terça-feira, 26 de agosto de 2025

O quadro geral dos atingidos, por Míriam Leitão

O Globo

Balanço mostra que oito mil empresas foram afetadas pelo tarifaço. Há boa notícia sobre castanha no Acre e preocupação com setor de máquinas e equipamentos

O número final ainda está sendo refinado, mas em torno de oito mil empresas foram atingidas pelo tarifaço de Donald Trump. Esta crise afeta as empresas de forma diferente e, por isto, a ajuda do governo foi formatada para socorrer mais quem teve prejuízo maior. O economista Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que até o dia 8 todos os sistemas de financiamentos estarão prontos e espera para a segunda quinzena as primeiras liberações de crédito.

Há produtos que são facilmente realocados em outros mercados. O presidente Lula foi ao Acre visitar produtores de castanha que vendem para os Estados Unidos e lá ouviu o seguinte: “presidente, já está resolvido o nosso caso, a gente conseguiu outros compradores”. São bens com demanda global, como café e castanha, ou que podem ser vendidos no mercado interno.

Tarcísio, Bolsonaro, Churchill e o fascismo, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Valdemar Costa Neto quer filiar o governador de São Paulo ao PL

“Tarcísio já me disse que se for candidato irá para o PL”. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, se vira nos 30 para manter a lealdade a Jair Bolsonaro sem perder o bonde da história. No evento desta segunda, promovido pelo grupo Esfera em São Paulo, foi o símbolo da barata voa do bolsonarismo. “Estaríamos mortos se [Donald] Trump não tivesse sido eleito. E agora ele, Trump, é a única saída que temos”. Só quando foi indagado se a ação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA tinha apoio do partido, reconheceu que seu correligionário “faz as coisas por conta própria”.

Costa Neto está prestes a perder o pote de ouro que a filiação do ex-presidente lhe deu em 2022, quando o PL elegeu a maior bancada na Câmara dos Deputados e recebeu a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral. Falou da esperança numa candidatura Bolsonaro e depois nem ele mesmo parecia acreditar no que acabara de dizer. Tinha diante de si um auditório que, minutos antes, havia interrompido o discurso do governador Tarcísio de Freitas três vezes com aplausos.

O crucial e o terrível no debate dos juros, por Pedro Cafardo

Valor Econômico

Quinze dias atrás, sugerimos aqui que a discussão do tarifaço não pode silenciar o debate do problema dos juros, que continuam absurdamente altos no país apesar da inflação em queda. Em nome da coerência, então, seguem dois comentários sobre a proposta que a coluna apresentou, feita pelo professor da UnB José Luis Oreiro a pedido da Comissão de Debates e Estudos Estratégicos da Câmara. O economista sugeriu uma reforma na arquitetura institucional da condução da política monetária no país.

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista que dispensa apresentações, entende que a coluna tratou de “questões cruciais” e fez as observações abaixo sobre câmbio-juros na configuração da política monetária.

As condições monetárias nos países desenvolvidos - particularmente nos EUA, o gestor da moeda de reserva - determinam o volume de capitais que procuram os mercados emergentes. Às políticas econômicas “internas” cabe o papel de buscar relações entre câmbio e juros atraentes para os capitais em movimento.

Ganho de Lula tende a arrefecer em 2026, por Christopher Garman

Valor Econômico

Politicamente, o que mais fará diferença para o governo Lula é um cenário externo que facilite uma queda dos preços domésticos, particularmente de alimentos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz pronunciamento em rede nacional de rádio e TV (17/07) sobre o "tarifaço" de Trump — Foto: Reprodução

O Palácio do Planalto tem visto a tarifa imposta pela Casa Branca sobre as exportações brasileiras como uma excelente oportunidade política. Evidentemente, há preocupações com as consequências econômicas de um acirramento do conflito entre Brasil e EUA, mas já está claro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem colhido benefícios junto à opinião pública.

AtlasIntel e Genial Quaest já registraram uma alta de três a cinco pontos percentuais na aprovação do presidente Lula (de 45% para 50%, e de 40% para 43%, respectivamente). Esse movimento pode ser parcialmente explicado pela queda na inflação dos alimentos — mas, principalmente, pelo embate com o governo de Donald Trump. O fenômeno tem precedentes: as aprovações dos governos do Canadá e do México subiram depois que Trump elevou as tarifas sobre ambos; alguns países da Europa viveram situações semelhantes. Tanto lá fora quanto aqui, eleitores veem as medidas norte-americanas como injustas, o que acaba inflando o nacionalismo contra uma ameaça externa.

Chama o Centrão! Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Dino acerta no conteúdo, mas joga o Centrão contra o governo, no IR e na CPMI

Fundamental na disputa acirrada entre os dois lados da polarização nacional, o Centrão se descola aos poucos de Jair Bolsonaro, mas não na direção de Lula. Fica a meio caminho, com seus partidos e líderes divididos, uns observando, outros para lá ou para cá e vários já torcendo por Tarcísio de Freitas em 2026.

O grande teste para a articulação política de Lula e para se saber qual a tendência majoritária do Centrão será nesta última semana do Congresso, antes do julgamento de Bolsonaro no STF pela trama do golpe de Estado. No foco, duas pautas essenciais para o governo: a CPMI do INSS e a isenção do IR até R$ 5 mil de renda.

Exercícios de poder, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Hugo Motta, ex-presidente em atividade, quer unir a Câmara. Melhor ser expresidente em atividade – servindo à manipulação dos liras – que ex-presidente apenas, devolvido à condição essencial de vereador federal. Adie-se ao máximo o reencontro com a natureza. O Hugo Motta de Ciro Nogueira não quer voltar a ser Hugo Motta somente. Não tão depressa.

Recorrerá para tanto a uma pauta corporativista – corporativista sendo a razão de seu mandato à frente da casa do povo: garantir os bilhões em fundos orçamentários cuja propriedade, na forma de emendas, o Legislativo converteu em direito adquirido.

A reprodução da desigualdade, por Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

Estamos empobrecendo em relação ao resto do mundo e tendo a renda mais concentrada. É uma combinação inquietante

De tão persistentes, nossos dilemas sociais, econômicos e políticos não mais enternecem parte dos brasileiros, conformada com situações que, embora anormais, passou a considerar naturais. Mas certas questões deveriam nos comover.

Coautor, com Fillipi Nascimento, do livro A Loteria do Nascimento (Editora Jandaíra), lançado na semana passada, o economista e pesquisador do Insper Michael França concluiu, por exemplo, que, ao contrário da ideia predominante de que as desigualdades resultam basicamente de um sistema educacional de baixa qualidade, as condições de nascimento afetam mais a vida das pessoas.

A moderna Doutrina Monroe, por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

O intervencionismo norte-americano na América Latina começa a submeter os países a pressões que violam sua soberania

Está em execução a estratégia do governo Trump para a América Latina anunciada, em termos genéricos, pelo secretário de Defesa como o “quintal” dos EUA, onde “os países deverão optar entre os EUA e a China”, como afirmou o presidente norte-americano.

Ao lado da firme oposição aos governos de esquerda no hemisfério (Cuba, Venezuela, Nicarágua, Colômbia, Chile e Brasil), o Departamento de Estado, chefiado por Marco Rubio, senador da Flórida, ultraconservador e primeira geração de cubanos que saíram de Cuba, está tomando medidas concretas para fortalecer os governos de direita (El Salvador, Paraguai, Argentina e agora a Bolívia) e tentar reverter a tendência pendular de governos de esquerda na região para influir nas eleições para eleger governos alinhados às políticas de Washington, “para construir um hemisfério mais seguro, mais forte e mais próspero”.

Trump sugere que americanos talvez gostem de "um ditador"

Por Correio Braziliense

Antes de ganhar seu segundo mandato, o magnata republicano havia antecipado que seria um "ditador desde o dia um"

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que talvez os americanos gostassem de ter um ditador, após assinar ordens que endurecem a repressão federal em Washington e permitem processar quem queimar a bandeira do país. Em um evento de mais de uma hora no Salão Oval, o republicano reclamou que nem a mídia nem seus críticos lhe reconhecem mérito suficiente por sua ofensiva contra o crime e a imigração, agora apoiada pela Guarda Nacional.

"Eles dizem: 'Não precisamos dele. Liberdade, liberdade. É um ditador. É um ditador'. (Mas) muita gente diz: 'Talvez gostemos de um ditador'", comentou Trump à imprensa. Em seguida, moderou suas palavras: "Não gosto de ditadores. Não sou um ditador. Sou um homem com grande senso comum e uma pessoa inteligente". Antes de ganhar seu segundo mandato, o magnata republicano havia antecipado que seria um "ditador desde o dia um".

Os inconformados se mudam, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Se abandonarem a CPI mista do INSS, governistas entregarão o governo às fabulações bolsonaristas

Senadores experientes estão inconformados com a rasteira da oposição na perda do comando da CPI mista do INSS e por isso querem deixar a comissão.

Demonstram aí que não sabem brincar e, assim, não deveriam descer ao play, como reza um dito para mau perdedor. O governo está mal-arranjado com aliados desse tipo, que o deixam na mão na hora da adversidade.

Não querem compactuar com o que veem como jogo de cartas marcadas para atribuir ao Planalto a responsabilidade pelas fraudes. Esta, realmente, é a ideia dos oposicionistas, que se ficarem livres para agir alcançarão o intento.

É possível uma direita não bolsonarista? Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Sonhar é fácil; a realidade da opinião pública é que se mostra mais inflexível

Na corrida presidencial de 2026, o momento não parece muito bom para a direita. Lula, que estava nas cordas na primeira metade do ano, voltou ao jogo.

Já Bolsonaro está especialmente tóxico. Seus filhos xingam os governadores —a melhor chance de anistiar seu pai—, que precisam engolir cada insulto calados, receosos de perder o apoio de Jair. Ao mesmo tempo, para conseguir essa benção, cada um deles precisa prometer a anistia caso seja eleito. Ocorre que uma maioria do eleitorado diz que não votará em quem prometer a anistia. Some-se a isso a rejeição a Bolsonaro, que tende a aumentar caso Trump escale as punições ao Brasil —coisa que Eduardo Bolsonaro promete e celebra.

Tudo isso é verdade e pesa sobre os presidenciáveis de direita. E, no entanto, mesmo assim, outro dado se impõe: sem o apoio de Bolsonaro, nenhum deles irá para o segundo turno. A conclusão, assim, é que aceitar essas e outras indignidades é o preço para se ter alguma chance de vencer a eleição em 2026. Ou será que não?

Evangélicos abandonam Malafaia? Por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

Deputado da Assembleia de Deus defende Alexandre de Moraes e diz que pastor bolsonarista deseja ser preso

Está em curso uma disputa sucessória para substituir o pastor Silas Malafaia como a voz e a consciência política dos evangélicos? Um outro pastor de direita o criticou publicamente por se apresentar como alguém perseguido por suas crenças.

Após depor na Polícia Federal, Malafaia voltou a chamar o ministro Alexandre de Moraes de ditador e insistiu que não teme ser preso. Convidado para repercutir o caso, o deputado federal Otoni de Paula, que é pastor da Assembleia de Deus, defendeu que o ministro do STF pode ser criticado, mas não por atacar uma religião.

A liquidação de Cláudio Castro, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Para prover a caixinha da campanha ao Senado, governador quer negociar até o terreno onde fica a delegacia do Leblon

Em 2021, o ex-ministro Paulo Guedes planejou arrecadar R$ 110 bilhões com leilões de imóveis. Um feirão de oportunidades, do tipo "o gerente enlouqueceu", com 55 mil prédios, tudo realizado 100% online e com a rapidez de quem rouba. Estávamos na época – lembram-se? – de passar a boiada. Apenas no Rio cerca de 2.000 propriedades do funcionalismo federal, entre as quais o Palácio Capanema, foram liberadas para imediata alienação. O objetivo era claro: prover a caixinha da campanha à reeleição de Bolsonaro.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ferrogrão precisa sair do papel

O Globo

Preocupação ambiental é pertinente, mas país não pode abrir mão de ampliar escoamento da produção

O Brasil deverá fechar o ano com nova safra recorde de grãos. Confirmada a estimativa, a produção crescerá 16% e atingirá 340,5 milhões de toneladas. Maior produtor nacional, Mato Grosso é o dínamo do setor. Se fosse um país, seria o quarto no ranking global de soja e algodão. Da porteira para dentro, reinam empreendedorismo e tecnologia. Mas falta transporte eficiente para escoar a produção. A maior parte dos grãos mato-grossenses é exportada por portos do Sudeste e do Sul. Para mudar essa situação, o governo federal deveria acelerar a concessão da Ferrogrão, ferrovia com quase mil quilômetros entre Sinop (MT) e Itaituba (PA). A ideia é construir a estrada de ferro ao lado da rodovia BR-163, já existente. Previsto no Novo PAC, o projeto está parado.

Lançado em 2012, ele tem sido pródigo em atrasos. A primeira versão do estudo de viabilidade foi apresentada em 2015. Houve quatro atualizações até o material ser enviado para a análise do Tribunal de Contas da União (TCU) em 2020, ano em que teve início o processo de licenciamento ambiental. Depois de questionamento do PSOL sobre a destinação de parte do Parque Nacional do Jamanxim (PA) à obra, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu tudo em 2021, para em seguida autorizar a retomada de estudos. De forma didática, a Ferrogrão ilustra a dificuldade de tirar do papel obras de infraestrutura no Brasil.

Brasil: da herança colonial à transformação necessária, por Cláudio Carraly*

"A história não se repete, mas rima" - dizia Mark Twain. No Brasil, ela ecoa por séculos. Quando um jovem negro tem 2,5 vezes mais chances de ser assassinado que um jovem branco, quando 1% dos proprietários rurais detém metade das terras cultiváveis, quando 33 milhões passam fome num dos maiores exportadores de alimentos do mundo, não são coincidências. São cicatrizes vivas de escolhas históricas que se perpetuam porque alguém se beneficia delas.

Em 1888, a abolição da escravidão fez os ex-proprietários perderem patrimônio equivalente a duas vezes o PIB da época. Essa elite não "aceitou" a mudança, se reorganizou. A Lei de Terras de 1850 garantira que só quem tinha dinheiro comprasse terras. Imigrantes europeus vieram com subsídios estatais. Aos ex-escravizados sobrou a "liberdade" de morrer de fome ou aceitar trabalhos insalubres e com remuneração degradante. Não foi acaso. Foi projeto.

Poesia | O Constante Diálogo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Trio Amadeus à Luz de Velas - Céu de Santo Amaro (J.S. Bach, Flávio Venturini)