quinta-feira, 6 de julho de 2017

Opinião do dia - Roberto Freire

Apesar do clima de pessimismo e da descrença generalizada da população brasileira em relação aos rumos do país, sobretudo em função da sucessão de denúncias e escândalos, devemos tentar extrair bons frutos mesmo a partir de um momento delicado como o que vivemos atualmente. Seja com Michel Temer ou outro presidente da República que, eventualmente, venha a sucedê-lo de acordo com o que prevê a Constituição, o governo de transição não se desviará de seu caráter reformista e contará com o nosso apoio para chegarmos ao porto seguro de 2018.

Olhando adiante, o Brasil não deve perder tempo com mudanças paliativas no sistema político ou remendos inócuos que nada resolvem. É necessário modificarmos a essência do atual modelo, com um regime que permita o fortalecimento dos partidos e a participação mais atuante da sociedade. Um Brasil parlamentarista será um Brasil ainda mais democrático.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS, “A transição e o futuro”, Diário do Poder, 5/7/2017

Botafogo na folha-seca | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

O noticiário tem pintado Rodrigo Maia como um Didi da política, o craque que joga parado. Sem se mexer, o presidente da Câmara estaria armando para suceder Temer – e não só quando este vai ao exterior. Tirando o Botafogo, que um fez tricampeão e o outro imortalizou como apelido odebrechtiano, Didi e Maia têm pouco em comum. Elegância principesca só se aplica a um deles, por certo.

Nem por isso deve-se imaginar que “Botafogo” seja incapaz de um lance em profundidade. Filho de prefeito, primo de senador e genro de felino ministro-governador, Maia acabou de fazer 47 anos e já cumpre o quinto mandato consecutivo como deputado federal. Se não há mais bobo no futebol, imagine no Congresso. Ninguém galga duas vezes a presidência da Câmara por acaso.

Como o antecessor de Maia no cargo provou, tampouco alguém permanece presidente da República por muito tempo sem a colaboração do presidente da Câmara. Quando o titular do Planalto está impopular e acuado, aí então é que o segundo da linha sucessória vira um árbitro de pelada. Pode marcar tantos impedimentos e pênaltis contra o potencial sucedido que inviabiliza seu governo. É só apitar na hora certa.

Heresia jurídica | Michel Temer

- Folha de S. Paulo

Depois de 45 dias de acusações abjetas e caluniosas, repetidas ao país à exaustão, apresentei minha defesa oficial à Câmara dos Deputados. Nela fica demonstrada minha inocência cristalina. Não cometi, à frente da Presidência, nenhum deslize penal, ético ou moral.

São tantos os procedimentos e fatos ilegais e arbitrários assacados neste processo torpe contra mim que não é fácil escolher por onde começar. Meus defensores gastaram cem páginas apenas para descrevê-los sucintamente.

Não deixa de ser uma ironia que, advogado de carreira e professor, eu venha a ser apresentado, a esta altura da vida, ao "direito penal da ilação" e ao "direito penal do porvir" -criações inusitadas do Ministério Público Federal que estão assombrando o mundo jurídico.

Pelo "direito da ilação", da mera suposição e dedução, fui acusado, sem provas, de ter recebido R$ 500 mil pelas mãos de terceiros por ordem do empresário-grampeador Joesley Batista, dono do grupo J&F.

A denúncia não descreve sequer um detalhe de minha suposta conduta ilícita. Onde? Quando? A quem pedi? De quem recebi? Nem aponta o que teria eu oferecido em troca ao "corruptor-geral da República". Esses fatos não podem ser encontrados na inepta peça acusatória. Eles simplesmente inexistem.

Loures na berlinda | Merval Pereira

- O Globo

A defesa do presidente Michel Temer no processo que será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é mais jurídica do que política. E essa pode ser sua maior falha, no sentido de que, para desvencilhar-se da já famosa mala com R$ 500 mil que seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures arrastou apressado pelas ruas de São Paulo, o advogado Antônio Cláudio Mariz garante que o presidente nunca autorizou Loures a fazer “tratativas espúrias” em seu nome.

Não restará alternativa ao ex-assessor: ou assume a culpa, confessando-se um ladrão solitário que usou o nome de Temer em vão, ou esclarece as coisas em uma delação premiada, que parecia estar a ponto de fazer quando foi providencialmente liberado da cadeia para a prisão domiciliar.

A defesa de Temer, voltando a atacar a gravação feita por Joesley Batista como se fosse ilegal, pretende anular também a mala de Loures, aplicando a teoria dos frutos da árvore envenenada, criação da Suprema Corte americana acolhida no nosso ordenamento jurídico: se uma prova é ilícita, as demais colhidas em consequência dela também o são.

O cerco a Temer Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

Sem rua ou oposição, é o poder que se desintegra

A nomeação do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) para a relatoria da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara é sinal de que a eventual derrubada do presidente Michel Temer é movimento que pode brotar antes do racha palaciano, que das ruas e, menos ainda, da oposição. O relator é parte do Estado-Maior que o presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), começa a montar na Casa com a delicada e árdua missão de arregimentar 342 votos para o afastamento do presidente da República.

Maia tinha acabado de se reeleger à Câmara dos Deputados, depois de cumprir o mandato tampão da saída de Eduardo Cunha, quando escolheu Zveiter para presidir a comissão especial da reforma da Previdência, que, àquela época, se afigurava como o projeto mais importante da coalizão que havia tomado o poder. O PMDB percebeu a manobra e reagiu com um nome alternativo. Temia que o presidente da Câmara viesse a abrir um flanco no partido.

Semiparlamentarismo | Roberto Dias

- Folha de S. Paulo

Emmanuel Macron, o novo presidente francês, quer reduzir em um terço o Legislativo nacional. São 577 deputados e 348 senadores num país de 67 milhões de habitantes. O Brasil, com população de 208 milhões, tem menos parlamentares: 513 deputados e 81 senadores.

É muito ou pouco? Supondo que Macron tenha sucesso, a França chegaria a 1 deputado para 174 mil pessoas, contra cerca de 405 mil no caso da Câmara brasileira. Bem mais econômicos são os americanos, com 1 deputado a cada 747 mil habitantes.

Lá como cá não faltam discussões sobre a distância entre eleitor e eleito. No nosso caso, existe ao menos um aspecto positivo nestes tempos bicudos: raras vezes, se é que alguma, os brasileiros se viram tão forçados a ficar de olho no Congresso.

Crime presumido | Marcelo Coelho

- Folha de S. Paulo

Acusação "manca e anêmica". Denúncia "chocha, capenga". Afirmações "gratuitas, desprovidas de apoio fático, lançadas a esmo".

Com um estilo próximo da sustentação oral num caso de júri, o advogado Antonio Mariz de Oliveira apresenta em 98 páginas bem espaçadas sua refutação da denúncia apresentada por Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, por crime de corrupção passiva.

"Não encontrou provas, não as crie mentalmente; não se convenceu da culpa, não se violente acusando a esmo; não possui base para denunciar, não o faça", exclama Mariz de Oliveira, dirigindo-se ao procurador-geral da República.

Na parte mais substancial de sua defesa, o advogado afirma que o famoso encontro noturno entre Joesley Oliveira, do grupo JBS, e Michel Temer "é insignificante, nada representa". Afinal, muitas pessoas já foram falar com Temer, sempre um "homem do diálogo". Não seria agora, como presidente, "que se tornaria um ser hermético, arredio, equidistante".

Equidistante? Mariz prossegue. Normal que não tenham pedido a Joesley nenhuma identificação para entrar no Palácio do Jaburu.

A resistência a choques | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

Há algumas semanas, ainda havia vaga sensação de que a economia vinha se descolando da crise política. Agora, a percepção é a de que ela está relativamente blindada.

Antes, em seus documentos oficiais e, também, nas entrevistas dos seus dirigentes, o Banco Central advertia para os riscos e para “as incertezas” da economia. A partir da semana passada, seu presidente, Ilan Goldfajn, preferiu dizer que a economia brasileira adquiriu “resistência a choques”. A diferença pode parecer sutil, mas não é.

Ilan concentrou a explicação na política cambial flexível conduzida sem sobressaltos, no tombo consistente da inflação e dos juros e na ancoragem das expectativas que permitiram o avanço estrutural que se viu com a queda da meta da inflação. No entanto, há mais fatores entre o céu e a terra apontando para nova resiliência da economia.

Vamos falar a verdade | Zeina Latif

- O Estado de S. Paulo

O déficit orçamentário do setor público está na casa de 2,5% do PIB em 12 meses. A meta este ano é de um déficit de 2,1% do PIB (R$139 bilhões). O governo vai depender de receitas extraordinárias para cumprir a meta, e a conta está muito apertada. A frustração com a arrecadação tributária agrava o quadro.

Receitas transitórias não deveriam ser utilizadas para pagamento de despesas correntes, mas sim para a redução da dívida pública. O Tesouro Nacional sabe disso. Tempos difíceis.

Quando se exclui receitas não recorrentes do cálculo do déficit público, como uma forma de identificar a situação efetiva das contas públicas, o déficit salta para algo como 3,3% do PIB.

Para que a dívida pública interrompa a tendência de alta, seria necessário um superávit de 2,5% do PIB. Isso significa que o ajuste fiscal hoje teria que ser de cerca de 5,8% do PIB.

Nunca fizemos ajuste fiscal tão grande. Fernando Henrique Cardoso fez um de 2% do PIB no seu segundo mandato, contando basicamente com aumento da carga tributária, algo inviável atualmente.

Desafio da aposentadoria | Míriam Leitão

- O Globo

Crise política adiará a reforma mais urgente. O agravamento da crise política praticamente selou o destino da reforma da Previdência. No melhor cenário, o que se espera é a aprovação de um projeto fatiado, com apenas a idade mínima, com uma diferença ainda maior para a mulher e entrada em vigor muito gradativa. Em outros países do mundo são feitas reformas sequenciais porque a idade da população está mudando todas as equações.

Não é realista supor que se possa aprovar um projeto dessa envergadura em um governo tão fraco. Por isso o tema ficou para mais adiante. Quanto mais demorarmos, mais difícil será fazer o ajuste. E esse problema não é só nosso, mas apenas nós estamos paralisados diante da questão.

Sinais de agonia nas contas do governo | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

A Polícia Rodoviária Federal anunciou que vai diminuir o patrulhamento, por falta de dinheiro. A Polícia Federal suspendeu o serviço de passaportes. A Empresa de Planejamento Energético pede doações de computadores.

O que estará acontecendo nos hospitais que dependem de dinheiro federal, ainda mais sobrecarregados pelos milhões de trabalhadores que ficaram sem seguro-saúde privado?

Há sinais variados de que vamos para o vinagre. Melhor dizendo, para a borra do vinagre.

Gente do governo vazou a ideia de confiscar o FGTS dos demitidos a fim de cortar a despesa com seguro-desemprego. Recolheram a ideia de jerico. Mas o vazamento de sinais de desespero fiscal prossegue. Não há dinheiro.

O problema é a receita e não o teto | Ribamar Oliveira

- Valor Econômico

Ou o governo obtém receita extra ou eleva impostos

Em 2018, o espaço orçamentário que o governo terá para aumentar o gasto, na comparação com este ano, pode ultrapassar R$ 83 bilhões. Não haverá, portanto, problema para acomodar as despesas dentro do teto instituído pela emenda constitucional 95. O problema será de outra natureza. A área econômica não está certa se terá receita suficiente para cobrir a elevação dos gastos e, ao mesmo tempo, cumprir a meta fiscal, admitem fontes credenciadas do governo, ouvidas pelo Valor.

É preciso observar, em primeiro lugar, que o limite do gasto para 2018 será o limite fixado para 2017, corrigido pela inflação do período de julho de 2016 a junho de 2017. O mercado projeta inflação de 3,08% para o período, de acordo com o boletim Focus, editado pelo Banco Central. Como o limite deste ano foi de R$ 1.301,8 bilhões, o limite para o próximo ano deverá ficar em R$ 1.341,8 bilhões, nesta hipótese para a inflação. Haveria, portanto, um aumento de cerca de R$ 40 bilhões no limite.

A voz da política – Editorial | O Estado de S. Paulo

Avança na Câmara dos Deputados o procedimento relativo à denúncia contra o presidente Michel Temer, feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na terça-feira passada, o deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) foi escolhido relator da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O deputado afirmou que analisará a acusação formal contra o presidente Michel Temer com total independência e assegurou que seu parecer será “predominantemente jurídico e, possivelmente, com um viés político”.

Uma denúncia contra um presidente da República é, por si só, um assunto grave, que desperta especulações sobre os seus possíveis desfechos e, naturalmente, gera consequências na economia, na política e na governabilidade. No caso em questão, a despeito das evidentes fragilidades da peça de acusação, a denúncia agrava a crise nacional, produzindo, além dos políticos, efeitos econômicos de monta. Não é de estranhar, portanto, que o País tenha pressa em resolver o assunto o quanto antes.

Em razão de suas inconsistências, a peça apresentada por Rodrigo Janot mais parece um pedido de investigação do que uma acusação formal. Por exemplo, a Procuradoria-Geral da República não apresenta provas da corrupção passiva nem indica as circunstâncias do recebimento pelo presidente da República da alegada propina da JBS. Sendo assim, não deixa de ser exasperador ver o destino do País pendente de um documento juridicamente tão falho.

Os ineditismos do presidente Temer – Editorial | O Globo

Além de primeiro presidente em exercício denunciado por corrupção, Temer se notabiliza por se cercar de pessoas com problemas na Justiça e Ministério Público

O advogado do presidente Michel Temer, Antônio Cláudio Mariz, protocolou ontem a defesa que fará do cliente na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Avança o relógio da tramitação do pedido da Procuradoria-Geral da República para processar Temer no Supremo Tribunal Federal, assunto a ser votado na CCJ, prevê-se, na penúltima semana do mês. Não importa o resultado, a decisão final será do plenário da Casa.

Enquanto isso, o presidente Michel Temer acumula ineditismos. Além de ostentar o posto de primeiro presidente da República em exercício a ser denunciado por corrupção, Temer tem, e teve, ao redor auxiliares e aliados com diversos tipos de problemas com a Justiça e o Ministério Público. Numa dimensão nunca vista pelo menos em passado recente.

O mais novo caso é do ex-ministro Geddel Vieira, preso na segunda-feira, sob a acusação de tentar obstruir o trabalho da Justiça nas investigações sobre tramas de Eduardo Cunha, já trancafiado, Lúcio Funaro, idem, e Fábio Cleto. Em questão, falcatruas com dinheiro do fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS, na Caixa Econômica, com a cobrança de propinas a empresários.

Nova prisão – Editorial | Folha de S. Paulo

A prisão preventiva do ex-ministro Geddel Vieira Lima, nesta segunda-feira (3), é nova circunstância a impor sobre o governo Michel Temer (PMDB) o signo da instabilidade e da suspeita.

O antigo ocupante da Secretaria de Governo, já comprometido pelo constrangedor episódio das pressões que exercera para a liberação de uma obra imobiliária em Salvador, vinha tendo sua gestão como vice-presidente de pessoa jurídica na Caixa Econômica, entre 2011 e 2013, investigada por indícios de favorecimento ilícito.

Seu nome aparece também na célebre gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista, em que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures era apontado como substituto de Geddel Vieira Lima para intermediar assuntos de interesse do grupo JBS na administração federal.

Maduro retira o pouco poder que restava às oposições – Editorial | Valor

A crise venezuelana caminha para um ponto de não retorno. Se o governo de Nicolás Maduro levar até o fim a eleição de uma Assembleia Nacional Constituinte, marcada para o dia 30 - e nada indica que deixará de fazê-lo -, o jogo de forças entre os partidos de oposição e o chavismo se tornará irremediavelmente desfavorável para os opositores. Maduro, por meio de um Tribunal Supremo de Justiça totalmente subordinado, já havia tentado antes eliminar o poder legislativo da Assembleia, dominada pelas legendas de oposição. Teve de voltar atrás, mas com a Constituinte tornará o Legislativo uma relíquia insignificante e apagará um dos últimos rastros de democracia no país.

A convocação da Constituinte, como foi feita, é inconstitucional, e as regras para sua composição são ridículas cartas marcadas para deixar Maduro com as mãos inteiramente livres para fazer o que bem entender. Serão 545 constituintes, eleitos diretamente e com representação de grupos sociais com pesos aleatórios. 335 vagas serão preenchidas por um candidato vencedor em cada município, independentemente de sua população, sistema que dá vantagem aos vilarejos do interior, que votam com o chavismo. 23 vagas estão reservadas para representantes das capitais dos Estados.

Governo não está na UTI, afirma defesa do presidente

Defesa de Temer rebate denúncia e diz que governo não está na UTI

Daniel Carvalho, Angela Boldrini, Folha de S. Paulo

O advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira entregou na tarde desta quarta-feira (5) a defesa de Michel Temer, abrindo a contagem de prazo para que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara se manifeste sobre a denúncia de que o presidente da República cometeu crime de corrupção passiva.

No documento de 98 páginas, além dos anexos, Mariz diz que a defesa de Temer é centrada "na negativa da prática do delito de corrupção".

"Mostrou-se com clareza meridiana que a acusação, em face da carência de elementos probatórios, recorreu aos recursos intelectuais da suposição, da hipótese e das ilações que permitem afirmações de qualquer natureza no afã de emprestar falsa aparência de uma realidade que, na verdade, é uma mera ficção", afirma Mariz.

O advogado diz que a acusação é "manca e a anêmica" e que a denúncia é "chocha, capenga".

Mariz desqualifica a gravação de Temer feita pelo empresário Joesley Batista, da JBS, e afirma que a acusação baseia-se num áudio maculado "por cortes, adulterações e manipulações que lhe retiram a autenticidade".

CCJ preocupa Planalto e Temer assume negociação

Aliados admitem dificuldade para alcançar maioria simples na comissão que vai analisar denúncia; presidente pede mobilização de ministros e faz corpo a corpo com deputados

Daiene Cardoso, Tânia Monteiro, Isadora Peron e Murilo Rodrigues Alves, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O início da tramitação da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara revelou um cenário de incerteza e preocupação para o Palácio do Planalto. Aliados admitem que o governo terá dificuldades para alcançar maioria simples no colegiado, cujo parecer será posteriormente votado pelo plenário. Temer, diante disso, assumiu pessoalmente a negociação e nos últimos dois dias recebeu ao menos 48 deputados no Planalto.

Antes do embarque, nesta quinta-feira, 6, para a Alemanha, onde participa da reunião do G-20, Temer intensificou o corpo a corpo. Nesta quarta-feira, 5, ao fim do dia, o presidente convocou uma reunião de última hora e pediu que os ministros se mobilizem no Congresso para defender o governo e mantenham uma agenda positiva.

Em encontro no Planalto com 22 representantes de ministérios, Temer fez sua defesa. Entre os temas abordados, segundo relatos de presentes, estavam críticas ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e comentários sobre a indicação do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) para a relatoria da denúncia na CCJ. Zveiter é considerado uma “incógnita” por auxiliares do Planalto.

Defesa diz que denúncia é ficção e ataca delações

Advogado de Temer quer enfrentar Janot em comissão

Para procurador-geral, acusação tem uma ‘narrativa fortíssima’

Ao entregar a defesa do presidente Temer na Câmara, o advogado Antônio Cláudio Mariz chamou de “peça de ficção” a denúncia apresentada pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, e disse que não há provas de corrupção. Mariz atacou o instituto das delações premiadas que, segundo ele, tem sido “instrumento de impunidade que transforma delatores em paladinos da verdade”. E desafiou Janot, afirmando que gostaria de enfrentá-lo na CCJ. O procurador disse que a denúncia “tem uma narrativa fortíssima”.

A versão de Temer

Mariz diz que denúncia é ficção e envia vídeos a deputados; presidente convoca 22 ministros

Cristiane Jungblut, Eduardo Bresciani e Gabriel Cariello, O Globo

-RIO E BRASÍLIA- O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira protocolou ontem a defesa do presidente Michel Temer na Câmara e disse que a denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusando o presidente de corrupção passiva, é “uma peça de ficção” e o desafiou a provar as acusações. Além da peça de defesa de 98 páginas, Mariz enviou a cada um dos 513 deputados um vídeo de três minutos com seus argumentos contra a denúncia. No vídeo, ele diz que o presidente é “honrado” e tem “trajetória imaculada”.

Rito pode levar votação final para agosto

Presidente da CCJ contraria articulação do governo de encerrar discussão antes de recesso parlamentar

Daiene Cardoso, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Contrariando a articulação do governo para um desfecho célere da análise da denúncia contra Michel Temer, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), estabeleceu um rito que prevê, além das manifestações de relator e defesa, longas sessões de debates. Com a medida, acertada com líderes de bancadas, Pacheco admitiu a possibilidade de extrapolar o prazo regimental de cinco sessões para a conclusão do processo. A votação final no plenário pode ficar para agosto.

Pacheco marcou para a próxima segunda-feira, 1o, às 14h30, a leitura do parecer do relator Sergio Zveiter (PMDB-RJ), mas também reconheceu que poderá haver adiamento da apresentação se ele pedir mais prazo. A sinalização ameaça a movimentação dos governistas, que trabalham para liquidar o tema antes do recesso parlamentar.

Movimento pró-desembarque do governo cresce na bancada tucana no Senado

Parlamentares esperam votação da reforma trabalhista para convocação de reunião da Executiva Nacional sobre assunto

Julia Lindner, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O movimento pró-desembarque do governo do presidente Michel Temer começou a ganhar força entre os senadores do PSDB. A avaliação de uma ala majoritária da bancada na Casa, formada por pelo menos 6 dos 11 integrantes, é de que a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e a escolha do relator da denúncia contra o presidente na Câmara dos Deputados são fatores que podem intensificar a crise no governo.

Os senadores tucanos que defendem a entrega dos cargos e o descolamento da imagem de Temer, entretanto, querem esperar a votação da reforma trabalhista, na próxima semana, para a convocação de uma reunião da Executiva Nacional sobre o assunto. O objetivo é não criar mais um fator de instabilidade para a aprovação do projeto, que virou uma das principais bandeiras da legenda para apoiar a gestão peemedebista.

Nos planos de Maia, a cadeira do presidente

Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem traçado com aliados dois cenários para a denúncia contra o presidente Michel Temer. Em ambos pretende manter postura "institucional", sem defender o governo, mas também sem articular sua derrocada.

No primeiro cenário, Temer se salva, Maia fica na presidência da Câmara e disputa a reeleição ao Legislativo tentando se cacifar para um terceiro mandato seguido no comando da Casa, em 2019. No segundo, Temer é afastado, Maia assume como interino por seis meses, mantém a coalizão de partidos da base e aprova reforma mínima da Previdência.

O segundo cenário tem ganhado força com o apoio de empresários e agentes do mercado. A avaliação é que o fatiamento das denúncias contra Temer levará a agenda do governo e do Congresso a ser unicamente a das investigações. A economia ficará em segundo plano. Em setembro, se Temer se salvar, o calendário já será o das eleições de 2018 e não haverá mais chances de votar as reformas.

O afastamento de Temer e a posse de Maia, mesmo como interino, daria fôlego para a coalizão governista tentar uma agenda econômica mínima para mostrar à sociedade na eleição. A reforma da Previdência seria a possível: aprovação de idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres - uma versão mais completa, só no próximo mandato.

Com cenários tão incertos, o presidente da Câmara segue numa linha dupla. Descolou-se do governo Temer e não faz sua defesa pública nem privada, e intensificou articulações com parlamentares. Mas com um sogro no Palácio (o ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência) e na tentativa de mostrar lealdade e gratidão a um presidente que o ajudou a chegar ao comando da Câmara, segue neutro, sem gestos ostensivos para derrubar o presidente.

Sogro de filha de Fachin é chefe em empresa da família Batista

Marina Dias, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O sogro da filha do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), é chefe em uma das empresas da família do empresário Joesley Batista, cujo acordo de colaboração premiada foi homologado pelo magistrado.

Marcos Gonçalves é pai de Marcos Alberto Rocha Gonçalves, casado com uma das filhas do ministro e sócio fundador do escritório Fachin Advogados e Associados –do qual o relator da Lava Jato se afastou ao chegar ao STF.

Segundo a Folha apurou, Marcos Gonçalves trabalhou por 16 anos para o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley, e hoje é chefe de compra de gado do Mataboi Alimentos, frigorífico administrado por José Batista Júnior, o mais velho dos irmãos Batista.

Conhecido como Júnior Friboi, o primogênito da família Batista foi presidente da JBS de 1980 a 2005, quando decidiu se candidatar ao governo de Goiás. Naquela época, passou a integrar o Conselho de Administração da JBS, delegando a gestão da empresa aos dois irmãos.

Em 2013, Júnior vendeu sua participação no grupo J&F aos familiares.

No Brasil, economia de mercado é "caricatura", diz Eduardo Giannetti

Por Sergio Lamucci | Valor Econômico

SÃO PAULO - A operação Lava-Jato escancarou a deformação patrimonialista do Estado brasileiro, diz o economista e escritor Eduardo Giannetti, para quem o país tem a oportunidade de corrigir essa distorção. Segundo ele, o problema resulta da combinação de "um patronato político que usa as suas prerrogativas para se perpetuar no poder" e de "empresários de peso, do setor privado, que buscam desesperadamente atalhos de enriquecimento junto a governantes dispostos a negociar".

Para Giannetti, o país assiste, "ao vivo", uma aula de sociologia política sobre a deformação patrimonialista do Estado. Ela mostra que "a democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido" - na frase de Sérgio Buarque de Hollanda, em "Raízes do Brasil" - e que a economia de mercado no Brasil é uma caricatura, segundo ele.

Na visão de Giannetti, o problema "chegou a um tal paroxismo que abre uma oportunidade de correção profunda". Mudar esse estado de coisas depende de uma reforma política e de uma reforma econômica que as eleições de 2018 "podem viabilizar, mas não garantem", avalia ele, que diz gostar da ideia de uma Constituinte exclusiva, focada na reforma política e em alterar o pacto federativo.

Giannetti antevê dois cenários possíveis ao falar das eleições de 2018, um de polarização e outro de pulverização. O de polarização depende fundamentalmente de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser candidato, afirma o economista. "Se isso ocorrer, vai surgir quase que inevitavelmente um outro polo que será o anti-Lula. Pode ser [João] Doria [prefeito de São Paulo], pode ser [Jair] Bolsonaro [deputado do PSC-RJ]".

Já no de pulverização, sem Lula, haveria "uma dispersão grande de candidatos", com mais políticos se animando a participar do pleito", porque o quadro tende a ficar mais aberto. "Acho que é melhor para o Brasil o cenário de pulverização, embora haja o problema de que ele também abre a porta para outsiders aventureiros." Caso se concretize o de polarização, Giannetti acredita que a eleição tende a ser "muito rancorosa, muito violenta, e muito sem diálogo".

Giannetti também fala sobre a sua relação com Marina Silva (Rede), a quem destaca pelo compromisso ético, pela visão de mundo e por ser um "exemplo de vida e de superação". Diz que não se afastou da ex-senadora, de quem foi conselheiro nas eleições de 2010 e 2014, mas considera que ela precisa decidir se é uma líder de movimento, como o americano Martin Luther King e o indiano Gandhi, ou uma candidata a chefe de Executivo.

Soneto do amigo | Vinicius de Moraes

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Caderno - Toquinho

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Opinião do dia - *Luiz Werneck Vianna

As reformas são necessárias; aqui e ali provavelmente, olhando de perto, com lupa, elas poderiam ser melhor apresentadas, mas a reforma da previdência é uma necessidade aqui e alhures — o mundo todo tem discutido isso. O fato é que temos uma previdência orientada para o funcionalismo público. Aliás, esse tema do Estado tem sido um elemento de perturbação. O Partido dos Trabalhadores tem sido — não na sua origem, mas na prática recente — mais representante dos interesses do funcionalismo público do que dos trabalhadores em geral, dada a força do funcionalismo e das corporações de Estado, especialmente de alguns setores muito poderosos que estão encravados no aparelho do Estado, os quais detêm hoje uma força considerável, como é o caso do Ministério Público.

Esta é uma mudança de natureza quase antropológica: pensar a sociedade não a partir do Estado, mas a partir dela mesma. Essa questão, a meu ver, a próxima sucessão presidencial terá como tema de fundo. Não se voltará àquele Estado que nos veio dos anos 30 ao PT: que passou pelo segundo governo Vargas, pelo governo de Juscelino Kubitschek, pelo regime militar e encontrou, espantosamente, a sua forma de consagração no PT, que nasceu com outra origem, outra orientação, orientado, sobretudo, para os interesses dos setores subalternos, do sindicalismo, dos trabalhadores da terra, dos sem direitos. A Teologia da Libertação nasceu aí e veio engrossar esse movimento subterrâneo que o PT encarnou, de uma revolta contra o Estado, do fim da Era Vargas, da denúncia da Consolidação da Lei do Trabalho como o AI-5 do trabalhador.

Esse era um diagnóstico saudável e correto, mas que foi interrompido pelas circunstâncias da política e, sobretudo, por força da predominância do cálculo eleitoral. Voltou-se para essa nossa marca antiga, arcaica, de prevalência do Estado, essa “Estadofilia”, que tem sido a marca da nossa modernização. Acho que agora isso foi interrompido. E esse processo não é brasileiro, é mundial, mas as coisas acontecem aqui de forma muito virulenta, porque o país é muito atrasado cultural, intelectual e politicamente.

Um movimento do tipo desse francês, com Macron, é muito difícil de se imaginar aqui, embora haja alguns movimentos dessa tendência. Mas o nosso sindicalismo e os nossos movimentos sociais se deixaram enredar pelo aparelho do Estado e isso tem sido um inferno. Quando vamos entender que no capitalismo é necessário um sindicalismo autônomo, forte, livre, que lute pelos seus interesses sociais, econômicos e políticos, e que se tenha partidos que sejam representativos? A esquerda desertou desse campo e se tornou um operador do Estado. Cadê a esquerda no mundo popular, nas favelas, na vida popular ela mesma? A esquerda não se faz presente.

Havia, pelos anos 60, a presença da esquerda no mundo popular de verdade e, inclusive, os comunistas tinham organizações nas favelas e a Teologia da Libertação, que nasceu com essa deriva forte à esquerda, implantou-se com alguma força no mundo popular, especialmente nas favelas do Rio de Janeiro. Houve um movimento da intelectualidade católica, com alguns intelectuais relevantes. A isso deu-se marcha a ré por imposição da hierarquia católica. Um dos resultados disso, como está se vendo, foi o avanço dessas ideologias da prosperidade dos cultos pentecostais no mundo popular, quando a esquerda católica se retirou de lá.

Nós temos que reconstruir, temos que ir aos fundamentos nessa hora de caos em que todas as referências estão sendo destruídas. Temos que voltar um pouco para a nossa própria história. O que fizemos antes, que deu certo? O que estávamos fazendo antes e que estava dando certo e paramos de fazer? Por que mudamos de orientação e fizemos com que uma era, que se abria com uma plataforma de interromper a modernização autoritária que nos vinha dos anos 30, não fosse levada adiante? Por que de repente nós aderimos à modernização autoritária? Por que a esquerda aderiu às práticas econômicas dos governos do regime militar?

Há um fenômeno aí que é de natureza, digamos, supraestrutural: houve uma mudança na cabeça que fez com que seguíssemos uma trilha errada, abandonando um bom caminho que vínhamos percorrendo. Um pouco de tudo isso que nos ocorre se dá por atraso cultural, por atraso na reflexão, por falta de autocrítica. Nós não estávamos condenados a ter essa história de ódio, rancor e ressentimento que estamos começando agora. No entanto, estamos distantes da revolução como nunca — de qualquer revolução, inclusive daquelas feitas pelo voto, pelo caminho das instituições. Quais são as instituições através das quais poderíamos fazer avançar um programa de mudanças efetivas a favor de um grande número da população? Com quais partidos? Com que personalidades intelectuais? Em que correntes de pensamento?

Nós agora estamos como se um mar vermelho estivesse nos afastando da nossa história. Nós temos que atravessar a pé esse mar vermelho, com um esforço intelectual, moral e com coragem política de procurar uma solução, um caminho, deixando esse deserto de ódio e tolerância para trás; precisamos pensar para frente. Aliás, é preciso notar que, apesar de todo esse caos na vida política, a sociedade tem se mantido em silêncio, como observadora. Ela não tem reconhecido, entre os antagonistas do ódio, um lado. 2017 não nos trouxe de volta 2013.”

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*Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012), em entrevista, “É preciso coragem, paciência e ética de responsabilidade para interromper a modernização autoritária”, IHU On-Line, 03/07/2017

'Quem é que vai pôr ordem na casa?', diz FHC ao defender Judiciário

Sem citar nenhuma decisão judicial, ex-presidente disse que, mesmo com opinião pública, juiz não pode atuar 'contra fatos, nem contra o texto da lei'

Elisa Clavery, O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu a atuação do Judiciário, em vídeo publicado nesta terça-feira, 4, em seu Facebook. Sem citar nenhuma decisão judicial específica, disse que a "opinião pública pode, e deve, participar", mas que o juiz não pode atuar "contra fatos, nem contra o texto da lei".

"Ou nós aceitamos que há regras e que há o Judiciário ou então quem é que vai pôr ordem na casa?", questionou o ex-presidente. O tucano disse, ainda, que "nem sempre o resultado de uma decisão do Judiciário o agrada, nem a quem está ouvindo", mas que a Justiça tem regras, prazos e se presta a interpretações.

Segundo o tucano, "quando o juiz é consciencioso, ele ao interpretar o texto da lei vai tomar como consideração os sentimentos que estão em predominância na sociedade, mas não pode nem ir contra fatos, nem contra o texto da lei." O ex-presidente afirmou, ainda, que não se pode pensar que "a Justiça vai funcionar como cada um de nós quer."

Ainda segundo o sociólogo, as decisões da Justiça às vezes "nos colocam em certa perplexidade". "(Se pensa) 'Ah, a Justiça errou'. Pode ser que tenha errado, mas nós temos que obedecer. O norte é a Constituição."

As declarações de FHC foram dadas dias após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), na última sexta-feira, de soltar o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o "homem da mala", e permitir que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) volte ao exercício parlamentar.

Outra decisão judicial, nesta segunda-feira, 3, agitou o universo político e preocupou o Palácio do Planalto. O ex-ministro e aliado de Michel Temer (PMDB) Geddel Vieira Lima foi preso preventivamente, após decisão do juiz Vallisney de Souza, titular da 10ª Vara Federal de Brasília.

Na semana passada, FHC também se manifestou sobre a situação política no País, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, em que fez um "apelo" ao presidente Michel Temer (PMDB) para "que medite sobre a oportunidade de um gesto dessa grandeza" ao encabeçar uma proposta de antecipar as eleições presidenciais. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, chegou a criticar o posicionamento do tucano, e disse que FHC não deveria "colocar lenha na fogueira".

Leia na íntegra a declaração de Fernando Henrique:

"Em toda democracia, nós temos que acreditar que as instituições estão funcionando. Temos que fazer com que elas funcionem. A Justiça é um marco em qualquer democracia. A Justiça tem regras, tem prazos, tem princípios e tem divergências. E há interpretações. Ela (a Justiça) se presta a interpretações.

Não podemos pensar que a Justiça vai funcionar nem como cada um de nós quer, nem de uma maneria automática, matemática. Não. Ela tem ai uma certa margem de manobra. Nem sempre o resultado de uma decisão do Judiciário me agrada ou agrada a quem está me ouvindo.

Ou nos aceitamos que há regras e há o Judiciário ou, então, quem é que vai pôr ordem na casa? É claro que a opinião pública participa desse processo, e tem que participar. Ela também toma partido. Em certa medida, quando o juiz é consciencioso, ele, ao interpretar o texto da lei, vai tomar como consideração os sentimentos que estão em predominância na sociedade. Mas ele não pode nem ir contra fatos, nem contra o texto da lei.

Isso nos coloca, como estamos hoje, em certa perplexidade. 'Ah, a Justiça errou'. Pode ser que tenha errado, mas nos temos que obedecer.

O norte é a Constituição."

A transição e o futuro | Roberto Freire

- Blog do Noblat

Em uma quadra conturbada da vida nacional, em que o país dá os primeiros passos para a superação da pior recessão econômica de sua história enquanto enfrenta uma profunda crise política cujos desdobramentos são a cada dia mais imprevisíveis, é fundamental que não nos afastemos do nosso compromisso intransigente com os interesses do Brasil e dos brasileiros, atuando sempre com responsabilidade, serenidade e espírito público.

Durante todo o período em que o país foi governado pelo PT, nós, do PPS, exercemos uma oposição corajosa e altiva, denunciando as mazelas, os desvios, as irregularidades e todos os equívocos cometidos nos 13 anos de administrações lulopetistas e que nos levaram ao total descalabro. Em 2016, assumimos o protagonismo no processo legítimo, constitucional e democrático que culminou no impeachment de Dilma Rousseff e apoiamos o governo de transição e as propostas de reformas fundamentais para a recuperação da economia e a modernização do país.

Quem assina o acordão? | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Tal qual um locatário que procura reunir os requisitos para fechar o contrato de aluguel de um apartamento, os que perseguem um acordão que preserve o establishment político e detenha a Lava Jato estão em busca de um fiador. E está difícil encontrar.

Em cada um dos grandes partidos, os interessados em um entendimento “por cima” que se traduza sobre o virtuoso nome de reforma política não podem assinar nada porque estão com o nome sujo na praça.

Ontem, em seu discurso de rentrée no Senado, Aécio fez todos os acenos possíveis para o acordão. Elogiou Michel Temer mais que qualquer peemedebista jamais ousou e poupou o PT mesmo das críticas pela condução da economia. O resultado é que também não foi apupado pela ruidosa bancada oposicionista no Senado, o que não deixa de ser sintomático.

Afinal, a presidente do PT é a senadora Gleisi Hoffmann, assim como Aécio denunciada na Lava Jato. Também ela não pode ser a fiadora do grande aluguel partidário.

E o PMDB? Além de Temer na berlinda, o partido é presidido por Romero Jucá, outro que assistiu calado ao discurso de Aécio, em que o tucano deixou claro, sob o argumento de que há de se preservar o direito de defesa, que o que aconteceu com ele poderia acontecer com cada um ali.

Temer, Lula, Aécio e outros caciques tateiam por uma saída política, mas não há segurança alguma de que ainda consigam deter o trem da Lava Jato. Isso ficou muito claro quando o governo ainda esboçava um suspiro aliviado com a soltura de Rodrigo Rocha Loures e teve de prender a respiração diante da detenção de Geddel Vieira Lima. Um pelo outro, saiu caro para Temer.

Todos contra todos | Merval Pereira

- O Globo

A delação de Lúcio Funaro, doleiro do PMDB e operador de Eduardo Cunha, que levou Geddel Vieira Lima à cadeia, vai envolver toda a cúpula do PMDB, inclusive o presidente Michel Temer. Esse grupo do PMDB não escapa do tiroteio, e no final morrem todos — como no filme do Tarantino “Cães de aluguel”, no qual todos os pistoleiros atiram contra todos — porque vão entrar tanto na delação do Funaro quanto na do Eduardo Cunha.

Geddel é um político experiente, com vários processos na Justiça envolvendo cargos públicos, e tem estrutura psicológica para resistir aos primeiros meses de cadeia. Mas, chega uma hora em que acaba falando. Acho que vai esperar um pouco para ver o que vai acontecer com Michel Temer, antes de tomar uma decisão.

O monstro do desemprego | Luiz Roberto Nascimento Silva

- O Globo

Com as crises econômicas, surgem com frequência a sedução por propostas messiânicas ou o saudosismo de períodos autoritários do país

Indicadores econômicos informam que as empresas começaram a oferecer melhores salários iniciais, os chamados salários de admissão. Talvez seja das poucas boas notícias em nosso dramático cotidiano. São sinais de melhora da renda, mas não diminuição do desemprego, porque continuamos com 14 milhões de desempregados.

Temos insistido aqui na questão do desemprego. Este é a mais cruel consequência de uma economia de mercado e um imenso desperdício de recursos humanos de uma sociedade que se quer desenvolvida. Sem emprego, o homem perde sua inserção na sociedade, tem sua identidade desfigurada, seu núcleo familiar corroído. E, se a interdição ao trabalho for longa, ele pode perder suas qualificações.

Candidatos de toga ou ilusão de ótica | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

A crise política não vai acabar com a eleição de 2018

Eles apareceram, mais óbvios do que vinham se mostrando, já no fim do semestre, cerca de duas semanas antes do recesso judiciário. Numa festa com artistas, no Rio, exposto a homenagens dias antes e dias depois, em especial nas telas de TV com lugar cativo em auditório do julgamento da chapa Dilma Temer, no Tribunal Superior Eleitoral, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa cunhou todo o conteúdo do seu marketing em uma frase. Pressionado a declarar-se candidato a presidente, não se sabe se por querer ser ou por não ser, perguntou: "Será que o Brasil está preparado para ter um presidente negro?"

Pronto, estava ali o candidato e seu slogan, sua bandeira, com toda uma linha de propaganda a explorar, indicando o que poderia ser sua peça de resistência na campanha eleitoral.

Dias depois, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em auditório assemelhado, em São Paulo, em congresso de jornalistas, também consolidou em uma frase toda a ideia que poderia propagar sua candidatura. "Enquanto houver bambu, vai ter flecha". O cacique, o guerreiro, o procurador que no encerramento de seu comando do Ministério Público logrou, por enquanto simbolicamente, cortar a cabeça do presidente da República, avisava que até 17 setembro a caneta está na sua mão, e seguirá a decapitação que trava com o sistema político, para deleite do eleitorado. Ato contínuo, para efeito demonstrativo, flechou um amigo do presidente Michel Temer e ex-ministro dos governos Lula, Dilma e Temer. Caça premium.

O que é ser de esquerda? | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Os conceitos políticos de esquerda e direita ainda fazem sentido? Cada vez menos, acredito. O problema é que suas definições são fluidas, não mostram muita coerência interna e ainda têm sido castigadas pela história.

Uma defesa intransigente do princípio da sacralidade da vida, por exemplo, exigiria que os direitistas que o professam fossem contra o aborto e a eutanásia (ok, isso eles são), mas também contra a pena de morte e o direito mais ou menos irrestrito de carregar armas (aí já fica mais difícil).

Traições premiadas | *Pedro Cavalcanti

- O Estado de S.Paulo

Casos há em que a ideia de encorajar delações descamba para a abominação

As chamadas delações premiadas, tão vibrantes nos dias de hoje, suscitam uma velha questão envolvendo eficiência e moralidade. Até que ponto sua eficiência, sendo certa, justificaria eventuais falhas no aspecto moral?

Conforme a mágica empregada na escolha das palavras, a meritória colaboração com a Justiça pode se transformar em desprezível traição premiada.

Da sua eficiência poucos duvidam. Sem as delações, a Lava Jato nunca teria chegado aonde já chegou. Mas eficiência, por si só, não basta como justificativa. Basta lembrar a existência de um método ainda mais eficiente na obtenção de confissões imediatas. Técnica milenar e que só foi modificada com a descoberta de aparelhos capazes de provocar choques elétricos, chama-se tortura. Há ainda quem a defenda como último recurso para evitar ataques terroristas, mas é uma defesa envergonhada, construída sobre uma base de eufemismos.

Brasileiros jacobinos e girondinos | João Crestana*

- O Estado de S.Paulo

A época de 1790 foi uma das mais significativas. Os franceses, em busca de valores democráticos, ou enojados com seus representantes, empreenderam mudanças drásticas na administração nacional, e essas criariam um acervo de vivências institucionais para o mundo. Duas forças principais disputavam a hegemonia, tentando impor sua visão de nação. Os girondinos, mais conservadores, sentavam-se à direita na Assembleia, e os jacobinos, mais radicais, à esquerda. Aliás, daí surgiu o conceito correspondente.

Os jacobinos impuseram o “Reino do Terror”, executaram o rei e milhares pela guilhotina, fazendo valer suas ideias. Em 1794, os girondinos prevaleceram, mas o terreno, fértil de sangue e punições, fez florescer Napoleão, o gênio militar que restabeleceu a ordem e implantou, na espada e na pólvora, novo modelo estrutural, base para as instituições atuais em muitas nações democráticas.

Brasília suga o sangue que voltava | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

A economia do país melhorava até maio, do que tivemos mais sinais nesta semana: a indústria se recuperava.

Desde maio também vamos piorando, a discutir o zumbi Michel Temer e seus ministros no presídio ou casos como o do senador capilé, Aécio Neves, presidente de desonra do PSDB.
Assim, as contas públicas vão piorando na direção do desastre, pois o governo do Brasil foi sequestrado por essa gente que foge da polícia e por seus cúmplices, ativos ou omissos.

A indústria cresceu em abril e maio, soubemos nesta terça-feira (4) pelo IBGE. Arrastava-se, portanto, para fora do vale da morte para onde havia despencado desde o governo de Dilma Rousseff. Era pouco, mas se movia.

Sem descolamento | Míriam Leitão

- O Globo

Economia melhora, mas não se descola da política. A economia está colhendo uma série de boas notícias, mas isso não quer dizer que esteja se descolando da política. Com uma crise da gravidade que o Brasil vive, a economia permanecerá com o freio de mão puxado. Os bons dados de agora são o resultado dos acertos do último ano na escolha da equipe econômica e nas primeiras decisões tomadas pelo governo Temer.

A alta de 0,8% da produção industrial de maio, divulgada ontem, foi maior do que o previsto pelos economistas e é mais um dos vários dados positivos recentes. É o segundo mês consecutivo de alta. A comparação interanual subiu 4%. Ainda assim, a produção industrial está 18,5% abaixo do que estava antes de a recessão começar. Por isso, nem se pode falar em recuperação, mas apenas em redução do tamanho da queda.

Crise é deflacionária e Banco Central vai agir | Cristiano Romero

- Valor Econômico

Crise que ameaça Temer afeta PIB e justifica queda maior da Selic

Os mercados deram ao Banco Central (BC) uma mensagem muito clara: a crise política que ameaça o mandato do presidente Michel Temer é deflacionária. Deflagrada em 17 de maio, quando o jornalista Lauro Jardim, de "O Globo", revelou diálogo comprometedor entre o presidente e o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, a crise provocou, no primeiro momento, uma correção nos preços dos ativos, já praticamente revertida. Seu pior efeito, porém, foi abalar o ânimo dos empresários quando estes se preparavam para voltar a investir.

Esta análise é compartilhada por participantes do mercado, economistas de bancos e gestoras e integrantes da equipe econômica do governo. É crescente a percepção de que, com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) derretendo, isto é, caindo bem abaixo da meta de 4,5%, as expectativas de inflação sob controle, a atividade econômica ainda bastante desaquecida e as contas externas operando no azul, o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria acelerar a queda da taxa básica de juros (Selic), fixada hoje em 10,25% ao ano.

Uma Justiça sem obsessões – Editorial | O Estado de S. Paulo

Na segunda-feira passada, foi cumprida a ordem de prisão preventiva do sr. Geddel Vieira Lima, decretada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal (DF). Como é de conhecimento público, a biografia do preso não inspira especial confiança. Geddel é alvo de denúncias desde os 25 anos de idade, quando foi acusado de desviar dinheiro do Banco do Estado da Bahia (Baneb). Depois esteve envolvido no escândalo dos anões do orçamento, no qual foi inocentado, e em acusações de mau uso de verbas do Ministério da Integração Nacional. Agora, a Justiça investiga sua atuação como vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF) durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Segundo a delação do sr. Lúcio Funaro, Geddel teria recebido R$ 20 milhões a título de propina por sua participação em esquema de favorecimento a algumas empresas.

Diante de um caso grave assim, era de esperar um estrito cumprimento do processo penal. No entanto, a leitura da decisão da 10.ª Vara Federal do DF revela uma perigosa interpretação da lei e da delação premiada, que, em última análise, afeta as garantias individuais de todos os cidadãos.