quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A fritura de Nísia - Bernardo Mello Franco

O Globo

No sétimo mês de governo, Lula declarou que não demitiria Nísia Trindade do Ministério da Saúde. “Tem ministros que não são trocáveis. Tem pessoas e funções que são uma coisa da escolha pessoal do presidente da República”, disse. “A Nísia não é ministra do Brasil, ela é minha ministra”, acrescentou.

A titular da Saúde estava na mira do Centrão, que tentava derrubá-la para pegar a chave do cofre do SUS. Sem filiação partidária, ela conseguiu resistir aos torpedos disparados do Congresso. Ontem sucumbiu ao fogo amigo do Planalto.

Nísia passou dois anos e dois meses no cargo. Enfrentou diversas crises, mas só se tornou “trocável” quando pesquisas apontaram um tombo na popularidade do governo. Transformada em bode expiatório, ela viu sua cadeira virar alvo de cobiça no PT. Agora será substituída pelo deputado Alexandre Padilha, que deixa o abacaxi da articulação política para assumir um dos maiores orçamentos da Esplanada.

Nosso país é real ou surreal? – Roberto DaMatta

O Globo

É concreto ou abstrato ver um Brasil que não consegue entender o que é ser progressista, conservador e reacionário?

Um avião que pousa de ponta-cabeça; um calor desmesurado nos nossos trópicos, que, além de tristes, como disse Lévi-Strauss, tornaram-se infernais diante de uma fervura de fim de mundo. Tempestades onde não chovia, seca no pântano, o extraordinário da neve e rios imensos secando. Começamos a duvidar do nosso seguro e permanente real...

É real essa inversão da rotina durante o batido surrealismo de um carnaval que perdeu sua força ritualística, porque hoje podemos transitar e transar com toda gente, de todo modo, em todo lugar e todo dia porque o proibido tornou-se permitido e — melhor e mais fascistoide — obrigatório?

A volta de Zé - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Grupo articula duas festas para marcar retorno de Dirceu, o que deve aumentar a polarização em 2026

José Dirceu, o ex-ministro e estrategista que levou à aliança entre o PT e o PL em 2002, será candidato a deputado federal em 2026. É o que articulam fundadores do Partido dos Trabalhadores, advogados ligados à sigla e integrantes do grupo que se autodenomina “geração de 68”.

Eles preparam duas grandes festas “para o Zé”, uma em Brasília e outra em São Paulo. A primeira no dia 11 de março e a outra no dia 15 para comemorar o aniversário de Dirceu, que completará 79 anos – ele nasceu em 16 de março de 1946. Cassado em 2005 na esteira do escândalo do mensalão, preso em 2013, após ser condenado pelo Supremo a 7 anos e 11 meses de prisão – ele cumpriu 354 dias na cadeia – e detido outras três vezes durante a Operação Lava Jato, que o condenara a 23 anos de prisão, o ex-ministro viu as ações contra ele serem anuladas pelo STF na esteira do movimento que levou à revisão de outras condenações, como as de Lula.

Despesas ‘zumbis’ pressionam arcabouço - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Mobilização do Congresso para dar vida a emendas canceladas ocorre às vésperas da audiência de conciliação no STF em torno das emendas cujo pagamento foi bloqueado pelo ministro Flávio Dino

Avança rápido o projeto de lei complementar que “ressuscita” R$ 15,7 bilhões em despesas que não foram executadas nos anos em que estavam autorizadas no Orçamento, e por isso são chamadas de “restos a pagar”. A Câmara decidiu ontem apreciar a proposta, aprovada na semana passada no Senado, em regime de urgência.

O embaraço que isso pode trazer ao Orçamento de 2025 é moderado, avaliam técnicos da área orçamentária.

A mensagem política, porém, é muito ruim do ponto de vista das contas públicas e do ambiente macroeconômico. “Se o Congresso aprovar essa irresponsabilidade, podemos assistir a uma forte subida do dólar”, disse à coluna o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. Não há margem, dentro dos limites do arcabouço fiscal, para acomodar mais esse conjunto de despesas, explicou.

Exemplo prático de dano da ‘fake news’ do Pix - Fernando Exman

Valor Econômico

Norma revogada da Receita seria um instrumento importante para combater o crime organizado

Hydra era um monstro gigante parecido com uma cobra d’água que, dependendo da versão, tinha sete ou mais cabeças. Representava o mal e ameaçava tudo destruir, diz a mitologia grega. Qualquer um que tentasse decapitá-la iria descobrir que, assim que uma cabeça qualquer era cortada, outras emergiam do ferimento. Só uma das cabeças era a “verdadeira”, aquela que, ceifada, levaria à sua morte. Milhares de anos depois de sua concepção, a história inspirou o nome da operação contra duas “fintechs” que operavam para o crime organizado.

Deflagrada na terça-feira (25) em conjunto pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) e a Polícia Federal (PF), a Operação Hydra prendeu um policial civil, apontado como CEO de uma das “fintechs”, e cumpriu dez mandados de busca e apreensão em São Paulo, Santo André e São Bernardo. A Justiça também determinou o bloqueio de valores existentes em oito contas bancárias, além da suspensão temporária das atividades das instituições de pagamento que foram alvo.

Razões para a desaprovação do governo - Nilson Teixeira

Valor Econômico

Mesmo que a reversão da queda da aprovação do governo Lula não seja trivial, é presunção assumir que a chance de reeleição do presidente seja reduzida

A aprovação do governo Lula na pesquisa da Datafolha alcançou 24% em fevereiro de 2025, o nível mais baixo dos seus três mandatos. Após se manter relativamente estável em 2023 e 2024, a aprovação recuou 11 pontos percentuais (pp) frente à pesquisa de dezembro, com diminuição de 14 pp entre os que têm mais de 60 anos, 15 pp entre aqueles com menor escolaridade, 15 pp nos eleitores com renda inferior a dois salários-mínimos e 20 pp nos que votaram em Lula no segundo turno.

Apesar de não ser possível apontar com precisão as causas da abrupta queda da aprovação do governo no início de 2025, vários fatores ampliaram a insatisfação da sociedade nos últimos dois anos:

Aposta em vitória da oposição é prematura - Christopher Garman

Valor Econômico

É preciso cautela para avaliar que os índices de aprovação de Lula estão derretendo ou que ele está fora do páreo

Nos 25 anos em que atuo na área de consultoria de risco político, nunca observei um debate eleitoral tão antecipado quanto o atual. A reação do mercado à pesquisa publicada pelo Datafolha em 14 de fevereiro, que mostrou uma queda de 11 pontos na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixou isso claro. No mesmo dia, o dólar fechou abaixo de R$ 5,70 pela primeira vez desde novembro.

É muito difícil dizer o quanto as expectativas sobre o resultado das urnas em 2026 estão influenciando o câmbio. Mas há um consenso cada vez maior (certo ou não) de que só uma vitória da oposição levará a um ajuste fiscal e de que estamos caminhando para um cenário de mudança em 2026. Também influenciam essa avaliação a expectativa de desaceleração da economia este ano por conta do aumento da taxa de juros, e as várias vitórias eleitorais de candidatos de direita pelo mundo.

Lula está como Alice no país das maravilhas – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Para um observador, o chefe do Executivo está vivendo uma realidade paralela, perdeu a conexão com a vida de seus eleitores tradicionais e, também, não consegue estabelecer sintonia com as camadas mais jovens da população

É inesgotável o repertório de frases do livro de aventuras infantis Alice no País das Maravilhas, escrito por Lewis Carroll e publicado pela primeira vez em 1865. O autor cultivou amizade com três filhas do deão da faculdade onde lecionava, sendo que uma delas, Alice Liddel, durante um piquenique, em 4 de julho de 1862, pediu que o escritor contasse uma história. Carroll inventou uma série de peripécias de uma menina de 7 anos chamada Alice. Como era gago e tinha dificuldades para construir a narrativa oral, Alice pediu-lhe que escrevesse mais histórias.

Amigo cidadão - Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

O aviso de Kakay vai além de amizade responsável, alerta que a esquerda não percebeu as transformações que exigem mudanças nos propósitos e na forma de fazer política

Um ditado antigo diz "amigo do rei que o avisa, além de amigo, é bom cidadão". Ao avisar que o isolamento do PT e do presidente Lula pode levar os eleitores a caírem na tentação por regime autoritário de direita, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, foi amigo e cidadão. Sua manifestação vai além de amizade responsável, alerta que a esquerda não percebeu as transformações tecnológicas, sociais, culturais, econômicas e ecológicas que ocorreram nas últimas décadas, exigindo mudanças nos propósitos e na forma de fazer política. O mundo entrou no século 21, mas ideias da esquerda continuam em séculos passados. Isso não é problema para a direita conservadora, mas é a negação da esquerda progressista.

Mais pesquisa ruim para Lula - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Nova pesquisa mostra rejeição ainda maior a ideias, planos e a quarto mandato

Luiz Inácio Lula da Silva tem feito campanha para que se explore petróleo na bacia da Foz do Amazonas, no mar que fica diante do Amapá e da Ilha de Marajó, no Pará. Quase metade dos brasileiros (49,7%) é contra, 16,5% são indiferentes, 20,8% pensam como o presidente.

E daí? Nem nesse assunto, em tese lateral em termos políticos, o discurso de Lula está colando. Não quer dizer que iniciativas de governo devam se curvar, ponto a ponto, a desejos imediatos ou ideias circunstanciais da população.

Apenas se observa que nem aí Lula faz pontos na pesquisa MDA para a Confederação Nacional do Transporte (CNT). O presidente tem procurado falar ainda mais nas escolas, nas ruas, campos, construções, em rede nacional ou em rádios locais. Vai colar?

A culpa que Nísia não tem - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A desaprovação do governo é fruto do conjunto de uma obra mal concebida pelo presidente

troca de ministros é prerrogativa do presidente da República, assim como a escolha de auxiliares é da responsabilidade dele. Portanto, quem errou não foi Nísia Trindade, mas quem a nomeou para comandar a pasta da Saúde sem incluir a cláusula de vitrinista no contrato.

Profissional experiente e respeitada na área, foi chamada justamente pelo prestígio acumulado. Se esperava que ela tivesse também predicados marqueteiros, Luiz Inácio da Silva (PT) equivocou-se de pessoa.

Trump está matando a galinha dos ovos de ouro - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Medidas adotadas pelo presidente estão criando um ambiente hostil à ciência, que é uma das razões do sucesso dos EUA

Pelo menos desde o século 7 a.C. fabulistas alertam para o perigo de, com vistas a obter vantagens de curto prazo, destruir para sempre a rentabilidade de um recurso valioso. O mais célebre desses contos morais é a história da gansa dos ovos de ouro, de Esopo.

Em português a gansa virou galinha, mas sem alteração da mensagem central: não importa quais sejam as suas expectativas e objetivos, não mate a ave que lhe fornece regularmente um ovo de ouro por dia; se o fizer, você se arrependerá. Donald Trump, com sua egolatria e mentalidade de mercador de bazar, está eviscerando várias gansas, galinhas e até codornas que garantiam aos EUA enorme poder e riqueza. Um golpe particularmente duro é o que ele está dando contra a ciência americana.

A direita radical cresce mesmo onde parecia improvável - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Até na Alemanha, onde qualquer discurso extremista de direita dispara mil alarmes

A eleição de domingo para o Parlamento Alemão deve, enfim, encerrar qualquer dúvida sobre o fato de que, nas grandes democracias da América e da Europa, o voto na extrema direita está consolidado. Ou não?

Não há dúvida de que a AfD —que dobrou de tamanho entre uma eleição e outra e foi a legenda preferida de um em cada cinco alemães— é um partido extremista de direita, tanto no discurso eleitoral quanto na proposta política. Dificilmente se pode ser mais radical à direita do que ele, dentro dos limites das regras da democracia liberal. Além disso, não se pode subestimar o fato de que esse crescimento ocorreu na Alemanha, um país onde, devido à memória de sua tragédia política no século 20, qualquer discurso extremista de direita dispara mil alarmes.

Poesia | Marília Gabriela - "Com Licença Poética", de Adélia Prado

 

Música | Recife Manhã de Sol - Bloco da Saudade

 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Déficit crescente impõe nova reforma da Previdência

O Globo

Levantamento mostra que pagamento de aposentadorias e pensões aumentou 60% entre 2015 e 2024

São eloquentes os sinais de que as contas da Previdência se tornam a cada dia mais insustentáveis. Um levantamento feito pelo Tesouro Nacional a pedido do jornal Valor Econômico mostra que o déficit com pagamento de aposentadorias e pensões da iniciativa privada, servidores federais e militares cresceu 60% nos últimos nove anos. Em 2024, foram pagos R$ 417 bilhões (3,45% do PIB ). Em 2015, eram R$ 261 bilhões, ou 2,64% do PIB (os dados foram corrigidos pela inflação).

Ventos conservadores - Merval Pereira

O Globo

O grave é que a extrema direita obteve votação histórica na Alemanha. A tendência para o centro é crucial para frear esse avanço

A vitória da centro-direita na Alemanha é um ponto importante na onda conservadora que vai dominando os principais países do mundo. A centro-direita está tomando conta da política europeia. Há uma convergência de pensamento e objetivos com Donald Trump nos Estados Unidos que isola a esquerda, mesmo a não radical. A direita ganhou a Europa quase inteira. É um dos resultados mais acachapantes desde a fundação da União Europeia: Grécia — Nova Democracia (centro-direita); Bulgária — GERB (direita); Hungria — Fidesz (direita); Finlândia — KOK (direita); França — RN (direita); Áustria — FPO (direita); Alemanha — CDU (centro-direita). Anteriormente, já ganhara na Polônia, na Hungria e na Itália.

Como entender a virada à direita – Míriam Leitão

O Globo

A economia é só um dos motivos do avanço da extrema direita na Alemanha. Já no Brasil, ela está nas cordas, mas de olho nos erros do governo

A relação entre economia e política sempre existirá, ainda que os determinantes do voto sejam cada vez mais múltiplos e complexos. O que leva a Alemanha a dar 20% dos votos a um partido de extrema direita? Isso nunca terá uma resposta simples. Desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, o país enfrenta duas pressões de preços: o gás que vinha da Rússia e que teve que ser substituído por outras fontes mais caras, e os grãos que vinham da Ucrânia. Como consequência, energia e pão encareceram na Alemanha.

Ministra da Saúde é a pobre menina rica da Esplanada – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Nesta segunda-feira, em rede nacional de tevê, o presidente Lula destacou o programa Farmácia Popular, enquanto a saída de Nísia Trindade já era anunciada nos telejornais como certa

Em 1963, Carlos Lyra e Vinicius de Moraes produziram o musical Pobre Menina Rica, para o qual compuseram uma dúzia canções, uma das quais intitulou a obra. "Eu acho que quem me vê, crê/ Que eu sou feliz, feliz só porque/ Tenho tudo quanto existe/ Pra não ser infeliz/ Pobre menina tão rica/ Que triste você fica se vê/ Um passarinho em liberdade/ Indo e vindo à vontade, na tarde/ Você tem mais do que eu/ Passarinho, do que a menina", diz a letra da música.

Convidada para ser a voz feminina da peça musical, foi nela que Nara Leão estreou sua carreira profissional em 1963. É uma história de amor de uma moça de classe alta carioca com um mendigo poeta. Muitos acreditam que a musa da bossa nova inspirou a criação da peça, porque nem Lyra nem Vinicius pensaram duas vezes em convidá-la para o musical. Em 1965, Carlos Lyra gravaria a trilha sonora de Pobre Menina Rica, em disco lançado pela CBS, que contou com a participação de Dulce Nunes, Moacir Santos, Catulo de Paula e Telma Soares, um clássico da bossa nova.

Gastança e rombo fiscal: calma, gente, calma! - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Brasil deveria ter um plano de médio e longo prazo para estabilizar a dívida

Ao ler coluna publicada neste espaço 15 dias atrás, um leitor enfurecido a considerou “um louvor à política desenvolvimentista irresponsável do lulopetismo”. Razão aparente do furor: a afirmação de que a austeridade fiscal é importante, mas não pode ser remédio para todos os males.

Foi a única manifestação desse tipo entre outras civilizadas e favoráveis.

Há espaço para uma discussão mais séria dessa questão. O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, em entrevista à TV Brasil, observou que ocorre no mundo inteiro, não apenas no Brasil, o domínio dos mercados financeiros e de suas visões sobre como deve ser a política econômica. E o refrão dessas forças dominantes é “risco fiscal”, em outras palavras, o risco de se gastar mais do que se arrecada.

Lula vai à TV divulgar programas 'vitrines' do governo

Jéssica Sant’Ana e Fabio Murakawa  / Valor Econômico

Presidente anuncia ampliação do Farmácia Popular e pagamento do Pé-de-Meia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento na noite de segunda-feira (24), em rede nacional de televisão, para divulgar a ampliação da lista de produtos gratuitos oferecidos pelo Farmácia Popular e para anunciar o início do pagamento de R$ 1 mil aos alunos participantes do programa Pé-de-Meia aprovados em alguma etapa (1, 2 ou 3 ano) do ensino médio.

“Eu venho aqui para falar de dois assuntos muito importantes, uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”, iniciou Lula.

Haddad: “Se o Brasil não crescer, não existe ajuste fiscal possível”

Alex Jorge Braga / Valor Econômico

Ministro da Fazenda deu as declarações durante evento em São Paulo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que não é possível fazer ajuste fiscal sem crescimento econômico. Ao criticar os dois presidentes anteriores, Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), ele disse que o país não cresceu e ainda teve déficit fiscal, mesmo com a regra do teto de gastos que congelava as despesas públicas.

Haddad disse ainda que o atual arcabouço fiscal, aprovado no atual governo, prevê uma cota mínima de investimentos. O piso de investimentos, segundo Haddad, parte da ideia de que “se o Brasil não crescer, não existe ajuste fiscal possível.” O ministro ainda afirmou que se o país perseverar no cumprimento do arcabouço fiscal, conseguirá chegar a um patamar de melhores resultados primários que vão acontecer junto com o crescimento econômico, o que, consequentemente, irá abrir espaço para investimentos.

Tudo junto e misturado na guerra às big techs e ao golpismo - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Entrelaçamento entre big techs e golpismo dará vida própria ao embate tupiniquim, o que não significa que seja mais fácil divisar o rumo que virá a tomar

Na sexta, 21, a Casa Branca soltou um memorando determinando a adoção de tarifas e sanções contra governos cuja estrutura regulatória imponha penalidades “discriminatórias e desproporcionais” a empresas americanas de tecnologia. O memorando tem como pressuposto a geração, pelos EUA, de um PIB digital maior do que toda a economia de quase todos os países do mundo. E considera que esta riqueza não é devidamente apropriada pelos americanos porque governos estrangeiros exercem autoridade “extraterritorial” indevida sobre essas empresas.

O memorando dá seguimento às ameaças feitas pelo vice-presidente J.D.Vance em dois discursos na Europa, o da Cúpula de Ação sobre a Inteligência Artificial (Paris) e o da Conferência de Segurança (Munique). Em ambos, fez dura condenação à Europa pela afronta da vanguarda regulatória à “liberdade de expressão”.

Trump quer um mundo seguro para os autocratas - Gideon Rachman

Financial Times / Valor Econômico

A dura verdade é que Vladimir Putin e Donald Trump estão unidos em seu desprezo pelas democracias europeias

"O mundo deve se tornar seguro para a democracia. Sua paz deve ser estabelecida sobre os comprovados fundamentos da liberdade política." Essas foram as palavras do presidente Woodrow Wilson em abril de 1917, às vésperas da entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial.

Mais de um século depois, Donald Trump embarcou em uma missão global muito diferente. O presidente dos EUA está tornando o mundo seguro para a autocracia.

A afirmação de Trump de que a Ucrânia foi responsável por sua própria invasão e que Volodymyr Zelensky é um ditador trouxe clareza.

Os saltos da extrema direita - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro de cientista político português explica o padrão de crescimento de partidos como a AfD na Europa

"Natura non facit saltus", a natureza não dá saltos. Mas a política dá. Em pouco mais de dez anos, a Alternative für Deutschland (AfD), pulou de partido irrelevante, que não conseguia superar a cláusula de barreira, para ingressar no Parlamento alemão, a segunda força política do país. E o problema é que a AfD é um partido de extrema direita.

A melhor explicação que li para o fenômeno é a dada pelo cientista político português Vicente Valentim (Oxford) em "The Normalization of the Radical Right". O livro tem uma pegada bem mais acadêmica do que os que costumo recomendar aqui, mas é valioso para quem quer entender o que ocorre na Europa. O que mais chama a atenção é o padrão. Estamos falando de partidos extremistas que, em duas ou três eleições, passam da insignificância a votações expressivas. Países como EspanhaPortugal e Alemanha pareceram inicialmente imunes, mas também sucumbiram.

Papa Francisco vs J. D. Vance - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Pontífice é um contraponto cristão àqueles que dizem defender a 'civilização cristã'

É questão tempo até que o AfD vença na Alemanha e o RN na França? Espero que não. Espero que o mundo democrático adquira os anticorpos para o nacionalismo e a xenofobia e sei que isso só será possível se líderes com valores e ideias melhores conseguirem persuadir a população. Uma dessas lideranças, hoje, é o papa Francisco, cujo estado de saúde delicado tem ocupado o noticiário.

Francisco cumpre um papel importante no debate público: num mundo no qual a direita nacionalista cresce a passos largos, ele é um contraponto espiritual que propõe valores cristãos contra uma ideologia que se vende como defensora da "civilização cristã".

Um tribunal na berlinda – Dora Kramer


Folha de S. Paulo

Confiabilidade do STF também estará em julgamento na ação contra Bolsonaro & parceria

Não havendo dúvida de que a denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro (PL) será aceita, o Supremo Tribunal Federal está na iminência de outra vez julgar ação envolvendo uma figura de proeminência-mor na República.

No caso do mensalão, o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) não estava na lista dos processados, mas sua sombra pairava no ambiente que lhe foi desfavorável depois, quando o Supremo referendou as decisões de Curitiba na Operação Lava Jato.

O mistério da morte de JK - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Tema de três livros de Carlos Heitor Cony, nova investigação busca um fato novo

Carlos Heitor Cony tinha uma caraminhola, uma ideia recorrente, uma quase obsessão na cabeça: a de que Juscelino KubitschekJoão Goulart e Carlos Lacerda, pela capacidade de aglutinar as forças de oposição, foram assinados durante a ditadura militar. "Somente um fato novo poderá descerrar o mistério", afirmava Cony, que abordou o tema em três livros: "Memorial do Exílio" (reeditado como "JK e a Ditadura"), "O Beijo da Morte" e "Operação Condor", os dois últimos com a jornalista Ana Lee.

Entrar ou não entrar na OCDE - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Contrariando a política de governos anteriores, inclusive do PT, a atual gestão decidiu congelar as negociações

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um dos principais centros de discussão e definição das agendas econômica, comercial, financeira, social e ambiental global, é integrada por 38 países, inclusive Chile, México, Colômbia (governos de esquerda) e Costa Rica. A Argentina busca acelerar seu ingresso na organização.

Ao Brasil, seria importante ingressar na OCDE para poder influir no exame de questões que afetam os interesses nacionais e que serão reguladas internacionalmente neste ou em outros fóruns. Iniciadas na década de 1990, as relações do Brasil com a OCDE foram intensificadas gradualmente nos governos Cardoso, Lula e Rousseff. Em 2007, junto com outros cinco países, o Brasil virou “parceiro prioritário” da organização. Em 2015, o então chanceler Mauro Vieira assinou acordo de cooperação com a organização. Em 2017, o Brasil submeteu pedido de adesão à OCDE, mas o seu processo de acessão só foi iniciado em 2022, no governo Bolsonaro, juntamente com Argentina, Peru, Indonésia, Tailândia, Croácia, Romênia e Bulgária.

Motosserra e o que resta de cooperação - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

Em nome do slogan de sua campanha, Trump vem perturbando as relações internacionais e enfraquecendo as organizações multilaterais

Acena foi curta, mas rendeu imagens marcantes. Durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) realizada na semana passada em National Harbor, Maryland, o presidente argentino Javier Milei entregou uma reluzente motosserra vermelha ao bilionário Elon Musk, encarregado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, de reduzir o peso do Estado. Naquele momento, embora enfrentando uma crise política interna gerada por seu envolvimento no escândalo com criptomoedas que provocou prejuízos para seus concidadãos, Milei pôde desfrutar de uns poucos minutos de atenção da imprensa mundial. Motosserra foi um dos símbolos de sua campanha presidencial, baseada na promessa de profundos cortes de gastos do governo. Reduzir despesas públicas é também a função de Musk no governo Trump.

Poesia | Poemas da Cabra - João Cabral de Melo Neto

 

Música | Carolina - Elizeth Cardoso, Zimbo Trio, Jacob do Bandolim & Conjunto Época de Ouro, 1968

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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reforma com mais respeito

Correio Braziliense

Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma ministerial

Em entrevista à Rádio Tupi, do grupo Diários Associados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que cabe a ele, e tão somente a ele, decidir as mudanças em seu ministério. Seria recomendável, então, o chefe do Executivo definir logo o processo, a fim de evitar mais desgastes em um governo que enfrenta problemas de popularidade.

Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma ministerial. Novamente, a titular da pasta da Saúde, Nísia Trindade, tornou-se alvo de violenta especulação. Nem o presidente Lula, nem a própria citada, nem qualquer integrante graduado do governo se manifestou oficialmente. Por dois dias seguidos, a ministra divulgou, por meio de assessoria, informações sobre sua atuação à frente da pasta, em uma espécie de prestação de contas aos críticos e à opinião pública. Tudo muito dissimulado, sem transparência.

A realidade dos memes e a fumaça em Brasília – Fernando Gabeira

O Globo

Lula está isolado, capturado dizem alguns. Surgem inúmeros debates sobre quem o capturou e para quê

Na semana passada, fiquei mais velho ainda e pensei em dedicar um tempo aos meus livros. Eles andam dispersos e desafiam a paciência doméstica.

Tenho mais livros do que posso ler. Comprei o que pude, principalmente na Livraria Leonardo da Vinci. Era uma livraria francesa, mas Dona Vanna, quando viajava, trazia muita coisa em inglês. Separava em pequenos pacotes para mim. Carlos Drummond de Andrade e o romancista maranhense Josué Montello também tinham seus pacotes. O que me dava uma sensação de importância, como se os pacotes abrissem, por si, o caminho da importância cultural.

O acaso do passado – Miguel de Almeida

O Globo

Logo mais saberemos se Deus voltou a ser brasileiro. Com Bolsonaro inelegível, as eleições de 2026 podem não contar com Lula da Silva. Sem um nome competitivo, o PT parece vislumbrar o final de sua dinastia.

Imagine: 2027 sem Lula, Bolsonaro ou o PT. Não é torcida. São os fatos trazidos pelas pesquisas reveladoras de um novo Brasil — e também pela Justiça. Ao que tudo indica, quando a primavera vier, o pai de Jair Renan poderá encontrar as bem merecidas grades.

Nesse provável cenário, a corrida presidencial do próximo ano deverá ser a primeira desde a redemocratização sem os personagens fundamentais que capitanearam a luta contra a ditadura. Sejam Haddad, Ciro, Tarcísio, Caiado, Ratinho ou Zema, todos são políticos do período democrático. Com pé na direita ou esquerda, ganhando ou perdendo, passaram por eleições. À direita, a distinção se dá entre quem mata mais ou diz que mata menos. À esquerda, é o ritmo de modernização do Estado que marca o passo.

Por que a AfD não deve ir para o novo governo - Jim Tankersley*

O Globo

A rejeição coletiva das demais siglas ao partido AfD é parte de um esforço de décadas para impedir a entrada dos radicais no tabuleiro político do país que viveu o nazismo

O próximo governo da Alemanha quase certamente será uma coalizão de vários partidos políticos para então formar uma maioria no Parlamento. Mas uma legenda quase certamente será excluída dessa coalizão, independentemente do seu desempenho final: a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita.

Embora as primeiras pesquisas de boca de urna no domingo tenham mostrado o AfD em segundo lugar, impulsionado principalmente por sua oposição à migração em massa e sua promessa de deportar imigrantes, todos os outros partidos tradicionais da Alemanha se recusam a convidá-lo para o governo. Esse bloqueio é conhecido na Alemanha como o “firewall” (cordão sanitário) e é resultado direto dos esforços do país no pós-Segunda Guerra Mundial para suprimir partidos e vozes rotuladas como extremistas.

O que Lula deseja com a reforma ministerial? - Bruno Carazza

Valor Econômico

A política mudou e trocas no comando das pastas não trazem mais os mesmos resultados de antigamente

A novela se arrasta por meses e muita tinta e saliva já foram gastas para analisar as possíveis trocas que Lula pretende fazer na Esplanada dos Ministérios. Com mais da metade do seu terceiro mandato transcorrida, popularidade em queda e diante de uma mudança nos postos de liderança da Câmara e do Senado, o presidente tenta montar um quebra-cabeça que prepare seu governo para uma disputa eleitoral cada vez mais próxima.

São três os principais motivos pelos quais os presidentes da República realizam amplas reformas nos seus ministérios.

Mercado dá primeiro sinal positivo para o Copom - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Descompressão da inflação implícita é um sinal de que o mercado está um pouco mais confiante de que a dose cavalar de juros injetada pelo Banco Central vai fazer efeito

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai levar os juros básicos a 14,25% ao ano em março e deixou em aberto a possibilidade de ir além. O aperto vai funcionar para trazer a inflação para a meta?

Os economistas do mercado consultados na pesquisa Focus acham que não, por isso as expectativas de inflação pioram semana a semana. Mas os preços de mercado, definidos pelas mesas de operação das instituições financeiras, dão os primeiros sinais positivos.

O que Trump significa para o Sul Global - Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

Em um mundo caótico, a resiliência geopolítica se torna essencial para garantir a soberania e a estabilidade do Brasil

Em vários sentidos, a volta de Donald Trump é uma péssima notícia para países em desenvolvimento. A retórica agressiva e o desprezo pelo Sul Global, evidenciado por declarações como a infame “shithole countries” (algo como “países de m…), indicam um período de relações diplomáticas tensas. O desmantelamento da agência dos EUA para o desenvolvimento (USAID) já coloca em risco a vida de milhões de pessoas em países extremamente pobres. O descompromisso com pautas ambientais e a saída de organismos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm o potencial de produzir efeitos devastadores, prejudicando a cooperação internacional em áreas críticas, como a saúde pública. A suspensão temporária da ajuda militar dos EUA à Colômbia, por exemplo, compromete operações do país contra guerrilheiros e narcotraficantes, com possíveis consequências para a segurança de fronteira do Brasil. Uma política migratória mais restritiva pode negativamente impactar mercados de trabalho na América Latina e reduzir remessas. Os ataques de Tump ao Brics e à África do Sul reforçam a percepção de que seu governo será hostil ao Sul Global.

Fim da cautela - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Após comedimento inicial, as críticas de Lula a Trump servem a propósitos da política doméstica

O governo Lula reagiu inicialmente com comedimento aos primeiros pontos de tensão com Donald Trump. Após as deportações com imigrantes algemados e os anúncios de novas tarifas de importação nos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, as respostas foram calibradas para não doer nos calos do presidente americano, conhecido por se fazer de ofendido para usar a vingança como instrumento de geopolítica.