sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Merval Pereira - Síndrome da queda

- O Globo

Talvez seja a sina de governos que estão decaindo, não sei se há estudos sobre isso. Se não houver, depois do programa do PT de ontem, será preciso uma análise mais aprofundada da psicologia de governos que perdem o apoio popular e, numa reação de suicídio político, se lançam a desafios que não estão em condições de enfrentar.

Foi assim com Collor, quando convocou o povo a sair às ruas de verde e amarelo para apoiá-lo, e está sendo assim com o governo Dilma, que resolveu, do fundo do poço em que se encontra, ameaçar os oposicionistas pedindo-lhes “juízo” e sugerindo tragédias como consequência de uma crise política que já está implantada, e ao mesmo tempo ridicularizar o panelaço, como a desafiar o povo brasileiro que, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, tem 71% de cidadãos que rejeitam o governo.

Não há nem mesmo mais a possibilidade de atribuir o descontentamento à elite, pois a rejeição está em todas as classes, em todas as regiões do país, deixando a presidente Dilma com o menor índice de popularidade de um presidente na história recente do país.

O governo da presidente Dilma perde espaço, perde poder, perde a capacidade de administrar o país. Caminhamos para uma séria crise institucional. Não há mais maioria no Congresso para o governo tentar aprovar medidas importantes de seu ajuste fiscal, não há credibilidade do governo, que não consegue se impor politicamente.

A atitude irresponsável do Congresso é corroborada pelo próprio PT, que está aderindo à oposição na votação de medidas claramente contrárias ao governo, como a indexação dos salários da Advocacia Geral da União e outras categorias aos dos ministros do STF. Não há o menor espírito de colaboração do Congresso por que a maioria pensa apenas em salvar a pele, sem se importar com o destino do governo.

Ninguém quer ser sócio de Dilma no desgaste de popularidade, mesmo que esse seja um raciocínio político raso. Num regime parlamentarista, esse governo já teria sido destituído, e convocadas novas eleições. No presidencialismo, estamos à beira de uma crise institucional.

Não existe nenhuma figura no cenário político brasileiro que possa ser ouvido, ou se fazer ouvir, para tentar unificar o país, como apelou o vice-presidente Michel Temer, a figura mais próxima desse modelo pacificador que não se encontra num Congresso que já abrigou políticos do tamanho de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Thales Ramalho, Petrônio Portella, todos mestres em conciliação política.

Um acordo é muito difícil, sobretudo, por que não existe por parte do governo Dilma a disposição de assumir erros cometidos. O máximo que chegaram perto foi, no programa de ontem, perguntar retoricamente: “Não é melhor a gente não acertar em cheio tentando fazer o bem do que errar feio fazendo o mal?”.

Na véspera, o chefe do Gabinete Civil chegara a fazer um apelo patético por um acordo suprapartidário, e ensaiou elogios ao PSDB. Ontem, no programa do PT, os adversários foram acusados de só pensarem em si, e, pela frase, de fazerem “o mal” propositalmente, enquanto o PT, quando não acerta, é por que está tentando “fazer o bem”.

Tudo isso a 10 dias das manifestações marcadas para todo o país contra o governo Dilma. Se não é provocação, o que será? Difícil entender o movimento político do PT diante da crise que o país vive. Difícil imaginar o que se passa pela cabeça da presidente Dilma quando seu futuro à frente do governo está ameaçado por questões concretas como as contas que o Tribunal de Contas da União (TCU) está examinando, e pelo esfacelamento da base congressual, que não resiste mais à realidade.

O Congresso voltou do recesso mais oposicionista do que nunca, e isso revela o estado de espírito que os parlamentares encontraram em suas bases eleitorais, refletido na pesquisa do Datafolha. Não é simples coincidência que nessa volta o PTB e o PDT tenham pulado do barco governista, e que até o PT vote contra a orientação do governo.

Eliane Cantanhêde - 'Alguém'

- O Estado de S. Paulo 

Quem está acostumado com a elegância fria e contida do vice-presidente Michel Temer estranhou não só o tom, mas também a forma do pronunciamento, quarta-feira, em que conclamou um pacto nacional “acima dos partidos, do governo, de toda e qualquer instituição” e, num ato falho, pregou: “É preciso alguém para reunificar o País!”

Tenso, emocionado, até com o cabelo desalinhado, Temer parecia anunciar o fim do mundo – ou seria o fim do governo Dilma Rousseff? Se é preciso “alguém” para reunificar o País, é porque os governos do PT dividiram o País e Dilma não tem poder, aptidão e competência para consertar o estrago. E esse alguém pode muito bem, até pela lógica e pela Constituição, ser o vice. Enquanto Temer falava em tom de estadista, um desavisado poderia ironizar: só falta pôr a faixa presidencial...

A sensação foi potencializada pelas declarações do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que inverteu posições com Temer. Enquanto o vice deixou a frieza de lado, o sempre arrogante e beligerante ministro foi humilde, conciliador e até bem-humorado ao defender um “pacto suprapartidário” e fazer um afago no arqui-inimigo PSDB.

Num ambiente político explosivo como o atual, as interpretações pipocaram em Brasília. Temer e Mercadante tentavam apenas evitar a “pauta-bomba” na Câmara? Ou refletiam o desespero do governo? Ou, enfim, tinham recebido a sinalização de que Dilma jogaria a toalha?

Para piorar, o presidente do Senado, Renan Calheiros, deixou vazar o jantar entre o seu PMDB e o PSDB de Aécio Neves, depois encorpado pelo PSDB de José Serra. Desta vez, foi fácil interpretar: tucanos e peemedebistas já discutem cenários e inclusive o “day after” de um eventual afastamento de Dilma, seja por que motivo for, seja de que forma for.

A crise ganhou contornos mais dramáticos com a derrota acachapante do Planalto na votação do projeto que vincula salários da AGU e de delegados aos do Supremo – por emenda constitucional! E explodiu de vez com o Datafolha que confere a Dilma o amargo troféu de presidente mais impopular desde a redemocratização, com 8% de aprovação, 71% de reprovação e 66% pró-impeachment.

Diante de tudo isso, tem-se que Dilma Rousseff não tem sustentação nem dentro (o Congresso) nem fora (na população) e é incapaz de conter a crise política e econômica, enquanto a Lava Jato expõe as entranhas do governo Lula a céu aberto. Os ratos, ops!, os partidos aliados já começam a abandonar o barco, caso de PDT e PTB (um ministério cada), mas o processo depende mesmo é... do PMDB. Maior partido do País, ele se comporta como um pêndulo, ora vai para o PSDB, ora para o PT. Neste momento, move-se claramente para o lado do PSDB.

É aí que tudo empaca, porque o que impede uma saída negociada é justamente a divisão do PSDB, particularmente acirrada diante da derrocada da era PT. Ao PMDB e a José Serra encanta a hipótese da posse de Michel Temer, via decisão do TCU. A Geraldo Alckmin convém que nada mude e que Dilma vá aos trancos e barrancos até 2018. E a Aécio Neves, que é quem de fato tem a máquina tucana nas mãos, ou Dilma fica até o fim ou Dilma e Temer caem juntos pela reprovação das contas de campanha no TSE.

Foi por isso, e só por isso, que os líderes Cássio Cunha Lima e Carlos Sampaio, ambos aecistas, correram a declarar ontem que, se Dilma for afastada, o sucessor tem de ser legitimado pelo voto popular, com novas eleições 90 dias depois e o presidente da Câmara assumindo o Planalto até lá. Tradução: nada de apoio à posse de Temer.

Resumo da ópera: o PMDB já pulou fora do barco do PT, mas ainda não consegue pular no do PSDB, que navega com vários comandantes, ao sabor de correntes marítimas conflitantes e mirando diferentes destinos. Sem isso, nem o PMDB nem as oposições chegam a lugar nenhum. Dilma, com ou sem o Congresso, com ou sem a opinião pública, vai ficando, ficando, ficando... E a economia vai implodindo, implodindo, implodindo...

Hélio Schwartsman - Flertando com o fracasso

- Folha de S. Paulo

A sensação é a de que o governo está desmilinguindo. A conjunção das crises econômica e política, ampliada pelos inéditos índices de rejeição a Dilma (nunca antes na história deste país um presidente foi tão impopular) e pelo inesgotável fluxo de pouco abonadoras informações policiais, tende a ser fatal para o partido no poder.

O PT deverá pagar um preço político alto nos próximos pleitos. Não dá para dizer que é injusto, já que o partido não só está envolvido no que pode ser descrito como uma orgia de corrupção mas também cometeu erros graves na condução da economia. Parece-me precipitado, porém, decretar desde já que o caos e a anomia se assenhoraram de Brasília.

Os sucessivos golpes que o Congresso, em especial a Câmara, dispara contra o governo comportam vários adjetivos, mas não podem ser qualificados como irracionais. As pautas-bomba, que poderiam terminar de afundar as contas públicas, têm pelo menos dois anteparos: o Senado, discretamente mais responsável que a Câmara, e o veto presidencial. O cálculo de certos deputados é que eles podem, numa só tacada, posar de amigos de segmentos do eleitorado, pressionar o governo a liberar verbas e cargos (caso da chamada base aliada) e ainda impor maior desgaste a Dilma e ao PT (objetivos da base aliada e da oposição).

Em princípio, tudo isso é possível mesmo, mas não é um jogo sem riscos. Em primeiro lugar, no curto prazo, ele alimenta a instabilidade política e a incerteza econômica, o que contribui para tornar a recessão mais intensa e mais prolongada do que o estritamente necessário. O problema maior, porém, é que, enquanto políticos se dedicam a seus projetos pessoais, o país deixa de tratar da questão que realmente importa, que é rediscutir os termos do pacto social. Enquanto continuarmos fingindo que temos renda para ser uma Suécia, seguiremos estruturalmente condenados a flertar com fracasso.

Bernardo Mello Franco - Esse cara é ele?

- Folha de S. Paulo

Ato falho, na linguagem psicanalítica, é um deslize que revela um desejo ou pensamento reprimido. Para muitos políticos, o vice-presidente Michel Temer cometeu um dos grandes nesta quarta, ao dizer que o país precisa de alguém capaz de "reunificar a todos" e apontar uma saída para a crise.

Sempre cuidadoso com as palavras, o peemedebista passou a ideia de que está à disposição para assumir a cadeira de Dilma Rousseff. O escorregão animou defensores do impeachment, como mostrou o "Painel", mas também assustou o PSDB.

"Temer jogou a presidente aos leões quando disse que precisamos de alguém para unir o país. Só faltou imitar o Roberto Carlos e cantar 'Esse cara sou eu'", brinca o líder do partido no Senado, Cássio Cunha Lima.

Apesar do bom humor, aliados de Aécio Neves e Geraldo Alckmin estão inquietos. Se Temer assumir, o PSDB será pressionado a apoiá-lo, o que pode inviabilizar os planos de seus presidenciáveis para 2018. Entre os três possíveis candidatos do partido, a ideia só interessaria a José Serra.

Os aecistas ensaiaram uma reação nesta quinta, ao dizer que a saída para a crise não é o impeachment, e sim a convocação de novas eleições presidenciais. A ideia foi sustentada até pelo líder do PSDB na Câmara, o incendiário Carlos Sampaio.

Os tucanos sabem que a tese não tem respaldo na Constituição, mas querem evitar que o vice seja visto como a única alternativa a Dilma.

O PT também se assustou com o ato falho de Temer. O peemedebista tentou se explicar, mas não afastou totalmente a suspeita de que está a flertando com a conspiração.

O crescimento da sombra do vice pode produzir mais uma aliança inusitada em Brasília: petistas e tucanos unidos no discurso de que "o cara" não é ele. Nos dois partidos, já se ouve o argumento de que a ascensão de Temer significaria entregar o poder a um aliado de Cunha, Renan e Sarney. Alguém quer viver num país governado por esse trio?

César Felício - Ofensiva contra o vácuo

- Valor Econômico

• Sucessão já começou, com ares de reprise

O agravamento da crise política que torna rarefeito o ar em Brasília produz um paradoxo: 2018 torna-se um ano mais próximo, ainda que projete um forte indicativo da falta de renovação política no país. Não é impossível que tenhamos quatro candidaturas de densidade eleitoral já testadas em todas as eleições anteriores desde a redemocratização.

Enquanto Aécio (2014) e Alckmin (2006) protagonizam a disputa pela candidatura dentro do PSDB, com José Serra (2002 e 2010) tentando entrar no jogo; Luiz Inácio Lula da Silva (1989, 1994, 1998, 2002 e 2006) continua sendo a única opção do PT; e Ciro Gomes (1998, 2002), mais uma vez, deixa em aberto a possibilidade de se apresentar como terceira via; faixa ainda ocupada por Marina Silva (2010 e 2014).

Um impeachment de Dilma e um eventual governo Temer favorece de maneira clara apenas um destes presidenciáveis: José Serra. São duvidosos os benefícios que os demais teriam com a substituição de Dilma por Temer. Aécio lucraria apenas com a antecipação das eleições e não é de outro modo que deve ser lido o movimento de seus aliados a favor da queda da presidente e de seu vice.

Presidente da Transnordestina, uma subsidiária da CSN, Ciro Gomes negocia a filiação no PDT e seu reingresso no debate nacional, embora afirme entrar sem apetite na reprise. Ele enxerga um vácuo a ser ocupado no campo da centro-esquerda, diante da debacle do PT, em um movimento de dupla face: contra o impeachment de Dilma e o fortalecimento do PMDB como alternativa de poder e contra uma nova candidatura de Lula.

Para Ciro, uma saída da Esplanada do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, seria o sinal da "capitulação total" do governo a uma base que transaciona com a oposição. Alerta que o coordenador político do governo, o vice-presidente Michel Temer "não tirou os trilhos de um impeachment".

O elogio a Mercadante e Cardozo, "dois políticos que são pontos fora da curva", mostra que Ciro critica o governo por um alegado convencionalismo na política e na economia, mas não joga na oposição.

O ex-governador diz que não há itinerário válido para o impeachment, que estaria se desenhando como uma aventura de elites "que permitirá a lei da selva". Ciro diz que a discussão política de hoje pode aproximar o Brasil do Paraguai, que em 2012 destituiu o então presidente Fernando Lugo em um processo de afastamento sumário votado pelo Congresso. Ao mesmo tempo, afirma que o PT deixou de representar os que votaram pela reeleição presidencial no ano passado.

"Dilma precisa entender porque o povo brasileiro quis a sua permanência depois de um governo que não foi bom", afirma. Frequente interlocutor de Dilma, Ciro ainda vê na presidente capacidade de reação. "Não se deve subestimar o poder da Presidência. O fundo do poço tem grandes possibilidades", disse.

Lula ganhou um adversário público. "Ele virou uma figura perniciosa à República. Faz um esforço cíclico para tutelar a Dilma, se atribui poderes de semi-deus e malversa o bem querer imenso que a população tem pela sua figura. Faz parte central do problema, e não da solução, ao não esconder que quer ser candidato em 2018".

É uma crítica que busca se estruturar distante das sequelas da Operação Lava-Jato. "O discurso contra a corrupção não resolve tudo, temos aí um problema de competência. Precisamos desfazer o casamento da picaretagem com a burrice. Reações moralistas beneficiam a imoralidade de forma transversa", diz.

Nas palavras de Ciro, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, "um homem de bem", resulta ser tão perigoso para o Brasil quanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A equipe econômica estaria aprofundando um processo de desindustrialização e contratando inflação para o futuro, ao permitir o câmbio flutuar com força.

Cunha, "um calhorda", em sua classificação, pode ser o aríete que destrua de vez o governo Dilma de uma maneira ou outra. Seja promovendo um impeachment a toque de caixa, ou sendo o instrumento para uma reforma administrativa que entregue ao PMDB o coração do governo.

A trajetória política de Ciro descarrilou em 2010, quando não disputou as eleições, depois de transferir o seu título eleitoral do Ceará para São Paulo, em uma manobra de difícil compreensão e que ele não se esforça para esclarecer. Diz que foi levado à transferência a pedido de Lula e de Eduardo Campos. "Transferi com a condição de ser candidato a presidente. Eles mentiram para mim. O Campos me estimulou e depois vendeu a minha cabeça. O Lula garantiu que eu era o candidato a sucedê-lo, mas eu sabia que ele não tinha condições de bancar aquilo. Não sou inocente, não posso dizer que fui enganado. Política é assim", resume.

Sua saída de cena abriu caminho para Marina. "Vi todos os meus votos passando para ela", disse. Para Ciro, "existe uma classe média pulsante que está a caminho da descrença e a Marina é a representação desta negação da política". Na eleição de 2014, o protagonismo em seu grupo político foi do irmão, Cid Gomes, que fez uma arriscada aliança eleitoral com o PT para enfrentar o PMDB no Ceará e foi premiado com o ministério da Educação, onde demorou dois meses e meio antes de ser expelido por imposição de Eduardo Cunha.

O partido com quem Ciro conversa está se retirando da base governista, depois de anos imerso na divisão entre a cúpula, liderada pelo ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e a bancada na Câmara. Cid deve acompanhar o irmão caso a migração se concretize. Será acompanhado ainda de 76 prefeitos e uma considerável quantidade de deputados federais.

É um jogo de conveniência, em que as duas partes ganham densidade para suas negociações. Ciro, Cid e seus liderados estão abrigados no nanico Pros, um partido liderado por um obscuro político do entorno de Brasília que ruma para o desmanche. O PDT precisa de algo para botar na mesa. Assim como Ciro, o partido saiu do primeiro plano e deixou de figurar nas chapas presidenciais em 2010 e 2014.

Mas Ciro é comedido ao falar de seu possível novo destino. "Não tenho ilusões. O sistema partidário é uma tragédia brasileira e tenho sofrido com ele", comentou. Desde 1982, o ex-governador já fez parte do PDS, PMDB, PSDB, PPS e PSB.

Nelson Motta - Aos amigos petistas

• Petistas inteligentes sabem que o sonho acabou, ‘game over’, zé fini, pelo baixo nível e alta voracidade dos seus quadros

- O Globo

Nunca perdi um amigo por causa de política. Tenho vários amigos petistas que merecem meu afeto e respeito, alguns até minha admiração, e convivemos bem porque quase nunca falamos de política, talvez por termos assuntos mais interessantes a conversar. Mas agora o assunto é inevitável. E eles estão mais decepcionados do que eu.

Também tenho amigos tucanos, comunistas, conservadores, não meço a qualidade das pessoas pelo seu time, religião ou suas crenças políticas, em que sonhos, idealismo e equívocos se misturam com ambição, desonestidade e incompetência para provocar monstruosas perdas de vidas, dignidade e dinheiro ao coitado do povo que todos eles dizem amar.

O PT está caindo aos pedaços, depois de 13 anos no poder, com grandes conquistas e imensos desastres, mas a perspectiva de ser governado pelo PMDB ou pelo PSDB não é animadora. Claro que há gente decente e competente nos dois partidos, mas a maioria de seus quadros e dirigentes não é melhor do que os piores petistas, e vice-versa.

Chegamos finalmente ao “nós contra eles” que Lula tanto queria ... quando era maioria ... e agora se volta contra ele, perseguido como os judeus pelos nazistas e os cristãos pelos romanos ... rsrs.

Se não fosse tão arrogante e autoritária, Dilma mereceria pena, porque não é desonesta, mas é mentirosa e sua incompetência nos dá mais prejuízos do que a corrupção. Suas falas tortuosas são a expressão da sua confusão mental.

E se Lula não fosse tão vaidoso e ambicioso, tão irresponsável e inescrupuloso, não teria jogado a sua história na lama por achar que está acima do bem e do mal e que nunca descobririam que ele sempre soube de tudo.

Petistas inteligentes e informados sabem que o sonho acabou, game over, zé fini, não por uma conspiração da CIA, dos coxinhas ou da imprensa golpista, mas pelos seus próprios erros, pelo baixo nível e alta voracidade dos seus quadros, pela ganância e incompetência que nos levaram ao lodaçal onde chafurdamos.

É triste, amigos petistas, o sonho virou pesadelo, mas não foi a direita que venceu, foi o partido que se perdeu. O medo está dando de 7 a 1 na esperança.

Claudia Safatle - Desfecho político domina toda a pauta econômica

- Valor Econômico

• O recado era o sinal de que o BC atuaria mais no mercado

Ao contaminar uma economia já frágil, mergulhada em recessão, sob forte desequilíbrio fiscal e em meio à batalha para derrubar a inflação de mais de 9%, a crise política de desfecho ainda desconhecido assume o centro das preocupações dos responsáveis pela política econômica do governo.

Para o Banco Central vem daí, e não dos fundamentos econômicos, a razão para a forte desvalorização do real frente ao dólar que ontem chegou a ser cotado a R$ 3,5702. Primeiro o BC avisou que a taxa que estava sendo praticada era um exagero. No final do dia, a instituição aumentou a rolagem dos "swaps" cambiais de 60% para 100% a partir de hoje.

Na hora do almoço o diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, passou uma mensagem cristalina ao mercado. Ele disse ao Valor PRO: "O nível atual da taxa de câmbio está muito além, ou muito acima, do que seria explicado pelos fundamentos econômicos do país, mesmo considerando o delicado momento politico. O preço do dólar está claramente esticado. Entendo que os agentes estão agindo aparentemente com pouca racionalidade". E alertou: "Comprar moedas nesses níveis pode representar um risco potencial de perda no médio prazo". O recado era o sinal de que o BC atuaria mais no mercado de câmbio, que está pressionado pela escassez de liquidez.

O dólar, depois de testar a máxima, encerrou o dia com valorização de 1,34% diante do real, cotado a R$ 3,5361. Ainda não se sabia da rolagem integral dos swaps, anunciada pelo BC no início da noite.

A crise política associada às incertezas na economia deu início a um movimento de saída de recursos do país. Dados do BC apontam que o fluxo de julho foi negativo em US$ 3,9 bilhões, gerado sobretudo pela saída de US$ 8,37 bilhões pelo financeiro. Há uma demanda por dólar físico de quem quer deixar o Brasil e, talvez, só a rolagem de "swaps" cambiais não atenda a esse mercado. Em situações semelhantes do passado o BC fez leilões de linha com compromisso de recompra e vendeu reservas cambiais, mediante "ração diária" ou leilão.

A turbulência política não está explícita no balanço de riscos da inflação que o BC cita na ata do Copom, divulgada ontem, mas permeia a avaliação do câmbio, da atividade econômica e está na raiz da obliteração do objetivo fiscal.

A ata reproduz o comunicado da última reunião que elevou os juros para 14,25% ao ano. "O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016", diz a ata.

Ao conceito de "suficientemente prolongado", porém, o Copom agregou uma nova expressão: "desvios significativos". Ou seja, os riscos para que as projeções de inflação do comitê convirjam com segurança para a meta de 4,5% em 2016 "são condizentes com o efeito defasado e cumulativo da ação de política monetária, mas exigem que a política monetária se mantenha vigilante em caso de desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta".

Assim, o BC deixou aberta a porta para uma retomada do ciclo de aperto monetário caso a inflação escape da meta e quis manter ambíguo o quanto considera ser um desvio significativo.

A avaliação da autoridade monetária é que o mercado fez a leitura correta da ata. Há quem tenha enxergado, também, um indício de que a convergência estrita para a meta de 4,5% em dezembro de 2016 talvez não seja mais um imperativo a ferro e fogo.

"A análise do balanço de riscos me diz que o hiato do produto vai se ampliar e fazer com que as projeções do BC cheguem em 4,5%, mesmo que o câmbio não jogue a favor. Essa é uma análise subjetiva do balanço de risco, com a qual pode-se concordar ou não, mas que os banco centrais podem e devem fazer", disse um ex-diretor do BC que viu, nessa questão, uma mudança em relação ao que vinha sendo dito até agora.

Nesta semana os movimentos dos partidos da base aliada e das oposições se intensificaram na busca de uma solução política que abrevie a crise. As declarações do vice-presidente Michel Temer, os elogios ao PSDB e pedido de apoio, feitos pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em comissão na Câmara dos Deputados, na quarta feira, foram interpretados como o sinal mais evidente do desânimo que tomou conta do governo e, mais especificamente, do Palácio do Planalto.

Dilma tentou reagir na semana anterior, com a reunião dos governadores e nesta, em uma articulação de um encontro com os maiores empresários do país para antes do dia 16, data de convocação dos protestos de rua. As primeiras sondagens sobre a realização desse encontro com os representantes do PIB não foram muito animadoras. O risco é de haver mais ausência do que presença.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem dito a interlocutores que "a questão politica é passageira, a mudança do cenário econômico, com o fim do ciclo das commodities, é duradoura".

Diante das dificuldades que enfrenta no Congresso para ter aprovadas as medidas de ajuste fiscal, e tendo na presidência da Câmara o deputado Eduardo Cunha, totalmente hostil a uma agenda que não seja a sua, Levy tem argumentado com algumas as lideranças políticas que o curto prazo não pode desviar totalmente a atenção do que é estratégico para o país, que é "a necessária preparação da economia para que o Brasil possa enfrentar e prosperar em um mundo mais competitivo e de baixo crescimento".

Passados 70 anos da destruição de Hiroshima e Nagasaki, não faltou quem, em um ato de dramaticidade, comparasse o que pode vir a acontecer com o governo às duas bombas atômicas jogadas nas cidades do Japão no fim da Segunda Guerra Mundial: a primeira, " little boy", e, três dias depois, a segunda, "fat man".

Míriam Leitão - Efeitos do dólar

- O Globo

O dólar já passou a ser o novo perigo inflacionário que entrou nos radares dos analistas. E até do Banco Central, pelo que se depreende da Ata do Copom. O dólar subindo mais do que o previsto tem impacto no índice de preços, que já subiu por outros reajustes, como o da energia. Por enquanto, a previsão mais frequente é que os juros não vão cair, mas também não vão subir mais até o fim do ano.

Há quem diga que o dólar já fez estragos suficientes e pode haver novo aumento de juros, mas é cedo para dizer com segurança. O que a Ata da última reunião, divulgada ontem, informa é que os preços administrados terão um aumento maior do que o Banco Central previa há um mês e meio. Na último encontro, calculava que subiria 12,7%. Agora, acha que esses preços subirão, em média, 14,8%.

Curioso é o eufemismo do Banco Central para falar da recessão brasileira. Diz que “o processo de ajustamento macroeconômico” leva a um “crescimento abaixo do potencial” e que há um “processo de distensão no mercado de trabalho”. O Brasil está, na verdade encolhendo, e não crescendo abaixo do potencial, e no ano que vem não se espera crescimento. Isso não será efeito do ajuste, mas do desajuste feito anteriormente.

Para o ano que vem, o BC está otimista em relação à inflação. Na Ata, registra que está se fortalecendo o cenário da convergência para 4,5% no final de 2016. Diz que o efeito defasado da alta de juros ajudará no esforço para se atingir o centro da meta e ressalta que as projeções dos analistas são de desaceleração do índice.

Essa é a boa notícia no meio de um cenário nebuloso. As expectativas são de que no ano que vem se conseguirá derrubar vários pontos no IPCA. A taxa terminará acima de 9% este ano, e as projeções do mercado, capturadas pela pesquisa Focus, são de que ela chegará ao final do ano que vem em 5,4%.

A última reunião do Copom aconteceu logo depois da decisão do governo de reduzir a meta de superávit primário. Na época, muitas previsões eram que os juros subiriam 0,25%. A partir a decisão, as projeções subiram para 0,5%, o que, de fato, aconteceu. O BC admitiu ontem que essa piora do quadro fiscal é prejudicial ao controle da inflação.

Hoje, o IBGE divulga a inflação de julho, e a expectativa é que a taxa seja menor do que a de junho. O problema é que, ainda assim, será muito mais alta do que julho de 2014, que foi de 0,01%, e isso fará o índice acumulado em 12 meses escalar de 8,89% para perto de 9,5%. Quanto mais tempo a inflação ficar nesse patamar, mais ela se fortalece pela indexação; mais renda tira dos trabalhadores; mais desconfiança leva aos empresários.

O novo problema agora é o dólar em alta porque ele passa a ser um novo fator a se juntar a vários outros que têm pressionado os índices de preços. Há poucos meses, foi a crise hídrica que afetou as lavouras e aumentou o custo dos alimentos. Também houve o impacto do preço da energia, que o BC calcula que aumentará 50% este ano. As pressões têm se revezado sobre o índice, e por isso a taxa de juros foi elevada.

A preocupação do BC com o câmbio levou o diretor da Política Monetária, Aldo Mendes, dizer ao “Valor Econômico” que considera a cotação “esticada demais”, fora dos fundamentos. Isso fez a moeda cair em relação à máxima do dia. Há uma semana, a moeda americana valia R$ 3,33, no dia da última reunião do Copom. Ontem, chegou a ser vendida por R$ 3,57 e fechou em R$ 3,53. Os cenários de referência de mercado, analisados também pelo Banco Central, estimam a moeda em R$ 3,25. Ou seja, tanto o Copom quanto os bancos e as consultorias terão que refazer as projeções de inflação caso o dólar fique nesse patamar.

A alta do dólar também tem impacto sobre os custos e as dívidas das empresas. A Petrobras divulgou uma queda de 90% no seu lucro do segundo trimestre porque o dólar mais caro encarece produtos derivados que ela importa. A sua dívida bruta subiu 18% desde dezembro, saltando de R$ 350 bilhões para R$ 415 bi, porque 80% da dívida estão em moeda estrangeiras.

A mais importante fonte de incerteza na conjuntura atual, entretanto, é a crise política, porque ela aumenta o risco de perda do grau de investimento. Isso reduz a entrada de investidores e eleva a pressão sobre o câmbio. Existem outros motivos que influenciam no dólar, como a recuperação da economia americana, com provável alta de juros, e a desaceleração da China. O principal fator, no entanto, é a incerteza interna.

O País à matroca – Editorial / O Estado de S. Paulo

A quarta-feira, 5 de agosto de 2015, selou o fim, de fato, do modelo de governo que Dilma Rousseff vinha tentando sustentar. Sobre o pano de fundo de uma crise econômica e social – além de moral – sem perspectiva de solução a curto prazo, configura-se agora o fator político aparentemente decisivo: a base de apoio ao Planalto no Congresso Nacional desintegrou-se, ao que tudo indica de modo irreversível, a ponto de o habitualmente cauteloso vice-presidente Michel Temer proclamar que “é preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar” o País, deixando mais que óbvia a convicção de que a presidente da República não tem condições de fazê-lo. E como a convalidar o diagnóstico do crepúsculo do governo petista, no fim da tarde da quarta-feira pesquisa do Datafolha revelou que o índice da reprovação popular a Dilma Rousseff atingiu a marca recorde de 71%.

Michel Temer falou aos jornalistas depois de se ter reunido, na manhã daquele dia, com os líderes da base aliada no Senado e na Câmara e com os ministros Joaquim Levy, da Fazenda; Eliseu Padilha, da Aviação Civil – seu braço direito na articulação política do governo –; Luis Inácio Adams, da Advocacia-Geral; e José Eduardo Cardozo, da Justiça. Depois, em tom emocionado, afirmou: “Eu queria fazer uma declaração precisamente em face das várias autoridades do Legislativo e do Executivo que passaram aqui pelo meu gabinete. A declaração eu quero fazer, na verdade, aos vários setores da sociedade brasileira”. E, contrariando o que dissera recentemente sobre a existência de uma “crisezinha”, emendou: “Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave, porque há uma crise política se ensaiando, uma crise econômica que está precisando ser ajustada”.

O vice-presidente da República tem sido o aliado em quem mais Dilma tem podido confiar nesse tormentoso início de segundo mandato. É particularmente grave, portanto, o sentido de suas palavras: “É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o País”.

Poucas horas depois do apelo de Temer pela “reunificação”, dois partidos da base aliada, PDT e PTB, declaravam posição de “independência” – sem nenhuma referência a deixar os Ministérios que comandam –, o que contribuiu para outra fragorosa derrota do governo na Câmara, que aprovou mais um golpe no ajuste fiscal: o reajuste de salário de várias carreiras que resultará em impacto de R$ 2,45 bilhões anuais para a União.

Enquanto isso, em mais uma demonstração do desespero do governo, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em depoimento numa comissão da Câmara, fez afagos à oposição, especialmente ao PSDB, e propôs um “pacto suprapartidário” para controlar a crise econômica. Para surpresa de quem conhece a habitual agressividade de Mercadante com os “inimigos”, ele chegou até a elogiar o programa de estabilidade econômica do governo FHC, do qual sempre foi um crítico rigoroso. Na véspera, em jantar na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), com a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de Aécio Neves (PSDB-MG), tucanos e peemedebistas discutiram o desenvolvimento da crise política e a possibilidade do impeachment de Dilma Rousseff.

Por sua vez, em reunião com deputados estaduais e dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo, Lula manifestou pessimismo com as perspectivas políticas. De acordo com participantes do encontro, fazendo uma comparação da situação atual do PT com a reviravolta conquistada em 2005 depois do escândalo do mensalão, ele teria declarado não acreditar que nem mesmo uma repentina e milagrosa recuperação econômica aliviaria a impopularidade do governo e do partido, porque, se antes se levantavam recursos para um “projeto político”, agora isso é feito para enriquecimento pessoal dos envolvidos nas denúncias de corrupção. Essa, é claro, é uma visão muito peculiar do processo dito político. A obra de Lula é mais complexa do que isso. Para chegar onde chegou, ele olhou para os lados enquanto seus lugares-tenentes inoculavam a máquina estatal e agentes econômicos que a ela serviu com o germe da corrupção. O contágio foi de tal ordem que hoje o Brasil se vê à matroca.

Governo perde o poder de influir nas votações do Congresso – Editorial / Valor Econômico

Não existe mais base aliada do governo e sim uma ampla e caótica união dos partidos contra o governo. Acirrando a crise política e o processo de desagregação da coordenação do Planalto, os deputados, por uma maioria de 445 a 16, votaram pelo irresponsável alinhamento dos salários da Advocacia Geral da União e delegados da Polícia Federal aos do Judiciário, uma conta extra de R$ 2,45 bilhões para finanças públicas deficitárias. Até mesmo o PT votou contra os interesses do governo. PDT e PTB, com ministérios na Esplanada, avisaram que não integram mais o grupo de apoio no Congresso.

A deterioração do apoio político mudou de qualidade após a votação de anteontem. A rebelião de ontem não foi apenas mais uma. As condições que a precederam foram especiais. Houve uma tentativa coordenada de apaziguamento do governo. A presidente Dilma Rousseff recebeu os líderes partidários em jantar e o vice-presidente Michel Temer, coordenador político, reuniu-se em separado com líderes das bancadas dos partidos aliados da Câmara e do Senado.

Enquanto o ministro Joaquim Levy, de um lado, repetia que a situação econômica é séria, e o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, espalhava incomuns elogios ao PSDB, Temer, de outro, fez apelos para que os partidos levem em conta o interesse do país e ajudem a recuperar uma economia mergulhada na recessão. Temer deixou no ar estranho recado, com sujeito indefinido: "É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos", disse. Essa tarefa agora cabe a ele, coordenador político, que tem fracassado e, em última instância, à presidente da República, que delegou a tarefa. Depois de tantas palavras fortes em uma mesma direção, os deputados em seguida derrotaram mais uma vez fragorosamente o governo. As bancadas deixaram de seguir a orientação dos líderes, condição que pressagia novas demonstrações agudas de irresponsabilidade.

Há várias "pautas-bomba" no Congresso, que os líderes das legendas aliadas ao governo prometeram não votar. Essa promessa, como se viu na votação de anteontem à noite, perdeu rapidamente a validade. Trabalhando para manter o Planalto de mãos amarradas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), detonou o PT de duas CPIs importantes - em uma delas, a do BNDES, o governo está na berlinda. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sentou em cima do projeto de reoneração da folha de pagamentos, tornando quase uma certeza que o dinheiro esperado com a medida não mais entrará nos cofres do Tesouro este ano.

Refém inerme de forças poderosas sobre as quais perdeu a capacidade de influir, a presidente Dilma viu sua popularidade ceder ainda mais um pouco na pesquisas - o Datafolha exibiu ontem que só 8% consideram seu governo, ótimo ou bom, o pior resultado de um presidente após a redemocratização. A porta de saída do beco em que se encontra é a improvável reação da economia a curto prazo. Os investidores, diante da deterioração política e econômica, estão empurrando o real para baixo e as taxas de "crédito default swap" para cima.

O programa do PT que foi ao ar ontem mostra que o partido não consegue sair do córner. Além de repetir realizações do passado, voltou à velha ladainha de atacar o PSDB por "tumultuar a política" e alertar para a crise política que "ameaça a democracia", quando a fuzarca atual decorre do desgarramento da base aliada, com ajuda dos tucanos, que rasgaram seus princípios e aprovam as piores propostas no Congresso.

Há um vácuo no poder que terá de ser logo preenchido - os ventos da política estão todos agora nessa direção. As tentativas de impeachment não devem prosperar antes de o Tribunal Superior Eleitoral reprovar as contas de campanha de Dilma e anular a eleição (improvável) e dos termos em que o Tribunal de Contas da União rejeitar a prestação de contas do governo.

Na ausência de quebra de continuidade do mandato da presidente Dilma, a travessia de mais de três longos anos poderia ser tentada de várias formas, com graus variados de risco. O governo pode fazer uma reforma ministerial bombástica, reunindo o que de melhor possa existir nos partidos aliados e na sociedade civil, buscando assim resgatar a credibilidade perdida. Ou então se resignar a um gabinete de união nacional. Em ambos os casos, o PT deixará de ser preponderante nos ministérios e o poder de Dilma será drasticamente cerceado.

Poço sem fundo – Editorial / Folha de S. Paulo

• Crise política se agrava com inauditos índices de rejeição a Dilma e siglas abandonando a base; PT parece alheio a essa realidade

A situação da presidente Dilma Rousseff tornou-se tão delicada que já não há momento oportuno para o PT veicular propaganda partidária na televisão. Esta quinta-feira (6), mesmo assim, foi um dia especialmente infeliz para a legenda tentar negar o óbvio.

No mundo encantado e mentiroso dessas peças publicitárias, o país enfrenta apenas "problemas passageiros na economia", naturalmente originados em turbulências internacionais. Algumas pessoas, contudo, estariam usando tais circunstâncias com o propósito de "criar uma crise política", cujos efeitos poderiam ser ainda piores.

Não há licença poética que justifique tamanha inventividade por parte dos marqueteiros. Os indicadores econômicos apontam para desequilíbrios estruturais e estão aí para quem quiser ver: contração do PIB, picos de inflação, recorde de queda real de renda e dólar em disparada, entre outros.

Quanto à política, coube –veja só– ao melífluo Michel Temer (PMDB) falar com a franqueza exigida pela ocasião. Para azar do governo, o vice-presidente da República sentiu necessidade de fazê-lo exatamente um dia antes de ser difundida a propaganda petista.

"Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave. Não tenho dúvida de que é grave, e é grave porque há uma crise política se ensaiando", afirmou, para um pouco adiante sentenciar: "É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos".

Ao contrário do que quer fazer crer o programa do PT, a crise já está instalada, e o próprio Temer, ao lançar seu apelo em nome do país, não se lembrou de evocar a liderança da presidente Dilma. Mais que isso, tomou a liberdade de fazer o pedido, "como articulador político do governo".

Estaria se adiantando aos fatos e –de forma calculada ou num ato falho, pouca importa– se apresentando como alternativa para conduzir o Executivo? Ou, sem que lhe tenha ocorrido a destituição de Dilma, somente julgou que a petista carece de condições mínimas para coordenar os diversos atores, Congresso Nacional à frente?

Nenhuma das hipóteses depõe a favor da autoridade presidencial. Tampouco ajuda o Planalto ou o PT que, na mesma quarta-feira (5), PTB e PDT tenham decidido abandonar a suposta base governista.

Completou o quadro o resultado de nova pesquisa Datafolha sobre popularidade da presidente. Dilma Rousseff, reprovada por 71% dos brasileiros (eram 65% em junho) e aprovada por 8% (eram 10%), agora ostenta o pior desempenho na série histórica do instituto.

O recorde até então pertencia a Fernando Collor (rejeição de 68%, aprovação de 9%), registrado em setembro de 1992, pouco antes de seu afastamento da Presidência.

De nada adianta o PT tergiversar: o país já caiu no poço da crise política –e ele se mostra cada vez mais profundo.

Manipulação do Congresso ultrapassa limites – Editorial / O Globo

• Em guerra particular com Dilma e PT, presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ajuda a desmontar base do governo e contribui para agravar crise econômica

Há momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo. Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?

Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato. Daí, trabalhar pela aprovação de “pautas-bomba”, destinadas a explodir o Orçamento e, em consequência, queira ou não, desestabilizar de vez a própria economia brasileira.

Até há pouco, o presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL), igualmente investigado na Lava-Jato, agia na mesma direção, sempre com o apoio jovial e inconsequente dos tucanos. Porém, na terça, antes de almoço com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Renan declarou não ser governista, mas também não atuar como oposicionista, seguindo o presidente da Câmara, e descartou a aprovação desses projetos-bomba pelo Congresso. Um gesto de sensatez.

A Câmara retomou as votações na quarta, com mais uma aprovação irresponsável, da PEC 443, que vincula os salários da Advocacia-Geral da União, delegados civis e federais a 90,25% da remuneração dos ministros do Supremo. Espeta-se uma conta adicional de R$ 2,4 bilhões, por ano, nas costas do contribuinte. Reafirma-se a estratégia suicida de encurralar Dilma, por meio da explosão do Orçamento, e isso numa fase crítica de ajuste fiscal. É uma clássica marcha da insensatez.

Os sinais de esfarelamento da base parlamentar do governo foram reforçados pelo anúncio de PDT e PTB de que não votarão mais com o Planalto. A crise avança para reduzir ainda mais a estreita margem que o governo tem no Congresso para combater os desajustes da economia. Justificou-se, assim, a iniciativa do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), principal articulador político do Planalto, de fazer tensa declaração de reconhecimento da gravidade da situação e apelar para que haja um entendimento amplo a fim de conter a bola de neve de duas crises que se alimentam, a política e a econômica.

Somou-se à atitude de Temer a ida do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, à Câmara para, entre elogios ao PSDB e reconhecimento de erros cometidos pelo PT, propor um “acordo suprapartidário” diante da situação difícil na política e na economia. Algo nunca visto por parte de um petista estrelado. Mais um teste de maturidade para os tucanos.

Se a conjuntura já é muito ruim, a situação piora com o deputado Eduardo Cunha manipulando com habilidade o Legislativo na sua guerra particular contra Dilma e petistas. Equivale ao uso de arma nuclear em briga de rua, e com a conivência de todos os partidos, inclusive os da oposição.

É preciso entender que a crise política, enquanto corrói a capacidade de governar do Planalto, turbina a crise econômica, por degradar as expectativas e paralisar o Executivo. Dessa forma, a nota de risco do Brasil irá mesmo para abaixo do “grau de investimento”, com todas as implicações previsíveis: redução de investimentos externos, diretos e para aplicações financeiras; portanto, maiores desvalorizações cambiais, cujo resultado será novo choque de inflação. Logo, a recessão tenderá a ser mais longa, bem como, em decorrência, o ciclo de desemprego e queda de renda.

Tudo isso deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto.

Jaques Morelenbaum - Samba de uma nota só (Tom Jobim / Newton Mendonça)

Carlos Drummond de Andrade - José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Opinião do dia – Merval Pereira

Estamos caminhando para uma séria crise institucional. Não há mais maioria no Congresso para o governo aprovar medidas importantes do ajuste fiscal; não há mais credibilidade do governo, que não se impõe. Os congressistas não estão preocupados em ajudar a ultrapassar essa crise. O Congresso vai para um lado, o governo vai para o outro e não há uma figura no cenário que possa ser ouvida, para tentar um acordo.
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Merval Pereira é jornalista. Comentário na Rádio CBN, 5 de agosto de 2015..

Reprovação de Dilma cresce e supera a de Collor em 1992

• 71% consideram governo ruim ou péssimo, recorde da série do Datafolha

• Aumentou também o apoio à abertura de um processo de impeachment contra a presidente petista

Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Com 71% de reprovação, a presidente Dilma Rousseff (PT) superou as piores taxas registradas por Fernando Collor (1990-92) no cargo, às vésperas de sofrer um processo de impeachment, mostra pesquisa Datafolha feita entre terça e esta quarta-feira (5).

No levantamento anterior, realizado na terceira semana de junho, 65% dos entrevistados viam o governo Dilma como ruim ou péssimo.

O grupo dos que consideram a atuação da petista ótima ou boa variou para baixo, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais. Em junho, 10% dos consultados pelo Datafolha mantinham essa opinião. Agora, são 8%.

O cenário piorou para a presidente Dilma também no que diz respeito a um eventual pedido de impeachment.

Questionados se o Congresso deveria abrir um procedimento formal de afastamento, 66% dos entrevistados disseram que sim. No levantamento anterior, realizado em abril, eram 63%.

Também aumentou a quantidade de pessoas que acham que ela será retirada do cargo, independentemente de suas opiniões sobre um eventual processo de impeachment. Em abril, 29% diziam que a presidente seria afastada do Planalto. Agora, 38% disseram achar que Dilma sofrerá um impeachment.

Os números registrados pelo Datafolha na pesquisa desta semana são os piores desde que o instituto iniciou a série de pesquisas em âmbito nacional, em 1990, no governo Fernando Collor.

O atual senador pelo PTB-AL, investigado na Lava Jato, era até agora o recordista de impopularidade na série do Datafolha, com 9% de aprovação e 68% de reprovação na véspera de seu impeachment, em setembro de 1992.

Dilma, dessa forma, passa a ser a presidente com a pior taxa de popularidade entre todos os eleitos diretamente desde a redemocratização.

As pesquisas Datafolha do período do governo José Sarney (1985-1990) eram feitas em dez capitais. Incomparáveis, portanto, com as seguintes. Nesse universo, Sarney registrou 68% de reprovação em seu pior momento, em meio à superinflação.

Regiões
A reprovação à presidente Dilma Rousseff é homogênea em relação às regiões do país, com índices em patamares semelhantes em todas elas.

Nos locais em que seu partido, o PT, costuma ter mais reprovação, a presidente registrou taxas levemente piores. A maior taxa de reprovação foi registrada na região Centro-Oeste, 77%. No Sudeste e no Sul, 73% dos entrevistados disseram que o governo é ruim ou péssimo.

Mesmo no Nordeste, região do país onde o PT costuma ter melhor desempenho eleitoral, a aprovação de Dilma é baixa. Apenas 10% dos consultados pelo Datafolha afirmaram que o governo é ótimo ou bom. Outros 66% entendem que a administração é ruim ou péssima.


As taxas apuradas pelo Datafolha em relação à questão do impeachment também são consistentes independentemente da região do país.

No Centro-Oeste, 74% acreditam que o Congresso deveria fazer tramitar um pedido de afastamento. Sul e Sudeste registram 65%. No Nordeste, o percentual é maior, porém dentro da margem de erro, com 67%.

Também não há diferença relevante em relação a idade ou o sexo dos entrevistados. Os resultados tanto entre homens como entre mulheres repetem o percentual de reprovação geral, de 71%.

Dilma tem reprovação levemente inferior entre pessoas com mais de 60 anos (68%). Os resultados das outras faixas etárias variam pouco, sempre dentro da margem de erro.

O Datafolha entrevistou 3.358 pessoas com 16 anos ou mais em 201 municípios nas cinco regiões do país.

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O nível de confiança do levantamento é de 95% –se fossem realizadas 100 pesquisas com a mesma metodologia, os resultados estariam dentro da margem de erro em 95 ocasiões.

Planalto faz apelo por união, mas até base começa a ruir

Base começa a derreter

• Temer diz que alguém deve reunificar país

• Mercadante elogia PSDB e pede pacto

• PDT e PTB se rebelam; PMDB quer reforma

Catarina Alencastro, Chico de Gois, Fernanda Krakovics, Isabel Braga, Júnia Gama, Maria Lima e Washington Luiz – O Globo

Crise política
BRASÍLIA - O governo fez ontem apelos dramáticos ao Congresso, à sociedade e até ao PSDB, principal partido de oposição, para enfrentar a crise político-econômica, mas acabou atingido por dois partidos da base aliada - PDT e PTB -, que somam 44 deputados e anunciaram que, ao menos temporariamente, não votarão mais com o Planalto. Os pedidos de união também não foram bem recebidos pelo PSDB, que considerou que a mudança de tom veio tarde.

Depois de uma manhã de reuniões com líderes do Senado, da Câmara e ministros, o vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, reconheceu que o país enfrenta uma crise política e econômica e, em tom grave, fez um apelo para que o Congresso ajude a unificar o país. Visivelmente apreensivo e preocupado, Temer afirmou que será preciso ter o apoio de todos os brasileiros para enfrentar o cenário que se desenha (íntegra abaixo) .

- Há uma certa preocupação. Não posso negar isso. Daí a razão desta espécie de convocação no sentido de que todos trabalhemos juntos. Eu tenho pregado com frequência a ideia da tranquilidade, da moderação, da harmonia entre os órgãos do poder. E hoje mais do que nunca se faz necessária essa harmonia que nós tanto temos alardeado - afirmou.

Na reunião com os senadores, Temer disse que, antigamente, um governo precisava de "governabilidade", de apoio político. Hoje, segundo ele, um governo precisa de "governança", que inclui o apoio da sociedade civil e de movimentos sociais. Estes, por meio da internet, fazem pressão sobre deputados e senadores.

Desde segunda-feira, o vice-presidente vinha se reunindo com a base aliada do governo para tentar uma reaproximação com o Congresso. Mas já no primeiro dia de votação, na terça-feira, a pauta bomba dos reajustes para servidores foi colocada em votação na Câmara, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, informou que não colocaria em votação rapidamente a proposta que acaba com a desoneração da folha de pagamentos. Além das dificuldades na pauta econômica, o governo teme o andamento dos pedidos de impeachment presidencial protocolados por movimentos sociais na Câmara - somado ao risco de Dilma ter as contas de 2014 rejeitadas pelo Tribunal de Contas de União (TCU) - e as manifestações marcadas para o próximo dia 16.

PDT e PTB na câmara anunciam independência
Mas se o encontro de Temer com a base pela manhã tinha como objetivo recompor a sustentação do governo, especialmente na Câmara, o efeito foi o oposto. O PDT foi duramente cobrado pela "infidelidade" na votação da noite anterior, em que apenas um dos 13 deputados do partido presentes foi favorável ao governo. Segundo relatos, houve reclamação generalizada dos demais representantes de partidos da base que votaram majoritariamente com o governo. O líder do governo José Guimarães (PT-CE) e o próprio Temer teriam sido enfáticos pedindo à base para ter mais responsabilidade e apoiar o governo.

Alvo de ironias e acusações, o PDT, há oito anos no comando Ministério do Trabalho, decidiu romper. O líder do partido na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE), foi à tribuna anunciar que a legenda passará a adotar uma posição de independência.

- Não vamos mais participar das reuniões dos líderes aliados. Estamos sendo de forma recorrente desrespeitados, chamados de traiçoeiros e infiéis, quando somos o único partido que avisa antes como irá votar - disse Figueiredo.

O deputado afirmou que, antes de anunciar em plenário a decisão da bancada, comunicou-a ao presidente da legenda, Carlos Lupi, e ao ministro do Trabalho, Manoel Dias. Segundo o deputado, Lupi teria lhe dado "total liberdade" para agir e comentou que a permanência na base "tem prazo de validade". A reação de Manoel Dias foi de constrangimento. André Figueiredo disse que a decisão sobre a eventual saída de todo o PDT da base de apoio ao governo Dilma Rousseff, inclusive com a entrega do ministério ocupado pela legenda, ocorrerá em reunião de todo o partido.

- O Manoel ficou em uma situação constrangedora. Mas o ministério é da presidente Dilma, foi ela quem escolheu o ministro. Ele tem nossa confiança, mas não foi a bancada que o indicou. Temos clareza de que os próximos passos serão naturalmente dados. Não se afasta essa hipótese (de deixar o ministério) - pontuou.

Depois do PDT, também o PTB anunciou rompimento com o governo. Após uma reunião que contou com a presença de vários líderes da base, o líder do partido na Câmara, Jovair Arantes (GO), disse que a bancada também declara posição de independência.

- Estamos dando um tempo para discutir a relação. A gente está segurando a bancada no braço, mas o governo não tem sensibilidade, os ministros não atendem. Não é só cargos, mas é evidente que quem participa do governo tem os ônus e os bônus. Nós estaremos votando contra o governo nos próximos dias - disse Jovair.

O líder do governo tentou uma última conversa com o partido durante a reunião, mas não obteve sucesso. Na saída, criticou a decisão:

- Esse negócio de independência, prefiro rompimento. Temos que refazer a base e rever os ministérios que estão na cota desse ou daquele partido. Precisamos redefinir criteriosamente quem é base ou não. Essa questão da base atingiu o pico -afirmou Guimarães.

Os esforços do governo por uma união para enfrentar a crise começaram pela manhã com a ida à Câmara do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O ministro admitiu erros do governo - sem especificar quais - e pediu apoio do PSDB, com elogios ao principal partido da oposição.

- Acho que vivemos um momento polarizado politicamente, com erros que nós cometemos e que se comete quando se é governo. Vocês governaram o país por oito anos e tiveram uma grande experiência. Precisamos ter no país alguns pactos que vão além de governos - afirmou o ministro, dirigindo-se ao presidente da Comissão, Rodrigo de Castro (PSDB-MG).

- Controle da inflação, que é uma contribuição que vocês deram e ficou para a história do Brasil. Nosso governo está tomando medidas impopulares porque sabe que sem ajuste fiscal nós não nos recuperamos. Isso tem que ter um acordo suprapartidário - defendeu Mercadante.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) disse que o mea culpa de Mercadante, mesmo tardio, é positivo , mas desmente tudo o que Dilma disse na campanha.

- A mudança de tom do governo, especialmente do ministro Mercadante, é mais uma demonstração de que o governo mentiu aos brasileiros durante todo o processo. Vamos continuar agindo com responsabilidade votando os projetos de interesse do Estado, não do governo. Não aceitamos que se transfira para a oposição a responsabilidade de sair dessa crise - disse Aécio.

O governo foi pressionado ontem por deputados da base aliada a fazer uma reforma ministerial.

- O modelo da base exercido até aqui se exauriu - disse o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).

- O modelo de articulação do governo faliu. Temos que zerar o jogo - afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

Câmara impõe nova derrota ao governo

• Mesmo com o apelo do vice-presidente Michel Temer a aliados, deputados aprovam reajustes que custarão R$ 2,45 bilhões à União

Daniel Carvalho, Bernardo Caram e Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

Após uma sucessão de derrotas do governo, o plenário da Câmara aprovou na madrugada de hoje uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reajusta salários de várias carreiras, provocando impacto de R$ 2,45 bilhões por ano apenas para a União. A proposta foi aprovada por 445 votos favoráveis, 16 contrários e seis abstenções. Na semana que vem, serão votados os destaques. O governo tentou durante todo o dia de ontem, mas não conseguiu unir sua base para novamente adiar a votação. Sem alternativa, rendeu-se ao substitutivo que vincula o teto dos subsídios de advogados públicos, defensores públicos e delegados das Polícias Federal e Civil a 90,25% do que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal.

Dessa forma, o salário inicial de um advogado público passa de R$ 17,3 mil para R$ 27,5 mil. A aposta do Planalto é de que governadores e prefeitos pressionem parlamentares de suas bancadas para evitar efeito cascata da PEC em Estados e municípios e que a Justiça diga que o texto é inconstitucional. Para aumentar suas chances de ver o texto rejeitado mais adiante, o governo apoiou uma emenda aglutinativa que estendia o reajuste também a auditores da Receita e do Trabalho, peritos da Polícia Federal e defensores públicos.

No entanto, a proposta não atingiu os 308 votos necessários para aprovação. Foram 247 votos a favor, 203 contra e 14 abstenções. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condicionou a votação em segundo turno da PEC 443 à aprovação de outra PEC, a de número 172, que impede o repasse de encargos a entes federados sem a designação da fonte de receita. Antes mesmo do início da sessão, o governo já contava sua segunda derrota em dois dias. Na noite anterior, viu o plenário, com ajuda da base, impedir o adiamento da votação da PEC para o fim do mês, manobra que garantiria mais alguns dias para negociação de um texto alternativo.

Ontem o dia foi de desgastes. Pela manhã, líderes da base foram convocados pelo vice-presidente Michel Temer para uma reunião tensa e com ameaças. Os líderes aliados lavaram roupa suja e avisaram: o governo vai continuar perdendo votações importantes na Câmara como forma de retaliação dos deputados. Ministros do governo montaram uma força-tarefa para entrar em campo e barrar o avanço da proposta. O clima entre os aliados, no entanto, ainda era de animosidade. Deputados alegam que o Executivo ainda não cumpriu os compromissos firmados no primeiro semestre, em relação às nomeações de segundo e terceiro escalões e ao corte no valor das emendas individuais.

O Planalto alega, no entanto, que os partidos não estão mostrando fidelidade ao governo. À noite, a insatisfação foi posta em prática com a declaração de que PTB e PDT, partidos da base aliada, adotariam postura de independência nas votações. Os anúncios surpreenderam e irritaram o líder do governo, José Guimarães (PT-CE). "Esse negócio de independência, eu prefiro rompimento."

Temer faz apelo por união e pensamento acima dos partidos

• Em tom emocionado, vice-presidente reconhece gravidade da crise política e econômica e passa o dia em reuniões com líderes e ministros

- O Estado de S. Paulo

Responsável pela articulação política do Palácio do Planalto, o vice-presidente Michel Temer fez ontem um apelo público ao dizer que o Brasil precisa que "alguém tenha a capacidade de reunificar" e evitar "uma crise desagradável para o País". A declaração, em tom emocionado, foi dada após uma tensa reunião com partidos aliados, num momento em que o governo reconhece ter perdido o controle da base e não consegue fazer a economia sair da recessão, agravada pelas investigações da Operação Lava Jato. Pela manhã, o vice-presidente recebeu líderes da base no Senado no Palácio do Jaburu; depois, conversou no Planalto com líderes da base na Câmara; e recebeu, na sequência, os ministros Joaquim Levy (Fazenda), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral), José Eduardo Cardozo (Justiça).

"Eu queria fazer uma declaração precisamente em face das várias autoridades do Legislativo e do Executivo que passaram aqui pelo meu gabinete. A declaração eu quero fazer, na verdade, aos vários setores da sociedade brasileira", iniciou o vice-presidente. "Na pauta dos valores políticos temos, muitas vezes, a ideia do partido político como valor, do governo como valor, e do Brasil como um valor. Mas nessa pauta de valores o mais importante é o valor Brasil, o valor País, e estamos pleiteando exata e precisamente que todos se dediquem a resolver os problemas do País", disse Temer.

"Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave, porque há uma crise política se ensaiando, uma crise econômica que está precisando ser ajustada mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso Nacional, com os vários setores da nacionalidade brasileira." Temer reconheceu que a volta do recesso parlamentar agravou a crise. Na véspera, o Planalto foi surpreendido pela traição na base e não conseguiu barrar o reajuste salarial aos servidores da Advocacia-Geral da União (AGU) nem evitar o alijamento do PT de CPIs como a do BNDES e a dos Fundos de Pensão.

A reunião com líderes da Câmara foi a mais tensa do dia – dos senadores, Temer ouviu que a Casa não teria "pauta-bomba" que eleve os gastos públicos. Após o encontro com os deputados, classificada no Planalto como "catastrófica", o vice-presidente chamou os jornalistas para repetir o que havia dito aos líderes. "É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o País", afirmou Temer.

"Os brasileiros querem que o Brasil continue na trilha do desenvolvimento e, por isso, mais uma vez, reitero que é preciso pensar no País acima dos partidos, acima do governo e acima de toda e qualquer instituição. Se o País for bem, o povo irá bem. É o apelo que eu faço aos brasileiros e às instituições no Congresso Nacional." O vice lembrou o efeito da crise fora do País.

"Temos de ter atuação que repercuta positivamente no exterior. Se não tomarmos cuidado, nossa ação pode repercutir negativamente no exterior", completou. O apelo de Temer já obteve respaldo. Após se reunir como vice, Levy disse ser preciso "tranquilidade e firmeza para continuar o diálogo para alcançar as soluções que o Brasil precisa". "Ninguém quer uma ruptura em nenhum aspecto, a gente precisa é garantir a recuperação econômica."

Mercadante propõe um ‘pacto suprapartidário

Valmar Hupsel Filho, Rachel Gamarsk – O Estado de S. Paulo

O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, fez diversos acenos ontem à oposição durante audiência na Câmara para tratar da crise no setor naval. O petista falou num "pacto suprapartidário" para conter a crise econômica e afagou o PSDB, destacando a importância da garantia da estabilidade e do controle da inflação, creditando-as como conquistas do governo tucano do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Precisamos de um pacto que vá além das políticas de Estado. Existem questões como a de responsabilidade fiscal, que foi uma contribuição que vocês deram ao País", disse o ministro. Mercadante ressaltou que governo e oposição estão "no mesmo barco".

"Precisamos de equilíbrio e bom senso e estamos todos no mesmo barco, que se chama Brasil", afirmou. O petista falou até de erros do governo. Disse que o País vive um momento polarizado e de tensão política, "depois de erros que o governo cometeu e que é preciso superá-los". Mercadante reconheceu as medidas impopulares que o governo está tomando para passar pela crise econômica. O clima ameno acabou fazendo com que Mercadante fosse poupado por deputados-membros da comissão de Minas e Energia, formada em sua maioria por nomes da oposição. No governo, havia o temor de que o ministro fosse alvo de questionamentos sobre a Operação Lava Jato. Mercadante foi citado pelo delator Ricardo Pessoa, dono da UTC, como recebedor de R$ 250 mil em 2010, quando concorreu ao governo de São Paulo. O ministro afirma que a doação foi legal e devidamente informada à Justiça Eleitoral.

A estratégia passou a ser pular do barco

• Brasília viveu uma quarta-feira diferente, com ares de 1992 e clima de "agora tudo pode acontecer"; Lava-jato é hoje maior do que o governo

Alan Gripp – O Globo

Um pouco de tudo já se viu nos sete meses ininterruptos de crise política do segundo governo Dilma. Porém, dois episódios ocorridos ontem mostraram que algo diferente estava no ar.

No primeiro, Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, aproveitou a passagem pelo Congresso para, num arroubo de humildade, fazer um surpreendente mea-culpa. Disse que o governo cometeu erros, falou em um "acordo suprapartidário" e fez afagos no eterno inimigo PSDB. "Vocês têm experiências importantes na administração de estados e do Brasil", afirmou.

Quem conhece Mercadante sabe o quão improvável foi aquele comportamento. Durante toda a crise, o ministro foi alvo de dez entre dez aliados do governo, que consideram-no arrogante e intransigente na relação com a base, para usar adjetivos suaves.

No segundo, o vice Michel Temer, invocando o papel de articulador político, fez um apelo pela governabilidade. Chegou a citar três vezes numa mesma frase a palavra "grave" e, no momento mais dramático, afirmou: "É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos. Caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável".

Quem conhece Temer sabe o quão improvável foi aquele comportamento. Conhecido pela calma que falta a muitos de seus correligionários, o vice estava visivelmente nervoso. Vinha de uma conversa com a presidente Dilma, em que relatou as queixas que acabara de ouvir de líderes aliados no Congresso, num tom acima do normal.

Dali em diante, a base do governo, já em frangalhos, começou formalmente a ruir. O PDT anunciou que adotará independência na Câmara. Deputados do PTB declararam rompimento com o governo. O PCdoB quer uma reforma ministerial.

Os partidos sabem que o agravamento da crise é inevitável. Com novas delações premiadas a caminho, não há controle possível sobre a Lava-Jato, se é que um dia houve. A Lava-Jato é hoje maior do que o governo. E a estratégia, que até agora parecia ser observar cautelosamente a gestão Dilma respirando por aparelhos, passou a ser pular do barco.

Na política, é sempre prudente não tirar conclusões apressadas. Mas as cenas desta quarta-feira fizeram Brasília reviver os ares de 1992 e deixaram no ar um clima de "agora tudo pode acontecer".

Temer faz apelo por 'reunificação' do país

Por Andrea Jubé e Raymundo Costa

BRASÍLIA - Preocupado com o agravamento da crise econômica e política vivida pelo país, o vice-presidente Michel Temer fez ontem um apelo dramático pela "reunificação do país". Articulador político do governo, Temer revelou preocupação com o impacto negativo nas contas públicas de projetos aprovados no Congresso e pediu ao Senado que atue como "para-choque" de propostas que passem pela Câmara dos Deputados.

"É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos. Estou tomando a liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o país", advertiu o vice-presidente, durante entrevista. Antes de conversar com os jornalistas, reuniu-se com vários ministros, entre eles Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento, e pela manhã já havia se encontrado com os líderes aliados no Congresso.

"Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave. E é grave porque há uma crise política se ensaiando e uma crise econômica que precisa ser ajustada", alertou. "Mas para tanto é preciso contar com o Congresso e com os vários setores da nossa sociedade".

Temer disse que, se os problemas não forem enfrentados, haverá repercussão negativa para a imagem do país. Ele exortou os políticos a deixarem de lado, neste momento, interesses partidários "para resolver os problemas do país, acima dos partidos, acima do governo".

A presidente Dilma Rousseff desencadeou, por sua vez, uma ofensiva para tentar retomar a iniciativa política e esvaziar as articulações em favor do impeachment ou de um pacto com a oposição para dividir o governo. O objetivo é convencer os líderes partidários de que conta com o apoio do "PIB nacional" para enfrentar a crise. Segundo interlocutores da presidente, grandes grupos empresariais têm se reunido para discutir a crise. Nessas conversas haveria consenso de que Dilma ainda representa a melhor solução para enfrentar a turbulência atual.

Para Temer, crise política se agrava
O vice-presidente Michel Temer e articulador político do governo fez ontem um apelo dramático ao Congresso Nacional, aos empresários e demais setores da sociedade para que haja uma "reunificação do país". Temer, conhecido pela postura sóbria, usou a palavra "grave" três vezes e alertou que o país caminha rumo a uma "crise desagradável", com repercussão no exterior.

"É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos, estou tomando a liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o país", alertou o vice, em tom emocionado.

Apesar do agravamento da crise, o vice não pretende deixar a coordenação política, segundo relato de interlocutores próximos ao pemedebista. De acordo com esta versão, a manifestação de Temer seria um alerta para o risco real de agravamento do quadro político e econômico.

"Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave. E é grave porque há uma crise política se ensaiando, há uma crise econômica que precisa ser ajustada", alertou. "Mas para tanto é preciso contar com o Congresso Nacional e com os vários setores da nossa sociedade", exortou.

Temer convocou a imprensa para fazer o apelo às lideranças políticas, empresariais e demais setores da sociedade brasileira. Ele fez o apelo ao final de uma sequência de reuniões com ministros e lideranças da base aliada no Senado e na Câmara. Ontem ele se reuniu com Joaquim Levy, da Fazenda, Nelson Barbosa, do Planejamento, José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Luis Inácio Adams, da Advocacia Geral da União. À noite, recebeu a visita do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, e do presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, Moreira Franco. Ambos reforçam a articulação política no Senado e na Câmara.

"Quando se inaugura esse segundo semestre, agrava-se uma possível crise. Precisamos evitar isso em nome do Brasil, do empresariado brasileiro, dos trabalhadores. É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos".

Ele alertou que o aprofundamento da crise terá impacto lá fora. "Temos que ter uma atuação aqui no Brasil que repercuta positivamente no exterior. Se não tomarmos cuidado, nossa atuação poderá repercutir negativamente no exterior", ressaltou.

Temer decidiu falar diante de dois alertas de "bombas-fiscais": a votação da proposta de emenda constitucional que vincula os salários dos advogados da União, delegados e agentes policiais a 90,25% da remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal, na Câmara; e no Senado, o adiamento do projeto de desoneração da folha de pagamento das empresas, item do ajuste fiscal que a equipe econômica agora luta para que possa entrar em vigor pelo menos no ano que vem.

Temer disse que é necessário agir acima de interesses partidários. "Temos a ideia do partido político como um valor do governo, mas nessa pauta de valores, o mais importante é o valor-Brasil", sustentou. "Estamos pleiteando, exata e precisamente, que todos se dediquem a resolver os problemas do país, acima dos partidos, acima do governo".

Em café da manhã com líderes da base no Senado, e depois com os líderes na Câmara, numa reunião considerada tensa e ríspida, Temer se disse preocupado com as recorrentes traições da base. Segundo participantes do encontro, foi uma conversa "dura" e um "choque de realidade". O vice fez a avaliação de que a base tem faltado ao governo não de maneira eventual, mas a todo momento, como se estivesse descomprometida com a gestão.

Hoje, o vice-presidente estará em São Paulo, para receber uma homenagem do governador paulista Geraldo Alckmin, uma das principais lideranças tucanas. Temer era secretário de Segurança Pública em 1985, ocasião em que criou a delegacia da Mulher, há exatos 30 anos. (Colaboraram Vandson Lima e Thiago Resende)