declarar, uma semana depois, enganado pela ex-ministra Erenice Guerra. Já deve ter percebido que perdeu uma das melhores oportunidades de ficar calado quando disse cobras e lagartos dos jornais, sem considerar a precedência histórica do jornalismo, que já existia muito antes dos jornais. Põe tempo na distância. Jornais não existem para louvar governos e muito menos para poupá-los. A prova é que o próprio PT não quis se valer de jornais petistas para servir aos governos com que operou. O cemitério de jornais não tem espaço para mais nenhum periódico que venha a morrer de governismo anacrônico. A Ultima Hora inovou no jeito de servir ao governo de Getúlio Vargas, que foi seu padrinho: Samuel Weiner criou o modelo de expor os ministros e distanciar de fatos desabonadores o presidente. Nem assim. O jornalismo oficial não tinha vacina para imunizá-lo contra o vírus da notícia a favor. Entende-se perfeitamente a razão pela qual, não tendo disposição de investir em jornal próprio, o PT tente cercear a liberdade de informação e as demais dela decorrentes. Freud sempre explica.

Na Casa Civil, na opinião presidencial, “se alguém acha que (...) pode se servir, cai do cavalo”. Evidente que Lula estava falando em tese, pois ali ainda não existem cocheiras, cavalos ou cavaleiros. Quem trabalha com ele sabe que “a pessoa pode me enganar um dia, mas não engana todo mundo todo dia”. Ele pode. Mas omitiu o autor da frase e não citou o pensamento completo do presidente Lincoln, que não quis enganar ninguém nem depois de morto.

Mas o que importa mesmo, além da exportação, é que Lula fala cada vez mais: “Não foi a oposição que derrubou Erenice, mas os indícios de que ela tinha errado no cargo”. Aquele “ela tinha” deixou mal tanto um quanto a outra. A oposição acabou bem. O presidente estava certo quando ressalvou que não foi a oposição que passou o pente fino na Casa Civil, mas injusto com os jornais, por não reconhecer, nas denúncias, contribuição dos empresários à moralidade pública. Aquela pequena história do rapaz que, no segundo dia de trabalho, encontrou sobre a mesa um pacote com 200 mil reais e cometeu a imprudência de perguntar a razão do presente adiantado, é das arábias.

E, insatisfeito com o que diz, Lula propôs outra obrigação ao jornalismo: “os meios de comunicação devem anunciar seus candidatos e partidos”. Alguém por perto poderia tê-lo prevenido de que a maneira indireta e elegante por parte dos jornais é, tanto quanto possível, repartir com equidade o espaço do noticiário de campanhas eleitorais. A preferência fica implícita. Alguns já adotam o modelo dos grandes jornais internacionais e, na véspera da eleição, comunicam em editorial as razões pelas quais recomendam um dos candidatos. Em respeito aos eleitores, o Jornal do Brasil adotou (e se deu bem ) o método de apresentar as razões de contribuir para atender à diversidade de opiniões em proveito da democracia.

Vanessa da Mata -- Ilegais

Estratégia de Serra precisará mudar, diz Aécio

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Para Aécio Neves, a campanha de José Serra (PSDB) precisará de um "freio de arrumação" se ele passar ao segundo turno. O ex-governador de Minas defende maior participação de líderes regionais e adoção de propostas do PV.

Serra precisa mudar no 2º turno, diz Aécio

Favorito ao Senado, ex-governador mineiro afirma que PSDB deve incorporar propostas do PV para atrair Marina

Tucano afirma que, num eventual segundo turno, a campanha do PSDB terá de ouvir mais as lideranças regionais

Fernando Rodrigues
Enviado especial a Belo Horizonte (MG)

"Vou colocar um blaser", diz Aécio Neves, 50, antes de falar ao UOL e à Folha ontem em seu apartamento em Belo Horizonte. De calça jeans, ele transmite tranquilidade. Está com 67% de intenção de votos para o Senado. Seu candidato ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), lidera as pesquisas.

Animado com o Datafolha indicando possibilidade de haver segundo turno na disputa presidencial, ele sentencia sobre o que fazer após 3 de outubro na campanha de José Serra: "Teremos de dar um freio de arrumação".

Como assim? Para Aécio, é preciso usar mais líderes regionais na campanha -como o paulista Geraldo Alckmin e o mineiro Anastasia. Num segundo turno entre Serra e Dilma Rousseff (PT), Aécio julga essencial atrair o apoio de Marina Silva: "Não é apenas o apoio formal da candidata. É o PSDB se aproximar e incorporar algumas propostas do PV". Leia trechos da entrevista, cujo vídeo pode ser visto no UOL (uol.com/aneves):

Folha - PSDB errou ao não fazer prévia para escolher o candidato a presidente?

Aécio Neves - Gostaria que tivesse havido. Mas como não houve, seria incorreto voltar ao assunto agora. Hoje sou parceiro do Serra. A diferença é abissal entre a história e a qualidade do Serra e a da Dilma, sem demérito para ela. Mas as histórias são muito distintas. Serra é um líder, suas ideias são conhecidas. Dilma ainda é só o reflexo de um líder.

Fernando Henrique Cardoso disse que a eleição já estaria decidida a favor de Dilma. Por que ele fez essa afirmação?

Ele me disse que o sentido foi outro. Fernando Henrique é um líder importantíssimo do partido e eu faço "mea culpa". Acho que deveríamos ter sido mais afirmativos na defesa do governo dele.

O que o PSDB deve fazer se Serra for ao 2º turno?

Nós teremos de dar um freio de arrumação. O fato de nós, lideranças políticas regionais, estarmos com nossas situações solucionadas, espero que para o bem, nos permitirá um tempo maior e uma participação maior, inclusive nas decisões políticas da campanha. Cito dois Estados. Uma vitória em São Paulo com o Geraldo [Alckmin] e uma vitória aqui em Minas com o Anastasia. São os dois principais colégios eleitorais e têm efeito prático no segundo turno. Além de desmobilizar as oposições regionais, há uma vinculação natural dos prefeitos e dos líderes políticos em torno do governador eleito. Esses governadores terão um poder político eleitoral maior. Isso pode ser uma alavanca vigorosa para o Serra no segundo turno.

O que sr. chama de freio de arrumação?

Uma politização maior da campanha. Um diálogo mais permanente da campanha. Eu não culpo o Serra por isso. A campanha tem sua dinâmica. O Serra está se desdobrando. Quem acompanha o Serra tem de reconhecer o esforço pessoal que ele está fazendo. Com a cara boa, por mais que alguns achem que isso seja difícil, mas com a cara boa onde ele vai. Estivemos agora em Diamantina, num evento espetacular. Ele está muito à vontade. Passa um disposição enorme. Mas tem faltado tempo para que a gente discuta mais politicamente. Porque determinado discurso no Sul não é o mesmo que cola no Nordeste.

Quais seriam os discursos?

É preciso que nós regionalizemos um pouco o discurso. Não dá para ter o mesmo discurso, a mesma construção política de comunicação para um Brasil tão diferente com este. A primeira iniciativa seria uma conversa com as principais lideranças que nós temos no Nordeste. Por onde ir? Como enfrentar essa questão do Bolsa Família?

Se houver segundo turno entre Dilma e Serra, o sr. acha possível atrair Marina Silva?

Ela tem sido muito crítica a Serra. Ela também tem sido crítica em relação a Dilma. Mas não é apenas o apoio formal da candidata. É o PSDB se aproximar e incorporar algumas propostas do PV. Isso não será difícil até em função das alianças regionais. Aqui em Minas PSDB e PV governaram juntos oito anos. Mas vamos respeitar a Marina, que ainda está postulando.

Por que o PSDB nunca se organizou de forma profissional como PT?

Esse é um grande desafio. O PSDB pode ser um partido mais nacional do que é hoje, renovando o seu discurso. A meta principal da ação política do PSDB era o fim da inflação, que ocorreu. Mas o Brasil e o mundo mudaram. As prioridades deixaram de ser aquelas. O PSDB, ganhando ou não as eleições, tem que renovar-se. Há uma sucessão geracional clara dentro do partido. É preciso que revisitemos o nosso programa e apontemos para o futuro.

A revista "Carta Capital" afirmou que o sr. deseja trocar de partido no ano que vem. O sr. vai mudar de partido?

Disse ao diretor da revista que aquilo era um absurdo. Não me ouviram.

"Sangria" de Dilma chega a 6 mi de votos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Nova classe C concentra a maioria dos eleitores que desembarcaram da candidatura do PT nas duas últimas semanas

Marina Silva foi a maior beneficiada pela queda da petista e conquistou 4 mi de eleitores; Serra ganhou cerca de 2 mi

Fernando Canzian

DE SÃO PAULO - A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, perdeu cerca de 6 milhões de votos nas duas últimas semanas.

Mais da metade dessa "sangria" (cerca de 3,6 milhões de votos) se concentrou exatamente na parcela da população mais beneficiada pelas políticas social e econômica do governo Lula: a chamada nova classe C.

Segundo o Centro de Políticas Sociais (CPS) da FGV-RJ, quase 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe C a partir de 2003.

A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, foi a maior beneficiada por essa migração de votos. Ela conquistou cerca de 4 milhões de eleitores no período. Serra ganhou cerca de 2,3 milhões.

Os números foram calculados com base em pesquisa Datafolha divulgada ontem. Nela, Dilma tem 46% das intenções de voto. Serra fica com 28%; e Marina, 14%.

A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Isso explica diferenças nos resultados conforme os cortes feitos, por renda ou escolaridade, por exemplo.

As duas últimas semanas foram marcadas pelas denúncias de quebra de sigilos fiscais de tucanos e de seus familiares, pela queda da ex-braço direito de Dilma na Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra, e por uma profusão de críticas da petista e do presidente Lula à imprensa.

A perda desses cerca de 6 milhões de eleitores (em um total de 135 milhões) não garante mais a vitória de Dilma no primeiro turno.

Esse era o cenário mais provável no início de setembro. Agora, ela tem 51% dos votos válidos de que precisa. Para não haver segundo turno, Dilma necessita ter 50% dos válidos mais um voto.

Considerando os limites da margem de erro, ela pode ter hoje 49% ou 53%.Nas duas últimas semanas, Dilma perdeu eleitores ou oscilou para baixo em todos os estratos da população.

No geral, o maior desembarque de sua candidatura se deu entre os eleitores com renda familiar mensal entre 2 e 5 salários mínimos (R$ 1.020 e R$ 2.550). Cerca de 34% dos eleitores estão incluídos nessa faixa.

A classe de renda entre 2 e 5 salários mínimos é mais representativa no Sudeste (40%) e no Sul (37%). Ela é bem menor no Nordeste (21%) -onde Dilma ainda lidera com enorme vantagem.

Para o CPS/FGV, fazem parte da nova classe C os que têm renda familiar mensal entre R$ 1.126 e R$ 4.854.

"Os que ascendem em termos econômicos tendem a ficar mais conservadores, assim como passam a conquistar mais escolaridade", diz Marcelo Neri, coordenador do centro da FGV.

"O Brasil vem apresentando o melhor desempenho econômico em termos relativos e absolutos dos últimos tempos. O impacto sobre Dilma é algo que vem de fora do bolso", afirma Neri, em referência às denúncias e casos de corrupção no governo.

Para Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha, é nessa "classe emergente" que Dilma perde mais em números absolutos.

"Pois ela é bem maior do que a classe média tradicional, com alta renda e escolaridade, mas de tamanho bastante limitado no Brasil."

Em termos de escolaridade, a maior perda para Dilma se deu entre eleitores que têm ensino médio (38% do total). Dilma perdeu cerca de 2,5 milhões de votos aí.

Desse total, cerca de 2 milhões de eleitores migraram em proporções iguais para as candidaturas Serra e Marina. Os demais engordaram o bloco dos indecisos.

Chance de 2° turno altera estratégias das campanhas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Petistas preparam reação à queda de Dilma, Serra prefere cautela, e Marina ataca os dois na reta final

A quatro dias da eleição, pesquisa Datafolha que aponta a possibilidade de a disputa presidencial ser levada para o segundo turno alterou a estratégia das campanhas, que se intensificaram. No comitê de Dilma Rousseff, dirigentes reconhecem que ela sofreu um revés - segundo a pesquisa, a vantagem da petista sobre a soma dos demais candidatos caiu de sete para dois pontos porcentuais, e ela teria, agora, 51% dos votos válidos. O presidente Lula se reuniu com a cúpula da campanha para dar o tom da reação. Já entre os tucanos, a intenção agora é que José Serra seja cauteloso, para não interferir na aparente tendência de queda de Dilma. Para eles, um eventual segundo turno não será resultado da campanha de Serra, mas de fatores externos, e ela terá de ser modificada. Marina Silva (PV), por sua vez, passou a atacar tanto Dilma quanto Serra, embalada por seu crescimento nas pesquisas. O comando da campanha quer caracterizar os dois como iguais e Marina como alternativa.

Pesquisa que aponta chance de 2º turno faz candidatos adaptarem estratégias

Serra evita polêmicas e torce pela queda de Dilma, que continua à frente nas pesquisas; Marina, ao contrário, engrossa críticas aos rivais

A divulgação, ontem, de mais uma pesquisa Datafolha deu novo ânimo à corrida presidencial. A quatro dias das eleições e a dois do final da campanha em rádio e TV, os números indicam que a vantagem de Dilma Rousseff (PT) sobre seus rivais foi reduzida de sete para dois pontos, abrindo-se a possibilidade de a disputa ser levada ao segundo turno. Segundo a pesquisa, Dilma caiu de 49% para 46%, José Serra (PSDB) manteve seus 28% e Marina Silva (PV) oscilou de 13% para 14%. A petista teria, agora, entre 49% e 53% dos votos válidos.

O impacto desses números era visível, ao longo do dia, na rotina dos candidatos. A queda da petista acendeu um sinal amarelo em seu comitê de campanha, onde se discutiu a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer, nos dias finais, algum apelo ao eleitorado. É inegável a preocupação, no Planalto, com a divulgação de boatos que a prejudiquem ou com o risco de novas denúncias contra o governo. Serra, que passou o dia em Salvador, manteve a estratégia, adotada há vários dias, de evitar polêmicas, não "inventar moda", torcer para que Dilma continue em queda e evitar críticas a Marina, de olho no eleitorado do PV no segundo turno. E a candidata dos verdes, que está em alta, faz o caminho inverso: reduz os elogios aos governos Lula e FHC e tenta subir aumentando o tom de suas críticas aos dois rivais.

Serra: a ordem é 'não inventar moda' e 'não correr riscos'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Líderes da oposição não aprovam a campanha e dizem que em um 2º turno discurso tem de ter foco e identidade

Christiane Samarco, Ana Paula Scinocca

BRASÍLIA - Não correr riscos de nenhuma natureza, "não inventar moda" e apenas "surfar" na onda que pode levar ao segundo turno o candidato tucano à Presidência, José Serra, aproveitando a tendência de queda nas pesquisas da candidata Dilma Rousseff (PT), e a subida consistente de Marina Silva (PV). "O Serra agora tem que pegar um veleiro e ir velejar", resume, bem-humorado, um dos principais dirigentes da oposição.

Os estrategistas da campanha tucana dizem que Serra "não tem nenhuma carta na manga" para virar votos de indecisos à última hora. A ordem é ser cauteloso e não atrair nenhum fato polêmico ou negativo.

Líderes tucanos e aliados advertem, no entanto, que, no eventual segundo turno, a campanha vai precisar virar de ponta cabeça. Eles querem discutir o conteúdo dos discursos e das promessas por acreditar que Serra está parado nas pesquisas (em torno de 30% das intenções de voto) e que, se conseguir chegar ao segundo turno, será "por obra e graça de fatores externos". Na avaliação geral dos líderes políticos, a campanha não teve "nem foco nem identidade".

A ideia de o candidato não inovar às vésperas de os eleitores irem às urnas não é, portanto, um aval ao que vem sendo feito, e sim o reconhecimento de que a eventual passagem para o segundo turno se dará muito mais por conta da trajetória dos adversários. E é por causa disso que um analista de pesquisas que orienta o partido recomendou ao tucanato que não faça nada. "Deixem que a tendência atual se encarregue de levar Serra ao segundo turno", aconselhou.

Problemas à parte, há pelo menos 20 dias a equipe de marketing do tucano aposta no segundo turno, tomando por base os levantamentos internos feitos logo depois da exibição dos programas do horário eleitoral no rádio e na televisão. O PSDB diz que ainda não planejou uma investida sobre o PV, para garantir uma eventual parceria para a disputa de segundo turno, com apoio declarado da candidata verde Marina Silva.

Entre mais instruídos, Dilma fica em 3º

DEU EM O GLOBO

Petista caiu em todas as regiões do país e, entre as mulheres, perdeu cinco pontos

SÃO PAULO. A queda dos índices de intenção de voto da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, registrada na pesquisa Datafolha, foi mais acentuada em algumas parcelas do eleitorado. Entre os que declaram ter curso superior, por exemplo, a petista perdeu dez pontos em duas semanas, caindo de 38% para 28%. Nessa faixa, ela está em terceiro, atrás do tucano José Serra, com 34%, e da verde Marina Silva, com 30%. Entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos (cerca de 33% do eleitorado), Dilma perdeu sete pontos no período, passando de 49% para 42%.

No segmento do eleitorado que ganha acima de dez salários mínimos, a candidato do PT perdeu seis pontos em duas semanas, e hoje tem 30%. Está atrás de Serra que, nesse período, ganhou sete pontos e tem 41%. Marina cresceu sete pontos e passou de 19% para 26%.

Nessa última pesquisa, realizada segunda-feira, Dilma tem 46%, uma queda de três pontos em relação à sondagem anterior, semana passada. Serra se manteve estável com 28% e Marina subiu de 13% para 14%. O número de indecisos passou de 5% para 7% e os de que votam em branco ou nulo, de 3% para 4%. A diferença entre o índice de Dilma e o os demais candidatos somados (44%) é hoje de dois pontos. Considerando-se apenas os votos válidos (sem votos nulos, em branco e indecisos) é de 51% para 49%.

No Norte e no Cento-Oeste, a maior queda de Dilma por região

A pesquisa Datafolha ouviu 3.180 eleitores em 202 municípios, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. Está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 32.913/2010.

Dilma perdeu pontos em todas as regiões do país. Nas nas áreas metropolitanas foi registrada uma diminuição de quatro pontos da preferência do eleitor pela candidata petista. Por regiões, a maior queda de Dilma foi registrada no Norte e Centro-Oeste onde, em uma semana, Dilma perdeu seis pontos (50% para 44%), enquanto Serra cresceu um ponto (29% para 30%) e Marina mais do que dobrou seu índice, passando de 8% para 17%.

A candidata verde também teve um crescimento expressivo na Região Sudeste, subindo de 11% para 17%; Dilma perdeu três pontos (44% par 41%) e Serra perdeu um ponto (32% para 31%). Na Região Sul, Dilma está agora em situação de empate técnico com Serra. A petista caiu de 43% para 39%, enquanto Serra caiu um ponto e hoje tem 35%. Marina, que cresceu em todas as regiões, passou de 7% para 10%.

A queda de Dilma também é expressiva entre as mulheres (cinco pontos). Ela caiu também entre na parcela de eleitores entre 35 a e 59 anos (quatro pontos). Considerando o total de votos, cada ponto representa cerca de 1,38 milhão de eleitores.

Dilma chegou a ter 12 pontos percentuais a mais que a soma das intenções de voto de todos os candidatos, há duas semanas. A petista não havia sofrido qualquer abalo de popularidade por conta do escândalo do vazamento de sigilo fiscal de tucanos e de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB. Pelo contrário. Chegou a subir um ponto naquela época. Mas, a partir do caso Erenice, a vantagem para os demais adversários somados acabou reduzida para dois pontos, no intervalo de duas semanas.

O Datafolha também simulou um confronto direto entre Dilma e Serra num eventual segundo turno. A vantagem da petista caiu três pontos nesse cenário, em relação à sondagem anterior, semana passada. Passou de 55% para 52% das intenções de votos, enquanto o tucano oscilou um ponto para cima, e alcançou 39%.

Dilma: 27% de rejeição, seu pior índice registrado no Datafolha

A petista também conheceu nesta pesquisa sua maior taxa de rejeição, desde o início das sondagens do Datafolha. Nos últimos cinco dias, o índice de eleitores que não votam em Dilma de jeito nenhum subiu três pontos percentuais, de 24% a 27%. No entanto, Serra continua sendo o candidato mais rejeitado pelos eleitores. O Datafolha registrou oscilação de 31% a para 32%. Marina permaneceu estável em 17%.

O Datafolha também verificou a intenção de voto espontânea (sem apresentação de nomes ao eleitor), na qual Dilma continua à frente, mas oscila negativamente dois pontos percentuais, de 39% para 37%. Já Serra ficou estável em 21%, e Marina ganhou dois pontos, passando de 9% para 11%.

Para especialistas, segundo turno mais próximo

DEU EM O GLOBO

Motivos apontados são o crescimento de Marina e a exigência do título com documento de identidade

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. A queda no índice de intenções de voto da presidenciável Dilma Rousseff (PT) e a subida de Marina Silva (PV), conforme divulgado ontem pelo Instituto Datafolha, pode levar ao segundo turno, de acordo com a análise de especialistas.

- A tendência que as pesquisas mostram é o crescimento de Marina. Ela está convencendo mais a classe média, eleitores de mais escolaridade e renda, e está tirando votos de Serra e de Dilma. Isso depois das denúncias do caso Erenice - analisou Mauro Paulino, diretor do Datafolha, que acredita que o segundo turno ainda é uma "incógnita".

- A grande incógnita é se vai ter segundo turno e quem vai disputar com Dilma. Muito provavelmente será Serra, mas nada ainda está decidido.

A tendência mostrada pelo Datafolha faz com que o professor Emmanuel Publio Dias, diretor da ESPM e especialista em marketing político, tenha certeza de que haverá segundo turno.

- Com certeza teremos 2º turno. Mas faço duas ressalvas a isso: se acontecer alguma grande bobagem no debate da TV Globo ou se Lula montar um acampamento no Nordeste, no estilo messiânico, para convocar a população a votar na Dilma.

Eleitorado esperava oposição mais firme contra o PT

Sem tanta certeza, o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepal), acha que o segundo turno é uma tendência, para a qual um fator inusitado pode ter importância decisiva:

- É preciso levar em conta a consequência dos dois documentos pedidos para o eleitor poder votar. Qual será o nível de abstenção? A gente sabe que isso pode afetar os eleitores de menos renda e escolaridade, o que pode prejudicar a candidatura de Dilma, contribuindo para o segundo turno.

Um dos motivos do crescimento de Marina, conforme análise de Emmanuel Dias, é a mudança do voto antipetista de José Serra (PSDB) para a candidata verde.

- Serra perde votos porque o eleitorado esperava um discurso oposicionista que ele não está fazendo. O discurso "eu também vou fazer melhor" não se coloca contra Lula. Isso deixa o eleitor frustrado. Muitos eleitores do Serra, descontentes com esse discurso, estão mudando para Marina. É o voto antipetista mudando.

Para o cientista político Rubens Figueiredo, faltou aos tucanos e a Serra uma identidade com a oposição.

- O PSDB parece que renegou o passado, de coisas tão boas como o Plano Real, a revolução nas telecomunicações, a Lei de Responsabilidade Fiscal... Parece que tem vergonha do que realizou. Nessa campanha ainda houve a situação do Serra elogiar o Lula de manhã e atacar à noite.

Olhando os números das últimas pesquisas do Datafolha, Mauro Paulino observa que os segmentos de maior escolaridade e maior renda são os mais frustrados.

- Por segmento, a frustração maior é das classes de maior renda e maior escolaridade. Marina empata com Serra e os dois ficam próximos de Dilma, numericamente empate técnico. Mesmo assim é improvável que Marina supere Serra - disse, levantando ainda uma dúvida sobre a continuidade do crescimento da candidata verde: - Outra dúvida é até onde Marina vai crescer entre os eleitores mais pobres, cativos de Lula.

Serra: 'Milhões farão a cabeça até domingo'

DEU EM O GLOBO

Em visita a Salvador, Serra se diz otimista com a possibilidade de a disputa ir para o segundo turno

Fábio Fabrini

SALVADOR. Em discurso na Câmara Municipal de Salvador, onde recebeu ontem o título de cidadão soteropolitano, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou o PT e o presidente Lula e elogiou personalidades baianas, como o ex-senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães, já falecido. A princípio, Serra evitou comentar pesquisa Datafolha que indica a possibilidade de um segundo turno entre ele e a petista Dilma Rousseff. Mais tarde, acabou concordando em falar, e apostou no segundo turno, destacando seu desempenho em eleições passadas.

- Falta muito tempo ainda para a votação. Milhões e milhões de brasileiros farão a sua cabeça até domingo. Continuo trabalhando - afirmou Serra.

Depois de receber o título na Câmara Municipal, ele teve um encontro com o arcebispo de Salvador, Dom Geraldo Majella. Na saída, disse estar confiante num segundo turno, e confundiu a data do pleito:

- Acho que vamos ter segundo turno. Vamos ter uma batalha ainda até o fim de novembro. Eu não sei quando é a eleição.

Informado que o segundo turno é em outubro, continuou:

-- Ah é?! Achei que era 23, 24 (de novembro).

O tucano lembrou eleições das quais participou, como em 2002, quando se especulou um desfecho ainda no primeiro turno, o que não ocorreu:

- Nesta (sic) época, ninguém achava que eu iria para o segundo turno. Depois achavam que eu teria 30%, e eu tive quase 40%. Na eleição de prefeito achavam que a Marta (Suplicy, PT) ia ganhar no primeiro turno. Eu ganhei.

Serra disse que, apesar da perspectiva de segundo turno, sua tática não mudará.

- Vocês sempre acham que há grandes estratégias. É menos planejamento do que a imprensa imagina.

Questionado se será o principal beneficiário de uma possível onda verde, com crescimento da candidata Marina Silva (PV) nas pesquisas eleitorais, ele não quis falar a respeito.

- Não vou entrar neste tipo de análise. Se você estivesse no meu lugar compreenderia.

O tucano procurou dar destaques a propostas, como a recuperação do Porto de Salvador, o funcionamento do metrô da capital baiana e a criação de um milhão de vagas no ensino profissionalizante no Brasil.

A princípio irritado, Serra, mesmo perguntado várias vezes sobre a pesquisa, só decidiu falar quando questionado sobre sondagens que indicam empate com Marina em Salvador:

-- Não estou empatado. Já houve eleição? Quando é a eleição? O que diziam as pesquisas há duas semanas? E o que dizem hoje?

No discurso na Câmara Municipal, Serra citou o poeta Gregório de Matos, que viveu em Salvador no século XVII e era conhecido como "Boca do Inferno". O tucano fez alusão ao embate entre Lula e a imprensa.

- Como esquecer o grande poeta Gregório de Matos, que nenhuma censura conseguiu barrar. Afrontou os poderosos do seu tempo, exerceu com acidez a crítica política, pagou o preço de sua ousadia, mas deixou uma obra imortal. Desconfio que se Gregório vivesse ainda hoje, talvez alguns censores que andam por aí tentassem calá-lo.

Serra destacou a importância da Bahia em momentos históricos, como na transição para a democracia em 1985. E ressaltou a importância de Antônio Carlos Magalhães, que apoiou o regime militar, como um agente importante para a democracia:

- Sem o apoio da Bahia e a liderança naquele momento de Antônio Carlos, que fundou a Frente Liberal e ajudou a eleger Tancredo Neves, não teríamos um governo democrático nos últimos 25 anos. Lembremos que o PT foi contra este governo democrático.

Aécio: 'Abre-se perspectiva de 2º turno'

DEU EM O GLOBO

Segundo o ex-governador, em Minas a vantagem de Dilma em relação a Serra e Marina também diminuiu

Adriana Vasconcelos* e Cristiane Jungblut

BELO HORIZONTE E BRASÍLIA. Os números da última pesquisa do Datafolha, sinalizando a possibilidade de um segundo turno na disputa presidencial, levaram ontem otimismo aos tucanos de todo o país. O ex-governador mineiro Aécio Neves falou, por telefone, com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, que não escondia sua satisfação com a mudança no cenário. Segundo Aécio, agora há uma perspectiva real de segundo turno. Ele ressaltou que, assim como no cenário nacional, a vantagem da candidata petista, Dilma Roussef, em relação a Serra e à candidata do PV, Marina Silva, também diminuiu em Minas Gerais.

- Acho que agora abre-se claramente uma perspectiva de segundo turno. Inclusive em Minas, houve uma diminuição da diferença. Seria muito bom que o Brasil pudesse conhecer melhor os candidatos - afirmou Aécio, que foi convidado por Serra para acompanhá-lo no último debate entre os presidenciáveis amanhã à noite na Rede Globo.

Na avaliação do ex-governador, não só os votos de eleitores indecisos como também os de Dilma estariam migrando para Serra e Marina.

Aécio prometeu intensificar a campanha em favor do presidenciável tucano nesta reta final. Embora tenha havido um convite para que Serra fizesse uma última visita a Minas antes da eleição, o comando da campanha presidencial tucana ainda não havia fechado nada.

Diante dos números do Datafolha, a ordem no comando da campanha é aumentar o ritmo das atividades para tentar acelerar o crescimento de Serra, já que Marina foi a mais beneficidada com o desgaste de Dilma. O maior cuidado é para não atacar a verde - até porque, neste momento, seu crescimento é que está ajudando a viabilizar um segundo turno.

Há um consenso, entre os tucanos, de que o debate da Rede Globo será decisivo para consolidar o quadro.

(*) Enviada especial

Guerra diz que no 2º turno 'será outra campanha'

DEU EM O GLOBO

Na reta final, tucanos esperam que Serra acelere crescimento

BELO HORIZONTE E BRASÍLIA. Apesar do otimismo com os dados do Datafolha, a incógnita, tanto para aliados do tucano José Serra como da verde Marina Silva, é saber se o ritmo de queda da petista Dilma Rousseff, a menos de uma semana da eleição, será suficiente para queimar toda a "gordura" que ela tem de vantagem. Pesquisas internas da oposição indicam que Dilma continua perdendo pontos.

Os tucanos mais realistas gostariam que Serra tivesse acelerado seu crescimento - ele precisaria chegar a 35% dos votos válidos, para não contar apenas com o avanço de Marina. Na pesquisa Datafolha, ele oscilou de 31% para 32%.

- O movimento de queda de Dilma tende a se acentuar. No primeiro momento, a Marina é a favorecida, mas o fato é que o Serra não está perdendo votos, está até ganhando - disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). - No segundo turno, será outra campanha.

Para esse eventual segundo turno entre Dilma e Serra, o desafio dos tucanos é evitar que o eleitor que trocou Dilma por Marina - que já foi do PT -- decida voltar para a esfera do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua candidata. Para Sérgio Guerra, é preciso que Serra avance no eleitorado que é contra Dilma.

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), também acredita que as chances de segundo turno crescem com a confirmação de que realmente Dilma perde pontos.

- Serra tem que acelerar o crescimento dele para poder chegar (ao segundo turno).

Acredito que ele possa chegar a 35% dos votos válidos. A Marina está tirando votos da Dilma, e os indecisos estão correndo para o Serra. Se houver segundo turno, será um resultado vitorioso para nós. A Dilma vai terminar em primeiro lugar, mas vai ser como se fosse derrotada. O importante é que ela está caindo - disse Rodrigo Maia.

- A tendência de queda de Dilma é muito clara em todo o país - acrescentou o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA), que ontem fez campanha ao lado de Serra, em Salvador.

Mais realista, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) ressaltou que é preciso ver o ritmo de desgaste de Dilma nesses dias que antecedem a eleição:

- Se a tendência for sustentada, teremos segundo turno.

BB admite 5 acessos à conta de tucano

DEU EM O GLOBO

Banco diz que consultas a informações de Eduardo Jorge foram legais, mas vice do PSDB questiona duas

Roberto Maltchik e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Em ofício enviado à Polícia Federal (PF), o Banco do Brasil informou que dados da conta corrente do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, foram acessados cinco vezes, no primeiro semestre deste ano. No documento, o banco afirma, no entanto, que os acessos foram justificados e que os servidores responsáveis estavam habilitados para efetuar as operações. Apesar das justificativas do BB, Eduardo Jorge contesta dois acessos e já anunciou que vai pedir esclarecimentos adicionais ao banco.

A PF instaurou, em julho, inquérito para investigar a quebra de sigilo fiscal de aliados e familiares do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. A apuração também contemplava a suspeita de quebra de sigilo bancário do dirigente tucano. Eduardo Jorge afirmou, em depoimento à PF, que foi confrontado por um jornalista da revista "Veja" com informações que só poderiam constar de documentos protegidos por sigilo bancário.

Dos cinco acessos identificados pelo Banco do Brasil, quatro ocorreram em Brasília e outro, em Maricá (RJ). Na capital federal, os registros de análise das informações bancárias de Eduardo Jorge são da agência Senado, onde ele tem conta.

Em Maricá, o dirigente tucano não tem conta corrente, mas é o responsável pelo inventário de um parente. Segundo informe do banco à PF, existe compatibilidade entre os acessos e as funções dos servidores. "Informamos que as funções exercidas pelos funcionários estão plenamente compatíveis com os acessos efetuados", afirma o banco no documento enviado aos investigadores.

Em Brasília, o banco afirma que três acessos ocorreram nos dias 11, 27 e 28 de janeiro. No caso, não há contestação de Eduardo Jorge. O dirigente tucano questiona, porém, o acesso feito na agência Senado em 11 de março.

Segundo o Banco do Brasil, a operação serviu para apurar movimentação atípica, conforme determina a carta circular 3.461/2009 do Banco Central, que trata de regras sobre movimentações atípicas de correntistas. A circular determina, por exemplo, a identificação de movimentação financeira superior a R$10 mil e estabelece critérios para acompanhamento das operações de pessoas "politicamente expostas".

Segundo Eduardo Jorge, o Banco do Brasil não informou quais seriam as movimentações atípicas, limitando-se a informar que houve apontamentos que demandaram análise da conta corrente.

O outro acesso contestado foi o de Maricá. O Banco do Brasil informou à PF que um servidor com função de chefia, hoje lotado em Niterói (RJ), acessou a conta corrente de Eduardo Jorge para verificar possíveis "depósitos indevidos", em 26 de março. Para o dirigente tucano, não há motivação para esse acesso.

- A resposta do Banco do Brasil reforçou que houve acessos sem motivação de minha conta corrente. Cabe à Polícia Federal investigar - afirmou o tucano.

De posse das informações do Banco do Brasil, a PF continua investigando a suspeita de quebra de sigilo bancário. No entanto, por ora, nenhuma diligência adicional foi enviada ao BB. Em nota, o Banco do Brasil repudiou "qualquer afirmação de que a conta do sr. Eduardo Jorge Caldas Pereira tenha sido acessada sem motivos profissionais". Segundo o banco, até agora "não foi identificado fato que comprove violação de sigilo".

Atella volta a depor na PF

DEU EM O GLOBO

Contador faz novo exame grafotécnico

SÃO PAULO. O contador Antonio Carlos Atella Ferreira prestou, ontem, o seu quarto depoimento à Polícia Federal no inquérito que investiga a quebra de sigilos fiscais de pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. O advogado do contador, Alexandre Trindade, disse que Atella ofereceu material para exame grafotécnico.

O objetivo é identificar quem falsificou as assinaturas de Verônica Serra, filho do presidenciável tucano, e seu marido Alexandre Bourgeois, nas falsas procurações apresentadas na agência da Receita Federal de Santo André. Atella já havia sido submetido ao teste anteriormente, mas o resultado foi inconclusivo.

Ao deixar a PF em São Paulo, jornalistas perguntaram quem encomendou a violação dos sigilos do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e outros tucanos. Atella respondeu:

- Quem encomendou? Investiga e me ajuda.

Atella, que é filiado ao PT, foi indiciado na semana passada pelos crimes de quebra de sigilo e uso de documento falso depois que afirmou à PF ter participado também da violação dos dados fiscais de Eduardo Jorge e outros tucanos.

Quícoli: responsabilidade é de Oliveira

DEU EM O GLOBO

À PF, consultor diz que foi ex-diretor que disse que propina era para campanha

Tatiana Farah

SÃO PAULO. Depois de prestar depoimento de quase sete horas na superintendência da Polícia Federal, Rubnei Quícoli, autor das denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, transferiu ontem para o ex-diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira a responsabilidade pela afirmação de que a suposta propina de R$5 milhões - cobrada da empresa EDRB, que ele representa - serviria para cobrir despesas da ex-ministra Erenice Guerra e da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

Ele confirmou que a empresa ligada à família de Erenice Guerra, a Capital Assessoria, foi usada para uma intermediação com o governo para construção de uma usina de energia solar pela ERDB. Mas disse não conhecer pessoalmente os filhos da ex-ministra, Israel e Saulo Guerra.

Quícoli acusa ex-integrantes do governo de tentar intermediar negócios e cobrar uma propina de R$5 milhões para a construção de uma usina de energia solar no Nordeste que custaria, segundo ele, R$9 bilhões. Segundo o BNDES, o empreendimento custaria R$2,5 bilhões e o empréstimo foi negado no final de março passado.

Após o depoimento, Quícoli disse que não partiu dele a afirmação de que os R$5 milhões seriam usados na campanha de Dilma. Mais adiante, quando questionado se a então ministra Erenice sabia das transações que ocorriam na Casa Civil, Quícoli voltou a afirmar:

- Eu não sei. Nunca posicionei uma informação dessa. A única informação que eu coloquei foi que Marco Antonio me pediu esse valor para poder acertar alguma coisa entre eles lá. Eu nunca disse que esse dinheiro era para PT, para a campanha da Dilma. Isso daí nunca foi relacionado. Essas perguntas muitas vezes relacionadas para favorecer uma parte ou outra não têm cabimento. Os documentos foram expostos para toda a mídia.

Quícoli disse ter reafirmado à PF as denúncias e entregado os documentos que já havia passado à imprensa, como e-mails trocados com empresários e, supostamente, integrantes do governo, como o ex-assessor da Casa Civil Vinícius Castro, que saiu do governo depois do escândalo.

- Tudo o que foi enviado para a imprensa foi o que foi declarado à PF. Nada mais.

A principal acusação de Quícoli recai sobre Marco Antonio de Oliveira. Segundo Quícoli, a empresa Capital Assessoria, dos filhos de Erenice Guerra e ligada a Vinícius Castro, sobrinho de Oliveira, seria usada para intermediar o negócio.

- Fiquei surpreso que o papel dele veio à tona agora, pela mídia agora. Não por mim. Eu não sabia quem era Israel, quem era Saulo.

Além de Quícoli, prestaram depoimento na PF os donos da empresa EDRB, que teria sido representada por ele no projeto de energia solar. Os empresários Aldo Wagner e Marcelo Scarlassara ficaram pouco mais de duas horas na Superintendência da Polícia Federal. Entraram e saíram do prédio sem dar entrevista.

Vitamina eleitoral anti-Chávez

DEU EM O GLOBO

Com mais votos que presidente pela 1ª vez em 11 anos, oposição ganha força para 2012

Janaína Figueiredo

Apesar de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter modificado estrategicamente a lei eleitoral do país em 2009 para favorecer o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) nas eleições legislativas de domingo passado, a oposição obteve, pela primeira vez em 11 anos, mais votos do que os candidatos chavistas. Segundo explicaram analistas locais ao GLOBO, a oposição venezuelana melhorou a quantidade e a qualidade de seus votos, já que cresceu em regiões antes dominadas pelo chavismo, como os estados de Táchira e Monagas, entre outros. Com este cenário, a possibilidade de derrotar o líder bolivariano nas presidenciais de 2012 com um candidato único, que surgiria de futuras eleições primárias, ganhou força.

De acordo com dados divulgados ontem em Caracas, a oposição unida (Mesa de Unidade Democrática e Pátria Para Todos) alcançou 5.642.553 milhões de votos (51% do total), e o PSUV obteve 5.399.574 (49%). Perguntado sobre a contradição entre a quantidade de votos e cadeiras no Parlamento, o presidente se irritou com os jornalistas e reforçou sua leitura vitoriosa dos resultados eleitorais. Longe de adotar um discurso conciliador, Chávez desafiou a oposição a convocar um referendo antes de 2012 para tentar derrubá-lo.

- Como dizem que são maioria, que convoquem um referendo. Por que esperar dois anos para se livrar de Chávez? - provocou.

"Foi um duelo entre Davi e Golias"

Para Nicolás Toledo, da Consultores XXI, o presidente venezuelano está vivendo uma nova etapa de seu governo, na qual representa uma minoria que, para recuperar a maioria perdida, deve manipular as normas eleitorais do país.

- O governo só obteve uma maior representação na assembleia porque modificou a lei eleitoral - assegurou Toledo.

Segundo ele, "em 2012 a mesma manobra não será possível, porque será uma eleição nacional, e Chávez não tem como alterar essas regras".

- Se a oposição consolidar sua união, tem chances de vencer. Há líderes opositores, como Henrique Capriles Radonski (governador de Miranda), com mais popularidade hoje do que Chávez - disse.

Na visão da jornalista Gloria Bastidas, do "El Nacional", a vitória da oposição foi contundente, sobretudo porque "este foi um duelo entre Davi e Golias. Um Estado todo-poderoso e uma oposição que não tem tantos recursos".

- Apesar de Chávez ter cometido abusos terríveis, a oposição conseguiu mais votos - destacou Bastidas.

De acordo com a jornalista, "a deterioração da situação social e econômica do país explica a perda de votos por parte do governo e o crescimento da oposição".

- Já não se trata de defender a liberdade, um conceito abstrato; os venezuelanos estão sofrendo consequências em sua vida cotidiana e buscaram um culpado de carne e osso, que é Chávez - afirmou Bastidas.

Para ela, "o resultado de domingo passado ameaça a popularidade do presidente e deveria ser a semente de uma vitória da oposição em 2012".

Cientes dos desafios que deverão enfrentar a partir de agora, governo e oposição já começaram a trabalhar para as presidenciais. Uma das hipóteses que circulavam ontem entre analistas locais era a de que Chávez poderia apelar para a mesma estratégia utilizada em 2004 e 2005, quando sua popularidade começou a recuar. Na época, o presidente lançou as chamadas missões bolivarianas - programas sociais de educação, saúde e alimentação, entre outros. Para os opositores, a principal preocupação é como manter a unidade conquistada e atuar de forma articulada na Assembleia Nacional a partir de janeiro de 2011 e, sobretudo, construir um processo capaz de eleger um candidato único nas próximas presidenciais.

Presidente se irrita com pressão de jornalista

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Roberto Lameirinhas
Enviado especial

CARACAS – Uma pergunta da jornalista Andreina Flores, correspondente em Caracas da Rádio France-Internacional e da Rádio RCN, da Colômbia, irritou na segunda-feira à noite, o presidente Hugo Chávez. A repórter perguntou a Chávez como se explicava que, com votações parecidas, o partido governista tinha conquistado quase 60% das cadeiras do Legislativo e a oposição, apenas 40%. "Você conhece essa Constituição, Andreina?", disse Chávez, acrescentando que a rádio francesa difundia "mentiras" sobre a "revolução bolivariana".

"Essa era uma eleição proporcional, Andreina", dizia Chávez, pronunciando o nome da jornalista entre os dentes. "Eu estou falando e você não está anotando... Se quiser um lápis, te empresto", prosseguia. "Me preocupo que você continue ignorando as leis desse país, Andreina."

A rádio francesa protestou contra o tratamento destinado à jornalista e negou que tenha divulgado informações falsas sobre o governo venezuelano.

Na mesma entrevista, Chávez anunciou um programa habitacional de US$ 1 bilhão e reiterou a intenção de dar início a um programa nuclear para fins de geração de energia elétrica.

Serra Presidente - Melhores momentos - Debate TV Record

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Memória:: Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Sandra Cureau

Quando ele diz que eu sou "uma procuradora qualquer por aí", ele reduz a instituição Ministério Público Eleitoral a alguma coisa qualquer. Por isso, houve reação tão veemente por parte da OAB e das entidades de magistrado e de Ministério Público. A reação foi geral. Aliás, a própria manifestação de São Paulo é consequência do que se está vivendo nesta eleição.

É, e é complicado, porque a gente nunca teve esse tipo de problema antes. Não porque os presidentes não fizessem campanha para seus candidatos, mas eles faziam tendo presente que eram chefes da nação. Era de uma maneira mais republicana, ou mais democrática, não sei que palavra usar.

Eu acho que ele quer, a qualquer custo, fazer a sua sucessora. É por isso que, como dizem no manifesto, ele misturou o homem de partido com o presidente. Aquela coisa de não aceitar a possibilidade de não fazer a sucessora. A impressão que eu tenho é a de que ele faz mais campanha do que a própria candidata. Nunca vi isso, é quase como se fosse uma coisa de vida ou morte para ele.


(Sandra Cureau, Vice-Procuradora-Geral Eleitoral, na entrevista, Folha de S. Paulo, 27/9/2010)

Marina contra Dilma:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A possibilidade de haver um segundo turno nas eleições presidenciais depende fundamentalmente de quanto a candidata verde, Marina Silva, vai subir nas regiões Sul e Sudeste, onde vem alcançando índices expressivos em alguns estados, acima até dos do tucano José Serra, ou até que ponto este está realmente recuperando votos em São Paulo

A estratégia de Marina no debate da Record, de atacar tanto Dilma quanto Serra, tem lógica, já que para chegar ao segundo turno ela tem que tirar votos dos dois.

Não adianta tirar votos apenas de Serra, porque o que vale é a soma de todos os candidatos contra Dilma.

É provável que no último e mais importante debate, o de quinta-feira na TV Globo, a tática de Marina já esteja mais focada em tirar votos de Dilma se as próximas pesquisas confirmarem a redução da distância entre os concorrentes.

É que a assessoria de Marina acha que dificilmente o candidato José Serra cairá do patamar de 30% a 25%, restando a Marina, se quiser ir para o segundo turno, superar Serra tirando votos de Dilma.

Uma tarefa que parece bastante difícil, pois, pelos próprios levantamentos do Partido Verde, Marina está chegando a um patamar de 15% de votos, o que a coloca na situação de ter que crescer pelo menos mais dez pontos percentuais na última semana de campanha.

Já a campanha tucana considera que o crescimento de Serra no estado de São Paulo permitirá que ele chegue ao segundo turno em ascensão, embora ainda longe da candidata oficial.

Se ele passar dos cerca de 30% de apoio que tem até agora e Marina chegar a 15% tirando votos de Dilma, a decisão nos votos válidos pode ficar por conta da abstenção, dos votos brancos e nulos.

A abstenção tem sido muito variável nos últimos anos, sendo que a eleição de 1989 teve a menor taxa ( 11,9% ), e a de 1998, a maior (21,5%). A de 2006 ficou em 16,7%.

Os votos válidos, descontados a abstenção e os votos brancos e nulos, variaram de 81,2% em 1994 a 93,5% em 1989. A eleição de 2006 teve 91,6% de votos válidos, e mesmo assim Lula teve que disputar o segundo turno.

Por isso o receio do PT em relação à obrigatoriedade de o eleitor apresentar dois documentos, sendo que um com foto, para votar.

O partido teme que essa exigência legal, que foi adotada com o apoio de todos os partidos, faça aumentar a abstenção especialmente no Nordeste, onde a candidata Dilma Rousseff está garantindo sua eleição.

Um interessante estudo da Arko Advice de Brasília, do cientista político Murilo Aragão, divulgado pelo Blog do Noblat, com base nas últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha, mostra que a possibilidade de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno está baseada na vantagem que ela está tirando no Nordeste, que representa cerca de 29 % do eleitorado.

No Sudeste (42% do eleitorado) e no Sul (14%), a soma das intenções de voto de José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) é igual ou superior aos índices de Dilma, o que levaria a eleição para o segundo turno.

E, no Centro-Oeste, a candidata do presidente Lula tem uma vantagem de 2%, portanto, dentro da margem de erro das pesquisas.

Serra e Marina estariam crescendo no Sudeste, de acordo com as últimas pesquisas, enquanto Dilma perde terreno.

A diferença a favor de Dilma é de 15 pontos percentuais: Dilma tem 44,5%, Serra subiu para 30%, e Marina cresceu 5,5 pontos percentuais ( 9 % para 14,5%). A soma dos índices de Serra e Marina é igual a 44,5%, o mesmo índice de Dilma.

Esse desempate pode acontecer caso a previsão da campanha de Serra se confirme nas próximas pesquisas, e ele supere Dilma no estado.

Se isso acontecer, é provável que a eleição vá para o segundo turno, mesmo que a diferença a favor de Serra contra Dilma seja mínima em São Paulo.

Esse resultado é totalmente atípico, pois o candidato do PSDB costuma ganhar em São Paulo, sendo que Alckmin, em 2006, mesmo perdendo a eleição a nível nacional, venceu no estado por uma diferença de quase quatro milhões de votos.

Na Região Sul, a soma dos percentuais de Serra e Marina é igual a 46,5%, enquanto Dilma tem 44,5%.

No Nordeste é onde Dilma abre grande vantagem sobre a soma de seus opositores.

Dilma tem 63,5%, enquanto Serra, mesmo crescendo, chegou a 20%, e Marina passou de 7% para 8,5%. Hoje, a soma dos percentuais de Serra e Marina totaliza 28,5% contra 63,5% de Dilma.

No Norte/Centro-Oeste, a candidata do presidente Lula oscilou negativamente, de 47,5% para 47%, e Serra, de 29% para 30,5%.

Já Marina passou de 13% para 14,5%. Hoje, a soma de Serra e Marina é igual a 45%, contra 47% de Dilma.

Os estrategistas de Marina acreditam que ela tenha condições de melhorar a performance entre os eleitores de mais baixa renda, inclusive no Nordeste, e identificam nos últimos dias um trabalho bastante forte de pastores evangélicos a favor da sua candidatura, capaz de retirar votos de Dilma Rousseff mesmo entre o eleitorado mais pobres dos grandes centros urbanos.

Pelos números até o momento, se for confirmada a tendência de vitória da candidata oficial, Dilma Rousseff, no primeiro turno, ela se deverá à alta performance do governo no Nordeste e à baixa performance do candidato do PSDB José Serra no estado que governou até o início do ano.

Em marcha à ré :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A justificativa do desembargador Liberato Póvoa para impor censura a 84 jornais, sites, emissoras de rádio e televisão expressa o pensamento dos defensores da tese de que liberdade de expressão é um conceito relativo.

Bem como a alegação do governador do Tocantins para pedir na Justiça o embargo da divulgação de notícias sobre a investigação de que é alvo por corrupção reproduz o raciocínio de que a imprensa serve aos propósitos da oposição, devendo, por isso, ser obrigada a calar.

O ato do governador acusado, e que disputa agora a reeleição, de mandar a Polícia Militar apreender a partida da revista Veja no aeroporto, antes da distribuição às bancas de Palmas, caracteriza, entre outros crimes, o de uso da máquina pública em proveito individual.

Dirão que é exagero, pois agora se instituiu a prática da defesa moderada da democracia, mas nesse caso escabroso estão presentes todos os elementos da guerra contra a liberdade de manifestação aberta pelo PT em geral e o presidente Luiz Inácio da Silva em particular.

Há o conceito do PT, aprovado no último congresso do partido, sobre a necessidade de se criar controles sobre o conteúdo do que se publica nos meios de comunicação; há o envolvimento do outro parceiro da aliança presidencial, o PMDB, como o partido do requerente da censura; há a argumentação presente nos discursos do presidente e há o uso eleitoral do patrimônio público.

A Justiça já havia feito parecido numa sentença que mantém o Estado há mais de um ano impedido de publicar notícias sobre a investigação que alcança o filho empresário do senador e presidente do Senado, José Sarney. A última providência judicial foi remeter o caso para a Justiça do Maranhão, onde está até hoje sem decisão enquanto o jornal e o leitor ficam interditados.

Agora a atitude de um desembargador cuja suspeição é total, porque teve a mulher indicada para cargo pelo governador favorecido pela censura, atingiu o Estado e outros 83 veículos.

A liminar foi dada na sexta-feira e suspensa ontem à tarde pelo plenário do TRE do Tocantins. A suspensão alivia, mas não resolve o problema.

A gravidade do episódio é que junto com outros dá sinais de que os arautos do atraso e do retrocesso estão se sentindo à vontade ultimamente.

Só isso explica uma decisão tão obviamente contrária aos ditames democráticos e que muito dificilmente esse desembargador teria tido coragem de proclamar caso não se sentisse em ambiente propício.

Muito já se falou sobre isso, mas é sempre bom repetir: o Brasil avançou em quase tudo da redemocratização para cá, menos na política, cujos métodos são exatamente os mesmos da primeira metade do século passado. E agora, no governo Lula, celebrados como evidência de habilidade.

Primeiro escolhemos não avançar, depois optamos por aprofundar relações com os velhos vícios e mais recentemente parece que resolvemos manifestar preferência pelo retrocesso.

Estamos voltando ao tempo em que era preciso organizar um abaixo-assinado, lançar um manifesto por dia. OAB, AMB, CNBB e similares toda semana estão no noticiário dizendo alguma coisa em defesa da democracia ou denunciando alguma agressão à Constituição.

Ora, o que precisa ser defendido com essa frequência, convenhamos, é porque vai mal.

Alguém já viu isso em país de democracia consolidada?

Pois aqui no Brasil voltou a se tornar uma questão em aberto. Governantes consideram que têm o condão de arbitrar o que seja correto ou incorreto divulgar, juízes prestam serviços particulares, militantes decretam o fim da moralidade que agora passa a se chamar "moralismo udenista" e os parvos ainda acham que os protestos exorbitam e enxergam fantasmas ao meio-dia.

Amanhã ou depois nada impede que o gesto do desembargador tocantinense se repita, até ampliado, caso não haja uma reação muito forte e desprovida de meios tons.

Defesa da democracia que o Brasil reconquistou ao custo de vidas, da liberdade e de anos perdidos não comporta moderação nem bom-mocismo de ocasião.

Mais indecisos e "marola verde" :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Aumentou muito a chance de que a eleição presidencial vá para o segundo turno. Há 15 dias, a vantagem de Dilma Rousseff sobre a soma dos demais adversários era de 12 pontos. Havia caído na semana passada para 7 pontos. Agora, conforme o Datafolha, ficou reduzida a dois pontos (46% a 44%).

Dilma tem hoje 51% dos votos válidos. Sua trajetória é descendente e a eventual vitória no domingo já está na margem de erro.

Há, a rigor, dois movimentos simultâneos e combinados igualmente relevantes nessa fase final da campanha. O mais visível deles na pesquisa realizada ontem é a erosão da candidatura petista. Dilma perdeu três pontos em relação à pesquisa anterior e cinco pontos percentuais em menos de 15 dias (recuou de 51% para 46%).

Nem todos esses votos que sumiram da mesa petista foram parar na cesta dos adversários. O número de eleitores indecisos aumentou -de 5% para 7%-, quando seria mais esperado agora que diminuísse.

Parece óbvio que o desgaste de Dilma está relacionado ao escândalo envolvendo Erenice Guerra na Casa Civil ou, ainda, ao acúmulo de notícias negativas que rondam sua campanha desde que veio à tona a violação dos sigilos na Receita. Ou seja, uma franja do eleitorado de Dilma quer agora "pensar melhor".

Outra parte, ao que parece, "marinou". A marolinha verde, em curso desde pelo menos a semana passada, é o segundo fenômeno importante dessa reta de chegada. Depois de permanecer estacionada por muito tempo, Marina Silva passou de 11% para 14% em menos de 15 dias. É ela -e não Serra, estável nos 28%- quem tira votos de Dilma.

Isso reforça a percepção de que, além do apelo ambiental, a candidatura Marina representa também uma espécie de reserva ética, capaz de atrair, mais do que o tucano, a insatisfação de setores da esquerda (não só deles) diante dos desmandos cometidos pelo PT ou pelo governo Lula. Há, na ondinha verde, alguma ressaca da maré vermelha.

Faroeste :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau foi chamada de "uma procuradora qualquer" pelo presidente da República, virou "a procuradora do DEM" na guerra da blogosfera e tem sido sistematicamente xingada. Tem razão para estar escandalizada com o nível de agressão e de desdém pela Justiça Eleitoral nesta campanha -que define como "inusitada".

Não satisfeita em ser da "elite branca", Cureau é mulher, loira e de olhos azuis. Por isso, pergunta se a carga contra ela não seria uma mistura explosiva de má-fé com machismo de ocasião e militância disfarçada e raivosa.

Como ela, uma pessoa das leis, se sente no meio desse vale-tudo?

Cureau: "É muito frustrante. A gente tem tradição de respeito às instituições no Brasil, mas, nestas eleições, não vejo isso. O pessoal não só acusa levianamente de partidarismo como ainda faz as maiores ofensas à honra da pessoa".

Na opinião da procuradora, que atuou em várias eleições, isso ocorre em parte pela entrada em cena da internet, que ainda está em estágio de faroeste: "Se, hoje, eu quiser processar alguém que tenha atingido a minha honra, não tenho nem como, porque nem sei quem é. A pessoa se esconde covardemente atrás de um nome fictício".

Como reação, ela lança uma proposta polêmica: "Infelizmente, para permitir a propaganda na internet, a gente vai ter que estabelecer também algum tipo de controle que permita saber quem são as pessoas. As pessoas têm de ser responsabilizadas pelo que fazem".

O presidente Lula fala o que lhe dá na telha, os presidentes do Supremo vivem falando sobre tudo, todo mundo fala o que quer. Por que não a procuradora?

Gostem ou não de Sandra Cureau, justiça seja feita: ela tem coragem e honestidade pessoal de fazer o trabalho dela, dizer o que pensa, defender ideias e instituições. Sem pseudônimos, sem desqualificar e sem agressões.

Sua arma são os princípios.

Sinais de fumaça e planos para segunda-feira:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Enquanto a campanha de Dilma Rousseff (PT) já dispõe de um roteiro para seguir a partir de segunda-feira, no PSDB a visão do dia seguinte às eleições oscila entre o racional e a fé. Analisando as pesquisas, os tucanos julgam ver sinais de que a decisão pode ficar para o segundo turno, hipótese em que alguns fatores poderiam se tornar mais favoráveis a José Serra que atualmente e quem sabe levá-lo a reverter, numa disputa polarizada, o atual favoritismo da candidata petista.

Ao contrário do que se costumava dizer em eleições passadas, o PSDB agora não acha que o segundo turno é uma nova eleição. Nada disso. É a continuação do primeiro. Seria, portanto, a comprovação do acerto da estratégia seguida até agora. Estratégia essa que é reprovada pelos políticos e sustentada pelo pessoal do marketing. O que mudaria para Serra seria a expectativa de arrecadação, que no momento justifica uma campanha acanhada e de pouca visibilidade nas ruas, e a possibilidade do debate direto com Dilma e tempos iguais na propaganda de rádio e televisão.

Os tucanos ficaram bem impressionados com o desempenho de José Serra no debate do último domingo, na TV Record. Se não houve um vencedor declarado, pelo menos desta vez, atacado pelos demais, ele teve a oportunidade de falar mais detalhadamente sobre sua biografia política, o que já fez e o que pretende fazer na vida pública. Isso reforçou no PSDB a crença da superioridade presumida de Serra sobre Dilma nos debates, como afirmavam os tucanos quando seu candidato ainda ocupava o primeiro lugar nas pesquisas.

O debate da Record, ainda entre os tucanos, também foi considerado positivo para Serra porque Dilma teve de falar sobre corrupção durante boa parte de suas intervenções. Respondendo a Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Serra não iria fazer perguntas a Dilma, mas devido as regras do debate teve de questionar obrigatoriamente a candidata do PT. Uma vez. A pergunta que tinha preparado era justamente sobre as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, mas o assunto já fora abordado antes e o tucano preferiu falar sobre outro de seus temas preferidos, as agências reguladoras.

Esses são alguns dos sinais que os tucanos veem indicando fogo ou querem ver nos astros, nem tão distraídos quanto posam. Mas também é fato que há fumaça nas pesquisas. Sondagens de candidatos feitas ontem em Salvador (BA), uma espécie de capital do lulismo do Nordeste, registraram que Marina pode alcançar os 25% dos votos da capital baiana, já bem à frente de Serra - mas a soma dos dois ainda não basta para superar Dilma. O significativo é o provável bom desempenho da candidata verde numa capital lulista por excelência.

Há sinais favoráveis ao PSDB e ao PV no Sul e no Norte, a petista continua bem na região Centro-Oeste e o Nordeste se mantém como a grande fortaleza petista, apesar do registro também de uma pequena oscilação negativa da candidata. Mas o mapa político que começa a ser desenhado é o de um Brasil mais multifacetado, diferente da divisão bicolor de 2006, quando o Sul e o Sudeste, na eleição presidencial, foram coloridos de azul e a outra banda do pais, de vermelho.

No campanha de Dilma e no Palácio do Planalto as oscilações são acompanhadas também com atenção. Ninguém esquece o que ocorreu na campanha da reeleição de Lula, em 2006 - as projeções, com base nas pesquisas, indicavam uma vitória de Lula, no primeiro turno, com uma diferença de praticamente 14 milhões de votos. Abertas as urnas, ela foi de cerca de 6,7 milhões de votos, mais ou menos a metade do que estava previsto. O presidente teve de disputar um segundo turno.

Ganhou fácil, assim como ganhou de José Serra na eleição de 2002. A rigor, a campanha de Dilma Rousseff avalia que a oscilação ocorre dentro da margem de erro, e que no segmento formado por eleitores que ganham até dois salários mínimos (o forte da candidata) não ocorreu mudança alguma. Todo o cuidado é para levar a campanha até domingo sem erros. O crescimento de Marina Silva é acompanhado, mas não é visto como um risco à vitória de Dilma Rousseff. Ela já poderia se considerar a primeira mulher presidente (ou presidenta, como diz a própria candidata) da República Federativa do Brasil.

Na realidade, até os próximos passos de Dilma, a partir do dia 3, já estão sendo planejados pelo comitê eleitoral da candidata. De saída, ela pretende descansar alguns dias. A reta final da campanha tem sido cansativa para a ex-ministra de Lula, como era visível no debate da Record, no domingo.

Descansada, a candidata deve participar do segundo turno das eleições nos Estados, para apoiar candidatos do PT e de partidos aliados que ainda estiverem na disputa. Uma lista a ser selecionada a dedo, depois de apurados os votos para governador.

Os petistas consideram que a transição de governo pode ser feita com mais calma, uma vez que se tratará da montagem de um governo de continuidade. Além disso, já existe um grupo trabalhando para a transição, independentemente de quem for o candidato vencedor no domingo. Ou seja, haveria mais tempo para Dilma pensar na escalação do ministério com menos atropelos do que o presidente Lula teve em 2002.

Na época, como se recorda, o PMDB chegou a ser convidado a participar do governo; ficou de fora à última hora. Hoje, o PMDB faz parte da chapa vencedora, tem o candidato a vice-presidente da República e terá peças importantes no próximo governo, se Dilma efetivamente for eleita. Talvez não tão importantes quanto imagina, porque antes mesmo de ganhar a eleição o PT já discute se os pemedebistas devem permanecer com os mesmos ministérios que detêm atualmente.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras