quarta-feira, 18 de março de 2015

Chega a hora do lulopetismo no petrolão – Editorial / O Globo

• Lava-Jato detém o ex-diretor Renato Duque, apadrinhado pelo PT, denuncia Vaccari, tesoureiro da legenda, e traça rota de propinas convertidas em doações eleitorais

São dias agrestes para o PT. Não fosse bastante a ressaca da gigantesca manifestação oposicionista de domingo, na segunda-feira o governo Dilma e dirigentes partidários foram obrigados a dividir a atenção entre entrevistas e declarações de autoridades, a presidente inclusive, para, de alguma forma, dar uma resposta à população que vestiu verde e amarelo no dia anterior, e a detalhada exposição feita pelo Ministério Público Federal, em Curitiba, sobre a 10ª fase da Operação Lava-Jato.

E também no Paraná não foram boas as notícias. Na manhã de segunda, havia sido preso pela, segunda vez, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, apanhado agora numa transferência de € 70 milhões da Suíça para Mônaco. Detido anteriormente, mas solto por habeas corpus, desta vez tudo parece indicar que Duque toma o mesmo caminho de colegas. E terá de optar: aceita firmar acordo de delação premiada e poderá até ser beneficiado com prisão domiciliar, como o também ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, ou mantém o silêncio e ficará em companhia de Nestor Cerveró, responsável pela área Internacional da companhia, hospedado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, em prisão preventiva.

Além da detenção de Duque — consta que apadrinhado pelo PT, na pessoa de José Dirceu —, outro baque para o partido nessa segunda foi a denúncia à Justiça de João Vaccari Neto, tesoureiro da legenda, um posto amaldiçoado. Lembremo-nos que um dos antecessores de Vaccari, Delúbio Soares, cumpriu pena na Papuda, em Brasília, na condição de mensaleiro condenado. O problema, potencialmente de grandes proporções para o partido, é que, segundo a divisão feita na Petrobras para efeito de drenagem de propinas, a diretoria de Serviço, de Duque, captaria dinheiro sujo exclusivamente para o PT. Não deve interessar ao lulopetismo que ele fale.

Uma das denúncias premiadas vitais para se desbaratar o petrolão é a de Pedro Barusco, ex-gerente-geral da diretoria de Duque. De acordo com Barusco, o PT deve ter recebido de empreiteiras de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões, dos quais US$ 50 milhões coletados por Vaccari em pessoa.

O PT se defende das acusações com a explicação de que recebeu apenas doações legais das empresas. Na verdade, propinas “lavadas” por meio da Justiça Eleitoral, entende o MP. Provar que dinheiro sujo foi “legalizado” nessas doações deverá ser o ponto central do julgamento do petrolão no Supremo. Assim como foi o conceito jurídico do “domínio do fato” no mensalão (aplicado para condenar José Dirceu).

Para dar sustentação às denúncias, o MP tem rastreado pagamentos da Petrobras a empreiteiras — certamente em contratos superfaturados — que correspondem, logo em seguida, a doações dessas empresas a diretórios petistas. Uma transferência ilegal de dinheiro público para o partido, mas por via legal. Não há perspectiva de que melhore o tempo para os lulopetistas no petrolão.

Cada vez pior – Editorial / Folha de S. Paulo

• Presidente vê impopularidade atingir 62%, um dos maiores índices já registrados, como consequência de seus próprios erros no 1º mandato

A queda vertiginosa de popularidade da presidente deveria ser encarada como um chamado à sobriedade e ao comedimento. E não só por Dilma Rousseff e pelo PT. É do interesse geral que os canais de negociação permaneçam abertos.

Numa quadra em que a aprovação da mandatária despenca para 13% e a rejeição salta para 62% --aproximando-se das piores avaliações já medidas--, a própria autoridade presidencial se esgarça. Uma chefe do Executivo isolada e enfraquecida, mas com 45 meses de governo à frente, não traz bons presságios para a difícil travessia que a economia nacional inicia.

Reeleita com 54,5 milhões de votos (51,6%), a margem mais apertada da história, Dilma vira seus índices de ruim e péssimo disparar de 24% em dezembro para 44% em fevereiro, segundo o Datafolha. O avanço de 38 pontos em três meses mostra a que nível chegou o desgaste de sua imagem.

O último solavanco captura e espelha a enorme insatisfação que tomou as ruas em 15 de março. A amplitude atingida --na desaprovação da presidente e no número de manifestantes contra ela-- reduz a pó a interpretação petista de que se trata de orquestração da elite inconformada com a derrota eleitoral do PSDB em outubro.

É bem mais que isso. Pela primeira vez em 30 anos de normalidade democrática, articula-se um movimento de massa que não teme defender ideias conservadoras.

De acordo com o Datafolha, 47% dos que tomaram a avenida Paulista no domingo se declaram de centro-direita ou de direita (e 12% de esquerda ou centro-esquerda) --e é um sinal de vitalidade da democracia que se sintam livres para levantar suas bandeiras.

Aqui e ali, é verdade, despontam aberrações como a defesa de um golpe militar. Mas 85% dos manifestantes do domingo afirmaram que a democracia é sempre a melhor forma de governo (e 86% externavam a mesma opinião na marcha da sexta-feira, a favor da administração petista).
O combustível dessa revolta de classe média deriva da desastrosa gestão da economia no primeiro governo Dilma e do doloroso ajuste das contas públicas que ora impõe.

Após uma década de melhora no acesso a bens e serviços, parcelas crescentes da população são afrontadas com uma inversão de expectativas tão súbita quanto mal justificada. Um contingente recorde --e crescente-- teme pelas condições econômicas futuras.

Já não seria pouco, mas a isso ainda se somam a mentirosa promessa de continuidade da bonança, feita na campanha eleitoral, e o aprofundamento do escândalo de corrupção da Petrobras.

As tentativas de Dilma Rousseff de dar respostas convincentes a tamanho descontentamento foram até aqui frustradas. Com a deterioração da situação econômica, a insatisfação dificilmente deixará de permear todos os estratos sociais. A Presidência da República, mais do que nunca, precisa saber ouvir --e se fazer ouvir, cabe acrescentar-- toda a população.

Roberto DaMatta - A hora do cidadão comum

• O povo se cansou de testemunhar que o crime compensa quando o roubo é feito por agentes públicos graduados

- O Globo

Passei a semana acompanhando a CPI da Petrobras, lendo os jornais mais importantes do Brasil e seguindo pessoalmente as manifestações. Não fui ao Rio, mas fiquei numa Niterói ilhada por obras que, espero, venham a melhorar a minha vida: a vida de um homem comum que, durante décadas, tem trabalhado no Rio e em todo lugar. Sujeito que subiu em ônibus, tomou barca, lotação e foi do tempo do andar de bicicleta e a pé.

Dizer que há uma guerra entre ricos e pobres ou afirmar, como fazem os áulicos da presidente Dilma, que “o contra” é mais motivador do que o “a favor” é ficar no mais imbecil dos sofismas.

Pois quem é a favor é contra e quem é contra é a favor. De alguém, de alguma causa ou coisa. No caso: o povo manifestou-se contra um governo paralisado por sua mendacidade, mas a favor da punição dos ladrões do mais pornográfico sistema de corrupção jamais montado no Brasil. Um sistema que vem do centro do poder e chega à periferia da sociedade É claro que as pessoas estão contra o governo Dilma, mas estão a favor daquilo que move todo povo trivial e idiota: a honestidade, a dor de consciência, a vergonha de testemunhar o furto daquilo que faria o progresso e o bem-estar de um Brasil que eles não acham que é atraso ou babaquice amar.

Do mesmo modo, todo rico tem quem seja mais rico e todo pobre conhece alguém mais pobre. Trata-se de uma oposição segmentar, como diziam os antigos sociólogos ou, como dizem os mais jovens, é um fractal. Como acontece com a oposição entre a casa e a rua na sociedade e, na política, entre direita e esquerda. Não é preciso pensar muito para descobrir que a casa tem uma rua (e vice-versa) e que cada direita tem a sua esquerda. Ou o velho Trotsky não foi assassinado? Quem o matou foi a direita ou a esquerda do stalinismo?

Quando eu fiz uma pesquisa num bairro periférico de São Paulo com pessoas que se definiam como “pobres”, fiquei parvo ao descobrir que todos, rigorosamente todos, se diziam pobres. Assim como os porta-vozes de Dilma que dizem querer um “diálogo” que termine por calar a nossa boca: a boca que foi calada por tanto tempo do cidadão comum. O tal povo que, neste movimento histórico, sai das asas dos partidos. Seja porque eles são todos falidos, mentirosos, malandros — maquinas de enricar seus membros; seja porque ninguém atura mais os Lulas, as Dilmas, as Gleises, os Cardozos (com z), os Dirceus (o “capitão do time”) os seus mensaleiros-jogadores, os Mantegas e as Rosemarys com suas pachorras e bebês.

O homem e a mulher comum se cansaram de pagar a conta da bomba de hidrogênio que foi o roubo ordenado, calculado, com um óbvio viés político-ideológico-partidário na maior e mais querida empresa do país.

Ouvir o Sérgio Gabrielli na CPI foi uma aula e um insulto. Ouvir novamente as reuniões do Supremo ou dos outros tribunais não pode mais ser um outro ato de autoflagelação. Ou mais uma aula de douta malandragem. O povo se cansou de testemunhar que o crime compensa quando o roubo é feito por agentes públicos graduados, eleitos para redimir e não sacanear o Brasil. Pois cada oitiva não termina numa lição de justiça, mas numa pedagogia de corrupção. Numa demonstração dos dotes necessários para bem roubar o Brasil: ter cara de pau, cinismo, frieza, ousadia, ausência absoluta de espírito publico, de patriotismo e, acima de tudo, de gosto pela malandragem que não dá em nada!

O outro aprendizado tenebroso é o seguinte: para roubar nesta escala e com tanta legitimidade, é preciso ser governo. Quem rouba não é o partido, nem as empresas, nem o papel de deputado, governador, prefeito, senador ou presidente. Quem rouba é a urdidura partidária relacional que mete na cabeça uma utopia ou um ideal revolucionário, o qual vai tirar a sociedade de sua miséria de pessoas comuns que trabalham, casam e fazem filhos misturados, que comem arroz com feijão e adoram carne-seca, samba e cerveja. Aceita a ideologia e implementado o partido como governo, começa a ação de “cuidar” ou revolucionar a sociedade. E, já que não se pode acabar com o mercado e a eleição, por que não comprá-los?

A nobreza das utopias — alimentar os famintos, vestir os nus, dar abrigo aos sem-teto — são as palavras magicas dessa cosmologia política pervertida, segundo a qual o governo, sabendo tudo e tudo possuindo, sabe mais e melhor do que a sociedade.

Mas eis que, depois uma década no poder, nada disso ocorre, exceto a utopia de enricar sem fazer nada — apenas governando e politicando: vendo onde, quando e quanto se pode tirar sem dolo, culpa ou remorso porque o dinheiro era do lucro e o lucro, como na Idade Média, é roubo e pecado. E quem rouba o ladrão tem mil anos de perdão...

Assusta, neste glorioso 15 de março, essas manifestações não encarnadas pelo falso vermelho, e marcadas pelo verde-amarelo. O verde-esperança e o ouro sem mácula que pintam o coração de milhares de brasileiros. Esses cidadãos comuns. Essa gente miúda. Esse povinho sem ideologia ou utopia, mas com a moralidade, apesar de tudo, intacta!
----------------------
Roberto DaMatta é antropólogo

Vinicius Torres Freire - Aperte o cinto, mas não viaje

• País reduzirá consumo fora para se adaptar às vacas magras aqui e à estiagem de capital no exterior

- Folha de S. Paulo

Menos consumo vai ser o mote ou o resultado médio da economia brasileira no biênio 2015-2016, pelo menos. Devemos gastar menos também no exterior. "Devemos" é tanto previsão como necessidade.

Consumimos menos lá fora quando o preço dos importados em geral fica mais alto: quando o real se desvaloriza. De quanto teria de ser a desvalorização do real, a "alta do dólar", para a economia do país se readequar sem sustos ou riscos de solavancos graves ao novo ambiente mundial e às nossas novas precariedades? Isto é, qual a taxa de câmbio compatível com um deficit externo "sustentável"? Os economistas do departamento de pesquisa do Itaú fizeram uma estimativa (na verdade, eles e parte da torcida do Flamengo, mas passemos).

No cenário básico, médio, "caminho suave", o real deslizaria para R$ 3,10 ao fim deste ano, para R$ 3,40 em 2016 e R$ 3,60 em 2017, não sem antes alguns solavancos na taxa de câmbio ("overshootings", exageros). Assim, o deficit externo baixaria dos atuais 4,2% do PIB para algo na faixa entre 2,5% e 3% do PIB (sendo de 2,5% o nível "sustentável" estimado pelos economistas).

Trocando em miúdos grossos, trata-se de uma redução de 1,5 ponto percentual da demanda doméstica --em resumo pitoresco, menos viagens no exterior, menos gasto de cartão de crédito no exterior, menos produtos importados e, mais importante e a princípio, menos investimentos, pois máquinas e equipamentos estarão mais caros e, por ora, sem uso.

Mas, ainda assim, nessa estimativa o caminho é suave; posto assim não parece muito dramático, em especial para a inflação.

Vai haver menos recursos disponíveis para o Brasil financiar seu excesso de consumo e investimento, seu deficit externo (grosso modo, a diferença entre o que consumimos e o que produzimos, que deve ser importada e, de algum modo, financiada). Por quê?

Na opinião dos economistas do Itaú, primeiro, a recuperação da economia americana e a decorrente alta de juros por lá vão reduzir a oferta de capital no mundo, ampla e barata faz quase dez anos.

Segundo, há menos confiança na economia brasileira, que prejudica a atração de investimentos "na produção" e de aplicações financeiras.

Terceiro, os sinais do governo de que seriam contidas as intervenções no câmbio, com o que o dólar subiria de preço mais rapidamente (o que, a princípio, afasta investidores externos).

O ano seria particularmente difícil também porque, por exemplo, haverá mais dívida externa a vencer neste ano. Porque as captações (empréstimos) de empresas no exterior serão menores: as empreiteiras flagradas na Operação Lava Jato estão sem crédito, esse rolo afetou o crédito de outras empresas e o custo dos empréstimos.

Se a transição para esse deficit externo menorzinho dependesse apenas de nós, a tarefa não seria lá fácil, mas seria administrável. O problema é que os donos do dinheiro grosso do mundo não se entendem sobre o que será de juros e preços de moedas de países centrais (dólar, euro). Menos ainda, se haverá tumulto na transição. Tudo depende de como e quando o BC dos EUA, Fed, vai começar a elevar seus juros. Outra temporada dessa série, novela, começa hoje, dia de decisão do Fed.

Celso Ming - Mais do que erro de dose

• Até agora, a única autoridade a reconhecer publicamente que, no seu primeiro mandato, o governo Dilma havia cometido “erros grosseiros” (no caso da política de desonerações) foi o ministro da Fazenda, Joaquim Levy

- O Estado de S. Paulo

Como é difícil de arrancar um reconhecimento básico da presidente Dilma.

Durante meses ela não admitiu nem sequer que o navio fazia água. Depois, quando não podia mais esconder o desastre, passou a dizer que este tinha como únicas causas a crise externa e a estiagem.

Depois de muita embromação e das críticas inevitáveis, a presidente passou a admitir, com as devidas sutilezas, que não podia mais insistir na chamada nova matriz econômica do ministro Guido Mantega: “O mundo mudou, o Brasil mudou e as circunstâncias mudaram. Tivemos de mudar a forma de enfrentar os problemas”.

Essa mudança tinha vagamente algo a ver com ciclos econômicos, que independem das políticas: “A dificuldade do Brasil é conjuntural e passageira. Provém da segunda fase da crise externa”, disse Dilma no dia 8 de março.

Mas como as coisas mudaram, se a crise externa e a estiagem ainda estão aí, como vinha dizendo a presidente? Bem, admitiu ela, “desoneramos impostos e aumentamos subsídios. Esse caminho se esgotou. Devemos iniciar outro”.

Finalmente, na segunda-feira, depois dos panelaços e das mais impressionantes manifestações desde o movimento das Diretas Já, a presidente admitiu uma falha do governo: “É possível que a gente tenha cometido erro de dosagem”.

Mero erro de dosagem não explica as proporções do desarranjo. A opção por uma política econômica experimentalista e gastadora é a principal responsável pela desorganização das contas públicas, pelo crescimento zero, pela desidratação da indústria, pela queda vertical do investimento, pela inflação que agora tende a ultrapassar os 8% em 12 meses, pela deterioração das contas externas e pela queda brusca da confiança.

Até agora, a única autoridade a reconhecer publicamente que, no seu primeiro mandato, o governo Dilma havia cometido “erros grosseiros” (no caso da política de desonerações) foi o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas foi severamente repreendido pelo que disse.

Admitir os erros na condução da economia é uma etapa necessária para explicar o ajuste. Como a população poderia aceitar esse brusco aperto de cintos, se ao longo de toda a campanha eleitoral a presidente candidata repetia que a economia era uma maravilha, que não havia nada de errado nas contas públicas e que a política de responsabilidade fiscal era pregação dos ortodoxos de rabo preso com o capital internacional?

Segunda-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), avisava que ninguém do governo explicava nem a necessidade do ajuste nem o que viria depois dele, para que valesse a pena.

O povão também não sabe porque ficou tão importante evitar o rebaixamento da qualidade da dívida do Brasil. Nem porque tudo pode piorar na vida do brasileiro se isso acontecer. Depois de tudo o que o governo disse das agências de classificação de risco, por que aceitar bovinamente seu jogo? Não é este um procedimento dos banqueiros internacionais identificados com os interesses de Wall Street? Por que, então, conformar-se com passar a pão e água? Pois isso também tem de ser explicado pelo governo.

É claro que isso implica abandono do discurso antigo, o mesmo que marcou todo o primeiro mandato Dilma. Mas é a única saída para evitar o processo de desintegração que agora toma o governo.

La nave va
Há apenas um mês, a presidente Dilma mostrava constrangimento pela política de ajuste fiscal que se viu obrigada a adotar. Por falta de opção, agora ela já a defende publicamente. Enquanto isso, as manifestações indiretamente parecem ter fortalecido o ajuste. Os empresários que repudiaram as restrições à política das desonerações anunciadas pelo ministro Joaquim Levy começam a se engajar na política de aperto fiscal, como caminho necessário para o restabelecimento da confiança.

Estelionato eleitoral
Ficam sem discurso setores do PT que criticavam a companheira Dilma por sua traição ao discurso de campanha e os sindicatos que repudiaram as decisões do governo que, segundo eles, colocam em risco os direitos dos trabalhadores.

E os manifestos?
Também passaram a falar sozinhos os economistas da Unicamp que subscreveram manifestos de rejeição à nova política.

Octávio Costa - Um tempo de reservas morais

- Brasil Econômico

Com a morte de Therezinha Zerbini, o Brasil se despede de uma de suas filhas mais nobres e dedicadas. A corajosa dona de casa católica pertenceu a um grupo de brasileiros e brasileiras que se destacaram nas horas mais difíceis da vida nacional. Fez parte do que, então, se chamava de reserva moral da Nação – gente de valor que enfrentou a repressão e denunciou os abusos do regime militar, de peito aberto e sem temer represálias. Dona Therezinha vai figurar para sempre no mesmo panteão do advogado Sobral Pinto, do cardeal Dom Hélder Câmara, do jornalista Barbosa Lima Sobrinho e do senador Teotônio Vilela. Com plena justiça, recebeu muitas homenagens por sua luta contra o autoritarismo. Em entrevista à revista Claudia, em 2012, ela foi taxativa: "Eu faria tudo de novo, com a mesma ousadia".

Nestes dias de incerteza e mesquinharia política, vale a pena falar do exemplo de dignidade de dona Therezinha. Seu marido era o general Euryale de Jesus Zerbini, comandante da unidade de Caçapava e um dos poucos oficiais de alta patente que reagiram ao golpe contra o presidente João Goulart, em 1964. O irmão do cardiologista Euryclides Zerbini pagou caro: foi cassado pela ditadura. Com o marido vivendo no interior, Therezinha permaneceu em São Paulo, atuando na resistência aos militares. Abnegada, fez de tudo um pouco. E ajudou a todos que a procuraram, desde fornecer documentos falsos até dar refúgio a estudantes perseguidos pela polícia. "Nunca deixei de auxiliar ninguém", lembrou ela, que também levantou recursos para quem vivia na clandestinidade. Conta-se que, numa dessas ações, abrigou em sua casa no Pacaembu o Cabo Ancelmo, o comandante da greve dos marinheiros que, anos mais tarde, foi denunciado como agente provocador e colaborador dos órgão de repressão. Amiga do dominicano Frei Tito, Therezinha teria conseguido com familiares a autorização para que um sítio em Ibiúna servisse de sede para realização do Congresso da UNE em 1968.

O encontro foi descoberto e centenas de estudantes saíram presos do local. Pela defesa dos direitos humanos e a suspeita de seu envolvimento no evento de Ibiúna, respondeu a inquérito policial militar e foi enquadrada na Lei de Segurança Nacional. No dia 11 de fevereiro de 1970, uma Quarta-Feira de Cinzas, foi presa em casa "por um certo capitão Guimarães". Tinha 42 anos de idade e impediu o marido de ajudá-la: "Entrei nisso sozinha, vou sair sozinha". Ficou presa por oito meses, seis deles no Presídio Tiradentes, onde conheceu a ex-guerrilheira Dilma Rousseff. Em 1975, dona Therezinha criou o Movimento Feminino pela Anistia, um dos braços fortes da luta pela redemocratização do país. Conseguiu de início 16 mil assinaturas de apoio e abriu unidades em várias capitais, com a adesão de partidos políticos e associações de classe. Em fevereiro de 1978, a partir da semente lançada pelo MFA, nasceu o Comitê Brasileiro pela Anistia, com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil. Estava cimentado o caminho para a anistia ampla, geral e irrestrita, que veio em agosto de 1979. Graças ao esforço de Therezinha Zerbini, a dona de casa paulistana que pertenceu a um tempo em que o Brasil tinha reservas morais.

João Bosco - O Rancho da Goiabadas (João Bosco e Aldir Blanc)

João Cabral de Melo Neto – O vento no canavial

Não se vê no canavial
nenhuma planta com nome;
nenhuma planta maria,
planta com nome de homem.

É anônimo o canavial,
sem feições, como a campina;
é como um mar sem navios,
papel em branco de escrita.

É como um grande lençol
sem dobras e sem bainha;
penugem de moça ao sol,
roupa lavada estendida.

Contudo há no canavial
oculta fisionomia:
como em pulso de relógio
há possível melodia,

ou como de um avião,
a paisagem se organiza,
ou há finos desenhos nas
pedras da praça vazia.

Se venta no canavial
estendido sob o sol
seu tecido inanimado
faz-se sensível lençol,

se muda em bandeira viva,
de cor verde sobre verde,
com estrelas verdes que
no verde nascem, se perdem.

Não lembra o canavial
então, as praças vazias:
não tem, como têm as pedras,
disciplina de milícias.

É solta sua simetria:
como a das ondas na areia
ou as ondas da multidão
lutando na praça cheia.

Então, é da praça cheia
que o canavial é a imagem:
vêem-se as mesmas correntes
que se fazem e desfazem,

voragens que se desatam,
redemoinhos iguais,
estrelas iguais àquelas
que o povo na praça faz.

---------------------
In. João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina e Outros Poemas, p. 47

terça-feira, 17 de março de 2015

Opinião do dia – Roberto Freire

Esse discurso (de diálogo) é surrado. Se a presidente quer ajuda, ela precisa dar sinais, como a redução de ministérios e cargos comissionados

----------------------
Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em O Estado de S. Paulo, 17 de março de 2015.

Dilma acena com diálogo e afirma que corrupção no País não poupa ninguém

• Na primeira manifestação pública após os protestos de domingo, a presidente defendeu a política econômica de seu primeiro mandato ao relacioná-la à proteção do emprego e da renda e diz estar disposta a conversar ‘com todas as matizes’

Tânia Monteiro, Rafael Moraes Moura e Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após os protestos contra o governo pelo País, a presidente Dilma Rousseff procurou nesta segunda-feira, 16, desfazer a imagem de isolamento e se disse disposta ao diálogo “com quem quer abrir diálogo”. Ao defender a aprovação do ajuste fiscal e reconhecer “algum erro de dosagem” da política econômica, Dilma justificou as medidas tomadas no primeiro mandato e rebateu quem tenta colar a corrupção a seu governo. “Ela não só é uma senhora bastante idosa neste País como ela não poupa ninguém.”

O governo aposta no pacote contra a corrupção para amenizar a crise política. Antes da entrevista, ao sancionar o Código de Processo Civil, Dilma havia destacado o caráter “democrático” e “pacífico” dos protestos e afirmou que o País está “impermeável ao golpismo e ao retrocesso”.

A ênfase no “diálogo” – palavra repetida 12 vezes nesta segunda – tem base em pesquisas de opinião. Mas é preciso mais: voltou a ocorrer panelaço em bairros nobres de São Paulo, Rio, Brasília e Belo Horizonte quando o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu as declarações de Dilma.

Manifestações. Tenho certeza que o que queremos é um lugar em que todos possam exercer seus direitos pacificamente, sem ameaças, desrespeitos às liberdades civis e às liberdades políticas. Um País que, amparado na separação, independência e harmonia dos poderes, na democracia representativa, na livre manifestação popular nas ruas e nas urnas, se torna mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso. A credibilidade das instituições e a preservação das regras da democracia são os melhores antídotos contra a corrupção, a intolerância e a violência. É com a democracia que se vencerá o ódio, que se combaterá corruptores e corrompidos. Nós respeitamos as ruas, um dos legítimos espaços de manifestação popular, pacífica e sem violência. Respeitamos e ouvimos com atenção todas as vozes, de todos os matizes, de todas as tendências. Por isso o governo sempre irá dialogar com as manifestações. Ouvir é a palavra, dialogar é a ação. O sentimento tem de ser de humildade e firmeza.

Erros. Se cometemos algum erro de dosagem (da política econômica), é possível que a gente possa até ter cometido algum. Agora, qual foi o erro de dosagem que cometemos? Gostaríamos muito que houvesse uma melhora econômica de emprego e renda. Tem gente que acha que a gente tinha de ter deixado algumas empresas quebrarem e os trabalhadores se desempregarem. Eu tendo a achar que isso era um custo muito grande para o País. É possível discutir se podia ser um pouco mais ou um pouco menos. Mas isso não explica por que estamos nessa situação. O que explica é um fato constatado: a economia não reagiu. Ninguém pode negar que fizemos de tudo para a economia reagir.

Podem falar: era melhor deixar quebrar. Eu não acredito nisso. Em qualquer atividade humana se cometem erros. Longe do meu governo achar que não cometeu erro nenhum. Agora, o que eu não posso concordar é aceitar ser responsabilizada por algo que seria pior se deixássemos. Nós seguramos – comparando com o resto do mundo – os 20 milhões a mais de emprego.

Humildade. Atitude de humildade é pelo seguinte: você só pode abrir diálogo com quem quer abrir diálogo. Com quem não quer não tem como. Procurarei ter diálogo com seja quem for, é uma atitude de abertura. Eu não estou aqui fazendo nenhuma confissão, isso aqui não é um palco de confissão, é uma entrevista. Se alguém achar que eu não fui humilde em algum diálogo, me diz qual e vou tomar providência para mudar.

Corrupção. A corrupção não nasceu hoje, ela não só é uma senhora bastante idosa neste País, como ela não poupa ninguém, pode estar em tudo quanto é área, inclusive no setor privado. Vamos lembrar o que ocorreu em 2008-2009, quando pelo menos uma das questões foi fraude bancária. O dinheiro tem esse poder corruptor, temos de ter vigilância, instituições, legislação pra impedir que ocorra. Não vamos achar que tem qualquer segmento acima de qualquer suspeita. Isso não existe. E acho mais: o combate a corrupção começa através de um processo educacional. O fato de você não querer ganhar vantagem em tudo, de você valorizar o trabalho, a pessoa que conquistou as coisas com seu próprio valor.

Ajuste fiscal. O ajuste é essencial para o País. O governo vai lutar pelas correções e pelos ajustes. Vamos fazer esse esforço ao longo deste ano. Mas o Brasil tem todas as condições de sair em menos tempo do que em qualquer outra circunstância. O quanto pior melhor é algo que não se pode aceitar. Vamos brigar depois. Agora vamos fazer para o bem do Brasil tudo aquilo que deve ser feito.

PMDB. Longe de nós querer isolar o PMDB. Pelo contrário, o vice-presidente é o companheiro Michel Temer, extremamente solidário. Temos uma parceria com o PMDB, o PMDB participa do governo. Agora, nós temos uma situação que temos de construir também. Ninguém aqui pode achar que as instituições políticas do País estão à altura das necessidades do País. Não estão. E aí vale para todos os partidos. Estou falando de governabilidade, da forma pela qual se relaciona um partido na presidência da República com outros partidos. Em qualquer democracia, o diálogo é essencial. Se você instabiliza um país sempre que lhe interessa, uma hora essa instabilidade passa a ser algo que ameaça a todos, é a pior situação que tem.

Congresso. O Congresso não tem sido adverso para o governo. Sempre que compreenderam, sempre que foi debatido antes, o Congresso foi bastante sensível. Não vejo um embate. O que é mais atraente é a crise do que a não crise. Então muitas vezes se coloca crise onde não tem. Agora, tem dificuldades, e vai ter. (Mas) Não acredito que no caso do pacote anti-impunidade vai ter dificuldade.

Denúncia contra Vaccari. Esses acontecimentos mostram que são infundadas todas as teorias de que o governo interferiu sobre o Ministério Público, ou sobre quem quer que seja, para investigar ou fazer qualquer coisa com quem quer que seja. Tanto é assim que, isso acontece, o governo continua. Se querem investigar, vão investigar; quem for responsável pagará pelo que fez.

Reforma política. Reitero minha convicção de que a conjuntura aponta para uma necessidade urgente de uma ampla reforma política. Sei que o protagonista desta reforma é toda a população brasileira, mas também sei que o espaço adequado para ela é o Congresso.

Luiz Werneck Vianna e outros - O que há de novo na política?

• Cientistas políticos, historiadores e sociólogos analisam o impacto das manifestações de 15 de março de 2015

- O Estado de S. Paulo

• Fabio Wanderley Reis
Cientista político e professor emérito da UFMG

Acho que o 15 de março, em si mesmo, não traz grande novidade. Pela forma como foi inicialmente convocado, vem na onda de algo novo, que já vimos nas manifestações de 2013, ou seja, o instrumento de mobilização popular ágil representado pelos celulares e pelas redes sociais, apesar de que a repercussão na imprensa, antes do evento, obviamente ajudou a ampliá-lo. Pelo tamanho das manifestações, de todo modo, naturalmente tem algum impacto no quadro da crise que o País está vivendo. Mas mesmo esse impacto me parece limitado: afinal, o tamanho foi maior onde o antipetismo e o antigovernismo já tinham aparecido maiores na eleição do ano passado; e, com o jeito de festa tranquila, que nem pôde ser apropriada mais claramente pela oposição político-partidária, faltou nas manifestações algo mais forte, mais dramático. A crise continua feia e o governo perplexo. Mas as coisas não mudam muito.

• Pablo Ortellado
Filósofo e professor da USP

As manifestações de domingo têm um impacto político enorme. Tiveram a mesma grandeza dos protestos de junho de 2013, se não maior. O fato de estarem circunscritas a uma classe social ajuda a explicar o fenômeno, mas ele não deve ser deslegitimado por conta disso. Qualquer manifestação que reúna dezenas de milhares de pessoas causa desgaste no governo, perda de popularidade e de legitimidade. E não há indicativo de que isso vai desaparecer. Se olharmos historicamente, é a primeira vez que a direita tem expressão de rua relevante desde a democratização. Os grupos que estão convocando se apresentam como sendo de direita, liberais, ultraconservadores: o Vem pra rua, o Movimento Brasil Livre, o Revoltados Online. O novo conservadorismo deve ser observado. É uma nova cultura conservadora que tende a ler a política numa chave moralista, disciplinadora, e que gera muita barreira de classe. Os programas sociais são vistos como uma ação indevida do Estado, como se pobreza fosse um castigo devido. Quando esse espírito se dissemina, as relações entre as classes ficam bem mais complicadas.

• Luiz Werneck Vianna
Professor da PUC-RJ

Quem estava ali era a classe média brasileira, com seus diferentes estratos, demonstrando desencanto e desesperança também. Claro que houve recados explícitos em favor do impeachment, contra a corrupção. O sentido geral foi: cansei dessa política. Não foi uma manifestação radical nem que apontasse caminhos para o futuro. A presidente tem que mudar seu estilo de governar, seu programa. Tem que procurar aliados novos. E, no limite, já está na hora de, pelo menos nos bastidores, conversar com a oposição. Não dá para não atentar para a gravidade da situação sem que se esboce qualquer alternativa de reação. A presidente diz que o caminho econômico que ela perseguiu ao enfrentar a crise de 2008 está exaurido. Precisa reconhecer bem mais que isso: que o tipo de política que o partido dela e ela representaram também se exauriu. O impeachment não é desejável de forma alguma. Se o impeachment não é desejável de forma alguma, quatro anos de uma presidente emparedada é ainda mais ameaçador do que ele.

• Fátima Pacheco Jordão
Socióloga e conselheira do Instituto Vladimir Herzog

As manifestações são uma forma de explicitar o descontentamento com o governo, não têm componente golpista. Essa movimentação pede mudanças e as respostas do governo apontam nessa direção. Está havendo uma mudança de postura efetiva do governo. Vejo tudo isso com otimismo. Eles estão com menos de 10% de aprovação, e isso é inédito. O País vai viver um momento muito rico. Como nunca tivemos um grau de liberdade, conscientização e educação tão altos, o Brasil tem chance de dar um salto. A opinião pública disse o que deseja, pacífica e contundentemente, tanto em junho de 2013, quando nas eleições, quanto ontem. Em qualquer país do mundo, isso é muito positivo. O pedido pelas Forças Armadas é marginal, e é natural que assim seja. Estamos vivendo uma gama que vai da extrema esquerda à extrema direita, e é positivo que se possa tolerar essa escala de diversidade.

• Adriano Pilatti
Professor de Direito Constitucional da PUC-RJ

O 15 de março revelou preocupante capitalização de insatisfações, até legítimas, por organizações de direita, interessadas em desgastar o governo até inviabilizá-lo, ou em regressões mais graves. O mal estar com a corrupção e as mentiras eleitorais, ampliado pelos últimos escândalos e respectivo tratamento midiático, e a frustração pelas medidas econômicas, foram espertamente canalizados para atingir tão somente o governo federal e o PT. Também lá estavam setores golpistas e reacionários inconformados. Mas seria um erro tratar tudo isso como se fosse uma coisa só. A polarização entre “vermelhos” e “azuis” chegou ao seu paroxismo, mas não suprime o “terceiro setor”, os 37 milhões de eleitores que não votaram em Dilma ou Aécio. E também os que votaram, mas não foram às ruas por se sentirem traídos por um governo em que já não confiam, ou porque não quiseram servir de massa de manobra dos oposicionismos oportunistas. Aí está o “fiel da balança”, e talvez dele possam surgir, à esquerda e à direita, as forças de renovação e aprofundamento da democracia brasileira.

• Helcimara Telles
Professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais

Uma primeira "novidade" é destacar a organização não-institucional destes grupos no espaço on line, que não se encontraram liderados por "políticos tradicionais" Em segundo lugar, a presença do antipetismo nas mensagens compartilhadas, inclusive nos espaços offline. Finalmente, mais não menos importante, seria o caso de indagar se os efeitos dos ajuste fiscal e consequente piora dos indicadores econômicos, poderá expandir este perfil ideológico a outras parcelas do eleitorado, tanto através da atração de eleitores identificadas com o centro político ou com a emergente (ainda que minoritária) extrema-direita e, mesmo, se as consequências econômicas poderão seduzir segmentos tradicionalmente sob maior influencia do governo e do PT, sobretudo os recém-chegados à chamada "Nova Classe C". Os protestos demonstram profunda crítica à classe política, que novos perfis ideológicos emergem, os grupos oposicionistas têm aprendido a "organizar as ruas" e o PT delas se distanciou.

• Argelina Figueiredo
Professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ)

No 15 de março de 2015 testemunhamos o primeiro movimento político de massa ocorrido durante e depois da redemocratização que não contou com a participação de militantes do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi ao contrário um movimento de crítica e oposição a um governo do PT. Serviu para mostrar a muitos que "ir às ruas" é um instrumento democrático legítimo para a população demonstrar sua insatisfação com o governo e não um ato contra o país. E dessa forma foi visto pelo governo. A democracia brasileira deu mais um passo à frente.

• Charles Pessanha
Professor de Ciência Política da UFRJ

Efetivamente, não foi uma manifestação trivial, assim como as manifestações em junho de 2013 não foram. São alertas que foram causados pela paralisia decisória do governo. O presidencialismo depende fundamentalmente da liderança do presidente da República, é ele quem pauta o poder. Há uma paralisação do executivo, que não exerce liderança, não pauta a sociedade, e com isso está cedendo espaço para que outros atores políticos tomem conta do processo de decisão. Isso traz problemas e, se continuar, é pior. Estamos há dois meses com o processo decisório emperrado, e o governo tem decisões prementes a tomar.
Não estou negando nem desconhecendo que a situação política, por conta da Operação Lava Jato, complica as coisas. É um problema difícil, mas o governo precisa fazer sua parte. É preciso conversar com a população e com os aliados, ter mais rapidez, mais liderança, e sair do corner.

• Milton Lahuerta
Coordenador do Laboratório de Política e Governo da Universidade Estadual Paulista

A manifestação, por si só, não traz algo de novo. Ela expressa uma polarização que vem acontecendo desde as eleições de 2010 e que se acentuou ainda mais nas eleições de 2014.
O que o protesto do 15 de março revela é que a temperatura da fervura está crescendo, o que não é bom. Há uma crescente nesse processo que começa a se tornar preocupante. Seria interessante que as lideranças trabalhassem para construir canais de interlocução, e não para destruir esses canais.
Há um desencantamento geral em relação à política, mas isso é centrado principalmente no governo federal. O governo cometeu um erro ao tentar organizar uma manifestação de apoio na sexta-feira anterior ao ato. Me parece que o tiro saiu pela culatra, porque serviu como estímulo para que as pessoas saíssem às ruas no domingo.

• Rita de Cássia Biason
Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisa sobre a Corrupção da Unesp-Franca

No que diz respeito ao combate à corrupção, independentemente do número de pessoas, pela primeira vez os manifestantes estão associando corrupção, dinheiro público e agentes políticos. Isso é muito interessante, pois não havia sido observado até agora.
Em manifestações passadas, eu não via essa associação, esse link de três eixos. Dessa vez o que existe é uma população indignada com o uso do dinheiro público para fins privados.
Isso não se aplica à questão da Petrobras, onde o dinheiro ilícito vem de empresas. Nesse caso há um problema nas licitações. Existe uma apropriação por parte de empreiteiras, de um dinheiro que seria delas, para pagar suborno.
O que vai decorrer disso, ninguém sabe. Há um pacote de medidas, e o que espero é que ele não inclua corrupção como crime hediondo. Eu não preciso de mais uma lei, eu preciso é de aprimoramento dos mecanismos de controle do dinheiro público.

• Aldo Fornazieri
Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo
O 15 de março é revelador da falência do sistema político e partidário brasileiro. Dirigido contra a presidente Dilma, contra o PT e contra a corrupção, além de outras bandeiras, ele foi convocado promovido à revelia dos partidos políticos e das instituições da sociedade civil. Políticos da oposição que compareceram nos protestos foram vaiados e impedidos de falar. Isto indica o quanto o governo e a oposição não são capazes de oferecer alternativas à sociedade. Há um esgotamento do sistema político brasileiro sem que surjam alternativas e lideranças novas. Há dois riscos em tudo isto: 1)uma radicalização do processo sem a possibilidade de saídas negociadas; 2) uma lenta legitimação de grupos que propõem saídas antidemocráticas. Ademais, sem organização e sem direção, essa enorme energia que se viu nas ruas poderá se esvair sem conquistas concretas.

• Fernando Abrucio
Professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (SP), coordena o Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo

As manifestações representam não somente a crítica ao Governo Dilma e ao PT, mas também um desencanto da sociedade, em particular da classe média (sobretudo a paulista) com o sistema político brasileiro. Trata-se de um movimento que teve seus primeiros passos em junho de 2013 e que ganhou uma dimensão de negação dos políticos que atinge o governo e até a oposição.
Ficam duas perguntas: esta insatisfação vai se espalhar para outros setores sociais e regionais com a mesma força que teve em SP? E de que maneira a mobilização social vai criar uma agenda e meios para mudar a política? Afinal, só se modifica o sistema político influenciando seu centro de decisão.

• José Álvaro Moisés
Professor da USP e coordenador do Grupo de Pesquisa Qualidade da Democracia, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP)

15 de março foi um recado importante em vários sentidos. Primeiro, de que temos uma democracia pujante, com muita diversidade política e o desejo das pessoas de influenciar os rumos do governo. Depois, os manifestantes anunciaram que estão insatisfeitos com o governo, querem que ele mude ou saia. A ideia de que as manifestações eram golpismo ou terceiro turno caíram por terra, mas as pessoas se mostraram cansadas da corrupção, desconfiadas do governo e de instituições como os partidos e o Congresso.
Outras coisas também ficaram claras: o PT e o governo Dilma dizem, sempre que podem, que querem construir um projeto hegemônico no país, a favor da justiça e da igualdade social, mas são incapazes de perceber que hegemonia é algo que supõe incluir os que pensam diferente e que o esforço de convencer os outros é sempre necessário a quem quer governar para todos. A ideia de que foi um evento só de ricos e 'coxinhas' não tem apoio na realidade e espanta que o governo se iluda sobre isso.

• Lincoln Secco
Professor de História contemporânea na USP

As manifestações do 15 de março não surpreendem nem pelo número de participantes (afinal estão longe da importância da Campanha das "Diretas Já" que mobilizou 5% da população da época) e nem pelo conteúdo, já que a crítica da corrupção fez parte tanto das passeatas golpistas no pré-64 quanto de campanhas do PT nos anos 1990. Sua novidade está na forma.
Desde junho de 2013, manifestantes se autoconvocam sem a mediação de partidos. Só que em junho, os protestos começaram com uma esquerda não partidária e,depois, se massificaram com uma pauta difusa. Agora, a convocação foi fragmentada, mas o objetivo se unificou nas ruas num antipetismo militante. O problema é que não há saída democrática antes de 2018 para ele. O sentido de junho estava no futuro. Se os partidos de oposição não representarem o 15 de março, ele só poderá olhar para o passado, ainda que com as técnicas mais avançadas do presente.

• Cláudio Couto
Professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP)

O 15 de março é um marco da história política brasileira. Após três décadas - desde os estertores da ditadura - em que a esquerda puxou a fila das grandes mobilizações no Brasil, agora foi a direita a fazê-lo. Isto não ocorria desde 1964, quando das "Marchas da Família com Deus e pela Liberdade". Isto não significa que todos manifestantes sejam de direita. Eis aí a força do episódio: a direita capitaneou uma mobilização que lhe ultrapassa.
Daí a encalacrada de Dilma e do PT. O ensimesmamento, a arrogância e falta de autocrítica diante de seguidos escândalos de corrupção - turbinados pela desastrosa política econômica do primeiro mandato e pela incompetência na gestão da coalizão - deram substância a ressentimentos de classe produzidos pela redução das desigualdades dos anos Lula. Resultado: deu-se a setores médios conservadores oportunidade para liderar até mesmo os que emergiram.

Protestos fazem Dilma admitir erro na economia

Humildade no dia seguinte

• Após protestos, Dilma reconhece erros, propõe diálogo e diz que corrupção é "senhora bastante idosa"

Luiza Damé, Catarina Alencastro e Simone Iglesias – O Globo

Depois do 15 de março

BRASÍLIA - Um dia após os protestos que levaram ao menos dois milhões de pessoas às ruas do país, segundo estimativas oficiais, a presidente Dilma Rousseff saiu ontem da defensiva, reconheceu erros do governo, pregou humildade e se declarou aberta ao diálogo com todos os setores da sociedade.

A mudança de postura da presidente revelou-se desde cedo, quando chamou uma reunião de avaliação das manifestações, no Palácio do Planalto, ampliando, finalmente sua coordenação política com mais três partidos da base: PMDB, PSD e PCdoB. Dilma fez referência aos protestos no discurso de sanção do Código de Processo Civil, à tarde, e, em seguida, deu entrevista coletiva, na qual pediu trégua às divergências políticas, reconheceu que talvez tenha cometido "algum erro de dosagem" nas medidas econômicas e defendeu o diálogo com regras, sem fomento à instabilidade política. A presidente fechou o dia com uma reunião no Planalto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o presidente do PT, Rui Falcão.

Dilma: compromisso é combater corrupção
Durante a entrevista, falou de forma coloquial, usando bastante a expressão mineira "ocê". Também fez questão de explicar didaticamente termos econômicos, como as medidas anticíclicas adotadas para estimular a economia durante a crise internacional, e a relação entre a dívida pública e o PIB (soma de bens e serviços produzidos no país). A obrigação do governo, segundo a presidente, é escutar o recado das ruas. Ela reiterou que o compromisso de seu governo é combater a corrupção e a impunidade. Em resposta ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que afirmou que a corrupção está no Executivo, Dilma disse que nenhum setor está imune a desvios:

- A corrupção não nasceu hoje, ela não só é uma senhora bastante idosa nesse país, como ela não poupa ninguém. Ela pode estar em tudo quanto é área, inclusive, no setor privado.

Partiu dos peemedebistas a constatação de que faltava humildade ao governo, crítica constante da oposição. Dilma ouviu e passou a adotar a palavra como lema. Mergulhada numa crise política e econômica, a presidente pediu na reunião da coordenação o apoio integral às medidas de ajuste fiscal. Só elas, disse Dilma aos aliados, poderão fazer o governo reagir. Aos ministros, delegou a função de conversar com empresários e movimentos sociais e sindicais para pedir que cedam e apoiem o pacote. O governo vê nas medidas do ministro Joaquim Levy (Fazenda) o passaporte para dias melhores. Sem o hábito de dar autonomia aos auxiliares, Dilma tenta inaugurar um novo momento, prometendo diálogo e cumprindo com sua intenção de ouvir os aliados.

- O governo tem obrigação de abrir o diálogo. Obviamente, de um lado, uma postura humilde, porque, para dialogar, você tem de aceitar o diálogo. O que temos de postura humilde é "estou aberto ao dialogo". Ao mesmo tempo, o governo tem de ter uma postura firme naquilo que ele acha importante e que, muitas vezes, está coerente com o que as manifestações querem e, algumas vezes, não - disse a presidente.

A presidente insistiu na importância da aprovação do ajuste fiscal e pediu apoio às propostas em tramitação na Câmara. Dilma tem enfrentado resistência dos governistas e de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que colocam em votação projetos sem aval do Planalto, atendendo à pressão da oposição.

- Quando a gente diz que o quanto pior melhor é algo que não se pode aceitar, o que nós estamos dizendo é o seguinte: vamos brigar depois, agora vamos fazer, para o bem do Brasil, tudo aquilo que tem de ser feito pelo bem do Brasil. É essa a ideia - afirmou.

Instabilidade ameaça a todos
Segundo a presidente, as instituições políticas brasileiras não estão à altura das necessidades do país, e isso inclui todos os partidos políticos. Dilma afirmou que, em uma democracia, o diálogo e a livre manifestação são essenciais, mas as regras do processo democrático têm de ser respeitadas para garantir a governabilidade:

- Se você instabiliza o país sempre que lhe interessa, uma hora essa instabilidade passa a ser algo que ameaça a todos. A escalada é a pior situação que tem. Nós estamos em uma fase democrática em que temos de buscar o consenso mínimo, ninguém tem de concordar em tudo. Pelo contrário, eu acho que é da democracia não haver concordância e unanimidade. Unanimidade só tem em um regime e a gente sabe qual é. Alguns pensam e falam, e os outros que calem a boca.

A prisão de Renato Duque e o pedido de abertura de inquérito contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto foi considerada problema antigo, com personagens que já estavam sendo investigados.

- Eu acho que esses acontecimentos mostram que todas as teorias de como é que o governo interferiu no Ministério Público para investigar ou fazer qualquer coisa com quem quer que seja são absolutamente infundadas.

Dilma propõe trégua e diz que país rejeita 'golpismo'

• 'Vamos brigar depois', sugere a presidente, um dia após enfrentar protestos

• Petista admite que pode ter havido 'erro de dosagem' na economia e reafirma disposição de fazer ajuste fiscal

Mariana Haubert, Natuza Nery, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

Protestos de março

BRASÍLIA - Um dia depois das manifestações em algumas das principais cidades do país, a presidente Dilma Rousseff admitiu que pode ter cometido "erro de dosagem" na condução de sua política econômica, pediu trégua aos críticos e afirmou que o país rejeita o "golpismo" e o "retrocesso".

Ainda tentando assimilar o susto gerado pelo tamanho dos protestos do domingo (15), Dilma teve uma segunda-feira atípica. Aproveitou uma cerimônia no Palácio do Planalto para responder parte das críticas feitas ao seu governo durante os protestos, como os pedidos de impeachment, e rebater os que defenderam a volta dos militares.

Em vários momentos, falou em "humildade" e que governa para todos, para quem votou e quem não votou em seu projeto. Depois, emendou o evento com uma entrevista coletiva e encerrou o dia reunida com o ex-presidente Lula, com quem já tinha se encontrado uma semana antes.

Ainda pela manhã, a presidente conduziu uma reunião ampla com o vice, Michel Temer (PMDB), e dez ministros. Na pauta, o cenário pós-manifestações e o envio das propostas anticorrupção e da reforma política ao Congresso, únicas respostas encontradas até agora para tentar reagir às críticas.

Avessa a discutir questões políticas com muita gente, Dilma tem sido obrigada a ampliar os fóruns de debate interno por causa da crise.

'Senhora idosa'
Incomoda por ter se tornado alvo das manifestações contra a corrupção, a presidente fez questão de frisar que o problema não é exclusivo do Executivo, como acusou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante evento em São Paulo.

"A corrupção não só é uma senhora bastante idosa neste país como ela não poupa ninguém. Pode estar em tudo quanto é área, inclusive no setor privado".

Pela primeira vez desde que foi reeleita, Dilma ensaiou um mea-culpa na condução da economia, mas depois relativizou a autocrítica.

"É possível que a gente possa até ter cometido algum [erro]. Tem gente que acha que a gente tinha que ter deixado algumas empresas quebrarem e os trabalhadores se desempregarem. Eu tendo a achar que isso tinha um custo muito grande para o país. É possível discutir se podia ser um pouco mais ou um pouco menos", disse.

Depois, ao voltar ao tema, disse que "em qualquer atividade humana se comete erros". "Longe de mim, ou longe do meu governo achar que não cometeu erro nenhum."

Dilma tem sido pressionada a reconhecer erros durante seu primeiro mandato e, sobretudo, a explicar a diferença entre o tom otimista usado na eleição e as medidas de arrocho fiscal lançadas após sua vitória, em outubro.

O rigor do ajuste tem relação com o descontrole das contas públicas no primeiro mandato da petista. Daí a necessidade de aprovar, com urgência, um conjunto de medidas para reequilibrar gastos e receitas.

"Quando a gente diz que o 'quanto pior melhor' é algo que não se pode aceitar, o que nós estamos dizendo é o seguinte: vamos brigar depois, agora vamos fazer, para o bem do Brasil, tudo aquilo que tem de ser feito pelo bem do Brasil. É essa a ideia."

Dilma foi mais assertiva ao falar de erros cometidos por seu governo ao comentar a situação do Fies, programa de financiamento estudantil que vem sendo reformulado.

"O governo cometeu um erro no Fies. Passou para o setor privado o controle dos cursos [...]. Isso não é culpa do setor privado. Fomos nós que fizemos isso", afirmou.

Impermeável
Na solenidade de sanção do novo Código de Processo Civil, Dilma aproveitou para dizer que não há ambiente no Brasil para rupturas, referindo-se às manifestações de domingo no país inteiro.

Ao se recordar dos tempos de luta contra a ditadura, não escondeu a emoção.

"Nunca mais no Brasil nós vamos ver pessoas que, ao manifestarem sua opinião, seja contra quem quer que seja, inclusive a Presidência da República, possam sofrer quaisquer consequências", disse a ex-militante presa e torturada na juventude.

"Valeu a pena lutar pela liberdade, valeu a pena lutar pela democracia", disse a petista. "Esse país está mais forte do que nunca".

Segundo Dilma, diante de "convites a aventuras e a rupturas da normalidade política", o Brasil é um país amparado "na democracia representativa, na livre manifestação popular, nas ruas e, nas urnas, se torna cada vez mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso".

Em vários momentos do discurso, a presidente se referiu ao período da ditadura para dizer que as manifestações realizadas em diversas localidades no domingo, sobretudo na avenida Paulista, em São Paulo, não seriam possíveis se o país não tivesse um regime democrático.

A presidente prontificou-se a dialogar com todos os setores da sociedade, mas esclareceu que não pode obrigar ninguém a conversar com o seu governo.

À noite, quando o "Jornal Nacional" da TV Globo mostrava trechos de seu discurso e de sua entrevista, houve panelaço em alguns bairros de São Paulo, Rio e Brasília.

Eduardo Cunha diz que corrupção está no Executivo e não no Legislativo

• Em reunião com empresários paulistas, presidente da Câmara faz duras críticas ao governo Dilma

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira em São Paulo que “a corrupção não está no Legislativo, está no Executivo”. Ele se reuniu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com um grupo de cerca de 160 empresários, para quem reservadamente, durante o encontro, ainda disse que o “PT não tem opositores, tem inimigos; o PT não tem amigos, tem súditos”.

Ao comentar os protestos de ontem, Cunha afirmou que o Poder Executivo é responsável por permitir que a corrupção tenha avançado.

— Quando falam que as ruas estão contra o Parlamento, quero dizer que nós somos representantes do povo e vamos fazer (reformas), tomamos posse agora apenas há 40 dias e temos que andar em consonância com eles. É bom deixar claro que a corrupção não está no Poder Legislativo, a corrupção está no Executivo. Se eventualmente alguém no Poder Legislativo se aproveitou da situação para dar suporte politico em troca de benefícios indevidos é porque esses benefícios existiram pela falta de governança do Poder Executivo, que permitiu que a corrupção avançasse — disse Cunha.

O presidente da Câmara é um dos 34 parlamentares que integra a lista de políticos que respondem a inquérito Supremo Tribunal Federal (STF) pela Operação Lava-Jato.

Ele também criticou as declarações dadas ontem pelos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) após os protestos. Em resposta aos protestos, os ministros prometeram lançar um pacote com medidas para combater desvios de dinheiro público e voltaram a defender a reforma política.

— Achei a participação dos ministros um desastre, cada um falando uma coisa. Quem fala em diálogo e sectariza quem está nas ruas não quer ouvir. Eu não vi ontem nas ruas aquilo que os ministros manifestaram na entrevista. Não vi ninguém pedir reforma política, vi pedir mudança de governo. Eu fui eleito no dia primeiro de fevereiro. A minha primeira sessão, no dia três, eu avoquei a reforma politica que estranhamente os ministros do Partido dos Trabalhadores vieram reclamar, mas o PT obstruiu na Comissão de Constituição e Justiça por um ano a admissibilidade da PEC. Eu tive que fazer a admissibilidade em plenário.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 353/13, elaborada pelo Grupo de Trabalho de Reforma Política, coordenado pelo ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), prevê o voto facultativo, o fim da reeleição para presidente, governador e prefeitos e a coincidência das datas das eleições a cada quatro anos.O texto, porém, não altera o financiamento privado de campanha e, por isso o PT se posicionou contra a análise do projeto pelo plenário e tentou obstruir. O partido é a favor do financiamento exclusivamente público de campanha e prefere esperar que o Supremo Tribunal Federal (STF) se posicione antes sobre o tema.

— Há dois anos eu escuto que vão mandar um pacote anticorrupção, que mande qualquer que seja esse pacote. Nós votamos em 2013 a lei anticorrupção das empresas e um ano e meio depois o governo ainda não a regulamentou. A Câmara está fazendo a parte dela. Se eles quisessem cooperar, não tinham obstruindo por um ano esse debate — disse o presidente da Casa.

Apesar de fazer diversas críticas duras ao governo, ele condenou os pedidos de impeachment. Para Cunha, a ação “beira o ilegal e o inconstitucional”.

— Efetivamente, da nossa parte, não tem guarida para poder dar seguimento até porque entendemos que esta não é a solução. Entendemos que temos um governo que foi legitimamente eleito e que, se aqueles que votaram neste governo se arrependeram de terem votado, isso faz parte do processo político. E não é dessa forma que vai resolver. Temos que debater, sim, o que aconteceu nas ruas ontem, temos que buscar formas que ajudem o governo a se encontrar com aquilo que a sociedade deseja ver. Mas não a partir de situações que cheiram e beiram o ilegal e o inconstitucional — afirmou Cunha aos jornalistas, após a reunião.

Questionado sobre a frase que ele disse durante a reunião para os empresários, Cunha disse que se referiu à campanha eleitoral. Ele já havia dito em discurso no plenário em fevereiro que o "PT não tem adversários, tem inimigos".

— Eu repeti uma frase de campanha eleitoral minha, fiz questão de dizer que não fiz essa frase hoje. O contexto que disse foi em cima de um comentário do (ex) ministro Jobim, acerca do pouco diálogo e das dificuldades de atrito (entre integrantes do governo). Durante a minha campanha eleitoral, usei uma frase para exemplificar a campanha, o que eu estava sofrendo. Eles (petistas) não têm aliados, eles gostam de ter subservientes. Eles também não tem adversários, eles têm inimigos, que foi o que fizeram comigo durante a campanha eleitoral. Eu repeti a frase daquele contexto, não falei sobre hoje — explicou Cunha.

Nelson Jobim foi ministro da Defesa na primeira gestão da presidente Dilma Rousseff. Durante seu mandato, fez diversas críticas públicas ao governo. Cunha alertou os jornalistas, após responder o questionamento sobre a crítica, para não usarem a frase dita no encontro reservado.

Medidas anticorrupção já tramitam no Legislativo

• Pacote é o mesmo anunciado na campanha e aguarda aprovação

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - As medidas anticorrupção que a presidente Dilma Rousseff pretende enviar ao Congresso como resposta às manifestações do último domingo já tramitam na Câmara e no Senado e, até o momento, o governo não havia se empenhado na sua aprovação. Esse pacote foi anunciado durante a campanha à reeleição para tentar tirar a presidente Dilma da defensiva, em meio ao escândalo na Petrobras.

Um dos itens que fazem parte do pacote de Dilma é a transformação da prática de caixa dois em crime. Em julho de 2013, o senador Jorge Viana (PT-AC) apresentou projeto com essa tipificação. A proposta está numa das comissões da Casa. Viana acredita que um projeto enviado pelo Executivo tramita com mais rapidez e tem mais chance de ser aprovado:

- As tramitações demoram, tem proposta para todo gosto na Câmara e no Senado. O fato de a presidente da República apresentar dá um sinal forte. Não é suficiente, mas é importante. Quando ela apresenta, há empenho dos presidentes da Câmara e do Senado, e dos líderes da base, para aprovar - disse Viana.

Caixa dois levaria à prisão
Pela proposta do senador, o caixa dois será punido com pena de cinco a dez anos de prisão, além de multa. Atualmente, é considerado contravenção, e não crime, e punido com suspensão dos repasses do fundo partidário para o partido. Já o candidato tem seu registro cancelado ou o diploma cassado.

Jorge Viana é irmão do governador do Acre, Tião Viana (PT), que teve inquérito aberto, por autorização do Superior Tribunal de Justiça, para investigar suposta participação no esquema de corrupção na Petrobras.

Outra medida defendida por Dilma na campanha, e que deve constar no pacote, é a punição de agentes públicos que apresentarem enriquecimento sem justificativa. Um projeto com esse teor, apresentado pelo senador Papaléo Paes (PSDB-AP), já foi aprovado pelo Senado e está na Câmara. A ele foram anexados outras propostas que tratam do mesmo assunto.

Tesoureiro do PT denunciado por corrupção e quadrilha

• Para Moro, "é assustador" que propina tenha continuado após início da Lava-Jato

Renato Onofre* - O Globo

Escândalos na Petrobras

CURITIBA - Na 10ª etapa da Operação Lava-Jato, o Ministério Público Federal denunciou ontem o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ambos acusados de participar do esquema de corrupção na Petrobras. Duque foi preso pela Polícia Federal no apartamento onde mora, na Barra da Tijuca. É a segunda vez que Duque é preso pelos desdobramentos da Lava-Jato.

A prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras e a denúncia contra Vaccari acenderam sinal vermelho no PT. Desde o início das investigações, deflagradas há um ano, os dois são apontados pelos investigadores como os operadores do partido no esquema que desviou cerca de R$ 4 bilhões dos cofres da estatal, segundo a última estimativa do MPF.

Em delação premiada, cujo conteúdo foi divulgado ontem, o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, informou que Vaccari pediu mais R$ 10 milhões em doações eleitorais para o PT "porque a Camargo Corrêa estava atrasada em pagamento de propina para a Diretoria de Serviços".

Duque chegou a ser preso em novembro, mas, por falta de provas, foi solto 20 dias depois por uma decisão do ministro Teori Zavascki. Os investigadores descobriram agora que o executivo tentou ocultar patrimônio não declarado mantido na Suíça. A PF afirma que, mesmo após deflagrada a Lava-Jato, Duque transferiu 20 milhões de euros da Suíça para Mônaco, Estados Unidos, Bahamas, Portugal e Hong Kong.

"Que país é este?"
Além de Vaccari e Duque, outras quatro pessoas foram detidas na Operação "Que país é este?", como foi batizada a nova fase da Lava-Jato em alusão à frase dita por Duque ao ser preso em novembro do ano passado. Ao todo, o MPF ofereceu denúncia contra mais 21 pessoas, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No total, de acordo com os investigadores, R$ 298 milhões foram desviados dos cofres da estatal e, desses, R$ 136 milhões foram usados para o pagamento de propina a agentes públicos, políticos e partidos.

- Houve 24 doações eleitorais feitas ao longo de 18 meses por empresas vinculadas ao grupo Setal para pagamento de propina ao Partido dos Trabalhadores. Essas doações eleitorais foram feitas a pedido de Renato Duque e eram descontadas da propina devida à Diretoria de Serviços - disse o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato.

Dallagnol afirmou ainda que Vaccari indicava as contas e os diretórios do PT aos quais deveriam ser feitos os repasses. Em depoimento à Justiça, Pedro Barusco já havia declarado que, juntos, ele e Duque reuniram entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões em propina para o partido.

"(Vaccari) Não apenas o conhecia (o esquema), mas o comandava, direta ou indiretamente, em conjunto com terceiros, tendo pleno domínio dos fatos", diz a denúncia do MPF.

Juiz: propina continuou após março de 2014
Além da prisão de Duque, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que fez acordo de delação premiada, cumpre prisão domiciliar,, enquanto Nestor Cerveró, da área internacional, está preso na superintendência da PF em Curitiba. Os três foram dirigentes da estatal quando Dilma Rousseff era presidente do Conselho de Administração.

Ao decretar a prisão de Duque, o juiz Sérgio Moro classificou de "assustador" o fato de ele continuar a receber propinas mesmo depois de deflagrada a Lava-Jato, em março de 2014. Segundo o juiz, o empresário Shinko Nakandakari, outro operador do esquema, disse que intermediou propinas da empreiteira Galvão Engenharia a Duque e Barusco. "O mais assustador é que Shinko confessou o pagamento de propinas ainda no segundo semestre de 2014, quando a Operação Lava-Jato já havia ganho notoriedade na imprensa", disse Moro.

Também foi preso ontem o empresário paulista de origem libanesa Adir Assad, ligado à construtora Delta e investigado na CPI do Cachoeira. Os investigadores descobriram que cinco empresas de Assad foram usadas para lavar dinheiro de empresas do doleiro Alberto Youssef. Pelas contas das empresas, passaram R$ 65 milhões entre 2009 e 2011. Também foram presos ontem Lucélio Goes, filho do operador Mário Goes, além de Dario Teixeira e Sonia Branco, laranjas de Assad.

O esquema na Diretoria de Serviços denunciado pelo MPF mostra que o grupo atuou de forma conjunta em quatro obras da Petrobras e de suas subsidiárias: as refinarias de Araucária (Repar) e Paulínea (Repan), e nos gasodutos Urucu-Coari e Pilo-Ipojuca.

As defesas de Duque e Vaccari negaram envolvimento de seus clientes. O advogado de Duque, Alexandre Lopes, disse que o executivo não tem contas no exterior. Luiz Borges D"Urso, advogado de Vaccari, disse que ele não recebeu propinas das construtoras. (* Enviado especial)

Oposição tenta se aproximar dos ativistas

• Parlamentares rechaçam diálogo com o governo e dizem que, se o movimento nas ruas continuar crescendo, eles vão subir no palanque

Pedro Venceslau e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Embalada pelas manifestações contra a presidente Dilma Rousseff no domingo, a oposição rechaçou a tentativa do governo de abrir um diálogo para fazer com que as promessas de promover a reforma política, aprovar o pacote anticorrupção e realizar o ajuste fiscal saiam do papel.
Uma análise de conjuntura pós-manifestação produzida pelo Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, afirma que a “pauta da cidadania” das ruas inclui a defesa “intransigente” dos direitos dos trabalhadores “impedindo que o arrocho proposto pela presidente avance no Congresso”. O texto diz, ainda, que não será cortando benefícios e aumentando impostos que o País sairá da crise.

O diálogo é rechaçado pelos principais líderes da oposição. “Não há clima para dialogar com o governo, especialmente do discurso da presidente em cadeia nacional. Eles estão no mundo da lua”, disse o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato à vice-presidente na chapa de Aécio Neves em 2014.

“Seria ir na contramão das manifestações”, reforçou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Para o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, o governo não merece “a mínima confiança”. 

“Esse discurso (de diálogo) é surrado. Se a presidente quer ajuda, ela precisa dar sinais, como a redução de ministérios e cargos comissionados”, diz.

Para o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), a proposta do governo foi motivada “pelo grito das multidões”. “Fazem isso para dizer que, de repente, viraram conciliadores. A reforma não depende de entendimento com a oposição. Ela vai acontecer naturalmente”, diz o senador.

“Vale a declaração chamando ao diálogo, ou a de guerra, atribuindo as manifestações aos eleitores de Aécio”, completa o deputado Mendonça Filho (PE), líder do DEM.

Dilema. Apesar da multidão que tomou as ruas no domingo, a oposição se dividiu sobre sua participação nos próximos atos. Enquanto parte dos dirigentes partidários e parlamentares defende uma aproximação “lenta e gradual” com os organizadores, outros advogam a tese de que não há necessidade de colocar os políticos em cima do palanque. Pelo contrário: isso poderia gerar antipatia dos manifestantes.

“Na manifestação (de domingo) os organizadores estavam receosos com a participação de políticos nos carros de som. Poderia parecer oportunismo. Mas acho que, se o movimento continuar com essa força, será inevitável a nossa presença”, diz o senador Álvaro Dias.

O próximo ato contra Dilma está marcado para o dia 12, em São Paulo. Mas não há consenso entre os grupos. O maior deles, o Vem pra Rua, resiste a aceitar a data, marcada pelos grupos Revoltados On Line e Movimento Brasil Livre. “Não queremos proximidade com partidos. O PSDB não é oposição, é ocasião”, diz Marcello Reis, líder do Revoltados On Line.

FHC em entrevista: “Não é crível que Lula e Dilma não soubessem”

• Leia a entrevista de Fernando Henrique Cardoso

- Valor Econômico

Para acessá-la basta clicar no link abaixo:"Não é crível que Lula e Dilma não soubessem"

Para Cunha, hoje não haveria aliança PMDB-PT

• Em entrevista, presidente da Câmara afirma que seu partido não aceita 'presidencialismo de cooptação', mas ataca ideia de impeachment de Dilma Rousseff: 'Brasil não virou uma republiqueta'

Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que, se fosse hoje a convenção do PMDB para manter o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), ela provavelmente desfaria a parceria originada no segundo mandato do ex-presidente Lula. Convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite dessa segunda-feira, 16, ele foi questionado se hoje o partido votaria pela manutenção da aliança. "Acho que não, não pela presidenta, mas pelo PMDB; a política tem circunstâncias", respondeu. Segundo Cunha, é evidente que houve um enfrentamento entre os dois partidos e que isso deixou sequelas. Na entrevista, o presidente da Câmara reafirmou seu posicionamento contrário ao impeachment de Dilma.

Para Cunha, seu partido, antes maior aliado do PT e hoje em atrito com o governo, não aceita o "presidencialismo de cooptação", que ele alega ter sido imposto pelo governo Dilma. O presidente da Câmara disse que o PMDB não quer "carguinhos", mas quer ser partícipe do governo."Governar não é só dando cargo, é compartilhando soluções a serem adotadas", afirmou. Cunha afirmou que todos sabem da necessidade do ajuste fiscal, bastando ter algum entendimento da economia, mas reclamou que, nos últimos anos, a presidente não chamou o PMDB à mesa de decisões e que, agora, tenta impor o ônus dos erros de seu governo ao PMDB, quando transfere ao Congresso a responsabilidade de aprovar as medidas.

Cunha disse considerar um absurdo a quantidade de ministérios - 39 - e afirmou já ter sugerido a redução para 20. Ainda com relação a cargos, declarou que será um erro da Presidência se achar que vai reconquistar o PMDB simplesmente dando posições em ministérios ou no segundo escalão. "Não é pelo fato de ter mais cargos que vai fazer estar mais ou menos presente governo. O PMDB quer ter opinião, voz e influenciar. Queremos ser partícipes, não queremos mais cargos."

O peemedebista também reclamou da articulação do Planalto de apoiar a movimentação de Gilberto Kassab (PSD), de criar o PL no intuito de atrair parlamentares de outros partidos (inclusive do PMDB) e depois fundir o PL ao PSD, inflando sua representação no Congresso. "Não dá pra defender reforma política e estimular a coleta de assinaturas comprada, arranjada por agentes políticos com subterfúgios. O objetivo ali não é criar partido, com ideologia, mas a busca pelo poder, na cooptação de parlamentares para enfraquecer aliados."

Para Cunha, o governo petista partiu para essa estratégia porque perdeu força política, passou de uma "hegemonia eleitoral" dos três primeiros mandatos petistas para uma "vitória eleitoral" apertada. O peemedebista acredita que se somaram fatores negativos para o governo de Dilma, da comunicação falha do ajuste fiscal à população às denúncias de corrupção na Petrobras. "É uma combustão", afirmou, e depois repetiu a crítica de que os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) demonstraram incompreensão das manifestações de rua deste domingo, 15.

Ainda assim, Cunha admitiu ter visto hoje um governo mais humilde na postura da presidente - Dilma admitiu na tarde desta segunda-feira que pode ter errado na dosagem da política econômica anticíclica do primeiro mandato.

"Republiqueta". O deputado voltou a se manifestar contrariamente aos pedidos de impeachment de Dilma. "Não posso achar que o Brasil virou uma 'republiqueta' e que podemos tirar o presidente democraticamente eleito. O Brasil não pode fazer como o Paraguai, que tirou o Lugo do dia pra noite porque ele perdeu apoio, vai ser um impeachment atrás do outro se isso acontecer."
O presidente da Câmara disse ainda ser a favor do parlamentarismo como sistema de governo, mas que falar nisso agora soaria golpista, então que preferiria plantar uma semente deste debate para o futuro.