sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Frase de Ferreira Gullar, poeta, criticando os discursos de autolouvação do presidente Lula.

DEU NA RESVISTA ÉPOCA DESTA SEMANA

“ Do Descobrimento até 2003, ninguém sabe como o Brasil conseguiu sobreviver, crescer, chegar a ser a oitava economia do mundo sem o Lula!”

Conduta política

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


O Brasil já teve todo tipo de chefe da Casa Civil. Técnico, intrometido, articulador, discreto, conspirador, totalitário. Desta vez temos um novo tipo: candidato. O presidente Lula diz que a inauguração de obras pela ministra Dilma Rousseff faz parte das funções de chefe da Casa Civil. Não faz. Gerente não inaugura, não sobe em palanque, não discursa: administra.

Ela quer inaugurar obra inconclusa, cada etapa de cada projeto e até pedra fundamental; porque é candidata. Não fosse, faria visitas aos canteiros de obras para acompanhar, verificar, como gerente. Como é candidata, em qualquer visita é armado um palanque e convocada uma claque. Isso é campanha política. A inteligência alheia não deve ser agredida com tentativas de se provar o contrário.

É legítima a aspiração da ministra Dilma Rousseff de concorrer à Presidência. Aqui neste espaço, escrevi, desde que ela foi nomeada, que a ministra não era um quadro técnico. Ela sempre foi uma militante e tem se esforçado para adquirir competências administrativas. Sua aspiração agora é, além de legítima, previsível, já que outros potenciais concorrentes se enfraqueceram.

O que não é correto é usar a máquina pública para fazer campanha, dizendo que está em função governamental. A reunião dos prefeitos foi eleitoreira, seja o que for que o governo diga em contrário. Gastou-se dinheiro público, sete vezes mais do que o admitido, para reunir os possíveis cabos eleitorais de 2010.

Na Europa, houve uma reunião de 700 prefeitos e saiu um acordo de adesão ao protocolo 20-20-20 da União Europeia: 20% de redução de emissão de carbono, 20% de energia alternativa e 20% de eficiência energética até 2020. Eles perseguirão essas metas em seus municípios. Nos Estados Unidos, houve uma reunião de prefeitos que também terminou com consenso de estudar a adoção do modelo climático europeu. Da nossa reunião, os prefeitos saíram com fotos tiradas com bonecos do presidente Lula e da ministra Dilma e dívidas previdenciárias roladas. Eles ouviram muitos discursos, viram o presidente divulgar um dado errado sobre o analfabetismo de um estado administrado por um concorrente político e assistiram aos ensaios eleitorais de Dilma Rousseff.

Em 2009 não haverá eleição, mas há uma perigosa crise global para ser enfrentada. Os administradores públicos devem, com seriedade, cuidar da crise econômica para revertê-la. Ninguém ganha com a crise: não é o fracasso de um pensamento econômico adversário, como pensa a ministra Dilma. Seja o que for que aconteça, já morreu a ideia de que o estado deva controlar os meios de produção. Não deu certo, não funcionou. Que o diga a China, que continua querendo que o Brasil conclua o reconhecimento de que ela é uma economia de mercado.

O PSDB fala em prévias. Ótimo. Esse é um bom hábito político, como acabamos de ver nos EUA. Fortalece os partidos e divulga as ideias dos pré-candidatos quando é uma primária bem feita. Quando são oficializadas, funcionam melhor. É preciso definir as regras e fazer uma primária formal. Para isso, o TSE teria que permitir primárias abertas, em vez da jurisprudência de prévias fechadas que dão todo o poder às convenções.

O presidente Lula estranhou que o governador José Serra vá viajar sem ter obra para inaugurar. Mostra que acredita que a obra é o álibi perfeito. O PSDB tem que oficializar sua consulta às bases. Não procurar pretexto, como o governo faz.

A maneira como a ministra Dilma foi escolhida pré-candidata do PT lembra o modelo político do "dedaço" que vigorava no México na época do PRI. Até lá caiu em desuso. O "dedaço" era o costume de o presidente anunciar que candidato o partido teria. O PT nunca fez uma prévia como a que vimos entre Hillary Clinton e Barack Obama. A disputa entre Lula e o suposto pré-candidato Eduardo Suplicy foi para inglês ver. O candidato sempre foi Lula em todas as eleições do PT porque ele era o único nome que unia o partido. Isso não é transferível. Em vez de trabalhar para que sua candidata suba nas pesquisas e vire fato consumado, o presidente deveria querer a escolha democrática que fortalecesse o petismo. O contrário só fortalece o lulismo, que não é um partido, é movimento personalista.

A vantagem das primárias seria treinar Dilma Rousseff no palanque, na disputa pelo eleitor, nas pressões dos debates. Ela nunca viveu situações de disputa política. Essa habilidade não se adquire em cirurgia.

O PSDB vive sempre sob a suposta divisão dos grupos pró e anti-Serra. As prévias ajudariam a acabar com o mito ou oficializá-lo. Os governadores José Serra e Aécio Neves têm, também, a ambição legítima de disputar a Presidência. O partido tem um patético histórico de decisões tomadas entre quatro paredes ou nos quatro lugares de uma mesa de restaurante.

O desafio para todos será separar o que é máquina pública e o que é disputa partidária interna.

O Brasil já andou demais no desvio, tem sido muito tolerante com irregularidades. É hora de um manual de conduta, respeitado por todos os possíveis contendores desta primeira fase da disputa presidencial de 2010.

Tanto faz

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


"O PMDB é corrupto? Não mais do que o PT ou o PSDB". Essa frase do senador Pedro Simon, a respeito das acusações feitas por seu colega Jarbas Vasconcellos ao partido de ambos, reflete bem o espírito que tomou conta da política brasileira nos últimos tempos. Identificado com o sentimento mais libertário da política brasileira, o senador Pedro Simon, durante um período, simbolizou o que havia de independente e até mesmo romântico na atividade parlamentar. A frase pode ser interpretada como uma tentativa canhestra de defender a cúpula do PMDB, fortemente atacada por Jarbas, mas pode também refletir um imenso cansaço de ver a deterioração da atividade política.
Sobretudo, porém, lança uma questão para o debate: nosso sistema partidário reflete a sociedade brasileira, ou os seus piores defeitos? A predominância do fisiologismo na política nacional, que tem no PMDB sua mais perfeita tradução, está no cerne dessa discussão sobre disputa de poder.

Os três partidos mais influentes do país - PT e PSDB se revezam na Presidência da República desde 1994 e o PMDB é presença permanente em todos os governos - se confundem nos métodos de fazer política, embora os dois primeiros tenham marcas ideológicas mais fortes, enquanto o PMDB se caracteriza pela falta completa de ideologia, dedicando-se exclusivamente à conquista do poder e seu usufruto.

Mas foi-se o tempo em que o PSDB era uma dissidência do PMDB por questões éticas, e também está longe o tempo em que o PT podia ser identificado como um partido diferente dos outros, representante da ética na política.

O sistema de coalizão política em que está montado o presidencialismo brasileiro, e as regras eleitorais que favorecem uma grande fragmentação partidária, forçosamente criam governos que precisam se apoiar em partidos que nada têm a ver com um suposto programa de governo que teria saído vencedor das urnas.

Muitas vezes, o partido oposicionista adere ao vencedor não por aceitar seus princípios, mas por aceitar cargos e exercer o poder para mudar os seus. Um caso emblemático no atual governo é o do ministro da Integração Nacional, o baiano Geddel Vieira Lima, que, de principal opositor da transposição do Rio São Francisco, passou a seu maior defensor ao receber o ministério.

Outras vezes, o governo cede ao poder do partido que lhe oferece apoio, como foi obrigado o próprio presidente Lula, que rejeitara o PMDB em seu primeiro Ministério, por considerá-lo fora dos princípios éticos que regeria seu governo, e depois do mensalão teve que engoli-lo goela abaixo em busca do que se convencionou chamar no Brasil de "governabilidade", que tudo justifica

A cooptação de parte do PMDB em troca de feudos no governo foi praticada no governo de Fernando Henrique Cardoso e, como outras práticas, foi absorvida tão completamente pelo governo Lula que este acabou superando o antecessor, radicalizando a prática até levar para dentro do seu segundo governo todas as alas do partido, compensando-as com fartos pedaços do poder, para ciúmes do PT.

O caso do abuso de poder do governo federal, antecipando a campanha eleitoral na tentativa de viabilizar a ministra Dilma Rousseff, é exemplar dessa maneira permissiva de fazer política.

E o anúncio da Sabesp em rede nacional, a pretexto de patrocinar uma programação de verão que extrapola o território paulista onde atua, é também fruto dessa falta de institucionalidade com que é feita a política brasileira.

Um dos maiores males que o presidente Lula fez à política partidária brasileira, e por consequência à democracia, foi usar todo o seu prestígio pessoal para proteger seus aliados, sejam eles de que partido forem, tenham feito eles o que for de errado.

A partir do mensalão, Lula defendeu em público rigorosamente todos os políticos amigos, fossem eles Severino Cavalcanti, Renan Calheiros, ou seus "companheiros" petistas.

O PSDB, em vez de se contrapor a essa maneira mesquinha e retrógrada de fazer política, vai pelo mesmo caminho. Quando o senador Eduardo Azeredo foi acusado de ter sido o iniciador dos esquemas fraudulentos do lobista Marcos Valério na disputa pelo governo de Minas em 1998, o partido recusou-se a enfrentar o assunto, dando margem até mesmo a que o PT espalhasse a versão de que a campanha tucana havia sido o embrião do mensalão.

A distinção entre uso de caixa dois, que aconteceu na campanha de Azeredo, e a compra sistemática de votos, que foi a evolução do esquema para o mensalão petista, é sutil demais para o grande público, e o partido deveria ter assumido desde logo uma atitude crítica severa.

Hoje, o senador Eduardo Azeredo é indicado pelo partido para presidir a Comissão de Relações Exteriores do Senado, cargo para o qual está qualificado pessoalmente, mas não politicamente.

O partido está assumindo a mesma atitude de proteção dos companheiros com relação ao ex-governador da Paraíba, cassado por unanimidade pelo TSE por abuso do poder econômico na campanha de 2006.

O governador, certamente para competir com o Bolsa Família, saiu distribuindo 35 mil cheques para os eleitores e, como ressaltou o ministro Eros Grau, uma das testemunhas disse que recebeu um cheque com uma mensagem: "Esse é um presente do governador, lembre-se dele. Com os cumprimentos, Cássio Cunha Lima, governador".

As provas são irrefutáveis, mas o PSDB acha que deve defender seu cacique, especialmente os potenciais candidatos Aécio Neves e José Serra, que estarão disputando os votos tucanos em uma prévia eleitoral.

E assim vamos vivendo da pequena política, e o PMDB tanto pode fazer parte de um governo tucano quanto de um petista. Tanto faz.

Lá se vão só uns anéis

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A decisão da Câmara - a ser seguida, espera-se, pelo Senado - de divulgar as notas fiscais dos gastos com a verba extra e a identificação completa dos fornecedores não encerra como imagina o primeiro-secretário da Casa, Rafael Guerra, "a polêmica da transparência parcial".

A discussão está só começando. Ainda há léguas a percorrer antes que o Parlamento recupere autoridade moral para exibir a credencial de "Poder mais aberto da República". É, no máximo, o Poder mais vulnerável.

Vulnerabilidade crescente, institucionalmente defeituosa e responsabilidade do Congresso.

Fruto do aviltamento do ambiente onde prevalece a noção de que o Legislativo é propriedade dos partidos, que, por sua vez, são feitos para uso e abuso do Executivo mediante o livre acesso de amigos e correligionários à estrutura do Estado.

Essa mentalidade permeia todos os embates entre o Congresso e a opinião pública: parlamentares chegam às casas legislativas achando que a partir daquele momento fazem parte de uma casta de "nobres colegas" desobrigados de qualquer compromisso com a sociedade.

É comum ouvir dos mais cínicos que pouco se lhes dão as críticas e cobranças da imprensa porque, ao fim e ao cabo, as regras são feitas e executadas por eles.

Verdade. E por isso mesmo não se pode conferir o dístico de "Poder aberto" a um colegiado especializado no ato de legislar em causa própria ou em prol de quem lhe atenda os interesses.

Agora mesmo já se aproveita o ensejo para aprovar a incorporação do adicional de R$ 15 mil aos salários.

Nessa altura do raciocínio alguém haverá de ponderar que, bem ou mal, a Câmara "recuou" e cedeu à pressão para a divulgação do detalhamento dos gastos com a verba dita indenizatória. Na realidade, um truque inventado para garantir um "por fora" depois que passou a não ser tão fácil aprovar aumentos de salários na calada das madrugadas.

É um engano acreditar que houve recuo. Ao contrário. Continua havendo a mais sórdida - por dissimulada - das resistências na aplicação do princípio constitucional da publicidade para a administração pública.

Por ora o que há é uma promessa a ser cumprida não se sabe ao certo a partir de que dia do mês de abril e a certeza de que até lá o sigilo em vigor há oito anos está totalmente preservado.

Se alguém pecou, jamais se saberá. Isso por nenhuma razão a não ser a deliberação unilateral de suas excelências que ainda se consideram merecedoras de reverências.

"Não tem sentido tomarmos uma medida tão importante e continuarmos a ser criticados", reclama o primeiro-secretário, Rafael Guerra.

É de se perguntar: qual medida importante? O cumprimento mínimo do dever de prestação de contas ao dono do santo dinheirinho de cada mês?

O Parlamento passou anos aludindo a impedimentos legais inexistentes para ocultar as notas, promete ceder uns anéis porque o PMDB, general da banda, está com medo de perder os dedos e ainda quer elogio? Ora, por quem sois, há limites.

Estação Barbacena

O governador de Minas, Aécio Neves, desmente - e, com isso, desautoriza integrantes da cúpula do PMDB - que algum dia tenha afirmado a alguém do partido que possa vir a deixar o PSDB.

Por um motivo simples: "Não o farei."

Escreve o governador: "A insistência com que tentam difundir a ideia de que possa vir a deixar a minha legenda, e a insistência com que venho negando essa possibilidade lembram o tradicional diálogo atribuído a políticos mineiros.

"Diz o primeiro: você vai para onde? Para Barbacena, responde o segundo. E o primeiro pensa: ele disse que vai para Barbacena para eu achar que ele vai para Lavras, mas ele vai é para Barbacena mesmo.

"Ou seja, no campo das divagações cabe tudo. Mas, no meu caso, a realidade é que nunca cogitei deixar o PSDB. Também nunca dei qualquer ultimato ao partido, especialmente no que diz respeito às prévias. Não defini prazos, o que não me caberia fazer, apenas sugeri a definição de critérios o mais rapidamente possível.

"Existem duas formas de vermos as prévias. Há quem veja como um risco de divisão e há aqueles, como eu, que entendem como um processo de fortalecimento partidário.

"Considero o processo mais importante que os nomes. Neste aspecto há, também, duas visões distintas. Há quem seja contra ou a favor em função de um possível resultado e há os que acreditam na incorporação dessa prática para promover mudanças na vida do PSDB.

Por acreditar que o processo está acima dos nomes, convidei o governador José Serra para viajarmos juntos em campanha de mobilização do partido no País. Estaremos juntos, embora muitos não acreditem e até torçam pelo contrário.

"Enfim, estou dizendo que vou para Barbacena, não para despistar, mas porque vou mesmo."

Em adendo, Aécio Neves esclarece: "Tancredo Neves não é meu tio-avô." Avô, consignado seja.

Encarcerado no PMDB

Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Só há dois tipos de políticos: aqueles que levantam grana para fazer política e os que fazem política para levantar grana. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) tem militado ao longo de seus 40 anos de vida pública na primeira categoria. Nesta militância tem companheiros egressos de quase todos os partidos. É compreensível que se sintam minoritários face ao portentoso exército que cerra fileiras do outro lado. Mas não é esta militância, de um lado ou do outro, que pavimenta a chegada ao poder. É a política. E não são visíveis hoje os rumos da oposição neste campo. É este o resumo da entrevista do senador à "Veja".

Não é a primeira vez que Jarbas se rebela contra seu partido ou contra o poder. O que impressiona é como a oposição à qual hoje se filia tenha sido capaz de encarcerar um espírito como o seu nos limites das páginas de uma revista.

O senador pernambucano resistiu ao golpe militar abrindo diretórios do MDB pelo interior de seu Estado; rebelou-se contra a eleição indireta, ausentando-se do colégio eleitoral que escolheu Tancredo Neves; e segurou, como presidente do partido, a campanha de Ulysses Guimarães, quando a maioria de seus correligionários pulava para o barco de Fernando Collor de Mello.

Fez política nadando contra a maré dentro do PMDB, mas não se furtou a deixá-lo quando viu sua carreira ser ameaçada pela burocracia do partido que, em 1985, montou uma convenção municipal para derrotar suas pretensões de se candidatar a prefeito do Recife.

Jarbas saiu do PMDB e foi para o PSB, quando montou a chamada "Frente Popular do Recife", reunindo PT e PCdoB, além do então deputado federal Miguel Arraes, com quem depois romperia. Elegeu-se prefeito do Recife derrotando um obscuro deputado lançado por seu partido. Passadas as eleições, Jarbas voltou para o PMDB e foi, paulatinamente, reconquistando a legenda.

A eleição que salvou a carreira política do então deputado federal, tendo sido determinante para a história do Estado naquele momento de retomada do poder pelos civis, só foi possível graças a uma infidelidade partidária.

Hoje a história não se repetiria face à decisão dos tribunais superiores de que o mandato é dos partidos, saudada como indício de moralização dos costumes políticos. Foi uma decisão ansiosamente aguardada pelos partidos de oposição, que nela viram a salvaguarda para a defecção de seus correligionários rumo ao curral governista. E teve entusiasmado apoio do próprio Jarbas.

Ainda é cedo para se concluir que o PMDB vai compor chapa com a ministra Dilma Rousseff, mas, para ser substantivo, um movimento pró-Serra no partido hoje teria que partir de posições que internamente detenham poder, como o presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

Se a cacicada do PMDB, com os redobrados poderes da fidelidade partidária, limita seus movimentos na política nacional, o senador também enfrenta problemas no plano regional.

Ao contrário do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que atira para o céu e preserva pontes na terra face a interesses do governo de sua aliada Yeda Crusius (PSDB), Jarbas hoje tem mitigadas chances de ver seu grupo retomar o poder em Pernambuco.

O governador do Estado, Eduardo Campos (PSB), está na faixa dos 80% de aprovação e conta com o apoio da quase totalidade dos 49 deputados da Assembleia Legislativa. Na última vez que foi ao Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou publicamente sua candidatura à reeleição.

No início do primeiro governo Lula, quando o ex-ministro José Dirceu (PT) tentou fechar uma aliança com o PMDB que só viria a se concretizar anos mais tarde, o então governador Jarbas Vasconcelos foi a ponta de lança dessa aproximação, respaldada pela simpatia do presidente que nunca esqueceu da visita que o então emedebista lhe fez na prisão.

Dirceu chegou a almoçar no Palácio do Campo das Princesas com Jarbas. Comunicou ao então deputado Eduardo Campos que, em 2006, o lulismo juntaria o então governador e o prefeito do Recife à época, João Paulo (PT), numa única chapa como candidatos, respectivamente, ao Senado e ao governo do Estado.

Veio o mensalão, Dirceu caiu e Jarbas acabou se afastando da esfera petista. Eduardo Campos, que saiu do ministério da Ciência e Tecnologia para reforçar a retaguarda governista na Câmara no auge do mensalão, foi ganhando espaço até que, em 2006, derrotou o candidato jarbista à sua sucessão.

Na entrevista, o senador diz não ter mais pretensão de disputar cargos. Seus correligionários no Estado ficaram em polvorosa, mas não há motivos para desacreditar dele.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

Assinarei embaixo

Cristovam Buarque
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Nesta semana, a revista Veja publicou uma entrevista com o senador Jarbas Vasconcelos que ficará na história como uma das mais fortes tomadas de posição feita por um político brasileiro. Apesar da discordância de muitos, sua entrevista diz o que muitos pensam e não quiseram, não tiveram grandeza ou oportunidade para dizer. Nenhum líder brasileiro pode ficar omisso. Todos os políticos com cargo eletivo têm obrigação de exigir que as denúncias sejam apuradas.

Não se pode deixar de refletir e tomar posição quando ele afirma que “a eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. Um completo retrocesso. Tião Viana, embora petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado.” Ele diz que esta eleição “reflete o que pensa a maioria dos colegas parlamentares.” Foi por causa dessa maioria que, há dois anos, o senador Jefferson Peres teve a coragem de dizer que não pretendia candidatar-se outra vez, com a mesma ênfase de Jarbas dizendo agora que: “às vezes eu me pergunto o que vim fazer aqui”. Porque “o nível dos debates é inversamente proporcional à preocupação com as benesses”.

As declarações relacionadas com o PMDB seriam um assunto interno, se ele não fosse o maior partido, com o controle das duas Casas do Congresso e poder de fazer refém o próprio Executivo. O senador Jarbas diz com toda força que o líder de seu partido no Senado “não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador”.

Mais grave será se a entrevista do senador Jarbas não tiver consequências. Se nada for feito, o Senado atestará sua tolerância com as acusações. Ou o senador Jarbas está fazendo acusações injustas e merece ser punido, ou ele está dizendo a verdade e é preciso punir que está desmoralizando a política brasileira. Pior será se, em vez de abrirem processo para saber quem está com a verdade, os acusados usarem o poder que têm para punir o senador. Neste caso, é preciso que outros assinem embaixo da entrevista de Jarbas Vasconcelos, para que as acusações sejam apuradas.

Qualquer medida contra o senador Jarbas tomada pela direção do PMDB sem um debate transparente, um julgamento aberto, confirmará suas acusações e será um atestado adicional de desmoralização dos que hoje controlam o poder legislativo brasileiro e, por meio dele, toda a República brasileira.

Jarbas disse na entrevista que o PMDB quer cargos “para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral.” Essa acusação toca não só ao maior e mais forte partido do País, mas também aos governos dos quais o PMDB faz parte: Federal, Estaduais e Municipais. E, indiretamente, a todos os partidos brasileiros que, por isso mesmo, deveriam ter interesse na apuração das denúncias.

Esse tema diz respeito a todos os líderes do País, ao governo federal, ao Senado e à Câmara de Deputados, ao Poder Judiciário. Especialmente ao Ministério Público. Por isso, se o assunto não for devidamente apurado, ou se o senador Jarbas for punido por ter tido coragem de dizer o que pensa sem ser desmentido por um processo transparente, é preciso que outros reforcem as acusações que ele fez, nem que seja para que elas sejam apuradas.

Com este artigo, estou pré-assinando embaixo do que disse o senador Jarbas, se suas acusações não forem apuradas ou se ele for punido pela coragem de dizer o que pensa o povo brasileiro.

» Cristovam Buarque é senador da República

Não sobra um, meu irmão

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), foi cassado sob a acusação de distribuir 35 mil cheques nominais no ano em que disputava a reeleição.

Seu sucessor, José Maranhão (PMDB), responde a nada menos que 8 processos, sendo que 2 são por suspeita de compra de votos e podem dar em nova cassação. E o sucessor do sucessor no Senado, Roberto Cavalcanti (PRB), também está sendo processado por corrupção na Justiça Federal. É uma teia sem fim.

Cunha Lima ainda tem duas chances de recurso, uma à presidência do próprio TSE e outra ao Supremo, mas Maranhão não perdeu tempo. Nem bem assumiu, já deu uma canetada botando para fora uns mil funcionários herdados do antecessor. Provavelmente, não por moralização, mas por retaliação -e para dividir a boquinha com a sua própria turma.

Já Cavalcanti não é bobo nem nada: ganhou o mandato de senador e, de brinde, o foro privilegiado. Entrou mudo para sair calado. Se sair. A depender da tradição do Supremo, ele pode ir ficando tranquilo, cumprindo o mandato que seria de Maranhão, que agora cumpre o mandato que seria de Cunha Lima, que... está a ver navios, mas já pode voltar a se candidatar.

Coitado do povo paraibano. Mas a Paraíba não está isolada, muito pelo contrário. Governador processado é o que não falta, e um deles está para ser encaçapado a qualquer momento: Jackson Lago (PDT), do Maranhão. Se cair, sobe Roseana Sarney (PMDB).

Ou seja: o PMDB já tem o maior número de governos, de prefeituras e de cadeiras no Congresso, acaba de ganhar as presidências da Câmara e do Senado e três comissões importantes na Câmara e deve ficar com mais dois Estados: a Paraíba, de Maranhão, e o Maranhão, de Roseana. Assim mesmo, complicado.

Mas o pior é que o partido não ganhou, mas está levando. E o eleitor não tem para onde correr.

O dilema do apoio a um candidato

Alberto Carlos Almeida
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O ser ou não ser hamletiano assombra a mente de inúmeros pré-candidatos a governador no Brasil. A propósito, as eleições gerais serão somente em 2010, mas os políticos só pensam naquilo. A disputa regional está completamente aberta em quase todos os Estados. Ou seja, não está claro, na maioria dos Estados, quem será candidato e, muito menos, qual será a aliança estadual e quem ela apoiará na eleição presidencial.

Há algumas exceções a essa regra. Em Goiás, por exemplo, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e o atual prefeito de Goiânia, Íris Rezende (PMDB), são pule de 10 para estar presentes na corrida de 2010. A interrogação, no caso de Goiás, diz respeito ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele será candidato a governador?

Se for, sofrerá do mesmo mal que atingiu os plebeus que compraram títulos de nobres às vésperas da Revolução Francesa: eles deixaram de ser aceitos pelos plebeus e nunca foram realmente incorporados à nobreza. Meirelles sempre foi tucano e sempre teve o perfil do PSDB. Abandonou o partido e nem sequer assumiu o mandato de deputado federal para ocupar o cargo de presidente do BC na era Lula - de quebra com o mais duradouro mandato à frente da autoridade monetária máxima do Brasil. Meirelles nunca foi aceito pelo PT e provavelmente encontraria hoje no PSDB dificuldades que não existiam antes de ele comprar o título de fiador da estabilidade econômica no governo petista.

Aqui e acolá há candidaturas que provavelmente estarão presentes na disputa do ano que vem. O que têm em comum, além do fato de ser raras, é que tendem a ser governadores atualmente bem avaliados que podem disputar a reeleição. São esses os casos de André Puccinelli em Mato Grosso do Sul e Eduardo Campos em Pernambuco. É provável que as cartas se embaralhem também em tais situações. A queda da arrecadação está batendo à porta do setor público. A crise reduziu a atividade econômica e com ela os impostos recolhidos despencaram.

Todos terão de governar em mares mais agitados do que dos últimos anos. Portanto, há espaço para que governadores hoje muito bem avaliados vejam seus índices de ótimo e bom se reduzir nos próximos meses. Se isso acontecer, os Estados onde havia alguma definição de pré-candidatos a governador terão de enfrentar a mesma espera que tomou conta dos demais.

Há outro complicador para a vida de nossos líderes regionais e ele diz respeito à eleição presidencial. Qual será o candidato a presidente apoiado por cada candidato a governador? É grande a expectativa pela eleição de 2010. Collor à parte, PSDB e PT terão governado o Brasil por oito anos cada um. O mandato do próximo presidente vai conferir vantagem a um dos dois contendores nacionais. Será também a primeira eleição pós-ditadura militar sem a presença de Lula na cédula de votação.

Adicionalmente, há sinais de equilíbrio no front. O PT conta com a máquina federal e com a popularidade de Lula; o PSDB, com a rara combinação de dois governadores populares nos dois maiores colégios eleitorais do Brasil, São Paulo e Minas. A soma desses elementos faz da eleição de 2010 uma disputa ímpar. Por isso, os dois principais partidos nacionais veem com muito carinho e grande interesse a montagem dos palanques estaduais. Com quem PT e PSDB poderão contar em cada Estado para facilitar a vida de seus respectivos candidatos a presidente?

Há, em alguns Estados, alinhamentos naturais e automáticos. No mencionado Goiás, o palanque de Marconi Perillo é o palanque do candidato a presidente do PSDB. Íris irá, muito provavelmente, de PT. Nos Estados em que o PT lançar candidato a governador, eles fornecerão o palanque regional para a provável candidata Dilma. Tudo indica que será assim no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, provavelmente com Ideli Salvati, no Espírito Santo talvez com João Cozer, no Rio com Sérgio Cabral ou Lindberg Faria. O mesmo vale, com o sinal trocado, para o PSDB de Yeda Crusius, Leonel Pavan, Beto Richa, Luiz Paulo Vellozo Lucas e o poderoso PSDB de São Paulo. Nesses lugares a questão está fechada: Serra ou Aécio para presidente.

Há, por outro lado, inúmeros outros pré-candidatos a governador que não definiram para que lado irão na eleição presidencial. É aqui que reside o dilema. O que fazer? Apoiar o candidato a presidente com mais chances de vencer e conquistar o Palácio do Planalto ou apoiar aquele candidato que vencer em seu respectivo Estado mesmo que perca a eleição nacional? Exatamente isso, afora os alinhamentos políticos, e pensando de forma cruelmente pragmática, o candidato a governador de 2010 terá, em alguns Estados, de decidir o que é melhor: apoiar desde o início da corrida o provável vencedor ou apoiar aquele que mais lhe ajudar na corrida regional?

Em algumas situações será uma decisão fácil. Toda vez que o candidato a presidente vencedor em um Estado for também o vencedor nacional o dilema do pragmático não existe: é com esse que eu vou! O dilema existirá quando não ocorrer essa feliz coincidência.

Tome-se o Nordeste do Bolsa Família e do Lula-Deus. O que deve fazer um candidato a governador em um dos nove Estados nordestinos? Suponhamos que o PSDB vença a eleição presidencial, mas o candidato do PT chegue na frente em todos os Estados do Nordeste. Nesses casos, quem os candidatos locais deverão apoiar? Nas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e 2002, o candidato que venceu nacionalmente também venceu em quase todos os Estados brasileiros. Em 2002, no primeiro turno, Lula chegou na frente em todos os Estados, com exceção do Ceará de Ciro Gomes, o Rio de Garotinho e Alagoas de Serra. No segundo turno, Lula só perdeu em Alagoas, novamente para Serra.

Um candidato a governador daquela eleição não teria dilema em 23 dos 26 Estados. O mesmo é verdadeiro para o Fernando Henrique de 1994 e 1998. Em 1994, FHC só foi derrotado por Lula no Rio Grande do Sul e em 1998 só deixou de chegar na frente no Ceará de Ciro e novamente no Rio Grande do Sul de Lula. Mais duas eleições sem dilema.

2006 foi a primeira exceção à regra das eleições anteriores. O país ficou dividido. Geraldo Alckmin venceu de Mato Grosso do Sul e de São Paulo para baixo e Lula nos demais Estados. Há a crença, não fundamentada nos estudos acadêmicos, de que o voto de presidente "puxa" o voto de governador. O inverso, porém, é verdadeiro. Uma coisa são os estudos acadêmicos, outra, completamente diferente, é o mundo real.

É impossível persuadir um candidato a governador a não considerar de suma importância a força do candidato a presidente em seu Estado. Se isso fosse possível, não haveria dilema. O fato é que em 2002, a eleição na qual venceu a oposição, o candidato Lula ganhou em quase todos os Estados, ao passo que os candidatos de sua aliança eleitoral perderam em quase todos os Estados.

O PT elegeu só os governadores do Acre, de Mato Grosso do Sul e do Piauí. O PSDB, derrotado para presidente naquela ocasião, elegeu os governadores de sete Estados: Ceará, Goiás, Minas, Pará, Paraíba, Rondônia e São Paulo. O PFL, que não apoiou Lula, venceu em quatro Estados: Bahia, Maranhão, Sergipe e Tocantins. O PMDB, que tinha apoiado Serra, ficou com o Distrito Federal, os três Estados do Sul e Pernambuco.

Somente esse resultado mostra a separação entre a eleição para presidente e para governador. Repetindo: no primeiro turno, Lula perdeu somente em três Estados e no segundo, em apenas um. Apesar disso, PSDB, PFL e PMDB juntos conquistaram o governo de nada mais, nada menos, que 16 Estados. Se o voto para presidente tivesse o poder de eleger governadores, o quadro não teria sido esse. O presidente não elege nem os governadores nem os prefeitos.

Acabamos de passar por uma eleição municipal em 2008. Nunca na história deste país isso aconteceu com um presidente tão popular. Mesmo assim, Lula não foi um bom cabo eleitoral. O crescimento de seu partido ocorreu dentro do que seria previsível independentemente da popularidade do presidente.

Qual conclusão se pode retirar de tais evidências? Que se ocorrer em 2010 o que tem acontecido nas últimas eleições gerais, o melhor para os candidatos a governador é apoiar o candidato a presidente com mais chances de vencer a eleição presidencial e não aquele com mais chances de ser o candidato a presidente mais bem votado em seu respectivo Estado.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record).

Estados Unidos: hora de agir

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


De todas as iniciativas, a que vai tratar da questão dos mutuários de hipotecas é a que terá efeitos mais claros

O GOVERNO Barack Obama ganhou três instrumentos para enfrentar a crise que atinge os Estados Unidos. O primeiro é o pacote de estímulo fiscal arrancado a fórceps dos senadores republicanos. Outro veio com a definição das regras da segunda fase do Tarp, programa herdado do governo George W. Bush para retirar os ativos tóxicos dos bancos e estabilizar o sistema financeiro. Finalmente, o governo vai usar quase US$ 300 bilhões para tentar estancar o processo de retomada de residências financiadas por hipotecas, os chamados "foreclosures".

De todas essas iniciativas, a que vai tratar da questão dos mutuários de hipotecas é fundamental. Os "foreclosures" são um elemento importante no desequilíbrio atual do mercado imobiliário americano. Em um ambiente fragilizado pela redução da oferta de crédito, a tentativa dos bancos de revender as casas tomadas de seus mutuários provoca uma espiral deflacionária nos preços. Em uma segunda etapa, essa queda dos preços dos imóveis acaba por forçar mais inadimplência por parte dos mutuários porque o valor da dívida supera seu valor de mercado, enfraquecendo ainda mais os bancos já carregados desses créditos.

A legislação americana é muito particular na medida em que permite que o devedor pare de pagar sua dívida hipotecária sem que o banco possa executar outros bens pessoais. A única reação legal do credor é a retomada do imóvel financiado e sua colocação no mercado. Esse círculo vicioso, identificado há mais de um ano, estava sem condições políticas para ser enfrentado. Agora, em razão do agravamento da crise, virou lei.

A primeira versão da legislação que permite a renegociação das condições de pagamentos das hipotecas é de março do ano passado. Mas os republicanos sempre foram contra essas medidas, alegando questões de natureza ideológica e até de ética religiosa. Se tivessem sido aprovadas no ano passado, a crise de hoje seria muito menor e a retomada do crescimento ocorreria com menor esforço fiscal. Mas são coisas da democracia e devemos aceitá-las como mal menor.

Os efeitos dessas medidas no campo das hipotecas serão sentidos ao longo do tempo, pois muitas das negociações serão feitas com a intervenção do Judiciário, caso a caso. Mas um efeito imediato ocorrerá: os bancos vão certamente aguardar antes de executar as garantias, reduzindo a oferta de residências e aliviando o mercado. É possível esperar uma redução gradativa da queda de preços ao longo dos próximos meses. A conferir...

Quanto aos outros dois pacotes, os resultados são menos claros. As medidas fiscais terão seus efeitos espaçados ao longo do segundo semestre deste ano e do primeiro de 2010, mas ainda não se sabe como o consumidor distribuirá a redução de seus impostos entre consumo e poupança financeira. Certamente essas medidas vão provocar alguma melhora na atividade ao longo dos próximos 18 meses, compensando em parte a contração do setor privado.

Mas a grande dúvida é se esse estímulo será suficiente para uma retomada consistente da atividade econômica. Quanto à segunda fase do chamado Tarp, as expectativas de sucesso são ainda menores. A impressão geral é que as medidas não serão suficientes para estabilizar o sistema bancário. Como essa é uma condição necessária para a retomada de crescimento, ainda não há grandes razões para otimismo quanto ao futuro próximo.

Luiz Carlos Mendonça De Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Embraer demite 4.200 funcionários

Mariana Barbosa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Fábrica de aviões corta 20% da folha de salários por causa da crise

Com a queda na demanda mundial por jatos comerciais e executivos, a Embraer anunciou ontem cerca de 4.200 demissões, o equivalente a 20% de seu quadro de 21.362 funcionários. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou indignação ao ser informado sobre os cortes.

As demissões interrompem um ciclo de expansão de mais de uma década da companhia, que disputa com a mineradora Vale o posto de maior exportadora do Brasil. Só em 2007, com a demanda em alta, a fabricante contratou nada menos do que 3 mil pessoas. Em um esforço para atender à demanda, a empresa bateu recorde de produção no ano passado, quando entregou 204 aeronaves, ante uma previsão de 194. Mas a sorte começou a virar no terceiro trimestre do ano passado, quando a Embraer anunciou seu primeiro prejuízo trimestral (R$ 48 milhões) em 11 anos.

Nos últimos dois meses e meio, clientes da Embraer pediram para adiar a entrega de quase 30 aviões, reduzindo a previsão de entregas totais no ano para 242 unidades. No início do ano passado, quando ainda havia filas de três ou quatro anos para conseguir adquirir um jato executivo da Embraer, a fabricante chegou a prever de 315 a 350 entregas para 2009. Com o adiamento das entregas, a previsão de faturamento foi reduzida em 13%, de US$ 6,3 bilhões para US$ 5,5 bilhões.

Em uma carta aos funcionários, o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, afirma que tanto o segmento de aviação comercial quanto de aviação executiva têm sido impactados com um grande volume de adiamentos, "muitos deles por mais de dois anos". Curado admite estar "sem uma clara visibilidade de quando (a empresa) poderá voltar a crescer".

O executivo afirma que o corte na atividade industrial é de mais de 30%, "o que torna inevitável o ajuste na base de custos".

Colaborou Simone Menocchi

País fechou 101 mil vagas em janeiro

Gerusa Marques, BRASÍLIA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Caged aponta primeiro resultado negativo em janeiro em dez anos; desde novembro, foram 797 mil demissões

Depois do recorde de demissões em dezembro, quando foram fechadas 654 mil vagas com carteira assinada, o mercado de trabalho formal continuou com desempenho negativo em janeiro, com uma perda de 101.748 postos de trabalho. Os dados, divulgados ontem, são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Desde novembro, quando o índice do Caged passou a ser negativo, já foram fechados 797.515 vagas no País.

O resultado é mais grave quando se considera que janeiro é tradicionalmente um mês em que há mais contratações do que demissões.

Foi o primeiro resultado negativo para um mês de janeiro desde 1999, quando foram fechadas 41mil vagas. A indústria da transformação - incluindo metalurgia, material de transportes e produtos alimentícios - e o comércio foram os setores que mais contribuíram para a queda no emprego.

Com a perda de janeiro, o número de postos formais de trabalho no Brasil caiu 0,32% em relação ao estoque existente em dezembro. No total, o Brasil dispõe de 31,9 milhões de postos de trabalho com carteira assinada.

O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, reconheceu que o resultado de janeiro "não foi bom para o País", mas preferiu observar que o desempenho foi bem menos desfavorável do que o de dezembro. "O saldo do Caged é negativo, mas não caminha para a catástrofe anunciada", disse o ministro.

O maior número de demissões no mês passado foi registrado nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que juntos foram responsáveis por 80% do total de vagas fechadas.

Somente em São Paulo, foram fechados 38.676 postos de trabalho, o que colocou a região Sudeste no topo do ranking das que mais reduziram vagas, seguida das regiões Nordeste e Norte.

Já as regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram resultado positivo. No total, oito Estados brasileiros contrataram mais do que demitiram.

Na distribuição por setores, a construção civil, com geração de 11. 324 empregos, e o de serviços, com 2.452 novas vagas, foram os que tiveram o melhor desempenho.

O mês de fevereiro, na opinião de Carlos Lupi, ainda será fraco em termos de emprego, mas, em março, haverá uma retomada. "O pior da crise já passou", disse. Ele previu que a retomada será puxada pelo setor de construção civil e manteve a previsão para 2009 de geração de 1,5 milhão de empregos no País.

Na avaliação do ministro, a demanda interna continua aquecida em função de várias medidas adotadas pelo governo, inclusive o aumento real do salário mínimo, que passou de R$ 415,00 para R$ 465,00.

Lupi observou ainda que o mês passado foi o que apresentou o segundo maior índice de contratação, com 1.216.550 empregados admitidos - volume que só perde para janeiro de 2008, quando foram admitidos 1.308.922 empregados.

"Este resultado de 102 mil negativos não é bom para o País, mas há uma demonstração inequívoca de melhora. Nenhum país do mundo está tendo o nível de contratação do Brasil", afirmou Lupi, lembrando que em dezembro de 2008 foram contratados 887.229 empregados.

"Isso mostra uma reação na cadeia de contratação", afirmou. Lupi avaliou que, se a crise estivesse se agravando, haveria aumento no número de demissões e diminuição das contratações.

Amanhã é sábado de Carnaval. E de futebol?

Juca Kfouri
DEU NO JORNAL DA CBN

Porque amanhã é sábado, sábado de Carnaval, não pense que não vai ter futebol.

Vai ter e muito.

Ali pertinho do Sambódromo, no Maracanã, às 16h, por exemplo, vai ter a primeira partida das semifinais da Taça Guanabara, entre Flamengo e Resende.

Quer dizer, amanhã é sábado, sábado de Carnaval, isso é mais que certo.

Já o jogo do Maracanã, pertinho do Sambódromo, está mesmo marcado, até deve acontecer, mas é possível que não aconteça.

Porque o futebol do Rio Janeiro, a exemplo, aliás, do futebol brasileiro, é um samba do crioulo doido.

E o tribunal de justiça da federação carioca, quase por unanimidade, pensa diferente da Justiça do Trabalho, da OAB, do Ministério Público do Rio, até do presidente do Tribunal de Justiça fluminense e de juristas da CBF.

A justiça esportiva da federação carioca puniu o Vasco, mesmo que todos os demais avaliem que o Vasco é inocente.

E por isso há uma possibilidade, mesmo que remota, de não haver o jogo do Maracanã, pertinho do Sambódromo.

Se não tiver mesmo, também não faz mal.

Você, torcedor rubro-negro, pegue seu nariz de palhaço e fique ali pelo Sambódromo.

Afinal, tenha certeza, amanhã é sábado de Carnaval.

É quase carnaval

Frevo: Voltei Recife
Autor: Capiba
Cantor: Alceu Valença
Bloco Galo da Madrugada

Clique o link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=Y31j7W-DcDs

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1245&portal=

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Em busca da unidade

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

O PSDB resolveu fazer do limão das prévias uma limonada, antecipando legalmente a campanha eleitoral para a sucessão de Lula. Ao mesmo tempo em que entrou no TSE com uma reclamação contra o que considera a antecipação ilegal da campanha da ministra Dilma Rousseff, a pretexto de acompanhar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aguarda também a resposta a outra consulta, feita em novembro do ano passado, sobre a maneira de realizar as prévias partidárias para escolher seu candidato a presidente.

A cúpula partidária está convencida de que o instituto das prévias só tem uma vantagem, a de antecipar a campanha, mas viu-se compelida a aceitar a exigência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Por isso, consultou o TSE sobre a possibilidade de seus candidatos usarem os meios de comunicação de massa - rádio, televisão e jornais - para levar suas opiniões aos cerca de 1 milhão de filiados em todo o país.

A legislação eleitoral diz que os partidos só podem fazer propaganda política no período reservado à candidatura, isto é, após a realização das convenções, que devem ocorrer entre 15 e 30 de junho do ano eleitoral, tendo as candidaturas a presidente e vice que ser registradas até o dia 5 de julho.

Uma decisão do TSE diz que os partidos só podem fazer propaganda entre seus filiados, e, nesse caso, os tucanos não poderiam usar os meios de comunicação como acontece nos Estados Unidos. Os debates teriam que ser internos, apenas para os filiados.

A direção do PSDB está tentando que o tribunal "alargue um pouco essa posição rígida e permita a realização de uma prévia real", na definição de um dirigente envolvido na organização das regras.

Fora a vantagem de fazer uma campanha antecipada, tudo o mais é problemático, na visão da maioria da cúpula partidária, para a qual dizer que prévias criam união "é bobagem".

Além do mais, uma prévia dessas tem vários problemas de logística e exige recursos, não apenas financeiros. A direção partidária está trabalhando com várias possibilidades para que os candidatos se sintam confortáveis.

Se a decisão for por uma prévia entre todos os filiados, que são 1 milhão e 50 mil em todo o país, terão que ser colocadas urnas em todas as zonas eleitorais do Brasil.

Essa é a maneira mais completa, seria "uma prévia real". Diferentemente do PT, que faz prévias para decidir uma disputa de correntes políticas internas, no PSDB será uma consulta a filiados que não são organizados.

Há, também, outras formas de realizar as prévias sem uma mobilização tão grande: os candidatos podem aceitar que as prévias sejam realizadas apenas em cidades que tenham um mínimo de filiados, número que deveria ser decidido entre eles.

Uma opção seria recadastrar os filiados. Quem quisesse participar das prévias, e já fosse filiado, se registraria. Assim, a direção partidária saberia quantos filiados participariam das prévias, em que localidades do país.

Nos EUA existe isso em alguns estados, e há também a possibilidade de qualquer pessoa participar da prévia, mesmo que não seja filiado ao partido.

Um prazo de dois, três meses seria aberto, e um cidadão, para registrar participação nas prévias, teria que fornecer seu endereço eletrônico, o que facilitaria a campanha pela internet.

Outra dúvida: será preciso usar as urnas eletrônicas do TSE, ou se cada seção partidária organizaria seu processo, para simplificar?

Numa prévia, se existe um grau de confiança dos candidatos na direção partidária, não é preciso ter aquelas regras rígidas que garantem o sigilo absoluto de uma eleição real, pondera um dirigente tucano.

Pode fazer essa prévia quando? Em setembro, outubro, novembro? O fato é que a prévia tornou-se inevitável, a não ser que os dois candidatos cheguem a um consenso.

Diante da aceitação do comando partidário de realizar as prévias, colocadas como ponto fundamental pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ele pode ficar mais tranquilo.

"Ele já tem a garantia de que não será atropelado. A existência das prévias só depende de ele dizer que quer mesmo", comenta o dirigente tucano.

Mas, continua o mesmo dirigente, vamos dizer que lá por agosto, setembro, ele, avaliando os acontecimentos políticos, resolva não querer mais as prévias, se disser satisfeito e resolver que o melhor é unir logo o partido? E se o Serra desiste de ser candidato, vai ter prévia? Claro que não.
Mesmo dispostos a realizar as prévias, a direção do PSDB ainda se empenha para uma solução consensual, e avalia que tudo dependerá do que acontecer no país nos próximos meses, e em particular com a candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Uma posição já é consensual entre os dois candidatos: a negativa de antecipar a decisão, pois consideram que a situação política e econômica ainda está muito instável, e é dinâmica por natureza.

A antecipação não será destituída de sentido apenas se eles chegarem a um consenso, conclui a cúpula tucana.

Mas se não houver consenso, por que antecipar, se amanhã as condições políticas podem ser outras, mais favoráveis a um ou outro candidato?

Uma coisa é certa, afirmam os dirigentes tucanos em uníssono: se houver prévia, vai ser feita de uma maneira que satisfaça aos dois candidatos, nenhum deles poderá sair dizendo que a prévia não foi bem feita, ou foi tendenciosa.

"Estamos realizando as prévias com boa-fé, para distender o partido e unir todo mundo. Se continuar nessa divisão toda, é melhor entregar logo o jogo", define um dirigente.

PMDB repõe Aécio na agenda

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, retomou o diálogo interrompido com o PMDB sobre a possibilidade de se candidatar pelo partido a presidente da República em 2010. Na semana passada, aproveitou uma agenda em Brasília para conversar com Michel Temer, presidente do PMDB, e com o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Desta vez, o governador foi assertivo e falou em data. Disse que se até 31 de março o PSDB não resolvesse realizar as prévias para escolher o candidato a presidente ele deixaria o partido e poderia se filiar ao PMDB.

Pôs as coisas nos seguintes termos: continuaria nas próximas semanas a "bater o bumbo" em defesa das prévias e, se não conseguisse, estaria à vontade, teria motivação e discurso para sair.

Provavelmente também uma justificativa para evitar a perda do mandato de governador um ano antes do prazo de desincompatibilização, por causa da restrição legal à troca de partidos.

O discurso de Aécio, caso viesse mesmo a concretizar a decisão, incluiria a denúncia da "ditadura das elites partidárias" e o anúncio da disposição de cumprir o destino desejado "pelo povo de Minas", além da retomada da trajetória do tio-avô, Tancredo Neves, interrompida pela morte antes da posse na Presidência, em abril de 1985.

Talvez não por coincidência o governador tenha dado o prazo de 31 de março na conversa com o PMDB. Teria abril à disposição caso a providência se fizesse necessária.

O PMDB, cujo presidente, Michel Temer, dias antes considerara "fato vencido" a hipótese de Aécio Neves trocar de partido, deu à conversa a devida proporção: acha que há mais chance de o PSDB ceder para Aécio ficar que os tucanos comprarem uma briga do tamanho do segundo colégio eleitoral Brasil.

De qualquer modo, os pemedebistas se sentiram fortalecidos. Começaram a sonhar com palanques regionais robustos, livres da dicotomia PSDB-PT e com uma candidatura própria passível de vir a conquistar o apoio do presidente Luiz Inácio da Silva como alternativa a Dilma Rousseff.

Um acréscimo considerável ao cacife político do partido e um sinal de que a sorte definitivamente se decidira por uma aliança com o PMDB, um colecionador de vitórias.

O estigma

Assim estava em regozijo o espírito pemedebista até o fim de semana passado, quando a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à Veja tachando o partido de "corrupto" fez baixar a apreensão e acendeu a desconfiança.

Teria o senador escolhido estrategicamente esse momento de glória para dizer de público o que há muito diz em particular?

Se o lance obedeceu a uma lógica política, entraria ele nesse jogo desguarnecido, sem munição suficiente para revidar a um contra-ataque imprudente?

Sob a marca de "corrupto" impressa na testa por um correligionário, o PMDB não veria se esvaziar seu papel até agora tido como decisivo na definição dos rumos da sucessão presidencial?

E Aécio Neves, ficaria tão à vontade para entrar no partido, como dissera havia poucos dias, se à legenda fosse pregado o estigma de má companhia?

Logo agora que corria tudo bem e o País já se esquecera daquele dia de dezembro de 2002 quando o recém-eleito Luiz Inácio da Silva desistira na última hora de entregar três ministérios ao PMDB por não considerá-lo à altura do governo "plural" e imune a "feudos" com o qual iniciaria a era da mudança.

O mal-estar, o constrangimento e a cautela pautaram a decisão da Executiva do PMDB de sair pela tangente com uma nota oficial de sete linhas totalmente anódinas.

Qualquer movimento brusco poderia ser fatal.

Havia dois caminhos a seguir: partir para a briga de rua na base da desqualificação do senador ou questionar ponto a ponto as acusações, exigir provas e perguntar a ele por que não fizera denúncias formais aos canais competentes.

Uma terceira possibilidade foi sugerida - a intervenção da Executiva Nacional no diretório regional de Pernambuco, sob a alegação de mau desempenho político-eleitoral -, mas, por ora, arquivada.

Analisadas as perdas e os ganhos, decidiu-se tentar não provocar, trabalhar em silêncio para a poeira baixar e esperar o carnaval passar.

Do PMDB diga-se tudo, menos que lhe falta senso de realidade para perceber que Jarbas Vasconcelos prega em terreno fértil, atira em dois símbolos do estigma (José Sarney e Renan Calheiros) e, por mais dispersas que possam ser suas razões para bater, o partido sabe precisamente porque apanha.

Assim é

Autoridades governamentais, partidárias e parlamentares, situacionistas e oposicionistas, cumprem o acerto tácito de formalizar o vácuo em torno das declarações do senador Jarbas Vasconcelos sobre o PMDB.

É de se notar, porém, que, se todas elas evitaram corroborar as afirmações, nenhuma delas tampouco se dispôs a oferecer as mãos ao fogo em prol do desmentido.

Minas, fiel da balança

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Com tantas coisas em comum, para o bem e para o mal, PT e PSDB têm agora a mesma avaliação: alavancada pelos 80% de Lula e pelo PAC, Dilma vai indo; com Aécio pela frente, Serra empaca. Parece espremido entre a desenvoltura de uma e a pressão do outro.

Petistas e seus aliados estão prestes a acender velas para Aécio, mas os tucanos ficam onde eles têm fama de ficar: em cima do muro. Mas, como há dois candidatos, parece haver também dois PSDBs.

Enquanto há um certo consenso fora do Congresso de que a vez é de Serra, que está disparado na frente, tem 66 anos e se preparou a vida inteira para ser presidente, entre senadores e deputados não é tão evidente assim. Exceto um caso ou outro, como Jutahy Jr. (Serra até debaixo d"água) ou Nárcio Rodrigues (aecista roxo), os parlamentares elogiam igualmente os dois pré-candidatos e parecem levar Aécio muito mais a sério do que o eleitorado, a imprensa e os que se interessam por política.

Lembra um pouco o descompasso em 2006, quando as pesquisas davam Serra na cabeça e a bancada federal, surpreendentemente, preferia Alckmin. Que levou. Ao que tudo indica, Aécio não tem força para ser candidato, mas tem para evitar que Serra seja presidente. De tanto engrossar o coro suprapartidário mineiro contra "os paulistas", pode inviabilizar o voto de Minas em Serra, mesmo subindo pro forma no palanque dele.

Prévias são naturais e consolidadas nos EUA, onde envolvem rituais, regras e compromissos morais. No Brasil, fora o PT, elas são sinônimo de racha. Quem perde pode fazer o que quiser -e quer atrapalhar. Dilma tende a ter o Norte, o Nordeste e boa parte do Rio; Serra é forte em São Paulo e no Sul; Aécio, por enquanto, está limitado a Minas.

Com o PSDB dividido, ou Serra perde Minas, ou Aécio perde São Paulo. Dilma fecha o jogo.

Aliás, a "gaúcha" Dilma nasceu em Minas. Na campanha, pode vir a ser mais mineira do que nunca.

O PSDB e a difícil arte de aprender a somar

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A divisão faz parte da dinâmica dos dois partidos que têm polarizado as eleições no país, o PT e o PSDB, mas o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou desenvolvendo mecanismos de disputa interna mais maleáveis à composição em torno de candidaturas que a legenda do governador de São Paulo, José Serra.

No PT, as piores brigas, as mais autofágicas, giram em torno do poder interno, que dá às tendências majoritárias maior poder não apenas sobre a máquina partidária, mas para conquistar espaços em governos petistas. Os embates não são personalizados: os atores se agrupam conforme suas posições políticas. Mais recentemente, assumiram importância os grupos comandados por políticos com bases clientelistas, donos de votos, mas ainda assim as tendências que se formam em torno desses personagens se integram à dinâmica interna de disputa política quer pelo controle de pedaços da máquina partidária, quer por espaços em governos, o que significa fazer alianças e compor. Os resultados de prévias partidárias, dados esses mecanismos menos personalistas que o PSDB de composição interna, acabam sendo melhor assimilados. Existe um pragmatismo maior nas decisões sobre candidaturas, pelo fato de não ser um partido onde as lideranças individuais têm um grande peso e porque a disputa entre os grupos mira também o horizonte pós-eleitoral, isto é, a composição dos governos, na hipótese de eleição dos candidatos do partido.

No PSDB, a personalização da luta interna dificulta a assimilação de disputas - incentiva, portanto, as divisões. A decisão sobre candidaturas nacionais sempre foi centralizada na direção nacional, que por sua vez não é produto da luta interna entre posições políticas, mas representa o consenso entre poucas lideranças. O cacife de cada postulante são os votos que ele pode arregimentar sozinho, como liderança política - e se supõe que a eles vão se somar posteriormente os votos resultantes da polarização com o PT (essa é a realidade na história recente, polarizar sempre com o partido de Lula); ou então o poder de desestabilizar, pela ameaça, seu adversário. Em 2006, o ex-governador Geraldo Alckmin desbancou a candidatura favorita dos cardeais tucanos, de José Serra, porque ameaçou disputar com ele na convenção nacional. Serra, que perdeu as eleições de 2002 em grande medida porque provocou a divisão do PSDB - apostando erradamente que o partido iria se unir mais na frente, durante a campanha - recuou e deixou Alckmin, nas eleições seguintes, às voltas com um partido igualmente dividido e tendo que administrar também uma derrota.

Nas eleições de 2010, essa incapacidade de assimilar discordâncias internas pode novamente comprometer o PSDB. O alarme já soou, tanto da parte do grupo de Serra como do lado do DEM. O ex-PFL não apenas está fechado com o governador de São Paulo na disputa pela Presidência, como abriu mão da vaga de vice, para que o PSDB tente negociar a saída do PMDB da base da candidatura governista - mas quer que seja o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o candidato a governador da coligação. O DEM tem se articulado para obrigar não apenas um entendimento entre Serra e o governador de Minas, Aécio Neves, sobre quem vai ser candidato (a preferência do ex-PFL, e a sua aposta, são em Serra), como uma rápida definição. Acha que a oposição tem que botar o bloco na rua, pois a última pesquisa Sensus/CNT revela, na sua avaliação, que a candidatura de Dilma Rousseff pelo PT já está consolidada junto ao eleitorado. Se não andar logo, a oposição corre o risco de ser atropelada pela candidata petista, mesmo tendo Serra como candidato, hoje o melhor colocado nas pesquisas.

Serra, por seu lado, está às voltas com a solução de uma equação difícil: como disputar com Aécio sem dividir o partido. Minas Gerais é o Estado com o segundo maior colégio eleitoral do país (10,86% do total de eleitores do Brasil) e, se não tem o poder de, por si só, garantir uma vitória de Aécio, se ele disputar a Presidência da República, pode ter o efeito de derrotar Serra, se for o governador paulista o candidato do partido à sucessão de Lula. Segundo um "serrista", a questão agora é deixar claro para o eleitor mineiro que o PSDB não está subtraindo de Aécio as chances de tornar-se candidato a presidente, mas que o candidato será Serra porque ele é o que tem mais chances de vencer a candidata petista. Por esta razão Serra mandou recados para todos os lados que topa as prévias. Se elas vão ocorrer, é outra história. Mais para a frente, e antes da data marcada, a situação pode ser resolvida em favor do paulista com manifestações claras e inequívocas de maioria dentro do partido - o apoio declarado, por exemplo, dos 26 dos 27 diretórios estaduais do partido. Não existe entusiasmo com as prévias, até porque os "serristas" não acreditam que o governador mineiro tenha a intenção de se unir ao candidato vitorioso se perdê-las, mas a questão agora é não dar chances para que Aécio pareça vítima - nem pretexto para que ele deixe o partido e leve o eleitorado mineiro a votar contra a candidatura de Serra.

Enquanto isso, os grupos do PT se articulam em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

Praticamente não há resistências internas ao seu nome. A ministra, por sua vez, tem se aproximado e mantém conversas com as tendências petistas. É uma forma de se inserir na lógica do partido, de abrigar as discordâncias internas e, ao mesmo tempo, unificar as tendências que brigam pelo poder da máquina no mesmo palanque. Um jantar na residência da ex-prefeita Marta Suplicy foi uma aproximação com o PT paulista que rearticula um campo majoritário e, assim, a hegemonia no partido. Também tem marcada uma reunião com a tendência Mensagem ao PT, do ministro da Justiça, Tarso Genro.

O pragmatismo petista deve-se ao fato também de ser um partido que depende muito do seu grande líder, o presidente Lula, mas mais ainda de sua estrutura nacional e da identificação do eleitor com a legenda para conseguir votos. No caso do PSDB, o pragmatismo é menor porque disputam a ribalta grandes líderes num partido com pequena capacidade de se unificar nacionalmente.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

Aécio convida Serra para caravana tucana

Isabella Souto e Bertha Maakaroun
DEU NO ESTADO DE MINAS

Governador de Minas quer que o paulista o acompanhe em viagens pelo país antes das prévias que o partido deverá fazer para escolher o candidato a presidente da República


O governador Aécio Neves (PSDB) vai convidar o colega de São Paulo, José Serra (PSDB), para percorrerem juntos os estados brasileiros atrás de votos nas prévias que escolherão o candidato do partido a presidente da República nas eleições de 2010. O assunto será tratado entre os dois durante conversa que será agendada logo depois do feriado do carnaval. Em março, o mineiro já anunciou que iniciará uma série de viagens – em um primeiro momento, pelas capitais do Nordeste, região onde é menos conhecido.

A proposta – se aceita por Serra –, segundo Aécio Neves, mostraria que não há divisão ou rachas na legenda em razão da disputa. “Quem sabe possamos caminhar juntos pelo Brasil, coordenados pela direção nacional do partido, mostrando que, mais que qualquer projeto individual, prevalece o projeto de país que o PSDB tem. Aqueles que apostam nas prévias como um instrumento de divisão do partido e acirramento dos ânimos, alguns talvez até torçam para isso, se decepcionarão”, afirmou.

Na segunda-feira à noite, durante um jantar no Palácio dos Bandeirantes, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), informou a José Serra que o partido deverá realizar as prévias – e ouviu do paulista que estaria disposto a disputar a indicação para as eleições do ano que vem. Até então, os aliados do governador de São Paulo eram os mais resistentes à realização das prévias e estavam trabalhando para um consenso interno que garantisse a sua candidatura.

Por outro lado, o governador Aécio Neves vem insistido na tese de ouvir a opinião das bases do partido para uma definição do candidato à sucessão presidencial. O seu principal aliado tem sido o senador Sérgio Guerra, que recentemente veio a Belo Horizonte para uma conversa no Palácio da Liberdade. Na ocasião, veio acalmar os ânimos: no dia anterior à sua vinda, Serra havia anunciado a nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, medida que foi vista como uma jogada de Serra para atraí-lo para seu grupo.

Para Aécio, as prévias não indicarão a existência de um “vitorioso” ou um “derrotado” dentro do PSDB. Até porque, afirmou que, se depender de seus gestos, os tucanos estarão “unidos”. “As prévias não são contra ninguém. É legítimo que cada um tenha o seu projeto, mas todos nós temos respeito pelo Brasil ”, afirmou. “Se as prévias se realizarem, será em clima de respeito mútuo e fortalecimento da união partidária”, completou Aécio.

A ideia dos tucanos é de que as prévias sejam realizadas entre agosto e dezembro deste ano, ou, no mais tardar, início de 2010. A pressa tem motivo: os tucanos querem uma resposta à movimentação do governo federal em torno da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff

Formato

Apesar da disposição, o PSDB ainda não sabe como será a formatação das eleições internas que escolherão o candidato tucano à Presidência da República. O secretário-geral da Executiva Nacional do PSDB, Rodrigo de Castro, afirmou ontem que o PSDB aguarda o resultado da consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para traçar o modelo das prévias no PSDB. “Há várias hipóteses possíveis. Mas tudo depende dessa consulta, que deverá apontar os limites de gastos em publicidade, na operacionalização das prévias para que o partido possa definir que modelo de consulta interna adotará”, disse ele. Na consulta, feita em janeiro, o PSDB pergunta a partir de quando é permitida a realização das prévias partidárias e se os eleitores não-filiados ao partido poderiam participar.

Ao discorrer sobre os modelos de prévias adotados por diferentes partidos no mundo todo, o cientista político e professor da UFMG, Carlos Ranulfo considera ser competência das legendas regulamentarem as prévias eleitorais. “Não vejo necessidade de consulta à Justiça Eleitoral”, afirma. “Geralmente os próprios partidos definem as regras, que podem ser abertas a todos os militantes ou podem ser restritas aos delegados de convenções”, assinala Ranulfo. Não apenas na Europa e nos Estados Unidos, mas na América Latina, vários partidos já escolheram candidatos à Presidência da República por meio de prévias. “Argentina e Chile são exemplos. No Brasil, o próprio PT faz prévias com alguma frequência. Os filiados votam e pronto, é o padrão. Já a experiência do Uruguai é atípica, pois lá existe lei regulamentando as prévias”, observa.

Investimentos

Os investimentos na Região Norte, nos vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, serão prioridade para o governo mineiro e serão mantidos ainda que sejam necessários cortes no orçamento para conter os efeitos da crise financeira mundial no estado. O anúncio foi feito ontem pelo governador Aécio Neves (PSDB)durante solenidade realizada no Palácio da Liberdade para a assinatura da ordem de serviço para investimentos de R$ 545 milhões em obras de saneamento básico que beneficiarão 400 mil habitantes na região.

'A briga é com a Dilma'

Leandro Colon
Entrevista/Sérgio Guerra
DEU NO ESTADO DE MINAS

"Presidente nacional do PSDB afirma que alvo da oposição está definido e que prévia acontecerá"

Brasília – O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), avisa que na briga eleitoral de 2010 a arma da oposição vai mirar desde já a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), e não o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não vamos disputar com o Lula, mas com a Dilma. Vamos contrapor o que a candidata vai dizer com os nossos candidatos, que têm obra feita”, diz. “Ela não tem capacidade para governar o Brasil e fazer as mudanças de que o país precisa. Não tem raízes políticas”, ressalta. Em entrevista dada ontem ao Estado de Minas, Guerra confirma o acerto com os governadores Aécio Neves (Minas Gerais) e José Serra (São Paulo) para realizar prévias e escolher qual deles vai disputar a sucessão presidencial. O senador descarta a possibilidade de uma chapa puro-sangue, com os dois. “Não vejo viabilidade nas duas personalidades, nas conjunturas às quais estão vinculados. Acho improvável.”

Como foi o encontro com o governador Serra na segunda-feira?

Eu disse que tinha combinado com o Aécio que faríamos a regulamentação das prévias. E ele (Serra) disse “tudo bem, eu não sou contra as prévias”. Eu queria que um apoiasse o outro, porque teríamos desde logo alguém com a cara do PSDB em todo lugar. Mas se não houver apoio haverá prévias.

Acha possível um acordo entre os dois? Uma chapa pura, por exemplo?

Não acho, acho que não será assim. Uma chapa puro-sangue seria o céu, mas não acredito. Não vejo viabilidade nas duas personalidades, nas conjunturas às quais estão vinculados. Acho improvável.

O governador Aécio evita um discurso anti-Lula, prefere o pós-Lula. O senhor concorda?

Está certo, porque não vamos disputar com o Lula, mas com a Dilma. Vamos contrapor o que a candidata vai dizer com os nossos candidatos, que têm obra feita. São Paulo é uma máquina, o Serra é um grande governador. Aécio é consenso, pegou o estado de um jeito, deixou de outro, com habilidade.

E a campanha da ministra Dilma…

É uma vergonha. Ela não faz campanha pelo partido, mas por dentro do governo. Até porque não teria como aparecer sozinha. Ninguém sabe quem é ela. Num comício em Pernambuco, as pessoas diziam “dona Nilma”. Ela não tem capacidade para governar o Brasil e fazer as mudanças de que o país precisa. Não tem raízes políticas. De onde é? Aécio é mineiro, encarna uma enorme tradição e um conteúdo mineiro. Serra tem uma história, uma vida, um conteúdo em São Paulo. E as raízes da ministra? O que ela já fez desde lá trás? A mãe do PAC? Isso é marketing. E precisamos de gente democrática. Ela não me parece muito democrática. É centralizadora, autoritária.

Na semana passada, a ministra falou aos prefeitos que o Brasil teria quebrado na crise financeira se fosse no governo anterior...

Essa frase é de uma incompetência técnica exuberante. A ministra está falando muita bobagem. É uma pessoa séria, nada contra. Agora, está sendo produzida. É um produto para disputar a presidência.

O presidente Lula tem registrado uma popularidade de 85%. Onde a oposição errou?

A oposição não teve a competência técnica para enfrentar uma situação concreta. O presidente Lula faz comunicação eleitoral o tempo todo. Nós não fazemos essa arte. Respeitamos as instituições.

Qual o discurso para vencer a eleição e derrotar Dilma?

O discurso da oposição tem que ser reciclado, ter foco. Temos muitas falhas e precisamos resolver. Não adianta fazer oposição espalhada. É preciso ter foco.

E como chegar a esse foco?

Vamos acompanhar centros de problemas do governo federal. Um deles é o PAC. Dizer que o PAC não está cumprindo suas metas é verdade, mas não o suficiente. Dizer que o PAC não está organizado é mais do que verdade. Agora, o que vamos dizer é se tal licitação se deu e por quê. Vamos acompanhar para a população ter ciência do que está acontecendo.

O Bolsa-Família tem sido um dos carros-chefes do governo Lula. Como o PSDB vai tratar o assunto?

O programa é bom? É, e temos que sustentá-lo, mas melhorá-lo com a ideia da contrapartida. O dinheiro vem não para a pessoa depender dele, mas para dar condição para as pessoas se emanciparem..

Lula é a "Alice" que enxerga o fim da crise no Brasil, diz Freire

Valéria de Oliveira
DEU NO PORTAL DO PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, criticou o discurso "eleitoreiro, com objetivo de manter popularidade" que vem sendo feito pelo presidente Lula anunciando o fim da crise econômica no país. "Ele decretou que a crise no Brasil está no fim, quando em nenhum lugar do mundo se tem noção de qual o tamanho dela nem de quando será o seu fim; é uma irresponsabilidade que não tem tamanho, e só pode vir de quem só pensa em si mesmo". Freire chamou Lula de Alice, referindo-se à personagem de Lews Carrol, que ficou famoso no cinema com o filme "Alice no País das Maravilhas".

O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ao jornal Valor Econômico que ainda não se sabe sequer a extensão da crise, mas, conforme Freire ressalta, Lula insiste em sustentar a retórica otimista e "palanqueira" sem se preocupar com o drama do desemprego – que vem aumentando diariamente no país e no planeta – ou com as dificuldades do setor industrial, que acumula perdas por causa da enorme retração nas vendas, o que leva os empresários a demitir. Desde o início, a crise vem sendo tratada pelo governo Lula com irresponsabilidade, diz ele.

Discurso irreal

"Primeiro, havia a tese do descolamento da economia brasileira, quando o presidente disse que a crise era do Bush e nós não tínhamos nada a ver com ela; depois, quando essa tese ficou insustentável, Lula escorou-se no discurso de que os fundamentos da economia brasileira era tão sólidos que só veríamos uma ‘marolinha’; agora, ele insiste em vender ilusões de que o fim chegou, em vez de agir para debelar a crise, acabando com ela no discurso e desprezando a realidade".

O presidente do PPS salientou que se o governo brasileiro quer mostrar alguma coisa ao mundo, deveria se preocupar com a eficiência e a competência para enfrentar a crise, em vez de querer "faturar" eleitoralmente com ela, mentindo sobre um assunto tão importante. "Lula usa táticas que desrespeitam a inteligência das pessoas, como o que fez ao afirmar que São Paulo tem 10% dos analfabetos do país, se fazendo de desinformado para atingir o adversário político, o governador José Serra".

Finanças e ciência, ilusão e religião

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Armínio Fraga critica ilusões da economia, aprova estatização provisória de bancos, mas alerta contra regulação pesada

"NOS EUA , estão dando uma moleza extraordinária para os bancos." É uma opinião de Armínio Fraga, nosso "quiet liberal", um liberal tranquilo, financista, ex-presidente do Banco Central, ex-gestor de fundos de George Soros e economista dito "ortodoxo", "ma non troppo". O economista falava na quarta-feira para parte da comunhão tucana paulista, no Instituto FHC: o próprio FHC, José Serra, ex-BCs, ex-assessores graduados de FHC, banqueiros e economistas. Expunha as recomendações de reforma financeira que elaborou com Paul Volcker e cia.

Fraga acredita que se vive o fim de grandes ilusões, como aquela "do controle científico do risco", por meio de estatística avançada, entre outras, que ajudaram a alimentar a religião ultraliberal do período em que Alan Greenspan presidiu o Fed. "E os economistas achavam, de modo meio prepotente e otimista, que se vivia a "grande moderação"", um período em que os BCs acreditavam ter encontrado um equilíbrio entre inflação baixa e crescimento.

Fraga é contra a "regulação pesada", que inibiria a inovação, seria custosa e, no caso de exigir capital demais dos bancos, limitaria o crédito. Mas acha que "a criatividade [inovação financeira] foi longe demais. O ganho [para a economia] foi pequeno tendo em vista os riscos e a crise que gerou". E, com a chancela do governo dos EUA, os bancos ficaram "superalavancados" (tinham "empréstimos" demais em relação ao capital próprio. Quanto maior essa razão, maiores a alavancagem e o risco de quebra em caso de perdas).

"O pessoal [das finanças] alega que alavancar era o modo de ganhar 25% [ao ano]. Mas qual é a lei da natureza segundo a qual os ganhos têm de ser constantes em 25%?"Fraga aprova a estatização provisória dos bancos americanos. Credores e acionistas perderiam dinheiro. "Do ponto de vista social, é justo, do ponto de vista do funcionamento do sistema, é bom": tal punição inibiria investimentos de risco demasiado. Diz que é "muito ruim o governo [dos EUA] comprar dos bancos essa papelada podre".

O aperfeiçoamento da supervisão enfrenta um problema político, avalia Fraga. Muito dinheiro das campanhas eleitorais vem de instituições financeiras. Durante a campanha de 2008, "ninguém queria saber de discutir o problema da supervisão financeira, isso é real, aconteceu", disse Armínio.

Fraga relatou uma conversa que teve faz alguns meses com Volcker, o lendário presidente do Fed que domou a grande inflação americana dos anos 70 com pancadas de juros. Volcker perguntou a Fraga quais as contribuições essenciais da teoria econômica, nos últimos 20 anos, para melhorar a política monetária. Fraga disse que teve dificuldade em responder. Suas lembranças mais importantes eram de contribuições feitas nos anos 60 e até meados dos 70 do século passado.

A outra pergunta de Volcker era sobre engenharia financeira (criação de instrumentos como derivativos exóticos). Sem engenharia financeira (e computadores e liberalização etc.), coisa que ganhou impulso no final dos anos 70, o mundo financeiro seria outro e menor. Fraga disse que o emprego da engenharia financeira "passou do ponto ótimo".

Gasto do governo com encontro de prefeitos foi de R$2,4 milhões

Maria Lima, Chico de Gois e Regina Alvarez
DEU EM O GLOBO


Oposição quer ação contra Dilma por campanha e uso de dinheiro público

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A informação de que o governo gastou muito mais do que os R$253 mil divulgados com a realização do encontro de prefeitos em Brasília, há uma semana, deu novo fôlego à oposição e mais argumentos para uma enxurrada de ações de DEM e PSDB na Justiça Eleitoral, no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União (TCU). Eles tentam barrar a superexposição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com uso de recursos públicos. À noite, o Planalto admitiu que os gastos com o evento chegaram a R$1,875 milhão. Mas levantamento, ainda parcial, feito pelo GLOBO junto a outros órgãos identificou um custo de R$2,431 milhões.

As executivas de DEM e PSDB entraram com duas ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar propaganda antecipada da pré-candidata do presidente Lula ao Planalto. Depois, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) entrou com representação na Procuradoria da República no Distrito Federal para apurar improbidade administrativa de Dilma e Lula. E o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), estuda outra representação no TCU para pedir que os responsáveis pelo evento dos prefeitos devolvam aos cofres públicos os recursos que teriam sido usados de forma indevida para promoção pessoal.

"Não entendemos a politização do problema"

O ministro de Relações Institucionais, José Múcio, informou que o gasto fora de R$1.875.486, sem considerar despesas feitas por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. E detalhou: além dos R$253 mil que sua secretaria aplicou, houve mais R$273 mil de outros 10 ministérios, e R$1.349.000 do Ministério das Cidades. Segundo Múcio, quando ele divulgou os R$253 mil, referiu-se ao gasto de sua pasta.

- Não entendemos a politização do problema. Não houve sentimento de maldade ou má-fé. As contas estão todas no Siafi - disse, negando que o evento tivesse conotação eleitoral.

Além dos gastos divulgados pelo ministro, o BB informou que sua despesa chegou a R$400 mil, incluindo a montagem e ambientação de estande, sala de computadores, equipamentos, acesso à internet, serviço de buffet, recepcionistas e banners. O Ministério da Saúde informou que gastou R$138 mil, com estande, sala de atendimento e translado dos prefeitos na cidade. A Caixa disse que gastou R$18 mil com um estande. A empresa Dialog informa no seu site que participou do evento por meio de seus clientes, os ministérios das Cidades e do Turismo, e ficou responsável, entre outras coisas, pela montagem do auditório em que o Lula recebeu os prefeitos, palcos e sala reservada à Presidência.

A assessoria de Múcio informou que pediu que todos os ministérios informassem os gastos, mas admitiu que nem todos o fizeram. Por isso, Múcio disse que até o final da semana teria tudo contabilizado. Porém, com a insistência da imprensa, antecipou o anúncio.

A primeira ação do DEM/PSDB ao TSE é uma consulta, questionando se é possível um pré-candidato subir em palanques antes de 5 julho do ano da eleição. A segunda é uma representação contra Dilma e o presidente Lula, usando como base o financiamento do encontro dos prefeitos com recursos públicos, que teriam servido, segundo alegam, para fazer propaganda da candidatura. Na ação, relacionam discursos de Lula defendendo uma candidata mulher, declarações de vereadores dizendo que o evento era para "turbinar" a candidatura de Dilma e o estande onde os participantes confeccionavam santinhos com fotos dela e de Lula.

- O Planalto usou o nosso dinheiro para mostrar a ministra Dilma - disse o deputado Roberto Magalhães (DEM-PE), que redigiu as duas ações.

- Se PSDB e DEM fizerem uma pesquisa entre seus prefeitos, verão que a maioria apoia o encontro. A oposição está com medo da democracia e quer introduzir uma espécie de censura ao presidente e à ministra Dilma - disse o líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

Dilma rebate acusação de que faz campanha em viagens

Em São Paulo, Dilma acusou a oposição de tentar "interditar" o governo em ações de combate à crise, como o PAC. Ela adiantou que fará ainda mais viagens, além de inaugurações de obras para "prestar contas" do governo. E frisou que DEM e PSDB são beneficiados pelo PAC, citando os governadores José Serra (PSDB), de São Paulo, e José Roberto Arruda (DEM), do DF.

- Eu acho que (a ação) tem esse intuito (de disputa eleitoral) e tem, sobretudo, o intuito de interditar o governo. Acho absolutamente incorreta essa versão de que estamos fazendo campanha. O que tenho feito é dar explicações, nós devemos uma satisfação.

Dilma falou a cerca de 500 sindicalistas na Força Sindical. Elza de Fátima Pereira, mulher do deputado Paulo Pereira (PDT-SP), presidente da entidade, abriu o evento afirmando que "o Brasil está pronto para eleger uma mulher". Dilma não reagiu. De manhã, em reunião do Conselho Político, Lula defendeu a participação de Dilma em viagens e sugeriu que recente a ida de Serra ao interior do Paraná teve característica de campanha.

COLABORARAM Soraya Aggege e Gerson Camarotti

O norte na crise

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


Foi um tempo aflitivo, quando vivido um dia por vez, mas olhando-se agora, em retrospectiva, o Brasil se saiu muito bem da crise bancária que enfrentou nos anos 90. Nos Estados Unidos a crise é cada vez mais assustadora, e até Alan Greenspan defendeu ontem a estatização dos bancos. Gustavo Loyola, que enfrentou uma crise bancária, diz que aqui não foi preciso estatizar.

Loyola era presidente do Banco Central na maior parte da crise bancária que estourou com a quebra do Econômico, depois do Nacional, do Bamerindus e de uma série de instituições menores.

Nos Estados Unidos, a estatização (ou nacionalização, como eles dizem) tem sido defendida até pelos maiores adeptos do liberalismo. Aqui, esse caminho foi evitado.

- No Brasil havia bancos sólidos, que serviram como pontos de apoio para o Banco Central. O trabalho funcionava assim: o Banco Central intervinha no banco em crise e passava para outro banco os passivos com o público (os depósitos à vista e a prazo), junto com ativos equivalentes. Por esse banco bom, o adquirente pagava uma quantia ao banco podre que ficava no Banco Central.

As autoridades brasileiras foram rápidas em isolar o problema e atuar em cima de cada um. Não foram problemas simples. A crise maior estourou nos bancos públicos.

- O Banespa sofreu intervenção, o Banco do Brasil foi capitalizado na época do (Carlos) Ximenes na presidência, os bancos estaduais foram federalizados para serem saneados e vendidos - conta Loyola.

A crise, estourando no começo da estabilização, produziu um momento de perigo extremo para o país e a economia. Evitou-se que a crise se alastrasse. O complicador político foi afastado, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso determinou que as decisões fossem técnicas e seu ministro da Fazenda, Pedro Malan, respaldou a atuação do Banco Central.

- No caso brasileiro não se podia estatizar os bancos, porque isso significaria proteger o acionista. No Brasil os acionistas tinham responsabilidade objetiva pela situação das instituições, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, e por isso ficaram com os bens indisponíveis. Se os bancos brasileiros com problemas fossem estatizados, seria uma forma de tirar dos banqueiros essa responsabilidade - conta Loyola.

Outra diferença enorme entre a crise lá e cá é que no Brasil não havia subprime ou excessos de empréstimos. Os rombos dos bancos revelados após a queda abrupta da inflação estavam relacionados com títulos públicos como FCVS (Fundo de Compensação de Variação Salarial) ou títulos da dívida ou TDAs, papéis que no mercado tinham um valor muito menor que o valor de face porque traziam a memória dos problemas econômicos anteriores do Brasil. No caso dos bancos estaduais, principalmente do Banespa, havia rombos causados por empréstimos concedidos pelas instituições aos governos estaduais, que não pagavam. O Banespa recebeu um empréstimo do governo para sanear as contas e, quando ele foi vendido para o Santander, o dinheiro ajudou a abater a conta, mas o governo de São Paulo ainda paga essa dívida. Loyola diz que, ao atacar o problema, deve-se mapear o tamanho da crise e atacar a falta de confiança no sistema.

- O primeiro norte com o qual trabalhar é a eliminação da desconfiança, por isso não adianta emprestar 300 para cobrir um rombo de 500, porque os agentes econômicos continuarão desconfiados e, ao fim, o buraco crescerá e o Banco Central terá posto 300 para nada. Na medida do possível, é preciso ter um diagnóstico preciso do tamanho do problema. O segundo norte é saber que o investidor de risco que subscreveu ações do banco não pode ser salvo, é preciso garantir apenas o depositante e o poupador. O terceiro norte é não permitir a contaminação de um banco sólido que tiver absorvido um banco com problema; aqui, quando tivemos sinal disso, agimos imediatamente.

Nos Estados Unidos, o Bank of America comprou a Merrill Lynch depois de uma longa due diligence (auditoria), mas, após completada a aquisição, avisou ao Fed (o BC americano) que tinha subestimado os problemas do banco adquirido, e isso reabriu a temporada de problemas.

Crises bancárias aconteceram em outros países da região. A Venezuela teve uma crise antes do Brasil. Vários bancos quebraram, os donos fugiram para o exterior com remessas de capital e o governo caiu. A crise provocou uma enorme recessão. No corralito que aconteceu na Argentina, tempos depois, o dinheiro dos depositantes ficou preso, numa espécie de Plano Collor piorado. O Brasil voltou a ter um problema com os bancos Marka e FonteCindam na época da desvalorização cambial, mas o problema foi isolado.

- Mas a grande vantagem é que no Brasil a crise bancária não coincidiu com a crise cambial. Aqui houve um sequenciamento perfeito - diz Loyola.

Agora enfrentamos a crise internacional de grandes proporções, à qual não resistiríamos sem ter saneado e criado regras de prudência para os bancos, como foi feito naquela nossa crise bancária.