segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Opinião do dia – Roberto Freire

É por isso que venho defendendo, ao lado de amplos setores do PPS e de outros partidos políticos, a construção de uma candidatura que unifique o chamado centro democrático e reúna condições de enfrentar e derrotar os dois extremos citados anteriormente, que evidentemente nada têm de bom a oferecer ao Brasil em uma nova quadra política a ser vivenciada a partir de 2018. Até lá, o PPS permanece com sua posição de independência em relação ao atual governo, mas sempre deixando claro o nosso firme compromisso de apoiar a transição e as reformas.

Tendo vencido a recessão, que ficou para trás como uma triste lembrança dos governos de Lula e Dilma, e agora iniciando um processo ainda lento de crescimento econômico que tende a se intensificar nos próximos meses, o país está preparado para dar o próximo passo em direção ao futuro. Este é o momento de somar forças para avançar nas reformas, aglutinar o campo democrático e evitar retrocessos. Temos, enfim, uma agenda positiva a cumprir, o que não é pouco após tamanho desmantelo. Dela depende o futuro de milhões de brasileiros. Vamos em frente.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS, “Uma agenda positiva para o Brasil”, Diário do Poder, 7/9/2017

Robotização: emprego ou desemprego? | Almir Pazzianotto Pinto

- O Estado de S.Paulo

O estrangulamento do mercado de trabalho não decorre do processo de automação

Desde que aprendeu a utilizar a pedra lascada como arma ou ferramenta, o homo sapiens não parou de produzir instrumentos capazes de torná-lo mais eficiente no trabalho e na guerra.

Antes da primeira revolução industrial, a unidade elementar de produção era a família. A descoberta da máquina, em meados do século 18, revolucionou o mundo e deu origem ao capitalismo e à classe operária. Da disputa entre a velocidade da fiação e a capacidade de tecer surgiram as primeiras fábricas de tecidos na Inglaterra, e o embrião do futuro proletariado. Um dos melhores relatos do período é encontrado no livro Evolución de la classe trabajadora, do historiador alemão Jürgen Kuczynski.

O desenvolvimento industrial é um fenômeno recente para os brasileiros. Começa timidamente após a abolição da escravatura, com o desembarque dos primeiros imigrantes trazendo sonhos, experiências e ideias arrojadas da velha Europa.

A nossa primeira revolução industrial inicia-se com a criação, em 16/8/1956, do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia) pelo presidente Juscelino Kubitschek. Um ano depois, em São Bernardo do Campo já se fabricavam 30.542 veículos, com a geração de 8.773 empregos diretos e dezenas de milhares indiretos. A produção não para de crescer até 2013, quando foram colocadas no mercado 3.738.448 unidades. No período de 55 anos os empregos diretos haviam atingido o número de 156.970 (Fonte: Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores - Anfavea).

O jogo | Ricardo Noblat

- O Globo

“A corrupção no Brasil envolvendo Petrobras e BNDES foi quase um plano de governo” LUÍS ROBERTO BARROSO, ministro do STF

Nada de pessoal. Ao bater o desespero, cada um que tente salvar-se mesmo que à custa de entregar a própria mãe, quanto mais um amigo de fé, companheiro, camarada. Palocci entregou Lula, seu ex-chefe de governo e de gangue, em troca de menos anos de cadeia e de preservar parte da fortuna que amealhou por meios nefastos. Lula está furioso? Paciência. É do jogo. Embora para ele o jogo tenha terminado.

O JOGO PARA O EMPRESÁRIO Joesley Batista, que gravou Temer no porão do Palácio do Jaburu, ainda não acabou com a sua prisão decretada na última sexta-feira à noite pelo ministro Edson Fachin, um dos relatores da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. A prisão é de cinco dias. Poderá tornar-se provisória e renovada quantas vezes a lei permitir. A Joesley, porém, ainda restam fichas na mesa.

SEGUE O JOGO PARA Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Ele já teve mais sorte. Parecia pronto para ganhar quando denunciou Temer por corrupção passiva. O governo balançou, balançou, mas não caiu. Ninguém quer vê-lo no chão. Pagou caro aos deputados que votaram contra o pedido de licença para processar Temer. Sua popularidade despencou. Está perto da casa do zero. Um assombro!

Fogo amigo | Fernando Limongi

- Valor Econômico

O número de vítimas não para de crescer

Guerras são assim, fazem vítimas. A semana foi particularmente letal, pródiga em baixas e ameaças a altas patentes dos três lados que transformaram a política brasileira em uma batalha. Cada lado, como seria de se esperar, viu a vitória próxima nos petardos que atingiram os inimigos e saiu de banda, preferindo o silêncio, quando alvejado. A novidade é que, nos três casos, o ataque foi desferido das próprias fileiras. Rodrigo Janot terá que se haver com Marcelo Miller, Michel Temer com Geddel Vieira Lima e Lula com Antonio Palocci.

A Procuradoria-Geral da República foi atingida em cheio. As novas gravações de Joesley Batista revelaram entranhas das operações desfechadas pelas forças-tarefas. Promotores treinaram delatores para armar arapucas para seus adversários. Rodrigo Janot foi obrigado a reconhecer fatos que comprometem a lisura da operação que comandara. A ameaça maior vem dos quadros da própria PGR, cujas operações passam a depender do que Marcelo Miller se dispuser a contar sobre a cozinha da delação da JBS e das anteriores.

Mais uma reviravolta | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Dilma Rousseff começou a corrigir o rumo de seu navio avariado logo após ter sido reeleita por um triz.

No papel a estratégia fazia sentido. Convoquem-se técnicos com credibilidade no mercado, aplique-se uma terapia de choque nos dois primeiros anos do mandato e depois colham-se os frutos eleitorais de um novo ciclo de melhora do bem-estar.

O petismo contava com a vantagem de possuir um candidato competitivo, o ex-presidente Lula, para pleitear a extensão da sua estadia no poder para duas décadas.

O chão, porém, logo começou a tremer sob os pés da segunda Rousseff. Derrubou-a um misto de incompetência política e incapacidade de entender para onde o vento soprava, em meio à impopularidade crescente, a mobilizações maciças da oposição e ao avanço da Lava Jato na direção da presidente e do seu padrinho.

Programa de revitalização da indústria mineral | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Minas Gerais carrega no próprio nome suas raízes fincadas na produção mineral. O ouro e os diamantes centralizaram a acumulação de riquezas no século XVIII no Brasil colonial. A Inconfidência foi impulsionada pela luta por uma melhor distribuição dos frutos da exploração e por uma carga de tributos mais justa. Essa tradição ainda hoje mantém-se como maior produtor de minério de ferro, nióbio, calcário, fosfato e argilas, entre outros com potencial em médio prazo.

Arthur Bernardes, em célebre frase, advertiu que “minério não dá duas safras”. O boom das commodities foi fundamental para alavancar as exportações e o crescimento em anos recentes. Os dramáticos eventos que envolveram a Samarco a partir de Mariana e abraçando toda a bacia do rio Doce revelaram com crueza a complexidade desse tipo de exploração econômica e os riscos ambientais envolvidos. A correta equação entre municípios e Estados mineradores, a sociedade, as empresas e o governo federal interessa particularmente a Minas e ao Pará.

O Facebook e o antiLula | José Roberto de Toledo

- O Estado de S.Paulo

Mídias sociais revelam estratégias distintas das duas principais candidaturas em oposição ao ex-presidente até agora

Após um mês atípico em agosto, quando a página oficial de Lula no Facebook superou as de todos os outros presidenciáveis em volume de interações por causa de sua caravana pelo Nordeste, a primeira semana de setembro mostrou quão difícil será para o petista segurar essa liderança. A dificuldade virtual espelha o aumento da pressão contra o ex-presidente na Justiça - e todas as implicações que isso tem sobre sua candidatura em 2018.

Nos últimos sete dias, a página de Lula no Facebook voltou a ser ultrapassada pela de Bolsonaro em comentários, likes e compartilhamentos. Mais do que isso. Como era de se esperar, a delação de Palocci e a denúncia de Janot viraram munição para os adversários, e Lula perdeu o controle da narrativa sobre si próprio nas redes sociais. É dos poucos casos em que o "falem mal, mas falem de mim" não se aplica.

Velório da Lava Jato | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

O falastrão Joesley Batista passou a noite na cadeia. A primeira das pelo menos cinco previstas na prisão temporária decretada pelo ministro Edson Fachin (STF).

No áudio que o levou para atrás das grades, Joesley debocha das instituições e diz ao parceiro (agora de cela) Ricardo Saud que não serão presos. "No final, a realidade é essa. Nós não 'vai' ser preso. Nenhuma chance disso acontecer", disse o empresário. Aconteceu e a realidade é outra.

Criminoso confesso, o empresário das carnes, badalado pelo mercado nos últimos anos, se aproximou de um procurador da República e dublê de advogado para fechar um acordo de delação premiada com a própria Procuradoria-Geral da República.

Democracia de boteco | Lúcia Guimarães

- O Estado de S.Paulo

A saúde das democracias depende de normas não escritas tanto quanto de leis

Entre o Procurador Geral da República se disfarçando com a eficiência do Inspetor Clouseau e o dono inebriado da maior processadora de proteína animal do mundo se gabando de planos para destruir o Executivo, temos dois exemplos de uma tendência destrutiva. A saúde das democracias depende de normas não escritas tanto quanto de leis. Quando figuras com poder político, legal ou econômico derrubam tabus de compostura, a mensagem para o público é clara. Na mesma semana em que o Inspector Janot fez sermão – “Ninguém está acima da lei” – ele foi flagrado no canto de um boteco com o advogado do homem que havia mandado prender. Violou a lei? Não. Desmentiu o próprio discurso? A resposta pode ser encontrada nas inevitáveis piadas que inspirou via rede social.

Três anos e meio depois do começo da Lava Jato, os brasileiros que enfrentaram a recessão provocada, em parte, por inúmeros acusados, terão razão de desconfiar do poder simbólico que se atribui à investigação. Se normas de conduta coletiva são sistematicamente canceladas entre poucos privilegiados, por que respeitá-las quando ninguém está prestando atenção?

BC não cita a atividade como risco para inflação | Alex Ribeiro

- Valor Econômico

Nível de ociosidade da economia deve evitar surpresas

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixou de incluir o ritmo de retomada da atividade econômica entre os fatores de risco que, caso se confirmem, podem fazer a inflação ter um comportamento diferente do previsto e provocar ajustes na estratégia para a taxa de juros.

O comunicado da reunião da semana passada do Copom, que cortou a taxa básica de 9,25% ao ano para 8,25% ao ano, listou dois riscos positivos que podem fazer a inflação cair abaixo dos 4,4% projetados para 2018 (uma eventual redução da inércia inflacionária e a possibilidade de a baixa inflação de alimentos e produtos industriais se espalhar para outros preços) e dois riscos negativos que poderão fazer a inflação subir além do esperado (uma falta de aprovação das reformas e a piora no ambiente internacional para as economias emergentes).

Nenhuma linha do comunicado, porém, foi dedicada ao risco de uma eventual frustração da retomada da economia baixar demais a inflação projetada ou de, ao contrário, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) ser muito forte e pressionar a inflação. Ambos vinham sendo citados em todos os documentos oficiais do Copom que descreviam o chamado balanço de riscos à inflação.

Na montanha-russa | Cida Damasco

- O Estado de S.Paulo

Abaloes em série na política ameaçam alívio na economia

Está aberta a temporada de revisões das projeções para o desempenho da economia. Os bancos e consultorias já se anteciparam e, logo depois do anúncio do crescimento de 0,2% no PIB do segundo trimestre, elevaram de 0,5% para perto de 1% a projeção para o ano. Na pesquisa Focus, o 0,39% da semana anterior já foi trocado por 0,5%. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, entrou no clima e, na sexta-feira, pelas redes sociais, afirmou que a economia entrará em 2018 com ritmo de expansão próximo de 3%, um ponto porcentual acima da previsão oficial para o ano, e poderá ir além disso em 2019 – e, embora não tenha se referido especificamente ao número fechado de 2017, deu a senha de que em breve ele também deverá ser alterado. Nada de espetacular, obviamente, mas acima das projeções que circulavam dentro e fora do governo. A inflação em queda livre, atingindo 2,46% nos 12 meses encerrados em agosto, e o juro básico em queda firme, chegando a 8,25% ano – a tal política monetária “estimulativa”, nas palavras do Banco Central, no comunicado do último Copom – alavancaram a rodada de revisões.

Prisão de delatores terá consequências graves, diz ministro da Justiça

Camila Mattoso | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Justiça, Torquato Jardim, 67, se diz "surpreso" com o que considera falta de preparo dos procuradores que fizeram a delação da JBS. Para ele, a prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud trará "consequências graves" para o caso.

Torquato assumiu o cargo em maio logo após as revelações feitas pelos delatores da empresa, o que levantou suspeitas de que poderia tentar influenciar a Lava Jato. Três meses depois, classifica a afirmação como "ridícula".

Em entrevista à Folha, ele confirma a mudança no comando da Polícia Federal, mas evita adiantar nomes.

Diz ainda ser "chocante" a descoberta dos R$ 51 milhões em dinheiro vivo em um "bunker" ligado a Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e Temer.

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Folha - Como o sr. avalia a prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud?

Torquato Jardim - Terá consequências graves para a credibilidade do processo. Razoável presumir que depoimentos e provas fiquem sob suspeição de manipulaç?o pelos agora presos. O MPF por certo será ainda mais cuidadoso e minucioso ao examinar os fatos e os documentos pertinentes

O senhor considera o caso da JBS como uma vergonha?

Não é uma vergonha. A delação é um instituto novo no Brasil. O que me surpreende é que haja vazamento. Isso quebra a dignidade do instituto. Outra coisa que não foi aprendida é a técnica de interrogatório. Basta ver cinema, que um interrogador experiente sabe ler os olhos, as narinas, a movimentação de boca, as carótidas, a respiração, tudo é indicativo de estado de espírito.
Não é possível, não seria razoável admitir, que esses dois delatores e outros mais tenham enganado tão bem tantos, tanto tempo. Agora foram pegos no tropeço. O triste, além de todas as consequências jurídicas para quem foi envolvido, é que a delação esteja sendo colocada em prática por pessoas que não se preparam para essa tarefa.

A questão é: haverá mais? | Carlos Melo*

- O Estado de S. Paulo

Os mandados de prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud são desdobramento natural da revelação dos diálogos entre os dois executivos. Não devem ser encarados como indício de mudanças nas regras para delações premiadas. O próprio acordo com o Ministério Público prevê suspensão, em caso de falseamento ou omissão de fatos. Ao que tudo indica, os novos prisioneiros omitiram detalhes importantes do relacionamento que mantinham com autoridades. As prisões são, portanto, “vida que segue”, sem surpresas; haverá, provavelmente, até justiça nelas.

Mesmo definido por um de seus protagonistas como “conversa de bêbado”, o áudio expôs uma estratégia que consistia em revelar alguns pecados e entregar peixes gordos da política, de modo a preservar executivos e empresas do grupo. Mas a confusão deixa uma questão: se, temendo ser presos, Batista e Saud disseram o que disseram, o que não falarão agora, se mantidos no calor pouco acolhedor dos presídios? Haverá mais?

Sobre a propalada "reforma política" em tramitação | Michel Zaidan Filho

Considerando a discussão do ajuste fiscal e a carta do projetos de privatização dos ativos públicos, parece que o tema da reforma política passou a ser também prioridade da pauta legislativo do Congresso Nacional. Sobre a reforma fiscal, a Câmara e o Senado parecem já ter autorizado a meta fiscal de um rombo de 159 bilhões no Orçamento Público para o ano que vem. O que parece contraditório com todo esforço e a retórica de "corte de gastos" do Governo Federal. Pelo visto a gastança pode ser tolerada quando se trata de despesas conveniente à manutenção do cargo do seu atual ocupante. E quem deve pagar por ela são os trabalhadores, os aposentados, os servidores públicos, os trabalhadores rurais, os indígenas brasileiros e o patrimônio da União. O segundo ponto é um crime de lesa-pátria que está sendo cometido por um governo desprovido de qualquer legitimidade e aprovação popular. Já intitulado por ex-aliado de "ladrão geral da República". Ele deve saber o que diz. Já a questão da Reforma Política, tem a ver com o Congresso Nacional.

Têm legitimidade os atuais deputados e senadores para promover uma reforma política? - Receberam da população brasileira esse mandato? Podem aqueles que vão se eleger, nas próximas eleições, mudarem as regras do jogo, na véspera do pleito eleitoral? É uma reforma política à la carte, conforme os interesses desses legisladores?

Inflação baixa e crescimento – Editorial | O Estado de S. Paulo

Quando a alta de preços perde impulso e se torna tolerável, o orçamento familiar fica mais saudável, o comércio se movimenta e os negócios, aos poucos, ganham vigor

Muito mais que um resultado bonito para ser comemorado e exaltado por economistas, a inflação baixa é hoje um combustível da recuperação brasileira. Ficou em 1,62% entre janeiro e agosto a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Foi a menor taxa acumulada nesse conjunto de meses desde o início do Plano Real, em 1994. Mas a importância da novidade vai muito além do registro estatístico. A inflação contida tem alimentado o consumo, principal motor da reativação, como confirmaram os números do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre. Quando os preços disparam, a renda familiar é devorada com rapidez pelos aumentos. O poder de compra dos consumidores diminui seguidamente e nenhum reajuste salarial basta para recompô-lo de forma durável. O desarranjo tende a espalhar-se por todo o sistema de produção e comercialização de bens e serviços. O desemprego é a consequência mais dolorosa. Quando a alta de preços perde impulso e se torna tolerável, ocorre o oposto - o orçamento familiar fica mais saudável, o comércio se movimenta e os negócios, aos poucos, ganham vigor.

Banco Central aproxima os juros da mínima histórica – Editorial | Valor Econômico

Depois de uma baixa acumulada de seis pontos percentuais nos juros básicos da economia desde fins de 2016, o Banco Central avisou na semana passada que, daqui por diante, tenderá a ir mais devagar - e já começa a preparar o mercado financeiro para um provável fim do ciclo de distensão monetária num futuro não muito distante.

Pode-se questionar se, em meio à recessão mais profunda da história e uma inflação tão baixa que ameaça furar o piso da meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) não deveria ter sido mais agressivo em trazer a meta da taxa Selic para os atuais 8,25% ao ano. No entanto, parece razoável que, ao conduzir os juros aos menores patamares da história, o BC redobre a cautela para evitar os erros do passado que obrigaram a reapertar a política monetária logo em seguida.

O comunicado divulgado pelo Copom logo após a reunião da semana passada, que baixou os juros em um ponto percentual, telegrafou que o corte da Selic do encontro de outubro será de 0,75 ponto percentual. Também indicou que, nessa reta final do ciclo de distensão monetária, a queda da taxa básica será em ritmo gradualmente menor. A mensagem mais importante do documento, porém, é o aviso de que a política monetária já entra em terreno estimulativo.

Nova oportunidade – Editorial | Folha de S. Paulo

Com o corte de um ponto percentual decidido pelo Banco Central, a taxa básica de juros chegou a 8,25% ao ano, o menor patamar desde 2013. É um resultado alentador, possibilitado pela rápida e surpreendente queda da inflação.

Menor pressão nos preços e a recuperação ainda lenta da economia devem permitir novas reduções. Projeções já apontam uma taxa na casa dos 7% nos próximos meses.

Abriu-se uma oportunidade para acelerar, sem riscos inflacionários, o crescimento do PIB. Não por acaso, o Banco Central salientou que a conjuntura recomenda uma política monetária mais estimulante por algum tempo.

É seguro dizer que a economia reagirá com mais vigor ao afrouxamento do torniquete financeiro que ainda aflige famílias e empresas.

Verifica-se, por exemplo, que as concessões de financiamentos para pessoas físicas estão em ascensão, alavancando o consumo. Nesse contexto, são mais otimistas as previsões para o PIB neste ano e em 2018 —já não se descarta alta de 1% e 2,5%, respectivamente.

Lições da vida real – Editorial | O Globo

O ECA foi contaminado pela mesma ideologia da Carta de 88, pela qual o Estado tutela a sociedade

Aprovado em 1990 sob o nome de Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ou Estatuto do Menor, de forma sucinta, é uma lei envolta em intensa polêmica, que se torna mais acesa em momentos de agravamento da crise de segurança pública, como agora. Há insanas reações em defesa de punições medievais de criminosos, menores de idade ou não.

São inaceitáveis, em qualquer sociedade civilizada. O que não significa deixar de debater a necessidade de uma adequação do ECA à realidade do país, e isso não vem de agora. Em todo este tempo, magistrados experientes dos Juizados de Menores não deixaram de comentar o que consideravam um equivocado desbalanceamento: o ECA estabelece muitos direitos aos jovens, mas poucos deveres.

O estrago causado pelo PT – Editorial | O Estado de S. Paulo

Desvios na Petrobrás são muito maiores que os detectados em auditorias anteriores; documentos mostraram o custo real de alguns equipamentos específicos da indústria de petróleo

A partir das provas obtidas pela Operação Lava Jato, auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) constataram que os desvios na Petrobrás são muito maiores que os detectados em auditorias anteriores. Em algumas obras, o prejuízo chega a ser 70% acima do cálculo anterior, revelou o Estado. É mais um passo na difícil tarefa de avaliar, em sua real dimensão, os danos causados ao País pela empreitada petista de tomar o Estado para seus fins particulares.

A revisão do valor dos danos baseia-se em informações obtidas com a quebra de sigilo de algumas empreiteiras investigadas. O TCU recebeu da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, do juiz Sérgio Moro, notas fiscais emitidas por fornecedores de materiais usados pelas empreiteiras nas obras da Petrobrás. Os documentos mostraram o custo real de alguns equipamentos específicos da indústria de petróleo, que antes não constava dos sistemas oficiais de pesquisa de preços consultados pelo tribunal. A comparação dos valores praticados no mercado com os previstos nos contratos deixou patente que o rombo era ainda maior.

Encontro casual?

Na véspera de Joesley se entregar, Janot encontra advogado do empresário em um bar de Brasília

Carolina Brígido, Eliane Oliveira e Igor Mello | O Globo

Na véspera de Joesley se entregar, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se encontrou com o advogado do empresário em um bar. Um dia antes de Joesley Batista se entregar à Polícia Federal, em São Paulo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se encontrou com o advogado do empresário, Pierpaolo Bottini, em um bar em Brasília. No local, os dois dividiram uma mesa, como mostra foto obtida pelo site “O Antagonista”, na qual Janot aparece de óculos escuros, sentado à mesa com Bottini, diante de uma garrafa e um copo de cerveja. O encontro ocorreu um dia depois de o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter expedido o mandado de prisão contra Joesley e outro executivo do grupo J&F, Ricardo Saud.

Tanto Janot quanto Bottini confirmaram terem estado juntos no bar, mas sustentaram que o encontro foi casual. Em nota, o procurador-geral da República disse ser cliente do estabelecimento: “Acerca da nota publicada pelo site O Antagonista, a Procuradoria-Geral da República esclarece que o procurador-geral da República frequenta o local rotineiramente. Não foi tratado qualquer assunto de natureza profissional, apenas amenidades que a boa educação e cordialidade prezam entre duas pessoas que se conhecem por atuarem na área jurídica”.

PCdoB articula aliança com DEM para manter-se no comando do Maranhão

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO LUÍS - À frente do único Estado comandado pelo PCdoB, o governador do Maranhão, Flávio Dino, articula uma ampla aliança com 12 partidos, entre eles o DEM, PSDB e PEN, para disputar a reeleição em 2018 e tentar vencer mais uma vez o grupo político do ex-presidente José Sarney (PMDB). Com o acordo, Dino poderá abrir palanque até mesmo para a candidatura presidencial do deputado Jair Bolsonaro (RJ) no Estado, caso o parlamentar se filie ao PEN.

O governador tem boa relação com o DEM do Maranhão e tem ajudado a fortalecer o partido no Estado. Entre as ações recentes está a negociação para filiar à legenda o ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), seu ex-secretário de Minas e Energia. José Reinaldo foi ministro no governo Sarney e um dos principais aliados do ex-presidente, mas rompeu com o grupo sarneysista e aproximou-se de Dino.

A proximidade do governador com o PSDB vem desde a eleição de 2014, quando os tucanos indicaram a vice na chapa de Dino, e manteve-se na atual gestão. Em 2018, o PSDB terá a "primazia" para indicar o vice na chapa, segundo o secretário estadual de comunicação e articulação política, Márcio Jerry. A vaga é cobiçada pelo PT, que se não puder compor a chapa ao governo reivindica o apoio do governador a um nome petista ao Senado.

O PT, no entanto, não está nos planos do governador para o Senado. O grupo de Dino deve escolher dois nomes entre três opções: José Reinaldo, Waldir Maranhão (PP) e Weverton Rocha (PDT), todos deputados federais.

Dino afirma que as conversas com o PEN começaram antes de o partido ter anunciado a possível filiação de Bolsonaro. A aliança deve ser feita mesmo se a candidatura do deputado à Presidência for confirmada.

Último discurso de Salvador Allende:11 Setembro de 1973

Quero |Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Roberta Sá / Martinho da Vila Me faz um dengo / Disritmia

domingo, 10 de setembro de 2017

Opinião do dia – Jürgen Habermas

Para os cidadãos democráticos, a política é único meio de influenciar intencionalmente, com uma ação coletiva, os destinos e os fundamentos sociais da existência de sua coletividade. Os mercados são, por outro lado, sistemas autocontrolados que coordenam de maneira descentralizada uma quantidade inabarcável de decisões singulares. Em uma consideração normativa, ambos são media que asseguram potencialmente a liberdade. Nesse aspecto, o Estado democrático de direito pode ser entendido também como a descoberta engenhosa que entrelaça as chances iguais de participar na autoinfluência coletiva da sociedade com a garantia de liberdades subjetivas igualmente distribuídas, de sorte que ambos os media podem se complementar em seus efeitos. Uma característica especifica da crise presente é a destruição dessa complementaridade.


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Jürgen Habermas (1929, é um filósofo e sociólogo alemão, “Na esteira da tecnocracia: pequenos escritos políticos Xll”, pp.176-7. Editora Unesp, 2014.

Tchau, Janot | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Lambança da delação de Joesley e companhia macula atuação de PGR e mina a Lava Jato

Há alguns meses escrevi uma coluna sobre como era difícil traçar uma linha condutora do comportamento de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria-Geral da República.

Aquele personagem tímido, quase secundário, que se encontrava fora da agenda com José Eduardo Cardozo e era alvo de desconfiança da força-tarefa de Curitiba se transmudou por ocasião da primeira lista do Janot, criou um grupo de trabalho que passou a se dedicar apenas aos processos de políticos com foro implicados na operação, afastou a fama de engavetador e teve seu ápice com a delação do núcleo da J&F, quando se transformou no arqueiro-geral da República.

A penúltima semana no cargo, no entanto, tratou de desconstruir essa última versão heroica de Janot. A lambança verificada justamente na mãe de todas as delações não macula apenas sua passagem pela chefia do Ministério Público Federal. Pior: constitui o maior ataque aos fundamentos da Lava Jato e fornece munição àqueles que tentam enfraquecê-la.

O fim próximo | Merval Pereira

- O Globo

O pedido de prisão preventiva de Joesley Batista, de seu assessor Ricardo Saud e do ex-procurador Marcello Miller é o desfecho natural de uma aventura de empresários que se aproveitaram do sistema capitalista selvagem e corrupto que estava instalado no país, à medida que os governos petistas, secundados pelo PMDB, institucionalizaram a propina como instrumento de decisões governamentais.

Embora seja reconhecido que o PT não inventou a corrupção na política brasileira, ele se aproveitou dela para montar um projeto de governo que fosse eterno enquanto durasse, e que durasse o máximo que fosse possível alcançar. O Estado brasileiro estava entregue a grupos corporativos e a empresas, como a J&F e a Odebrecht, que estivessem dispostas a jogar o jogo da maneira estabelecida pelos novos donos do poder.

Poder disfuncional | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Depositamos tantas esperanças em que o Judiciário dê um jeito no Brasil que perdemos de vista o fato de que ele é possivelmente o mais disfuncional dos Poderes da República e também tem sua parcela de responsabilidade na crise que vivemos.

Com efeito, contamos com juízes e promotores não só para identificar e punir empresários e políticos metidos com corrupção como também para suprir as muitas inoperâncias do Congresso. Estão na pauta do STF questões importantes como a laicidade do ensino público, a descriminalização do uso de drogas e do aborto, para citar apenas as mais candentes.

Um depoimento para a história que um dia se contará | Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

Antes que os engulhos da indignação te sufoquem, você fica tentando descobrir o que está a passar na cabeça de Palocci durante as tratativas para conseguir uma delação premiada e no depoimento a Moro, em que fulminou Lula, Dilma e o PT com vários megatons de flechas envenenadas.

Por que fez o que fez, falou o que falou e do jeito que falou? A pergunta ressoa em vários ambientes e análises, Por certo comporta muitas explicações.

Foi um depoimento sereno e calculado. O ex-ministro falou com calma, tentando ser preciso, relatou detalhes e conversas sórdidas, contou de sítios, apartamentos, propinas e vantagens ilícitas como se estivesse conversando com amigos numa mesa de bar. Só faltou sacar do bolso uma agenda com tudo anotado. Insinuou que poderá fazer isso, caso o juiz assim o deseje.

Mas Palocci não jogou conversa fora, como se faz em um papo de bar. Concatenou e amarrou tudo direitinho, para justificar o prêmio que almeja com a delação. Mostrou saber perfeitamente o que fazia e quem pretendia atingir. Não apresentou provas, mas pôs na mesa uma narrativa difícil de ser contestada. No centro dela, não pareceu haver o desejo de prejudicar quem quer que seja. Falou mais alto a voz do interesse próprio.

Banho de rio, cabeça fria | Fernando Gabeira

- O Globo

-LARANJAL DO JARI- Tenho viajado pelo interior do Amapá, divisa com o Pará, para conhecer melhor a região que Temer quer abrir às empresas mineradoras. Não estava satisfeito com o debate. É preciso ver de perto. Tenho falado com geólogos, pilotos extrativistas, garimpeiros, para ouvir suas opiniões.

Devo refletir um pouco sobre algumas experiências decisivas do Amapá. Uma delas foi a extração de manganês na Serra do Navio. A outra é o projeto Jari, do famoso Daniel Ludwig, que aconteceu a poucos quilômetros do lugar onde estou baseado. Elas deixaram um rastro de decepção.

Navegando num calor de rachar, vi algumas pessoas no rio, à sombra de uma árvore, apenas com a cabeça fora d’água. Invejei seu conforto. Gostaria de estar assim no momento em que escrevo sobre a semana no Brasil. É preciso muito sangue-frio para falar de alguns temas, como as Olimpíadas de 2016 e as malas cheias de dinheiro de Geddel Vieira Lima, ou mesmo os diálogos de Joesley Batista.

2018? | Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

Qual é a solução que estamos todos a ansiar? A volta de Dom Sebastião nas eleições

Dom Sebastião, rei de Portugal, foi sequestrado ou morto na batalha de Alcácer-Quibir em 1578, no norte da África. Séculos depois, ainda havia quem depositasse esperanças em sua volta para redimir Portugal.

Mensalão, Lava-Jato e a incontornável constatação de que o Brasil não é uma sociedade emergente rumo ao desenvolvimento, e sim um capitalismo de Estado, selvagem e de compadrio, com uma desigualdade intolerável e instituições porosas e permeadas pelo crime.

Tudo isso movido pelo patrimonialismo, personalismo e prevalência das lealdades de grupo sobre as leis que deveriam ser iguais para todos, como mestre DaMatta insistentemente explica nesta página de jornal que orgulhosamente compartilho periodicamente.

Aposta na reforma | Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Temer tenta andar duas casas na frente da oposição, aproveitando a oportunidade criada pela escandalosa gravação da conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud

O presidente Michel Temer reuniu ontem, para um almoço, uma espécie de estado-maior das reformas política e da Previdência: os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE); os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles: da secretaria de Governo, Antônio Imbassahy; da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco; da Justiça, Torquato Jardim; e da Integração Nacional, Hélder Barbalho; além do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que virou uma espécie de ministro sem pasta, como articulador de bastidores no Congresso.

Temer tenta andar duas casas na frente da oposição, aproveitando a oportunidade criada pela escandalosa gravação da conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud, sobre a atuação do ex-procurador Marcelo Miller nas negociações da delação premiada da JBS. O caso pôs na berlinda o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que tem apenas uma semana no cargo para fazer a tão anunciada segunda denúncia contra Temer, baseada na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. Janot corre o risco, porém, de ver a primeira denúncia, já rejeitada pela Câmara, ser anulada pelo Supremo Tribunal Federal (ST¨F), o que significará uma espécie de saída pela porta dos fundos da Procuradoria-Geral.

Passo maior do que a perna | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

No sábado, dia 2 de setembro, houve manifestação de cientistas e professores universitários contra o contingenciamento do governo Temer aos recursos da educação universitária e da ciência brasileira em geral.

O que talvez os cientistas e professores universitários não saibam é que o gasto do Ministério da Educação (MEC) cresceu a taxas elevadíssimas de 2008 até 2014. Esse enorme crescimento, muito acima da expansão da economia e muito acima da capacidade fiscal do Estado brasileiro, explica a atual crise no setor.

Entre 1999 e 2008, o crescimento do pessoal ativo foi de 2.500 contratações por ano. Esse número elevou-se para 13.600 para o período entre 2009 e 2014. O ritmo anual de contratação do MEC multiplicou-se por cinco!

Erros de análise | Míriam Leitão

- O Globo

A semana passada terminou com sinais ainda mais contraditórios do que o normal nesta conjuntura brasileira. A bolsa só não bateu seu recorde histórico por causa do Irma, mas tem subido com os nossos furacões. As análises equivocadas no mercado financeiro são de que o autogrampo de Joesley enfraquece a PGR e que isso fortalece o presidente Temer, o que pode levar à aprovação de reformas.

A economia só vai se fortalecer de forma sustentada quando o país tiver um quadro político estável decorrente do sucesso no combate à corrupção. E um governante tão dependente, para permanecer no poder, dos lobbies e grupos de interesse não fará reformas consistentes. Ainda andamos sobre os escombros produzidos por essa luta intensa na qual o Ministério Público e o Judiciário estão no papel central, além da Polícia Federal.

Era para ser uma semana política enforcada, com o feriado da independência na quinta-feira, mas foi mais uma de revelações sobre o tamanho do fosso em que nos encontramos. Um apartamento com R$ 51 milhões com as digitais do ex-ministro de Lula e Temer, Geddel Vieira Lima, o notório Geddel; a divulgação de conversa sórdida do empresário Joesley Batista; o depoimento de Antonio Palocci contra os ex-presidentes Lula e Dilma foram alguns dos espantos da semana. Como começou-se a revisão do acordo do JBS, após a divulgação dessa conversa entre Joesley e seu executivo Ricardo Saud, algumas análises sustentaram que Temer, acusado com base nas delações dos dois, estaria mais forte.

Falta o longo prazo. O ajuste é só o começo | Rolf Kuntz*

- O Estado de S. Paulo

É preciso repensar o BNDES. O banco pode fazer mais que alimentar Joesley & Cia.

Com pouco dinheiro e muito gasto, o governo sua para fechar as contas deste ano, mas tem de cuidar do cenário para um bom final em 2018 – sem vaias e, se possível, com algum aplauso. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já fala em elevar as projeções de crescimento, animado, talvez, pelos sinais mais claros de reativação da indústria. A inflação baixa e a perspectiva de mais algum corte de juros, talvez para 7,5%, também são bons augúrios. Se os fatos confirmarem seu otimismo, a receita de impostos deverá aumentar. Isso facilitará a arrumação das contas públicas no resto de mandato do presidente Michel Temer, se nenhuma flecha mais perigosa abreviar esse período. Não se pagam contas com otimismo, no entanto, e por enquanto relaxar é muito perigoso. O desafio básico ainda é manter o saldo de receitas e despesas dentro do novo limite fixado para 2017 e para 2018, um déficit primário de até R$ 159 bilhões em cada exercício.

Gastar mais, sem medo de ser feliz? | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Um governo endividado de um país em recessão pode aumentar gastos a fim de estimular a economia, sem que o remédio provoque efeitos colaterais ainda mais daninhos? Isto é, sem que provoque aumento das taxas de juros, de preços e da própria dívida?

Sim, segundo bom estudo baseado na história de 20 países ricos, de Alan Auerbach e Yuriy Gorodnichenko, da Universidade da Califórnia (Berkeley), publicado em agosto ("Fiscal Stimulus and Fiscal Sustainability").

A conclusão se aplica ao Brasil ou a países assim complicados? Os autores não tratam do assunto e fazem ressalvas quanto a usar seus resultados como panaceia, mas o trabalho alegrou muito economista brasileiro crítico da política econômica, em particular heterodoxos e adeptos do estímulo fiscal (gasto público).

A chance de Lula ser candidato é próximo de zero, diz cientista político

Germano Oliveira | IstoÉ - Edição 07.09.2017 - nº 2491

O cientista político Antonio Lavareda, de 66 anos, já foi consultor de 91 campanhas eleitorais. Presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), do Recife, Lavareda escreveu também dezenas de livros sobre marketing eleitoral. Em entrevista à ISTOÉ, ele diz que, faltando um ano para as eleições, ainda é prematuro definir o quadro, mas de uma coisa tem certeza: Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, nem deverá ser candidato. “A probabilidade disso acontecer é próxima de zero”. Sem o ex-presidente no páreo, a esquerda se dividirá entre vários candidatos, como o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT). Marina Silva (Rede) pode crescer, enquanto que o deputado Jair Bolsonaro, atualmente em segundo nas pesquisas,“vai se desidratar”. Resta, então, saber se os partidos de centro, como PSDB, PMDB e DEM, vão se unir ou se seguirão divididos. Unidos, podem chegar ao segundo turno e ganhar. O problema é que o prefeito João Doria e o governador Geraldo Alckmin travam uma luta fraticida pela vaga do PSDB. Lavareda acha que a melhor solução seria a realização de prévias entre os dois.

Como o senhor vê o grande descrédito da população em relação aos políticos? É tudo por conta da Lava Jato?

A Lava Jato, na verdade, é apenas o acelerador moral específico no nosso processo de crise de representação. Além de afetar os partidos, agora fatores como a globalização e a tecnologia produzem, a cada dia, maior distanciamento entre os cidadãos e as instituições em todos os níveis, enfraquecendo a arquitetura democrática no seu pilar básico que é a confiança.

Pesquisa feita recentemente pelo Instituto Ipsos mostra que a desaprovação às autoridades atinge indiscriminadamente os políticos que estão no poder, como o presidente Michel Temer, mas também os principais candidatos a presidente. Isso mostra que falta esperança também em relação ao futuro?

Nós, brasileiros, queremos identificar uma lanterna na proa e um timoneiro seguro e confiável para nos levar adiante, ao menos para além da zona do redemoinho. Predominam na sociedade sentimentos de ansiedade, incerteza e até desânimo. Descrédito e desesperança elevados, alimentando um certo rancor amplamente disseminado. E algumas benquerenças da bagagem afetiva dos entrevistados, adquiridas pelo filtro da mídia. Nada nos diz sobre o futuro, nem poderia dizer com uma única questão. A cartomancia das pesquisas está longe de poder ser tão resumida.

O custo Janot – Editorial | O Estado de S. Paulo

A atuação descuidada do sr. Rodrigo Janot vai muito além dos efeitos sobre as pessoas envolvidas na corrupção da JBS

Na segunda-feira passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, admitiu aquilo que o Brasil já sabia há um bom tempo: a existência de fatos gravíssimos envolvendo a delação da JBS. Imediatamente após a declaração de Rodrigo Janot, surgiram especulações sobre os possíveis desdobramentos do reconhecimento oficial de que a delação da JBS não era exatamente aquele rosário de virtudes que o procurador-geral da República insistia em apregoar. Uma vez mais o País se via enredado em questões sobre o futuro de suas autoridades e de suas instituições. E ninguém deixou de perceber como está saindo cara ao País a atuação açodada do sr. Rodrigo Janot.

Desde a divulgação da delação da JBS em meados de maio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) foi questionada por conceder tão generosa imunidade ao sr. Joesley Batista. Além de ser uma clara afronta à lei – que proíbe esse benefício aos líderes de organização criminosa (Lei 12.850/2013, art. 4.º, § 4.º, I) –, a indulgência parecia confirmar a velha sina da impunidade para os ricos e poderosos, num inequívoco sinal de que o crime ainda estava compensando. Era um banho de água fria em tantos brasileiros que julgam ter surgido, nos últimos anos, uma Justiça mais efetiva.

O árduo e longo trabalho de reconstrução – Editorial | O Globo

O trabalho de desmonte do equilíbrio nas contas públicas foi extenso e meticuloso, uma obra compartilhada entre o presidente Lula, a partir do final do seu segundo mandato, e sua ministra da Casa Civil e sucessora, Dilma Rousseff, economista de formação, ex-guerrilheira, brizolista de coração. No primeiro mandato, Lula se curvara ao bom senso, e o que prometeu na campanha, em 2002, fez: manteve o “tripé” (câmbio flutuante, meta de inflação, gastos sob controle), instalado pelo antecessor FH, a partir de 1999. Colocou no Ministério da Fazenda o médico Antonio Palocci, ex-prefeito petista de Ribeiro Preto, um político hábil. Escalou no BC o tucano Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston mundial, e permitiu que o segundo escalão da área econômica fosse ocupado por competentes técnicos “neoliberais”.

Não poderia deixar de funcionar. O choque cambial que soltou as amarras da inflação já na campanha, devido ao temor da sociedade diante do risco Lula, foi contido no início do mandato por meio dos instrumentos clássicos (juros altos e gastos contidos), para gana da militância petista. A estabilização da economia, pelo receituário indicado, permitiu que o país aproveitasse minimamente um ciclo de crescimento mundial sincronizado, muito devido à expansão chinesa. Por isso, as commodities dispararam, o Brasil passou a ser credor do FMI e Lula, “o cara”. Sua popularidade foi às nuvens.

Mundo de muros – Editorial | Folha de S. Paulo

O século 20, com suas guerras mundiais e os conflitos que semearam, deixou muitas cicatrizes sobre a face da Terra. Entre elas, o famigerado Muro de Berlim, cuja demolição marcou o fim da Guerra Fria e o suposto final da história.

A história não termina, contudo. Novos e gigantescos muros continuam a ser erguidos, com alturas e extensões suficientes para deixar na sombra a barreira à liberdade erguida na capital alemã, que existiu por 28 anos.

A proliferação desses obstáculos a apartar pessoas e comunidades motivou a série de reportagens "Um Mundo de Muros". Publicada por esta Folha em sete partes, a partir de junho, a suíte multimídia reuniu um mosaico desconcertante de cenas de segregação.

Uma dessas feridas começou a se abrir com o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial, e ainda está muito viva em Israel.