sexta-feira, 1 de abril de 2016

Petismo e antipetismo: dá para sair dessa? - Sergio Fausto*

- O Estado de S. Paulo

O Brasil está dividido. Mas não em partes iguais: o antipetismo representa hoje 70% da sociedade brasileira. No curto prazo, essa divisão é inevitável. No horizonte de médio e longo prazos, ela não interessa ao País. Ao menos do ponto de vista de quem se considera progressista, ou seja, acredita que o Brasil deve ser não apenas economicamente mais desenvolvido, mas também socialmente mais justo, politicamente mais democrático, culturalmente mais liberal e eticamente mais republicano.

Hoje, trata-se de clamar por civilidade de parte a parte. Amanhã, de restabelecer as condições de diálogo. Mas para tanto é preciso limpar o terreno de mitos construídos pela narrativa petista.

O PT surgiu proclamando-se o campeão da ética na política, da justiça social e da autonomia da sociedade ante o Estado. Tinha credenciais para isso, embora o fizesse desde o início com o dogmatismo característico do marxismo-leninismo e do cristianismo, na versão da Teologia da Libertação. Transformado em religião laica, o marxismo-leninismo, assim como o cristianismo e todas as demais crenças monoteístas, opera segundo a lógica fiéis/infiéis, conversos/hereges. Nunca o PT elaborou criticamente essa sua marca de origem, o que resultou numa inclinação de espírito essencialmente antidemocrática, jamais superada por completo.

Do mito do partido da ética não resta mais nada. Sobra ao PT o lamentável recurso de se declarar igual a todos os “pecadores”. Mas nem isso é verdade, porque a corrupção que vicejou nos governos petistas não é simples repetição de padrões anteriores. Mais organizado e centralizado que os demais partidos, ele sistematizou a corrupção em escala e extensão inéditas. A tal ponto que rompeu quase todas as frágeis membranas que protegiam ministérios, autarquias e empresas estais, com seus respectivos fundos de pensão, do apetite político-partidário por cargos e recursos. Além disso, com maior número de militantes dependentes do partido, espalhou-os por toda administração pública federal. Pior, sob a justificativa de assegurar os autênticos interesses populares, pôs em marcha uma estratégia para desequilibrar o jogo democrático a seu favor, a partir do uso e abuso dos poderes governamentais.

Ao se instalar no poder, rasgou também a bandeira da autonomia da sociedade civil ante o Estado. Passou a cooptar os movimentos sociais com transferências de recursos públicos para ONGs controladas por militantes vinculados ao partido. Isso não garantiu o alinhamento automático desses movimentos a todas as políticas dos governos petistas, mas manteve-os como “exército político de reserva” para mobilização em momentos críticos. Sobre o abandono da defesa da autonomia sindical, bandeira do novo sindicalismo nascido no ABC Paulista, berço do partido, basta lembrar um fato: em lugar de pôr fim ao imposto sindical, Lula estendeu-o às centrais sindicais, presenteando-as com dezenas de milhões anuais. Mais, vetou a obrigatoriedade de o uso desses recursos ser submetido à fiscalização do TCU.

Agarra-se o PT ainda ao título de campeão da justiça social. Segundo a narrativa petista, o partido seria o grande protagonista da “inclusão social” havida no Brasil a partir do Plano Real. Como todo relato distorcido da realidade, este contém elementos de verdade. Na oposição e no poder, o PT contribuiu para a redução da pobreza (na oposição, porque a presença de um partido de “esquerda” eleitoralmente competitivo tornava mais relevante a agenda social também para os demais partidos). No entanto, tão importante quanto o que esse relato diz é o que ele não diz.

A narrativa petista omite que o PT votou contra a aprovação da Constituição de 1988, que expandiu os direitos sociais; se opôs ao Plano Real, ponto final posto na superinflação, que castigava sobretudo os mais pobres; não apoiou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério, ao qual se deve a presença na escola de quase todas as crianças de 7 a 14 anos; além de chamar a Bolsa Escola de “bolsa esmola” quando ela foi introduzida no nível federal pelo governo Fernando Henrique, para não falar no bloqueio corporativo, por meio de sindicatos, de reformas importantes para a melhoria da educação básica. A narrativa petista omite também que o ressurgimento do “nacional-estatismo” no segundo mandato de Lula e sua multiplicação enlouquecida no governo Dilma estão destruindo a árvore das conquistas sociais que o País levou tantos anos para erguer e que tiveram no governo do ex-presidente sua florada mais exuberante.

A civilidade do debate é inseparável da honestidade intelectual. Essa, provavelmente, a matéria em que os 14 anos de lulopetismo deixarão seu pior legado. Nunca antes na História deste país, sob regime democrático, tantos repetiram com tanta intensidade e frequência ideias prontas e slogans feitos para distorcer os fatos em benefício de um grupo político e estigmatizar seus oponentes. Esse veneno penetrou a sociedade e provocou reação, agora virulenta.

Compartilho a preocupação com o aparecimento de uma direita retrógrada e autoritária, mas o lulopetismo, com as mãos na consciência, deveria questionar-se sobre a parte que lhe cabe nesse fenômeno que hoje denuncia e deliberadamente inflaciona para, mais uma vez, estigmatizar seus oponentes e justificar a permanência do partido no poder.

O governo Dilma, que a rigor jamais existiu neste segundo mandato, está fadado a encerrar-se precocemente. Será difícil e complexo restabelecer o caminho do desenvolvimento que, mal ou bem, o País vinha trilhando até meados da década passada. Há muito trabalho a ser feito no plano das instituições, por meio de reformas. Não menos importante é o trabalho a fazer na sociedade para recuperar a razoabilidade do debate político.

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*Sergio Fausto é superintendente executivo do iFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, e membro do Gacint-USP

Um retrato na parede - Merval Pereira

- O Globo

O comentário espontâneo do ministro do STF Luís Roberto Barroso sobre a falta de alternativa política no país — “Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder” —, referindo- se aos políticos do PMDB que apareciam na foto da solenidade de desembarque do partido da coalizão governista, reflete a perplexidade que o momento político gera, e não se diga que Barroso, acusado de ser um ministro “petista”, estava se referindo apenas à oposição.

Ele disse, mais adiante, que “o problema da política neste momento é a falta de alternativa. Não tem para onde correr. Isso é um desastre”. O que pressupõe que o governo que está posto também não serve. Na verdade, o PMDB está diante de uma encruzilhada: se se tornar realmente governo de direito, com o impeachment da presidente Dilma, não apenas substituirá o PT, mas terá que se reinventar para não repetir os erros, que, infelizmente, fazem parte de sua história política recente.

Embora o partido tenha um DNA democrático que vem servindo, ao longo desses longos anos em que está aliado ao petismo, para garantir que nenhum arroubo autoritário de seu parceiro tivesse sucesso, o PMDB tem uma marca fisiológica muito acentuada que se revela amplamente na intensidade com que seus ministros se apegam ao que pode ser o último respiro de poder do lulopetismo.

Se Michel Temer estiver pensando em montar um governo barganhando cargos, em contraponto ao vexaminoso leilão que o governo Dilma está promovendo para escapar do impeachment, estaremos trocando seis por meia dúzia e nada mudará na essência. Nesse caso, tanto faz se Dilma vencer a batalha do impeachment no Congresso, ou se ela perder, devido à barganha de cargos.

Ela sendo destituída ganharemos em substância democrática, pois estará definido dentro das regras institucionais que um governante não pode tudo, está limitado pelas leis do país, e elas acabam prevalecendo na luta política, que quer confundir instrumentos da democracia com a ditadura; golpismo com legalidade; mentiras com verdades; populismo deletério com governo republicano.

Mas se a alternativa for da mesma laia, só com sinais trocados, mas com o resultado final igual, não teremos solucionado o problema, apenas arranjado um problema novo. E o povo continuará nas ruas do país, insatisfeito com as alternativas políticas que lhe são oferecidas.

Se os oposicionistas não conseguirem os 342 votos, restará um governo despedaçado, autodestruído pelas negociações do submundo da política, e um Congresso mais desmoralizado ainda.

A ex-senadora Marina Silva, líder da Rede, considera que o PMDB, depois de tantos anos de parceria com o PT, não tem credibilidade para se apresentar como alternativa, e defende novas eleições presidenciais. Embora me pareça em tese a melhor solução, não há caminhos institucionais para tal, pelo menos com a urgência que o país pede.

Por isso, fez muito bem o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, em advertir Michel Temer de que ele tem que montar um governo de transição de caráter não partidário. Também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a construção do futuro do Brasil não pode ser feita a partir de acomodações: “O preço do acordo não pode ser acabar com a Lava- Jato. A Lava- Jato é parte do processo democrático brasileiro. Se houver abusos, há tribunais capazes de contê-los.”

Para os líderes do PSDB, o impeachment não é um atalho para o poder, como define o deputado federal Marcus Pestana. “Não queremos cargos, queremos uma agenda para o país e um plano para a superação da crise. Não podemos repetir os velhos e surrados erros do "presidencialismo de cooptação" ancorado no conhecido "é dando que se recebe". Repetir os erros do passado será o caminho mais curto para o fracasso”.

Se, para chegar ao poder de fato, o vice Michel Temer se render à velha política, que é especialidade de um PMDB extremamente pragmático, como demonstram os fatos recentes, estará inviabilizando-se como alternativa, e o país se encontrará novamente sem rumo e desiludido.

Se, ao contrário, aquela fotografia que chocou o ministro do STF for apenas um retrato na parede, e não simbolizar o futuro do país, poderemos ter esperanças. O problema é como fazer essa grande política num ambiente partidário fragmentado e clientelista.

Melhores esperanças - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Com a possível destituição de Dilma Rousseff, avizinha-se o governo Michel Temer. Nossas melhores esperanças são que a Lava Jato produza o quanto antes uma nova bomba que inviabilize de vez essa gestão e nos force a convocar eleições presidenciais, nos termos da Constituição.

Não é que um governo Temer seria necessariamente pior que Dilma 2. Só a troca de gerência já daria ao talvez futuro presidente uma curta janela de oportunidade para implementar uma ou outra medida econômica que, se não bastará para resolver a encrenca fiscal nem para restaurar a confiança de consumidores e empresários, ao menos interromperia o ciclo de deterioração de expectativas que foi a marca do atual governo.

O problema, me parece, é que não há um consenso da sociedade acerca do que deve ser feito para nos tirar da crise, o que limita bastante o campo de ação de Temer. Basta lembrar que, até aqui, parte significativa dos deputados do PMDB votou numa agenda populista incompatível com tentativas sérias de ajustar as contas públicas. Eles mudariam de posição? E os representantes de outros partidos do núcleo de apoio? Será que investiriam no sucesso do vice convertido em presidente (e com possibilidade jurídica de reeleição) ou aquiesceriam aos desejos mais imediatos de suas bases?

A verdade é que a sociedade ainda não se posicionou se prefere uma radicalização à esquerda, como a que Dilma em desespero agora esboça, ou uma saída mais sensatamente ortodoxa. A eleição presidencial, em que pese o panorama não muito alentador de possíveis candidatos, serviria ao menos para definir o rumo que o país pretende seguir. Isso, é claro, se desta vez as campanhas entabularem um debate honesto.

Um governo Temer poderia, sim, ser pior que o de Dilma se costurasse um acordão para enterrar as investigações. É em relação a isso que a população precisa ficar atenta.

Num mato sem cachorro - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Se Dilma já deu o Ministério da Saúde para o deputado Marcelo Castro enfrentar zika, chikungunya, dengue e H1N1 quando o PMDB ainda era oficialmente governo, o que ela não dá agora para tentar amarrar o PP, o PR, o PSD e outros ao pé claudicante de seu governo? É um festival de ministérios, estatais e cargos de segundo e terceiro escalão, não mais pelo natimorto ajuste fiscal, mas para tentar evitar o impeachment.

Imagine-se como Dilma delegou para Leonardo Picciani um dos cargos mais sensíveis da República. “Querido, quem você tem aí para a Saúde?”. Ele, rastreando a bancada do PMDB: “Olha, presidenta, tem lá um tal de Mauro de Castro, ou Marcelo, não sei direito. Parece que tem diploma de médico”. E ela: “Feito!”.

O Aedes aegypti adorou, mas nem por isso Dilma garantiu o apoio do PMDB do Rio, que votou alegremente pelo rompimento com o governo. E quem anunciou a traição foi o pai do Piccianinho, Jorge Picciani. Agora, o constrangimento: Marcelo de Castro não serviu nem para matar mosquito nem para assegurar o PMDB do Rio, mas se agarra ao cargo como jabuticaba no pé, até que surja alguém de mais serventia.

Parece ficção, mas tem muito de realidade e vai se repetir dezenas de vezes no Planalto, transformado ora em feira, ora em bunker, ou num hotel não muito longe dali, onde funciona o feirão de cargos do ex-presidente Lula. O fato é que o PP, o PR e os partidos menores, mas tão gulosos, estão em alta em Brasília. Aliás, o voto é que está em viés em alta.

Quanto mais o dólar cai, sob a perspectiva de impeachment, mais o preço dos deputados e senadores do “centrão” e do “centrinho” dispara. É a lei do mercado: a oferta de votos contra o afastamento de Dilma está menor do que a demanda do Planalto. Logo, o negócio está o olho da cara. Ou é falta de vergonha na cara?

O risco é Dilma conseguir barrar o impeachment, mas arrastar um governo de xepa, com centenas de oportunistas, um ministro qualquer na Saúde para evitar mortes por dengue e microcefalia por zika, outro no Esporte passando ao largo da Olimpíada, um terceiro no Turismo quando milhões de estrangeiros desembarcarem para o maior evento esportivo da face da Terra. E com um bilhão de telespectadores no mundo mirando os jogos e o Brasil.

A prioridade de Dilma não é governar, é manter o governo a qualquer custo. O foco não é restaurar a economia aos cacos, corrigir as contas públicas, combater as doenças, cuidar de saúde, educação, turismo... Toda a energia está voltada para um único fim: salvar o mandato, com o bordão do “golpe”.

Apesar de todas essas evidências, claras como um dia de verão, há ainda muitas nuvens pairando sobre a sociedade brasileira e o Congresso, responsável constitucional para decidir se Dilma sai e Michel Temer entra, ou se tudo fica como está. O PMDB não ajuda muito a dirimir as dúvidas. Não bastasse um Eduardo Cunha réu no Supremo e um Renan Calheiros enfrentando sete inquéritos, há o fantasma da divisão interna que assombra o maior partido do país desde sempre.

Após o rompimento por aclamação (o voto a voto iria materializar a dissidência), veio o vexame e a humilhação, com Renan respaldando e os ministros do partido implorando para manter suas boquinhas. Kátia Abreu à parte – está na Agricultura menos pelo PMDB e mais por Dilma e pela representatividade no setor –, os outros cinco tremem até Dilma decidir: uni duni tê, quem fica é... você!

Se Dilma está nas mãos dos mais fisiológicos entre os fisiológicos, Temer foi solapado por Renan, o que só aumenta a dramaticidade da novela: se não une nem mesmo o PMDB, como o vice pode acenar com um “pacto nacional” em torno da transição e do enfrentamento da crise? A cachorrada se dá bem, mas o País está num mato sem cachorro.

Governo morto ainda vive – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Quem "fecha os olhos para a defesa de valores como a democracia, a liberdade, a governabilidade" deixa de "defender o interesse nacional".

Poderia ser uma frase de Dilma Rousseff em um dos comícios em que prega o desmonte do cadafalso do impeachment. Mas isso era o que dizia ontem Renan Calheiros, presidente do Senado, cardeal do PMDB.

Durante março inteiro, Calheiros dizia sibilinamente que "preferia" não ter de presidir o julgamento da deposição da presidente. Ontem, Calheiros levantou o pau da barraca que parte de seu partido chutara na dita e propagandeada "superterça" de desembarque do governo.

Foi ainda um dia em que o governo conseguiu levar outro tanto de gente manifestante para as ruas, justo no 31 de Março de sinistra memória de um golpe de fato. Um dia em que o juiz Sergio Moro levou imensa bronca no Supremo.

O governo estertora e estrebucha, mas não está morto o bastante, digamos. A cena, porém, é horrível. Pode até causar algum revertério na animação dos povos dos mercados, que no mês de março voltaram às compras na feira de papéis baratos em ritmo que não se via fazia mais de uma década.

Também ontem, o governo de Dilma Rousseff corria na xepa, na tentativa de adquirir apoios, por cabeça e em pequenas baciadas, no PP, no PR e no PSD. Apertou as mãos do PMDB do Pará, de Jader Barbalho. Cortava cabeças de PMDBs de oposição em lugares como Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).

Conab e Dnocs são duas instituições tombadas como patrimônio universal da fisiologia, moeda sempiterna do barganhão, assim como a Funasa e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

É fácil perceber os efeitos desse loteamento desavergonhado, que gente ainda mais baixa que a do ministério anterior ocupe postos centrais da administração.

No curto prazo, não importa: pode dar esperança de sobrevida ao governo e ao cadáver do presidencialismo de aquisição, sempre mais podre e, no entanto, vivíssimo, até que nos empesteie de modo terminal, do que estamos perto.

Decerto é difícil interpretar a dança de Calheiros e mesmo de aliados seus no Senado.

"A partir de hoje, nesta reunião histórica, o PMDB se retira da base do governo da presidente Dilma. E ninguém no país está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do partido", dissera na terça Romero Jucá, vice do partido.

"Não acredito que o PMDB, seja qual for o cenário, vá liderar uma corrente de oposição no Parlamento", dizia Calheiros, dois dias depois: ontem, quando ainda havia seis ministros do PMDB no governo. Quanto à cerimônia do adeus farsesco de terça-feira, o presidente do Senado a qualificou de "precipitada" e "pouco inteligente".

A possível morte, o eventual enterro de Dilma 2 e o possível nascimento de Temer 1 serão mais complicados do que se previa. De menos incerto sabe-se que a economia afunda em ritmo cada vez mais rápido, vide a receita federal de impostos, o crédito, o consumo, o salário e o emprego; que juros e inflação permanecerão altos pelo menos até passada a metade do ano. As ruínas se acumulam pelo caminho de quem ficar ou vier.

Teses enganosas - Míriam Leitão

- O Globo

O ministro Nelson Barbosa fugiu dos fatos ontem no Congresso. Disse que o governo cumpriu a meta fiscal em 2015, que não houve operação de crédito com bancos públicos e que o TCU mudou o entendimento ao longo do ano. Os fatos: o TCU apenas exigiu que a lei fosse cumprida, a dívida com os bancos tanto existia que no fim do ano foram pagos R$ 72,4 bilhões, e a meta só foi cumprida porque mudou.

Quem paga essa montanha de dinheiro é porque está devendo. Óbvio. Então, sim, o governo devia aos bancos públicos e isso é proibido por lei. E dizer que a meta foi cumprida é desrespeitar inteligência alheia. A meta inicialmente era de R$ 66 bilhões de superávit. Em 2 de dezembro, o governo conseguiu aprovar uma mudança da “meta” formatada no tamanho certo para caber o rombo que tinha feito. O ano terminou com déficit de R$ 119,9 bilhões.

Barbosa disse que só falaria de 2015 e desta forma fugiu do desconforto de ter que explicar a lambança de 2014. Assim também ele reforça uma das teses da defesa da presidente Dilma, que sustenta que os acontecimentos de 2014 não interessam porque era outro mandato. O problema é que as pedaladas ocorreram principalmente no último ano de mandato. Permaneceram em parte no ano passado porque o governo teve que recuar diante da pressão do TCU. De qualquer modo, as pedaladas desorganizaram a economia brasileira de forma duradoura e ainda estamos vivendo os efeitos da bagunça fiscal.

Sua tese é que não houve qualquer empréstimo junto a banco público porque a conta de suprimento — pela qual o governo paga benefícios sociais — fica às vezes negativa, mas logo a diferença foi coberta. Não é verdade com Dilma. O TCU expôs claramente isso durante a apreciação das contas, ao mostrar, com um gráfico, que a conta com a Caixa ficou apenas ligeiramente negativa e por breves períodos durante o governo Lula, mas abriu um rombo a partir de 2013 e chegou a ficar negativa por vários meses no valor astronômico de R$ 6 bilhões em 2014. Tanto foi um problema que a CEF entrou na Justiça para receber os atrasados. Não é razoável deixar um negativo deste tamanho por tanto tempo, porque isso na prática vira uma operação de crédito.

Barbosa disse que a conta de equalização de juros sempre existiu. Claro que existe há muito tempo e esse não é o ponto. Os bancos emprestam a juros baixos, e o governo repassa aos bancos a diferença. A questão é o governo demorar tanto a quitar o atrasado, a tal ponto que o banco financia o Tesouro. O ministro ressaltou que o governo baixou portaria encurtando para seis meses o pagamento dessa diferença de juros. O governo fez isso pressionado pelo TCU. Nelson Barbosa esqueceu de dizer que ele mesmo, quando era o segundo no Ministério da Fazenda, assinou a portaria que adiava por dois anos o pagamento ao BNDES. E que, em função disso, ele próprio está sob risco de ser inabilitado para função pública.

O que houve é que no ano passado o então ministro Joaquim Levy se esforçou para quitar essa montanha de atrasados com os bancos. A partir da celeuma sobre as contas de 2014, o governo passou a corrigir o que ele mesmo fizera. Mesmo assim, foi só no último dia útil de 2015 que o governo pagou R$ 55,6 bilhões dos atrasados de 2014 e R$ 16,8 bilhões de valores devidos em 2015. O total foi de R$ 72,4 bilhões.

O ministro Nelson Barbosa falou várias vezes que o TCU mudou o entendimento e aí eles se adequaram. Portanto, não estariam irregulares antes porque nada pode retroagir. Os fatos: o que o TCU fez foi lembrar ao governo que ele deveria se enquadrar nas exigências legais. O governo então recorreu ao próprio TCU e enquanto não era analisado o recurso dizia que o assunto estava em suspenso.

A Lei de Responsabilidade Fiscal não é uma lei menor, que se possa desprezar o seu cumprimento. Ela nasceu do esforço de décadas do país de corrigir a desordem fiscal que levou à hiperinflação. O governo Dilma feriu a lei de forma sistemática e isso teve influência política. Gastou- se muito, os rombos foram escondidos por manobras, isso permitiu despesas maiores em ano eleitoral, e desorganizou a economia após as eleições. Esta é a verdade, o resto é enganação.

Um elenco de golpistas - Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

Já vivi vários golpes de Estado e todos me pegaram de surpresa. Nada demais nisto, nunca participei de qualquer governo, nem podia saber que havia um golpe em curso. O incrível é que esses golpes pegaram de surpresa também os governos que derrubaram. Claro -ou não seriam golpes.

O golpe que vem sendo denunciado pelo governo Dilma é diferente.

Dá-se à luz do dia, tramado por 73% da população, que desaprova o dito governo, sob as barbas do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, de membros do STF, da Procuradoria Geral, do Ministério Público, da Polícia Federal, da OAB e de outras instituições da República, que nada fazem para impedi-lo, e obedece a um complexo ritual de trâmites, todos com data marcada com meses de antecedência. E, contrariando a natureza dos golpes, em que os golpistas atuam embuçados e na sombra, neste eles vêm à boca de cena e se identificam publicamente.

Na terça última (29), inúmeras categorias profissionais ocuparam as páginas dos jornais dizendo que gostariam de ver a presidente pelas costas. E se assinaram: fabricantes de sorvete, chocolate, biscoitos, balas, doces e derivados; plantadores de milho, cana e amendoim e produtores de óleos e azeites, leite, soja e macarrão. Sindicatos das indústrias de tintas e vernizes, cerâmicas e olarias, parafusos, porcas, rebites e similares, de artefatos de metais ferrosos e não ferrosos, de curtimento de couros e peles e de extração de mármores, calcários e pedreiras.

Industriais da cerâmica de louça e porcelana, da recauchutagem de pneus e retífica de motores e do beneficiamento de fibras vegetais e descaroçamento de algodão. Alfaiates, gráficos, farmacêuticos, misturadores de adubos, criadores de suínos e controladores de pragas urbanas. Etc. etc. etc.

Nunca se viu um elenco tão variado de golpistas.

Perder ou perder - Nelson Motta

• Um governo Temer teria mais de cem parlamentares loucos para melar a Lava- Jato por uma conciliação nacional que pouparia Renan, Cunha e os petistas

- O Globo

Só o desespero pode chamar de “golpe judiciário- parlamentar- midiático” se a maioria do Legislativo, com aprovação do Judiciário, a imprensa livre, a OAB, a Fiesp e 69% da população apoiam o processo legal de impeachment da presidente por crimes de responsabilidade fiscal que quebraram o país. Mas se é judicial- legislativo-midiático- empresarial- jurídico- popular... que golpe de araque é esse? Só faltaram o Exército, a Igreja e a CIA... rsrs.

No sufoco, o senador Humberto Costa até cunhou o oximoro “golpe constitucional”, porque, se é constitucional, não pode ser golpe, e viceversa. O STF, com a maioria de seus ministros nomeados por governos petistas, aprovou um rito para o processo de impeachment, em que a presidente terá ampla defesa e poderá, como Bill Clinton, perder na Câmara e ser absolvida no Senado. Mas se for condenada, será golpe? Ou nem pode ser julgada?

Sou contra qualquer forma de golpe, mas também não acredito que um impeachment, mesmo cumprindo todos os processos legais, seja a melhor solução. Pior do que está, não fica, mas temo um governo Temer apoiado pela bandidagem do PMDB e por partidos com mais de cem parlamentares loucos para melar a Lava- Jato em nome de uma conciliação nacional que também pouparia Renan, Cunha e os petistas. Mas como? Ah, eles são muitos, andam em bandos, se alimentam de verbas públicas e se unem quando ameaçados.

Talvez o melhor, ou menos pior para o país, seja a chapa Dilma- Temer ser impugnada pelo TSE, com irrefutáveis provas de doações ilegais, e convocadas novas eleições. Ou Dilma propor ao Congresso: eu renuncio, mas vocês também. E o Congresso, movido por espírito público... rsrs... renuncie e seja completamente renovado nas eleições. Seria uma chance de nascer um novo Brasil zero bala.

Mas, cuidado com seus desejos, eles podem se realizar. No caso, com duas ameaças sinistras: o ódio aos políticos eleger um presidente messiânico e populista, desastroso para o país como Collor e Jânio. E a máxima de Ulysses Guimarães, confirmada pela História: cada novo Congresso é sempre pior do que o anterior.

É perder ou perder.

Os vendilhões do Planalto – Editorial / O Estado de S. Paulo

A aprovação ou a rejeição do impeachment de Dilma Rousseff vai depender, exclusivamente, de que os vendilhões do Planalto consigam negociar em número suficiente a mercadoria no momento mais valorizada no cenário político: os votos a serem registrados na sessão plenária que vai decidir a sorte da presidente da República. Pode-se dizer, alternativamente, que o mandato de Dilma vai depender de que parlamentares venais fiquem satisfeitos com o que os traficantes de consciência, tendo à frente Luiz Inácio Lula da Silva, têm a lhes oferecer em troca do voto. E o mais vergonhoso é que essa estratégia de cooptação baseada na corrupção dos valores morais que deveriam prevalecer na gestão da coisa pública – estratégia definida esta semana pelo ministro Jaques Wagner como uma “repactuação” das alianças – foi concebida e é coordenada a partir dos gabinetes do poder e está sendo abertamente discutida nos círculos políticos. Definitivamente, o lulopetismo perdeu de vez a vergonha.

Há porta-vozes de Lula, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que até se permitem gabar-se do “sucesso” de suas artimanhas: “Diziam que após o rompimento do PMDB haveria uma debandada e o que estamos vendo hoje é um movimento inverso, vários partidos voltando para a base. O PMDB facilitou o jogo para o governo, que terá agora condições de construir uma maioria (sic) de 200 votos. Não haverá impeachment”.

De qualquer modo, a “repactuação” pela “maioria” de 200 votos vai dar trabalho a Lula e sua tropa de choque, a começar pelos seis Ministérios ocupados pelo PMDB que, pela lógica, já deveriam estar disponíveis para serem negociados por votos na Câmara dos Deputados. Henrique Eduardo Alves, do Turismo, já se demitiu. Até dois dias atrás era dado como certo que três ministros peemedebistas desejavam permanecer nos cargos: Kátia Abreu, da Agricultura, da cota pessoal de Dilma; Marcelo Castro, da Saúde; e Celso Pansera, de Ciência e Tecnologia. Outros três estariam dispostos a renunciar tão logo ultimassem questões pendentes em seus gabinetes.

Ontem, o panorama já era diferente: a despeito da decisão do Diretório Nacional de determinar a “imediata saída”, todos os seis peemedebistas passaram a demonstrar que gostariam de continuar ministros. Ocorre que o Ministério da Saúde, por exemplo, já está sendo negociado com outros partidos, para profunda frustração do controvertido ministro Marcelo Castro. Corre o mesmo risco outro que está agarrado ao cargo com unhas e dentes: Celso Pansera. De qualquer modo, a composição final do Ministério “repactuado” dependerá do que cada aspirante a ascender ou permanecer no cargo poderá oferecer em termos de votos contra o impeachment.

Enquanto isso, na linha da falta de compostura a que o desespero a está levando, Dilma Rousseff voltou, quarta-feira e ontem, a privatizar o espaço público da sede do governo de todos os brasileiros para promover comícios partidários em defesa de seu mandato. E não desperdiçou as oportunidades para elevar o tom na escalada “antigolpe” a que se entregou de corpo e alma. Como a palavra de ordem “impeachment é golpe” ficou desmoralizada pela evidência de que o afastamento é preceito constitucional inquestionável, Dilma foi forçada a fazer uma adaptação no mantra: “impeachment sem crime é golpe”, conforme berrou, com voz cada vez mais esganiçada, sob aplausos delirantes das claques.

Mais uma vez, Dilma age de má-fé e fala bobagem. O impeachment precisa, é claro, ter justificativa legal. Mas a existência ou não dos crimes alegados no pedido de impeachment é uma questão que cabe aos congressistas julgar. A presidente da República tem o direito de se defender, mas não o direito de se antecipar a uma decisão soberana do Congresso Nacional e decretar que o pedido de impeachment, já em tramitação na Câmara, não tem fundamento. Muito menos lhe cabe incendiar o País em benefício próprio. Se tivesse um mínimo de compostura, a desesperada chefe do governo preservaria a dignidade de seu mandato deixando a cargo de seus advogados e correligionários a tarefa de expor, nos foros adequados e com linguagem pertinente, os argumentos de sua defesa.

Mas Dilma só faz o que sabe. Formada na escola do “centralismo democrático”, com aperfeiçoamento no populismo lulopetista, ela acredita que o governante pode tudo, inclusive colocar-se acima da lei.

Liquidação no Planalto – Editorial / Folha de S. Paulo

O grau de abjeção em que se projetou a Presidência da República pode ser mensurado pelo que Dilma Rousseff (PT) tem feito com o Ministério da Saúde.

O país, como todos sabem, enfrenta graves epidemias virais: zika, dengue, chikungunya, gripe H1N1. Apesar disso, a pasta chave, com seu orçamento de R$ 118 bilhões, está em oferta como prenda na quermesse política de Brasília.

Não que o ministro atual, guindado à posição no surto anterior de negociações imorais (ainda na ilusão de afastar o PMDB das tentações do impeachment), se notabilizasse por eficiência ou sabedoria. As declarações impróprias de Marcelo Castro (PMDB-PI) têm produzido estupefação e manchetes.

Pois bem, ele agora corre o risco de enfim ser exonerado. Não, porém, por incompetência e omissão, nem por lotear o segundo escalão entre asseclas. Castro sairia para abrir espaço ao Partido Progressista, de Paulo Maluf.

Os desesperados operadores de Dilma não parecem incomodar-se com o fato de, na quarta (30), a Procuradoria-Geral da República ter denunciado, de uma só tacada, sete políticos do PP sob a acusação de corrupção e ocultação de bens.

Na balança fraudulenta do Planalto, pesa pouco que a agremiação seja a campeã em membros investigados na Lava Jato. Importa mais que prometa arrebanhar 49 votos na Câmara contra o impedimento da presidente.

A traficância de gabinetes na Esplanada traria outros 40 sufrágios do Partido da República e mais 31 do Partido Social Democrático -que não se percam pelos nomes. E 27 votos, pela mesma via espúria, de uma penca de agremiações nanicas (PTN, Pros, PHS, PT do B, PSL), mais que nunca merecedoras do diminutivo.

Tal a base de lama renovada em que tenta firmar os pés uma presidente cuja capacidade de indignar-se com falcatruas se mostra a cada dia mais seletiva. Não se tem notícia da mandatária que estreou prometendo faxinas ministeriais -que sirva de lição a quem acreditou em mais essa ficção marqueteira.

O governo federal trabalha hoje apenas para sobreviver, e não para tentar dar fôlego a um país afundado em grave recessão. O Planalto se transformou num bunker devotado a maquinar táticas fracassadas no nascimento.

Dilma Rousseff só abre as portas do Palácio do Planalto para transformá-lo em palanque. Despiu-se dos escrúpulos remanescentes para converter a Presidência da República em aríete contra o derradeiro moinho de vento petista, vociferando a palavra de ordem "não vai ter golpe" sob aplausos da claque restante.

Sem o menor pudor, Dilma Rousseff rifa o que lhe restou de governo para salvar a própria pele. A única coisa que comanda no presente é a liquidação do Planalto.

Provas da despreocupação com o equilíbrio fiscal – Editorial / O Globo

• Os dados das contas públicas no primeiro bimestre, com déficits elevados, não fazem governo recuar na política suicida de acumular mais resultados negativos

Na apresentação que fez à comissão do impeachment das razões técnicas que a levaram a assinar o pedido de impedimento da presidente, junto com Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo, também juristas, Janaina Paschoal disse ter concluído que o governo “não considera a responsabilidade fiscal um valor”. A frase resume bem o pano de fundo da tragédia fiscal que começou a ser plantada no segundo governo Lula, quando a crise mundial agravada a partir de fins de 2008 serviu de pretexto para a adoção de uma política econômica “anticíclica”.

Na realidade, era a aplicação das antigas propostas petistas de aumento dos gastos sem cuidados com a inflação, sempre em nome, claro, do combate à pobreza e da redenção dos miseráveis. No primeiro mandato de Dilma, esta política, já batizada de “novo marco macroeconômico”, foi aprofundada, apesar de todos os alertas. A partir de 2013, técnicas de “contabilidade criativa” foram usadas para maquiar déficits e, em 2014, na campanha, tarifas públicas ficaram congeladas e ainda pressionaram, por meio de subsídios, o Tesouro. Estava preparado o terreno para a catástrofe iniciada logo após a posse da presidente reeleita num estelionato contra o eleitor — choque tarifário, inflação, recessão e consequente desemprego.

Os dados referentes às contas públicas em fevereiro e no primeiro bimestre do ano, divulgados quarta-feira, ilustram o aprofundamento do problema fiscal, dada a resistência de Dilma e do lulopetismo — agora mais unidos do que nunca, na luta contra o impeachment — em fazerem as mudanças necessárias para evitar que os gastos continuem a crescer numa velocidade maior que as receitas. Quando estas não caem, devido à recessão.

É por isso que os números são e tendem a continuar dramáticos: em janeiro e fevereiro, juntos, os gastos do governo federal cresceram 16,8% e as receitas, 6,4%. Todo o setor público somado — União, estados e municípios — acumulou um déficit primário ( sem incluir os juros da dívida) de 2,1% do PIB, considerando-se um período de doze meses. Não havia registro de um resultado negativo tão robusto.

Já no conceito de déficit nominal — aqui considerados os juros —, o saldo em vermelho chegou aos 10,75% do PIB, algo que faz lembrar a Grécia na crise em que ameaçou sair da zona do euro.

Mesmo assim, o governo insiste na política suicida: quer autorização do Congresso para acumular, este ano, mais um déficit primário, este de 1,5%. Está convencido, com base num keynesianismo mal digerido, de que a sucessão de déficits públicos resgatará a economia.

Será o contrário. Com a piora da percepção sobre a solvência da dívida pública, o crédito encarece. O câmbio sobe, a inflação ganha fôlego e os juros precisam ser elevados.

Assim, a recessão se mantém, a arrecadação não reage e a bola de neve do pessimismo com o país não para de crescer. É a marcha da insensatez à vista de todos.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Opinião do dia - Janaina Paschoal

Tenho visto vários cartazes dizendo que impeachment sem crime é golpe. Essa frase é verdadeira. Mas estamos aqui diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade. Poderíamos dividir essa denúncia em três grandes partes: a questão das pedaladas fiscais, a questão dos decretos não numerados baixados sem autorização desta Casa e o comportamento omissivo doloso da presidente com pessoas próximas a ela no caso do petróleo.

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Janaina Paschoal, advogada, em exposição na comissão do impeachment na Câmara de Deputados, ontem.

Dilma volta a falar em golpismo

Com a presença de militantes de movimentos sociais, o lançamento da 3 ª fase do Minha Casa Minha Vida virou palco de defesa da presidente Dilma, que voltou a afirmar que não cometeu crime de responsabilidade e que impeachment é golpe.

‘ É um processo golpista’, afirma Dilma no Planalto

• Presidente transforma solenidade no Planalto em ato contra o impeachment, com a presença de integrantes de movimentos sociais; hoje haverá manifestações a favor do governo

Eduardo Barretto - O Globo

- BRASÍLIA- O governo transformou o lançamento da terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, ontem, em mais um ato político contra o impeachment no Palácio do Planalto, com forte presença de movimentos sociais. O expediente passou a ser usado depois que o ex- presidente Lula foi empossado ministro da Casa Civil há duas semanas. A posse, porém, foi suspensa pela Justiça.

— Que processo é esse? É um processo golpista — afirmou Dilma, referindo- se ao pedido de seu afastamento. — Impeachment sem crime de responsabilidade é o quê? É golpe — disse Dilma.

Os integrantes dos movimentos sociais passaram a gritar “Não vai ter golpe”.
Na chegada ao evento, Dilma desceu a rampa para o Salão Nobre acompanhada de perto por militantes uniformizados e com bandeiras. Geralmente, essa área do Planalto é isolada para que a presidente caminhe livremente até sua cadeira.

Dilma abriu seu discurso citando datas históricas do Brasil. Destacou feitos do seu governo e do de Lula, que, segundo ela, “incomodam muita gente”. O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, disse que, proporcionalmente, o Minha Casa Minha Vida é um programa nunca visto durante toda a “história da humanidade”.

— O Brasil foi descoberto há 516 anos, tornou- se independe há 193 anos, e a República foi instalada há 126 anos. Em todo esse tempo, sabem quantos governos foram capazes de implementar um programa habitacional que garantisse a milhões de brasileiras e brasileiras a realização do sonho da casa própria? — perguntou Dilma, respondendo em seguida: — A resposta é simples. Somente dois governos: o governo do presidente Lula e o meu governo.

“Dificuldades notórias”
A presidente reconheceu que o momento econômico é de “dificuldades públicas e notórias”, mas disse que aqueles que querem seu impeachment serão responsáveis por retardar a volta do crescimento da economia. Ela também defendeu a manutenção de investimentos em programas sociais.

— Mesmo diante das dificuldades que temos, públicas e notórias, pelas quais a economia do Brasil passa, é importante que a gente perceba que nós não podemos ajustar a economia para cortar programas sociais.

Em discurso, Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem- Teto, falou em “golpe” e “fascismo”. O vice- presidente Michel Temer não foi atacado por Boulos, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi chamado de “bandido”.

“Vai ter resistência”
Boulos chegou a virar para Dilma durante o discurso e deu o recado de que os trabalhadores não aceitarão pagar a conta do ajuste fiscal — mas sua fala foi alinhada ao discurso adotado pelo Planalto: atacar o impeachment, inclusive com argumentos jurídicos.

— Esse povo que tá nas ruas, presidenta, não quer o ajuste fiscal. Quer que o andar de cima pague a conta da crise, e não os trabalhadores — disse Boulos. — Vai ter luta, vai ter resistência. Não passarão com esse golpe de araque no Brasil.

Hoje, a presidente receberá artistas e intelectuais num segundo evento “em defesa da legalidade”, após a ida de juristas ao Palácio do Planalto, na semana passada. Enquanto isso, Lula deverá participar da Jornada Nacional pela Democracia, que espera reunir milhares de pessoas diante do Congresso Nacional. Essas manifestações também serão realizadas em outros estados.

Sobram crimes, diz autora de pedido de impeachment

• Argumentos de juristas incluem ‘ pedaladas’ e corrupção na Petrobras

Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr. falaram à comissão do impeachment na Câmara e afirmaram que governo não teve responsabilidade fiscal, prejudicando os mais pobres; petistas contestaram

Autores do pedido de impeachment da presidente Dilma, os juristas Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal apresentaram ontem à comissão especial da Câmara lista de argumentos para sustentar que a petista cometeu crime de responsabilidade. As “pedaladas” fiscais e a corrupção na Petrobras foram os pontos destacados pelos juristas, aplaudidos pela maioria dos parlamentares. “Tenho visto cartazes dizendo que impeachment sem crime é golpe. Essa frase é verdadeira. Mas estamos aqui diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade”, disse Janaina. “Se apropriaram de um bem dificilmente construído, o equilíbrio fiscal, e as consequências são gravíssimas para as classes mais pobres, que estão sofrendo com inflação, desemprego e desesperança”, afirmou Reale Jr. Deputados petistas contestaram.

‘Fomos vítimas de um golpe’

• Autores do pedido de afastamento de Dilma dizem que sobram crimes de responsabilidade

Eduardo Bresciani - O Globo

- BRASÍLIA- Em uma exposição aplaudida pela maioria da comissão do impeachment, os juristas Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal apresentaram ontem aos parlamentares os principais argumentos da denúncia de crime de responsabilidade oferecida por eles contra a presidente Dilma Rousseff. No foco da exposição, as “pedaladas fiscais” e as violações que elas representaram à Lei de Responsabilidade Fiscal ( LRF). Também foram destacados os decretos assinados pela presidente sem previsão orçamentária, além do esquema de corrupção na Petrobras.

— Tenho visto vários cartazes dizendo que impeachment sem crime é golpe. Essa frase é verdadeira. Mas estamos aqui diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade. Poderíamos dividir essa denúncia em três grandes partes: a questão das pedaladas fiscais, a questão dos decretos não numerados baixados sem autorização desta Casa e o comportamento omissivo doloso da presidente com pessoas próximas a ela no caso do petrolão — afirmou Janaina.

A jurista prosseguiu afirmando que as três situações estão conectadas, porque foi preciso editar decretos sem base orçamentária e utilizar recursos de bancos públicos para pagar despesas da União — as “pedaladas fiscais” — justamente devido aos desvios de recursos que ocorriam em outros órgãos, como a Petrobras. Essas ações teriam levado a um “golpe”, com a reeleição da presidente Dilma em 2014 num pleito em que foi ocultada a real situação do país.

— Como eleitora e cidadã que estuda Direito, digo que nós fomos vítimas de um golpe — afirmou a jurista.

Janaina disse que a responsabilidade fiscal não é um valor para o governo atual e que isso tem levado a cortes em programas sociais:

— A responsabilidade fiscal neste governo, infelizmente, não é um valor. Prova que não é um valor é que se fala reiteradamente que isso é uma questão menor. Mas, se a responsabilidade fiscal não for observada, nenhum programa pode ser mantido.

Ao final de sua exposição, Janaina defendeu mudanças profundas na política:

— Nós estamos passando este país a limpo. Quando as pessoas vão para as ruas, estão esperando que esta Casa tome providências; não é só afastar a presidente, é afastar e mudar tudo que está errado na política brasileira, que está levando nosso país para o buraco — afirmou a jurista.

Reale Jr. focou sua apresentação nas “pedaladas fiscais”. O jurista disse que o artifício contábil utilizado pelo governo federal para manter em andamento programas sociais, pagar benefícios e conceder subsídios constitui crime de responsabilidade por ter sido usado para esconder um déficit fiscal e com objetivo político. Destacou também que a crise econômica é consequência desse tipo de política:

— Se apropriaram de um bem dificilmente construído, o equilíbrio fiscal, e as consequências são gravíssimas para as classes mais pobres, que estão sofrendo com inflação, desemprego e desesperança — afirmou o jurista.

Ele afirmou que foi cometido ainda crime de falsidade ideológica, ao se omitir as operações de crédito do Banco Central. Ressaltou ainda que essa política provocou perda de credibilidade e que a esperança de futuro do país foi “sequestrada”.

— Crime não é apenas pôr a mão no bolso do outro e pegar dinheiro, é eliminar as condições deste país de ter desenvolvimento — disse o jurista.

Petista vê ‘agitação política’, tucano elogia
O deputado Wadih Damous (PT-RJ) afirmou que os denunciantes não conseguiram mostrar que houve o crime de responsabilidade e fizeram “agitação política”.

— Ficar inventando crime de responsabilidade chama- se golpe. É um atentado à Constituição. Por isso dizemos com todas as letras: tratase de um golpe — afirmou Damous.

O líder do PSDB, Antonio Imbassahy ( BA), afirmou que a exposição dos juristas reitera haver base para o impeachment.

— A continuidade do comportamento da presidente Dilma nesse mister é uma coisa que trouxe verdadeiro escândalo neste país. Cometeu-se crime conscientemente, violou- se a democracia e fraudou- se as eleições — afirmou.

Hoje, a comissão ouvirá os dois representantes indicados pelo governo: o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o professor de Direito da Uerj Ricardo Lodi Ribeiro.

“A responsabilidade fiscal neste governo infelizmente não é um valor

Em defesa do afastamento

A responsabilidade fiscal neste governo infelizmente não é um valor. Prova que não é um valor, que se fala reiteradamente que isso é uma questão menor. Mas, se a responsabilidade fiscal não for observada, nenhum programa pode ser mantido.

Vossas Excelências não imaginam a dor das famílias que acreditaram que iam ter seus filhos terminando a faculdade e estão começando a receber cartinha de que, ou eles pagam, ou eles perderam esse sonho. Então, a situação é muito grave. Aqui não tem nada a ver com elite, com não elite.

Tem a ver com povo enganado. Tem a ver com povo enganado que agora não tem mais as benesses que lhes foram prometidas quando quem prometeu já sabia que não podia cumprir.

Outro ponto importantíssimo, excelências. Se Vossas Excelências, e vão constatar que eu não estou mentindo, peçam para a assessoria fazer um levantamento nos TJs do Brasil inteiro.

Vossas Excelências vão constatar que muitos prefeitos foram condenados criminalmente, com fulcro no 359 em uma de suas alíneas, e foram afastados dos seus cargos por irresponsabilidade fiscal, e aí, ouso dizer, em situações muito menos relevantes, muito menos significativas, do que a situação que é trazida neste momento à apreciação de Vossas Excelências”.

Janaína Paschoal

‘É golpe’, ataca Dilma; para juristas, ‘sobram crimes’

• Presidente transforma evento no Planalto em palanque; autores do pedido de impeachment criticam governo

A presidente Dilma Rousseff fez ontem no Palácio do Planalto, durante o lançamento da terceira etapa do programa Minha Casa Minha Vida, seu mais duro ataque ao processo de impeachment em curso na Câmara. “Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, afirmou. Dilma também criticou Michel Temer e o PMDB. A plateia do evento chamou o vice-presidente de golpista e pediu sua renúncia. Em sessão tumultuada, os juristas Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, autores do pedido de impeachment, reforçaram na Comissão Especial sobre o assunto na Câmara seus argumentos pelo afastamento da petista. Os juristas disseram que Dilma deu “golpe” na população ao dizer, durante a campanha eleitoral de2014, que as contas públicas estavam organizadas. Para Janaina, “estamos diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade”.

Crise. Presidente transforma evento do Minha Casa Minha Vida em palanque político para criticar o pedido de afastamento e plateia, formada por representantes de movimentos sociais, chama vice Michel Temer de golpista; para a oposição, atitude rebaixa o governo

Dilma usa ato oficial no Planalto para fazer duro ataque ao impeachment

A presidente Dilma Rousseff fez ontem, no Palácio do Planalto, sua mais dura crítica ao processo de impeachment em trâmite na Câmara dos Deputados. “Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, afirmou a petista.

Dilma aproveitou o lançamento da terceira etapa do programa Minha Casa Minha Vida para transformar o evento em um ato de defesa de seu mandato e de críticas ao vice-presidente Michel Temer e ao PMDB, partido que, anteontem, anunciou oficialmente seu rompimento com a atual gestão.

A oposição criticou o uso do espaço. “É um absurdo, perderam os limites da civilidade política. Parecia a prefeitura do Odorico Paraguaçu (personagem folclórico criado pelo dramaturgo Dias Gomes) defendendo seu legado. Toda a liturgia da Presidência foi rasgada”, afirmou o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (DEM-PE).

“O Palácio do Planalto não pode se transformar em palanque de facção política, é um desrespeito, o que mostra desespero”, disse o deputado Roberto Freire, presidente do PPS.

PMDB. Michel Temer foi chamado pela plateia de golpista. O público pediu a renúncia dele do cargo de vice-presidente. Temer tem sido acusado de trabalhara favor do impeachment para que possa assumir a Presidência no lugar de Dilma. Representantes dos movimentos sociais que lotaram o salão nobre do Palácio do Planalto se revezaram na tribuna para defender a bandeira de que o impeachment da presidente é um “golpe” contra a democracia.

A própria presidente puxou o coro de “não vai ter golpe” no fim do seu discurso. Ela, mais uma vez, afirmou que, apesar de o impeachment ser um mecanismo presente na Constituição, não há embasamento legal para o seu afastamento.

“A Constituição Federal exige que tenha de ter crime de responsabilidade. Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, disse ela.

Ela afirmou ainda que um presidente só pode ser julgado pelo que acontece em seu mandato e lembrou que as contas de 2015 só serão apresentadas em abril e, portanto, ainda não foram julgadas. O pedido de impeachment de Dilma que tramita na Câmara tem por base as pedaladas fiscais (manobras contábeis) realizadas, segundo o Ministério Público, em 2014 e repetidas no ano passado.

A presidente declarou também que tirá-la do cargo vai “golpear direitos garantidos da população” e retardara retomada do crescimento. “Quem não tem razão para tirar um governo que tem sua base pactuada pela Constituição quer tirar o governo para golpear direitos garantidos da população. Se fazem isso contra mim, o que não farão contra o povo?”

Em uma crítica a setores do PMDB que passaram a defender o parlamentarismo como solução para a atual crise, ela afirmou que o Brasil optou pelo presidencialismo e que agora “não existe essa conversa de que, se eu não gosto do governo, então ele cai”.

Novas manifestações. Hoje, o Planalto vai mais uma vez abrigar um ato contra o impeachment e a favor de Dilma. A presidente vai receber artistas e intelectuais para defender seu mandato. O encontro ocorre no mesmo dia em que o PT organiza uma série de manifestações pelo Brasil em defesa da democracia. /

‘Sobram crimes’, diz jurista em comissão

• Janaina Paschoal, coautora de pedido de impeachment de Dilma, discursa na Câmara

Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Em uma sessão tumultuada, marcada por bate-boca e empurra-empurra, os juristas Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, reforçaram na Comissão Especial de impeachment da Câmara seus argumentos pelo afastamento da petista.

Os juristas disseram que Dilma não só cometeu crime de responsabilidade fiscal como deu “um golpe” na população ao dizer, durante a campanha eleitoral de 2014, que as contas públicas estavam organizadas. “Vítimas de golpe fomos nós”, resumiu Janaina. Atualmente, há uma disputa narrativa entre o Palácio do Planalto e os defensores do impeachment com o uso da palavra “golpe”.

No plenário lotado, o pronunciamento dos juristas, alinhado ao discurso dos parlamentares da oposição, foi a todo momento interrompido por aplausos e por gritos de “impeachment”, enquanto governistas rebatiam com “não vai ter golpe”. Reale disse que as pedaladas fiscais não constituíram um mero problema contábil e acusou o governo de “falsidade ideológica” por não fazer o devido registro da dívida. O jurista lembrou que as pedaladas começaram em 2014 e se estenderam para 2015.

Reale considerou as pedaladas como crime grave, um “expediente malicioso onde foi escondido o déficit fiscal” e uma afronta à Lei de Responsabilidade Fiscal. “Crime não é apenas colocar a mão no bolso do outro. Crime aqui é eliminar as condições do País de ter desenvolvimento, cuja base é a responsabilidade fiscal”, afirmou. Para ele, a dívida da União foi “empurrada com a barriga” e o superávit primário foi “falseado”. “De repente se percebeu que o Estado estava falido e a consequência foi a emissão de títulos, o aumento dos juros”, declarou, sob aplausos dos oposicionistas.

Para Janaina, “estamos diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade”. Sobre as pedaladas, ela ressaltou que foi utilizado dinheiro de bancos públicos “sem ter condições, sem ter arrecadação”. “Quando as pessoas vão às ruas, estão esperando que esta Casa (Câmara) tome providências .Não é só afastar a presidente, é afastar e mudar tudo que está errado na política brasileira”, finalizou ela.

Palanque. Um dos principais defensores do governo na comissão, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) acusou os juristas de promoverem um palanque político em favor da oposição. “A dupla fez aqui uma agitação política. Viu-se aqui um comício político”, afirmou, acrescentando que as “pedaladas fiscais” foram práticas corriqueiras no governo Fernando Henrique Cardoso, “ao qual serviu Miguel Reale Júnior”.

O presidente do colegiado, Rogério Rosso (PSD-DF), provocou ainda a indignação dos governistas ao encerrar os trabalhos. Com dedos em riste, eles foram cobrar explicações e a situação gerou um tumulto.

Segundo parlamentares, havia um acordo com Rosso para que a sessão prosseguisse. Como se trata de uma audiência pública e não uma sessão deliberativa, teria sido acertado que todos teriam a oportunidade de falar. “Ele errou. É uma praxe da Casa não interromper debates”, explicou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).

O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), acusou o presidente do colegiado de praticar um golpe. “Ele rompeu o acordo.” Ivan foi confrontado pelo tucano Caio Nárcio (MG), gerando empurra-empurra. Segundo a assessoria de Rosso, a reunião foi encerrada para não invalidar o processo e evitar questionamentos jurídicos no futuro.

Repasse de marqueteiro do PT eleva suspeitas sobre reeleição

• Lava Jato investiga se recursos vieram ilegalmente da Odebrecht; tesoureira da campanha nega

Operação de Santana reforça suspeita de caixa 2 em reeleição de Dilma

Valdo Cruz, Graciliano Rocha e Leandro Colon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A empresa do marqueteiro João Santana recebeu recursos em dinheiro vivo, no caixa dois, da empreiteira Odebrecht e fez pagamentos, igualmente em espécie, a fornecedores da campanha da reeleição de Dilma Rousseff contratados por ela.

O roteiro identificado pela Folha sugere o caminho do dinheiro da construtora para prestadores de serviço do PT que trabalharam para a Pólis, empresa de Santana, mas isso ainda é objeto de investigações da Polícia Federal.

Segundo a reportagem apurou, a PF vê indícios de que Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro, fez esses pagamentos entre 2014 e 2015 com recursos ilegais recebidos da Odebrecht.

Estes gastos seriam de deslocamentos das equipes de Santana, serviços de internet e produção de programas do PT com Dilma como estrela.

Até aqui, a construtora Andrade Gutierrez havia confirmado ter pago ilegalmente a fornecedores de Dilma, mas na campanha de 2010 —o que poderia ter efeitos para investigação criminal, mas dificilmente afetaria a situação eleitoral da petista.

Já as contas de 2014 são alvos de inquérito no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que podem resultar na cassação da chapa da reeleição, atingindo tanto Dilma como seu vice, Michel Temer (PMDB).

A Folha cruzou dados de planilhas apreendidas pela Polícia Federal comdepoimentos sigilosos da secretária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, uma das principais colaboradoras da Lava Jato.

O resultado mostra que a construtora levantou dinheiro vivo com doleiros, em São Paulo e Salvador, para repassar à empresa Pólis, de Santana e Mônica. Ao todo, a operação identificou pagamentos nos sete meses seguintes ao segundo turno da eleição.

Sob a condição de não serem identificados, dois prestadores de serviços da campanha de 2014 disseram que a Pólis fazia pagamento de serviços da área de comunicação, como produtoras de vídeo, em dinheiro vivo.

Um deles contou à reportagem que este tipo de pagamento em "cash" era feito pela própria Mônica.

O casal está preso em Curitiba, e a empresária foi interpelada sobre os pagamentos em sua negociação preliminar para fazer uma eventual delação premiada com o Ministério Público Federal. Segundo relatos, ela falaria sobre os pagamentos no caixa dois em 2014.

Em depoimento à Polícia Federal no dia 2 de março, que está em segredo de Justiça, a secretária Maria Lúcia contou que cuidou dos repasses ao marqueteiro do PT por dois anos. Os contatos eram sempre feitos com Mônica.

Segundo ela, as entregas ocorriam, na maioria das vezes, em São Paulo, em endereços diferentes e com emissários diversos.

Uma planilha chamada "Paulistinha", apreendida na casa da secretária, traz 41 pagamentos a "Feira" [codinome da equipe de Santana], num total de R$ 21,5 milhões.

A primeira entrega de R$ 500 mil ocorreu no dia 30 de outubro de 2014, apenas quatro dias depois do segundo turno. A última, também de R$ 500 mil, foi entregue em 22 de maio de 2015, no mês anterior à prisão de Marcelo Odebrecht e da cúpula do grupo.

A "Paulistinha", explicou Maria Lúcia, referia-se a entregas de dinheiro vivo na cidade de São Paulo. O "cash" era levantado com Alberto Novis, da Hoya Corretora de Valores e Câmbio —alvo da fase Xepa da Operação Lava Jato, o desdobramento da Lava Jato baseado nos depoimentos da secretária.


O dinheiro "gerado" por Hoya no Rio foi registrado em outra planilha, a "Carioquinha". Em outro arquivo eletrônico, com referência a pagamentos a "Feira" na "Paulistinha", o responsável por autorizar os pagamentos é identificado pela sigla MBO –Marcelo Bahia Odebrecht, para os investigadores.

No caso de Mônica, oficialmente nem os procuradores nem os seus advogados confirmam as negociações.

Nas conversas preliminares com autoridades, Mônica repetiu a versão isentando o marido, sustentando que era ela que cuidava de toda a parte operacional da empresa, cabendo a ele somente a concepção das campanhas.

A investigação sobre os pagamentos da Odebrecht a Santana foi remetida ao STF. A defesa da empreiteira ressalta que isso deveria ter acontecido antes, já que há citação à campanha de 2014.

Outro lado
O ministro Edinho Silva (Comunicação Social), tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição, disse à Folha que todos os pagamentos à Pólis, empresa de João Santana, foram feitos por meio de transferências bancárias, registrados na contabilidade e informados à Justiça Eleitoral.

Segundo ele, a campanha tinha contrato de R$ 70 milhões com a Pólis, sendo R$ 50 milhões no primeiro turno e R$ 20 milhões no segundo. Edinho afirmou que nada foi pago ao marqueteiro pela campanha além destes recursos.

Sobre pagamentos em dinheiro vivo, na forma de caixa dois, a prestadores de serviços da Pólis, o ministro disse que a campanha não fez este tipo de operação e tudo o que foi pago está registrado oficialmente. Segundo ele, a campanha só se responsabiliza pela própria contabilidade feita no período.

As defesas do publicitário João Santana e da mulher dele, Mônica Moura, não se manifestaram até a conclusão desta edição.

Segundo a assessoria de imprensa da Pólis, empresa dos dois, Fábio Tofic Simantob, que defende o marqueteiro, estava em viagem nesta quarta (30) e não poderia comentar as alegações de que a empresa recebeu em dinheiro vivo da Odebrecht e que também houve repasse, em "cash", a prestadores de serviço da campanha.

O advogado Juliano Prestes, que assumiu a defesa de Mônica Moura para negociar uma delação premiada, não foi localizado.

Citada como fonte de pagamentos clandestinos de R$ 21,5 milhões ao marqueteiro, a construtora Odebrecht não quis se manifestar.

Governo transforma evento oficial em ato contra o impeachment de Dilma

Gustavo Uribe, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Enquanto a presidente Dilma Rousseff enfrenta o momento mais difícil de seu segundo mandato, o governo federal transformou evento de entrega de moradias da terceira fase do Minha Casa Minha Vida em um palanque contra o impeachment.

Na cerimônia realizada no salão principal do Palácio do Planalto, estiveram presentes representantes de movimentos sociais que costumam apoiar o governo federal, como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, MLT (Movimento de Luta pela Terra), FNL (Frente Nacional de Luta), entre outros.

Os representantes foram colocados em lugares destinados a convidados, onde entoaram gritos de guerra pró-governo federal mesmo antes do evento começar. Os presentes chamaram o juiz Sergio Moro, o vice-presidente Michel Temer e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de "golpistas" e cantaram o já tradicional "não vai ter golpe".

Como é comum em cerimônias do MCMV, foram reservadas cadeiras para autoridades, como prefeitos e governadores. Com a ausência deles, no entanto, a segurança do evento acabou preenchendo os espaços de última hora com representantes dos movimentos sociais.

Desde o agravamento da crise política, o Palácio do Planalto tem adotado estratégia de promover eventos com a presença de claques pró-governo. Na semana retrasada, evento de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil também teve gritos contrários ao impeachment, assim como cerimônia que tentou reproduzir na semana passada a "Campanha pela Legalidade", da década de 1960, anterior ao golpe de 1964.

No evento desta quarta-feira (30), a presidente anuncia a contratação de dois milhões de residências populares pelo programa habitacional. A meta é, nos próximos dois anos, investir cerca de R$ 210,6 bilhões, dos quais R$ 41,2 bilhões são do Orçamento Geral da União.

Meta reduzida
O programa foi anunciado pela própria presidente durante a campanha eleitoral de 2014 com a promessa de construção de 3 milhões de novos imóveis. Mas, por falta de recursos para subsidiar as obras e os financiamentos, o governo se viu obrigado a modificar o Minha Casa Minha Vida ainda no ano passado.

No anúncio desta quarta-feira, o governo atualizou as faixas de renda do programa -que passou de 3 para 4 faixas- e o valor dos imóveis que podem ser financiados que passam a ser de até R$ 96 mil para a faixa 1 (de renda até R$ 1,8 mil) e de até R$ 225 mil para a faixa 3 (de renda até R$ 6,5 mil).

O governo também determinou que as casas da faixa 1 tenham uma 2 metros quadrados maior que a atual, passando ao mínimo de 41 metros quadrados.

Segundo o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, o programa vai ter custo de R$ 210,6 bilhões, sendo que o governo entrará com R$ 41 bilhões de recursos do Tesouro para subsidiar os financiamentos.

De acordo com os dados do Ministério das Cidades, responsável pelo programa, o Minha Casa Minha Vida já contratou 4,2 milhões de casas em sete anos, sendo 2,6 milhões entregues. O investimento total alcançou R$ 294 bilhões.

Por causa da falta de recursos para pagar o subsídio, foram feitos financiamentos para pouco mais de 400 mil contratações de imóveis do Minha Casa Minha Vida, praticamente todos nas faixas 2 e 3 (renda acima de R$ 3,6 mil mensais), segundo dados das empresas.

Reprovação de Dilma é de 82%, diz Ibope

• A porcentagem da população que considera o governo da presidente Dilma Rousseff ruim ou péssimo oscilou de 70% para 69% de dezembro para março

Victor Martins - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A porcentagem da população que considera o governo da presidente Dilma Rousseff ruim ou péssimo oscilou de 70% para 69% de dezembro para março, de acordo com pesquisa realizada pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A parcela dos entrevistados que avalia a atual gestão como ótima ou boa também oscilou, de 9% para 10%. Já os que consideram o governo regular oscilaram de 20% para 19%. Todas as variações ocorreram dentro da margem de erro máxima de dois pontos porcentuais.

De acordo com a pesquisa, 82% dos entrevistados desaprovam a maneira de governar de Dilma em março, mesmo patamar desde setembro de 2015. A proporção dos que aprovam também se manteve em 14%. Não souberam ou não responderam 3%.

A CNI e o Ibope também perguntaram sobre a confiança em relação à presidente Dilma Rousseff. A parcela dos que não confiam nela oscilou de 78% em dezembro para 80% em março - o pior nível desde o governo José Sarney, quando em junho de 1989 a parcela que não confiava em Sarney era de 80%. O porcentual daqueles que confiam na pessoa da presidente permaneceu em 18%.

Políticas públicas. A pesquisa mostra um recuo na desaprovação da política do governo no combate ao desemprego. Em dezembro, 87% desaprovavam o governo nessa área, hoje são 86%. Também caiu a desaprovação das políticas do governo no combate à fome e à pobreza (de 71% para 69%), na educação (de 76% para 74%), na segurança pública (de 85% para 84%) e no meio ambiente (de 74% para 68%).

A pesquisa mostra ainda que a parcela dos entrevistados que percebe o noticiário mais desfavorável ao governo subiu de 75% para 76%, enquanto aqueles que vêm o noticiário mais favorável subiram de 9% para 10%. O porcentual dos que enxergam o noticiário nem favorável nem desfavorável ao governo caiu de 11% para 9%.

As notícias sobre o governo mais lembradas pela população são Presidente Dilma convida o ex-presidente Lula para assumir ministério(31%); notícias sobre manifestações a favor da do impeachment (17%) e notícias sobre Operação Lava-Jato (13%).

A pesquisa foi realizada entre os dias 17 e 20 deste mês, tendo sido iniciada quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi anunciado como ministro da Casa Civil e teve início uma série de manifestações na porta do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional. Foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios. O grau de confiança da pesquisa é de 95%.

Análise. O gerente de Pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, avaliou que a combinação de crise política e econômica tem gerado insatisfação e mantido a popularidade da presidente Dilma Rousseff em nível baixos. Segundo pesquisa feita pelo Ibope a pedido da entidade, oito em cada dez brasileiros avaliam que o segundo mandato está sendo pior que o primeiro e desde setembro de 2015, 82% desaprovam a maneira da presidente de governar.
Fonseca observou ainda que os dados indicam que ainda há um grupo de apoia a presidente e que avaliou que os conflitos entre as duas partes pode estar alimentando alguma recuperação nos índices de avaliação da presidente.

“Obviamente tem um grupo que apoia o governo e a presidente tem se segurado nesse grupo nesse momento. É difícil saber o que vai acontecer para frente”, disse.

“A presidente está com uma popularidade muito baixa. É o mais baixo desde o governo Sarney. A soma de crise política com econômica gera essa insatisfação e explica popularidade tão baixa”, observou Fonseca. Ele ponderou, no entanto, que houve uma ligeira melhora. No quesito avaliação do governo como ruim/péssimo, passou de 70% para 69%. A maioria dos indicadores que apresentaram alguma recuperação, no entanto, ficaram dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos porcentuais.

Contra impeachment, Dilma lembra 1964

Por Cristiane Agostine - Valor Econômico

SÃO PAULO - Em meio ao aprofundamento da crise política, com a saída do PMDB do governo federal, movimentos sociais, juristas, artistas e acadêmicos contrários ao impeachment farão hoje novas manifestações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A data foi escolhida por marcar os 52 anos do golpe militar de 1964. No Palácio do Planalto, Dilma receberá artistas e intelectuais em um encontro intitulado "em defesa da democracia". Em outra frente, entidades como CUT, MST, UNE e MTST farão atos em 23 capitais. O maior protesto deve acontecer em Brasília, com a previsão de discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a realização de uma marcha em frente ao Congresso.

Os movimentos sociais tentam ampliar a capilaridade dos protestos contra o impeachment e aumentar a participação fora do eixo São Paulo-Rio-Brasília. No sábado, Lula deve participar de um grande ato em Fortaleza. Entidades reunidas nas frentes de esquerda Brasil Popular e Povo Sem Medo, como CUT e MST, querem que o ex-presidente percorra o país em defesa do mandato da presidente Dilma e planejam atos com a presença do petista em Salvador e em São Bernardo do Campo (SP) nos próximos dias.

Para o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, Lula é o "cavaleiro da esperança". "Ele deve ir às ruas construir a resistência contra o golpe e reconstruir a unidade nacional", afirmou.

Os grupos sociais já planejam um novo ato no dia 9, sábado. Será o primeiro de caráter nacional em um fim de semana. "Queremos dialogar com mais gente", disse o presidente nacional da CUT.

Nas manifestações de hoje, os organizadores estimam a participação de 70 mil pessoas em Brasília e de 30 mil em São Paulo, na praça da Sé, palco do maior comício das Diretas Já. Além dos atos previstos em 23 capitais e no Distrito Federal, deve haver manifestações em 26 municípios do interior e em cerca de 20 cidades da Europa e América Latina.

Dirigente do MST, João Paulo Rodrigues afirmou que serão levados 800 ônibus com integrantes de movimentos sociais para o ato no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Artistas como Sergio Mamberti, Letícia Sabatella, Tássia Camargo e Ziraldo teriam confirmado participação, de acordo com os organizadores. "É preciso dizer: golpe, nunca mais", afirmou o líder do MST.

Ontem, líderes dos movimentos sociais como CUT, MST e MTST se reuniram com Dilma antes do anúncio da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida. O lançamento, apesar de ter a redução de um milhão das três milhões de unidades habitacionais previstas pelo governo, foi visto como um aceno aos movimentos populares de que o governo quer "superar" a agenda do ajuste fiscal. Segundo Rodrigues, do MST, a discussão ficou entorno do futuro do governo, com o processo de impeachment em curso, e não houve promessas da presidente. "Criticamos a política econômica e mostramos à presidente nossa preocupação com a redução das políticas sociais, mas mostramos nossa solidariedade contra o golpe", afirmou o líder do MST.

Nos atos de hoje, os movimentos populares devem reforçar a crítica ao PMDB e ao vice-presidente da República, Michel Temer. O presidente nacional da CUT afirmou que é "preciso alertar os trabalhadores" de que se o impeachment da presidente acontecer, a crise econômica deve se aprofundar.

"Temer quer ser presidente sem passar pelas eleições. A posse dele não vai resolver a crise econômica. Pelo contrário, vai agravar", disse o presidente da CUT. "A inflação não vai diminuir, nem a taxa de desemprego. Quem vai pagar a conta serão os trabalhadores", afirmou. Freitas citou o programa "Uma ponte para o futuro", divulgado em outubro pelo PMDB, que prevê, entre outros pontos, que as convenções coletivas na área trabalhista prevaleçam sobre as normas legais, o fim da indexação de qualquer benefício social ao salário mínimo e o aumento da idade mínima para aposentadoria.

Em linha contrária a dos movimentos sociais, os grupos pró-impeachment também planejam intensificar ações contra o governo, apesar de ainda não terem marcado o próximo ato nacional.

O Vem Pra Rua, um dos organizadores das manifestações anti-PT, fará um ato no domingo em São Paulo, em frente ao prédio da Fiesp, para divulgar o nome dos parlamentares que são contra o impeachment ou que ainda não declararam voto. O grupo deve se juntar aos manifestantes que passam o dia em frente à Fiesp buzinando contra o governo Dilma.

Para o líder do movimento, Rogério Chequer, "é preciso expor a posição" desses parlamentares. "É inaceitável alguém afirmar que está indeciso sobre o impeachment diante de tantas denúncias. Isso soa como barganha política", disse.

Apesar de toda a linha sucessora de Dilma estar envolvida em denúncias de corrupção, o Vem Pra Rua afirmou que não é o foco do grupo protestar contra pemedebistas como Temer, Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL). "O impeachment não pode ter como critério a qualidade do vice ou do substituto", disse. "Não dá para parar o Brasil para lavar toda roupa suja", afirmou Chequer.