quinta-feira, 14 de junho de 2018

Entrevista com Luiz Werneck: O terremoto de Junho de 2013 foi sufocado e não oxigenou a política brasileira.

O “terremoto” de Junho de 2013 não foi capaz de propiciar mudanças substanciais na sociedade brasileira. “A sociedade ficou igual, o governo e o legislativo não providenciaram mudanças, e tudo isso terminou no impeachment, como uma derivação natural, uma falta de reação a um grande sinal de que algo precisava mudar”, avalia o sociólogo Luiz Werneck Vianna na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line, ao fazer um balanço das manifestações que ocorreram cinco anos atrás.

Apesar de as jornadas de 2013 terem expressado o desejo por uma mudança na política, com o slogan “Vocês aí em cima não nos representam; queremos uma outra política”, a mensagem não foi compreendida à direita e à esquerda, ao contrário, as manifestações assustaram os governantes, que sufocaram as possibilidades de oxigenação da política. Essa reação, adverte, “levou a um distanciamento ainda maior entre partidos e a sociedade, e a uma indiferença, sobretudo da juventude, em relação à política”, porque “não se aproveitou aquele movimento que vinha de baixo, com tanta intensidade, para renovar o sistema político, para oxigená-lo. Abafou-se a força daquele movimento e o resultado disso foi o enfraquecimento da política, dos partidos e do fenômeno político enquanto tal”, resume.

A principal consequência de Junho de 2013, na avaliação do sociólogo, foi uma mudança de rota política, com o fim do governo Dilma e a introdução de uma nova lógica na condução da política econômica, “uma política econômica para a qual não estávamos preparados”. “Isso significa uma ruptura, um afastamento e uma distância muito grande com a política centrada no Estado, com a qual vivemos desde 1930. Nós estamos vivendo agora uma nova configuração do Estado-Sociedade sem que a sociedade tenha pensado nisso, esteja querendo isso. Aliás, há candidatos que preconizam a volta do status quo anterior, quer dizer, a volta à experiência do governo de Dilma Rousseff, que foi uma experiência desastrosa para o país, com desemprego e inflação altíssimos”, menciona.

Cinco anos após as manifestações, Werneck pontua que o país vive “um momento de possibilidade efetiva de os sindicatos lutarem por mais igualdade entre capital e trabalho e por mais igualdade na vida social. Essa é a mudança mais importante que temos à nossa frente para realizar. Ela depende de os setores subalternos começarem a se auto-organizar e a lutar por seus direitos no sentido de diminuir o padrão de desigualdade da sociedade brasileira. Isso leva ao conflito, leva à luta. É para essa luta que temos que nos preparar. O Estado não vai trabalhar – e nem tem como – para que a igualdade social ou políticas de igualdade social se estabeleçam. Isso tem que ser feito pelos próprios interessados: os trabalhadores. É essa pequena reflexão que temos que fazer quando pensamos nas possibilidades que estão abertas para a democracia brasileira”, conclui..

Confira a entrevista:

IHU On-Line — Que balanço faz de Junho de 2013, cinco anos depois?

Luiz Werneck Vianna — As sociedades democráticas, quando conhecem pequenos abalos, têm mecanismos de sintonia com eles e mudam, procuram identificar a fonte desses abalos e mudam. Quando uma sociedade não é tão democrática assim, nem um terremoto como aquele foi capaz de propiciar mudanças: a sociedade ficou igual, o governo e o legislativo não providenciaram mudanças e tudo isso terminou no impeachment, como uma derivação natural, uma falta de reação a um grande sinal de que algo precisava mudar. E como esse sinal grande não foi registrado, metabolizado e assimilado, entramos numa descendente que terminou no impeachment, que é sempre um processo doloroso, que deixa marcas, as quais estamos experimentando agora.

*José Serra: Retomar os trilhos do desenvolvimento

- O Estado de S.Paulo

Um novo arcabouço regulatório amigável ao investimento privado em ferrovias é preciso

“Correndo vai pela terra/ vai pela serra/ vai pelo mar”
Ferreira Gullar

A nossa cultura está impregnada do simbolismo das estradas de ferro. Para ficar apenas na música, Villa-Lobos legou-nos o belíssimo Trenzinho do Caipira – a toccata da Bachiana n.º 2 –, que ganhou letra de Ferreira Gullar. Milton Nascimento e Lô Borges compuseram inesquecíveis canções com a temática.

Essa fascinação, porém, contrasta com a pouca importância histórica dada pelo Brasil ao transporte ferroviário. Somos um país continental que escoa sua produção preferencialmente pelas rodovias. Trata-se de uma distorção que há muito nos traz custos conhecidos. E riscos até há pouco insuspeitados.

Essa grave deficiência é o resultado de erros e omissões que se prolongaram por várias gerações. Temos a sétima economia do mundo, mas estamos na 88.ª posição no ranking global ferroviário, segundo o Fórum Econômico Mundial.

De fato, o Brasil relegou o transporte ferroviário a um papel secundário. Circunstâncias recentes novamente chamaram a atenção dos brasileiros para esse erro histórico. Está mais claro do que nunca que é preciso expandir e modernizar o nosso parque ferroviário. Para tanto temos de elaborar previamente alternativas viáveis – do ponto de vista técnico e econômico – que promovam ganhos de eficiência na rede já existente e sua expansão.

Roberto freire: Um grande passo para a unidade

O polo democrático e reformista deve ter o claro compromisso de dar seguimento ao resgate da dívida social.

Na terça-feira passada (05/06), na Câmera dos Deputados, partidos e personalidades do campo democrático assinaram um manifesto em prol da unidade em torno de um programa democrático e reformista.

Discursei em nome do PPS (Partido Popular Socialista).

A iniciativa é, em si mesma, alvissareira. O desejo da unidade é, sem dúvida, seu primeiro motor e alicerce.

Definimos o campo democrático como aquele que tem como bases a democracia, a república e a obediência à Constituição Federal.

Excluem-se o bolsonarismo e o lulopetismo.

Esses dois campos, um na ultradireita, outro no populismo totalitário de esquerda, opõem-se às normas e ritos constitucionais e deles derivados, flertam com saídas à margem da democracia para a imposição à sociedade de seus propósitos políticos e ideológicos.

Tivemos há poucos dias a demonstração cabal da simbiose objetiva entre esses dois campos extremistas, na greve/locaute dos caminheiros.

Ambos atuaram para desestabilizar a democracia e criar um clima de confronto na sociedade, que geraria incertezas sobre a realização das eleições gerais em 2018.

O baixo crescimento econômico, o desemprego, a crise acentuada dos sistemas de saúde pública, educacional, da segurança pública e dos transportes, dentre outros, são o caldo de cultura para a desesperança e para o cultivo de aventuras totalitárias, à direita e à esquerda.

O polo democrático e reformista deve ter o claro compromisso de dar seguimento ao resgate da dívida social.

A democracia e a república têm de ser o ambiente onde melhoram perceptivelmente as condições de vida do conjunto da população.

Hamilton Garcia: A evolução da esquerda (II)

A submissão do PCB ao radicalismo militar-popular prestista-stalinista — vide artigo anterior — arrastou não só os comunistas, mas o conjunto do movimento democrático (ANL) e sindical a uma profunda depressão, depois da derrota do levante de 1935 e da onda repressiva que se seguiu, abortando a maré montante da nova sociedade civil após o fim da hegemonia oligárquica sobre o Estado, em meio a uma crise econômica internacional (Grande Depressão) e à frustração popular com os rumos da Revolução de 1930 — já sob a égide da Constituição de 1934, a primeira constituição democraticamente produzida no país, não obstante o veto à participação eleitoral do PCB.

O retrocesso aplainou o terreno para a formação de um poderoso bloco conservador que desembocaria no golpe militar-varguista de 1937, permitindo que o processo de modernização passasse à direção da direita, concentrando o poder de Estado nas mãos de Vargas e seus aliados em benefício de uma acumulação nacional-capitalista acelerada sem a participação independente da sociedade civil trabalhadora — incluído seus extratos médios —, aprisionada em formas paraestatais de associativismo sindical e cultural.

O Estado Novo permitiu a Vargas, a um só tempo, desimpedir o caminho para o capitalismo de Estado brasileiro neutralizando tanto a oposição sindical, quanto o empecilho integralista (AIB) a um pacto amplo de alianças em torno do desenvolvimento. Ao franquear livre acesso ao poder — via ministério do Trabalho e Justiça do Trabalho — aos grupos sindicais moderados, dispostos à barganha com políticos e patrões em troca de privilégios e concessões trabalhistas, Vargas dificultou também o acesso da esquerda ao movimento operário. Aos comunistas, desarticulados e isolados, sobrariam poucas alternativas, tendo prevalecido aquela de tentar recuperar prestígio social ocupando a margem esquerda das concessões do varguismo ao movimento trabalhista (populismo), o que os conduziu a abandonar a extremada oposição e aderir ao queremismo — campanha pela continuidade do Governo Vargas em meio às pressões pela redemocratização e pela constituinte em 1945.

A manobra tisnaria a imagem de Prestes, cuja mulher, Olga Benário — agente da IC no levante de 1935 —, havia sido deportada por Vargas para a Alemanha grávida de uma filha sua, sendo morta em seguida pelos nazistas em um campo de extermínio, sem produzir os resultados esperados e ainda reforçando as desconfianças acerca das intenções totalitárias do PCB.

Mesmo assim, frustrada a manobra queremista pelo golpe civil-militar de 1945, os comunistas lograram obter a ansiada legalidade, não obstante a manutenção do impedimento à liberdade (inter)sindical, e alcançar uma consagradora votação que os colocaria na quarta posição eleitoral em âmbito nacional, sustentando a mensagem da união nacional; que mais refletia a conveniência internacional de um período de paz pera a reconstrução da URSS, do que uma nova estratégia democrática para o socialismo. Logo, o recrudescimento das tensões internacionais (Guerra Fria) e as pressões reacionárias pela contenção dos movimentos sociais – inclusive pelo PTB, interessado no espólio eleitoral do PCB e em eliminar sua concorrência sindical – colocaria por terra a moderação comunista.

Maria Alice Setubal: Um pacto pela democracia

- Folha de S. Paulo

É preciso reafirmar diálogo e tolerância na política

A greve dos caminhoneiros gerou uma crise sem precedentes no país, extrapolando as questões específicas do movimento para atingir não apenas o abastecimento de combustível, mas a vida econômica, social e política das pessoas.

Em um momento em que o desemprego cresce, a economia não se recupera de acordo com as expectativas, os níveis de violência aumentam e a descrença nos políticos permanece alta, as demandas por opções autoritárias se confundem com iniciativas erráticas e desordenadas por diferentes grupos da sociedade.

Essa crise parece se conectar com os movimentos de junho de 2013, nos quais as pautas por serviços públicos de qualidade, especialmente em educação, saúde e transportes, acabaram não sendo ouvidas por nossos governantes.

A partir desse movimento, grupos de diferentes matrizes ideológicas retomaram o espaço público como local de manifestações políticas, tanto conservadoras como progressistas, gerando uma acirrada luta por posicionamentos que desaguaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e em uma sociedade cindida. Nas redes sociais, ódios, ressentimentos e frustrações dominam e geram a falta de diálogo, de escuta e de respeito.

Ao mesmo tempo, a sociedade brasileira mudou bastante nos últimos 20 anos, ao começar a enfrentar questões como o racismo e se movimentar diante de uma visão de que já temos uma democracia racial estabelecida e de que somos um povo pacífico e cordial.

Demos alguns passos nesse sentido com a política de cotas, e os diferentes incentivos promoveram o acesso a cursos de ensino superior a um número expressivo de jovens oriundos de famílias pobres e negras, promovendo a oportunidade de participação e a representação em diferentes espaços da sociedade. As redes sociais promoveram o encontro entre diferentes vozes, pensamentos e construções antes desconhecidos para alguns, vindos, muitas vezes, das favelas e periferias. Ainda há muito a ser feito.

Diante de um país mais amadurecido, mas em crise, estamos numa encruzilhada em que precisamos assumir o protagonismo. As respostas não serão apresentadas apenas pelos governos, que, sem dúvida, têm um papel fundamental na implementação de políticas públicas.

Empresas, organizações da sociedade civil, cidadãos, organizações religiosas e políticas são essenciais na construção de um novo momento.

Na busca desse protagonismo, situa-se o Pacto pela Democracia, assinado por mais de 60 organizações da sociedade civil que, para além de suas diferenças, compartilham o desafio de avançar como uma sociedade plural, reafirmando o compromisso com as regras democráticas, com os valores e fundamentos expressos na Constituição Federal.

William Waack: Desinteresse fatal

- O Estado de S.Paulo

Desânimo com a política e pouco interesse pelo futebol se espelham, mas não se explicam

Ouvi a vida inteira uma frase sobre a política no Brasil, especialmente em época de Copa do Mundo: “Se as pessoas se interessassem menos por futebol, as coisas seriam diferentes”. Pois bem, pela primeira vez desde que existem pesquisas de opinião a maioria da população no Brasil diz que nem sequer se interessa pelo maior evento esportivo do planeta. Parece razoável supor que as coisas tenham mudado na política brasileira. Em qual direção?

Sou da geração que entrou na universidade em 1971 e que viveu uma situação quase esquizofrênica: como torcer para um time tão maravilhoso como o de 1970 se a paixão pelo futebol era vista por nós, estudantes engajados em política, como um alicerce do regime militar? Tínhamos a ideia, por sinal tão arraigada sobretudo nos países comunistas, que a paixão pelo esporte cria identificação com o regime político (a ponto de lhe conferir legitimidade). Portanto, vitórias ou derrotas influenciariam diretamente disputas políticas. Como eleições, por exemplo.

Demorou para os comunistas entenderem que medalhas olímpicas (só a Hungria comunista chegou perto de conquistar um mundial de futebol da Fifa – alguns dizem que foi a derrota na final de 1954 que impulsionou a revolução de 1956, mas não há provas...) não salvariam seus regimes. Assim como demorou para nós entendermos aqui no Brasil que o fato do nosso time levantar o caneco não garante ou não condena candidato algum. FHC e Lula que o digam. Então, como é que o futebol mexe com a política?

Os economistas mencionam frequentemente o “feel good factor”, segundo o qual a percepção por parte de consumidores da situação econômica ao seu redor, mais irracional do que qualquer outra coisa, condiciona de alguma maneira comportamentos políticos. Ganhar uma Copa faz esquecer desemprego, por exemplo? Ou inflação? Acredito que não. Acho que não é tanto a vitória ou derrota nos jogos em si que nos diz alguma coisa sobre o “clima” político mas, sim, a forma como nossa sociedade evoluiu na dedicação a esse jogo.

Neste sentido, é possível detectar grosso modo uma transformação que mantém paralelos com o que está acontecendo na política. Torcer pela seleção em época de Mundial era um acontecimento compartilhado. Havia uma espécie de solidariedade em pintar as calçadas, as caras, decorar as janelas – um “fervor” que correspondia (embora totalmente fútil, admito) a um tipo de “esperança”.

Onde vejo hoje uma correlação entre futebol e a situação política é na ausência de “heróis” (no caso do PT, o “herói” Lula tem mais a ver com a veneração com que seitas tratam seus guias). Depois de muitos anos na reportagem reluto em acolher teses de causa/efeito mecânicas, por isso não consigo afirmar que o desânimo com a política explica em parte o desinteresse pelo futebol (onde antes era tão vibrante) e vice versa. Mas não consigo ignorar que um é o espelho do outro.

Maria Cristina Fernandes: A praia de Bolsonaro

- Valor Econômico

Discurso é para casamento de jacaré com cobra d'água

Em quem você vai votar pra presidente? Questionados assim, na bucha, sete em cada dez brasileiros, dizem que não sabem ou que não vão votar. Outros dois vão se dividir entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. O que resta está pulverizado. Este é o voto que gente de pesquisa de opinião chama de espontâneo. A essa altura, sem campanha formal na rua, é o dado mais valioso de uma pesquisa porque traduz o voto, de fato, consolidado. Lula vem caindo no quesito e Bolsonaro, crescendo. A única novidade do último Datafolha é que o deputado do PSL, pela primeira vez, ultrapassa Lula, ainda na margem de erro. Entre os votos espontâneos, tem 12%, dois pontos percentuais a mais que o petista. Os alheios somam 69%. Dez pontos pingam nos demais candidatos.

O avanço tira a eleição de Bolsonaro do reino da fantasia. Como o Brasil não imprime dólar, não haverá com quem dividir a conta do espetáculo. Quem preferir esquecer o que ele fez nos verões passados, a temporada que agora se inicia é farta em evidências de que o tempo ameaça fechar. Compõe a trilha sonora perfeita para o casamento de jacaré com cobra d'água não fosse o discurso de um candidato a presidente da República que nada de braçada.

Na primeira das sabatinas, durante da Marcha dos Prefeitos, foi perguntado o que faria para lidar com o déficit de saneamento no país. Valeu-se do economista Paulo Guedes para desintermediar os recursos até chegar no que lhe pareceu ser o coração de seu raciocínio. "Não estou autorizado a dizer isso", afirmou, sem explicar a quem está subordinado, "mas gostaria que o Brasil tivesse um programa de planejamento familiar. Um homem ou uma mulher com educação dificilmente vai querer ter um filho a mais para engordar o programa social dele".

Bruno Boghossian: Ações em baixa

- Folha de S. Paulo

Insatisfeitos com ex-ministro, aliados do presidente cobram mudança em campanha

Até Michel Temer começa a perder o ânimo com a candidatura de Henrique Meirelles a sua sucessão. Nos últimos dias, o presidente recebeu uma fila de ministros, senadores e deputados do MDB que defendem a retirada do ex-chefe da Fazenda da corrida ao Planalto.

A entrada de Meirelles na disputa era uma empreitada de baixo custo e baixas expectativas. O grupo de Temer acreditava que o ex-ministro serviria apenas como um polo de defesa do governo, em uma eleição marcada pelo descontentamento.

Sem experiência política, porém, Meirelles tem demonstrado pouca habilidade para esse papel. Até agora, apareceu com 1% nas pesquisas, não encaixou um discurso convincente sobre a recuperação da economia e dedicou poucos esforços à tarefa acessória de evitar que Temer se torne um saco de pancadas.

Aliados do presidente consideraram “desastrosa” a entrevista do ex-ministro no programa “Roda Viva” de segunda (11). Confrontado com o fato de que o PIB anda em marcha lenta, Meirelles ativou sua cabeça de banqueiro, elencou uma porção de números e mencionou só de passagem o recado de que conseguiu tirar a economia do buraco.

Bernardo Mello Franco: A terceira vez de Marina

- O Globo

Marina Silva disputará sua terceira eleição presidencial pelo terceiro partido diferente. Desta vez, ela não conseguiu fechar nenhuma aliança e corre o risco de ficar com apenas 12 segundos na TV. Mesmo assim, tem demonstrado fôlego para lutar por uma vaga no segundo turno.

De acordo com o Datafolha, a ex-senadora mantém 15% das intenções de voto nos cenários sem Lula. Só está atrás de Jair Bolsonaro, que lidera com 19%. Nas simulações de segundo turno, as posições se invertem. Marina vence o ex-capitão com folga, por 42% a 32%. Ela também aparece bem à frente no confronto direto com Ciro Gomes e Geraldo Alckmin.

A pesquisa animou a turma que vê a ambientalista como um bote salva-vidas em caso de naufrágio do tucano. A opção Marina tem simpatia declarada do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também empolga empresários e investidores desiludidos com o candidato do PSDB.

Na Era FH, Marina usava a tribuna do Senado para atacar os bancos, criticar as privatizações e pregar o calote da dívida externa. Ela chegou a votar contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2010, beijou a cruz do mercado ao concorrer ao Planalto pelo PV. Para sacramentar a guinada, escalou um empresário como vice e entregou o caixa de campanha a um ex-presidente do Citibank.

Os dois colaboradores se afastaram, mas Marina não desistiu da guinada liberal. Agora ela tenta reforçar suas credenciais com a ajuda de economistas como André Lara Resende e Eduardo Giannetti da Fonseca.

Apesar do flerte com o andar de cima, Marina exibe desempenho melhor entre eleitores mais propensos a votar no PT. Segundo o Datafolha, ela supera Bolsonaro entre os mais pobres (17% a 13%) e menos escolarizados (16% a 11%). No grupo dos mais ricos, despenca para a quinta posição, com apenas 3%.

Com Lula na cadeia, a ex-senadora larga na frente na disputa pelo seu espólio político. Mas esta transferência pode ser barrada durante a campanha, quando o eleitor for lembrado de seu apoio a Aécio Neves, ao impeachment de Dilma Rousseff e à prisão do ex-presidente.

Maia diz que aliança mais provável é com o PSDB

Raymundo Costa e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Pré-candidato do Democratas ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acha que é mais provável uma aliança do DEM com o PSDB ou Podemos, na hipótese dele desistir em favor da união do centro político. O PDT "é a maior probabilidade do DEM? Claro que não é. Mas se criamos este ambiente chamado centro, que nunca existiu, se a gente restringe o diálogo a A, B ou C não é mais centro", disse o deputado na Abertura do ciclo de debates com os presidenciáveis promovido pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), em Brasília.

Já no sábado o deputado havia declarado que vê maior afinidade política entre o DEM e o candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) que entre o seu partido e o PDT do pré-candidato Ciro Gomes. Em Santa Catarina, onde esteve ontem, Alckmin afirmou que respeita a candidatura de Maia, mas que deseja a união das siglas do centro. Alckmin e Maia tinham encontro previsto pra ontem à noite, em Brasília.

A declaração de Alckmin foi bem recebida por Maia, que fez referência a ela no encontro da Abert. Além da conversa entre os dois, outro anúncio feito ontem sinaliza para uma reaproximação entre PSDB e DEM - o Democratas vai indicar o candidato a vice-governador na chapa encabeçada por João Doria, candidato tucano.

"É natural que a gente tenha mais condições de diálogo com o governador Geraldo Alckmin, com o senador Alvaro Dias, mas não significa que a gente não possa conversar com PDT, PCdoB, etc", disse Maia.

O pré-candidato foi enfático ao dizer que está efetivamente disposto a sentar à mesa com Alckmin e o pré-candidato do Podemos, Alvaro Dias - que não se considerar propriamente de centro-direita nem de esquerda -, se houver condições reais de uma aliança. "O momento é de menos radicalização, menos ódio e mais diálogo", disse.

‘DEM é tudo que queremos’, diz Alckmin

Marcelo Osakabe, Daniel Weterman e Igor Gadelha | O Estado de S. Paulo.

O ex-governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, voltou a cobiçar o apoio do DEM a sua candidatura. “É tudo que queremos”, disse quando questionado sobre o andamento das negociações com o partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também presidenciável.

O tucano, que enfrenta um clima de descrença sobre sua viabilidade eleitoral entre aliados e membros do próprio partido, minimizou atritos com lideranças do PSDB. “Está muito bem (a situação com o PSDB). Aliás o Fernando Henrique Cardoso está nos ajudando muito até nessas articulações com os outros partidos”, disse, acrescentando que quatro legendas já estão com acordos encaminhados. Alckmin frisou, no entanto, que a legislação mudou e os anúncios devem ser feitos apenas no final de julho. “Esse período agora é para percorrer o Brasil, ouvir, conhecer e sentir os problemas.”

Ontem, Maia afirmou que “está claro” que o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) não é a primeira opção de aliança dos partidos do chamado Centrão na disputa presidencial, mas ponderou que não se pode restringir o diálogo. Segundo ele, “é natural” que o centro tenha mais condições de diálogo com o ex-governador Geraldo Alckmin e com o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), mas isso não significa interditar conversas com legendas da oposição.

“É a maior probabilidade para o DEM? Claro que não é”, afirmou o parlamentar fluminense durante evento promovido pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

De portas abertas

Maia admite sair da disputa presidencial, e DEM acelera negociação com outros partidos

Bruno Góes, Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut e Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- Com a pré-candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prestes a sair de cena, como o próprio admitiu ontem, durante evento em Brasília, o DEM dá fôlego a três frentes de negociação com outros partidos para oferecer seu apoio nas eleições de outubro. Com uma bancada de 43 deputados e cobiçados 28 segundos de tempo de TV, pretende barganhar até o início das convenções de julho, quando terá de optar por um projeto a seguir.

A fragmentação das pré-candidaturas dos partidos do chamado campo de “centro” e o fraco desempenho de nomes tradicionais, como o do pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, são os principais combustíveis para o leilão promovido pelo DEM. O partido conta com uma ala numerosa e importante que deseja a composição com os tucanos, aliados históricos nas urnas, mas reluta em firmar posição.

Ontem, Maia admitiu que, se tiver algum candidato de centro com boas chances de ir para o segundo turno, ele poderá desistir da pré-candidatura em julho.

— Se a gente tiver transparência no debate, eu não tenho problema nenhum de chegar no dia 30 de julho e entender que tem um caminho que tem mais viabilidade do que o meu. Se houvesse alguém nas pesquisas que tivesse clareza que ganharia no segundo turno, eu já teria desistido. Esse não seria o problema. Não vejo ninguém no nosso campo, neste momento, com capacidade de liderar — afirmou o deputado, que não perde de vista a chance de se reeleger e, eventualmente, construir uma possível reeleição ao comando da Casa em 2019.

Alckmin tem a agenda econômica e fiscal mais afinada com as lideranças da legenda. Mas não há nenhum acordo fechado porque o tucano patina nas pesquisas — o ex-governador teve entre 6% e 7% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha — e teve sua candidatura questionada recentemente até mesmo dentro do PSDB. Ontem, em Santa Catarina, ele enviou mais um recado ao partido.

— O Democratas nós respeitamos. O Rodrigo Maia é um bom quadro da nova geração. Se pudermos estar juntos lá na frente, é tudo que queremos. A campanha vai começar mesmo depois do horário do rádio e da TV. Vamos ter os melhores palanques no Brasil — disse Alckmin, em Santa Catarina.

Com garantia de vice, sigla anuncia apoio a Doria para governo de SP

Aliança pode estimular acordo nacional da legenda com os tucanos

Dimitrius Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- Enquanto ainda decide o rumo que deve tomar na eleição presidencial, o DEM decidiu ontem compor com os tucanos na maior disputa regional do país. O partido de Rodrigo Maia anunciou que irá apoiar o ex-prefeito João Doria na corrida ao governo de São Paulo.

O partido chegou a conversar também com o atual governador, Márcio França (PSB), mas preferiu manter a tradicional parceria com o PSDB.

O anúncio oficial da aliança será realizado hoje, com a presença do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, e do líder do partido na Câmara Federal, Rodrigo Garcia, um dos principais apoiadores do DEM de São Paulo ao presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin.

Na articulação pelo apoio, ficou acertado que a vaga de vice no acordo liderado por Doria será do Democratas. Garcia, que chegou a ser pré-candidato do partido para disputar o Palácio dos Bandeirantes, deve ser agora o escolhido do tucano para compor sua chapa.

DEM anuncia apoio a Doria em SP e negocia vice na chapa tucana

Por Cristiane Agostine, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O DEM anunciará hoje apoio à pré-candidatura de João Doria (PSDB) na disputa pelo governo de São Paulo. O partido negocia a indicação do deputado federal Rodrigo Garcia para a vice do tucano.

Doria atraiu o DEM em meio a dificuldades do presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, de conseguir apoio do partido. No plano nacional, a legenda negocia não só com Alckmin, como também com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, e Alvaro Dias (Podemos).

Em São Paulo, o DEM articulava também com outro pré-candidato, o governador Márcio França (PSB). Ao anunciar o ingresso na chapa de Doria, o partido passou a cobrar não só a vice mas também uma vaga para o Senado.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que, no que depender dele, Rodrigo Garcia, líder do DEM na Câmara, será candidato a vice. Garcia era pré-candidato ao governo paulista e desistiu da disputa para apoiar o tucano. Maia também defendeu que o apresentador José Luiz Datena seja candidato ao Senado pelo DEM. "É o que nós queremos. Ele está muito bem nas pesquisas. Seria ótimo que a gente pudesse trabalhar o nome dele", afirmou o parlamentar, pré-candidato à Presidência.

Aliado de Doria, o PSD, no entanto, também almeja indicar a vice e uma das vagas para o Senado. O presidente nacional do partido, ministro Gilberto Kassab, declarou que pretendia participar da chapa de Doria quando anunciou apoio ao tucano. Para a vaga de vice ou do Senado era cotada Alda Marco Antônio.

O presidente estadual do PSDB de São Paulo, deputado Pedro Tobias, minimizou a possibilidade de o apresentador Datena ser candidato ao Senado e afirmou que ainda não foram decididos os candidatos a vice e ao Senado. "Defendo que uma vaga para o Senado seja do PSDB", disse o dirigente tucano. "E não acredito que Datena será candidato. Ele vai largar a fortuna que ganha para ser senador?"

PC do B apoiou Cabral para sustentar governos Lula e Dilma, diz pré-candidato do partido ao governo do RJ

Pré-candidato aproveitou sabatina para marcar o distanciamento da administração de Eduardo Paes

Ana Luiza Albuquerque e Italo Nogueira | Folha de S. Paulo

CURITIBA E RIO DE JANEIRO - O pré-candidato do PC do B ao governo do Rio de Janeiro e vereador de Niterói, Leonardo Giordano, justifica o apoio do partido às administrações de Sergio Cabral (MDB), ex-governador, e Eduardo Paes (DEM), ex-prefeito, de forma pragmática. Segundo ele, o objetivo era promover a sustentação do PT no plano nacional, com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que mantinham aliança com as duas principais figuras da política carioca à época.

"O PC do B nunca foi o partido que usou guardanapo na cabeça", afirmou Giordano em sabatina promovida pela Folha, UOL e SBT. O pré-candidato refere-se ao episódio que ficou conhecido como a "farra dos guardanapos", envolvendo Cabral e aliados, hoje investigados na Lava Jato, como o ex-secretário da Saúde Sérgio Côrtes e o empresário Fernando Cavendish.

Questionado sobre a deputada federal Jandira Feghali, liderança do PCdoB no estado, ter assumido a secretaria da Cultura no governo Paes, Giordano argumentou que o apoio político no regime de coalizão prevê a participação dos partidos no governo. O pré-candidato aproveitou para marcar o distanciamento daquela administração. "Nunca participei, concordei ou estive junto dessa gente", disse.

Eleições 2018 - Governo do Estado do Rio de Janeiro

DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PPS DO RIO DE JANEIRO - PROPOSTA INDICATIVA

Tendo em vista que as eleições gerais de outubro próximo serão, sem dúvida, as mais importantes da nossa recente história política, após a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, que coroou a ultrapassagem do regime autoritário implantado em 1964, e poderão ser um divisor de águas na história do nosso país, e considerando:

1 – Que as lideranças políticas precisam enxergar que está em pauta o desafio da recuperação da legitimidade democrática das autoridades públicas diante da gravíssima crise econômica, política e, particularmente, moral que estamos vivendo, resultado da desastrosa gestão de treze anos de governos petistas, e agravada ainda mais pelo Governo Temer, que, apesar do início da recuperação da economia, não conseguiu cumprir as promessas iniciais das reformas necessárias, em razão das denúncias de envolvimento nos esquemas de corrupção existentes, levando a um quadro de total descrédito por parte da população em relação aos políticos de todos os matizes ideológicos;

2 – Que no Estado do Rio de Janeiro, a crise é ainda pior e, certamente, a mais grave crise econômica, fiscal, social, ética, política e institucional, desde a fusão, em 1974, dos antigos Estado da Guanabara e do Rio de Janeiro, com as principais evidências:

I. quadro de crescente desemprego, enquanto no Brasil os postos de trabalho voltam a crescer, mesmo timidamente;

II. duríssimo ajuste fiscal para assegurar o refinanciamento da dívida do Estado com a União, além de novos empréstimos para o pagamento dos serviços de sua dívida e dos salários e benefícios dos servidores ativos e inativos, e voltar a ter condições para investir nas políticas sociais, particularmente na educação, saúde, segurança e saneamento básico, entre outras áreas;

III. prisões preventivas dos últimos três ex-governadores de um período de 16 anos, acusados de corrupção na operação LAVA JATO, com Sérgio Cabral, já condenado a mais de 80 anos de prisão, por participação no processo de corrupção em nível nacional e ainda por ter montado um enorme esquema próprio de corrupção, abrangendo as principais áreas da administração, e envolvendo o Tribunal de Contas do Estado, com prisão e afastamento de quase todos os Conselheiros, e o Legislativo Estadual, com a prisão do Presidente e do ex-Presidente, de um período de mais de 15 anos, e do Líder do Governo na casa;

3 – Que o PPS decidiu aprofundar o seu processo de mudanças - iniciado em 1992 quando da autocrítica em relação ao chamado socialismo real e sua fundação como sucessor do antigo Partido Comunista Brasileiro - se abrindo decididamente para o ingresso de integrantes dos movimentos democráticos da sociedade, como o Agora!, Livres e Acredito, entre outros, e se adequando aos novos desafios colocados em nível mundial para o avanço da democracia e da justiça social, principalmente a globalização e a revolução técnico-científica, e em nível nacional, com as promessas ainda não cumpridas e o esgotamento do sistema político da Constituição de 1988, evidenciado pela desmoralização de quase todos os partidos políticos envolvidos em um verdadeiro sistema criminoso de corrupção revelado pela Operação Lava Jato;

4 – Que esta estratégia de renovação política já começou a dar os primeiros frutos com a vitória do candidato do partido nas eleições suplementares para a Prefeitura de Teresópolis, realizadas no último dia 3 de junho, candidato este recém filiado e integrante do movimento Livres;

5 – Que, entre os quadros políticos que ingressaram no PPS, também recebemos a filiação de Rubem César Fernandes, Fundador do Viva Rio, com larga experiência no combate às desigualdades sociais nas comunidades carentes atingidas pela gravidade da crise que atinge o nosso Estado nas políticas sociais de educação, saúde e segurança pública, principalmente, tendo ainda atuado em situação até mais grave no Haiti; e

6 – Que Rubem César Fernandes oferece seu nome para a disputa do Governo do Estado, notícia mais do que alvissareira já que a gravidade da crise, além de atingir as principais lideranças do partido que comandou o Estado nos últimos 12 anos, inibe, inclusive, o surgimento de candidatos de todos os matizes políticos e ideológicos dispostos a enfrentar os seus enormes desafios.

O Diretório Municipal do PPS no Rio de Janeiro decide enviar ao Diretório Estadual a indicação de Rubem César Fernandes como candidato do Partido ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, intensificando as ações para a construção de uma candidatura competitiva junto aos demais partidos políticos do campo democrático e reformista do nosso Estado, não alinhados aos partidos responsáveis pela crise que vivemos em nível estadual, se unindo em torno de um projeto que, a um só tempo, inaugure um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico a partir dos avanços já alcançados e afaste definitivamente um horizonte confuso de confrontação entre aqueles que defendem projetos antidemocráticos e populistas, tanto de direita, como de esquerda.

Rio de Janeiro, 13/06/2018.

Diretório Municipal PPS/Rio

Ainda um mistério: Editorial | Folha de S. Paulo

Significado e causas da onda de protestos de 5 anos atrás continuam a desafiar analistas

Cinco anos depois de sua eclosão, os protestos que tomaram o país em junho de 2013 ainda provocam perplexidade naqueles que, com simpatia ou sentimento crítico, tentam encontrar a chave para sua interpretação.

Identificar as causas de um fenômeno tão complexo já seria desafio considerável; outro problema, talvez insolúvel por um bom tempo, é o de delimitar o sentido histórico de tudo o que ocorreu.

O governo Dilma Rousseff (PT) e boa parte das administrações estaduais e municipais beneficiavam-se de altos índices de popularidade no ano que precedia a realização da Copa do Mundo no Brasil.

Um ato localizado, contra o aumento nas passagens de transporte coletivo, viria a desembocar numa onda de manifestações gigantescas, com bandeiras de toda ordem e participantes de todo tipo.

Em comum, sem dúvida existia a vontade de contrapor insatisfações latentes em diversos setores da sociedade ao sentimento de triunfalismo de que estavam imbuídas as autoridades, em especial petistas, às vésperas do Mundial.

O reencontro da política com o futebol: Editorial O Globo

Político tem o reflexo condicionado de se aproximar de tudo que é popular. Mas o esporte consegue pairar acima disso e também vencer paixões ideológicas

Hoje começa o encontro marcado para cada quatro anos entre o brasileiro e a Copa do Mundo. Nem todos amam o futebol, mas a parcela dos aficionados é grande, entre eles os que se ligam no esporte só durante o torneio, que, na era da comunicação instantânea no planeta, é um dos eventos esportivos que mais atraem a atenção de terráqueos.

A Seleção, assim, com “s” maiúsculo, é sinônimo de país, a “pátria de chuteiras”, termo de Nelson Rodrigues, dramaturgo, jornalista, cronista dos mais apaixonados pelo futebol que não poupou talento para falar da “Seleção canarinho", do seu Fluminense e de outros times também. No universo da bola, nunca foi sectário.

Os mundos do futebol e da política são contíguos. Afinal, político tem o reflexo condicionado de se aproximar de tudo que é popular. Sempre pode resultar em voto. Mas o futebol tem conseguido, felizmente, pairar acima disso.

Passou por um grande teste na ditadura militar de 64, em cujo ciclo foi conquistado o tricampeonato, em 1970, pelo time de Pelé, Tostão, Rivelino e outros, um dos mais fortes que participaram do torneio desde a primeira disputa, em 1930.

Por inevitável, os militares se aproximaram da Seleção. O presidente, general gaúcho Emílio Garrastazu Medici, gremista no Sul, rubro-negro no Rio, cultivava a imagem de assistir a jogos da tribuna de honra do Maracanã com um rádio de pilha colado ao ouvido. Não resistiu, interveio na delegação, depois de brilhante classificação sob o comando de João Saldanha, filiado de carteirinha ao PCB, para impor seu centroavante predileto, Dario “Maravilha”, e assim forçou a saída do jornalista e técnico. Zagalo assumiu e veio o Tri de qualquer forma.

Os estragos da greve: Editorial | O Estado de S. Paulo

O estrago causado pela crise no transporte, iniciada em maio e ainda sem solução, fica mais claro a cada nova notícia positiva sobre a evolução da economia em abril, o mês anterior à paralisação dos caminhões. Ao pôr em xeque o governo e toda a atividade produtiva, os transportadores interromperam um movimento de recuperação iniciado depois de um primeiro trimestre decepcionante. A expansão das vendas no varejo, divulgada ontem, confirma a tendência já indicada pelo desempenho da indústria, com produção 0,8% maior que a de março, 8,9% superior à de abril de 2017 e crescimento de 3,9% acumulado em 12 meses. No conjunto mais amplo do varejo, todos os grandes componentes tiveram resultado positivo na passagem de março para abril. Não se via esse desempenho desde 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As vendas no varejo restrito tiveram aumento mensal de 1% em abril e superaram por 0,6% as de um ano antes. No quadrimestre foram 3,4% mais volumosas que as de janeiro a abril de 2017. O crescimento em 12 meses bateu em 3,7%. Incluídos carros, motos e componentes e também material para construção se obtém o varejo ampliado. Nesse caso, o aumento mensal foi de 1,3%. Houve ganho de 8,6% em relação a um ano antes, de 7,4% no confronto dos quadrimestres iniciais e de 7% em 12 meses.

Clã Brasil & Sivuca - Feira de Mangaio

Manuel Bandeira: O rio

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Opinião do dia: Manuel Castells

Em tempos de incertezas costuma-se citar Gramsci quando não se sabe o que dizer. Em particular, sua célebre assertiva de que a velha ordem já não existe e a nova ainda está para nascer. O que pressupõe a necessidade de uma nova ordem depois da crise.

Mas não se contempla a hipótese do caos. Aposta-se no surgimento dessa nova ordem de uma nova política que substitua a obsoleta democracia liberal que, manifestamente, está caindo aos pedaços em todo o mundo, porque deixa de existir no único lugar em que pode perdurar: a mente dos cidadãos.

A crise dessa velha ordem política está adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social; a manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política através da cooptação dos projetos de mudança; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas, aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Rússia à China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés ditatoriais na América Latina.
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Manuel Castells, sociólogo espanhol. “Ruptura”, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2018.
Texto Publicado na Folha de S.Paulo / Ilustríssima, 10/6/2018.

Rosângela Bittar: Interesse sem ideologia

- Valor Econômico

Momento é de exibicionismo e falsidade

É absolutamente normal a pré-candidata Marina Silva (Rede) encontrar-se com o PSDB mesmo que jamais pense fazer uma aliança com os tucanos. Mais ordinário ainda o pré-candidato Ciro Gomes expressar o desejo de ter o PSB e marcar encontro com o DEM, a quem já insultou, inclusive esta semana mesmo, ao dizer que pretende criar um núcleo de esquerda na sua candidatura para depois abrir o caminho a outros, a serem recebidos fora da sala vip. Do périplo pela Força Sindical, então, nem se fala.

O pré-candidato do Solidariedade (SD) é Aldo Rebelo, que há meses vem fazendo o circuito sindical e realizando conversas e palestras Brasil afora, possivelmente o candidato que mais viajou o país, apenas conversando. Rodrigo Maia (DEM) já passou pela Força, Ciro (PDT) foi ontem, certamente Marina e Alckmin (PSDB) também irão, a disputa pelo mundo sindical está aberta.

Algum problema para os pré-candidatos que procuram cada interlocutor desses encontros? Nenhum. Neste momento é exatamente a hora certa de todo mundo conversar com todo mundo. Incluindo Josué Gomes (PR), que ensaia a sua candidatura pelo centro, sem medo de atropelar alguém na via já congestionada.

Nem para o PT, seu extremo, que vem conversando também com muitos, à procura de apoio ao seu candidato a ser indicado na parte legal da campanha, a partir de agosto.

Conversar não tira pedaço, diziam os antigos. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tem se incomodado com os excessos da campanha acintosa, extrarregulação, dos ainda não candidatos.

Todos os postulantes se movimentam, um deles está preso mas redige cartas que podem dar aos seus representantes condições para manter o vigor eleitoral. O eleitor parece não ter em quem votar e demonstra também desinteresse por escolher agora. Portanto, mostrar-se é fundamental.

Vera Magalhães: PSB mais perto de Ciro

- O Estado de S.Paulo

O PSB está mais propenso a selar uma aliança com o PDT de Ciro Gomes que a ficar “solteiro" nas eleições nacionais, como agora defende a ala do partido mais próxima ao PT.

A costura feita por Ciro foi eficaz para incutir uma dose de autoestima no PSB, que ficara perdido diante do recuo de Joaquim Barbosa, aquele que foi sem nunca ter sido o presidenciável do partido.

Ciro convenceu parte da cúpula socialista de que o partido terá espaço de destaque caso ele se eleja. Assim “empoderados”, caciques pessebistas já dizem que sua sigla dará estatura política a Ciro, por ter mais governos de Estado que o PDT, por exemplo.

O PT, que começou falando grosso e exigindo um cheque em branco de aliança com o candidato que vai substituir Lula na cédula para retirar a candidatura de Marília Arraes em Pernambuco, já admite fazer um desconto caso o PSB apenas fique neutro na eleição nacional.

São essas hoje as únicas opções à mesa, e a decisão não deverá ficar só para a undécima hora. O PSB deve reunir a Executiva para bater o martelo ainda neste mês.

Os pessebistas sabem que, no momento em que Ciro, Geraldo Alckmin e o PT travam uma corrida de bastidores para consolidar alianças e reduzir a pulverização, os primeiros apoios contam mais e garantem aos aderentes boas condições de negociação. Inclusive a vaga de vice, pela qual os socialistas não escondem o interesse e que pode mesmo ir para Márcio Lacerda.

As declarações tanto de Ciro quanto de seu irmão, Cid, sobre a prioridade dada ao antigo partido de ambos faz parte desse “namoro" que pode mesmo acabar em casamento.

Bruno Boghossian: Pelo empate

- Folha de S. Paulo

Tucano joga parado e mira horário eleitoral para reduzir desgaste do PSDB

A candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) entrou na fase da sobrevivência. Sem capacidade de perfurar a apatia do eleitorado, os tucanos admitem que a prioridade do ex-governador, agora, é escapar do fogo amigo e de tiros dos rivais até o início do horário eleitoral.

A velha propaganda na TV é a boia de salvação que os tucanos enxergam, à distância. Estagnados na faixa de 7% nas pesquisas, Alckmin e seus aliados aceitam que será difícil decolar na campanha antes de levar ao ar suas primeiras peças de publicidade, em 31 de agosto.

Até lá, a principal estratégia será resistir. Embora alfinete Jair Bolsonaro (PSL) e o PT para se mostrar vivo, o ex-governador deve privilegiar a técnica que domina: jogar parado. Aliados defendem que ele se preserve para atenuar sua condição de alvo e atravessar os próximos meses.

A tática é mais uma imposição das circunstâncias do que uma escolha requintada. O tucanato acredita que Alckmin está excessivamente exposto ao desgaste sofrido pelo PSDB nos últimos anos. Sem a tribuna livre da propaganda eleitoral, não tem força para tentar se dissociar de Aécio Neves, do operador Paulo Vieira de Souza e das acusações de caixa dois que envolvem seu cunhado.

Vinicius Torres Freire: Acalmar o país até 2019

- Folha de S. Paulo

Falta liderança política e social para levar um país transtornado até o próximo governo

A disputa do governo do Brasil em 2019 está na fase do vale-tudo. É o caso tanto dos candidatos para valer como daqueles que já caem pelas tabelas, para a segunda divisão dos coadjuvantes, representantes para inglês ver de grupos que procuram como se ajeitar em um barco vitorioso. "Business as usual", parece. Não é bem assim.

Gente do MDB diz, nas internas, que Henrique Meirelles será rifado, oficialmente ou na prática. O DEM-PP, na proa do centrão, procura fazer qualquer acordo. Jair Bolsonaro (PSL) pode pegar um pedaço de carne que cair desta mesa dos partidos maiores ou menos nanicos, o que lhe daria tempo de TV.

Isso é política politiqueira. Nosso buraco é mais para baixo. Candidatos para valer, PDT, PSDB, o PT e os coadjuvantes maiores aparecem com discursos e atitudes inconsequentes, dada a gravidade da crise, o risco de ingovernabilidade, na próxima Presidência inclusive.

Seria conveniente, por ora um devaneio irrealista, que o próximo presidente contasse com apoio no Congresso para arrumar a casa mesmo antes de tomar posse, ainda neste ano.

Seria prudente que lideranças assumissem a responsabilidade de levar o país em ordem até o fim do ano, mas faltam grandeza ou mesmo esperteza qualificada na praça: não há quem se dê conta dos riscos, de modo consequente. A atitude preponderante é saquear o que se pode até o fim deste governo ou de apoiar mais tumulto.

A disputa eleitoral pode causar instabilidade financeira grave; o que vemos desde maio é uma preliminar. Improvável que ocorram revoltas tão grandes quanto a do caminhonaço, mas o país está descontrolado e desconjuntado. Há possibilidade menor de tumulto político-judicial; processos contra Michel Temer tendem a ser empurrados com a barriga, mas tudo é problema neste ambiente ruim.

Trata-se de riscos, não de previsão de tumulto, mas há pouca cobertura de seguro, pois: 1) as lideranças são mesquinhas, mefíticas, incapazes ou irresponsáveis, vide a resposta de governo, Congresso, líderes partidários e da sociedade civil ao caminhonaço; 2) não há disposição para acordos ou armistícios, o clima é de vale-tudo, dane-se o que sobrar do país.

Ainda vai levar mais de mês antes que possa aparecer alguma luz. Até as vésperas das convenções, há apenas interesse bruto e cego de acumular meios de ficar no pelotão de frente das pesquisas e máquinas de apoio, com exceção de Marina Silva (Rede), que não sabemos bem o que está fazendo.

A disputa está muito aberta e, portanto, deve ser agressiva, em um ambiente de degradação partidária e sociedade desorientada.

Um petista pode ganhar de 10 a 30 pontos com um dedaço de Lula, a julgar pelo que dizem as pesquisas, o que poderia colocar pelo menos por um tempo o capitão da extrema direita e o PT na liderança, um fator de tumulto financeiro, tanto faz nossa opinião sobre a finança.

Ricardo Noblat: Denúncia contra Temer não passará

- Blog do Noblat | Veja

Afastar presidente em véspera de eleições gerais é receita indigesta

O Supremo Tribunal Federal já sabe como lidar com uma eventual terceira nova denúncia de corrupção e de lavagem de dinheiro contra o presidente Michel Temer, caso ela de fato seja oferecida ao seu exame pela Procuradora Geral da República Raquel Dodge.

Se isso acontecer, será depois do recesso da Justiça em julho. Em agosto, os candidatos às eleições de 3 de outubro estarão em plena campanha, que no rádio e na televisão começará no dia 31. Não haverá tempo, portanto, para mais nada.

O envio da denúncia à Câmara dos Deputados certamente provocaria forte turbulência política com reflexos nos resultados das eleições. Fazer isso para quê? Melhor que ela fique no Supremo pelo menos até depois do segundo turno. Ou que acabe arquivada.

Os ministros contam para isso com a compreensão da maioria dos brasileiros. Ou da maioria dos brasileiros sensatos – se isso lá o que for.

Elena Landau: Febeapá

- O Globo

Para piorar, voltamos a tabelar fretes, impor controle de preços e reserva de mercado

Febeapá, o Festival de Besteira que Assola o País, foi uma expressão inventada por Stanislaw Ponte Preta há mais de 50 anos. Era uma crítica bem-humorada à ditadura. Saiu de moda, mas continua mais atual do que nunca. A resposta à chantagem dos caminhoneiros e seus patrões é um Febeapá para ninguém botar defeito. Foi uma sequência de erros impressionantes que terminou com um enorme rombo nas finanças públicas sem que o problema tivesse sido sequer resolvido. Errou o presidente da República, erraram os presidentes da Câmara e do Senado, para não falar em vários dos candidatos. A população mais carente vai mais uma vez financiar uma categoria profissional. Stanislaw já dizia: “a prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”.

Recriamos a conta petróleo, com Tesouro compensando a Petrobras pelo subsídio, que todos imaginavam ser coisa do passado. Por pouco não se reduziram impostos estaduais sobre combustíveis fósseis. Para piorar, voltamos a tabelar fretes, impor controle de preços e reserva de mercado. Só faltou chamar os fiscais do Sarney. Decisões apressadas e a volta do velho intervencionismo deixarão consequências negativas por muito tempo. A atuação do governo Temer me lembrou a nefasta MP 579 da Dilma; o setor elétrico está perdido até hoje num emaranhado de disputas judiciais e alto endividamento. Na Petrobras, o resultado foi igualmente desastroso. Otimista que sou, pensava que a missão tinha sido aprendida. Ledo engano.

Míriam Leitão: Estrada de erros

- O Globo

O acordo feito pelos caminhoneiros com o setor de grãos, mesmo sendo parcial, é a primeira boa notícia nessa sucessão de erros cometidos durante e após a greve do transporte de carga. Abre o caminho para que o setor privado negocie entre si e consiga resolver o conflito entre o caminhoneiro que quer um preço mais justo para o seu trabalho, e o empresário que precisa reduzir seus custos.

Tudo isso resulta de um erro inicial. Os custos brasileiros de logística são altos porque o país há décadas erra no planejamento do setor de transporte. Depende demais das rodovias mesmo para o transporte de longas distâncias, o que não é a vocação do modal. E, apesar de depender em quase 70% do transporte de mercadorias pela via rodoviária, tem péssimas estradas.

É a má qualidade das estradas que reduz a competitividade do setor produtivo e não o preço mais justo pago ao caminhoneiro. O país ficou no pior dos mundos, não estruturou modais alternativos e fez uma opção incompleta pelas rodovias. Uma espécie de rodoviarismo sem estradas. Um dos obstáculos que impedem o aumento da produtividade e competitividade da economia brasileira é exatamente o gargalo do transporte.

Fábio Alves: No meio das eleições, o BC

- O Estado de S.Paulo

A alta do dólar já afeta a projeção de inflação, mas não para forçar o BC a agir

Desde a disparada o dólar ante o real, com a moeda americana chegando perto dos R$ 4,00, esquentou o debate sobre se o Banco Central deveria elevar os juros básicos para conter a depreciação do real e não apenas usar a artilharia dos swaps cambiais.

O Banco Central vem repetindo exaustivamente que a política monetária é separada da cambial e que não há relação mecânica entre as duas. Ou seja, o BC não vai usar juros para controlar a taxa de câmbio. Mas os analistas estão divididos sobre esse tema.

Para Tony Volpon, economista-chefe para Brasil do banco UBS, em tempos “normais”, a gestão da política monetária pode ser tocada mesmo “a livro texto”: juros mirando inflação, câmbio flutuante, etc.

“No caso dos países emergentes, por suas debilidades institucionais, fragilidade fiscal, falta de poupança, entre outras variáveis, quando há bruscas mudanças de cenário – seja por causas externas ou internas – você cai em um regime de exceção”, diz Volpon. “Nesse caso, as coisas não funcionam como em tempos normais, pois há uma ligação mais estreita entre política monetária e cambial.”

Monica De Bolle: O risco de cada um

- O Estado de S.Paulo

Não há dúvida de que, com a aproximação das eleições e a indefinição do quadro, mais surtos de turbulência virão

O alvoroço da semana passada nos mercados brasileiros causado pela disparada súbita do dólar, por especulações de que a cotação da moeda americana pudesse chegar a R$ 5, e pela pressão para que o Banco Central respondesse elevando os juros, como fizeram recentemente Argentina, Turquia e Índia expôs, os diferentes tipos de vulnerabilidade que afetam os países emergentes. Desde que a debandada de investidores desses mercados teve início no fim de abril, os temores relativos a diferentes países se acentuaram. Contudo, o risco de cada um pede avaliação mais criteriosa.

A Argentina, após sofrer intensa corrida contra sua moeda em maio, acaba de receber significativo apoio do FMI. No fim da semana passada, foi anunciado um “Stand-by Arrangement” (SBA) – a linha tradicional de empréstimos do Fundo – de US$ 50 bilhões a serem desembolsados ao longo dos próximos 36 meses após as usuais avaliações trimestrais. O montante do programa da Argentina equivale a 1.100% de sua cota no FMI, o que o caracteriza como “excepcional” de acordo com as diretrizes do organismo internacional – geralmente, o acesso aos recursos do FMI no âmbito de um SBA não deve exceder 435% da cota ao longo da vigência do programa.

Apenas para lembrar os leitores, a Argentina recorreu ao FMI no início de maio, após intensa especulação contra o peso. A turbulência teve origem na saída de investidores de países emergentes, porém ganhou intensidade no caso argentino pelas vulnerabilidades do país: déficit externo de 5,5% do PIB, reservas abaixo dos níveis considerados adequados pelo FMI, necessidade de dólares para cobrir pagamentos da dívida externa. Embora a situação argentina permaneça volátil, o tamanho do pacote do FMI negociado rapidamente revela o apoio da comunidade internacional às medidas e reformas econômicas do governo Macri, que tem penado para consertar anos de desvarios sob a tutela de Cristina Kirchner.

Pesquisas mostram que o cenário eleitoral não mudou: Editorial | Valor Econômico

As pesquisas eleitorais se sucedem - e nada acontece. Os resultados do Datafolha confirmam imprevisibilidade da eleição, com agravantes: o número de pessoas que dizem que votarão em branco, nulo ou ainda não definiram seu voto atinge quase metade dos entrevistados, um ano depois. Na simulação com Lula, o batalhão dos que não têm candidato ocupa o segundo lugar, com 21%, à frente de Bolsonaro, com 17%. Sem Lula, assume a liderança, com 33%. Na pesquisa espontânea, há 48% que não indicaram nenhuma preferência. A pesquisa só confirma que o que é ruim pode, sim, piorar: a popularidade de Temer caiu ainda mais e 82% o consideram um presidente ruim ou péssimo.

A pulverização das candidaturas e a angústia eleitoral criam uma ânsia por definições que as pesquisas não podem dar, até porque a campanha não começou e os eleitores não estão ligados nisso. E quem se interessa parece não estar gostando do que está vendo.

Diante da ausência de fatos marcantes, as constantes provisórias importam. Sem a presença de Lula, Jair Bolsonaro, do PSL, mantém-se estável à frente e Marina Silva, da Rede, está quase em empate técnico com ele e bem adiante se ambos chegarem ao segundo turno - 42% a 32%, segundo o Datafolha. Assim como Marina, Ciro Gomes, do PDT, estabilizou na casa dos 10%, em terceiro lugar, seguido, mais atrás, com 7%, pelo ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin.

Esses candidatos se mantêm há bom tempo como favoritos e devem permanecer assim até agosto, quando começa de fato a campanha pela TV. A incógnita, uma de bom tamanho, é a de quem comporá a chapa do PT e receberá o apoio de Lula. Fernando Haddad, por suas próprias forças, mal se levanta dos 2%. O empenho de Lula e do partido pode levá-lo a dois dígitos e encaminhá-lo ao segundo turno, se permanecer a dispersão dos adversários. A julgar pelas recentes resoluções da Executiva do PT, essa decisão será tomada no último minuto do segundo tempo, perto de expirar o prazo de registro das candidaturas, em 15 de agosto. O alvo principal petista é uma aliança com o PSB - também cobiçado por Ciro Gomes e pelos tucanos - e PC do B.

Fake news e censura: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um dos principais problemas das chamadas fake news – as mentiras travestidas de notícia que circulam pelas redes sociais com o objetivo de desmoralizar adversários políticos e ideológicos – é que não se sabe ao certo como identificá-las e, principalmente, como combatê-las sem esbarrar em alguns direitos fundamentais, como a liberdade de expressão.

É fato que os liberticidas exploram as garantias democráticas com o intuito de destruir a democracia. Eles atuam em uma espécie de zona cinzenta, na qual não se identifica com facilidade até onde vai a liberdade de expressão, quando confrontada com outros direitos igualmente basilares. Sua estratégia é levar o direito de manifestação ao limite da legalidade – ou além dele –, invocando essa proteção constitucional para espalhar falsidades que envenenam as disputas eleitorais e ajudam a criar uma atmosfera de ódio, primeiros passos para inviabilizar a convivência democrática.

Nesse sentido, parece natural esperar que o Estado atue para conter a ação deletéria dos extremistas e dos oportunistas, que trabalham para desacreditar as instituições democráticas e estimular o confronto. No entanto, o recurso à força estatal contra os produtores e disseminadores de fake news pode acabar sendo tão danoso à democracia quanto o mal que se pretende combater. Como salientaram alguns dos participantes do Fórum Estadão-Faap Campanha Eleitoral e Fake News, realizado no dia 11 passado, pode ser desastroso deixar a cargo da Justiça Eleitoral, por exemplo, a decisão sobre quais conteúdos devem ser retirados da internet por supostamente se enquadrarem naquilo que se convencionou chamar de fake news. Não seria exagero qualificar essa decisão de censura, a depender do caso.

Tabelar frete é peça de ficção: Editorial O Globo

Num comportamento típico de um país que, do capitalismo, só quer o lucro, sem correr riscos, caminhoneiros pressionam governo para socializar seus prejuízos

O Brasil que está refletido na tentativa infrutífera, inviável, de se tabelar o frete é o país autárquico, intervencionista, estatista, que tem fé na ideia de que uma fórmula errada funcionará se for executada muitas vezes. Em uma delas dará certo.

É o que acontece com o tabelamento, baixado por Medida Provisória pelo governo, para garantir um frete mínimo aos caminhoneiros autônomos afetados por uma lei de mercado simples: toda vez que a oferta aumenta, o preço cai.

Foi o que ocorreu como resultado do programa de Lula e Dilma de apertar o acelerador do crédito subsidiado do BNDES para a venda de caminhões. Pensaram apenas em ativar a indústria de veículos. Descrentes do mercado, esquecerem o valor do frete. Como a oferta de transporte rodoviário cresceu, para uma demanda que não acompanhou a expansão da frota de caminhões, o frete ficou mais barato.

Houve a combinação explosiva com a elevação do preço do diesel, puxado pela alta do petróleo, e caminhões fecharam as principais estradas do país, num ato ilegal que cortou as linhas de abastecimento.

Surpreendido — embora líderes do movimentam tenham garantido que avisaram do risco da paralisação —, o Planalto cedeu. Congelou o diesel subsidiado em R$ 0,46 por litro, e embarcou na aventura de tabelar um “frete mínimo”, num retrocesso duplo de política econômica.

Trata-se de algo bizarro, típico de um país que do capitalismo só quer o lucro, sem correr riscos. Quando eles existem, pressionam para o Estado socializar os prejuízos.

Trump e o amigo Kim: Editorial | Folha de S. Paulo

Presidente americano não obtém do ditador da Coreia do Norte muito mais que um compromisso vago

A confiança nas próprias habilidades, sem dar ouvidos a conselhos ou ressalvas em seu entorno, constitui aspecto central da personalidade de Donald Trump. Tal convicção alcançou o paroxismo no tão aguardado encontro com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un.

Decerto, o inédito aperto de mãos entre o comandante da maior potência mundial e o líder do mais recluso regime detentor de armas atômicas terá lugar na posteridade. Entretanto o caminho que Trump escolheu para tentar convencer a Coreia do Norte a abdicar de seu arsenal corre grave risco de se provar inviável no decorrer do tempo.

Ao apostar no autopropalado tino de negociador, o presidente pôs na mesa a oferta de interromper os exercícios militares com a Coreia do Sul, sem aviso prévio à nação aliada —aliás, entreveros com parceiros históricos dos EUA têm se tornado marca deste governo, como a recente recusa em endossar a declaração da reunião do G7.

Fernando Gabeira: Os russos não dão bandeira

- O Globo

País vai se concentrar no verdadeiro problema de segurança, que é o terrorismo

De repente, chegou por aqui uma notícia: quatro brasileiros foram presos por exibir uma bandeira do país na rua. Era fake news. Talvez tenha nascido da cartilha da Embaixada do Brasil que aconselhava a não ostentar bandeiras nem carícias entre gente do mesmo sexo nas ruas da Rússia.

A Embaixada não fez mais do que seu dever: informar as leis do país para defender os brasileiros que o visitam. Num país onde, por exemplo, as mulheres têm de usar véu, a obrigação consular é avisá-las. No entanto, apesar das precauções, é evidente que essa história da bandeira é uma regra que não pega na Copa do Mundo.

Saí pelas ruas e documentei, no domingo, como as imediações do Kremlin estavam cheias de gente com bandeira. Muitos sul-americanos e um russo.

Ouvi gente que vive aqui. Um diplomata contou que um dia usou uma bandeira no estádio e muita gente se aproximou, pedindo-a de presente. Já um jornalista que mora aqui há alguns anos teve uma experiência diferente. Enrolado na do Brasil, atraiu a hostilidade de alguns transeuntes porque pensavam que era de algum movimento separatista.

Durante o conflito com a Ucrânia, muito possivelmente as pessoas que andassem com a bandeira do país nas ruas de Moscou seriam hostilizadas. Os russos têm uma palavra para isso. Soa mais ou menos assim: “provocacia”. Quer dizer provocação.