Anistia é afronta à democracia e à Constituição
Por Correio Braziliense
Não há justificativas jurídicas ou morais
para que o Congresso Nacional se disponha a absolver aqueles que atentaram
contra as instituições em 8 de janeiro de 2023
A proposta de anistia costurada por partidos
aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso, antes mesmo da conclusão
de seu julgamento e dos demais acusados de encabeçarem a tentativa de golpe,
representa uma afronta direta à Constituição e um desrespeito à democracia. Não
há justificativas jurídicas ou morais para que o Congresso Nacional se disponha
a absolver aqueles que atentaram contra as instituições em 8 de janeiro de
2023, quando os palácios da Praça dos Três Poderes foram invadidos e
depredados.
A única explicação possível é de ordem política: a extrema-direita busca blindar seu líder e transformar os golpistas em mártires de uma causa autoritária. É preciso dizer: não há paralelo entre essa tentativa e as anistias anteriores. Em 1979, por exemplo, a Lei da Anistia foi parte de um processo de abertura que visava restaurar a vida democrática, permitir a volta de exilados e perseguidos políticos. Ainda que controversa, por também incluir agentes do regime responsáveis por torturas, assassinatos e "desaparecimentos", aquela anistia tinha como horizonte a reconstrução da democracia. A que se pretende agora vai no sentido inverso: não repara injustiças, mas consagra um atentado sem precedentes contra a ordem constitucional desde a redemocratização do país, com a eleição de Tancredo Neves à Presidência.