sábado, 8 de julho de 2017

Opinião do dia – João Doria

"Entendo que o PSDB, para tomar uma medida, deve construir isso dentro de uma reunião. Não creio que apenas o presidente, ainda que com todo respeito que devemos ao senador Tasso Jereissati, possa tomar uma decisão dessa natureza individualmente. É uma decisão que deve reunir as lideranças do partido e minimamente a Executiva nacional, e aí sim se tomar a decisão."

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João Doria (PSDB) é Prefeito de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, 8/7/2017

Onde erramos | Cristovam Buarque

- O Globo

Preferimos defender direitos dos servidores de estatais à qualidade dos serviços públicos

O jornalista Paulo Guedes escreveu nesta página, em 19-62017: “os partidos social-democratas que nos dirigem há mais de três décadas devem explicar nossa degeneração política e o medíocre desempenho econômico”. Eu acrescento: “a persistência da pobreza e da desigualdade, a desagregação social, a violência generalizada, o desencanto dos jovens com a política e a tolerância com a corrupção”.

Uma explicação: não nos sintonizamos com o “espírito do tempo”, perdemos o vigor transformador. Enquanto a realidade se transformava, continuamos com as ideias do passado. Não entendemos que hoje a divisão entre presente e futuro é mais importante que entre capitalistas e trabalhadores; nem que estes se dividiram entre modernos, com bons padrões de consumo, e tradicionais pobres e excluídos, com um “mediterrâneo invisível” separando-os. Tampouco aceitamos que os sindicatos representam o setor moderno. Preferimos defender direitos dos servidores estatais à qualidade dos serviços públicos; ignoramos que estatal não é sinônimo de público, sob falso conceito de igualdade, abandonamos o reconhecimento ao mérito de alguns profissionais.

Freire: Governo de transição segue mesmo sem Temer

Mariana Araújo – Rádio Jornal (PE)

Ex-ministro da Cultura de Michel Temer (PMDB), o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), afirmou que o processo de um governo de transição no Brasil independe da permanência de Temer no poder. “Na minha compreensão, a transição não é as pessoas. Nós estamos nas vésperas de talvez acontecer isso. Você pode ter na Presidência da República uma outra pessoa que represente a própria transição de acordo com a Constituição”, afirmou o deputado, em entrevista à Rádio Jornal, nesta quinta-feira (6).

Freire entregou o cargo em maio deste ano, após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, denunciando que Temer teria concordado com a manutenção do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) através do pagamento de propina.

“Vamos admitir que a Câmara aprove o pedido de licença que foi feito pela Procuradoria Geral da República. Assume o presidente da Câmara, de acordo com a Constituição. E continua o processo de transição para 2018, quando se admite a retomada e a superação da crise com eleições gerais no País”, acrescentou Freire.

Tarefeiro do PT | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

O PMDB julgou-se o mais esperto. No fundo, foi um instrumento útil

Quando entregar à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara o relatório sobre o processo que pede autorização para que o STF processe o presidente Michel Temer por corrupção passiva, e se o parecer for favorável a que a ação prossiga, como é esperado, o deputado Sérgio Zveiter cumprirá, mesmo que involuntariamente, mais uma tarefa do PT.

E se o PMDB, rachado, ajudar o plenário da Câmara a aprovar a abertura do processo, o partido cumprirá outra missão que lhe foi dada pelo PT, a de pôr em prática o que só existia em forma do chavão “fora Temer”. Porque, se a Câmara autorizar a abertura do processo, Temer será afastado da Presidência da República por 180 dias e as investigações começarão.

Depois de disputar as eleições presidenciais de 1989, com Ulysses Guimarães, e de 1994, com Orestes Quércia, em ambas ficando lá na rabeira, o PMDB decidiu apresentar-se como o partido da governabilidade. Com isso, fugiu do desgaste de ser cabeça de chapa de uma eleição e passou a ser cortejado pelos eleitos. Gigante num quadro partidário tão esfarelado quanto o do Brasil, tornou-se a garantia de que as coisas andariam relativamente bem para o presidente que estivesse no poder, não importa o partido.

Virada de jogo? | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A crer no noticiário, o clima entre políticos e agentes do mercado está virando, e Michel Temer poderá ser afastado. Ele seria substituído por Rodrigo Maia. Vejo essa articulação com bons olhos.

Embora Temer viesse tomando medidas sensatas na área econômica, que colocavam o país no rumo de uma retomada, suas pendências na Lava Jato acabaram por torná-lo um obstáculo à recuperação. A divulgação do áudio de Joesley Batista custou ao presidente o capital político que lhe permitiria aprovar reformas mais alentadas. Após a fita, os mais otimistas passaram a achar que ele arrancaria do Congresso, no máximo e por um preço muito maior, mudanças nas leis trabalhistas e uma reforma previdenciária ultradiluída.

Reinação bilionária | Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

O governo de Michel Temer está prestes a dar adeus à arrecadação extra de R$ 2,5 bilhões esperada para este ano com a medida provisória que reonera a folha de pagamento das empresas de 50 atividades. Um ministro da Fazenda dilmista já chamou essa desoneração de "brincadeira" de bilhões.

Com a debilidade política crescente de Temer e o visível deslocamento do centro gravitacional do poder em Brasília para o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), as palavras do presidente da Câmara ganham novo peso. O demista mostra-se contrário a acabar com a reinação bilionária e já avisou ao governo que a medida enfrentará resistência no plenário da Casa.

Para Maia, apesar da situação fiscal grave, o fim da desoneração pode exacerbar o quadro de desemprego e prejudicar a saída da recessão. Uma fala que não agrada ao Ministério da Fazenda ou ao mercado financeiro, mas afaga os donos do PIB. Levantamento da Fiesp mostra que a reoneração pode desempregar pelo menos 77 mil trabalhadores. O empresariado diz que a cobrança de contribuição sobre a folha de salários, já neste ano, atrapalhou o planejamento de 2017 e trouxe insegurança jurídica.

Um governo terminal | Merval Pereira

- O Globo

A gente sabe que a situação não está boa quando as metáforas mais usadas se referem a situações terminais, como a morte. Foi assim com o relator do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Herman Benjamin, que, ao constatar que a chapa Dilma-Temer seria absolvida “por excesso de provas”, saiu-se com a frase já famosa: “Recuso o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar do velório, mas não carrego o caixão”.

Pois agora, na Câmara, a situação é a mesma. O (quase) defunto governo de Michel Temer nem bem ainda esfriou, já estão brigando pelo inventário. A família Picciani, chamada a intermediar uma trégua com o relator do processo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado também do PMDB do Rio Sergio Zveiter, já está disputando a presidência da Câmara, antevendo que o atual, deputado Rodrigo Maia, está a ponto de assumir a Presidência da República.

Causas da deflação | Míriam Leitão

- O Globo

Desinflação é forte alívio no meio da crise. A deflação de junho não é sintoma de doença econômica. É uma boa notícia ter chegado a 3% de inflação ao ano, o que é a meta em países vizinhos nossos. Há quem, no Brasil, considere que se a inflação é baixa não haverá estímulo ao crescimento. Isso é resultado de uma velha miopia de certa corrente de pensamento que atesta que um pouco de inflação é bom para a alta do PIB.

A inflação negativa em 0,23% em junho é episódica e não o início de uma deflação como problema econômico, aquele que leva a economia cada vez mais para o fundo. O Brasil vive há pouco mais de um ano um processo consistente e sustentado de desinflação. A queda do consumo é apenas uma parte desse fenômeno e não foi ela que derrubou o ritmo de reajuste dos preços. A recessão começou no fim de 2014. No segundo ano de contração severa, em janeiro de 2016, o Brasil estava com inflação de 10,71%, apesar da queda livre do consumo.

Âncora política e reformas | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

Se Temer sair, o próximo presidente terá prontas medidas para serem votadas

O governo foi ambicioso em propor esta semana um amplo plano de reformulação de todo o setor elétrico no auge da crise política que avança com a movimentação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na busca de apoio para suceder Michel Temer na Presidência da República.

Maia já tem respaldo do mercado financeiro e, a julgar pela valorização de 25% das ações da Eletrobrás em dois dias seguidos, desde que a repórter Anne Warth, do Estadão/Broadcast, revelou todos os detalhes do plano na quarta-feira, os investidores apostam que a proposta vai andar, independentemente de a troca de governo ser uma possibilidade cada vez mais próxima.

A economia segue hoje regida por uma espécie de âncora política, como bem traduziu o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas. Nesse momento, mais importante do que a aprovação das reformas é a perspectiva de que o próximo presidente se mantenha nessa direção. A política é que vai dizer se haverá mais crescimento em 2018 e se a crise fiscal das contas públicas, que prossegue gravíssima, não será um impeditivo para isso.

Contradições de uma retomada duvidosa | Suely Caldas*

- O Estado de S.Paulo

Uma onda de otimismo vem seduzindo consultores e analistas que vivem de projetar o futuro da economia. Dois prognósticos no radar deles: 1. Passo seguro e irreversível, a economia descolou mesmo da política, caminha com as próprias pernas e não sofre mais influência de incertezas e instabilidades decorrentes da crise que explode em Brasília; 2. A recessão já é passado, a retomada da economia está em marcha, segue em frente e sem recuos. Seria isso possível? Chegou o momento da virada, o País finalmente ganha esperança de respirar aliviado, três anos depois de um cenário devastador, de empresas fechando, desemprego multiplicando, famílias estraçalhadas?

O otimismo se apoia em alguns indicadores econômicos recentes. Porém, a esperada (e não confirmada) transição que vivemos traz contradições e contrapontos que precisam ser levados em conta:

A fórmula Macron | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Na França, da noite para o dia, as urnas aposentaram uma elite política e fabricaram outra

"Manupiter em Versalhes" –a manchete de capa do jornal Libération, acompanhada pela figura do presidente Emmanuel Macron nas vestes de Júpiter, segurando relâmpagos bifurcados, traduz tanto uma crítica quanto uma constatação.

Crítica: a reunião de uma sessão conjunta do Senado e da Assembleia Nacional no grande palácio erguido por Luís 14 desvendaria inclinações autocráticas, um retorno ao estilo da presidência monárquica do general De Gaulle. Constatação: Macron emerge como o "deus dos deuses" na cena devastada do sistema político-partidário francês.

A aventura começou numa noite fria de abril, em Amiens. Perante duas centenas de pessoas, o ministro da Economia do desprezado governo socialista de Hollande, um jovem de 38 anos, anunciou a criação de um novo movimento político, o En Marche!.

Maia não é garantia de estabilidade política | Marco Antonio Teixeira

- O Estado de S.Paulo

Fazer projeções sobre o futuro na política brasileira não tem sido fácil. A cada momento uma nova surpresa e a cada fato novo um contexto que fortalece ou enfraquece o governo nas suas várias tentativas de se manter vivo até 2018. A bola vez é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o primeiro na linha sucessória de Michel Temer.

Com a prisão a prisão de Geddel Vieira Lima, no momento que antecede a votação da denúncia enviada pelo STF contra Michel Temer na CCJ, Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB em entrevista, e o senador peessedebista Cássio Cunha Lima, em conversa com investidores, anunciaram o calvário de Michel Temer.

Frente isso, uma pergunta se tornou inevitável: Rodrigo Maia reunirá apoio congressual para dar sequência às reformas e trazer estabilidade política ao País? Duas respostas são possíveis em face desse novo cenário. A primeira é que ele deverá contar com o apoio do mercado e de parcela substantiva do Congresso Nacional para aprovar a reforma trabalhista, uma vez que esta reúne menos dissenso e requer apenas maioria simples para aprovação. Todavia, o mesmo não se pode dizer em relação à Previdência. 

Paulistas não confiam em Rodrigo Maia para a eleição de 2018 | Alberto Bombig

- O Estado de S.Paulo

Rodrigo Maia ainda não conquistou os corações e mentes de toda a cúpula do PSDB, especialmente do trio paulista Geraldo Alckmin, João Doria e José Serra. É esse o grande entrave para o presidente da Câmara hoje dentro do partido. Os três acham que uma gestão Maia será apenas o prolongamento da atual crise, porém sob nova direção no Planalto. Além disso, para eles, uma vez na cadeira, Maia não sairá dela antes de 31 de dezembro de 2018.

Faz sentido. Maia está implicado na Lava Jato, vai herdar de Temer a baixa popularidade e será a cabeça a prêmio para quem ainda almeja fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal – Eduardo Cunha, segundo a revista Veja, já está dando sinais de que pode citar Maia numa eventual colaboração.

Mantega fez central para vender dados a bancos, diz Palocci

Palocci diz que Mantega fez central de venda para bancos

Marina Dias, Daniela Lima, Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Nas negociações para fechar um acordo de colaboração premiada, o ex-ministro Antonio Palocci sustenta que seu sucessor na Fazenda, Guido Mantega, montou uma espécie de central de venda de informações para o setor financeiro durante os governos petistas.

A sede seria o prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo, na avenida Paulista, onde Mantega costumava despachar às sextas-feiras.

Palocci implica o sucessor em um suposto esquema de repasse de informações privilegiadas. Segundo ele, Mantega antecipava dados a respeito de juros e edição de medidas provisórias, por exemplo, que eram de interesse de bancos, em troca de apoio ao PT.

De acordo com Palocci, agentes do sistema financeiro tinham acesso antecipada ou privilegiadamente a dados importantes e, assim, podiam se preparar ou mesmo se proteger diante de medidas que afetariam o setor.

'Aprendi em casa a ser leal, e serei com Temer', diz Maia

Sylvia Colombo, Diogo Bercito, Folha de S. Paulo

BUENOS AIRES, HAMBURGO - "Eu aprendi em casa a ser leal, ser correto, e serei com o presidente Michel Temer sempre", disse o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na tarde desta sexta (7), após o encerramento de um encontro de parlamentares, do qual veio participar na capital argentina.

Questionado sobre as informações que vêm circulando, indicando um possível acordo entre o seu partido e o PSDB para promover uma transição, respondeu que são "pura especulação".

"Quando se vive uma crise tão profunda como essa, surgem especulações de todo o tipo. Li uma notícia de que eu estaria pensando em usar a súmula 13 do Supremo [que impede o nepotismo] para que o ministro Moreira Franco não continuasse no cargo. Só que o ministro não é meu sogro. Ele é casado com a minha sogra. Isso mostra o nível de irresponsabilidade."

Insistiu na afirmação de que o DEM não pretende deixar o governo. "Vamos aguardar e vamos manter a nossa posição de apoio ao governo."

Governistas começam a esboçar 'gestão Maia'

Gustavo Uribe, Daniel Carvalho, Talita Fernandes, Folha de S. Paulo

Com a possibilidade de o presidente Michel Temer não reunir apoio suficiente para se manter no cargo, os partidos da sua base começaram a discutir a configuração de um governo de transição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O principal consenso é o de que a nova gestão teria que manter os ministros da equipe econômica, Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento).

Maia tem simpatia por Meirelles e Dyogo, que defendem as mesmas bandeiras que ele. De acordo com aliados, é essencial que ele faça um aceno ao mercado financeiro, garantindo a continuidade da linha econômica e se comprometendo com as reformas.

Com Temer ou Maia, mercado quer manter equipe econômica

Mercado financeiro quer garantia de política econômica

Analistas e executivos já se manifestam pela permanência da equipe de Meirelles, independentemente de quem ocupar o Planalto

Alexa Salomão, O Estado de S.Paulo

Na semana em que o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dividiram as atenções nas articulações para eventual substituição na Presidência da República, quem também assumiu o protagonismo político no mercado foi a equipe econômica. Para analistas, economistas e empresários, mais importante que escolher entre Temer e Maia, é garantir a permanência do time comandado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Em retrospecto, quem acompanha o trabalho de reconstrução das contas públicas lembra que o País só recuperou o rumo porque soube selecionar um corpo técnico eficiente para tocar a economia. “A turma escolhida para ocupar o Tesouro Nacional, o Banco Central e a Fazenda salvou o País do desastre econômico no ano passado”, disse o presidente do Insper, Marcos Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Temer e Rodrigo Maia trocam juras de lealdade

Um dia após Tasso Jereissati fazer aceno ao presidente da Câmara em eventual ‘travessia’, deputado afirma que é aliado do governo e presidente diz confiar em fidelidade do parlamentar

Célia Froufe enviada especial/Hamburgo - Luciana Rosa enviada especial/Buenos Aires, O Estado de S.Paulo

O presidente Michel Temer (PMDB) disse nesta sexta-feira, na Alemanha, onde participa da reunião do G-20, que confia na lealdade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se tornou uma aposta para substituir o peemedebista caso ele seja afastado do cargo. Também cumprindo agenda oficial fora do País, Maia – o primeiro da linha sucessória da Presidência da República – afirmou na Argentina que será sempre correto com Temer.

Na semana passada começou a tramitar na Câmara a denúncia por corrupção passiva contra o presidente. Apesar da ampla base aliada, o governo tem preocupação com o resultado da votação na Comissão de Constituição e Justiça, cujo parecer será votado posteriormente pelo plenário da Casa.

Os deputados vão decidir se dão ou não autorização para que o Supremo Tribunal Federal julgue a acusação formal contra o presidente. A admissibilidade depende de 2/3 da Câmara (342 votos); o governo precisa de um mínimo de 172 votos para barrar a autorização.

Cúpula tucana perde controle da bancada

Enquanto parte das principais líderes do PSDB defende governo, grupo de parlamentares declara voto para aceitar denúncia contra Temer

Pedro Venceslau, Juliana Diógenes e Thiago Faria, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Conhecido por ser um partido que define suas diretrizes em um colegiado pequeno de quadros, o PSDB enfrenta um descolamento entre sua cúpula e as bancadas na Câmara e no Senado.

Os senadores Aécio Neves, José Serra, o governador Geraldo Alckmin e o ministro Aloysio Nunes Ferreira, que defendem a permanência da legenda no governo, perderam o controle sobre os parlamentares da sigla. Pelo placar do Estado, 14 dos 46 deputados do PSDB dizem que vão votar a favor da admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República. Apenas três votarão contra e 30 estão indecisos ou não quiseram responder.

Alckmin convoca reunião de emergência com tucanos em SP

Encontro para debater racha no PSDB deve ocorrer no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

Defensor da permanência do PSDB no governo Michel Temer, o governador Geraldo Alckmin está convocando dirigentes e governadores do partido para uma reunião em São Paulo na segunda-feira, 10. O objetivo do encontro, que deve ocorrer no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo, é tentar alinhar o discurso da legenda.

A iniciativa foi tomada em um momento de acirramento do racha entre os tucanos. O senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido, disse na quinta-feira, 6, que o País “beira a ingovernabilidade” e, o senador Cássio Cunha Lima (PB), que a gestão Temer "pode estar diante do início do fim".

As declarações levaram interlocutores de Temer a pedir providências aos ministros do PSDB. Governadores do partido chegaram a cogitar escrever uma nota de repúdio a Tasso, mas recuaram.

A réplica coube ao ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, que escreveu no Twitter: “Nem Lula nem Dilma tiverem esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição”.

Entrevista: “Fora Temer” só beneficia o PT, diz ministro Aloysio Nunes

Andreza Matais, O Estado de S. Paulo

A crise interna no PSDB chegou ao ápice com as declarações públicas do presidente interino do partido, Tasso Jereissati, de que o governo do presidente Michel Temer caminha para a ‘ingovernabilidade’. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, que está no G-20 ao lado do presidente Temer, partiu para o contra-ataque. Leia íntegra da entrevista concedida à Coluna do Estadão.

O senador Tasso Jereissati disse que caminhamos para a ingovernabilidade. O partido mudou de posição?

A decisão [de permanecer no governo] foi tomada na Executiva e não foi revista, pelo contrário. Houve uma reunião memorável, convocada pelo senador Jereissati, em que ficou patente que o desejo da maioria do partido é apoiar o governo. Eu sou do tempo em que quando um partido tomava uma decisão coletiva os seus dirigentes se comprometiam em seguir essa decisão. É isso que confere estabilidade a um partido que tem vida orgânica como o PSDB, que não é de propriedade de meia dúzia de caciques como muitas legendas no Brasil.

Mas Tasso fala na condição de presidente do partido…

Esse tipo de declaração contribui para alimentar a crise e o resultado será o agravamento da situação econômica que começa a melhorar gerando uma situação de que o único beneficiário será o PT. Em 2018 teremos dois blocos políticos. Um liderado pelo PT e o outro pelas forças políticas que hoje apoiam o presidente Temer. Até do ponto de vista político essa linha é prejudicial ao partido.

Mercado já vê cenário mais favorável sem Temer

Para analistas, Rodrigo Maia teria maiores chances de aprovar reformas

Na Alemanha, presidente diz que ‘crise econômica no Brasil não existe’ e comete gafe ao afirmar que fez ‘voltar o desemprego’ no país; cresce o número de deputados favoráveis à aceitação da denúncia

Analistas do mercado já traçam cenário mais favorável na economia com a eventual saída de Temer. Eles avaliam que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, teria mais condições de conduzir as reformas da Previdência e trabalhista. Na Alemanha para reunião do G-20, Temer disse que não há crise econômica no Brasil e cometeu gafe ao afirmar que fez “voltar o desemprego”. Em Buenos Aires, Maia evitou defender o presidente, mas disse ter aprendido em casa “a ter lealdade”. Na CCJ, cresce o número de deputados a favor da denúncia contra Temer. A investidores, o tucano Cássio Cunha Lima disse que “em 15 dias o país terá novo presidente”.

Agenda Maia

Após ser lançado pelo presidente do PSDB, deputado pede ‘prudência’ e defende reformas

Janaína Figueiredo e Catarina Alencastro, O Globo

-BUENOS AIRES E BRASÍLIA- Um dia após ser apontado pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), como o nome certo para assumir o Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), publicou mensagens eu sua conta no Twitter pedindo “tranquilidade e prudência”.

Doria: Tasso não decide desembarque sozinho

Prefeito de São Paulo minimiza fala de presidente interino do PSDB, que apontou ingovernabilidade de Temer

Juliana Arreguy, O Globo

SÃO PAULO - Defensor da permanência do PSDB no governo do presidente Michel Temer, o prefeito de São Paulo, João Doria, minimizou ontem as declarações dadas pelo presidente interino do partido, o senador Tasso Jereissati (CE). Na quinta-feira, Tasso afirmou que Temer está “chegando na ingovernabilidade” e que o deputado Rodrigo Maia (PMDB-RJ), que preside a Câmara, reúne condições de dar “estabilidade” ao país. Para Doria, a decisão sobre o desembarque dos tucanos não cabe apenas ao senador.

Cássio diz que país terá novo presidente em 15 dias

Para Aloysio Nunes, críticas feitas a Temer são em ‘ocasião inoportuna’

Leticia Fernandes e Júnia Gama, O Globo

BRASÍLIA - Em meio à crescente articulação de tucanos para que o PSDB deixe o governo, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB-SP), criticou ontem no Twitter a “ocasião inoportuna” das críticas feitas ao presidente Michel Temer, que estava na Alemanha, onde participou da reunião de cúpula do G20. Nunes integrou a comitiva de Temer.

“Nem Lula nem Dilma tiveram esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição”, lamentou o ministro tucano, que defende a permanência do partido ao lado de Temer.

“Do ponto de vista dos interesses do Brasil, não poderia haver ocasião mais inoportuna para os recentes ataques de dirigentes do PSDB ao presidente da República, quando ele representa nosso país na Cúpula do G20”, escreveu Nunes.

Mentira comprometedora – Editorial | O Estado de S. Paulo

A validade dos chamados acordos de delação premiada depende fundamentalmente de dois elementos, cuja falta é grave o bastante para suscitar a anulação dos termos da colaboração: a voluntariedade e o compromisso inarredável com a verdade.

Um investigado, acusado ou réu não pode estar sentado à mesa de negociação com o Ministério Público ou com a autoridade policial sob ameaça ou coação. Ele precisa estar disposto a contar o que sabe por livre e espontânea vontade, em troca dos benefícios relativos à persecução penal a que está sujeito pelo crime que lhe é imputado. Além disso, para ser digno de receber tais prêmios, que podem chegar ao perdão judicial, é mandatório que diga a verdade às autoridades, por mais óbvio que isso possa parecer.

Esses requisitos obedecem a um imperativo legal – conforme as disposições da Lei 12.850 de 2013, que trata das organizações criminosas – e serão verificados pelo Poder Judiciário em dois momentos: a voluntariedade, na fase de homologação do acordo; e a veracidade das alegações, no momento da sentença, após a reunião de um conjunto de provas no curso do processo que comprove o que o colaborador disse às autoridades. De acordo com o mesmo diploma legal, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do agente colaborador.

Lento e gradual – Editorial | Folha de S. Paulo

Nada ilustra com tanta eloquência a dificuldade em superar a brutal recessão, da qual o país ainda convalesce, quanto a queda contínua e profunda dos investimentos públicos e privados.

Tal modalidade de despesa, que abarca obras e equipamentos destinados a ampliar a capacidade de produzir, encolheu assustadores 30% ao longo de três anos e meio —e não há sinal consistente de que o processo esteja encerrado.

A cifra não evidencia apenas a quebra da confiança do empresariado, que passou a cancelar projetos de expansão à medida que uma gestão econômica irresponsável desaguava em impasses e incertezas políticas, agora reavivadas.

A necessidade da adesão à OCDE – Editorial | O Globo

É imperioso abrir a economia brasileira, historicamente fechada ao mundo. Já foi mais, porém ainda precisa avançar muito nesta direção

Enquanto a grave crise política evolui, a equipe econômica trabalha, embora com limitações compreensíveis, devido à dificuldade para se aprovar a reforma da Previdência no Congresso. Mas o que depende da equipe e do governo de modo geral tem tramitado. Precisa ser assim. Um exemplo, a decisão aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de reduzir-se a meta de inflação para aquém de 4,5%.

Uma questão que se encontra na esfera administrativa, e também não deve esperar, é a adesão do país à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde se congregam as economias mais ricas e algumas de renda média. O Chile já participa do organismo, e Argentina, Peru, Bulgária e Romênia acabam de encaminhar o pedido de admissão. No caso do Brasil, já com alguma participação no organismo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, encaminhou há pouco a correspondência protocolar neste sentido.

Deflação, juros e reformas – Editorial | O Estado de S. Paulo

Mais um ponto luminoso apareceu na economia, com o novo recuo da inflação. Os preços pagos pelo consumidor diminuíram 0,23% em junho, puxados para baixo pelos três maiores componentes do orçamento familiar, os custos da alimentação, da moradia e do transporte. Esse número foi o mais baixo para o mês desde o começo do Plano Real, em 1994, e o primeiro resultado negativo desde junho de 2006, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,21%. Mas há outros detalhes muito favoráveis no relatório divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado anual foi o mais baixo em pouco mais de dez anos: a taxa de 3% acumulada em 12 meses é a menor desde abril de 2007, quando ficou em 2,96%. Se o País, como disse em tom injustificadamente alarmista o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), estiver no rumo da ingovernabilidade, os brasileiros terão pouco tempo para festejar os sinais positivos acumulados nos últimos meses, como o melhor comportamento dos preços, a reação dos negócios em alguns setores e a incipiente redução do desemprego.

Grandes | Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.

Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.

Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.

Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!

Mais vale arrumar a mala.

Nana Caymmi - Resposta ao Tempo

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Opinião do dia – Jürgen Habermas

Os direitos humanos formam uma utopia realista na medida em que não mais projetam a imagem decalcada da utopia social de uma felicidade coletiva; antes, eles ancoram o próprio objetivo ideal de uma sociedade justa nas instituições de um Estado constitucional. Naturalmente, essa ideia transcendente de justiça introduz uma tensão problemática no interior da realidade política e social. Independentemente da força meramente simbólica dos direitos fundamentais em muitas das democracias de fachada da América do Sul e de outros lugares, na política dos direitos humanos das Nações Unidas revela-se a contradição entre a ampliação da retórica dos direitos humanos, de um lado, e seu mau uso como meio de legitimação para as políticas de poder usuais, de outro.

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Jürgen Habermas, “Sobre a Constituição de Europa”, pp.31-2, Editora Unesp, 2012.

A pedra no caminho | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

O mundo político e privado começa a assimilar Rodrigo Maia como natural

Antes de embarcar para a reunião do G-20 em Hamburgo, o presidente Michel Temer deixou uma mensagem nas redes sociais lamentando as “pedras no caminho”. São muitas pedras, verdadeiros pedregulhos, mas o principal deles tem nome e endereço: Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados e na linha direta da sucessão presidencial.

Como dito aqui desde a “bomba” Joesley Batista, presidentes não caem enquanto não há um sucessor engatilhado. Foi assim com Fernando Collor e com Dilma Rousseff e está sendo assim com Temer, que vem resistindo bravamente, mas começa a enfrentar uma sensação que vai se generalizando: a de que Rodrigo Maia está se posicionando para “eventualidades”.

Relator da denúncia contra Temer é aliado de Maia | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Tem o dedo do deputado do DEM a escolha do também fluminense Sergio Zveiter como relator

No coletivo de Rodrigos que cerca Michel Temer, um em especial vai-se mostrando uma incógnita aos olhos dos aliados do presidente: afinal como se move Rodrigo Maia, ao mesmo tempo presidente da Câmara e citado como favorito para assumir a Presidência em caso de uma (até hoje improvável) queda do peemedebista?

A resposta é: com cautela extrema. Até algum tempo aliado incondicional do presidente, ao lado de quem aparecia descontraidamente trajando bermuda em amistosas reuniões no fim de semana, Maia parece colocar ovos nas duas cestas: a da permanência do presidente e a de sua degola.

Quando o costume é roubar | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A lista de condenados na Lava Jato, que tem pouco mais de três anos, já chega a 63. Há muitos mais na fila —e mais graúdos também. Levantamento do Congresso em Foco mostra que 42 dos 81 senadores ou são investigados ou já viraram réus no STF (não só pela Lava Jato). A crer na delação dos irmãos Batistas, só a JBS comprou uns 2.000 políticos brasileiros. Se Cunha falar, como parece que será o caso, mais bombas devem aparecer.

Como a corrupção pode ser tão generalizada? Não existe mais ética no país? A etimologia aqui pode nos ajudar a entender o problema. Tanto a palavra "ética" quanto a "moral" têm origem em termos que significam "costume", "éthos" em grego e "mos" em latim. E isso ocorre porque, de modo geral, consideramos éticos os comportamentos que são adotados pela maioria e, portanto, estão inscritos em nossos costumes.

O vomitador-geral da República | Reinaldo Azevedo

- Folha de S. Paulo

Ou setembro chega logo, ou Rodrigo Janot ainda acaba pedindo a própria prisão preventiva

Título chocante? Estaria aí apenas para "causar"? Não! É que eu o alinho com a sofisticação teórica exibida por Rodrigo Janot no programa "Roberto D'Ávila Entrevista", que foi ao ar na noite de quarta, pela GloboNews. Ou setembro chega logo, ou o procurador-geral da República ainda acaba pedindo a própria prisão preventiva. Não que fosse má ideia trancá-lo na Casa Verde de Itaguaí.

Noto de saída: que bom que as circunstâncias sorriram para Janot, e ele não conseguiu viabilizar sua terceira jornada à frente da Procuradoria-Geral da República! Bem que tentou. Mas não teria apoio nem de seus pares. A ser como revelou na tal entrevista, o homem foi desenvolvendo, com o tempo, um estômago fraco. Afirmou, por exemplo, ter ficado "chocado e com náusea" ao ouvir a conversa entre Joesley Batista e Michel Temer. É mesmo? Generoso que sou, cheguei a pensar naquele estado de torpor da personagem de Sartre de "A Náusea".

Contendo a sangria | Merval Pereira

- O Globo

Pode ter sido uma decisão “de caráter exclusivamente operacional” a desmobilização da força-tarefa da Polícia Federal, incorporada pela Superintendência da PF no Paraná, mas não é possível aceitá-la sem um mínimo de desconfiança.

Desmobilização de força-tarefa não pode ser aceita sem um pouco de desconfiança. Mesmo porque não faz o menor sentido a informação do delegado regional de combate ao crime organizado do Paraná, Igor Romário de Paula, coordenador da Operação Lava-Jato no estado, de que “a nossa demanda hoje de procedimentos em andamento é bem menor do que no ano passado”.

Como ressaltaram os procuradores da Lava-Jato em Curitiba, depois das delações dos executivos da Odebrecht naturalmente aumentaram as necessidades de investigação. Além disso, “há farto material ainda não periciado”, resultado de 844 buscas e apreensões em 41 fases. Para se ter uma ideia do volume, só na primeira fase foram 80 mil documentos.

1932, a vitória dos vencidos | José de Souza Martins

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana


Passados 85 anos do início da Revolução Constitucionalista de 1932, convém lembrar desse ontem para compreender o nosso problemático hoje. Os paulistas já haviam sido vítimas da revolta militar sangrenta de 1924, que matara 513 pessoas só na cidade de São Paulo, civis em grande número. Em 1932, isso ainda estava dolorosamente na memória de todos, nas famílias mutiladas, nas orfandades, nos bairros operários. Um dos objetivos de 1924 era a ditadura militar para pôr ordem na República. O povo era adjetivo.

Não se fala sobre isso nem se fala sobre as manifestações daquele 23 de maio de 1932, estimuladas por um comício na Praça do Patriarca, que abriram caminho para a revolta. Precipitadas, aliás, por inquietações decorrentes da decisão militar de desmembrar áreas do território paulista, na região da Mogiana, e anexá-las ao Estado de Minas Gerais. A multidão se dirigiu para a Praça da República, esquina da rua Barão de Itapetininga, onde tinha sede a Liga Revolucionária, da facção tenentista que participara dos episódios de 1924 e que apoiava Getúlio. Foi recebida à bala. Em lugar hoje assinalado por uma placa, caíram as quatro vítimas cuja primeira letra do nome formará o acrônimo MMDC, forte poder simbólico da revolução.

Não tem tu, vai tu, Maia | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Rodrigo Maia ainda não é um candidato emergente à Presidência, dizem parlamentares próximos do presidente da Câmara. Michel Temer é que submerge, na verdade afunda.

Maia "joga parado", dizem esses deputados e um senador. Espera um fato consumado, quase uma aclamação, sem se comprometer. Porém, esses parlamentares não sabem dizer como será possível juntar 342 deputados para dizer "Fora, Temer" e afastá-lo do cargo.

Parlamentares outros dizem que a associação com Temer é contagiante feito a peste. Alguns dizem ter pesquisas sobre o efeito eleitoral da aliança com o presidente, que seria devastador, em especial no Nordeste. Note-se que é lá que Lula é mais popular; é a região que ainda mais sofre, de longe, com a recessão.

Não é apenas em Brasília ou na política em geral que Maia se tornou uma hipótese de poder, por exclusão.

Admirável mundo novo | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

Saiu no site do Estadão no dia 28 de junho: em 24 meses, os bancos brasileiros fecharam 1.208 agências. Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, foram 929.

Esse não é o resultado da pura maldade dos banqueiros, sempre empenhados em tornar seus lucros espetaculares. É o resultado de mudança de tecnologia e de função das agências bancárias. Nada menos que 57% das transações bancárias (transferências, pagamentos de carnês, saques) já não são feitas em agências. São feitas, por cartão de crédito, pelo celular e outros meios eletrônicos.

Essa transformação não está limitada ao setor bancário. Todo o setor produtivo vive enorme metamorfose. O emprego, tal como conhecido até agora, não está morrendo apenas no mercado financeiro. Está morrendo na indústria de transformação, onde a robotização, as máquinas de quarta geração, a tecnologia da informação e a impressão em três dimensões estão mudando tudo e vão mudar ainda mais.

Visão dupla | Míriam Leitão

- O Globo

O Banco Central continua no pêndulo. Olha para a conjuntura inflacionária e admite que os juros podem cair no mesmo ritmo de antes, de um ponto percentual a cada reunião, mas olha o cenário da aprovação das reformas e pensa que é preciso reduzir o corte. Ilan Goldfajn diz que o BC tem colocado suas dúvidas para a sociedade. Mas o que se discute, segundo ele, é o tamanho do corte e não o corte em si.

“Estamos vendo se será reduzido um pouco o corte na taxa, pela incerteza em relação às reformas, ou se mantém o ritmo em função desse quadro de inflação caindo e atividade recuperando gradualmente. É algo que vamos avaliar. As duas questões fazem parte da realidade. O Banco Central tem colocado para a sociedade as suas dúvidas. A dúvida não é se os juros vão baixar, mas qual é a calibragem”, disse Ilan Golfajn numa entrevista que me concedeu e que foi ao ar ontem na Globonews.

Como a inflação caiu muito, e hoje isso deve ficar mais uma vez claro com a deflação em junho, a taxa de juros nominal foi reduzida, mas a real continua aumentando em plena recessão. Ilan disse que a taxa de juros real está no menor nível em termos históricos: