quinta-feira, 20 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

BC não poderá ceder a apelos populistas

O Globo

Autoridade monetária tem agido bem até aqui. Seu papel será ainda mais crucial diante do risco fiscal futuro

Banco Central (BC) terá, na segunda metade do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, papel ainda mais crucial que na primeira. Não que os últimos dois anos tenham sido tranquilos. Para estimular a economia, o governo expandiu sem cerimônia o gasto público. Um dos efeitos colaterais foi a inflação. Em 2023, ela ficou em 4,62%, pouco abaixo do teto da meta. No ano passado, subiu para 4,83%, acima do limite. Nos últimos 12 meses, está em 5,06% (mais de meio ponto de estouro).

De um lado, o governo jogava lenha na caldeira e, do outro, o BC tentava baixar o fogo subindo os juros. No último trimestre do ano passado, a economia finalmente desacelerou. À primeira vista, poderia ser o prenúncio de menor pressão inflacionária e de política monetária menos restritiva. Mas, como mostrou nesta quarta-feira a alta dos juros — a taxa básica foi para 14,25%, nível mais alto desde outubro de 2016 —, a história não é bem assim. No comunicado, o BC acertadamente deixou a porta aberta a novos aumentos, mas previu ajustes menores. Espera-se que continue a se orientar por razões técnicas.

Queda de braço - Merval Pereira

O Globo

Os mercados, e não apenas o brasileiro, não acreditam que Lula tenha condições de mudar a rota que traçou para seu governo

Não é de hoje que o presidente Lula tem o mercado financeiro como um dos principais adversários em sua vida política, por uma visão ideológica que enxerga o capitalismo como projeto de poder que privilegia as classes dominantes na sociedade. Embora tenha sido um dos mais populares líderes políticos do país, nunca obteve maioria no Congresso. Sempre usou a pressão popular para forjar maiorias eventuais e aprovar seus projetos.

Essas maiorias, como se sabe historicamente, sempre surgiram com o apoio de partidos que, em troca, recebiam pequenas, mas importantes, parcelas do Estado brasileiro como compensação, sem que Lula precisasse aproximar-se politicamente deles, nem que tivessem voz nas decisões do governo. Recompensas por meio de estatais como a Petrobras, como no caso do petrolão, esquema descoberto pela Operação Lava-Jato, ou simplesmente de outras, como no mensalão.

Guerra à vista na direita - Malu Gaspar

O Globo

Enquanto o governo Lula aproveita o raro momento de tranquilidade com o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a disputa pelo espólio eleitoral de Jair Bolsonaro ganhou contornos mais concretos nos últimos dias.

O ato em Copacabana por anistia aos presos do 8 de Janeiro flopou. Silas Malafaia pôs a culpa num hábito que atribuiu ao carioca: acordar tarde aos domingos. Mas a comparação com o ato nas mesmas condições em abril de 2024 sugere que a capacidade mobilizadora do bolsonarismo encolheu.

Com isso, o plano de usar a massa para pressionar o Congresso a aprovar a anistia ficou prejudicado. O presidente da Câmara dos DeputadosHugo Motta (Republicanos-PB), que andou flertando com a ideia de pautar a votação do projeto nos primeiros dias de mandato, já a abandonou.

Nesse contexto, a ida de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para os Estados Unidos nada tem de improvisada. Ao contrário, obedece a uma estratégia com finalidades bem claras. A primeira é criar um factoide, não necessariamente com o objetivo de dispersar a atenção dos adversários, mas para engajar o minion que precisa de razões para continuar na guerra ideológica, às vésperas do início de um julgamento que monopolizará a atenção do Brasil por meses — e que deverá acabar em condenação para Jair Bolsonaro.

Julgamento de Bolsonaro antecipa articulações eleitorais à Presidência - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ex-presidente insiste na manutenção da pré-candidatura e pretende fazer do seu julgamento, no Supremo, um palanque

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para manter os ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino no julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. Os três ministros fazem parte da Primeira Turma do Supremo, que na próxima terça-feira analisará a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chamado núcleo da organização criminosa, que seria formado pelo ex-presidente e sete aliados. A defesa de Bolsonaro também pediu que a denúncia fosse julgada pelo plenário do Supremo, composto pelos 11 ministros, e não pela turma, que tem cinco.

Entre os réus, estão os generais Walter Braga Netto e Mário Fernandes. Os advogados do primeiro pediram o afastamento de Moraes da relatoria das investigações; a defesa do segundo, o de Dino. A defesa de Bolsonaro defendia o impedimento de Zanin e Dino. Argumentava que os ministros do STF já processaram o ex-presidente no passado.

Os ministros que são alvos dos questionamentos não analisaram os recursos contra eles, somente os relacionados aos colegas. Votaram contra impedimento Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Dias Toffoli e Luiz Edson Fachin, além de Dino e Moraes.

Os juros vão continuar a subir - Míriam Leitão

O Globo

Copom eleva Selic e indica outra alta em maio. Qualquer que seja o percentual, os juros ficarão acima de quando inflação atingiu dois dígitos

Os juros continuarão subindo, mas em ritmo menor. Esse foi o principal recado do Banco Central ontem, embora não tenha indicado de quanto seria essa nova alta. O Copom preferiu se deixar livre para decidir, em 7 de maio, por dois motivos: no Brasil, os dados são imprecisos; e no exterior, a incerteza é enorme em função da política comercial do governo Donald Trump. Apesar do verdadeiro choque de juros que o BC já aplicou no país, nas últimas três reuniões, a economia continua crescendo. “Ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”, diz o comunicado.

inflação ficará acima do teto da meta no final do ano. Mas quanto? Ontem, o Ministério da Fazenda divulgou relatório falando em 4,9%. O BC usou os dados do mercado, que coleta através do Boletim Focus, e aponta que as projeções subiram muito: 5,7% para o final de 2025 e 4,5% em 2026.

Lula vence primeira batalha pelo eleitor bolsonarista - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Questão agora é saber com que roupa se agregarão os sócios de todos os naipes que esta isenção vai atrair

Três meses depois de a intenção do governo de isentar de Imposto de Renda a faixa até R$ 5 mil levar o dólar a R$ 6,26, o projeto foi enviado ao Congresso. No dia seguinte, o dólar fechou em R$ 5,64.

O fenômeno encontrou uma miríade de explicações dentro e, principalmente, fora do governo. Em dezembro, diz um, o mercado tinha pedido sushi (ajuste fiscal) e recebeu macarronada (isenção de IR para mais pobres). A neutralidade tributária da proposta está mais amarrada e convincente, diz outro. E ainda há quem sustente que é moralmente indefensável atacar uma saída que minora a desigualdade de renda do país.

Como a situação fiscal não mudou, as leis que regem as contas públicas continuam a impedir que se aprovem despesas sem previsão de receitas e a moralidade pública nunca foi um impedimento à apropriação de riqueza no país, as explicações parecem insuficientes.

Otimismo com cautela na temporada de balanços desafiadora - Nelson Niero

Valor Econômico

A grande preocupação é como o macro está batendo no micro, especialmente no equilíbrio entre as receitas de vendas das empresa e os custos

No mundo dos negócios, não existem problemas nem dificuldades, há desafios. “Desafiador” é o adjetivo preferido dos executivos para explicar aquelas situações que em ambientes menos formais seriam definidas sucintamente por um palavrão. O Brasil é desafiador por natureza, e estes são tempos muito desafiadores, para qualquer lado que se olhe, até para os padrões escrachados do país que, segundo o magistrado, ainda precisa ser “recivilizado”.

Não é preciso dizer que nesta temporada de resultados das companhias de capital aberto, que começou em fevereiro, fez uma pausa para os desafios carnavalescos e voltou para a reta final, os executivos estão sendo educadamente pressionados pelos analistas e investidores nas teleconferências de apresentação dos números a explicar em detalhes o tamanho das dificuldades, ou melhor, dos desafios, que estarão diante das companhias neste ano.

Copom procura manter as rédeas do ciclo de aperto - Alex Ribeiro

Valor Econômico

O colegiado indicou claramente que a próxima alta dos juros, a ser decidida em maio, será menor do que o ritmo de 1 ponto percentual utilizado nas três últimas reuniões

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central preferiu jogar no seguro, dizendo claramente que o ciclo de aperto monetário não terminou, evitando reações negativas de setores do mercado que defendiam uma postura mais firme do comitê.

O colegiado procurou manter as rédeas do ciclo de aperto monetário, indicando também claramente que a próxima alta dos juros, a ser decidida em maio, será menor do que o ritmo de 1 ponto percentual utilizado nas três últimas reuniões.

Qual vai ser a próxima decisão do Copom? A sinalização deixa em aberto três possibilidades: alta de 0,75 ponto, de 0,5 ponto e de 0,25 ponto. Está certo que, hoje, parece improvável uma alta de apenas 0,25 ponto percentual, dado o cenário inflacionário como um todo. Mas essa hipótese não foi excluída do leque de possibilidades e, portanto, não deveria ser completamente ignorada.

Cem anos dessa praga - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

‘Mein Kampf’ não é página virada. O Terceiro Reich foi projetado por Hitler para durar mil anos. Como doutrina, já durou cem. E vem mais por aí

Em julho de 1925, o livro Mein Kampf (Minha luta), de Adolf Hitler, foi lançado na Alemanha. No ano seguinte, 1926, chegou aos leitores um segundo volume, este mais dedicado ao tema da organização partidária. A partir daí, nas edições posteriores, os dois volumes foram reunidos num só e Mein Kampf fez sua carreira editorial dividido em duas partes: a primeira, com 12 capítulos, e a segunda, com 15. Nesse compêndio de horrores, o autor destila ódio, megalomania, ressentimento, antissemitismo, nacionalismo, xenofobia e apologia da violência para fixar o ideário nazista. Com êxito.

Faz um século – e não passou. A coisa nunca mais arredou pé. Em 30 de janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler pelo presidente Paul von Hindenburg. Ato contínuo, transformou seu país numa ditadura totalitária. Logo que chegou ao poder, foi saudado por passeatas noturnas em que jovens fardados carregavam tochas em formação militar. Eram as Fackelzug. No documentário O Fascismo de Todos os Dias, de 1965, dirigido pelo russo Mikhail Romm, podemos ver esses rios ígneos apavorantes.

Colheita de resultados - William Waack

O Estado de S. Paulo

As benesses políticas com a reforma do IR devem ficar aquém do que o governo espera

Na visão de Lula é infalível a fórmula de injetar dinheiro para consumo e esbravejar na peleja ricos contra pobres. É o que promete a reforma do IR para fazer “ricos” pagarem por um benefício para “pobres” (a isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês).

Há anos que se apontam as severas distorções do sistema tributário brasileiro e sua falta de progressividade – um dos piores exemplos entre as maiores economias do mundo. Se aprovada como proposta, a reforma vai reduzir para apenas 10% da população economicamente ativa a base de contribuintes do IRPF.

Embora eloquente como retrato do nível de desigualdade do País, não é isto que está em discussão. Nem se trata também de “justiça histórica” em relação à tungada sofrida por contribuintes há décadas por conta da falta de correção da tabela do IR.

PIB de 2024 cresceu 3,4%, mas... - Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

É preciso cobrar do governo uma atuação bem mais forte pelo crescimento econômico do País

A notícia foi divulgada pelo IBGE no dia 7 de março de 2025, e só hoje a estou comentando porque no dia anterior eu havia publicado meu artigo neste espaço, e escrevo a cada duas semanas. O governo e muitas pessoas se contentaram com a taxa de 3,4%, mas ela veio de novo no contexto de baixas taxas de crescimento econômico desde 1980. E esse crescimento é cíclico, em ondas que não se sustentam. Entendo que isso ainda é mal compreendido pela população do País, que parece dominada por baixas aspirações quanto ao crescimento econômico nacional e não reclama.

De minha parte, acho que o Brasil deveria ter uma meta de crescimento maior, começando com 4% ao ano, e num caminho marcado por mais investimentos públicos e privados, porque hoje são muito baixos. E são maiores investimentos em Formação Bruta de Capital Fixo que levam a uma produção maior, a mais empregos, mais renda, tudo aquilo que impulsiona a economia de um país e seu Produto Interno Bruto (PIB).

BC duro sem perder a ternura - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Autoridade monetária não dá sinais de que está mais preocupada com PIB do que com inflação

A praça financeira fazia pressão para que o Banco Central não amolecesse. Isto é, não desse sinal de que a campanha de elevação da Selic teria fim no horizonte visível. Os "falcões" (a favor da dureza nos juros) ameaçavam morder o BC "pombo" (mole com a inflação).

Nesta quarta, o BC foi duro sem perder a ternura, para recorrer de modo irônico ao clichê. Não houve indício de que está mais preocupado com o ritmo da economia do que com o controle da inflação. Mas disse que agora vai mais devagar com o andor.

Segundo o BC, a Selic aumenta mais uma vez na próxima reunião do Copom, em maio. Para junho, não há indicação. No entanto, depreende-se, pela descrição que o BC faz de riscos e outras avaliações de conjuntura, que esta campanha contra a inflação não tem data para acabar.

Eduardo Bolsonaro não é exilado político - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Entre a Disney e o seu país, preferiu chorar nos ombros do Pateta

Eduardo Bolsonaro não é exilado político. Pela lei americana, em especial a Lei de Refúgio de 1980, não é elegível ao asilo político o estrangeiro sobre o qual há sérias razões para considerar que tenha cometido um crime comum grave fora dos EUA, ou que tenha ordenado, incitado, auxiliado ou participado da perseguição de qualquer pessoa devido à sua opinião política.

É insincero o choro de crocodilo do clã Bolsonaro, dizendo-se perseguido ao ser pego pela Justiça tentando perseguir e matar seus inimigos políticos, segundo as investigações. Perseguição haveria se a família Bolsonaro tivesse sido bem-sucedida no golpe que intentou.

Falta algo na pauta popular do governo - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Às esquerdas toca avançar no caminho da equidade num país longe de assegurar igualdade de oportunidades

Entrevistado por Mônica Bergamo, no domingo (16), o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, não poderia ter sido mais claro quanto ao caminho a seguir: "É mudar de assunto, é entrar na pauta popular. A minha linha agora é que este ano de 2025 é o ano do Lula. É Lula sendo Lula. É Lula falando da vida do povo, é o Lula do Pé-de-Meia, é o Lula do crédito ao trabalhador, que vai beneficiar 40 milhões. É o Lula do Vale-Gás, é o Lula da isenção do Imposto de Renda".

A esta altura é impossível avaliar o impacto eleitoral desse conjunto de medidas. O que se pode dizer é que o presidente e seu partido apostam que tais iniciativas ­—somadas ao crescimento continuado da economia e do emprego— os ajudarão a permanecer no governo federal a partir de janeiro de 2027.

Bolsonaro precisa aprender português - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Ele e os seus serão julgados conforme a lei, o que a ditadura que admiram não permitia aos adversários

Bolsonaro precisa aprender português. Quer ser absolvido de crimes que diz não ter cometido. Como ser absolvido de algo de que não se é culpado? Outro dia subiu a um palanque para pedir anistia para os inocentes que tocaram o terror em Brasília no 8/1 na tentativa de induzir o Exército a dar um golpe. Mas é possível anistiar inocentes? E ele não admite que se condene a 17 anos uma doce velhinha de Bíblia na mão, saída de seu burgo na roça, apenas porque ela se deixou iludir pelas mentiras que ele próprio disseminou. Como ela poderia saber que estaria em tão más companhias quando lhe ofereceram um passeio a Brasília com tudo pago e uma aprazível temporada num camping diante de um quartel?

Poesia | Mundo Grande, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Beth Carvalho, Ivete Sangalo - Brasil Pandeiro

 

quarta-feira, 19 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais /Opiniões

Reforma do IR fica aquém de corrigir injustiças

O Globo

Proposta do governo traz avanço, mas não enfrenta regimes especiais que geram as maiores distorções

O projeto de reforma do Imposto de Renda (IR) enviado pelo governo ao Congresso parte de um diagnóstico correto: o regime tributário brasileiro é repleto de distorções. Quem está nas faixas de renda mais baixas acaba, proporcionalmente, pagando mais imposto — no jargão técnico, o IR é “regressivo”. Ao elevar o limite de isenção de R$ 2.824 para R$ 5 mil por mês e ao reduzir alíquotas para quem ganha até R$ 7 mil, o governo procura reparar essa injustiça e cumprir uma promessa de campanha que deve beneficiar 10 milhões de contribuintes. A reforma proposta representa sem dúvida um avanço, mas fica aquém de corrigir as distorções que tornam injustos os impostos brasileiros, além de ter efeito fiscal incerto.

É meritória a tentativa de tornar a cobrança de impostos no Brasil menos regressiva. Os contribuintes de renda mais alta hoje pagam taxas menores. A alíquota efetiva (percentual calculado depois de todos os descontos permitidos na declaração) sobe de acordo com o rendimento até chegar ao topo da pirâmide. A partir dos 5% que mais ganham, começa a cair. Isso acontece por diferentes motivos. A maior distorção: os rendimentos de quem ganha mais costumam ser recebidos na forma de dividendos, pagos por empresas que se valem de regimes especiais de tributação, como Simples ou Lucro Presumido. Tal mecanismo beneficia médicos, advogados, profissionais liberais e contratados como pessoa jurídica.

A extrema direita e a arte de distrair - Vera Magalhães

O Globo

Show pirotécnico da família terá efeito prático zero sobre o destino judicial do patriarca e dos demais

Não se pode negar à extrema direita, aqui e alhures, o domínio da arte de plantar distrações no debate público e, com isso, mobilizar as atenções e as conversas. O Brasil, de novo, foi laboratório para esse tipo de experimento nesta terça-feira, quando um projeto complexo, que diz respeito, direta ou indiretamente, a milhões de contribuintes, dividiu espaço no noticiário, nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp com um factoide da família Bolsonaro: o filho Zero Três de Jair está de partida para mais uma temporada morando nos Estados Unidos, desta vez, aparentemente, não para fritar hambúrguer.

Provavelmente, a coincidência dos anúncios do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que reuniu Lula, ministros e os comandantes das Casas do Congresso, e de que Eduardo Bolsonaro se licenciará indefinidamente do mandato de deputado federal para ficar nos Estados Unidos e, de lá, ficar atirando no Judiciário brasileiro não foi estrategicamente pensada.

Mas foi didática para ver quanto somos facilmente tragados para uma agenda que só interessa à família, cada vez mais pressionada pela iminência de que os atos golpistas praticados com comando e anuência do ex-presidente sejam julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Kotscho na luta pelas direta – Elio Gaspari


 Globo

Livro sobre campanha das Diretas mostra país alegre que se foi

O Senado relançou ontem o livro “Explode um novo Brasil: diário da campanha das Diretas”, do repórter Ricardo Kotscho, que cobriu para a Folha de S.Paulo a maior campanha popular da História do Brasil. Ela começou em fevereiro de 1983, quando o deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou um projeto de Emenda Constitucional restabelecendo as eleições diretas para a Presidência da República, e terminou em abril de 1984, quando a proposta foi ao arquivo porque lhe faltaram 22 votos.

Ler o “Diário” de Kotscho permite revisitar a explosão de manifestações políticas de um Brasil alegre, atirado em doces paradoxos. No primeiro, a campanha das Diretas foi derrotada, mas Tancredo Neves foi eleito indiretamente, marcando o fim da ditadura. No segundo, eleito, Tancredo morreu sem assumir. José Sarney, seu vice, saído do partido do governo, conduziu a transição para a democracia e, em 1989, presidiu a primeira eleição direta desde 1960.

Bananinha no exílio - Bernardo Mello Franco

O Globo

Eduardo Bolsonaro trocou o trabalho em Brasília por uma temporada de férias nos Estados Unidos. O Zero Três informou que pediu licença da Câmara. Partiu sem marcar data para voltar ao batente.

O anúncio causou surpresa até no PL. O deputado estava em campanha para presidir a Comissão de Relações Exteriores. Queria usá-la como tribuna para defender o pai, prestes a virar réu por tentativa de golpe.

Há três semanas, deputados do PT pediram a apreensão do passaporte de Eduardo. Alegaram que ele tentava usar seus contatos nos EUA para obstruir investigações e interferir em instituições brasileiras.

No vídeo divulgado ontem, o Zero Três indicou que os adversários tinham razão. Ele voltou a atacar a Polícia Federal, chamou integrantes do Supremo de “psicopatas” e avisou que sua nova “meta de vida” é retaliar o ministro Alexandre de Moraes. Mais tarde, escancarou suas intenções ao dizer que “a solução vai vir aqui dos EUA para resgatar nossas liberdades no Brasil”.

Trama golpista começou antes que o indicado pela PGR - Fernando Exman

Valor Econômico

Existe grande curiosidade em relação à linha de defesa de Bolsonaro no julgamento que está prestes a começar na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal

De forma repentina, o carro da Presidência da República parou e Jair Bolsonaro desembarcou em frente ao Quartel-General do Exército. Parecia que seus apoiadores já o aguardavam, embora o compromisso não constasse da agenda oficial daquele domingo de 2020.

Alguns manifestantes carregavam faixas que estampavam pedidos inconstitucionais, como o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) e a edição de um novo AI-5, ato institucional que deu início ao período mais violento da ditadura militar. Uma delas não podia ser mais direta: “Intervenção militar com Bolsonaro”, dizia, em letras garrafais.

“A nossa bandeira jamais será vermelha”, gritava repetidamente a multidão, que talvez sequer tenha notado a ironia no fato de Bolsonaro estar vestido com uma camisa polo dessa cor.

Neutralidade é teste para relação com o Congresso - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Propostas de compensação para aumento da isenção devem ser alvo de alterações

“É importante colocar a palavra neutralidade”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dirigindo-se à imprensa. A palavra foi a mais repetida nos discursos feitos durante a solenidade, no Palácio do Planalto, em que foi apresentado o projeto de lei que elevará o limite de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil e, em contrapartida, taxará os super-ricos.

A insistência nela indica a preocupação do governo com o risco de a proposta sair do Congresso Nacional desequilibrada, com modificações que tragam perda de receita e criem um novo problema para as contas públicas. Existe o risco, por exemplo, de haver emendas propondo elevar o limite para valores maiores do que R$ 5 mil.

Quem aceitará um ‘Acordo de Mar-a-Lago’? - Martin Wolf*

Valor Econômico

O que está sendo proposto é a recriação de um sistema global de gestão das taxas de câmbio

A política comercial caótica de Donald Trump só pode levar ao caos econômico. Então, será que o governo Trump pode se deparar com algo mais coerente e menos prejudicial, e ainda assim atender aos objetivos protecionistas do presidente? Talvez. Alguns membros, incluindo Scott Bessent, secretário do Tesouro, e Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos, acreditam que sim.

Se alguém quiser entender essa abordagem mais sofisticada, deve ler “A User’s Guide to Restructuring the Global Trading”, publicado em novembro de 2024. O autor afirma que “este ensaio não é uma defesa de políticas”. Mas, se parece um pato, é um pato. Vindo de um homem em sua posição atual, isso dever ser interpretado como uma defesa de políticas.

Os novos cidadãos - Marcelo de Azevedo Granato

O Estado de S. Paulo

O cidadão forjado no ativo e ruidoso ambiente digital atual não é um indivíduo politizado

No início deste ano, Mark Zuckerberg, dono da Meta, anunciou que a empresa não submeterá mais ao sistema de checagem de fatos as postagens feitas no Instagram e no Facebook nos Estados Unidos. A decisão tem diferentes implicações e justifica todo o debate que provocou e ainda provocará.

É oportuna, porém, a observação feita a respeito do tema no editorial Zuckerberg lava as mãos: “A mediação do real nesse ambiente ( das redes sociais) é simplesmente impossível, por mais formidável que seja a estrutura de checagem de fatos” ( Estadão, 9/1, A3). A observação é oportuna porque recorda a dificuldade de distinguir verdade e mentira numa plataforma que é aberta a todos e que não supõe a participação de especialistas dedicados a fazer essa distinção (e, então, torná-la acessível a todos), como faz a imprensa profissional.

A encruzilhada da Selic - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Se as projeções de inflação continuarem nos níveis atuais, trazer a inflação para a meta ficará mais caro

Até onde o Banco Central pretende subir a taxa Selic é o grande foco de atenção ao fim da reunião do Copom hoje, uma vez que uma alta de 1 ponto porcentual, para 14,25%, já está sacramentada. Resta saber, no comunicado que acompanhará a decisão, qual será a sinalização para os próximos passos do atual ciclo de aperto monetário.

De um lado, exacerbou-se a incerteza do ambiente externo, particularmente o que vai acontecer, de fato, com a guerra comercial do presidente Donald Trump, diante do seu vaivém na adoção das tarifas de importação. Ninguém sabe ao certo qual o impacto dessa política econômica dos EUA, se será apenas inflacionária ou se jogará o mundo numa recessão. Os principais bancos centrais ainda estão debatendo a estratégia adequada para reagir aos efeitos das medidas de Trump.

Licença repentina de Eduardo Bolsonaro surpreende a Câmara - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Em vídeo, o filho do ex-presidente alegou que está sendo perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes e anunciou que pedirá asilo ao governo dos EUA

Estava praticamente tudo certo: o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara seria o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), indicado pelo líder de seu partido, Sóstenes Cavalcante (RJ). Pelo critério da proporcionalidade entre as bancadas, cabe à legenda com maior número de deputados, no caso o PL, escolher primeiro as comissões que pretende dirigir. Entretanto, de última hora, Eduardo Bolsonaro se licenciou do mandato, anunciou que pretende pedir asilo aos Estados Unidos, onde está, e indicou o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), para o seu lugar na comissão.

Tudo isso ocorreu depois da manifestação de domingo, em Copacabana, em protesto contra a condenação dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro, convocada pelo pastor Silas Malafaia e o ex-presidente Bolsonaro, que reuniu ainda os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR); Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), Mato Grosso, Mauro Mendes (União); e Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). Tarcísio defendeu anistia aos vândalos da Praça dos Três Poderes e criticou a inelegibilidade de Bolsonaro.

E o mundo se cala... – Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O silêncio do mundo é ensurdecedor. Netanyahu decidiu prosseguir com a matança de palestinos porque conta com a anuência de Donald Trump

Enquanto você lê esse texto, pais e mães se debruçam sobre o corpo inerte de seus filhos. Tantos outros são inundados por uma saudade dolorosa dentro de um quarto — ou uma tenda — tomado por um vazio cruel. Provavelmente se agarram ao cheiro de suas crias, que ficou impregnado na roupa. E o mundo se cala. Na madrugada desta terça-feira, recebi fotos de fontes na Faixa de Gaza. Crianças transformadas em bonecos retalhados e largados no chão ou sobre uma mesa fria de um necrotério.

No momento em que escrevo, passam de 450 os mortos nos bombardeios israelenses no território palestino. As forças do premiê Benjamin Netanyahu, cuja sobrevida política depende da guerra, se mobilizam para expandir a campanha militar. Prenúncio de mais violações do direito internacional e massacres. E o mundo se cala.

Com os olhos de ontem e o coração no amanhã - Jorge Messias*

Correio Braziliense

Um caminho para o futuro dependerá do nosso olhar para um Brasil sustentável, ético, inovador e inclusivo, cientes de navegarmos sempre adiante

"A vida divide-se em três períodos: o que se foi, o que está sendo e o que há de vir. Desses, o que estamos atravessando é breve, o que havemos de atravessar é duvidoso, o que já atravessamos é certo".

Se o presente nos parece efêmero e o futuro é incerto, como ensina Sêneca, lembrar o 15 de março de 1985 é uma oportunidade para rever o caminho percorrido, com a alegria de comemorar conquistas com o olhar no futuro. O último sábado marcou os 40 anos da redemocratização do Brasil, momento histórico que simboliza a superação de mais de duas décadas de ditadura militar e a reconstrução das bases democráticas do país.

No dia de sua posse como presidente da República, José Sarney dá início a um ciclo político virtuoso para o Brasil quando disse: "Eu estou com os olhos de ontem. E ainda prisioneiro de uma emoção que não se esgota." Mais do que uma simples transição de poder, a redemocratização representou a retomada dos ideais de liberdade, justiça e participação popular. 

Ricos ainda vão pagar pouco - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Reforma do IR de Lula é justa; há incerteza sobre tamanho da receita com nova tributação

É justo. Se fosse preciso usar uma palavra para definir o projeto de mudança no Imposto de Renda, ao menos nos termos da lei que foi enviada ao Congresso pelo governo Lula, essa palavra seria "justo".

Pode não ser o "mais justo". Em tese, transfere-se dinheiro dos que têm renda maior, R$ 27 bilhões, para trabalhadores de renda bem menor, mas não para os mais pobres ou necessitados de assistências e serviços públicos. Os beneficiados são, em termos estatísticos, de classe média e média alta. É apenas um exemplo.

Isto posto, "a luta continua". Pessoas com rendimentos superiores a R$ 50 mil mensais ou de até de milhões por ano ainda pagarão, na média, tanto quanto aquelas outras com rendimentos entre R$ 7.000 e R$ 50 mil (ou ainda menos). A nova mordida, na verdade, apenas seja mais notável para aqueles com renda superior a R$ 100 mil mensais. Talvez.

Por que talvez?

Para onde o Bolsonarismo vai? - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Dúvida é o quão perto do extremismo do seu criador cairá o fruto escolhido para substituí-lo nas eleições

A oposição fez piada sobre os patriotas pingados que deram as caras em Copacabana. O governador do Rio mandou maquiar a contagem e a PM cravou 400 mil —acabou o Carnaval, mas não a palhaçada.

Nessa guerra de narrativa, os números do domingo (16) não têm tanta importância ao se levar em conta que Jair Bolsonaro ainda tem cerca de um terço dos eleitores muito fiéis, como mostram pesquisas.

A boa notícia diante do fiasco do ato é a constatação de que o poder de mobilização do ex-presidente vem diminuindo e eu já posso tomar café da manhã na padaria do bairro sem tropeçar em idosos gritando "mito". A má é que isso não parece ter a ver com sua popularidade. Gostaria de acreditar que o Brasil cansou daquela cara sebosa do Jair, mas não. Aquele mar de vazio no calçadão da praia mais famosa do Rio pode indicar apenas que boa parte de seus eleitores ainda curtia a ressaca do reinado do Momo ou está resignada com o seu destino e resolveu ficar em casa.

Fogo amigo ajuda o inimigo – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Embora comuns, brigas internas no PT, no momento, atrapalham Lula e servem à oposição

Disputa interna não é novidade no PT. Desde que se entende por gente, há 45 anos, o partido vive embates entre as várias correntes. Antes de ser governo, os petistas faziam grandes reuniões abertas onde pegavam fogo as escaramuças e, no fim, salvavam-se todos sob a liderança de Luiz Inácio da Silva.

Dava gosto de acompanhar. Era o único que fazia esse exercício de vivacidade partidária em público. Ali era possível captar notícias e perceber o que estava em jogo nas internas a fim de compreender as ações externas da maior força de oposição.

Populistas de direita: iguais, mas diferentes - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Todos têm uma elite para condenar, um povo para defender e um sistema para combater

A professora Maria Hermínia Tavares iniciou sua ótima coluna da semana passada indagando sobre o que explicaria o avanço do populismo de extrema direita. Espero que ela continue a nos iluminar na exploração do tema, um dos mais decisivos. Mas, como o foco adotado era compreender por que eleitores aderem ao discurso dos populistas radicais de direita, gostaria de acrescentar algo ao tema, examinando outra questão: a natureza desse populismo.

Nem precisaria ressaltar o quanto esse tema é complexo. Digamos apenas que a concepção mais comum de populismo é negativa, associada à demagogia, ao personalismo e ao desprezo pelas instituições. Eis a razão pela qual ninguém se assume como populista nem aceita essa designação.

Acho, contudo, que é possível encontrar uma definição mais neutra e analítica de populismo, assim como diferenciar as formas que ele assume hoje. O populismo envolve retórica, atitude e crenças. Sua premissa fundamental é que a sociedade se divide entre um povo autêntico e uma elite corrupta. O indivíduo, partido ou governo populista parte dessa premissa para se dirigir à massa popular, representando-a como a parte mais nobre e fundamental da nação e se apresentando como a única forma política que se vincula orgânica e moralmente ao povo, tendo como missão enfrentar as elites em seu nome.

Cessar-fogo em Gaza vai para o espaço - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Além de perdas humanas e materiais, guerra atiça ceticismo e faz com que nem israelenses nem palestinos acreditem mais em solução negociada

Israel voltou a lançar pesados ataques contra o Hamas na Faixa de Gazapondo fim a um cessar-fogo que dera algum alívio aos palestinos e permitiu a troca de reféns por prisioneiros.

Ambos os lados imputam um ao outro a responsabilidade pelo rompimento da trégua, mas a interpretação que me parece mais verossímil é a de que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jamais teve a intenção de cumprir a segunda fase do acordo, pela qual Israel teria de retirar todas as suas forças de Gaza.

Poesia | No mundo há muitas armadilhas, de Ferreira Gullar

 

Música | Adriana Calcanhotto - Fico assim sem você

 

terça-feira, 18 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Política deveria ficar fora do julgamento de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Protesto esvaziado indica que muitos apoiadores não endossam anistia; melhor é garantir devido processo legal no STF

Está fracassando a linha de reação de Jair Bolsonaro (PL) ao cerco judicial que se fecha sobre ele. Apostou numa mobilização popular que pudesse intimidar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), prestes a julgar a denúncia que o acusa de chefiar uma tentativa de golpe de Estado.

Segundo estimativa do Datafolhacerca de 30 mil pessoas estiveram no ato de domingo (16), promovido no Rio para defender anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 —e, nem tão implicitamente, ao próprio ex-mandatário.

O baixo entusiasmo pelas proclamações de Copacabana talvez reflita o ruído da mensagem do líder direitista. Bolsonaro mal disfarça que seu maior desejo é livrar-se ele próprio da cadeia, mas por que queimar etapas e exigir anistia política se o seu processo judicial nem sequer começou?

Valorizar a democracia – Merval Pereira

O Globo

Anistia não é uma reivindicação popular, não há motivação genuinamente espontânea para livrar os golpistas da lei

O fracasso da manifestação a favor da anistia para os condenados pelo vandalismo do 8 de Janeiro esvaziou a ofensiva que o bolsonarismo faz no Congresso para apressar a votação da matéria, que interessa diretamente ao ex-presidente Bolsonaro. Seria uma espécie de anistia preventiva contra uma condenação que ainda não aconteceu. Estranha forma de reivindicar em causa própria fingindo estar ao lado da Justiça, quando na verdade prepara uma retroatividade futura.

Ficou claro que essa não é uma reivindicação popular, não há motivação genuinamente espontânea para livrar os golpistas das penas da lei. Certamente algumas penas merecerão redução mais adiante, pois as primeiras condenações elevaram o sarrafo a tal altura que a condenação de Bolsonaro precisa ser perpétua para contrabalançar a severidade com que os primeiros condenados foram punidos. Dezessete anos para quem pichou com batom a estátua da Justiça em frente ao STF ou quebrou vidros dos prédios públicos não se coaduna com uma dosimetria equilibrada, que não cheire a revanche.