sexta-feira, 20 de julho de 2012

Procriação:: Dora Kramer

Tomando emprestada uma frase escrita por Marcelo Tas outro dia no Twitter, constatemos a evidência: o problema não é o número de partidos existentes no Brasil, mas o fato de que nenhum deles é de verdade. Não se prestam à representação de correntes de pensamento nem à defesa de causas ou à disseminação de ideais presentes na sociedade e, por isso, não se pode dizer que sejam fracos. Simplesmente inexistem e, no entanto, proliferam-se. Há um mês o Tribunal Superior Eleitoral concedeu registro à 30.ª agremiação partidária brasileira, o Partido Ecológico Nacional (PEN), cujo presidente é um ex-deputado estadual de São Paulo eleito com ínfimos votos pelo Prona. Ele se apresenta sem uma única ideia na cabeça, mas com um plano muito objetivo nas mãos: filiar algo em torno de 30 deputados estaduais, a fim de ampliar seus domínios já fincados no Acre, na Paraíba – onde o PEN já filiou os presidentes das Assembleias Legislativas – e no Distrito Federal.

O referido dirigente, Adilson Barroso, rejeita “radicalismos”. Não explica que tipo de concepção enquadraria no conceito e diz que definirá “depois” se o partido é governista ou oposicionista. Por via das dúvidas, trata logo de elogiar a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin.

Por enquanto, encerra a fase de caça a políticos com mandato um tanto decepcionado por ter conseguido a adesão de apenas um (o tucano Fernando Francischini) dos 12 deputados federais "comprometidos" com ele. Por compromisso entenda-se a chance de trocar de partido sem o risco da perda do mandato. Mas, lamenta o presidente, infelizmente ele não é "prefeito de uma grande cidade" e não conseguiu arregimentar correligionários da proporção de um Gilberto Kassab e seu PSD de cerca de 50 deputados. Persistente, Barroso irá atrás de Marina Silva na esperança de que a ex-ministra do Meio Ambiente sirva de adereço verde à denominação ecológica da nova legenda. Um "sonhático".

Nessa altura o leitor pode estar se perguntando por qual razão perde-se tempo aqui com o PEN. Não é perda de tempo. É ganho de informação sobre o que se passa no quadro partidário do país, cuja desqualificação recebeu gentil contribuição da Justiça quando da concessão ao PSD de tempo de televisão e acesso ao fundo partidário, contrariando a letra da lei. Tanto a legislação eleitoral quanto a que regula o fundo dizem que os benefícios são devidos a partidos conforme o tamanho das bancadas conquistadas na última eleição.

O PSD não atendia a esse pressuposto, pois não existia em 2010. Ainda assim, ganhou por alegada imposição da "realidade".

Realidade esta que acabará se impondo como incentivo à procriação quantitativa de partidos sem a necessária correspondência qualitativa.

Bem bom. A partir de agosto, o Congresso Nacional viverá um período ao qual em anos eleitorais se dá o nome de "recesso branco". Um apelido ameno para justificar o injustificável esvaziamento da Câmara e do Senado sob a alegação de que suas excelências precisam se dedicar às campanhas, sejam as próprias ou de outrem, como é o caso da maioria agora nas eleições para prefeitos e vereadores.

Alguns senadores e deputados são candidatos a prefeituras. Segundo levantamento da Folha de S. Paulo, neste ano o índice baixou da média habitual de 18% para algo em torno de 12% – 64 deputados e cinco senadores concorrerão.

Na confortável condição de não sofrerem prejuízo algum: se eleitos, muito bem; se não, ótimo também, pois terão renovado sua exposição junto aos eleitores, facilitando a reeleição ou candidaturas a senador ou a governador daqui a dois anos.

Isso sem contar que continuam recebendo seus salários – assim como os outros que se ausentam por um semestre do Parlamento para "ajudar" na movimentação das bases – e na plena posse dos demais benefícios. Mesmo sem trabalhar nem ao menos ao ritmo da diminuta semana parlamentar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Afogados no tsunami econômico :: Roberto Freire

Em 2008, era "apenas uma marolinha". O governo Lula abriu as arcas e inundou o mercado interno com crédito farto, diminuiu impostos de itens de consumo e conseguiu recuperar o crescimento do PIB em 2010, já que em 2009 houve retração de 0,2%. Foi o "milagre" do ano eleitoral que deixou pesada herança maldita para o governo Dilma.

Como o crescimento de 2010 foi baseado apenas em consumo e medidas anticíclicas, sem nenhuma reforma estrutural ou incremento nos investimentos, o fôlego da economia esgotou-se com restos a pagar infinitos e perda de capacidade de investimento do Estado. Crescemos em 2011 apenas 2,7%, um desastre comparado aos 7,5% do ano anterior.

O governo Dilma creditou o baixo crescimento à crise internacional, recrudescida pela questão das dívidas soberanas de Grécia, Espanha e Itália. E manteve o discurso de que cresceríamos pelo menos 4,5% em 2012 e, pasmem, 5,5% em 2013. Esses números constam da Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovadas esta semana pelo Congresso.

Contudo, a realidade se impôs. Segundo estimativas do Banco Central, a economia crescerá somente 1,9% esse ano. A presidente Dilma, que cantou em prosa e verso o crescimento do PIB quando lhe era favorável, agora diz que o PIB não é importante, que "uma nação se deve medir pelo que faz pelas suas crianças e por seus jovens". Se essa for a régua, estamos ainda pior.

Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa, 38% dos estudantes do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, são analfabetos funcionais. Isso entre os privilegiados que alcançaram o ensino superior. Pior ainda: o número de mortes de crianças e adolescentes no país cresceu em 30 anos mais de 340%. Uma verdadeira tragédia social.

Para coroar nossa desmantelo anunciado, a desindustrialização instala-se no país, silenciosa e intermitentemente. Há muito que a oposição coloca essa questão, mas o governo ao invés de enfrentar o problema com medidas estruturadoras e de longo prazo, sempre buscou o atalho de medidas contingenciais. A produção industrial brasileira, medida pelo IBGE, tem caído continuamente desde outubro de 2010, recuando 4,3% em maio/12 em relação a maio/11. Acumula perda de 3,4% no ano e e idêntica a de agosto de 2007. Perdemos cinco anos de produção industrial. Isso é escandaloso e o governo Dilma oferece respostas pífias e desconexas. Segundo a Fiesp, a indústria paulista deverá fechar o ano com 100 mil empregos a menos.

Menos emprego, menos consumo, menos produção industrial, instaura-se, assim, um ciclo vicioso na economia que poderia ter sido revertido com reformas estruturais e investimentos. Mas o governo Lula-Dilma preferiu simplesmente adotar medidas populistas de expansão de crédito e consumo, sem lastro efetivo. O governo nada fez enquanto via o tsunami se formar no horizonte e não foi por falta de crítica e aviso das oposições vigilantes. Quantos ainda se afogarão na irresponsabilidade do governo Lula e incompetência do governo Dilma?

Presidente do PPS e deputado federal (SP)

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Quarenta por cento :: Rogério L. F. Werneck

No dia 7 de agosto, a presidente Dilma Rousseff cruzará a linha dos 40% de seu mandato. Dos 48 meses, 19 já se terão passado. E a verdade é que, por enquanto, os resultados ficaram muito aquém do que o governo esperava. Mas ainda há tempo para mudanças. A dúvida é se o governo conseguirá perceber que a insistência no curso atual só pode redundar em fiasco.

O desempenho da economia mostra-se cada vez mais decepcionante. Tendo crescido apenas 2,7% em 2011, o PIB deverá mostrar expansão de menos de 2% em 2012. É bem possível que, afinal, a inflação deste ano fique próxima da meta. Mas, no caso, o elogio que cabe ao Banco Central é o mesmo que poderia ser feito a um jogador de sinuca que, tendo dado uma tacada forte, sem conseguir matar a bola na caçapa "cantada", se regozija por vê-la bater nas tabelas laterais e, lentamente, escorrer para dentro de outra caçapa, do lado oposto da mesa. A arte estava em trazer a inflação para o centro da meta com a economia crescendo a uma taxa razoável. E não a menos de 2% ao ano.

A incerteza externa, em boa parte advinda da apreensão com o desfecho do imbróglio europeu, tem contribuído para a desaceleração do crescimento. Mas basta comparar o desempenho brasileiro com os de outras economias congêneres para constatar que, além do ambiente externo adverso, há um forte componente específico, verde-amarelo, por trás das dificuldades locais.

É bem provável que, na esteira dos muitos estímulos à demanda deflagrados desde o ano passado, a economia se recupere nos próximos meses e termine o ano crescendo a uma taxa anualizada razoável, ainda que mais baixa que o governo antevê.

O problema é a indústria. Acumulam-se as evidências de que a falta de dinamismo da indústria não será resolvida com novos estímulos à demanda agregada, não importa quão fortes sejam. Muito pelo contrário, tudo indica que tais estímulos - num quadro de mercado de trabalho aquecido - estão, de fato, agravando as dificuldades da indústria, como bem arguem, em artigo recente, Affonso Pastore, Marcelo Gazzano e Maria Cristina Pinotti.

Exposta à concorrência externa, a indústria vem vendo sua competitividade estrangulada, pouco a pouco, pelo aumento do custo Brasil. Especialmente, pela elevação sem fim da carga tributária. E aqui, sim, o governo poderia fazer muita diferença. Mas, por enquanto, não tem feito. Por pelo menos duas razões. A primeira é que um programa de redução efetiva e substancial de carga tributária seria incompatível com um ponto central e inegociável do projeto político do governo, que é a manutenção da rápida expansão do dispêndio público. É por isso que a desoneração fiscal que vem sendo feita - além de discricionária e baseada em injustificável reintrodução da tributação sobre faturamento - é tão acanhada.

A segunda razão é que o governo se tem mostrado incapaz de promover a recuperação do investimento público, essencial para a redução do custo Brasil. Muito se tem dito sobre a insolúvel paralisia dos programas de investimento do governo. Mas talvez já seja hora de adicionar às explicações usuais as deficiências que decorrem do estilo peculiar com que a presidente exerce suas funções administrativas, não obstante toda a mitologia que se construiu em torno de seus supostos talentos nessa área.

Sobram evidências de que a presidente Dilma Rousseff tem cometido erros sérios na seleção de auxiliares importantes, mostra propensão desmesurada à centralização e considera eficaz manter os escalões mais altos do governo aterrorizados com a possibilidade de desgostá-la por qualquer razão. Não é preciso ser um guru da administração para constatar o óbvio. A persistência dessas práticas na cúpula do governo constitui enorme empecilho à boa gestão das políticas públicas e ao bom andamento dos programas de investimento público.

Reconhecer as deficiências e ter disposição para mudar é a parte mais difícil. Mas o certo é que o governo precisa corrigir o curso. Passados os próximos 19 meses, Dilma se verá na cabeceira da pista da sucessão presidencial.

Rogério Furkim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

A segunda "virada" do governo Dilma:: Claudia Safatle

A presidente Dilma Rousseff pretende dar a "segunda virada" em seu governo no mês de agosto, quando anuncia um pacote de medidas com a redução do preço da energia para o setor produtivo, as concessões de ferrovias, portos, rodovias e aeroportos, a renovação das concessões de energia e a simplificação do PIS/Cofins, entre outras medidas.

A "primeira grande virada" foi exatamente há um ano, em agosto de 2011, quando o Banco Central vislumbrou uma ampla janela na cena internacional e doméstica para cortar a taxa básica de juros (Selic). Foram vários os fins de semana entre julho e agosto que o presidente do BC, Alexandre Tombini, passou ao telefone, conversando com dirigentes dos bancos centrais do mundo para tomar pulso da dimensão da crise que se avizinhava. Geralmente, acompanhado de outros diretores do BC e na casa de um deles. Tombini, na mesma ocasião, foi aos EUA. Nas conversas que teve ouviu uma revisão dramática do crescimento global. Para ele, 9 de agosto foi o divisor de águas. Nesse dia o Fed anunciou o adiamento de um eventual aumento da taxa de juros de 2013 para 2014.

Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 31 de agosto de 2011 a direção do BC surpreendeu a todos com um corte de 0,5 ponto percentual, levando a Selic para 12% ao ano. Tombini via o que quase ninguém ainda via: a crise externa derrubaria as economias maduras por um bom tempo. Isso representaria uma "overdose" de restrição ao crescimento da economia brasileira, que já estava sob um aperto monetário desde dezembro de 2010. Não cortar os juros ali jogaria o Brasil numa recessão.

A primeira foi a queda dos juros em agosto de 2011

Naquele momento, Dilma teria lhe passado uma mensagem de tranquilidade: se o BC tiver que subir os juros mais adiante, que suba. Ele não é escravo de nenhum compromisso, conta um assessor muito próximo da presidente.

De lá para cá, os juros básicos foram desbastados em 4,5 pontos percentuais e a taxa se encontra em 8% ao ano - o patamar mais baixo de toda a história do Copom, criado em 1996.

Hoje a discussão no mercado financeiro é sobre a extensão do ciclo de afrouxamento monetário. A maioria não alimenta dúvida sobre mais uma queda para 7,5% ao ano, na reunião de agosto do Copom. Mas não está claro se o BC vai parar aí, se cortará mais em outubro ou se diminuirá o tamanho da redução para 0,25 ponto percentual para, então, interromper o ciclo.

Na ata divulgada ontem há pelo menos três sutis - mas importantes - mudanças de linguagem em relação à ata de maio. O comitê fala em "recuo" na probabilidade de eventos extremos nos mercados internacionais; troca "contenção" fiscal por uma política de "neutralidade" do gasto público; e considera "significativo" o risco de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade.

O comitê, portanto, mostra um mundo que poderá ou não permitir cortes adicionais ao que eventualmente ocorrerá em agosto e dá sinais de que vê o mercado pessimista com a atividade econômica. Mas não amarra as suas mãos.

O BC, atualmente, está atento ao que pode ocorrer nessa nova realidade do país, pós-corte dos juros. "É um mundo novo para todos. Temos que ter cuidado, porque é outro gerenciamento de risco. Aumenta a vontade de se atirar em ativos mais arriscados", alertou uma fonte qualificada da área econômica.

Dessa forma, foi a "revolução" promovida no custo do dinheiro que a presidente considera a primeira grande "virada" do seu governo, no ano passado, e não a queda do então chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, ou a limpeza feita nos focos de corrupção em seu ministério.

Em março deste ano Dilma fez a primeira reunião com um grupo de grandes empresários privados para avaliar as razões da postergação de investimentos. Deles ouviu várias reclamações, dentre elas o pesado custo da energia, a apreciação demasiada da taxa de câmbio, os onerosos encargos trabalhistas, a péssima infraestrutura e a ainda alta taxa de juros.

No segundo encontro, em maio, ela pode apresentar a essa mesma plateia alguns avanços: com a intervenção do BC o câmbio já estava mais desvalorizado, os juros continuavam em queda e o governo encaminhava as desonerações da folha de salários, reduzindo os encargos trabalhistas para mais setores empresariais. No dia seguinte a essa reunião, a presidente aprovou a esperada e temida mudança na regra de remuneração da caderneta de poupança, para que o Copom pudesse prosseguir no corte da Selic.

Também em maio Dilma foi informada de que o país não cresceria nem 3% este ano e que os investimentos - tanto públicos quanto privados - não andavam. Foi quando decidiu renovar a agenda do governo para a economia e adotou o lema - "vamos fazer o que tem que ser feito", conta uma fonte qualificada.

Desde então, trabalha-se no pacote de agosto, com foco no papel indutor do Estado para atrair o investimento privado. O bloco de concessões, por exemplo, será colocado na mesa como um plano de desenvolvimento da logística que faça nexo, envolvendo portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.

A redução dos tributos federais sobre a energia, o corte de encargos e a rodada de concessões vão reduzir algo entre 10 % e 20% o preço desse insumo para a indústria. Os encargos que oneram a fatura, como a Conta de Consumo de Combustível (CCC), Conta de Resultados a Compensar (CRC) e Luz para Todos, dentre outros, serão transferidos da tarifa de energia para o Tesouro Nacional. Como são subsídios e políticas sociais, serão alojados no Orçamento da União. O consumidor deixará de pagá-los na conta mensal de energia mas, como contribuinte, assumirá a despesa do Tesouro.

Dilma aprovou as ações de incentivo ao consumo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, como medida emergencial à mão para reativar a economia. Mas quer de fato é "desencantar" o investimento, sem qualquer preconceito. E não será surpresa se anunciar alguma reforma estrutural.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Sempre às quintas:: Míriam Leitão

Acontece só a cada 45 dias, mas não é fácil. Jornalista de economia tem que atravessar 77 parágrafos da ata do Copom para contar para os leitores o que o Banco Central está pensando. Nesta 168ª ata, ele informou que os juros vão continuar caindo; há possibilidade de recuperação da economia no segundo semestre. Que o mundo está crescendo menos do que se esperava e que a situação continua feia lá fora.

É sempre às quintas-feiras a divulgação da ata, uma semana depois da reunião. Eles dizem o que acham no dialeto deles e o mais interessante sempre está nas entrelinhas, nas palavras suprimidas ou aparecidas. Os fluentes em "coponês" vão com lupa à cata de cada sinal. A palavra "parcimônia" está lá de novo no parágrafo 35. O BC tem dito que os juros vão continuar a cair, mas "com parcimônia".

Há outros dados justificando a queda. Por exemplo: "a taxa de crescimento acumulada em quatro trimestres recuou para 1,9%, ratificando a visão de que a economia tem crescido abaixo do seu potencial". Já o IBC-Br, um índice desenvolvido por eles para medir o ritmo da economia, mostra um número ainda pior: 1,7% em doze meses. O país cresce pouco.

A leitura da ata do Copom é um exercício de paciência e descoberta de palavras- chave que vão mostrando o cenário econômico na visão do Banco Central. Vocês podem perguntar: para que tudo isso?

Houve um tempo em que a taxa de juros era decidida de forma improvisada, ninguém sabia o que pensava o Banco Central e quem tivesse um amigo lá poderia se dar muito bem. Foi na era da inflação louca. Depois, veio o período do câmbio quase fixo que amansou a taxa. Em 1999, o país adotou o atual sistema que inclui atas e relatórios.

Primeiro com a ajuda da política cambial, depois com as metas de inflação, o Brasil venceu um inimigo persistente. Nos anos 1940, a inflação pulou para dois dígitos e lá ficou por meio século. Só foi derrotada no Plano Real, há 18 anos. Por isso, tem que ficar sendo vigiada.

E é vigiadíssima. Para vocês terem uma ideia, nos três primeiros parágrafos da ata, eles falam das medidas de núcleo de inflação, média de inflação, núcleo por dupla ponderação, médias aparadas, inflação subjacente, preços livres, preços administrados, dos bens comercializados, de serviços, IGP-DI, IPCA, IPC, INCC e IPP/IT. Esse último é o Índice de Preços ao Produtor - Indústria de Transformação. E assim, com a taxa de inflação analisada, esquadrinhada, virada do avesso e radiografada, chegaram os doutores à conclusão de que ela terminará o ano em torno de 4,5% e, com isso, o país completará oito anos de cumprimento da meta. Claro, no ano passado, passou raspando na cerca com um quase gol de mão: adiamento da elevação dos impostos sobre cigarro e do reajuste dos preços da gasolina. Aliás, o BC disse que continua prevendo 0% de elevação do preço do combustível, apesar do rufar de tambores da Petrobras.

Com a inflação em declínio, melhoram as expectativas dos agentes, informa o Banco Central. Acontece assim: quando a taxa cai, há mais renda disponível, o que eleva o consumo.

No mundo, o Copom viu "incerteza acima do usual". Conta que piorou a situação desde a última reunião, um mês e meio atrás. Vê "riscos elevados para a estabilidade financeira global". O mundo vai crescer menos do que se imaginava, avisa. Um dos números: o PIB do primeiro trimestre dos Estados Unidos indica um crescimento de 1,9%; no último trimestre do ano passado, estava a 3%. Mas informa que não "contempla a ocorrência de eventos extremos no mercado financeiro internacional". Menos mal, mas com o mundo assim, o Brasil é afetado pela queda do investimento e do comércio.

O Copom disse que todos os países estão baixando juros, ou melhor, que a "política monetária é expansionista". A China, inclusive, cortou duas vezes os juros nos últimos dois meses.

As commodities estão com queda de preço. As metálicas caíram 26,2% em 12 meses e as agrícolas, 12,5%. E isso com quebra de safra de soja e de milho. A notícia pode ser boa, porque derruba a inflação. "Mantém o viés desinflacionário". Mas tem uma complicação: derruba o saldo comercial. Ele caiu US$ 4 bilhões de um mês para o outro. Isso não chega a preocupar um país que tem US$ 373 bilhões de reservas, US$ 21 bilhões a mais do que em dezembro.

Segundo o comitê: "a demanda doméstica continuará robusta". Ou seja, os brasileiros manterão o ritmo de compras, porque apesar de a indústria estar em queda e a economia crescendo menos, o mercado de trabalho vai bem e o crédito ajuda na compra nossa de cada dia. Sempre que fala de crédito, o BC diz que a expansão está sendo "moderada". Cresceu 18% nos últimos 12 meses.

Tem um recadinho lá para a Fazenda. "O comitê considera oportunas iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio das operações de crédito". Só pode estar falando da TJLP que caiu, aumentando o subsídio. Tem também um alerta nada simpático contra a "concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade".

No final, eles contam que votaram de forma unânime pela queda dos juros para 8%. São oito os votantes. Todos homens. Essa coluna considera oportuna uma política expansionista da diversidade nesse comitê, mesmo que seja tempestivamente e com parcimônia.

FONTE: O GLOBO

Das imperfeições democráticas na Europa:: Fabiano Santos

As últimas eleições europeias, independentemente da tendência ideológica do partido vitorioso, se liberal ou social democrata, de esquerda ou de direita, trouxeram sempre o mesmo veredicto: a oposição ganha e, por óbvio, o governo perde. Na Dinamarca e na França, a esquerda desbancou governos de inclinação conservadora. Em Portugal, na Espanha, na Grécia e na Inglaterra o contrário ocorreu, a saber, partidos de direita derrotaram governos socialistas, social democratas ou trabalhistas, retornando ao poder, em alguns casos, depois de longo período na oposição. Além disso, na Itália, após a queda do inacreditável Berlusconi e um governo técnico emergencial, a esquerda demonstra boas perspectivas de vitória.

Qual o grande aprendizado a ser extraído do cenário europeu contemporâneo? Existem de fato alguns aspectos positivos a serem ressaltados, aspectos, contudo, incapazes de fazer frente ao grande drama político vivido pelo velho continente.

Entre os aspectos positivos podemos elencar os seguintes: o fato de estarem os países enfrentando profunda crise econômica e seus governos, incapazes de ensejar políticas de elevação do desempenho de indicadores básicos, supostamente aumenta a probabilidade de derrota de tais governantes e a alternância de poder. Nada mais democrático e racional. É de se admirar também o fato de tais mudanças estarem ocorrendo dentro dos marcos do sistema partidário vigente. Até o momento, não há notícia de vitória de partidos radicais, propagandistas de paixões nacionalistas ou xenófobas (com a provável exceção da Hungria).

A União Europeia gera viés contrário à social-democracia

Ademais, onde ocorre realinhamento mais significativo, como, por exemplo, na Grécia, com a aparição da Syriza, a mudança caminha na direção da rearticulação da esquerda organizada politicamente com sua clientela eleitoral por excelência, vale dizer, dos assalariados, desempregados e vítimas em geral do funcionamento do mercado. O velho partido socialista, Pasok, parece a esta altura fadado à marginalização ou à pura e simples extinção.

Por sua vez, na Espanha, em Portugal, na Alemanha e na Inglaterra, os grandes partidos de esquerda passam por profunda reavaliação do legado da terceira via. Esta linha política, adotada inicialmente pelos trabalhistas ingleses sob a liderança de Tony Blair, acabou sendo emulada, logo em seguida, por vários partidos de esquerda no continente. Sua tese fundamental consistia na necessidade de renovação do discurso e da prática da esquerda, necessidade decorrente das alterações na morfologia do capitalismo introduzidas pela globalização. "Renovação" no caso significava a aceitação da premissa básica de funcionamento da ordem social propugnada pelo liberalismo, a saber, que o dinamismo econômico de um país decorreria naturalmente da liberdade e segurança fornecidas pelo governo às empresas e aos investidores, nacionais e multinacionais, para uma eficiente alocação de seus recursos e capacidades. Tamanha guinada no discurso, todavia, não se limitou ao campo da retórica eleitoral, pois no âmbito econômico, sobretudo, políticas no âmbito macro e micro seguiram a linha da rigidez monetária, desregulamentação financeira e alívio das contas nacionais através da redução dos benefícios do welfare.

Difícil dizer se a estratégia da terceira via resultou de uma genuína alteração de crenças, ou do mais desavergonhado e puro cálculo eleitoral, com partidos à esquerda buscando o eleitor de centro, eleitor que cada vez mais se deslocava para o campo liberal. Provavelmente um mix das duas motivações. A verdade é que hoje surge a questão de se saber até que ponto o excesso de moderação não acabou em capitulação e alienação de boa parte de seu eleitorado tradicional. A pergunta é ainda mais relevante quando se nota que tanto a unificação monetária (válida para os casos de Grécia, Itália, Espanha e Portugal), quanto a desregulamentação dos mercados financeiros vem conduzindo a economia destes países ao desastre.

O grande problema político atual da Europa, portanto, e cuja gravidade alternância nenhuma no poder será capaz de equacionar isoladamente, pode ser formulado da seguinte maneira: a União Europeia, dado seu modo de operar, gera claro viés contrario à vigência de políticas de cunho social democrata no âmbito interno dos países. Isto porque a unificação monetária foi feita sem legislação comum de controle dos fluxos financeiros, sem compensações aos países menos competitivos no comercio internacional e, sobretudo, sem que tenha sido criada uma base comum de arrecadação fiscal. Ora, não se trata exatamente de novidade a noção de que sem tributo não há governo, e sem governo não há controle político do mercado - mas não residiria justamente aí o fundamento da social democracia?

A estratégia do recém-eleito presidente da França, o socialista François Hollande, é, por conseguinte, mais do que acertada. Não há possibilidade de alteração significativa no status quo das políticas seguidas pelos principais países da zona do euro, priorizando o crescimento e o emprego, sem que haja uma articulação e coordenação envolvendo vários governos nacionais. Crucial saber, neste sentido, o resultado das próximas eleições italianas e o poder de resistência dos conservadores na Alemanha frente à pressão por mudanças de países tão influentes como França e Itália. Seja como for, a lição que fica para a esquerda é de que extremo cuidado deve cercar decisões envolvendo o tema da integração regional. O problema nacional, assim como a possibilidade de ativismo estatal no campo econômico são paradigmas essenciais tanto para o discurso, quanto para as políticas de quem se define como alternativa aos partidários do livre mercado. Abrir mão destes paradigmas pode significar mais do que simplesmente assistir à queda da social democracia. Pode significar a impossibilidade de efetiva alternância democrática no poder.

Fabiano Santos é cientista político, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Carlos Lyra e Nilze Carvalho

Cinematógrafo: Joaquim Cardozo

E assim vos digo:

Foi no engenho Araçu que encontrei o Persinunga:

Colhi a rapidez das suas correntezas,
Apanhei todas as cotas do fundo do seu leito,
Detive o volume de suas águas cor-de-mel,
Liguei, amarrei muito bem as suas margens cobertas de ingazeiras.
Trouxe depois comigo todo o rio
Dentro da minha caderneta de campo
Que tenho ali guardada naquela escrivaninha.

Em tardes de verão, quando me regresso nas lembranças,
Faço correr o Persinunga. Liberto suas águas morenas,
E me contemplo nelas. Contemplo as esperanças de longe
Na paisagem de outros tempos;
E, molhada nessas águas-imagens, impercebida e rastejante,
Uma insinuação de presenças invencíveis se propaga.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA - Roberto Jefferson: mensalão

Me foi oferecida a troca: eu sairia da presidência do PTB, a daria ao Walfrido. Seria nomeado um delegado ferrabrás para o processo. E o relatório seria pela minha absolvição, pelo não indiciamento. Quer dizer, eu viveria de joelhos, sairia pela porta dos fundos. Eu falei: "Não vou, não. Entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Ou vocês arrumam isso que vocês montaram ou vou explodir isso". Não toparam e foi o que eu fiz. Acharam que ia me acovardar, que eu tinha jeito de Valdemar Costa Neto (presidente do extinto PL, hoje PR, e réu do mensalão), que ia renunciar para depois voltar. De joelho eu não vivo, caio de pé. Fiz o que tinha que fazer. Fui julgado errado pela turma do PT.”

O líder do governo (Arlindo) Chinaglia foi à minha casa e fez a proposta. Eu disse: "Não tem a menor chance de dar certo. Não vai para frente".

Roberto Jefferson, ex-deputado federal, cassado, em entrevista O Estado de S. Paulo, 19/7/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Oi, TIM e Claro são proibidas de vender novas linhas de celular
Palácio manda endurecer com grevistas
Um dia de atentados - Bomba no centro do poder sírio

FOLHA DE S. PAULO
Anatel suspende venda de planos de TIM, Oi e Claro
Tratamento anti-Aids deve ser universal em 3 anos, diz ONU
Superávit cai pela primeira vez na gestão Dilma e meta é ameaçada

O ESTADO DE S. PAULO
Atentado em Damasco mata dois generais de Assad
Anatel proíbe venda de novas linhas de Oi, TIM e Claro
Filho de Paulinho deixa secretaria
Jefferson acusa PT de ter tentado silenciá-lo
Plano de R$ 22,6 mi para Cumbica é engavetado
Defesa admite que Maluf tem conta em Jersey
Número de mortes por aids cai 24% no mundo

VALOR ECONÔMICO
Intervenção da Anatel em celulares surpreende setor
Mão de obra formal dobra na construção
Senado não vai alterar as MPs do Brasil Maior
Escolher ações ficou muito mais difícil

BRASIL ECONÔMICO
Governo define as categorias de servidores que vão ter reajustes
Gigante francesa Areva fornecerá usinas de energia solar no Brasil

CORREIO BRAZILIENSE
Enfim, Anatel pune 'caladão' das teles
Um morto e muitas suspeitas
Sujeira e negociação
Dirceu nega até influência sobre o PT

ESTADO DE MINAS
Quanto custa seu voto
Anatel barra vendas de linhas da TIM em Minas
Gripe suína: Remédio à mão 24 horas todos os dias
Eleições em Minas: Falha abre espaço para ficha-suja voltar às urnas
Aids: Mortes caem 24% no mundo em seis anos

ZERO HORA (RS)
Punida pela Anatel, Oi será impedida de vender chips no RS
Taxa de homicídios cresce 33% no RS

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Violência cai entre jovens
Vendas de celular são suspensas
Menos verbas

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

10 mil marcham na Esplanada

Com o dobro de manifestantes que o esperado, movimento parou o trânsito na área central de Brasília. As seis faixas do Eixo tiveram de ser fechadas

Depois de dois dias de movimentação fraca, a manifestação dos servidores cumpriu o prometido e reuniu na manhã de ontem aproximadamente 10 mil pessoas em caminhada pela Esplanada. O número de participantes, estimado pela Polícia Militar, é o dobro do esperado pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). A marcha chegou a ocupar as seis faixas do Eixo Monumental e lotou a Praça dos Três Poderes. A multidão, no entanto, parece não ter intimidado o governo. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, não recebeu os grevistas e o Palácio do Planalto nem sequer deu sinal de mudança na decisão de não conceder o reajuste salarial aos servidores.

Os manifestantes iniciaram o percurso em marcha às 10h, em frente à Catedral. De lá, seguiram ao Palácio do Planalto e, depois, ao bloco do Ministério do Planejamento. Com o movimento, o trânsito na área central de Brasília foi bastante prejudicado. Para o diretor da Condsef, Sérgio Ronaldo, a intransigência do Executivo em não receber os manifestantes só deve fortalecer o movimento. "O governo não pode continuar nos ignorando. Precisa aprender a administrar esse conflito com os servidores. A greve cresce a cada negativa de diálogo. Vamos nos esforçar para que a ministra do Planejamento nos receba até o último dia do acampamento", enfatizou.


O secretário executivo da Central Sindical Popular (CSP), Paulo Barela, acredita que a marcha de ontem superou as expectativas e deve, sim, pressionar o Palácio do Planalto. "A caminhada serviu para avaliar o fôlego da greve. Depois de 60 dias de paralisação, a mobilização de 10 mil pessoas mostra que o movimento ainda está vivo", garante. O acampamento dos servidores vai até a sexta-feira. No fim da tarde de ontem, eles voltaram a se reunir em frente ao Ministério do Planejamento e foram recebidos pelo secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça. Na ocasião, os líderes sindicais entregaram ao secretário às propostas de cada categoria. Hoje, os manifestantes devem se mobilizar de novo nos arredores do prédio.

Confusão

Apesar de o percurso ter sido cumprido, em termos gerais, de forma tranquila, os protestos excessivos de alguns servidores e estudantes na porta dos ministérios da Educação (MEC) e do Planejamento provocaram um princípio de confusão. Os grevistas entraram em confronto com a polícia ao tentarem pichar os muros do MEC. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, comentou o episódio. "É um ato que agride o patrimônio e não contribui para o movimento. Tenho certeza de que esses jovens não vão se orgulhar disso no futuro", ressaltou.
Mas o clima ficou mais tenso quando manifestantes tentaram ocupar o prédio do Planejamento. Para conter o grupo, a Polícia Militar usou gás de pimenta. Um dos manifestantes chegou a jogar um sinalizador em um policial. De acordo com a PM, duas pessoas foram presas, mas, um tempo depois, liberadas.

Negociações

Os representantes da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) e do Sindicato dos Urbanitários no DF (Stiu) se reúnem hoje, às 12h, com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para discutir o reajuste salarial de 10,73%. Já os servidores das agências reguladoras farão, à tarde, uma "marcha da regulação" entre a Catedral e o prédio do Planejamento, que será seguida de reunião com a Secretaria de Relações do Trabalho (SRT) do órgão. A categoria estima que 4,2 mil trabalhadores estão parados.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Grevistas entram em choque com PM no DF

Após pichação do prédio da Educação, houve confronto e policiais usaram spray de pimenta para dispersar manifestantes

O ministro Aloizio Mercadante diz que o Congresso precisa achar fonte de financiamento para a educação no país

Servidores federais em greve protestam na Esplanada dos Ministérios, em Brasília

Flávia Foreque e Natuza Nery

BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff foi alvo ontem da maior pressão já feita por servidores federais desde o início da onda de greves no funcionalismo.

Dez mil servidores, segundo a Polícia Militar do DF, protestaram ontem na Esplanada dos Ministérios exigindo reajuste salarial e reforma em planos de carreira. A passeata terminou em frente ao prédio do Planejamento, que negocia com as categorias.

Houve confronto entre os manifestantes e policiais, que chegaram a usar spray de pimenta para dispersar os grevistas. Latas, chinelos e um sinalizador foram arremessados no empurra-empurra. O Ministério da Educação foi pichado e alvejado com tinta.

A pasta foi a única contemplada por uma proposta de reajuste -professores de universidades e institutos federais estão em greve há pouco mais de dois meses.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que o problema é encontrar uma fonte de financiamento para atender as demandas.

"Estou tentando dizer para o movimento [grevista] que esse é o verdadeiro debate. Para mim, essa fonte é o pré-sal, mas o Congresso precisa resolver essa questão", afirmou Mercadante.

A oferta feita pelo MEC na semana passada foi criticada pelos docentes, que alegam que o reajuste só recupera as perdas com a inflação. "A ideia é tensionar para que o governo de fato apresente uma questão concreta", disse Ismael Cesar, da CUT-DF.

Em evento ontem na AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), o presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, também voltou a defender reajuste para a magistratura.

"É preciso despendurar os magistrados do cheque especial, do cartão de crédito", afirmou o ministro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Greve de servidores vira confronto na Esplanada

Manifestação no Distrito Federal acaba em tumulto que PM dispersa com gás pimenta; Mercadante acha ato “legítimo” mas diz que vandalismo "não contribui"

Alana Rizzo, Tânia Monteiro 

BRASÍLIA - Em mais um dia de paralisação, funcionários públicos em greve entraram ontem em confronto com a Polícia Militar do Distrito Federal. O tumulto ocorreu em frente ao Ministério do Planejamento, depois de os manifestantes cercarem o prédio e um grupo pintar a fachada do Ministério da Educação. Entre as pichações, a frase “Negocia Dilma já”.

Na confusão, os policiais chegaram a usar gás de pimenta para dispersar os manifestantes – e dois deles foram presos. Também foram lançados sinalizadores e cones. Integrantes do movimento sindical reclamaram da ação da polícia. Cauteloso, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que o protesto “não expressa a atitude dos docentes e dos servidores” e que ao vandalismo não contribui em nada”. O ministro disse que considerava a manifestação “legítima e bonita”, mas acrescentou que “um ato que agride o patrimônio público em nada contribui”. Os servidores haviam chegado de diversos Estados e reivindicavam aumento salarial e igualdade dos contracheques dos aposentados com os dos trabalhadores ativos.

A certa altura, a violência preocupou os manifestantes. “A gente que está com criança tem que ficar bem afastado. É muita confusão”, reclamou Angélica Soares, de 32 anos, que está grávida e ali estava com os dois filhos. Sobre a reivindicação dos professores, ela disse que não poderia comentar. “Só sei que querem ganhar mais.”

Desempregada, Angélica faz parte do Movimento Novo Pinheirinho e diz ter participado da manifestação pela promessa de ganhar um lote. “Não sei se avançaram na negociação hoje. Preciso de um terreno porque vivo há muitos anos de aluguel.”

Invasão

À tarde, cerca de 600 famílias do Movimento dos Sem Teto invadiram o prédio do Ministério das Cidades. Os militantes cobravam moradias do programa Minha Casa, Minha Vida e informações sobre as remoções para as obras da Copa de 2014.

A marcha pela Esplanada dos Ministérios começou logo cedo, com um enorme protesto em frente ao Palácio do Planalto, onde foi realizado um enterro simbólico da presidente Dilma Rousseff. A previsão inicial era que ela estaria no Planalto, mas acabou despachando com o ministro da javascript:void(0)Fazenda, Guido Mantega, no Alvorada. As manifestações em frente ao Planalto têm sido praticamente diárias, ao contrário do que ocorria no governo Lula.

Policiais militares, seguranças do Planalto e militares do Exército faziam a segurança das instalações do Planalto. Havia a preocupação de que servidores mais exaltados tentassem seguir da Praça dos Três Poderes para o Planalto, como já aconteceu em outras ocasiões. Também preocupava a polícia militar o fato de haver muita gente participando do protesto. Em nota, o Ministério da Educação informou que a Polícia Federal foi chamada para periciar os estragos feitos (no MEC), para que depois sejam feitos a limpeza e os demais reparos necessários.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Petroleiros começam a fazer paralisações temporárias de até 2h

Categoria se divide em relação à proposta de reajuste no piso da PLR e ameaça aderir à greve dos servidores federais

Sabrina Valle, Sergio Torres

RIO - Com a categoria dividida, os petroleiros começaram ontem a fazer paralisações temporárias contra o reajuste no piso do programa de participação dos lucros proposto pela Petrobrás. Até terça-feira, se não houver acordo, os empregados da petroleira e das subsidiárias ameaçam greve por tempo indeterminado.

Na tentativa de evitar que os cerca de 75 mil funcionários do Sistema Petrobrás (empresa controladora mais subsidiárias) acompanhem outras categorias do serviço público federal e entrem em greve geral, a petroleira apresentou à Federação Única dos Petroleiros (FUP) e à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) a proposta de acréscimo de R$ 2.056 ao piso da cota de Participação de Lucros e Resultados (PLR) de 2011.

FUP e FNP divergem sobre a proposta. Para a FUP, criticada pelo suposto apoio a ações do governo federal desde a primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o aumento do piso do PLR, hoje em R$ 16,5 mil, é aceitável. Para a FNP, não é.

A FNP defende um porcentual maior para o PRL, 25% do que recebem os acionistas, no limite do que a lei permite. "Rejeitamos a proposta e faremos indicativo de greve", afirmou Emanoel Cancella, do SindPetro-RJ.

Enquanto a categoria não chega a um consenso, o projeto de greve geral a partir de hoje foi esquecido, pelo menos até segunda-feira, quando deve ser definido ou não o início do movimento para o dia seguinte.

Até lá, os petroleiros fazem paradas de até duas horas. Das 13h às 15h de ontem, a paralisação foi no Centro Nacional de Controle de Operacional da Petrobrás Transporte (Transpetro), centro do Rio. A adesão foi pequena. Segundo a subsidiária, não houve impacto nas atividades.

Parcial. A partir de hoje e até segunda-feira, os petroleiros do Pará, Maranhão, Amapá e Amazonas vão parar por algumas horas. No Estado do Rio, paralisações ocorrerão hoje e amanhã, quando começam as interrupções em Alagoas e Sergipe.

Desde ontem, o trabalho em unidades em São José dos Campos e no litoral de São Paulo (São Sebastião, Santos, Caraguatatuba e Itanhaém) vem sendo paralisado de maneira parcial.

O temor de que uma greve geral atrase mais ainda os projetos da Petrobrás levou a presidente Graça Foster e o diretor Corporativo e de Serviços, José Eduardo Dutra, a encontraram-se no dia 11 com as lideranças petroleiras para tentar convencê-las a não aderir ao movimento do funcionalismo federal. Não houve acordo na ocasião.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Professores grevistas terão reajuste real, afirma Planejamento

Lucas Marchesini e Luciano Máximo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Em resposta ao movimento grevista das universidades e escolas técnicas federais, que desqualificou a proposta de reajuste salarial do governo com o argumento de que parte dos aumentos não cobre a inflação acumulada até 2015, o Ministério do Planejamento apresentou detalhes que garantem ganho real para os 105 mil professores da ativa e aposentados.

Os cálculos foram feitos com base nos reajustes concedidos desde o início do governo Lula, em janeiro de 2003, até a projeção de inflação para 2015. Para verificar ganho real, foi considerado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado e projetado no período. O governo usou a marca de 4,7% para a inflação deste ano e o centro da meta, de 4,5%, para os três anos seguintes.

De acordo com os dados, 52 mil professores doutores com dedicação exclusiva, da ativa e aposentados - a maior classe da categoria -, terão acumulado aumento real de 56,82% em 2015. Na outra ponta, os 2,5 mil docentes com carga de 40 horas semanais e título de mestrado terão atingido reajuste real de apenas 0,55%.

Em entrevista ao Valor, ontem, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reiterou que a ideia do governo é valorizar os professores com maior titulação. Contraditoriamente, os 2,2 mil docentes com carga horária semanal de 20 horas e mestrado alcançarão o maior ganho real, de 77%, considerando o período entre janeiro de 2003 e dezembro de 2015.

O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, declarou, em nota, que o Brasil vive um "momento econômico delicado" para conceder aumentos salariais, mas que o governo está disposto a dar reajustes "acima da inflação" aos professores. "A valorização dos docentes não começou este ano. A reestruturação da carreira dos professores vem acontecendo desde 2003, com recomposição salarial ano após ano".

Em resposta à manifestação realizada ontem na Esplanada dos Ministérios, Mendonça disse que "os professores vêm recebendo aumentos reais, recompondo as perdas de vencimentos acumuladas em décadas."

Segundo Mendonça, o governo considera 31 de agosto o prazo final para as negociações com os servidores em greve, data em que se encerra também a possibilidade de incluir eventuais reajustes na proposta do Orçamento da União 2013. O governo já afirmou que não considera a concessão de novos aumentos neste ano, mas apenas em 2013.

Além dos professores, estão em greve servidores de 24 Estados e do Distrito Federal do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Fundação Nacional do Índio (Funai), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Arquivo Nacional, Hospital das Forças Armadas, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit), além dos ministérios da Saúde, Justiça, Trabalho, Previdência, Integração Nacional, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Planejamento, além do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das agências reguladoras e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Palácio manda endurecer com grevistas

Empresas atingidas podem ir à Justiça do Trabalho pedindo dissídio coletivo

O governo federal vai endurecer com funcionários das estatais e servidores que exigirem reajustes salariais elevados. A orientação do Palácio do Planalto é repor só a inflação (sem aumento real), cortar ponto de grevistas e pedir dissídio em casos de radicalização do movimento. A Eletrobras se prepara para entrar com ação pedindo a ilegalidade da greve. Petrobras e bancos federais também podem ir à Justiça. Servidores em greve tomaram a Esplanada dos Ministérios e picharam o MEC. Devido à paralisação, a inscrição no Sisu foi estendida até amanhã.

Governo manda endurecer com os grevistas

Estatais prometem recorrer à Justiça caso acordo não seja fechado. Ordem do Planalto é não conceder ganhos reais

Geralda Doca

BRASÍLIA . O governo está disposto a endurecer com os funcionários das estatais nas negociações dos reajustes salariais para o segundo semestre. A ordem é não conceder ganhos reais, apenas reposição da inflação; cortar o ponto de grevistas; e entrar com pedido de dissídio na Justiça do Trabalho nos casos em que houver radicalização do movimento.

Segundo interlocutores do Planalto, a Eletrobras já se prepara para entrar com ação no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para declarar ilegal a greve nas subsidiárias da estatal, que começou na segunda-feira. A Embrapa entrou com pedido de dissídio coletivo. O mesmo procedimento deve ser adotado pelos Correios, cujos funcionários têm data-base em agosto. A Petrobras e os bancos federais, com data-base em setembro, também deverão recorrer à Justiça, caso não haja acordo.

Por sua parte, a equipe econômica analisa a contraproposta feita aos petroleiros pela Petrobras, anteontem, de aumentar a fatia da Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Segundo uma fonte, o aumento será vetado, caso a soma ultrapasse os 4,5% do lucro líquido da empresa (estimado em cerca de R$ 35 bilhões neste ano) autorizados para PLR.

Planalto cobra dos servidores produtividade

De olho na distribuição de dividendos ao Tesouro Nacional, concentrada no segundo semestre, os petroleiros anteciparam parte da negociação prevista para a data-base. Para evitar a greve, a estatal propôs elevar imediatamente o piso da PLR de R$ 14 mil para R$ 17 mil.

A avaliação do governo é de que os servidores das estatais foram contemplados durante o governo Lula com aumentos expressivos e que agora devem dar um retorno em produtividade para ajudar a economia a crescer. O argumento é que a categoria dispõe de uma série de benefícios (fundo de pensão, plano de saúde, dentre outros) e os salários estão equiparados aos do setor privado. No caso da Eletrobras, quando a holding foi criada, houve uma reestruturação da carreira dos funcionários das companhias de energia.

FONTE: O GLOBO

PIB. Todo esforço do governo, agora, visando só ao do próximo ano:: Jarbas de Holanda

Obrigada a arquivar os enfáticos e reiterados discursos sobre a expansão da economia, primeiro de 4,5 ou 5% este ano, e depois, “de mais de 3%”, mesmo com a persistência da crise do Euro, a presidente Dilma Roussef, em face da realidade compelida a reconhecer, passa a jogar todas as fichas no PIB de 2013, ano em que começarão a ser montadas as peças básicas da sucessão do comando do Palácio do Planalto. Entre as quais a de uma possível onda pró-Lula, se ela não se mostrar então suficientemente competitiva, e se a saúde dele permitir. Quanto ao pleito municipal deste ano, o empenho da presidente é para que o Pibinho já definido não tenha rápidos efeitos negativos nos indicadores sociais, cuja relevância – simbolizada por políticas em favor dos adolescentes – substituiu a que nos discursos anteriores atribuía ao crescimento econômico (como se este não constituísse condicionante essencial à melhoria daqueles).

O Pibinho é consequência de um lado, de fatores externos: o esgotamento de condições muito favoráveis às exportações de nossas commodities minerais e agrícolas, bem como à atração de investimentos propiciada pelas reformas dos governos FHC e pela persistência da estabilidade macroeconômica no primeiro mandato de Lula (em especial na fase de Antonio Palocci e sua equipe no ministério da Fazenda). E, de outro lado, pela queima, progressiva, de 2006 para cá, dessas condições favoráveis, com o bloqueio a re-formas indispensáveis e com o salto, ano a ano, dos gastos de custeio e das políticas assistencialistas. Queima que teve também entre suas causas duas bem significativas: o precaríssimo desempenho da máquina administrativa no gerenciamento de programas do governo federal, entre eles os de obras de infraestrutura, e o virtual desmonte das agências reguladoras de serviços públicos, por meio de uma partidarização estatizante que inibe ou obstrui investimentos privados nessa área.

Nesse duplo contexto, a expectativa do estado-maior do Planalto é que no próximo ano possam produzir dividendos concretos várias ações que estão sendo anunciadas ou que ele trata de aprovar no Congresso às vésperas de seu re-cesso. Este é o caso de mais concessões no sistema aeroportuário, da retomada de concessões rodoviárias e da par-tida, enfim, do polêmico projeto do trem-bala. Todas com grande atraso e a terem início em 2013, se efetivadas as licitações correspondentes nos próximos meses. É o caso também de mais recursos subsidiados do BNDES para algumas atividades industriais, que estão sendo autorizados pelo Legislativo, mas que, assim como os decorrentes de emendas parlamentares reconhecidas pelo Executivo, só poderão começar a ser aplicadas após o presente processo eleitoral.

O PMDB e a resistência do PSB à hegemonia petista

A direção do PMDB, à frente Michel Temer, alcançou logo, bem antes do pleito municipal, um de seus objetivos básicos neste ano: forçar o governo Dilma a apoiar a eleição de Henrique Eduardo Alves para a presidência da Câmara no biênio 2013/2015, com o bloqueio do projeto da executiva do PT de ocupar o cargo. Projeto que os petistas consideravam importante para o controle da sucessão presidencial de 2014, e que era facilitado por reiteradas restrições da própria chefe do Executivo ao nome do deputado do Rio Grande do Norte.

Tal bloqueio e o compromisso do Palácio do Planalto, bem como do ex-presidente Lula, com a candidatura do peemedebista, foram o preço pago por eles em face do grande e inesperado sobressalto de ambos diante da resistência ao petismo nas eleições municipais do Recife e de Fortaleza dos governadores do PSB Eduardo Campos e Cid Gomes, com o lançamento de candidatos próprios, ao que se seguiu o respaldo do comando nacional dos socialistas à campanha para reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, após a ruptura do PT e em articulação com o senador Aécio Neves. O ganho do PMDB, aproveitando tal sobressalto para afirmar-se como aliado indispensável do governo e para garantir também a presidência da Câmara, poderá ter a boa dimensão político-institucional de favorecer a independência do Legislativo (na montagem de suas pautas, na contenção das Medidas Provisórias, numa necessária recuperação da autonomia das agências reguladoras dos serviços públicos, no estímulo a reformas constitucionais como a tributária) e poderá restringir-se ao reforço do papel fisiológico do PMDB no governo, num embate com o PT – que tem perdido de goleada – em torno da ocupação de cargos e obtenção de benefícios da máquina federal. Numa entrevista publicada no início desta semana, Michel Temer afirmou que seu partido não se vinculará “necessariamente” à reeleição da presidente Dilma. Indicando implicitamente que o apoio dependerá dos cenários econômico e político de 2014.

Jarbas de Holanda é jornalista

Jefferson acusa PT de ter tentado silenciá-lo

"Líder propôs que eu não denunciasse mensalão"

Jefferson diz ter sido procurado pelo deputado Chinaglia (PT) para ficar calado e, assim, preservar mandato na Câmara

Débora Bergamasco

BRASÍLIA - Às vésperas do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, diz que Arlindo Chinaglia (SP), então líder do governo, ofereceu uma "saída pela porta dos fundos" para que não seguisse com a denúncia que abalou o governo petista em 2005.

Pela proposta, Jefferson entregaria a presidência do PTB ao então deputado Walfrido dos Mares Guias (hoje no PSB). Depois, seria escalado um "delegado ferrabrás" para tocar o processo e um relatório pelo não indiciamento do petebista.

"Acharam que eu ia me acovardar. Me confundiram com o Valdemar Costa Neto. De joelho eu não vivo, eu caio de pé", disse Jefferson ao Estado antes da Convenção Nacional do PTB, ontem, em Brasília. Durante mais de três horas, discursos enalteceram a "coragem" do ex-deputado por denunciar o maior escândalo do governo Lula.

A reunião do PTB foi feita para mostrar ao Supremo que Jefferson não é um "qualquer" e que goza de prestígio em seu partido. Ideia do advogado do réu petebista, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que sugeriu antecipar o evento, previsto para novembro, e transformá-lo em "convenção-homenagem".

Carlinhos Cachoeira deveria falar tudo o que sabe à CPI?

Ele é um homem de negócios, não é um homem público. O político tem o patrimônio moral, que é a imagem, para preservar. Ele é chamado de bicheiro, seus negócios nunca foram, assim, muito dentro da lei. Será que ele está zangado? Tem mais é que se preservar mesmo.

Ao denunciar o mensalão, o sr. queria preservar sua imagem?

Claro. Me foi oferecida a troca: eu sairia da presidência do PTB, a daria ao Walfrido. Seria nomeado um delegado ferrabrás para o processo. E o relatório seria pela minha absolvição, pelo não indiciamento. Quer dizer, eu viveria de joelhos, sairia pela porta dos fundos. Eu falei: "Não vou, não. Entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Ou vocês arrumam isso que vocês montaram ou vou explodir isso". Não toparam e foi o que eu fiz. Acharam que ia me acovardar, que eu tinha jeito de Valdemar Costa Neto (presidente do extinto PL, hoje PR, e réu do mensalão), que ia renunciar para depois voltar. De joelho eu não vivo, caio de pé. Fiz o que tinha que fazer. Fui julgado errado pela turma do PT.

Quem fez essa proposta?

O líder do governo (Arlindo) Chinaglia foi à minha casa e fez a proposta. Eu disse: "Não tem a menor chance de dar certo. Não vai para frente".

Arrependeu-se?

Não. Não dá para dar uma de galo mutuca e fugir. Vai olhar o neto no olho como? "Vovô foi acusado, renunciou para não ser cassado..." Isso é conversa de vagabundo, tô fora.

Como avalia o impacto do julgamento nas eleições municipais?

Prefiro agora do que em 2014. Está na hora de ser julgado. O João Paulo Cunha (candidato pelo PT em Osasco) é o único que pode se prejudicar agora.

Haverá surpresa?

Para mim, a sentença que virá - absolvendo ou condenando - é que ninguém mais pode abusar. Quem é processado sofre, todos devem estar sem dormir, como eu. Digo por mim, o processo em si já é uma punição.

De 2005 para cá, houve mudança na postura política brasileira?

Ah, mudou. Até a própria mudança do Lula para a Dilma. O Lula era tolerante com esses abusos, a Dilma, não. O sinal amarelo está aceso para todos. Agora tem que deixar tudo claro. Quando chega uma doação, a gente quer saber de onde vem, quem está mandando, o que ele quer. Antes, se vinha dinheiro, vinha dinheiro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dirceu nega até influência sobre o PT

No memorial com a defesa do ex-ministro no caso do mensalão, advogados alegam não haver provas que incriminem José Dirceu,acusado de ser o chefe do esquema. O Correio teve acesso ao documento entregue ao STF.

O "burocrata" do mensalão

Memorial entregue ao STF pelos advogados de José Dirceu diz que ele não tinha influência no PT ou em nomeações e nega caráter político do trabalho na Casa Civil

Helena Mader

Acusado de ser o "chefe da quadrilha" que arquitetou a distribuição de dinheiro a políticos e partidos, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu saiu ontem de férias, a 15 dias do início do julgamento do mensalão, o mais importante da seara política nos últimos anos, no Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto isso, a defesa afina o discurso para tentar livrá-lo da acusação de corrupção ativa. Os advogados do ex-ministro entregaram aos ministros do STF um memorial de 30 páginas, a que o Correio teve acesso com exclusividade, que resume os argumentos em favor de Dirceu — alguns similiares aos das defesas de outros réus.

No documento, os defensores dizem que não há provas de que ele beneficiava o banco BMG; influenciava a indicação de cargos no governo; tinha poder no PT; ou mantinha vínculos com o publicitário Marcos Valério. 

O relatório afirma ainda que o braço direito do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria "papel meramente burocrático" à frente da Casa Civil. O advogado do réu, José Luís Oliveira Lima, explica que o memorial é um resumo das alegações finais entregues ao Supremo em setembro do ano passado. "Apenas reafirmamos a ausência total de provas e a falta de comprovação de que existiria uma quadrilha", afirma o advogado. Além das argumentações técnicas, o memorial também traz pesadas críticas à atuação do Ministério Público e da imprensa e diz que a mídia vai protestar "contra qualquer decisão que não seja condenatória".

Os advogados de Dirceu afirmam que o termo mensalão foi criado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, também réu na ação penal, uma pessoa "de abalada credibilidade" e que teria atraído atenção para o caso por estar no alvo de outras denúncias de corrupção. "A acusação de compra de votos é sustentada por um único e frágil pilar: Roberto Jefferson", diz o texto do memorial. "Ele estava no foco de graves acusações relacionadas com a gravação de Maurício Marinho recebendo dinheiro nos Correios. Foi esse contexto que o levou a buscar o palanque da mídia e a inventar que parlamentares vendiam votos por uma mesada de R$ 30 mil", afirmam os defensores. Além de José Luís Oliveira Lima, o advogado Rodrigo Dall"Acqua também assina o memorial entregue ao STF.

Ao contrário do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que negou a existência do mensalão, mas assumiu ter participado de um esquema de arrecadação de caixa dois para campanhas eleitorais, José Dirceu se declara inocente de todas as acusações, principalmente da denúncia de corrupção ativa. A procuradoria afirma que o ex-ministro tinha ingerência sobre as ações dos dirigentes do PT, o que é rechaçado pela defesa. "Contrariando esse pífio argumento, ficou exaustivamente demonstrado que José Dirceu se afastou de todas as questões relacionadas ao Partido dos Trabalhadores ao assumir suas funções na Casa Civil", afirma o memorial.

Delúbio já declarou ter agido sem qualquer influência do antigo ministro e os advogados de Dirceu corroboram com a tese de que o ex-tesoureiro tinha independência para atuar sozinho. "Até mesmo integrantes do diretório e da executiva do PT desconheciam os empréstimos do BMG, ao Banco Rural e às empresas de Marcos Valério", diz trecho do documento distribuído aos ministros do Supremo. Sobre as denúncias de que seria um dos nomes com mais forte influência sobre os destinos do PT, a defesa acredita que ficou "provado que presidente do PT, de direito e de fato, era mesmo o réu José Genoíno, uma pessoa de total autonomia de mando".

O Ministério Público pediu a condenação de 36 dos 38 réus do mensalão. Mas o caso mais emblemático é o de Dirceu, já que ele era o número dois do governo Lula. A ação penal 470, que analisa o caso do mensalão, tem 50 mil páginas e a expectativa é de que o julgamento se estenda pelo mês de agosto. A análise do caso começa no dia 2.

Contradições

O memorial de defesa do ex-ministro também cita o julgamento de outras ações penais que tramitaram no STF, nas quais os réus foram absolvidos por causa de testemunhos contraditórios. Os advogados usam um voto do ministro Joaquim Barbosa proferido em outro processo. Ele é o relator do caso do mensalão. No julgamento da ação penal 427, por exemplo, o réu era o ex-deputado Celso Russomano, acusado de dano ao patrimônio público. Em seu voto, Barbosa afirmou que duas testemunhas garantiam terem presenciado os fatos e outras duas testemunhas deram depoimento em sentido contrário. "Diante dessa falta de certeza, não há outra saída senão a absolvição", declarou à época o ministro em seu voto.

Para os advogados, o argumento de Joaquim Barbosa teria que ser seguido no julgamento. Duas testemunhas, Roberto Jefferson e Emerson Palmieri, relataram no processo que o publicitário Marcos Valério teria viajado a Portugal a mando do ex-ministro, para captar dinheiro para o esquema do mensalão. "Marcos Valério e Rogério Tolentino afirmaram que a citada viagem a Portugal não tinha relação alguma com Dirceu, o PT ou o governo", diz a defesa.

Nem todos os réus entregaram memorial de defesa ao STF. Alguns preferiram mandar resumos com os principais argumentos às vésperas do início do julgamento. Os representantes de José Genoíno e de Pedro Henry, por exemplo, avaliaram que os documentos entregues no ano passado eram suficientes para amparar a defesa dos réus. Eles se debruçam agora sobre a preparação do texto que será lido na sustentação oral.

"A acusação de compra de votos é sustentada por um único e frágil pilar: Roberto Jefferson" - trecho do memorial de defesa de José Dirceu

Ponto a ponto - Linha de defesa definida

Confira as principais acusações contra o ex-ministro José Dirceu e as alegações dos advogados:

Acusação: o mensalão era um esquema de compra de votos de deputados para a aprovação de projetos de interesse do governo, como as reformas da Previdência e tributária. O então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares teriam arquitetado o esquema. Os deputados receberiam uma mesada de R$ 30 mil.

Defesa de Dirceu: segundo a defesa, não há nenhuma prova de que houve compra de votos. Essa tese foi "imaginada" e as acusações se baseiam apenas nas denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson, também réu da ação penal. A defesa diz que a acusação não tem "lógica de raciocínio", porque os deputados que teriam recebido mesada faziam parte da base de apoio do governo.

Acusação: a Procuradoria-Geral da República classificou José Dirceu como o "chefe da quadrilha" do mensalão e garantiu que o ex-ministro seria um dos principais articuladores do esquema de arrecadação de dinheiro para pagamento de mesada aos parlamentares, com grande influência no PT.

Defesa de Dirceu: os advogados garantem que José Dirceu estava completamente afastado do comando do PT e que o presidente de fato e de direito da legenda era José Genoíno. O ex-ministro também afirma que Delúbio não era subordinado a ele e teria total independência de atuação.

Acusação: como ministro da Casa Civil, José Dirceu teria usado sua influência para beneficiar o banco BMG. Por intermédio do então presidente do INSS, Carlos Gomes Bezerra, Dirceu teria conseguido benefícios para o banco, como a autorização para oferecer empréstimos para servidores.

Defesa de Dirceu: os advogados garantem que não há nenhuma prova de influência em benefício do BMG e garantem que o Ministério Público até mesmo abandonou essa imputação nas alegações finais da denúncia por falta de embasamento.

Acusação: José Dirceu manteria contato com Marcos Valério, considerado o principal operador do mensalão, para organizar os repasses de dinheiro a políticos. O publicitário teria viajado a Portugal a mando de Dirceu, para tratar da captação de recursos que seriam repassados ao esquema.

Defesa de Dirceu: segundo o ex-ministro, essa tese seria baseada unicamente nas denúncias de Roberto Jefferson. Além disso, os réus Marcos Valério e Rogério Tolentino afirmam em depoimento que a viagem a Portugal não tinha relação alguma com José Dirceu ou com o PT.

Acusação: o ex-ministro José Dirceu teria influência em órgãos de controle do governo e também na indicação de pessoas para ocuparem cargos estratégicos na administração pública federal.

Defesa de Dirceu: os defensores do ex-ministros dizem que o Ministério Público não conseguiu incluir nenhum exemplo de nomeação que teria sido imposta por Dirceu e que ele teria apenas um papel burocrático dentro da estrutura da Casa Civil.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Réu do mensalão, Jefferson volta a presidir PTB

Ex-deputado afirma em discurso acreditar em sua absolvição e na da maioria dos mensaleiros

Maria Lima

BRASÍLIA . Faltando menos de um mês para o início do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado Roberto Jefferson, um dos delatores do escândalo e um dos 38 réus no processo, foi reeleito ontem, por aclamação, para presidir o PTB pelo quarto mandato consecutivo.

O Diretório Nacional do partido se reuniu em clima de comoção e não faltaram discursos emocionados em desagravo a Jefferson, que chegou a chorar. Ele disse estar preparado e tranquilo para a luta, mas já conta com a absolvição dele próprio e da maioria dos mensaleiros.

- Não vejo nenhuma chance de me condenarem. Muitos petistas serão absolvidos. O julgamento será técnico e não político. O Supremo não vai fazer isso - disse Jefferson.

Vários dirigentes do PTB discursaram em apoio ao réu do mensalão. O secretário-geral Campos Machado foi o mais inflamado e disse que não estavam ali só para reeleger Jefferson, mas "homenageando a História". E que, quando tudo isso acabar, vão estampar numa camiseta a frase: "Eu sempre acreditei em Roberto Jefferson."

O presidente reeleito do PTB explicou que a manifestação de ontem não é para afrontar ou desafiar o STF às vésperas do julgamento. Disse que foi apenas um ato interno de apoio, sem intenção de confrontar os ministros:

- Vamos verbalizar minha inocência sem confrontos às instâncias democráticas, sem juntar gente na frente do Supremo e sem manifestação hostil. Temos que respeitar o Judiciário.

No discurso aos delegados, Jefferson chorou ao contar que tomou a decisão de denunciar o mensalão quando a PF fez uma busca e apreensão em sua casa, em 2005. Disse que, quando ferem sua família, "não tem volta". Chorando, disse à jovem esposa Ana Lúcia:

- Estamos prontos para a luta, né, minha gatinha?

FONTE: O GLOBO

Petistas reagem a plano de Cabral de renunciar

Lindbergh, pré-candidato à sucessão do governador, critica projeto de PMDB de ficar no poder com Pezão e Eduardo Paes

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA . Caiu como uma bomba no PT do Rio a decisão do governador Sérgio Cabral (PMDB) de renunciar ao cargo em dezembro de 2013 para deixar o vice Luiz Fernando Pezão ganhar "musculatura" para a disputa do governo do estado em 2014. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que vinha trabalhando nos bastidores em busca de consenso em torno de sua candidatura ao governo, decidiu se antecipar e lançar-se candidato.

- A eleição está longe, mas eu serei candidato a governador. Essa é uma posição já aceita quase por consenso no PT do Rio. A pergunta que faço é se eles (Cabral e o PMDB) combinaram com o povo. Porque a máquina tem peso, mas quem decide as eleições é o povo. E podemos ganhar a eleição - reagiu Lindbergh.

A maior preocupação dos petistas é com a longevidade do plano do governador. Conforme O GLOBO revelou ontem, a ideia de Cabral é pôr Pezão à frente do governo já em dezembro de 2013 e, com isso, fortalecê-lo para a disputa de 2014. Caso ele vença a disputa, ficaria inelegível em 2018, quando Eduardo Paes (PMDB) seria candidato, com apoio dos dois. Hoje prefeito do Rio, Paes ainda poderia, se vitorioso, ser candidato à reeleição em 2022. Procurados ontem, Cabral e Paes não quiseram comentar o assunto.

- O PT não pode ficar secundarizado aqui até 2026. É isso que eles querem. Nós não admitiremos isso - protestou Lindbergh, que diz hoje não temer uma intervenção nacional do seu partido. - Todo mundo com quem tenho conversado da direção nacional do partido apoia nossa candidatura.

Entre os petistas, no entanto, o clima é de temor. Historicamente, a direção nacional do PT vêm apoiando o uso da legenda no Rio como moeda de troca dos planos nacionais da sigla. Em 1998, chegou a promover uma intervenção para a retirada da candidatura de Vladimir Palmeira ao governo.

A atitude de Cabral - que há dois meses revelou à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula o desejo de sair do governo no fim de 2013 - é vista por petistas como a preparação de terreno para que seja, novamente, negociada uma troca. Nela, o governador apoiaria a reeleição de Dilma e o PT nacional retiraria a candidatura de Lindbergh.

- Não tenho dúvida de que a existência desse diálogo é a antessala da barganha que virá depois para impedir o PT de ter candidatura própria em 2014. É a velha chantagem de sempre - protestou o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), principal crítico da aliança entre os dois partidos no governo e na prefeitura do Rio. - Esse plano mostra que aqui no Rio o exercício do poder é uma ação entre amigos.

Molon disse que, ao grupo do governador, o que importa é estudar as melhores jogadas para se perpetuar no poder:

- É uma visão do estado como uma capitania hereditária. Do "nós combinamos entre nós e o povo serve como massa de manobra".

Principal inimigo de Cabral, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) entrou no debate, pelo Twitter: "Cabral pode até deixar o governo em dezembro de 2013 como anda dizendo, mas mais uma vez mente na hora de dar os motivos". Segundo o ex-governador, a preocupação de Cabral são as investigações sobre obras do governo estadual. "Ele está querendo sair fora dos escândalos que virão à tona em cima do governo".

FONTE: O GLOBO

Paes dá prioridade a poucos candidatos a vereador

Prefeito só sairá em campanha com aliados que têm mais chances de se eleger; os demais ganharão material de propaganda

Marcelo Remígio

Candidato à reeleição, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), decidiu só participar de eventos de rua, durante a campanha, com um grupo seleto de candidatos a vereador com maior poder de fogo eleitoral. Para evitar o descontentamento e a ciumeira dos demais candidatos, Paes distribuirá a todos placas de propaganda com sua foto.

O peemedebista já escolheu os poucos contemplados. No grupo estão, entre outros, os vereadores Luiz Antônio Guaraná e Dr. Jairinho (PSC), o presidente da Câmara Municipal, Jorge Felippe (PMDB), e o subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos (PMDB), que tenta o primeiro mandato. Esses terão a prioridade na campanha.

A entrega de placas não será igualitária. Pela estratégia da campanha de Paes, ganharão mais material os integrantes de seu grupo escolhido a dedo e nomes que os partidos coligados apontarem como puxadores de legenda. A aliança de Paes, que reúne o PMDB e mais 19 partidos, soma, ao todo, 1.300 candidatos. O prefeito exigiu das legendas uma classificação por expectativa de votos.

Nomes com baixo poderio eleitoral levarão até 500 placas, enquanto os de médio poder de fogo serão contemplados com mil peças. Já os com mais chances de serem eleitos receberão número superior a mil placas.

- Bairros como Rio Comprido e Catumbi já estão com muitas placas de candidatos em que o prefeito aposta, como o vereador Guaraná. A Zona Oeste e a região de Jacarepaguá também têm muito material, principalmente do Jorge Felippe e do Jairinho. A prioridade na distribuição para esse grupo já provocou muito ciúme, mas quem tem voto receberá mais placas mesmo - explica um interlocutor que faz a negociação entre o PMDB e os 19 partidos coligados. - A estratégia de distribuir material para todos os candidatos foi a maneira de contemplar os aliados e garantir a presença da imagem do prefeito nas comunidades, sem que ele passe por toda a cidade durante a campanha.

Ao receberem as placas, os candidatos se comprometem a assumir os custos com transporte do material, instalação, montagem das peças e negociação dos locais onde a propaganda será colocada. Paes optou por um layout que não prioriza sua imagem nem a do vereador, diferentemente da campanha municipal passada, quando o prefeito tinha a foto maior.

A imagem de Paes e do candidato a vereador terão as mesmas dimensões. Além da distribuição de placas, a estratégia de campanha de Paes prevê um filtro rigoroso da presença de candidatos em eventos com ele. O cuidado é para evitar que candidato vinculado a denúncias relacionadas a milícias ou tráfico de drogas apareçam ao lado do prefeito.

Adversários de Paes enfrentam falta de dinheiro

Na contramão de Paes, os candidatos Aspásia Camargo (PV), Marcelo Freixo (PSOL), Otavio Leite (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM) enfrentam problemas de caixa para a compra de placas de propaganda. Freixo acordou com os candidatos a vereador que não financiará placas, mas ajudará na confecção de outros materiais, como adesivos. Os 59 candidatos a vereador do partido concordaram em incluir a imagem de Freixo em placas feitas com recursos próprios. O PSOL já instalou pela cidade 70 placas.

Já no PV, que tem 75 candidatos a vereador, Aspásia ainda depende da ajuda da militância e de doações.

- Até brincamos: enquanto o prefeito distribui lona, nós estamos na lona. Ainda aguardamos recursos para a compra do material. O PV tem um histórico de evitar o desperdício de material e a poluição visual. Vamos oferecer material impresso para os nossos candidatos a vereador. A movimentação nas redes sociais também será grande - aponta o coordenador de campanha, Paulo Senra.

Os cintos também estão apertados no DEM, que na majoritária fez coligação com o PR.

- O poder econômico do candidato do PMDB é grande e se repete. Em 2010, ele fez o mesmo. Nossos 73 candidatos a vereador, mais os nomes do DEM, têm levado para as ruas a campanha de Rodrigo e Clarissa. Nosso material vai ser feito em parceria - afirma o presidente municipal do PR, Fernando Peregrino.

O tucano Otavio Leite cortou a distribuição de placas para os candidatos a vereador. Segundo ele, serão oferecidos assessoria para a gravação dos programas de rádio e TV, além de material impresso. O PSDB soma 77 candidatos a vereador.

- Vamos garantir a filmagem e a produção. Ainda temos pouco material nas ruas, que será instalado ao longo da campanha - diz o tucano.

FONTE: O GLOBO