domingo, 27 de julho de 2014

João Bosco Rabello: Carne de segunda

- O Estado de S. Paulo

Não há nada de bom para o governo na decisão do Tribunal de Contas da União que concluiu pela responsabilidade de 11 ex-diretores da Petrobrás (um preso) no prejuízo de quase 800 milhões de dólares da empresa na operação de compra da refinaria de Pasadena.

O resultado é desastroso e só se justifica a euforia do PT pela constatação de que em tempo de vacas magras, carne de segunda é filé. Não se tem conhecimento de atestado de inidoneidade mais contundente a uma companhia do porte da Petrobrás do que a suspeição formal imposta a um colegiado inteiro, como no caso.

A comemoração do governo e a decepção de parte da oposição se explica pela expectativa maior de responsabilização da presidente da República, beneficiada pela exclusão do Conselho de Administração da estatal do relatório do ministro José Jorge, aprovado por unanimidade pelos seus pares.

Sabe-se que o TCU optou pela análise objetiva da operação, em que a responsabilidade da diretoria é inequívoca, para evitar o risco de paralisação política do processo.

A responsabilidade do Conselho de Administração, de natureza estatutária, seria imediata não fosse a polêmica iniciada pela presidente da República com a acusação à diretoria de manipulação de dados para obter a aprovação.

Uma vez polemizada a responsabilidade do Conselho, e politizada pela época eleitoral, o tribunal preferiu avançar com objetividade, bloqueando os bens dos diretores e abrindo a etapa da tomada de contas, que identificará a participação de cada um, em cada etapa da operação.

A dinâmica do processo fará o resto, como já sinaliza a declaração de um dos ex-diretores, Nestor Ceveró, sugerindo que tem o que contar para mudar o relatório do TCU.

A questão politica negativa se mantém: Dilma não foi responsabilizada pela aprovação dolosa da operação comercial, mas sua imagem de gestora mantém-se abalada, principalmente porque associada aos resultados da economia.

A Petrobrás segue mal das pernas, afetada por uma política intervencionista que serviu ao cardápio populista do governo, cujo auge se registrou no congelamento do preço da gasolina, com prejuízo estrondoso para a empresa e a economia.

O governo tem muitas frentes contra a meta da reeleição, o que o mantém na defensiva. Economia em queda (às portas de uma recessão técnica), dissidência nas bases regionais, conflitos internos de campanha e deterioração do patrimônio político do PT.

A decisão do TCU, pois, é um sopro de ar fresco que não abaixa a temperatura . Apenas, como no folclore popular, tira o bode da sala, reduzindo o aperto .

Luiz Carlos Azedo: Faixa de Gaza

- Correio Braziliense

Quem já foi ao Saara, no Rio de Janeiro, como são conhecidas as ruas de comércio popular da capital fluminense, sabe que a convivência entre árabes e judeus poderia ser muito melhor. Ali, concorrem entre si no plano comercial, mas vivem em harmonia social e são capazes de se unir em prol dos interesses comuns.

 Entretanto, quando a situação se agrava no Oriente Médio, como na Guerra dos Seis Dias, em 1967, ou na invasão do Líbano por Israel, em 1982, um clima de baixo astral toma conta das duas comunidades.

São os ecos da guerra longínqua na terra ancestral, que, para eles, está muito mais perto do que se imagina, devido aos laços familiares. As antigas tribos semitas, segundo o Gênesis, descendem de Sem, filho de Nóe.

 O mesmo sentimento de dor e frustração ocorre em outras regiões país. É o caldo de cultura para o fanatismo religioso e o chauvinismo nacionalista, que podem ser tornar um problema para todos nós, se entrarmos no clima de radicalização política que predomina em Israel e na Palestina.

Desde a criação do Estado de Israel, com o decisivo apoio do Brasil na ONU, o Itamaraty sempre atuou como uma força moderadora nos conflitos do Oriente Médio, sem que isso significasse abdicar de tomar posições afirmativas nos fóruns internacionais a favor da Autoridade Palestina, como o seu reconhecimento diplomático.

Forças de paz
Atualmente, a Marinha do Brasil integra uma força-tarefa marítima da Força Interina das Nações Unidas do Líbano (Unifil), com um navio operando na parte oriental do Mar Mediterrâneo. A fragata Liberal tem uma tripulação composta por 263 militares, com um destacamento aéreo embarcado, fuzileiros navais, corpo de saúde e mais 13 oficiais de estado-maior.

Composta ainda por mais oito navios da Alemanha, Turquia, Grécia, Indonésia e Bangladesh, desde fevereiro de 2011 a força-tarefa está sob comando de um contra-almirante brasileiro. Monitora o tráfego na costa libanesa, para impedir o contrabando de armas para os xiitas do Hizbollah e treinar os quadros da Marinha de Guerra libanesa.

É a primeira vez que o comando da Unifil está sob responsabilidade de um país não membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A fragata Constituição recentemente partiu do Rio de Janeiro para substituir a fragata Liberal, e permanecerá na área até abril de 2015.

Guerra Fria
Não é a primeira vez que o Brasil manda militares para o Oriente Médio. De 1957 a 1967, no calor escaldante do deserto, 6 mil soldados brasileiros — a maioria do Rio — patrulharam o Canal de Suez e as fronteiras do Egito, entre tempestades de areia e minas terrestres. O Batalhão Suez ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1988, ao lado das Forças de Paz da ONU.

Além de Israel e Egito — os dois países envolvidos diretamente na guerra —, grandes potências mundiais, como Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética, tinham interesses em jogo na região. Um dos motivos do conflito foi a nacionalização do Canal de Suez pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, em 1956.

O local é um ponto estratégico para a economia mundial, fazendo a ligação marítima mais curta entre vários países da Ásia, da África e da Europa. Em retaliação, França e Inglaterra formaram uma espécie de coalizão com Israel e atacaram o Egito. Era o período da Guerra Fria, a disputa entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos pela liderança política e econômica mundial.

A ONU agiu prontamente e enviou tropas de paz para a região. O Brasil foi um dos 10 países convidados a participar da missão, com Canadá, Noruega, Finlândia, Índia, Colômbia, Dinamarca, Indochina, Suécia e Iugoslávia. Isso não impediu, porém, a Guerra dos Seis Dias, em 1967, na qual Israel derrotou o Egito, a Síria e a Jordânia e ocupou territórios árabes.

Talvez tenha havido um exagero no posicionamento do governo brasileiro — que classificou de desproporcional os ataques de Israel às comunidades palestinas na Faixa de Gaza, o que é verdade, sem criticar duramente os ataques do Hamas ao território israelense —, ao convocar o nosso embaixador em Israel.

O Palácio do Planalto jogou mais para a arquibancada do que em direção ao gol. Assim, abriu espaço para que a belicosa chancelaria israelense classificasse o Brasil como um "anão diplomático", o que não é caso, historicamente, em se tratando do Oriente Médio. Do ponto da nossa tradição diplomática, a capacidade de diálogo do Itamaraty sempre teve papel positivo para a paz na região, mas pode ter se perdido nesse episódio.

O fantasma da recessão começa a rondar a economia brasileira

• Economistas projetam um aumento de demissões para este ano e um quadro de ‘estagflação’ até 2015

Carla Jiménez – El Paus

SÃO PAULO - Havia tempo que a palavra recessão estava descartada do dicionário brasileiro. Mas, os últimos indicadores divulgados nesta semana, como a prévia da inflação acima da meta estabelecida pelo Banco Central, e uma redução dos ganhos salariais em grandes capitais, fizeram os economistas perderem a timidez para falar sobre o assunto. “Já estamos entrando em uma recessão, num ligeira recessão”, diz o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos interlocutores da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula.

“O desempenho da economia no segundo trimestre será negativo”, diz Belluzzo que prevê demissões nas empresas até o final do ano, o que pode promover um terceiro trimestre estagnado, portanto, dentro do que o mercado costuma chamar de “recessão técnica”, quando a economia não cresce por dois trimestres seguidos. No caso de três consecutivos, se configura a recessão clássica.
O setor industrial já vem registrando saldo negativo de emprego (mais demissões que contratações) há três meses. A construção civil também começou a contabilizar cortes de pessoal no mês de junho, segundo o último levantamento do Ministério do Trabalho.

Ao todo, foram criadas 25.300 vagas, a menor geração de vagas formais registrado para o mês desde 1998, observa o Departamento de Estudos Econômicos do banco Bradesco.

Nesta quinta-feira, dia 24, a pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou, ainda, um recuo nos salários em quatro grandes capitais entre maio e junho: em Recife, por exemplo, houve queda de 1%, em Belo Horizonte, -2,2%, no Rio de Janeiro, -0,5%, e em São Paulo,-1,6%.

Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria Tendências, diz que o cenário vai ficar bastante delicado a partir de agora. “Além de um PIB negativo no segundo trimestre, os dados dos primeiros três meses do ano podem ser revisados para baixo, o que já nos colocaria em recessão técnica”, afirma. Entre janeiro e março deste ano, o país cresceu 0,2%, mas se o dado for revisto para baixo, o desempenho será negativo.

Ribeiro lembra que os números ruins de junho levaram todas as consultorias a revisarem para baixo o crescimento do PIB do país neste ano. A Tendência, por exemplo, passou de 1,3% para 0,6%. O próprio Governo já havia reduzido sua expectativa, de 2,5% para 1,8%, conforme projeção do Ministério do Planejamento.

A inflação persistente, acima da meta de 6,5%, já pesa nos custos das empresas, que devem promover novas demissões. O Bradesco projeta um cenário de elevação gradual da taxa de desemprego ao longo do segundo semestre, com uma taxa média de desemprego de 5,2% neste ano e de 5,7% em 2015.

Os números revelam que o setor empresarial se mantém em compasso de espera, um quadro típico dos anos eleitorais. Quem tem investimentos a fazer, prefere esperar a troca de comando para definir sua estratégia de atuação.

Estagflação
A economia estagnada com inflação em alta cria um círculo vicioso que é o pesadelo de todo governante. Com preços mais altos, o consumidor adia a compra. Sem vender, os empresários adiam seus planos de investir. Sem investimento, não há incentivo para novas contratações. E diante dessa perspectiva, o trabalhador fica mais cauteloso, portanto, menos animado para se endividar.

Na terça-feira, dia 22, o IBGE divulgou a prévia da inflação de julho que se mantém nos 6,51% em 12 meses, embora apontando para uma desaceleração.

Para aumentar o labirinto, a inflação alta faz o Banco Central manter os juros altos, o que encarece o custo do dinheiro para o empresário e o consumidor. Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira, o BC assegurou que manterá a taxa básica de juros em 11%, admitindo uma inflação persistente neste ano e no ano que vem, maior inclusive do que havia sido projetada no mês passado.

A margem de manobra para virar esse jogo, no curto e médio prazo, é mínima e o quadro de estagnação com inflação, ou estagflação se torna inexorável. “Esse quadro de estagflação pode durar por seis meses. Mesmo com a entrada de um novo presidente”, diz Fabio Silveira, da GO Associados, que não dá tanta importância ao eventual status de recessão. “É só um nome. O fato é que a economia está parada”, completa.

Se houver alguma injeção de ânimo importante, os resultados econômicos mais positivos só vão aparecer em 2016, calcula Silveira, que prevê uma expansão de apenas 0,5% para o PIB deste ano. Mas para isso, é preciso oferecer um farto leque de opções para o crescimento do setor produtivo, que garanta o aumento da oferta e das exportações, que perderam o vigor de outrora com o fim do ciclo de valorização das commodities. Leia-se facilidades para investir, redução de burocracias, e apoio na busca de novos mercados para exportar. Medidas que são colocadas de pé apenas no longo prazo.

A saia justa do banco Santander

• Uma carta aos clientes, sugerindo que a melhora de Dilma nas pesquisas poderia piorar o câmbio e as bolsas, cria uma situação embaraçosa para a instituição que tem 20% dos lucros no Brasil

- El Pais

São Paulo - Desde que a presidenta Dilma Rousseff assumiu o poder, em 2011, o presidente mundial do Santander, Emílio Botín, esteve pelo menos quatro vezes no país. E nas quatro ocasiões, foi recebido pela presidenta no Palácio do Planalto, quando Botín fazia questão de tornar públicas suas mensagens de otimismo com o país. “O Banco Santander está muito contente de estar trabalhando neste país. Seguiremos crescendo e temos grande confiança em tudo o que está sendo feito no Brasil”, disse ele na última visita, no dia 12 de setembro de 2013.

É exatamente por essa relação estreita que a notícia de que o Banco Santander enviou uma carta aos clientes de alta renda nesta sexta-feira, sugerindo que a melhora de Rousseff nas pesquisas eleitorais poderia derrubar a bolsa de valores e o câmbio, caiu como uma bomba no Planalto. “A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta corrente… Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia.”, diz trecho da carta.

Desde que o assunto ganhou o noticiário, o Santander se apressou em publicar em seu site, disponível para qualquer correntista, uma carta se retratando. “O Santander vem a público esclarecer que o texto enviado a um segmento de clientes, que representa apenas 0,18% de nossa base, em seu extrato mensal,… não reflete de forma alguma o posicionamento da instituição”, dizia o texto, que esclarecia que o referido texto feria a diretriz interna do banco que prevê que as análises econômicas não tragam viés político ou partidário.

Mas, o estrago já havia sido feito, e coube ao Partido dos Trabalhadores tomar a dianteira, uma vez que o Planalto não se pronunciou sobre o assunto. “O que aconteceu é proibido, pois não se pode fazer manifestações que interfiram na decisão de voto”, disse Rui Falcão, presidente do PT e coordenador da campanha de reeleição da presidenta neste ano, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Botín, por sua vez, é esperado esta semana no Brasil para um evento promovido pelo banco sobre educação. Não se sabe ao certo se ele virá depois deste episódio, e se estará com a presidenta.

O banco espanhol entrou no Brasil no ano 2000, quando adquiriu, num lance surpreendente, o Banespa, banco público de São Paulo. Na época, dava-se como certo que seriam o Bradesco ou o Itaú, os maiores bancos brasileiros na ocasião, que levariam o cobiçado ativo. Para o Santander, no entanto, foi a porta de entrada para a sua operação no maior país do continente sulamericano. Hoje, o Brasil representa um quinto do lucro do grupo, depois de viver o boom econômico que se seguiu desde então.

Porém, como em qualquer casamento, a alegria e a tristeza fazem parte do acordo. E o Santander tem sentido as dores de uma economia mais difícil. No ano passado, por exemplo, o banco teve uma queda de quase 10% do lucro, em relação a 2012. Foram 5,7 bilhões de reais. No primeiro trimestre deste ano, uma nova queda da lucratividade: 14,92% menos que no primeiro trimestre de 2013, para um total de 518,4 milhões de reais.

Em junho deste ano, o artífice da entrada do Santander no Brasil, Francisco Luzón, que foi vice-presidente do Santander para a América Latina, disse durante a sua participação no Fórum Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional, promovido pelo EL PAÍS em Porto Alegre, que o momento atual era de olhar para o futuro, após um trabalho excelente do governo federal nas bases da política econômica até três anos atrás. “Mas atualmente há investimento de menos, incertezas demais e crescimento baixo”, completou.

Painel :: Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Em busca do PIB
Preocupada com o pessimismo sobre os rumos da economia, a presidente Dilma Rousseff fará um esforço nas próximas duas semanas para reanimar o setor produtivo. Ela tentará vender otimismo em encontros com industriais, microempresários e representantes do agronegócio. A petista sabe que o ambiente de desconfiança pode comprometer a reeleição. Por isso, vai martelar a ideia de que o país superou gargalos e ainda está crescendo, apesar da crise internacional.

Périplo Nesta quarta-feira, Dilma visitará a Confederação Nacional da Indústria. No dia 6, estará na CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). No dia 7, sancionará a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa.

Chão de fábrica A presidente também tentará vender esperança a sindicalistas. No encontro da CUT, dia 31, e no evento com outras centrais sindicais, na semana seguinte, repetirá que o crescimento do emprego e da renda é mais importante que a expansão acanhada do PIB.

Balança Pesquisas internas do PT indicam ligeira recuperação do otimismo dos eleitores em relação à própria situação econômica. A estabilização de preços dos alimentos ajudou muito na mudança de humor. O medo da inflação futura, no entanto, continua mais forte do que os petistas esperavam.

Feira livre Metáfora de um dirigente da campanha de Eduardo Campos (PSB) para descrever o ritmo da arrecadação de recursos na disputa presidencial: "Enquanto a Dilma consegue dez maçãs, o Aécio arruma três, e o Eduardo, só uma..."

De grão em grão O comitê de Aécio Neves (PSDB) vem tentando se aproximar de grupos com bandeiras cada vez mais específicas. A última investida é nos defensores de mudanças na legislação sobre rótulos de embalagens. A causa reúne 60 mil adeptos no Facebook.

Vira-casaca O antropólogo baiano Antônio Risério, que ajudou a escrever os discursos de Dilma na eleição de 2010, mudou de time mais uma vez. Na pré-campanha deste ano, ele atuou na equipe de Eduardo Campos (PSB). Agora, trabalha com os marqueteiros de Aécio.

Fiscal de poste Acusado pela ex-mulher de receber propina e manter conta não declarada na Suíça, o deputado Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) se notabilizou, no início da gestão do prefeito Eduardo Paes, por comandar operações para prender foliões que urinavam na rua.

Com quem andas Em fevereiro de 2013, Bethlem pediu exoneração do secretariado de Paes para reassumir o mandato de deputado federal por um dia. Objetivo: ajudar a eleger Eduardo Cunha (RJ) o líder do partido.

Operação resgate Na reunião que definiu estratégias para tirar a candidatura de Alexandre Padilha do atoleiro, Dilma prometeu usar o cargo para ajudá-lo. Vai marcar mais agendas oficiais em São Paulo até outubro.

Chama mais gente No encontro, petistas sugeriram à presidente criar um comitê suprapartidário de prefeitos paulistas. A ideia é que o grupo seja coordenado por um político filiado a outra sigla.

Novo rumo A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão (PC do B), deve reforçar a articulação de Fernando Haddad (PT) com as subprefeituras. Ela estava à frente do Comitê Especial para a Copa do Mundo.

Velho cargo O Mundial da Fifa acabou no dia 13, mas o comitê municipal ainda não foi extinto. Sua estrutura continuará a existir oficialmente até 31 de agosto.
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Tiroteio
Enquanto o governo comemora um prejuízo bilionário na Petrobras, Dilma copia Lula: 'Não sei de nada'. A resposta virá nas urnas.
DO DEPUTADO ANTÔNIO IMBASSAHY (PSDB-BA), líder tucano na Câmara, sobre a decisão do TCU de isentar a presidente pela compra da refinaria de Pasadena.
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Contraponto
Unidos pelo fracasso

Na entrevista em que anunciou o avanço do Brasil no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Jorge Chediek, representante das Nações Unidas, arriscou um comentário sobre a Copa do Mundo. Diante da lembrança do fiasco da seleção brasileira, mudou de ideia:

-Melhor não falar da Copa, né? -propôs, provocando certa desconfiança por causa do sotaque.

Para que não restassem dúvidas de que partilhava a tristeza dos brasileiros, ele esclareceu:

-Eu sou argentino, viu? Também sofri a minha cota... -disse, lembrando a derrota na final contra a Alemanha.

Panorama Político:: Ilimar Franco

- O Globo

Me dá um dinheiro aí
Políticos experientes afirmam que os gastos estratosféricos previstos pelos candidatos ao Planalto não passam de ficção. As empresas estão segurando suas doações. E a maioria delas não está disposta a dar por fora e correr o risco de cair nas mãos da Receita e da PF. As campanhas estão mais caras e o caixa dois está minguando. Por isso, todos os partidos apostam na reforma política. A festa acabou.

A falência do processo milionário
Organizações sociais já criaram pelo país 800 comitês de mobilização dos eleitores para que eles votem no plebiscito popular pela reforma política, que se realizará na Semana da Pátria (1º a 7 de setembro). Uma votação expressiva, acima de 10 milhões, pode pressionar os partidos pela mudança. Para os políticos, não há apoio para uma Constituinte, como quer o ex-presidente Lula. Mas acham viável montar o debate em cima da tese, liderada pela CNBB, de um projeto de lei de iniciativa popular. Parlamentares de todos os quadrantes consideram que o voto proporcional está falido e que é preciso mudar, seja para o voto em lista, o distrital misto ou o distrital.
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“No Brasil de hoje, quem atira pedra é herói e quem defende a vidraça é bandido”
José Múcio
Ministro do TCU, sobre o apoio de entidades aos que praticam manifestações políticas lastreadas na violência
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A História se repete como farsa
Há anos os presidentes adotam a mesma tática para se livrar de constrangimentos. Sempre que o governo comete um erro político, seu Estado-Maior espalha a versão de que o presidente puxou as orelhas de um assessor trapalhão.

A cena
Em queda nas pesquisas e lutando para ir para o segundo turno, o candidato ao governo do Rio pelo PT, Lindbergh Farias, esperneou, mas não muito, com a foto da presidente Dilma com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Ele sabe que ela precisa dos aliados. Mas segue feliz da vida. Ele terá o ex-presidente Lula no seu palanque.

Há casos e casos
Sobre as divergências na campanha da presidente Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, explica que elas não se traduzem necessariamente em crise e cita como exemplo: “teve uma campanha (a de Aécio Neves) que demitiu o seu marqueteiro”.

O voto evangélico
A decisão da campanha da presidente Dilma de fazer um movimento em direção ao eleitor evangélico, segundo profissionais do marketing, pretende evitar o que ocorreu em 2010. Por causa da polêmica do aborto, na reta final do primeiro turno, a presidente perdeu três pontos percentuais, e a eleição foi para o segundo turno.

Jogo de empurra
Quando, na reunião com os partidos aliados no Alvorada, foi feita referência à questão do aborto, a presidente Dilma saiu-se com essa: “Uai! O que foi que eu fiz?”. Um dos presentes emendou: “O problema não é a senhora, é o seu partido, o PT”

O outro lado
O ex-presidente do PFL e ministro do TCU José Jorge está surpreso com a versão de que cedeu a pressões do PT para livrar a presidente Dilma do caso Pasadena. Ele garante: “Não fui procurado por ninguém, nem do governo nem da oposição”

OS CANDIDATOS A PRESIDENTE terão de abrir suas propostas na quarta-feira, na CNI. Os industriais querem saber quais são seus planos para o Brasil.

Diário do Poder :: Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Fantasma do ‘mensalão’ prejudica PT em São Paulo
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, admitiu a coordenadores de campanha que a repercussão negativa do julgamento do mensalão no eleitorado paulista deve inviabilizar o partido de fazer a mesma bancada de 26 deputados federais nas eleições deste ano. Segundo dirigentes, além do desgaste da “marca PT”, o partido perdeu puxadores de votos importantes como João Paulo Cunha, preso condenado no mensalão.

• Fora do páreo
Puxadores de votos em SP, os ministros Ricardo Berzoini (SRI) e José Eduardo Cardozo (Justiça) também estão fora da disputa este ano.

• Sindicalistas órfãos
A ausência de Berzoini nas urnas dificulta obtenção de votos pelo PT no setor sindical, onde o ministro construiu sua trajetória política.

• Desempenho pífio
Além de atrapalhar deputados, o desgaste do PT em SP atinge em cheio Alexandre Padilha, que não sai do lugar nas pesquisas ao governo.

• Bu!
O fantasma que assombra Padilha atende por outro nome: Labogen, do doleiro Youssef, que fechou parceria com a Saúde na gestão do ministro.

• Concurso: Câmara torra R$3 milhões sem licitação
A Câmara dos Deputados gastou mais de R$ 3 milhões, sem licitação, na realização de concurso público no início deste ano. O lançamento aparece na Transparência da Casa como pago no último dia 30 de junho, dois dias antes da divulgação do resultado final do certame que oferecia salários altíssimos e arrecadou mais R$ 5 milhões com as inscrições dos 51.789 candidatos. Pela chance, cada um pagou entre R$ 110 e R$ 150.

• Burro na sombra
O motivo de tanta procura eram os salários de R$ 12 mil para as vagas de policial legislativo e de R$ 25 mil para consultor legislativo.

• Chance grátis
A organizadora do concurso, CespeUnB, divulgou que houve 10.989 pedidos de isenção do pagamento da taxa de inscrição deferidos.

• Prestando contas
CespeUnB explica que as inscrições custeiam a segurança do processo e investimentos em tecnologia, além dos gastos na aplicação das provas.

• Rombo
Fernando Francischini (SD) criou constrangimento em audiência, a portas fechadas, com Osvaldo Perrout (TCU) na CPI da Petrobras: “Onde PT vai arrumar Boeing para colocar os US$ 792 milhões que deve”, questionou.

• Mal sinal
Especialista em marketing eleitoral, o cientista político Antônio Lavareda considera ruim o cenário para reeleição da presidenta Dilma, que tem o governo nas mãos, mas apresenta aprovação abaixo da casa dos 40%.

• Polícia na Câmara
Conhecido por comandar helicóptero na operação da polícia que matou o traficante “Matemático” em 2012, o Comandante Adonis decidiu apostar em carreira mais vantajosa: a de deputado federal, pelo PSD do Rio.

• Quase tudo
Lobão Filho (PMDB) é o mais rico na disputa ao governo do Maranhão. Com patrimônio de R$ 10 milhões, Lobinho tem de lanchas a helicóptero. O que falta? É o único que não tem carro, nem mesmo um popular.

• Vale…
O governador Simão Jatene (PSDB) encontrou um jeito de atrapalhar a reeleição do senador e desafeto tucano Mário Couto. Além dele, o governador apoia outros quatro candidatos ao Senado no Pará.

• … quanto pesa
Já Helder Barbalho (PMDB), também candidato ao governo do Pará, não tem a quem apoiar após a impugnação, pelo Tribunal Regional Eleitoral, da candidatura de seu candidato ao Senado, o petista Paulo Rocha.

• Caixa fechado
Lideranças do PT estão em pânico com a falta de perspectiva de ajuda financeira em vários Estados. Nos bastidores, corre que a presidenta Dilma controla o caixa com mão de ferro e só libera dinheiro a “aliados”.

• Traição a Padim
Prefeito Juazeiro do Norte (CE), Raimundo Macedo abandonou Memorial Padre Cícero, que foi saqueado. O MP tenta localizar, no Rio de Janeiro, as peças roubadas e deve acionar a prefeitura para recuperar o museu.

• Tudo em família
O senador Ivo Cassol (PP-RO) exagerou no nepotismo, na escolha de seus candidatos. Para governador, cravou a irmã Jaqueline e, ao Senado, sua mulher Ivone.

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Arno, o mordomo
Exímios observadores dos movimentos do governo, os políticos perceberam que, nos últimos tempos, aumentou muito o raio de influência do secretário do Tesouro, Arno Augustin. A cada dia, ele apita mais no governo. Ultimamente, tem dito inclusive quais emendas ao Orçamento devem ser pagas, quais não. Tanto poder tem tirado o humor dos aliados e dos empresários. Agora, é Arno (e não Guido Mantega) o alvo preferencial de vários setores. Há quem diga que basta um ministro ou secretário ficar prestigiado por Dilma para cair em desgraça no meio político e empresarial.

Melhor de três
Além de continuar no comando no Planalto, os petistas não veem a hora de conquistar pelo menos um dos três principais colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais ou Rio de Janeiro. Desses três, o PT só governou o Rio e por pouco tempo. Até as pesquisas de 7 de setembro, onde o partido se sair melhor, é onde jogará suas forças. Até aqui, está difícil se segurar em qualquer um deles.

Foi ele
Nos bastidores, atribui-se ao senador Fernando Collor o movimento que retirou Eduardo Tavares da disputa ao governo de Alagoas. Tudo para dar fôlego a ex-cunhada, Tereza Collor, viúva de Pedro Collor. A ordem agora entre os tucanos é buscar um candidato a governador até a semana que vem.

Cálculo petista
Em todas as conversas sobre transferências de voto num segundo turno, os petistas têm dito duvidar que qualquer dos candidatos de oposição ao governo transfira em bloco votos para Aécio Neves, quem as pesquisas apontam como o principal concorrente de Dilma. O único que eles já viram fazer isso foi o ex-governador Leonel Brizola (PDT), em 1989, quando os eleitores pedetistas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul migraram em peso para Luiz Inácio Lula da Silva contra Fernando Collor.

Ensaio dos debates, versão oposição
O encontro da Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira é visto como o aquecimento para a temporada de debates de agosto com foco especial na economia. Aécio Neves e Eduardo Campos se preparam para dizer que o Brasil poderia ter feito mais e melhor.

Ensaio dos debates, versão situação
Dilma Rousseff dirá que a economia brasileira está melhor do que o resto do primeiro mundo graças aos esforços do governo. Centrará fogo no desemprego espanhol. Quanto à energia, jogará na roda mais uma vez aquela medida de redução das tarifas feita lá atrás. "Não fugiremos de qualquer debate. Temos argumentos para todo e qualquer tema", diz o presidente petista, Rui Falcão, no estilo "podem vir quentes que estamos fervendo".

A sem-palanque/ A presidente Dilma Rousseff não tem hoje viva alma defendendo com unhas e dentes a campanha dela em Alagoas. O candidato do PR, Benedito de Lyra, a quem todos chamam de Biu, parece hoje mais adversário do que o próprio PSDB.

Para compensar/ Diante das agruras da campanha de Dilma pelo país afora, o Ceará se mostrou um oásis. Lá, onde a pesquisa do Ibope indica recuperação, ela não pisará tão cedo.

Atrás das coxias/ Na reunião fechada da CPMI da Petrobras na última quarta-feira, os situacionistas apenas fizeram número. Perguntas foram poucas. Estão todos preocupados mesmo é com a sobrevivência eleitoral nestes 70 dias.

Terceira idade/ Candidato faz cada coisa... Veja só o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (foto), que concorre ao governo estadual. Foi parar no "baile das coroas". Os amigos dele no meio político não perderam a piada: "Ele deve ter se sentido em casa".

Ferreira Gullar: Arte: fim ou recomeço?

• Ninguém se torna pintor, compositor ou romancista porque decidiu ser. É preciso ter capacidade

- Folha de S. Paulo - Ilustrada

Algumas pessoas, com razão, me veem como um inimigo da arte contemporânea. Digo que é com razão porque, na maioria das vezes em que escrevi sobre esse tema, foi para acentuar o que há de mais negativo em tais manifestações.

Devo admitir, porém, que, dada a ausência de normas e limites nesse tipo de expressão, todo e qualquer meio ou modo pode ser utilizado para que o autor se expresse, o que torna praticamente impossível a apreciação crítica do que ele faça. Não obstante, em alguns poucos casos, reconheci o valor da inventividade do artista.

Uma coisa, porém, é certa: não me considero dono da verdade e, por isso mesmo, estou permanentemente questionando o que eu próprio afirmo. E não poderia ser de outro modo, uma vez que o percurso que fiz no campo artístico, seja como autor, seja como crítico, caracterizou-se por buscar novos modos de expressão.

Certamente, devido mesmo ao meu espírito questionador, questionava tanto o que eu fazia então quanto o que faziam meus companheiros, que eram Lygia Clark, Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Aluísio Carvão, entre outros.

Mas disso não resultou a negação das experiências que realizávamos. No meu caso, constatei a certa altura o esgotamento do rumo que tomara e busquei outro. De fato, vi que transformara o poema em um objeto manuseável com uma única palavra, ou seja, o instrumento fundamental da poesia perdera a importância e o poema se tornara uma expressão plástico-pictórica.

Acho que tais realizações têm seu valor como criação poética, mas, se continuasse naquela direção, não teria escrito os poemas que escrevi mais tarde.

Mudança equivalente ocorreu com os pintores do grupo, particularmente com Lygia e Oiticica, que desintegraram o quadro e tudo o mais que caracteriza a pintura. No caso deles, a participação do espectador na obra conduziu à destruição desta.
Os "penetráveis" de Lygia tornaram-se experiências meramente táteis, consistindo na penetração da pessoa em um tubo ou vulva. Essas experimentações foram, de certo modo, uma antecipação do que mais tarde se chamaria de "arte contemporânea". Lygia mesma dizia: "o que faço já não é arte".

Essa exacerbação da expressão, tanto dos neoconcretos quanto dos artistas ditos contemporâneos, resulta de fato no fim do que se chama de arte.

E como já se disse aqui, esse processo começa com o cubismo, ao romper com a linguagem secular da pintura e revelar que toda e qualquer forma tem expressão. Essa descoberta abriu caminho para as experimentações artísticas mais inesperadas, com a utilização de todo e qualquer material. Daí ao urinol de Duchamp foi apenas um passo.

Inevitavelmente, a abolição de toda e qualquer norma e limites para o fazer artístico tornou possível toda e qualquer forma de expressão, desde desnudar-se no museu até matar um cão numa galeria de arte. Ora, se não há qualquer limite para a expressão, como afirmar que isto é arte e aquilo não é?

Veja bem, ninguém se torna compositor ou romancista ou pintor simplesmente porque decidiu ser. É preciso ter em si determinadas qualidades e capacidade que distingue Noel Rosa de um compositor medíocre, que distingue Alfredo Volpi de um pintor medíocre. Logo, o que eles produziram é arte e a do outro não é. Mas, quando não há normas nem limites, tampouco haverá a avaliação objetiva do que foi feito.

É certo, porém, que, mesmo quando se trata de uma obra de arte, não se pode afirmar ser possível objetivamente demonstrar que é mesmo arte. Noutras palavras, antes do juízo crítico é o impacto da obra, sua beleza, sua expressividade que a afirmam como arte de fato.

Isso também acontece com a arte contemporânea. Não é porque o cara não usa pincel e tela que o que ele faz não pode ser arte. Pode, sim.

Um ponto a ser considerado --que pede nossa reflexão-- é o fato de que, no mundo de hoje, com tantas inovações tecnológicas, a pintura, por sua natureza artesanal, não pode expressar plenamente esta nova realidade. Ela continua a ser veículo de um universo poético que só existe nela, mas que não supre as necessidades de agora.

A arte contemporânea talvez seja a transição para uma nova forma de arte que esse novo mundo está a exigir.

Gaudêncio Torquato: O adeus de João Grilo

- O Estado de S. Paulo

João Grilo, astuto e fanfarrão, recitava versos destrambelhados, fazia traquinagens com o amigo Chicó, arrematando impressões com a maior inocência, como a que fez para Manuel, o Leão de Judá, o filho de David, o Jesus negro da peça O Auto da Compadecida: "O senhor é Jesus? Aquele a quem chamam de Cristo? (...) não é lhe faltando o respeito, não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado".

As lorotas de João provocam gargalhadas, mas por pouco não baniram de nossas escolas seu pai, o teatrólogo, advogado, cancioneiro, o admirado romancista de A Pedra do Reino, o imortal da Academia Brasileira de Letras, o genial paraibano Ariano Suassuna, que, ao falecer, na quarta-feira passada, aos 87 anos, deixa um dos mais ricos legados da história de nossa literatura. O banimento quase se deu, há alguns anos, quando um grupo que se dizia defensor do conceito "politicamente correto", vestindo o manto dos censores da Inquisição ou dos anos de chumbo da ditadura de 64, produziu uma cartilha financiada pelo governo federal onde se registravam como discriminatórios verbetes e expressões comezinhas, como comunista, anão, beata, barbeiro, palhaço, ladrão, farinha do mesmo saco.

A expressão de Suassuna certamente estaria presa no cárcere montado pelos guardiões do templo da palavra nesses tempos de controle do verbo e descontrole de verbas. O amontoado de besteiras apenas serviu para subir o tom das gargalhadas de João Grilo e Chicó.

Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro (que também nos deixou na semana passada) e Jorge Amado, seu conterrâneo, foram exímios intérpretes da alma nacional. Desenharam uma galeria de personagens desbocadas, autênticas, alegres, doidas, radicais, sem nunca se submeterem ao tacão do "politicamente certo", conceito que tem sido a vara de condão de grupos ideológicos entroncados na árvore do poder. 

Amparavam-se na linguagem para retratar o cotidiano. Quem os vê como discriminadores senão radicais ou ignorantes? Quem não fica indignado em ver Monteiro Lobato no paredão da censura? Acusam-no de ser preconceituoso por retratar "a preta" Tia Anastácia. Lobato foi execrado por ter comparado Tia Anastácia, personagem em Caçadas de Pedrinho, a uma "macaca de carvão" e, ainda, porque o conto Negrinha, de sua autoria, abrigaria conteúdo racista.

Não há como imaginar personagens que tanto encantaram crianças e adultos - como Tia Anastácia, Emília, Pedrinho, Saci-Pererê, Visconde de Sabugosa - fazendo a discriminação, ao final do século 19, como enxergam os patrulheiros de plantão. Jorge Amado, em Capitães da Areia, apresenta João Grande, "negro de 13 anos, forte e o mais alto de todos. Tinha pouca inteligência, mas era temido e bondoso". Retratavam um tempo em que a negritude era apresentada de maneira pejorativa. Censurar a expressão de uma época é apagar costumes, jogar as tradições na fogueira de Torquemada.

A polêmica sobre o uso do lexema negro na literatura expande-se na esteira de um debate enviesado sobre direitos humanos. Acontece que as lutas pela igualdade têm jogado na vala comum da discriminação manifestações de todo tipo, mesmo as que retratam ciclos históricos.

Voltemos à Antiguidade. Aristóteles, o pensador da filosofia clássica, dividia o mundo entre gregos e o resto, no caso, os bárbaros, selvagens e escravos natos. Já Platão, em sua obra clássica A República, definia o Estado ideal como o dirigido pelos melhores. Dizia ele: "O ouro não se mistura ao bronze".
Joaquim Nabuco, o abolicionista, chegou a se indignar com os sacerdotes que possuíam escravos:

"Nenhum padre nunca tentou impedir um leilão de escravos, nem condenou o regime religioso das senzalas". E o que dizer de Aluísio Azevedo, descrevendo nas páginas de O Mulato (1881): "Se você viesse a ter netos, queria que eles apanhassem palmatoadas de um professor mais negro que esta batina?". Lima Barreto também não escaparia do paredão. Em Histórias e Sonhos, diz: "Não julguei que fosse negro. Parecia até branco e não fazia feitiços. Contudo todo o povo das redondezas teimava em chamá-lo feiticeiro". Para os ignaros da censura, explique-se que esse grande intérprete produziu Clara dos Anjos (1922), libelo contra o preconceito, a história de uma mulata traída e sofrida por causa da cor.

Em A Escrava Isaura (1875), Bernardo Guimarães escreve trechos que hoje estariam no índex proibido: "Não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme como a mais vil das negras?". Sem esquecer o jesuíta André João Antonil, com seu texto que pode ser considerado discriminatório: "Os mulatos e as mulatas são fonte de todos os vícios do Brasil". Ele escreveu o clássico Cultura e Opulência do Brasil (1711). À guisa de conclusão, o celebrado Fernando Pessoa: "O espírito feminino é mutilado e inferior; o verdadeiro pecado original, ingênito nos homens, é nascer de mulher".

Arrematado por Shakespeare, que narra, em Otelo, o drama de Brabâncio deixando a filha livre para escolher o marido que mais lhe agradasse. A donzela escolheu um mouro. Otelo foi contratado para matá-lo.

Toda essa moldura vem à tona no momento do adeus a Ariano Suassuna, fiel intérprete do espírito da linguagem. Dizia ele que o português é a linguagem mais sonora e musical do mundo. Daí a necessidade de expressá-la com as nuances das ruas, com seus personagens e sem a gramática que ajusta as curvas da língua, um ato antidemocrático. Suassuna, "uma aula viva estupenda e um permanente espetáculo folgazão de inteligência, vida, senso de humor e savoir-faire", no dizer de José Nêumanne (Estado, 23/7), deixa grande lição: "Respeitemos a linguagem falada, que é diferente da letra".

Não é possível que a preamar do niilismo, anunciada por Ortega Y Gasset na terceira década do século 20, tente reaparecer em nosso mundo literário. Que o desaparecimento de Ivan Junqueira, João Ubaldo, Rubem Alves e Ariano Suassuna nesta triste quadra reforce a convicção de que não podemos ceder um milímetro aos organizadores da "nova cultura". João Grilo implora.

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP,

Miriam Leitão: Os livros e o sol

- O Globo

Não sei quanto a vocês, mas eu gostaria de um pouco de silêncio. E nele iria passear pelas obras dos escritores que acabaram de nos deixar. Eles foram em bloco, em mortes sequenciais, e o espaço que ficou foi grande demais. O pressuposto é que eles estariam sempre por aí, afinal todos tinham vários projetos, livros em andamento, poesias prontas, colunas escritas.

O Brasil vive um ano intenso com Copa, eleição, crise, incertezas. A economia definha, e a energia entra em curto-circuito. A Copa nos exauriu em vários sentidos. Atrasou o trabalho, anulou dias do calendário e nos deixou uma certa tristeza. A derrota para a Alemanha foi apenas uma parte dela. Pior que o 7 a 1, que ficará conosco pelas décadas vindouras, há o amargo de olhar para os dirigentes do futebol e não vislumbrar neles nem uma única esperança.

A eleição vai frustrar o debate. Ela será um teatro, no qual os marqueteiros farão filmetes e construirão frases para serem declamadas pelos candidatos; exércitos pagos ocuparão a mídia social; e o governo, no palanque, fingirá que governa. Pouca chance de haver o que realmente precisamos: um bom e sincero debate sobre o Brasil. Não devia ser assim. Devia ser tempo de reflexão e escolha. Mas os marqueteiros, como os dirigentes do nosso futebol, dominam o jogo.

Por tudo isso seria melhor visitar os prolíferos personagens do povo brasileiro que se apresentam do ponto inicial em que o jovem Alferes Brandão Galvão, na Ponta das Baleias, é morto sem nada saber. “Onde fica mesmo o Brasil, sabendo-se que certamente isso aqui não é o Brasil e pode o bom soldado ignorar onde fica o Brasil?”

Certa vez, João Ubaldo escreveu uma coluna que começava assim: “Ah, nem conto a vocês como era, fico com medo de acharem que estou mentindo. Mas sei que não estou, quando lembro o dia se esgueirar por entre as frestas dos grandes janelões do casarão térreo em que morávamos, e eu, menino de oito ou nove anos, pulando afobado da cama, para mais uma vez me embarafustar pelo meio dos livros. Quase febril, ansioso como se o mundo fosse acabar daí a pouco, eu nem sabia com quem ia me encontrar e aonde viajaria, em nova manhã encantada”. Quem, na infância, teve a mesma febre matinal sabe de que tipo de prazer João Ubaldo falava. E agora a vontade é que o tempo pare um pouco, com suas exigências e agendas repletas, para que se possa ficar com os livros de Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Ivan Junqueira.

O que deu no Céu para convocar tantas letras brasileiras de uma vez só? É uma festa? Uma academia celeste? Se for, será uma festa e tanto. Imagina só o que fará Ariano Suassuna no palco, com o microfone na mão, defendendo a pureza do verbo. No princípio, era o verbo. Quem o ouviu falar sabe que nada havia de igual. Ocupava o espaço todo e contava seus casos e filosofava em frases torrenciais. De repente, quando menos esperava, você estava rindo de suas próprias crenças. O palestrante Suassuna era capaz de converter qualquer um. Uma vez, ao chegar para ouvi-lo, vi logo que haveria confusão. O programa impresso pela empresa que o oferecia, para deleite da plateia, vinha escrito: Welcome Coffee e Coffee Break. No meio dos dois estrangeirismos, o nome de Ariano Suassuna. Imagina só o que fez o cabra com aquele papel na mão? Ele se esparramou sobre o deslize para defender o português cristalino e puro; sertanejo de estilete em punho. Épico.

O que pode nos alegrar é saber que todos eles morreram bem vivos. João Ubaldo escrevia novo livro. Eu tive o privilégio de receber dele alguns e-mails. Poucos. Em maio, escreveu. “Com um treco cardiorrespiratório, fui internado na quinta e estou saindo hoje. Não foi infarto, minhas coronárias estão bem, mas eu quase morri.” Em seguida avisava. “Por enquanto, continuo bastante vivo.”

Ariano Suassuna também esteve mal, recuperou-se, retomou seus muitos projetos. Rubem Alves dava a impressão de que escreveria eternamente. E Ivan, discreto, lapidava suas poesias.
Ficamos sem eles. A sensação é de um empobrecimento intelectual súbito. Há livros que duram uma temporada. Alguns, os grandes, escrevem obras que ficam. Não sei quanto a vocês, mas eu queria um dia de fazer nada. Apenas para me embarafustar por certos livros vendo o sol se esgueirar pela janela.

Mônica Salmaso: Beatriz (Edu Lobo & Chico Buarque)

Fernando Pessoa: Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Álvaro de Campos, 1929

sábado, 26 de julho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Criamos um programa em Minas, que quero levar para o Brasil, chamado Poupança Jovem. Os jovens do ensino médio que não se envolverem em nenhuma ocorrência policial, que frequentarem alguma das oportunidades de oficina de ressocialização que o Estado oferece e tiverem uma frequência mínima na escola recebem uma grana por mês. No final do terceiro ano do ensino médio eles podem sacar. É um estímulo mesmo. Isso tem funcionado extraordinariamente em Minas Gerais. A evasão nessas regiões onde esse programa funciona caiu a um terço do que era antes do início do programa.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidência da República, ontem em Vigário Geral, Rio de Janeiro.

Ministro do TCU diz que AGU tentou adiar julgamento sobre Pasadena

• Outro membro do tribunal, procurado por Lula, afirma que tema não foi citado

Cristiane Jungblut e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA — Autor do parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) que isentou a presidente Dilma Rousseff no caso da polêmica compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, o ministro José Jorge confirmou nesta sexta-feira que teve uma audiência formal com o ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, e que é normal receber pedidos de adiamento de votações para que as partes se preparem melhor. Já o ministro José Múcio disse que se encontrou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última segunda-feira, mas que não tratou do tema no encontro. As pressões da AGU e de Lula para tentar engavetar o processo foram o tema da coluna de ontem de Merval Pereira.

Apesar de terem confirmado que foram procurados, os dois ministros negaram qualquer interferência do governo e de Lula para isentar Dilma de responsabilidades na negociação da refinaria. Na época, ela era presidente do Conselho de Administração da estatal, mas o TCU culpou apenas a diretoria da Petrobras.

Prejuízo de us$ 792 milhões
José Jorge disse que agiu com correção e que a aprovação por unanimidade de seu parecer, por nove a zero, é uma demonstração disso. A decisão do TCU foi de responsabilizar 11 diretores da estatal brasileira, que tiveram seus bens bloqueados. Foi aberta uma tomada de contas especial para decidir sobre a necessidade de ressarcimento aos cofres públicos de U$ 792 milhões.

Entre os ex-dirigentes considerados culpados estão o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava-Jato, e o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró.

Ministro: é normal ser procurado
José Jorge disse que teria adiado a votação, como Adams pediu, se já não tivesse divulgado seu parecer. O ministro explicou que é comum as partes envolvidas pedirem adiamentos para preparar melhor suas defesas:

— Meu parecer foi aprovado por sete (na verdade, nove) a zero. Melhor do que a Alemanha, que ganhou de sete a um do Brasil. Todo mundo concordou, e ainda tem gente reclamando? Sou ministro do TCU. Não dá para ser ministro e agradar ou desagradar a partido A, B ou C — disse José Jorge.

O ministro confirmou que conversou rapidamente com seu colega de TCU, José Múcio, antes da sessão, e que Múcio comentou que havia se encontrado com o ex-presidente Lula.

Questionado sobre o fato de ter sido um dos principais líderes do então PFL (hoje DEM) e de ter seu parecer criticado, José Jorge disse que hoje é apenas ministro do TCU. José Múcio, por sua vez, disse não acreditar que tenha havido articulação para que José Jorge tirasse Dilma do rol dos responsáveis.

— Estive com o presidente Lula na segunda, mas esse assunto não foi tratado. Eu sequer sabia que Pasadena estaria em pauta. Só fiquei sabendo na terça-feira. Conheço o ministro José Jorge, e ele não dá cabimento a qualquer tipo de interferência. Nem eu nem ninguém acredita que tenha havido essa articulação. Eu votei com o relatório de José Jorge — disse Múcio

Sobre ‘Dilmão’, Aécio afirma que petista impõe presença de aliados em eventos

• Em centro do Afroreggae, tucano diz que é a favor da redução da maioridade penal para crimes hediondos

Leticia Fernandes – O Globo

RIO — O senador Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência, visitou nesta sexta-feira o centro cultural do Afroreggae, na favela de Vigário Geral. Ao lado de José Júnior, líder da ONG voltada para jovens de comunidades, ele disse ser a favor do projeto de seu vice, o senador Aloysio Nunes (PSDB), sobre a redução da maioridade penal em caso de crimes hediondos. O tucano não respondeu se já pousou no aeroporto de Cláudio, em Minas Gerais, e fez críticas à presidente Dilma Rousseff (PT).

Sobre o evento da petista com prefeitos e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), nesta quinta-feira, Aécio afirmou que Dilma tem se concentrado em fazer eventos fechados e impõe a presença de aliados.

— A diferença central da nossa campanha para a da presidente é isso aqui, eu estou andando pela rua, sem ninguém. A nossa campanha vai ser olhando para as pessoas. Por enquanto, a presidente tem tido dificuldade de se apresentar à população, os eventos são fechados, com quase que imposição da presença de aliados, eu vou contar, muito mais do que com prefeitos e deputados, com a população brasileira, que está cansada de tudo que está acontecendo — disse o tucano.

Ele afirmou que a proposta de Nunes, sobre a redução da maioridade penal em caso de crimes hediondos, pode representar o fim da impunidade. Foi a primeira vez que o assunto apareceu na campanha presidencial:

— Não é uma posição consensual, mas o projeto do Aloysio, que atinge cerca de 1% dos jovens que cometem um delito, pode sinalizar o fim da impunidade. Estamos falando de crimes hediondos. Mas isso não é solução, é paliativo. Solução é educação.

O senador afirmou que houve exploração política do caso do aeroporto de Cláudio, e que ele “está mais do que esclarecido”. Nesta terça-feira, o tucano afirmou que escolheu, quando governador de Minas, uma área que pertencia a seu tio-avô para a construção do aeroporto porque era a opção “mais barata”.

— De novo? Isso já foi mais do que esclarecido. O estado de Minas não fez um, fez mais de 30 aeródromos. Foram milhares de licitações, todas levando em conta o interesse público. É natural que haja uma exploração política, tenho uma vida ilibada, correta. Todos os esclarecimentos estão sendo dados, e os que ainda forem necessários, serão.

Logotipo do governo federal tapado
Dentro do centro cultural do AfroReggae, O GLOBO constatou que o logotipo do governo federal, que patrocina a ONG, estava parcialmente tapado com papéis e fita crepe. José Júnior disse que cobriu os dizeres “governo federal” e “país rico é país sem pobreza” porque recebeu, por escrito, um determinação do governo para agir dessa forma. Ele negou ter feito isso só para receber Aécio na comunidade:

— Não tem nada a ver com o Aécio. É ordem do governo federal. Não pode mais ter isso por escrito durante período eleitoral.

Segundo advogados ouvidos pelo GLOBO, é vedada a propaganda institucional durante o período de campanha, mas não há problema na exibição do logotipo em um local físico, sobretudo em um projeto já patrocinado pelo governo antes do início da campanha. Segundo o Ministério da Cultura, a Lei Rouanet já repassou R$ 1,4 milhão ao centro cultural Waly Salomão.

Fórum de Ongs com tucano
No encontro de Vigário Geral, Aécio e Júnior, que também é responsável pelo relacionamento do tucano com os jovens, anunciaram a criação do Fórum Brasil. Composto por representantes do terceiro setor, o grupo analisará projetos de sucesso implantados Brasil afora e os apresentará a Aécio. O presidenciável, por sua vez, se comprometeu a transformá-los em política pública.

Agindo assim, Aécio avança sobre o terceiro setor, que tem forte ligação com a ex-senadora Marina Silva, vice na chapa presidencial de Eduardo Campos (PSB).

— Estamos reunindo diversas pessoas, e isso (o trabalho do fórum) vai virar política de Estado. É o empreendedorismo social — afirmou Aécio.

O Fórum Brasil será formado, entre outros, por Júnior, Rodrigo Baggio, fundador do Comitê pela Democratização da Informática (CDI), Rosa Maria Fisher, diretora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da USP, e Carlos Bezerra, da ONG Excola.

— O fórum foi criado para legitimar as experiências bem-sucedidas do terceiro setor, dos empreendedores sociais, das ONGs e do que chamo de INGs, o Indivíduo Não Governamental — explicou Júnior.

Baggio apoiou Marina na disputa presidencial de 2010. Gravou vídeo em que exaltava a chapa dela com o empresário Guilherme Leal, sócio da Natura. Neste ano, ele resolveu se unir a Aécio porque viu um “tensionamento” na chapa de Marina e Campos por conta das divergências sobre os apoios nas disputas estaduais e pelo fato de o tucano ser “uma possibilidade real de mudança” para o país.

— O Aécio representa uma grande oportunidade para mudar o Brasil. Também está montando um grande time de colaboradores — justificou Baggio, que ressalta ter se unido à campanha não em nome do CDI.

Aliados de Marina minimizam a adesão de antigos apoiadores à campanha de Aécio.

— Essas pessoas não tinham participação na campanha de 2010, só declararam apoio — disse Bazileu Margarido, um dos coordenadores do PSB.

Ele destacou ainda que a adesão de pessoas ligadas a ONGs a campanhas costumam ser discretas porque as entidades, em geral, dependem de verbas públicas obtidas por meio de parcerias com os governos federal e estaduais.

Pasadena: tucano considera “curioso” Dilma ser inocentada
Aécio comentou também a absolvição de Dilma, pelo TCU, na investigação da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Ele classificou de “curioso” e “tratamento diferenciado” o fato de o conselho de administração da Petrobras, do qual Dilma fazia parte, não ter sido responsabilizado.

— Acho apenas curioso que os diretores sejam responsabilizados e os membros do conselho, que ratificam as ações, terem tido um tratamento diferenciado. Eu não prejulgo ninguém, acho apenas que está faltando uma palavra pessoal da presidente.

Na área econômica, as críticas foram sobre o que chamou de “excessivo intervencionismo” na área energética e de petróleo. Segundo o tucano, não se pode mais “terceirizar” a responsabilidade do baixo crescimento do Brasil:

— O Brasil é um país hoje visto com enorme desconfiança pelos investidores internos e externos pelo excessivo intervencionismo do estado em setores fundamentais da economia, o energético e o de petróleo. A FGV está apontando que nos últimos seis meses, mês a mês a desconfiança dos agentes econômicos vem diminuindo. Sem confiança, meu amigo, ninguém se desenvolve. Não dá mais pra terceirizar a responsabilidade, o Brasil crescerá menos que seus vizinhos esse ano. Esse modelo fracassou e precisamos introduzir um outro, um estado que dê oportunidade à juventude.

Para consultorias, caiu a chance de Dilma na eleição

• Consultorias dentro e fora do Brasil preveem vitória do tucano Aécio Neves

• Modelos tentam adivinhar resultado a partir de intenções de voto, rejeição e tendências passadas

Fernando Canzian - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - "Serra ou o caos", profetizava o megainvestidor George Soros caso Lula vencesse o tucano José Serra na eleição presidencial de 2002.

Doze anos depois, o mercado vê Dilma Rousseff (PT) com cada vez menos chances. Já há quem aposte na vitória da oposição, tendo Aécio Neves (PSDB) como favorito.

Várias consultorias atualizaram nesta semana palpites sobre o resultado da eleição com base nas recentes pesquisas Datafolha e Ibope.

Usando modelos mais ou menos sofisticados que levam em conta intenções de voto, rejeição, resultados e tendências de pleitos passados, elas chegam a cravar percentuais.

A brasileira MCM apostou pela primeira vez que a oposição tem chance de 60% a 40% de derrotar Dilma (antes dava lances iguais). E a japonesa Nomura ampliou de 60% (junho) para 70% agora as chances de Aécio.

Outras consultorias ainda veem Dilma com maior probabilidade de vitória. Mas ela seria cada vez menor.

Caso da brasileira Tendências, que reduziu de 60% em maio para 55% agora as chances da petista. E do norte-americano Eurasia Group, que via 70% de probabilidade em abril ante 60% hoje.

O mercado está sensível a prognósticos eleitorais. Na semana passada, o Ibovespa foi ao maior nível em 16 meses depois de o Datafolha apontar empate técnico, em um eventual segundo turno, entre Dilma e Aécio.

A Nomura aumentou para 70% as chances de vitória de Aécio apostando, principalmente, em um crescimento do candidato no Sul do país.

Em 2006 e 2010, o PSDB venceu na região. Pelo Datafolha da semana passada, Dilma lidera ali, com 36%; ante 18% de Aécio e 6% de Eduardo Campos (PSB).

"Até esse ponto, isso é uma anomalia, pois vai contra o que já aconteceu no Sudeste, que é similar ao Sul em termos políticos e sociais", afirma Tony Volpon, diretor da Nomura em Nova York.

No Sudeste, segundo o Datafolha, Dilma também lidera, com 28%. Mas a soma de Aécio (27%) e Campos (6%) já a coloca atrás da oposição.

Na contramão, mesmo tendo reduzido as chances de Dilma de 70% para 60%, o Eurasia Group vê Dilma "claramente favorita", embora com "grande probabilidade" de ir ao segundo turno.

"O andamento da economia justifica reduzir as chances da presidente", diz João Castro Neves, diretor da consultoria em Washington.

O Eurasia usa modelo desenvolvido com o instituto Ipsos que analisou 200 eleições nos últimos 20 anos. Nele, governantes com taxas de aprovação entre 40% e 60% venceram disputas em 85% das vezes. Na pesquisa Ibope, o governo é aprovado por 44%.

Para Ricardo Ribeiro, da MCM, que dá 60% de chance de vitória para a oposição, a derrota de Dilma não é garantida. Mas haveria uma "nítida deterioração da situação econômica e política" atual.

Avaliação bastante semelhante levou a Tendências a reduzir para 55% o favoritismo de Dilma, explica seu economista Rafael Cortez.

As quatro consultorias anteciparam corretamente a vitória de Dilma em 2010. Não é sempre assim. Em junho, o banco Goldman Sachs cravou 48,5% de chance de o Brasil levar a Copa. E só 11,4% para a Alemanha dos 7 a 1.

Dilma errou ao iniciar campanha no Rio ao lado de Pezão, diz Lindbergh

• Para Rui Falcão, senador petista ‘tem compreensão’ de que não pode exigir exclusividade

Cássio Bruno – O Globo

RIO — Na presença de militantes do PT e do presidente nacional do partido, Rui Falcão, o candidato ao governo do Rio senador Lindbergh Farias afirmou, nesta sexta-feira, que a presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição, errou ao fazer o primeiro ato de campanha dela com o seu adversário, o governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB. Segundo Lindbergh, Dilma se equivoca quando vincula a sua imagem a Pezão e ao PMDB. Foi a primeira vez que o senador petista se manifestou sobre o movimento "Dilmão", lançado na quinta-feira em uma churrascaria de São João de Meriti.

— Na nossa avaliação, para a campanha dela, há uma vinculação excessiva ao PMDB, que está traindo, está muito rejeitado no estado. Isso é ruim para a campanha dela — disparou Lindbergh, que participou de ato com a militância no Sindicato dos Bancários, no Centro do Rio.

Segundo o senador, essa atitude de Dilma não está animando a militância do PT:

— A Dilma já havia feito várias agendas institucionais com o Pezão. Começar a campanha novamente com o Pezão vincula muito a imagem. E isso não é bom. No Rio, o PMDB foi o epicentro das manifestações de junho do ano passado. Isso não anima a militância. Não acho que se deva começar uma campanha eleitoral com essa agenda. A Dilma tem que fazer uma agenda para cima, para frente — concluiu Lindbergh.

Em seu discurso, Rui Falcão afirmou que Lindbergh representa "a mudança". Para o presidente nacional do PT, o pior já passou: a pressão sofrida pelo partido para retirar a candidatura de Lindbergh feita pelo PMDB do ex-governador Sérgio Cabral.

— Agora vem o mais fácil, que é ganhar a eleição — disse Falcão, sendo aplaudido pelos militantes.

Mais cedo, Rui Falcão se encontrou com outros candidatos ao governo do Rio da base aliada da presidente Dilma. Ele almoçou com o deputado Anthony Garotinho (PR) e em seguida encontrou com o senador Marcelo Crivella (PRB). Ao lado de Crivella, Falcão disse que Dilma intensificará o esforço dos militantes para conquistar o voto dos evangélicos.

Quando teve o primeiro encontro do dia, com Anthony Garotinho (PR), Rui Falcão disse que as campanhas do ex-governador e de Dilma se completam.

— O Garotinho não quer exclusividade. Ele quer reciprocidade. E a reciprocidade virá agora. Foi um debate sobre as duas campanhas, que se entrelaçam, se completam — disse Rui Falcão após ter se encontrado com o candidato do PR.

Os dois, no entanto, ainda não definiram uma data para que Dilma participe de um evento público com o deputado. Já se sabe, porém, que a presidente visitará conjuntos habitacionais na Zona Oeste com Garotinho.

Na presença de Garotinho, o presidente do PT ressaltou que o ex-presidente Lula avalia a possibilidade de vir ao Rio participar da campanha de Lindbergh.

— Na Bahia, o Lula vai com toda certeza. Tem a sucessão do governador Jaques Vagner, que é de apoio à Dilma. Do outro lado, é quem apoia o Eduardo (Campos, candidato à Presidência pelo PSB), e o Aécio (Neves, candidato tucano à Presidência). Não tem problema se o Lula for à Bahia, em Pernambuco ou em Minas Gerais, onde ele já esteve. No Rio, o Lula quer analisar bem o correr da eleição para não ter nenhum desequilíbrio em relação à campanha da presidente Dilma — disse Falcão, em referência aos planos do ex-presidente fazer campanha ao candidato petista.

O jantar de ontem, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, provocou uma crise no PT do Rio e deixou o senador constrangido.

— Qualquer candidato gostaria de ter exclusividade. Mas essa exclusividade não se pode dar mesmo sendo a presidenta do mesmo partido do Lindbergh. Ele tem compreensão disso. No fragor da disputa, a pessoa (Lindbergh) manifesta algum desagravo — disse Falcão.

O jantar de Dilma com Pezão reuniu 10 dos 11 prefeitos do PT. O único que não compareceu foi o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, um dos coordenadores da campanha de Lindbergh. O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, participou da organização do evento e até ajudou a pagar a conta de cerca de R$ 21 mil na churrascaria Oásis. O vice-prefeito do Rio, Adilson Pires (PT), um dos coordenadores estaduais da campanha Dilma no Rio, também compareceu.

— Se ele (Rodrigo Neves) está apoiando um candidato de outro partido (Pezão), está desautorizado. Quando alguém se elege no PT, assina uma carta compromisso para cumprir regras e a fidelidade partidária — ressaltou Falcão, que pela manhã se reuniu com o prefeito Eduardo Paes (PMDB).

No entanto, o presidente nacional do PT minimizou a presença de petistas no jantar com a presença de Pezão, adversário de Lindbergh:

— Os prefeitos foram cumprimentar a Dilma. Encaro isso com naturalidade. Agora, se alguém (do PT) manifestar apoio público a candidato (ao governo) de outro partido, será desautorizado por nós.

Campos critica ‘presidencialismo de coalização’ de Dilma

• Em lançamento das candidaturas do grupo de Marina Silva, presidenciável elogiou economia de Fernando Henrique e Bolsa Família de Lula

Leonardo Guandeline – O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Eduardo Campos, criticou no fim da noite desta sexta-feira a política econômica do governo Dilma Rousseff e o presidencialismo de coalizão, “a política atrasada que hoje sustenta o governo”. Falando em mudança e ao lado de sua vice, a ex-senadora Marina Silva, o ex-governador pernambucano participou de evento que marcou o lançamento de candidaturas a deputado estadual e federal por São Paulo do grupo da Rede de Marina, no centro de São Paulo.

- O mundo se refaz da maior crise econômica de sua história. Hoje, o país que em 2010 soprava continuidade sopra mudança... A agenda interditada é tirar o país da situação em que ele se encontra hoje com a retomada da inflação, os juros altos, o baixo crescimento, a descrença da sociedade na democracia que conquistamos e as instituições - disse Campos, criticando a atual política.

- A gente tem que mudar o Brasil em Brasília. A política atrasada que hoje sustenta o atual governo é que reproduz nos estados o atraso da política. É o presidencialismo de coalizão que mantém vivo Brasil afora as facções mais atrasadas da política brasileira.

Campos citou positivamente o aporte do governo federal aos bancos durante o governo Fernando Henrique Cardoso como êxito de política econômica, e a junção de programas sociais no Bolsa Família, como política social importante para evitar a exclusão durante o governo Lula.

Em seu discurso, a ex-senadora Marina Silva disse que a luta por uma nova política é uma luta de todos, inclusive de outras legendas que não a Rede e o PSB. Ela lembrou que a “luta para eleger o primeiro presidente operário foi de muitos”, citando a eleição de Lula.

A ex-senadora, ao comentar as últimas pesquisas eleitorais que deixam Campos praticamente estagnado, disse que a campanha vai começar quando tiver início o horário eleitoral e que o pleito será vencido “no tablado”.

Durante o evento, alguns candidatos da Rede, que disputarão a eleição de outubro pelo PSB e outros partidos, como o PHS, criticaram a crise hídrica em São Paulo e citaram a violência praticada pela Polícia Militar. Em São Paulo, o PSB apoia a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), com o presidente estadual da legenda, Márcio França, candidato a vice na chapa do tucano.