terça-feira, 1 de agosto de 2017

Opinião do dia – Antonio Gramsci

Os conceitos políticos de Mosca são vagos e oscilantes, sua preparação filosófica é nenhuma (e assim restou por toda a carreira literária de Mosca), seus princípios de técnica política também são vagos e abstratos e têm caráter acentuadamente jurídico. O conceito de “classe política”, cuja afirmação se tornará o centro de todos os escritos de ciência política de Mosca, é de uma fragilidade extrema e não é discutido nem justificado teoricamente.

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Antonio Gramsci, “O Risorgimento” – Caderno do Cárcere, v. 5, p. 32. Civilização Brasileira, 2002.

PT dá banho nas redes | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Dos 20 congressistas mais influentes nas redes, só um tucano: Aécio

Sentindo-se abandonado pela mídia, o presidente Michel Temer recorre cada dia mais a um instrumento político que já é importante agora e será importantíssimo em 2018: as redes sociais. Mas o campeão no uso do Facebook e do Twitter é justamente o seu maior e mais implacável adversário no Congresso, o PT.

Durante todo o primeiro semestre legislativo, de 2 de fevereiro a 17 de julho, quando começou o recesso, a empresa de comunicação FSB acompanhou 24 horas por dia o uso das redes por 559 deputados e senadores, que publicaram 85.203 posts no período. Os resultados foram com quatro cortes: Câmara, Senado, Congresso e partidos mais influentes nas redes. Dos 594 congressistas, 35 nem se dão ao trabalho de se comunicar virtualmente com seus eleitores.

Disputa perigosa | Merval Pereira

- O Globo

A disputa entre a Polícia Federal e o Ministério Público é o que de pior poderia acontecer na perspectiva de quem espera que as investigações sobre corrupção no Brasil levem a uma mudança no cenário político nacional. Mas é tudo o que esperam os que desejam “estancar a sangria”, um desentendimento sobre procedimentos e interpretações que permita desacreditar as delações premiadas e, em decorrência, impossibilite utilizá-las como base para investigações mais aprofundadas.

Há alguns erros primários que indicam desleixo surpreendente, como o Ministério Público dizer, no pedido de prisão preventiva do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, que Gilberto Carvalho era chefe do Gabinete Civil da Presidência, e não chefe da secretaria-geral da Presidência.Ou a afirmação de que Lula recebe pensão como ex-presidente, quando as autoridades deveriam saber que os ex-presidentes não recebem remuneração.

Chance desperdiçada | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A condição humana é de esquizofrenia ética. Estamos condenados a ficar saltando entre o apego a princípios (éticas deontológicas) e a avaliação dos resultados de nossas ações (éticas consequencialistas). Quem quiser abraçar apenas um dos polos dessa dicotomia se verá em maus lençóis.

Dois exemplos. A aplicação irrestrita de um princípio como não mentir me levaria a ter de revelar ao assassino o paradeiro de sua vítima. Já uma lógica puramente consequencialista me autorizaria a sacrificar uma pessoa saudável para, com seus órgãos, salvar as vidas de cinco pacientes que precisem de transplantes.

O único modo de escapar dessas armadilhas é temperar o respeito a princípios fundamentais com o realismo dado pelo cálculo dos resultados. Como não dá para definir "a priori" as doses que entram na combinação, fica difícil transformar o exercício da virtude numa ciência exata.

Crime organizado: aperta e confirma | Fernando Exman

- Valor Econômico

Presidente do TSE aponta problema desde 2016

É crescente a preocupação, em gabinetes destacados de Brasília, com a potencial influência do crime organizado nas próximas eleições. Setores de inteligência do governo e o Judiciário monitoram o avanço das organizações criminosas sobre o sistema político nacional, mas é o Congresso quem tem, neste momento em que está prestes a votar mudanças nas regras eleitorais, as melhores condições de criar mecanismos que tirem o Brasil da rota já trilhada, por exemplo, por México e Colômbia.

O financiamento das campanhas é um ponto crucial nessa matriz de riscos. Passada a análise da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, a Câmara dos Deputados irá se debruçar sobre a reforma política que tramita em comissão especial. O Senado também discute o assunto e, pelo menos a princípio, o financiamento das campanhas de 2018 deve se restringir a um fundo público e a doações de pessoas físicas. O problema é justamente que apenas organizações criminosas e instituições religiosas detêm sempre grandes quantias de dinheiro vivo em caixa e, com a ajuda de moradores de suas comunidades ou integrantes de suas congregações, podem contar com diversos CPFs para lavar doações a candidatos de seu interesse.

O eleitor espreita | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A mais de um ano das eleições, os políticos não querem ficar no sereno. Precisam da máquina estatal para fazer política nos seus estados e municípios

Uma das características da política brasileira é o fato de que somos uma democracia de massas, do ponto de vista da escala de eleitores e do voto direto, secreto e universal; ao mesmo tempo, temos um sistema eleitoral e partidário que bloqueia o seu desenvolvimento no sentido da renovação de costumes políticos, o que nos faz presas fáceis do patrimonialismo e do clientelismo. Esse tipo de contradição já nos levou a algumas rupturas institucionais e, neste momento, submete a duro teste de resistência o regime constitucional vigente desde 1988, pois as vísceras da nossa política estão expostas pela Operação Lava-Jato.

Na verdade, é um velho dilema nacional: de um lado, a política controlada pelas elites; de outro, a sociedade civil, na qual os cidadãos têm um caminhão de direitos, mas permanecem na arquibancada. É aí que surge um fenômeno que marca o nosso desenvolvimento: a busca de espaços na estrutura do Estado para influir nos destinos do país, uma vez que os partidos políticos mantêm a sociedade à margem da política.

O dilema da meta | Míriam Leitão

- O Globo

Arrecadação extra foi miragem. Antes de admitir ontem que a meta pode ser alterada, o ministro Henrique Meirelles viveu um dilema. Alterar o tamanho do déficit para caber o estouro extra do orçamento pode aumentar o pessimismo e ter efeitos concretos na economia. Perseguir a meta de forma inflexível vai parar a administração. Não cumpri-la tem consequências políticas. Nos últimos dias, todas as miragens de arrecadação foram sumindo.

Sempre esteve fora de questão fazer o mesmo que Dilma, que descumpriu a meta e depois enviou uma medida provisória para o Congresso no fim do ano para convalidar o estouro ocorrido. Mas, antes de jogar a toalha, que é o que começa a fazer, a equipe econômica fez de tudo: aumentou imposto, puxou o cobertor daqui e dali, trocou dinheiro de lugar e elevou o contingenciamento.

Colhendo os frutos | José Márcio Camargo*

- O Estado de S. Paulo.

Com a redução dos juros, o mercado de crédito já começou a dar sinais de aquecimento

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) decidiu em reunião na última quarta-feira reduzir a taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) em um ponto de porcentagem. Com isso, a taxa atingiu 9,25% ao ano. O nível mais baixo desde 2013.

Ao iniciar a redução da Selic apenas quando a taxa de inflação mostrou tendência de queda e as expectativas de inflação apontavam para a meta em 2017, o BC conseguiu levar a taxa de inflação para níveis um pouco abaixo da meta do ano, algo que parecia impossível um ano atrás, permitindo que a Selic possa fechar 2017 entre 8,0% e 7,5%.

As previsões para 2018 devem levar em consideração os efeitos da reforma trabalhista sobre o processo de formação dos salários nominais e reais e os efeitos da introdução da TLP sobre a potência da política monetária.

Venezuela como teste de caráter | Joel Pinheiro Da Fonseca

- Folha de S. Paulo

PT e PSOL, de mostram unidos num intento ainda pior que a corrupção: a aspiração totalitária

A Venezuela serve como um teste de caráter na política brasileira. Se alguém defende o regime Maduro, pode ter certeza: essa pessoa nutre as piores e menos democráticas intenções para o Brasil.

Maduro preside a fase terminal do chavismo, num espetáculo deprimente de pauperização, degeneração institucional e violência. Com inflação que deve superar os 1.000% este ano, produção em queda livre, pobreza em ascensão, falta de alimentos, emigração em massa e dezenas de opositores mortos, a última desculpa para os abusos do governo cai por terra: não é pelo social; é pelo poder.

É o resultado previsível de um programa insustentável. As conquistas sociais de Chávez nada mais foram que usar os ganhos extraordinários do petróleo (cujo preço estava alto) para financiar políticas de transferência de renda. Nisso, aproveitou para submeter todas as instituições do país ao Poder Executivo, cercear a mídia, amordaçar a oposição e estatizar a economia.

O estado de espírito da população – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Ibope divulgou na semana passada o resultado de uma nova pesquisa de opinião realizada a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sobre “as eleições, o comportamento do consumidor, a política e a economia do País, entre outros temas”. Nenhum dado novo ou surpreendente foi apresentado, mas algumas informações reveladas pelo instituto de pesquisa ensejam uma análise mais cuidadosa.

O presidente Michel Temer continua com alto índice de desaprovação popular. De acordo com a pesquisa, apenas 5% dos brasileiros consideram seu governo “ótimo” ou “bom”. Para 70% dos entrevistados, o governo é “ruim” ou “péssimo”. E para 21%, apenas “regular”. Questionados se confiavam ou não no presidente da República, apenas 10% dos entrevistados disseram que sim.

O resultado negativo já era esperado porque a pesquisa foi feita em meio ao debate no Congresso acerca da admissibilidade da denúncia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro oferecida contra o presidente Michel Temer pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tendo como base, exclusivamente, o conteúdo da delação mais do que premiada do sr. Joesley Batista, um dos controladores da J&;F e criminoso confesso.

Além disso, o período de tomada das opiniões coincide com a divulgação dos estudos da equipe econômica sobre o aumento de impostos sobre os combustíveis – o que, de fato, ocorreu no último dia 20 – como uma das medidas de ajuste para o cumprimento da meta fiscal.

Não param as ações contra a Lava-Jato – Editorial | O Globo

Por ter na mira políticos, entre os quais muitos parlamentares com assento no Congresso, a Lava-Jato se tornou alvo de várias operações de ataque por meio de projetos de leis e emendas a propostas já em tramitação. A ação mais recente e de ampla repercussão, com este objetivo, foi o projeto do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), contra “abuso de autoridade”. Assunto relevante, diante da exorbitância com que agentes públicos agem contra o cidadão comum, o projeto, no entanto, foi usado para criminalizar juízes, procuradores e policiais no exercício de suas atividades.

O projeto terminou atenuado, mas visava, por exemplo, a permitir que réu processasse criminalmente o juiz que o condenasse, o procurador que o acusasse, o policial que o prendesse. A lei não deveria ter vida longa caso viesse a ser contestada no Supremo. Restou, porém, muito claro qual o objetivo de parlamentares: desidratar os organismos de Estado que atuam no enfrentamento da corrupção.

À medida que inquéritos tramitam em Varas federais e processos envolvendo autoridades com foro especial são abertos no Supremo, manobras contra a Lava-Jato se ampliam. A delação premiada de Joesley Batista e irmão, Wesley, do grupo JBS, que implica o presidente Temer num esquema de corrupção, aumentou a pressão.

Moro e os políticos – Editorial | Folha de S. Paulo

Há um tanto de imprecisão —ou, talvez, de estratégia— nas críticas do juiz federal Sergio Moro às "autoridades políticas brasileiras", que a seu ver dedicam pouca ênfase ao combate à corrupção.

"Fica a impressão de que esta é uma tarefa única e exclusiva de policiais, procuradores e juízes", lamentou o magistrado de Curitiba, em entrevista a um consórcio internacional de jornalistas publicada pela Folha no domingo (30).

Como Moro decerto não ignora, acusações de desmandos, reais, presumidos ou infundados, e campanhas pela moralidade estão entre as armas mais antigas e eficazes da disputa política no país.

Um marco histórico, que data dos anos 1950, é a ofensiva da UDN sobre o derradeiro governo de Getúlio Vargas; nos anos 1980 e 1990, o PT apoderou-se da estratégia, a ponto de ser apelidado de "UDN de macacão" pelo ora aliado, ora adversário Leonel Brizola (PDT); com os petistas no poder, a oposição à direita retomou a bandeira.

Em tempos democráticos, tais pressões, mesmo quando meramente oportunistas e interesseiras, podem produzir resultados virtuosos —um presidente, Fernando Collor, foi deposto; comissões parlamentares de inquérito apuraram escândalos como os dos anões do Orçamento e do mensalão.

Desemprego diminui com aumento da informalidade – Editorial | Valor Econômico

A primeira boa notícia sobre o mercado de trabalho desde o fim de 2014 veio do IBGE, na semana passada, com o anúncio de que a taxa de desemprego ficou em 13% no segundo trimestre deste ano, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Houve uma queda em comparação com os 13,7% da taxa de desocupação no primeiro trimestre, o que significa 690 mil desempregados a menos. O total de pessoas sem trabalho recuou do pico de 14 milhões para 13,5 milhões de trabalhadores, um patamar ainda elevado; e os ocupados somaram 90,236 milhões, 1,4% a mais do que no primeiro trimestre do ano.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho já vinham apontando discreta melhora do mercado. Em junho, houve um saldo positivo de quase 10 mil vagas de empregos com carteira assinada criadas, acumulando no ano módicos 67,3 mil postos de trabalho formais a mais no país, concentrados no setor agropecuário.

O lado negativo dessas estatísticas é que a maioria dos que acabaram de entrar para o time dos empregados está sem carteira assinada, em atividades relacionadas ao comércio e serviços, onde predominam baixa remuneração e contratos informais. De acordo com o IBGE, foram abertos no segundo trimestre 442 mil postos sem registro e 396 mil pessoas passaram a trabalhar por conta própria. Os trabalhadores informais somavam 10,6 milhões em junho, aumento de 4,3% no trimestre; os trabalhadores por conta própria cresceram, 1,8% para 22,5 milhões de pessoas; enquanto os formais ficaram relativamente estáveis em 33,3 milhões.

Ditadura consolidada – Editorial | O Estado de S. Paulo

A Venezuela é uma ditadura há bastante tempo, desde que o caudilho Hugo Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduro, colocaram a “revolução bolivariana” acima de qualquer outra consideração. Uma a uma, as instituições que se prestavam a dar um verniz democrático a esse regime autoritário foram sendo incorporadas à máquina chavista. A imprensa livre foi sufocada e o Judiciário se viu transformado em serviçal do governo, enquanto a população passou a ser aterrorizada pelos “coletivos” paramilitares chavistas. Restava a Assembleia Nacional, dominada pela oposição, mas anteontem esse último bastião caiu. Foi substituído por uma “assembleia constituinte” totalmente chavista, cujo objetivo é reescrever a Constituição para nela fazer constar a perpetuidade do regime – e quem se opuser a isso terá de enfrentar a furiosa repressão do governo, conforme mostram os cerca de 120 mortos nos últimos quatro meses, 10 somente no dia da eleição da tal “assembleia”.

Farsa de eleição constituinte consolida golpe na Venezuela – Editorial | O Globo

Governo Maduro celebra resultado claramente manipulado. Abstenção foi recorde, e repressão a manifestantes deixou 15 mortos e inúmeros feridos e presos

O governo de Nicolás Maduro produziu no último domingo mais um duro ataque à democracia venezuelana, ao levar adiante a eleição de uma Assembleia Constituinte, desenhada para dar poderes ilimitados ao Executivo bolivariano e anular a voz institucional da oposição. Os candidatos são todos defensores do governo, entre os quais a mulher e o filho do presidente venezuelano. Marcado por intensa repressão, com pelo menos 15 mortos e inúmeras prisões e feridos, além de um índice histórico de abstenção, o pleito consuma o golpe de Estado de Maduro.

A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, anunciou ontem que não reconhecerá a Assembleia Constituinte, a qual classificou de ilegítima. Além do boicote interno dos eleitores, a votação do último domingo foi condenada internacionalmente por uma lista crescente de países, entre eles o Brasil, vizinhos sul-americanos, a União Europeia e os EUA, que anunciaram na semana passada a aplicação de sanções contra altos funcionários do governo. Se a pressão internacional é importante neste momento, a aplicação de sanções, porém, deve ser feita com cautela para não prejudicar a população já combalida pela grave crise econômica e social provocada pelo regime chavista.

Planalto cobra presença da base para votar denúncia

Confiante de que tem votos para barrar na Câmara a acusação contra Michel Temer por corrupção passiva, governo tenta garantir quórum e convoca deputados das siglas aliadas

Igor Gadelha Isadora Peron Renan Truffi / O Estado de S. Paulo.

O governo iniciou uma investida para garantir a presença de deputados da base aliada que se declaram indecisos e até mesmo favoráveis à denúncia contra o presidente Michel Temer na sessão da Câmara que vai analisar a acusação formal por corrupção passiva. O Planalto quer garantir que a votação seja concluída amanhã no plenário. O objetivo é não depender da oposição, que reúne cerca de 100 deputados e pode adotar a tática de não registrar presença e obstruir a sessão para impedir que a votação ocorra.

O Planalto age para liquidar a votação o mais rápido possível, principalmente para não deixar Temer exposto ao surgimento de fatos – como possíveis novas delações – que possam mudar o placar, hoje considerado favorável ao presidente.

Temer tem os votos, mas busca placar melhor

Por Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro, Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico

BRASÍLIA - Situação e oposição concordam que o presidente Michel Temer tem os votos necessários para barrar a denúncia de corrupção que poderá ser votada amanhã contra ele na Câmara. A denúncia só seguirá para julgamento no STF se contar com 342 dos 513 deputados. A oposição tenta agora mostrar a "fragilidade do governo", o que deve ocorrer se os votos contra a acusação forem inferiores à metade da Câmara.

O placar é motivo de preocupação entre governistas. Temer confia ter os votos necessários, mas receia expor um encolhimento da base, hoje insuficiente para aprovar a reforma da Previdência. A oposição diverge sobre a melhor estratégia. A cúpula do PT quer votar amanhã e planejava ontem liberar o registro de presença para começar a sessão. Rede e PSB defendem votar amanhã, mas só marcar presença quando a base colocar pelo menos 257 deputados em plenário.

Oposição chega dividida à votação de denúncia contra Temer
Num jogo de empurra entre a base do governo e a oposição, a Câmara dos Deputados chega na véspera da sessão marcada para votar o pedido de autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue se o presidente Michel Temer cometeu o crime de corrupção passiva ainda sem a certeza de que a denúncia da Procuradoria-Geral da República será realmente analisada amanhã.

Por quorum, Temer estimula até voto opositor e abstenção

Bruno Boghossian, Gustavo Uribe, Daniel Carvalho, Angela Boldrini | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo começou a estimular a presença até de deputados contrários a Michel Temer na Câmara para garantir quorum para a votação da denúncia contra o presidente nesta quarta-feira (2).

Certo de que não haverá 342 votos para dar seguimento ao processo por corrupção, o Palácio do Planalto passou a pedir que compareçam e votem mesmo aqueles parlamentares da base que vão se posicionar contra Temer.

Além disso, líderes governistas pediram a deputados que ameaçavam se ausentar que eles também marquem presença, mas declarem abstenção na hora de pronunciar seus votos no microfone –o que conta para o quorum.

Auxiliares de Temer decidiram flexibilizar sua estratégia devido às dificuldades para atingir o mínimo de 342 parlamentares necessário para abrir a votação.

Temer faz ofensiva para barrar denúncia já amanhã

Governo agora mobiliza partidos aliados para garantir quórum

Oposição está dividida sobre estratégia a adotar, mas fará uma reunião hoje e vai tentar um movimento conjunto para impor o máximo de desgaste possível ao presidente

Depois de distribuir cargos e liberar emendas para parlamentares, o governo decidiu concentrar seus esforços para tentar encerrar amanhã, e rejeitar, a votação da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Temer no escândalo da JBS. O Planalto sabe que não tem garantidos os 342 votos para abrir a votação e, por isso, insiste com seus aliados para convocarem até os parlamentares que votarão contra Temer, mas podem garantir o quorum. A estratégia governista é apresentar requerimento para encerrar a discussão quando 257 deputados registrarem presença. Já a oposição se divide sobre como agir amanhã. Cientes de que não têm os votos necessários para aceitar a denúncia e afastar Temer, vão tentar se unir para dificultar a vida do governo e causar o máximo de desgaste ao presidente, mas ontem não chegaram a um acordo. Líderes de PT, PCdoB, Rede, PSOL, PDT e parte do PSB deverão se reunir hoje para traçar um plano comum.

Temer joga suas fichas

Governo quer encerrar já amanhã a votação da denúncia contra o presidente na Câmara

Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto e Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- O Palácio do Planalto quer encerrar já amanhã a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Após passar as últimas semanas dizendo que a responsabilidade pelo quorum seria da oposição, o governo passou a mobilizar os partidos aliados para que coloquem 342 parlamentares em plenário, número necessário para que a a denúncia seja votada. Tanto os aliados do Planalto quanto a oposição sabem não ter hoje ao seu lado esse número de deputados. Por isso, o governo quer apenas que os partidos da base peçam a presença de seus correligionários, mesmo os que votam contra Temer.

— É um absurdo você ter posição no governo e fazer o jogo da oposição. A oposição faz o jogo dela e a gente tem que respeitar. Pode protelar, pode deixar o governo sangrando etc. Agora, você apoiar o governo, ter cargo no governo, ter ministério e fazer o jogo da oposição, me desculpe, não aceito — disparou o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRBSP), acrescentando. — Se os partidos políticos que apoiam o governo têm um contingente em torno de 380 deputados, que todos venhamos ao plenário para que a gente se posicione, independentemente de quem é contra o governo.

Oposição diverge sobre como proceder na votação da denúncia

Questão do quorum divide PT e outros partidos; reunião hoje tenta acordo

Catarina Alencastro, Júnia Gama e Sérgio Roxo | O Globo

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Na véspera da votação da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara, a oposição se divide sobre a melhor estratégia a ser adotada. Cientes de que não têm os 342 votos necessários para aceitar a denúncia e afastar Temer, os oposicionistas buscam se unir para dificultar a vida do governo e causar o máximo de desgaste ao presidente, mas não chegaram a um acordo. Hoje, em almoço, lideranças do PT, PCdoB, Rede, PSOL, PDT e parte do PSB sentarão para traçar um plano comum.

Ao mesmo tempo em que setores do PT defendem internamente que a permanência de um Temer desgastado no cargo seria melhor para as pretensões de Lula em 2018, o discurso oficial do partido é de que está empenhado em afastar o presidente. Por isso, a direção da legenda deve fechar questão hoje sobre o tema e definir a tática a ser usada na votação.

Por enquanto, a estratégia defendida por PSOL e Rede, de só registrar presença na sessão quando o governo garantir o quorum, não é endossada pela cúpula petista. De acordo com o líder da bancada do partido, Carlos Zarattini, o placar da votação em si já pode significar uma derrota para Temer.

Janela do caos | Murilo Mendes

1
Tudo se passa
Em Egitos de corredores aéreos
Em galerias sem lâmpadas
À espera de que Alguém
Desfira o violoncelo
- Ou teu coração?
Azul de guerra.
2
Telefonam embrulhos,
Telefonam lamentos,
Inúteis encontros,
Bocejos e remorsos.
Ah! Quem telefonaria o consolo
O puro orvalho
E a carruagem de cristal.
3
Tu não carregaste pianos
Nem carregaste pedras
Mas na tua alma subsiste
- Ninguém se recorda
E as praias antecedentes ouviram -
O canto dos carregadores de pianos,
O canto dos carregadores de pedras.
4
O céu cai das pombas.
Ecos de uma banda de música
Voam da casa dos expostos.
Não serás antepassado
Porque não tiveste filhos:
Sempre serás futuro para os poetas.
Ao longe o mar reduzido
Balindo inocente.
5
Harmonia do terror
Quando a alma destrói o perdão
E o ciclo das flores se fecha
No particular e no geral:
Nenhum som de flauta,
Nem mesmo um templo grego
Sobre colina azul
Decidiria o gesto recuperador.
Fome, litoral sem coros,
Duro parto da morte.
A terra abre-se em sangue,
Abandona o branco Abel
Oculto de Deus.
6
A infância vem da eternidade.
Depois só a morte magnífica
- Destruição da mordaça:
E talvez já a tivesses entrevisto
Quando brincavas com o pião
Ou quando desmontaste o besouro.
Entre duas eternidades
Balançam-se espantosas
Fome de amor e a música:
Rude doçura,
Última passagem livre.
Só vemos o céu pelo avesso.
7
Cai das sombras das pirâmides
Este desejo de obscuridade.
Enigma, inocência bárbara,
Pássaros galopando elementos
Do fundo céu
Irrompem nuvens eqüestres.
Onde estão os braços comunicantes
E os pára-quedistas da justiça?
Vultos encouraçados presidem
À sabotagem das harpas.
8
Que esperam todos?
O vento dos crimes noturnos
Destrói augustas colheitas,
Águas ásperas bravias
Fertilizam os cemitérios.
As mães despejam do ventre
Os fantasmas de outra guerra.
Nenhum sinal de aliança
Sobre a mesa aniquilada.
Ondas de púrpura,
Levantai-vos do homem.
9
Penacho da alma,
Antiga tradição futura:
?Se a alma não tem penacho
Resiste ao Destruidor?
10
A velocidade se opõe
À nudez essencial.
Para merecer o rompimento dos selos
É preciso trabalhar a coroa de espinhos.
Senão te abandonam por aí,
Sozinho, com os cadáveres de teus livros.
11
Pêndulo que marcas o compasso
Do desengano e solidão,
Cede o lugar aos tubos do órgão soberano
Que ultrapassa o tempo:
Pulsação da humanidade
Que desde a origem até o fim
Procura entre tédios e lágrimas.
Pela carne miserável,
Entre colares de sangue,
Entre incertezas e abismos,
Entre fadiga e prazer,
A bem-aventurança.
Além dos mares, além dos ares,
Desde as origens até o fim,
Além das lutas, embaladores,
Coros serenos de vozes mistas,
De funda esperança e branca harmonia
Subindo vão.
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Murilo Mendes, Poesia Completa e Prosa, Nova Aguilar, 1994.

Mariene de Castro - De volta Pro aconchego

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Opinião do dia - Vera Magalhães

O esquema do PMDB na Caixa, com Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha e Fábio Cleto à frente, nada mais é que a fatia dos aliados dada pelo PT na cleptocracia lulo-dilmista. O mesmo vigorou na Transpetro, dada como capitania ao outro PMDB, o do Senado, e em todos os demais espaços públicos.

Não é possível, portanto, os petistas apontarem o dedo e berrarem “Fora, Temer”. Foi seu líder supremo quem transformou o aparelho de Estado numa lucrativa organização político-partidária destinada a tornar ricos empresários que aceitassem colaborar com o esquema e burocratas com vocação para mafiosos. Essa é a verdadeira herança de pai Lula e mãe Dilma, uma cleptocracia que resiste.

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Vera Magalhães é jornalista, “Cleptocracia renitente”, O Estado de S. Paulo, 30/7/2017

A agenda possível | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

Sem dinheiro, governo tapa buracos no setor público e derruba investimentos

Por tudo que se tem visto e ouvido nos últimos dias, cresce a expectativa de que Temer “mude de fase” nesse jogo em que se transformou a busca dos votos para barrar a denúncia de corrupção feita pela Procuradoria Geral da República (PGR), de Rodrigo Janot. Em consequência, cresce também a expectativa do que virá no “pós-Temer com Temer”. O presidente e seus assessores têm feito circular a versão de que estaria em preparação uma agenda positiva, capaz de injetar ânimo aos agentes econômicos e à população, cuja impressionante rejeição ao governo se expressa nas pesquisas de opinião pública. Mas, enquanto não se confirma a vitória no plenário da Câmara – a grande interrogação, no momento, refere-se mais à garantia de quórum do que à conquista dos votos –, a agenda negativa avança. Culpa da crise fiscal.

Temer contra ninguém | Vinicius Mota

Abriu-se o ciclo da última prova de resistência de Michel Temer. Caso ele sobreviva até o final de setembro, é provável que as energias para destituir o presidente se dissipem de vez no cálculo de custos e benefícios da política.

Embora o mecanismo -a denúncia por crime comum- seja novo, o procedimento para depor o chefe do Executivo federal já foi testado duas vezes na Nova República. Seu rubicão é a desconfiança de dois terços dos deputados federais no presidente. Atingido esse placar, os desdobramentos são quase automáticos.

Não se deve dar tanto crédito ao invólucro jurídico desses processos. A arbitragem será, a exemplo dos casos Collor e Rousseff, sobretudo política. Como é usual nas disputas de poder, os deputados vão decidir entre o presidente no cargo e aquele que herdaria o Planalto em caso de queda.

Carta aos que virão | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

A marcha civilizatória atravessa os séculos e é obra de muitas gerações. O desenvolvimento humano é projeto coletivo que amadurece a partir dos sonhos, do trabalho e da luta de todos. A evolução da espécie não é caminho retilíneo, passa por crises, saltos qualitativos, inovações, guerras e conflitos. O nosso tempo pessoal não se confunde com o tempo da História. É preciso humildade e inteligência para não superdimensionarmos o nosso papel na transformação da vida.

E o contínuo avanço pressupõe responsabilidade com o futuro e solidariedade intergeracional.

No Brasil diz-se que a memória é curta. Seria um sintoma de que as novas gerações valorizam pouco a experiência acumulada e transmitida pelas antigas? Mas no sentido inverso, qual é o cuidado que estamos tendo com o horizonte futuro de nossas crianças e jovens? Qual é o legado e a herança que estamos deixando para nossos filhos e netos?

Temer pato manco | Ricardo Noblat

- O Globo

“A palavra propina foi inventada pelos empresários para tentarem culpar os políticos” LULA

Não está em jogo se Michel Temer é culpado por crime de corrupção. Nem se existe prova de que de fato o cometeu. Na sessão da Câmara dos Deputados marcada para esta quarta-feira estará em jogo apenas se o Supremo Tribunal Federal (STF) deve examinar a denúncia contra ele. Se pudesse fazê-lo, talvez concluísse por seu arquivamento. Se a aceitasse, Temer seria processado, absolvido ou condenado.

A MAIORIA DOS DEPUTADOS ESTÁ disposta a impedir que a Justiça livre Temer da suspeita de que prevaricou. A proceder assim, ele carregará para sempre a condição de ter sido o primeiro presidente da República do Brasil denunciado por crime de corrupção passiva. Tal condição deveria ser desconfortável para qualquer pessoa que prezasse sua própria biografia. Até mesmo para um político como Temer.

Delação ameaçada | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

A delação do fim do mundo corre sério risco de se transformar em um problema. Seis meses depois de homologada pelo Supremo Tribunal Federal, a colaboração de executivos da Odebrecht passou a ser alvo de questionamentos por parte de quem tem o dever de investigá-la.

Reportagem publicada pela Folha nesta segunda (31) mostra que a Polícia Federal identificou uma série de falhas que ameaçam a apuração das informações que 77 delatores passaram à Procuradoria-Geral da República no começo do ano.

Parecem verossímeis os relatos dos executivos. Os vídeos de seus depoimentos iniciais à PGR dão sensação de naturalidade e realidade para o funcionamento de um nefasto esquema de caixa dois e propina que envolveu a Odebrecht e políticos de variados calibres e partidos.

Luta pela sobrevivência | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Ganho de poder das lideranças nacionais não poderia ser maior

Em artigo publicado na "Folha de S. Paulo" (26/07/2017), Vicente Cândido (PT-SP), relator da Reforma Política, defendeu seu projeto. A conjuntura crítica, "a falência escancarada do modelo atual" em suas palavras, pediria medidas radicais, dentre elas a adoção do financiamento público de campanha.

Vista por muitos como antídoto à influência nefasta do dinheiro sobre a atividade política e à corrupção, a medida resolve alguns problemas, é neutra em relação a outros e, por último, coloca novos desafios.

Recursos públicos devem ser distribuídos e isto pede critérios. Nenhum deles será neutro. Sem justificar estes critérios, sem considerar suas consequências, a medida se reduz à mera reação da classe política para facilitar a própria vida.

As chances de Bolsonaro e Lula | Gaudêncio Torquato

- Blog do Noblat

A fatura que a República tira de seus ismos - grupismo, mandonismo, caciquismo, nepotismo, individualismo, fisiologismo – cresce exponencialmente com o acirramento da crise política, propiciando especulações e versões sobre o campeonato eleitoral de 2018. Erigem-se espaços de protagonistas no pleito e, mais, com indicação de suas possibilidades de vitória, projeções que se fazem a partir do pesquisismo – essa mania desvairada de medir posições de pré-candidatos muito antes dos eventos eleitorais.

A essa altura, já há quem veja Jair Bolsonaro e Luiz Inácio na chegada ao pódio, quando ainda não se sabe se serão candidatos ou se as circunstâncias (jurídicas, políticas, econômicas e sociais) permitirão que o sejam.

Bolsonaro só será candidato em cenário de caos político, com expansão da insegurança coletiva e clamor social por ordem nas ruas, sob slogans do tipo: “bandido na cadeia”, “bandido bom é bandido morto”.

Abandonaria alternativas mais viáveis de uma candidatura majoritária no Rio de Janeiro (governo ou senado) e mesmo a continuidade como representante na Câmara Federal por uma opção cheia de riscos?

Presidencialismo de proposição | Marina Silva

- Valor Econômico

Para obter a maioria de votos favoráveis de parlamentares, Temer promove concessões sem limites

Ainda não é possível ter uma visão completa, mas já podemos colocar a operação Lava-Jato como uma das maiores contribuições à evolução política do Brasil. Podemos considerá-la uma continuidade do processo de redemocratização, que quase foi interrompido quando, com o fim do regime militar e as eleições diretas dos governos, estabeleceu-se uma democracia incipiente e de baixa intensidade.

O trabalho da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal mostrou que o Estado havia sido dominado por um sistema perverso, tanto mais forte quanto menos aparente. Esse esquema, um polvo que estendeu seus tentáculos em toda a vida institucional do país, nasceu nas brechas do regime presidencialista "de coalizão", que emergiu nos anos de reconstrução democrática como uma forma de mediação entre os poderes Executivo e Legislativo e que acabou se degenerando na sua pior expressão: alianças voltadas não para o ato de governar, mas para perpetuar grupos no poder.

O político e o instinto de sobrevivência | Almir Pazzianotto Pinto

- Diário do Poder

Como ser vivo o homem é dotado de profundo instinto de sobrevivência. Diante do perigo recua, protege-se, defende-se e se necessário atacará para afastar ou eliminar a ameaça. Em nenhum homem, porém, tal impulso é tão apurado como no homopoliticus, espécie singular do homo herectus, com bons exemplares entre habitantes de Brasília.

A reflexão ocorre-me ao ler no “Correio de Capivari”, editado em minha cidade natal desde 1932, e do qual tenho sido colaborador, notícia publicada na edição de 22 deste mês de julho, sob o seguinte título: “Macris se antecipa e confirma voto favorável às investigações de Michel Temer”.

Macris é o deputado federal pelo PSBD Vanderlei Macris, da cidade de Americana, próspera comunidade paulista onde mantém o principal reduto eleitoral. Fomos ambos eleitos deputados estaduais pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no distante ano 1974 Reelegemo-nos em 1978 e 1982, na vitoriosa campanha de Franco Montoro ao governo do Estado. Em 1983 enveredei pelo Poder Executivo como Secretário de Estado do Trabalho e, posteriormente na qualidade de Ministro do Trabalho, até ingressar no Poder Judiciário em 1988 como Ministro do Tribunal Superior do Trabalho.

Votos no Congresso desafiam economia | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Convivência de três CPIs no Congresso gera expectativa

Agosto chegou e o calendário já avançado do ano recomenda bom senso à classe política ou, no mínimo, resistência à tentação de adiar decisões por mais tempo. A economia brasileira emite sinais vitais que foram identificados no primeiro quadrimestre do ano, mas perderam pulso rapidamente quando os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, delataram o presidente Michel Temer, que foi parar no centro da Lava-Jato. Se preservados, os sinais mais recentemente observados de reação da atividade podem dar uma nova perspectiva ao país, que teve na queda da taxa de desemprego a 13% no segundo trimestre, de acordo com a PNAD Contínua divulgada na sexta, incentivo a algum otimismo. No primeiro trimestre, a taxa foi de 13,7%.

Essa melhora não abortou, porém, críticas ao aumento de preços dos combustíveis, que se tornou um indicador prático da dificuldade do governo em conter gastos, sem despertar a rebelião do funcionalismo público, e em bancar uma taxa de crescimento econômico que patrocine a expansão de receitas. E, no tempo, o reequilíbrio de suas contas. Afinal, o nó dos problemas.

Na escuta da lei – Editorial | O Estado de S. Paulo

Recentemente encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o relatório da Polícia Federal sobre as gravações que o ex-senador Sérgio Machado fez de conversas com vários políticos manifesta um bom senso cada vez mais raro na aplicação da lei penal. Com a acuidade que se espera dos agentes da lei, a delegada Graziela Machado da Costa e Silva, autora do relatório, faz notar a distância entre o que de fato consta nas gravações e aquilo que alguns gostariam que estivesse presente.

No ano passado, Sérgio Machado – que também foi presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobrás – apresentou gravações que havia feito de conversas suas com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o então presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP). Na tentativa de obter um abrandamento de suas penas, Machado trouxe material que supostamente provaria a obstrução da Operação Lava Jato por alguns dos caciques do PMDB. Naturalmente, a divulgação das gravações, contendo comentários negativos à Operação Lava Jato, causou imediata repercussão política.

Mais emprego formal – Editorial | O Globo

A reforma reduz o risco jurídico para o empregador e, portanto, também o custo de nova vaga

É grande o avanço conseguido pela reforma trabalhista recém-aprovada no Congresso, apesar da crise política, porque nela se destaca a aceitação, afinal, do conceito de que o “negociado” se sobrepõe ao “legislado”. Significa que, enfim, nem tudo que estabelece a esclerosada Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), da década de 40 do século passado, poderá fazer com que a Justiça trabalhista invalide acordos firmados formalmente entre patrões e empregados, por meio dos respectivos sindicatos.

Ficam, porém, preservados direitos trabalhistas básicos, como o salário mínimo, o FGTS e férias, por exemplo. Mas inúmeras outras questões existentes na relação trabalhista passam a ser reguladas em comum acordo entre patrões e empregados, sem interferência do Estado, característica básica da CLT, herança persistente do varguismo, contaminada pela visão fascista de que a sociedade deve ser tutelada de cima para baixo.

Um dígito – Editorial | Folha de S. Paulo

Com o corte de um ponto percentual decidido pelo Comitê de Política Monetária, a taxa de juros do Banco Central caiu a 9,25% ao ano, o menor nível em quatro anos.

O BC indicou que, mantidas as atuais condições, a perspectiva é de redução similar na próxima reunião, em agosto. Trata-se de mudança bem-vinda na comunicação da política monetária, que apontava até então maior cautela em razão das incertezas decorrentes do agravamento da crise política.

Avaliava-se que atrasos na aprovação das reformas, sobretudo a da Previdência, poderiam dificultar a queda da taxa Selic. Com o impacto negativo para as contas públicas, credores exigiriam juros mais altos para financiar o governo.

Reajustes dos servidores aprofundam a crise fiscal – Editorial | Valor Econômico

Diante das crescentes dificuldades fiscais, o governo federal agora sinaliza a possibilidade de enfrentar um difícil embate com um dos setores mais mobilizados da sociedade: os servidores públicos. A área econômica do governo, como antecipou o Valor PRO na quarta-feira, estuda a adoção de medidas como a suspensão temporária dos aumentos dados ao funcionalismo público federal e até o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 14% nesse segmento. Deve apoiar, também, projetos que tramitam no Congresso para incluir, no limite do teto, os benefícios e vantagens recebidos por funcionários.

Em 2018, os reajustes salariais devem gerar impacto de R$ 7,12 bilhões nas contas do governo. Vale lembrar que esse efeito se dá sobre a base de despesa que já subiu R$ 12,39 bilhões, por causa dos reajustes que entraram em vigor neste ano. A despesa com pessoal ativo em 2017 supera os R$ 130 bilhões, segundo dados do ministério do Planejamento.

Note-se que o crescimento desse gasto, apenas por força da elevação dos salários no Executivo federal em 2017, é maior do que os R$ 10,4 bilhões que o governo espera arrecadar com a elevação do PIS/Cofins sobre combustíveis. Também é superior aos R$ 11 bilhões que o governo reduziu nos investimentos no primeiro semestre para viabilizar o cumprimento da meta fiscal, que, mesmo assim, continua na berlinda.

Na economia, Bolsonaro se alinha ao PT

Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Conservador nos costumes, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado em pesquisas para a Presidência em 2018, está longe do pensamento liberal da direita na economia. Ele admite entender pouco do assunto e adota posições públicas contraditórias.

Como deputado, tem posições corporativistas, combate o ajuste fiscal e o "Estado mínimo". Ferrenho adversário dos petistas, esteve mais vezes alinhado ao PT em votações do que seu discurso agressivo deixa transparecer.

Contradição marca ideário econômico de Jair Bolsonaro
Conservador nos costumes, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado em pesquisas de intenção de voto para a presidência da República em 2018, está longe do pensamento liberal da direita na economia, área que admite dominar pouco e onde sua atuação e posições públicas são por vezes contraditórias.

Militar de carreira, marcou seus mandatos por uma postura corporativista e de combate a projetos de ajuste fiscal, é contra a liberação da venda de terras para estrangeiros, não concorda com o conceito de "Estado mínimo" e a venda de todas as estatais e critica o uso da taxa de juros para controlar a inflação. Ferrenho crítico dos petistas, esteve mais vezes alinhado ao PT em votações do que o discurso radical deixa transparecer.

Dissidência do PSB quer 'refundar' DEM

Por Murillo Camarotto | Valor Econômico

BRASÍLIA - A migração de dissidentes do PSB para o DEM está bem encaminhada, mas ainda depende de uma "refundação" do partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). O objetivo dos parlamentares interessados na troca não é ingressar exatamente no DEM, mas em uma nova força de centro-direita que seria formada para disputar a Presidência da República em 2018, de preferência com apoio do presidente Michel Temer.

Os dissidentes do PSB enxergam uma oportunidade de ganhar espaço político em um cenário que, segundo eles, está hoje polarizado entre os que pretendem votar no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A leitura é de que o PMDB, que tradicionalmente ocupa o espaço entre os polos, está ferido pela Lava-Jato e sairá menor das eleições do ano que vem.

Uma liderança do PSB que negocia a transição disse ao Valor que o sucesso do movimento vai depender da disposição da direção do DEM em "abrir as comportas" para receber os novos aliados. Isso passaria, por exemplo, por uma decisão de Executiva Nacional do partido de destituir os diretórios estaduais e municipais para uma nova divisão do poder na sigla.

Avança acordo pela aprovação da cláusula de barreira e fim de coligação proporcional até agosto

Painel | Folha de S. Paulo

Depois da tempestade Com a expectativa de que a primeira denúncia contra Michel Temer tenha um desfecho ainda nesta semana, avançou no Congresso o acordo que prevê a aprovação de PEC que recria a cláusula de barreira e acaba com as coligações proporcionais. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer votar a proposta até 30 de agosto. O Senado chancelaria o texto sem fazer alterações. A cláusula de desempenho seria fixada em 1,5% dos votos válidos já para a disputa de 2018.

Asfixia financeira Pelo modelo em discussão, partidos que alcançarem resultados inferiores ao índice de 1,5% ficarão sem recursos do fundo partidário e tempo de propaganda na TV. O fim das coligações proporcionais passaria a valer a partir de 2020.

À mesa As tratativas para acelerar a tramitação da PEC aconteceram em jantar na residência de Maia, em Brasília, na sexta (28), do qual participou o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Ele é um dos autores da proposta de emenda constitucional, ao lado de Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

O possível A PEC já foi aprovada pelo Senado, mas a Câmara vai alterar o texto para reduzir de 2% para 1,5% a linha de corte da cláusula de barreira. Os deputados devem criar um mecanismo que aumente em 0,5 ponto percentual o sarrafo para acesso ao tempo de TV e fundo partidário nos próximos anos.