quarta-feira, 30 de março de 2016

A oligarquia depenou o PT - Elio Gaspari

• Dilma aceitou jogar cartas com um baralho viciado e perdeu o prazo de validade porque finge não saber disso

- O Globo

O PMDB nunca pensou, não pensa em sair do governo e sente- se ofendido se alguém admite essa hipótese. Quem corre o sério risco de sair do governo é o PT. O partido que foi de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves e hoje é de Eduardo Cunha e Renan Calheiros quer apenas tirar uma licença de alguns meses, até o início do governo de Michel Temer, seu atual presidente.

A ideia de que o PMDB resolveu sair do governo não tem nexo nem propósito e destina- se apenas a esconder um objetivo. Os doutores querem que se creia que nada têm a ver com a ruína e pretendem retornar ao poder como se Michel Temer fosse o sucessor constitucional da senhora Rousseff por ocupar a vice-presidência do Flamengo, não a da República, eleito por duas vezes, sempre compartilhando a chapa.

O PMDB sai do governo para continuar no poder, dando esperanças a oposicionistas que não tiveram votos e a todos os gêneros de maganos tementes da Operação Lava- Jato. Ninguém sabe quais são os planos dessa coalizão para um eventual dia seguinte à posse de Temer, mas seu objetivo essencial está claro: trata- se de desossar a Lava- Jato.
A armação oligárquica precisa sedá-la, pois há barões na cadeia e marqueses temendo a chegada dos homens de preto da Federal.

O PT e Dilma reagiram às investigações das ladroeiras com uma conduta que foi da neutralidade- contra à pura hostilidade. Se hoje a rua grita o nome do juiz Sérgio Moro e pede “Fora PT”, isso se deve em parte à incapacidade dos companheiros de perceber que se tornaram fregueses num jogo viciado.

O comissariado acorrentou- se à própria falta de princípios. Desprezou a lição trazida pelas sentenças do mensalão e achou que pularia a fogueira do petrolão. A cada um desses lances de soberba jogou n’água uma parte de suas bases populares. Confiando na própria esperteza, foi para um carteado com jogadores profissionais e um baralho viciado. Os oligarcas depenaram-no. (Refresco para a crise: Quem quiser pode ver “Cincinatti Kid”, com Steve McQueen e Edward G. Robinson num de seus melhores momentos. Nessa mesa o baralho era honesto.)

Sem cartas, Lula compara- se a Getúlio Vargas e seu comissariado grita “Golpe”. Tudo parolagem. Getúlio foi encurralado por uma rebelião militar a partir de um caso em que membros de sua guarda pessoal tentaram matar o principal líder da oposição. Getúlio era um homem frugal. Ao contrário de Lula, nunca teve apartamento na praia e sua fazenda vinha de herança familiar. Não pode ser golpe o cumprimento de um dispositivo constitucional seguindo- se o ritual da lei, sob as vistas do Supremo Tribunal.

Resta uma questão: as pedaladas fiscais não seriam motivo suficiente para o impedimento de um presidente. Além das pedaladas, há sobre a mesa otras cositas más.

Admita- se que essas cositas fazem parte de outro processo. Na atual etapa, tudo desemboca numa questão político- aritmética: a Câmara só poderá decidir a abertura do processo contra a doutora pelo voto de dois terços mais um de seus deputados. Como Dilma, eles foram eleitos pelo povo, e a Constituição diz que é deles a decisão nessa fase do julgamento. Sem os dois terços, não haverá impeachment. Com eles, haverá. Ademais, era nesse Congresso que o PT cevava sua maioria, a famosa base de apoio.
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Elio Gaspari é jornalista

O homem Luiz Inácio e o mito Lula - Fernando Exman

• Destino do petista pode ditar futuro de Dilma e do partido

- Valor Econômico

É preciso deixar claro logo de saída, neste momento de polarização política observado no país: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nega ter praticado qualquer irregularidade, ainda não foi julgado e, portanto, é inocente até que se prove o contrário. Ainda assim, se sobram incertezas a respeito dos rumos que as investigações sobre Lula tomarão, pode-se assegurar que um dos principais desafios do ex-presidente e aspirante a ministro, além de salvar o governo Dilma Rousseff do impeachment, é manter forte o mito que o levou ao poder, ajudou-o a ocupar um espaço de destaque na galeria dos líderes mais populares do país e hoje é considerado entre seus correligionários um dos fatores capazes de dar sobrevida ao projeto político do Partido dos Trabalhadores.

A biografia de Lula encantou milhões de eleitores e a comunidade internacional. A história do menino que nasceu no sertão pernambucano em uma casa sem luz e saneamento básico e mudou-se para o "Sul" ainda criança simboliza a trajetória de grande parte do povo brasileiro. Lula começou a trabalhar no setor metalúrgico ainda adolescente, formou-se num curso técnico e, depois de seguir carreira no sindicalismo, lançou-se na política em meio à redemocratização do país.

Em diversos países seria bem visto um ex-presidente de origem humilde tornar-se rico após deixar o poder. Seja proferindo palestras ou realizando qualquer outro tipo de atividade lícita, seu sucesso seria um sinal de que a sociedade em questão propicia a seus cidadãos oportunidades para trabalhar, vencer e aproveitar os prazeres da vida.

Lula, porém, sempre buscou preservar a imagem de que continua um homem simples, apesar dos luxos que legitimamente poderia alcançar depois de décadas de trabalho. Telefone celular? Não tem, dizem seus defensores. Apartamento na praia? Até pensou em comprar, argumentam, mas desistiu. E acrescentam: ele e sua família relaxam com frequência num sítio de amigos no interior de São Paulo, mas sua relação com o imóvel não passa disso. Lula parece ter caído numa armadilha que ajudou a armar ao fomentar o discurso do "nós contra eles" para cativar uma parcela do eleitorado: não deve exibir em público imóveis ou outros bens num país desigual como o Brasil, mesmo que sejam compatíveis com sua renda familiar.

O curioso é que em uma das interceptações telefônicas feitas pela Lava-Jato o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, liga para solidarizar-se com Lula após o petista ser levado a depor pela Polícia Federal. Ele trata Lula como o real dono do sítio e até zomba da propriedade, mas Lula não contesta o aliado. A força-tarefa da Lava-Jato acredita que "há evidências" de que Lula "recebeu valores oriundos do esquema Petrobras por meio da destinação e reforma de um apartamento tríplex e de um sítio em Atibaia, da entrega de móveis de luxo nos dois imóveis e da armazenagem de bens por transportadora".

As interceptações telefônicas, sobretudo as que tratam de sua nomeação para o primeiro escalão do Executivo e a preocupação de seus aliados em lhe garantir foro privilegiado, devem voltar a receber atenção na semana que vem, quando o Supremo Tribunal Federal julgar se Lula poderá exercer a chefia da Casa Civil da Presidência. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pronunciou-se favorável à nomeação, apesar de ter opinado pela manutenção das apurações envolvendo o ex-presidente na primeira instância "para evitar que a nomeação produza efeitos negativos na investigação".

Somadas à fragilidade do governo Dilma e ao avanço do processo de impeachment na Câmara, a demora do Supremo em definir a situação de Lula e a divulgação das conversas privadas do ex-presidente reduziram a margem de manobra do líder petista.

Como resultado, o ex-presidente não conseguiu impedir o desembarque do PMDB do governo e agora vê outros partidos aliados se preparando para deixar a base. Está trabalhando no varejo para arquivar o impeachment de sua sucessora, mas diversos parlamentares já sinalizam que a impopularidade do governo se tornou um fardo grande demais até para Lula carregar.

Essa deterioração do capital político do ex-presidente também é observada em pesquisas de opinião pública. Embora ainda lembrado como o melhor presidente da história do país, Lula apresenta um índice crescente de rejeição. Entre novembro de 2015 e meados deste mês, subiu de 47% para 57% o número de entrevistados pelo Datafolha que se recusariam a votar no ex-presidente novamente em um primeiro turno.

Esse percentual é maior entre jovens de 16 a 34 anos, quem tem maior escolaridade e renda familiar mensal. Mas a rejeição não é desprezível nas parcelas de entrevistados com ensino fundamental (46%), renda familiar de até dois salários mínimos (49%) ou entre dois e cinco salários (63%). Ela chega a 74% entre os que têm renda familiar superior a dez salários mínimos.

Até mesmo uma parte dos que dizem preferir o PT aos demais partidos ou ser contra a interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff também não votaria de jeito algum em Lula nas próximas eleições. Esses percentuais atingiram 10% e 23%, respectivamente. A rejeição ao petista continua maior nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, onde as críticas ao PT são mais evidentes. Mas 42% dos entrevistados no Nordeste e 51% no Norte tomariam a mesma decisão. A divisão também foi verificada em municípios de menor porte, apesar dos bons resultados do PT nos grotões.

Aliados de Lula protestam: há uma conjuração para interditar uma potencial candidatura do ex-presidente nas eleições de 2018 ou até mesmo em um pleito antecipado, caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decida cassar a chapa de Dilma e do vice-presidente Michel Temer. Lula já disse publicamente que há mais de 20 anos tentam desconstruir sua imagem e reputação. Mas talvez seja a hora de seus correligionários avaliarem se não foi o próprio Luiz Inácio quem sabotou Lula. Ainda que a situação do governo Dilma Rousseff pareça mais difícil a cada dia mas não se possa descartar que Lula conseguirá reverter esse cenário, o resultado dessa reflexão pode pelo menos influenciar o futuro do PT.

Crises da Nova República Velha – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Michel Temer é assediado como novo presidente desde a semana passada, quando o PMDB decidiu jogar Dilma Rousseff ao mar. Dados os últimos e frenéticos acontecimentos, o novo presidente corre o risco grande de levar problemas e cadáveres demais para essa Nova República Velha.

Dadas notícias frescas, o novo regime, por assim dizer, pode ser empesteado ainda pelo seguinte:

1) Eduardo Cunha está solto feito um zumbi frenético. Estreou ontem uma chicana nova. Se zanzar pelos palácios da Nova República Velha, levará a peste para lá;

2) Alguns indicadores essenciais da economia ainda pioram em ritmo cada vez mais rápido (emprego, crédito e receita do governo), tem-se visto nos últimos dias. Pior, não há praticamente nada a fazer a respeito até o final do ano, quando talvez a pororoca recessiva arrefeça;

3) Há, sim, pressão grande a favor de uma "transição transada" (Brasil!), algum acordo de salvação de cabeças de políticos sob risco de cadeia, acordo que inclui gente do PT, favor prestar atenção.

No entorno do ainda vice quase presidente, a conversa intensa, porém, é que resta menos de um mês para definir o ministério. Há especulação fortíssima, mas por ora apenas especulação, de Henrique Meirelles na Fazenda, de Nelson Jobim na Casa Civil ou na Justiça (mandando nos dois, de qualquer modo) e de peemedebistas típicos, como Eliseu Padilha e Moreira Franco, em cargos de "articulação".

Meirelles seria uma "ponte do passado com o futuro", diz um próximo de Temer e Renan Calheiros. Representa o "PT racional na economia", veio do PSDB, "fala com todo o mundo", do mercado a vários partidos menores. Apesar da animação meirellista desse senador do PMDB, o assunto ainda parece muito nebuloso.

E o PSDB? Não ficaria com a economia. Além do mais, Temer estaria agastado com a afoiteza dos novos aliados tucanos, que ainda negociam como o novo governo virtual, embora o ritmo dos contatos tenha diminuído, até pelo calendário de feriados e desembarques, e seja conduzido de modo muito mais discreto.

Como é óbvio histórico, essa conversa de ministérios terá muitas idas e vindas até que Temer esteja com a boca na botija. De qualquer modo, arrumar uma equipe de governo apresentável até que não deve ser tarefa muito difícil, dadas as trupes de desclassificados e tolos que Dilma em geral reuniu, nos últimos cinco anos. Não é bem esse o problema.

Temer terá de administrar coisas como Eduardo Cunha, repita-se. Não convém subestimar a revolta do povo, de coxinhas a mortadelas. Apenas 28% do eleitorado espera que Temer faça um governo melhor que o Dilma Rousseff (para 60%, será igual ou pior, está no Datafolha).

Dar fuga a Cunha ou, ainda pior, deixá-lo no lugar de vice vai provocar de cinismo a fúria imediatos. Ontem, no dia em "histórico" do desembarque do PMDB, esse sujeito chicaneava para evitar sua cassação.

Temer agora pretende "preservar-se" enquanto não for votado o afastamento da presidente, dizem próximos do novo poder. Que se ocupe então de não levar o lixo de agora para o seu virtual governo, que assumiria sob desconfiança popular enorme, sob crise econômica incontrolável até o fim do ano e provável protesto na rua, greves ou outros embates.

Caminho estreito - Míriam Leitão

- O Globo

O fato de ser o senador Romero Jucá a comandar a reunião do PMDB que rompeu com o governo tornou a cena ainda mais caricata. Jucá foi líder dos governos FHC, Lula e Dilma. Ser governista é a sua natureza, assim como a do partido. Para piorar, sentado à mesa, estava o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Em nome de que ideias se reúne o PMDB?

Oque está acontecendo, como disse ontem neste espaço, é a dinâmica da fuga de um governo cadente. E não fogem por virtude. Eles tentam escapar da cena do crime, porque acham que assim se salvam, mas a explicação que dão só poderia ser aceita se o país tivesse um surto coletivo de perda de memória. Os peemedebistas querem convencer o país de que não estiveram onde estiveram, não foram sócios do poder, não sustentaram as mesmas medidas.

A cena de ontem lembra um outro momento da história política. Em 1984, ao fim do regime militar, e depois de servi-lo fielmente por toda a ditadura, o senador José Sarney abandonou a presidência do PDS, partido do governo, e fez uma encenação de que estava sendo perseguido pelo regime. Apesar de tudo, o final da história o favoreceu: ele foi para o PMDB e virou presidente.

Na verdade, estão todos nos pedindo que apaguemos os arquivos da memória. O governo, com a ladainha de que há um golpe em andamento e que a democracia está ameaçada por um novo ciclo autoritário, quer trazer de volta um fantasma no qual só eles acreditam ou fingem acreditar. Tentam impor um medo sem qualquer base achando que assim reavivam um trauma do Brasil.

Até fatos recentes, as pessoas públicas querem que esqueçamos. O ministro Nelson Barbosa foi ontem ao Congresso defender o déficit público como algo bom para estabilizar a economia. Ao falar dessa sua crença na capacidade milagrosa do déficit, o ministro explicou que ele é resultado de dois problemas: o aumento forte das despesas obrigatórias e a queda das receitas a partir de 2010. Ora, quem estava no governo em 2010? E quem nos anos seguintes não adotou qualquer medida para resolver o problema? Pelo contrário, o governo Dilma ampliou subsídios e isenções num período de queda da receita. E nada fez para enfrentar o aumento das despesas obrigatórias. Os dois gráficos exibidos pelo ministro mostram o desgoverno — do qual ele fez e faz parte — que nos conduziu à pior recessão da nossa história e à grave crise fiscal que o país atravessa.

O governo Dilma acabou. Nenhum governo se sustenta com índice tão alto de rejeição, depois de mergulhar o país numa crise da qual não sabe como tirar, diante de acusações de corrupção tão graves como as que estão sendo divulgadas e no meio de uma debandada da sua base parlamentar.

A contradição é que o partido que se apresenta como sucedâneo é o sócio do mesmo governo, parceiro nas mesmas transações, co- piloto das mesmas políticas. Evidentemente não é crível como opositor ao governo do qual ainda sequer se desligou.

Do ponto de vista da defesa de novos valores, ontem foi um dia emblemático. Voluntários entregaram ao Congresso dois milhões de assinaturas em uma proposta de medidas contra a corrupção. Elas foram colhidas em todos os estados cumprindo o percentual de cada unidade da federação estabelecido pela Lei. Foi um ano de campanha em que pessoas se mobilizaram no país inteiro no esforço de convencimento de que aquelas ideias poderiam ajudar o Brasil.

A proposta das dez medidas nasceu no Ministério Público Federal de Curitiba após o estudo de casos de países que tiveram sucesso no combate à corrupção. Este não é, claro, um problema só brasileiro. Muitos países, no entanto, conseguiram subir vários degraus na escala da Transparência Internacional. Foi a partir de medidas que deram certo em vários países que se fez a proposta que chegou ontem ao Congresso como projeto de iniciativa popular.

O momento é de extrema gravidade. Não há solução boa no curto prazo, mas é em iniciativas como esta, das dez medidas, que deve repousar nossa esperança. Uma esperança cansada, admito, mas este é o sentido da mudança que devemos perseguir, por mais estreito que seja o caminho. Foi em nome destas ideias que se reuniram dois milhões de assinaturas num tempo breve.

Marginais em ação – Editorial / O Estado de S. Paulo

Lula é o Partido dos Trabalhadores. Sem ele o PT não existe. Para os petistas, a palavra de Lula é lei, mandamento supremo que, como tal, se sobrepõe a qualquer preceito legal, inclusive os estabelecidos pela Constituição federal. Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou por corrupção a cúpula dirigente do PT no rumoroso processo do mensalão, Lula decidiu que as sentenças foram ditadas “sem provas”, por pressão da opinião pública e da mídia. Sua palavra de ordem foi rigorosamente acatada pela manada petista, que, para compensar a “injustiça” praticada contra seus ex-dirigentes, elevou-os à categoria de “guerreiros do povo brasileiro”. A partir de então ficou estabelecido para o lulopetismo o princípio à luz do qual as leis devem ou não ser respeitadas: o interesse de Lula. A partir de então, do ponto de vista legal – e não se trata, neste caso, de nada relacionado com a Lava Jato – Luiz Inácio Lula da Silva optou claramente pela marginalidade, para a qual arrasta todo o seu séquito, inclusive a presidente da República.

Hoje, a grande questão legal em jogo é o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Vários ministros do STF já declararam que o impeachment é um instituto legal previsto pela Constituição federal. Com base nesse princípio, a própria Suprema Corte recentemente estabeleceu os procedimentos a serem observados pelo Congresso Nacional para o julgamento do impeachment da chefe do Executivo. Mas Lula, Dilma e os petistas não querem saber. Para eles, impeachment é golpe. Repetem isso incansavelmente, como um mantra. E é lamentável verificar que pessoas supostamente bem informadas, a pretexto de defender “as instituições democráticas” que Lula demoliu, não se pejam de engrossar o coro.

Em torno do interesse maior de Lula, que é sua própria sobrevivência política, e sob sua coordenação, está em curso uma ampla e agressiva campanha para combater o “golpe” e, a partir do desembarque do PMDB do governo, para tentar desmoralizar Michel Temer, sucessor natural da presidente, cujo mandato está agora por um fio. Essa campanha tem dois focos distintos. No âmbito do Congresso, destina-se a comprar, literalmente, o apoio de parlamentares em número suficiente para barrar o processo de impeachment. Trata-se de uma compra pura e simples, porque a mercadoria à venda é o cargo público a ser pago com um voto contra o impeachment.

No âmbito mais amplo da opinião pública, a estratégia cumprida por determinação de Lula envolve ações que variam das ameaças verbais a investidas no melhor estilo black bloc, como a realizada na segunda-feira na Câmara dos Deputados, e ainda a mobilização dos movimentos sociais que giram na órbita lulista para manifestações de rua, como as programadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O episódio de guerrilha urbana promovido na Câmara dos Deputados teve o patrocínio de juristas e advogados militantes ou simpatizantes do PT e destinava-se a impedir – o termo, por absurdo que pareça, é exatamente este – que o presidente e outros membros da direção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protocolassem o pedido de impeachment de Dilma Rousseff que foi aprovado por 26 votos contra 2 pelo Conselho Federal da entidade. Aos berros, empurrões e tapas, os quadrilheiros de Lula procuraram, em vão, impedir que o documento da OAB fosse entregue. É assim que a turma de Lula defende a democracia.

No plenário do Senado, o líder do PT, Humberto Costa, ameaçou Michel Temer de ser “o próximo a cair” depois de Dilma e garantiu: “Não haverá trégua a esse movimento golpista, nem antes, nem depois, caso ele venha, vergonhosamente, a se materializar”. Por sua vez, um dos coordenadores do MST, Alexandre Conceição, em ato pró-Dilma na Câmara repetiu a palavra de ordem ditada por Lula: “Está ocorrendo uma manobra inconstitucional, um golpe”. E acrescentou que Eduardo Cunha e Michel Temer doravante “não vão ter paz”, para concluir com uma proclamação de enorme alienação: “Para manter os ganhos sociais só há uma saída: manter Dilma na Presidência”. Alguém precisa explicar ao moço quem é que está pondo a perder os “ganhos sociais”.

Os donos da festa – Editorial / Folha de S. Paulo

Com a ausência do vice-presidente Michel Temer, a reunião nacional do PMDB, realizada nesta terça-feira (29) em Brasília, formalizou em clima festivo, e em poucos minutos, a ruptura do partido com o Palácio do Planalto.

A decisão, inegavelmente insólita no histórico de fisiologia da legenda, representa sério baque para as esperanças governistas de barrar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Ainda que existam alguns pontos de dissenso dentro da agremiação –caso dos ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Marcelo Castro (Saúde) e Kátia Abreu (Agricultura)–, eles parecem insuficientes para reequilibrar a balança no Congresso, cada vez mais favorável aos anseios oposicionistas.

Se Temer haverá de ser o principal beneficiário de eventual afastamento de Dilma, ele não foi o único dono dessa, passe o trocadilho, reunião a jato promovida pelo PMDB. A festa também pertencia ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que há vários meses manifesta diuturna hostilidade contra o Planalto.

O paradoxo e a complexidade desta crise política se expressam nessa circunstância. O PMDB apenas cumpre, com a proverbial astúcia de seus membros, o roteiro imposto pela sobrevivência política.

Embora a sigla se associe ao repúdio da expressiva maioria da população, é incontornável a constatação de que, a começar de Cunha, a rebeldia da legenda não a isenta das mais sérias desconfianças.

Os peemedebistas que agora rompem a sociedade mantida durante toda a administração petista intentam uma proeza. Saem do governo como se dele não houvessem participado, fingindo trazer a solução para um problema que não ajudaram a criar. Nada mais falso.

Ademais, enquanto o processo de impeachment corre com celeridade, é natural que a mesma população que quer o afastamento de Dilma se pergunte como o presidente da Câmara se mantém no cargo.

Cunha tem sido o regente de toda a investida oposicionista. Não só articulou diretamente a nomeação do presidente e do relator da comissão especial do impeachment como também atenta para detalhes como a garantia de seu quorum.

Paralelamente, noticia-se que Eduardo Cunha, valendo-se de seu notório conhecimento regimental e de sua influência sobre dezenas de deputados, pavimenta caminhos para escapar ileso do processo que enfrenta no Conselho de Ética.

A cisão entre o mundo político e a opinião pública, concentrada no impeachment, também se manifesta no que tange a Cunha e ao PMDB. Dessa perspectiva, a cerimônia desta terça-feira em nada altera o quadro geral.

Governo inicia guerra pelos votos contra impeachment – Editorial / Valor Econômico

Os dedos de uma mão foram suficientes para contar os minutos que durou a reunião em que os representantes do PMDB aprovaram, por aclamação, o rompimento do partido com o governo. Com frieza, em um passo bastante preparado, o maior partido do Congresso deixará os cargos no governo e buscará ser o polo aglutinador de forças para obter o impeachment da presidente Dilma Rousseff. É o epílogo da longa desagregação da base governista, uma das maiores até hoje, articulada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para sustentar sua sucessora. Pode também ser o fim melancólico da era petista no poder.

Não houve surpresas na ação do PMDB, que até adiou o desembarque do governo, tanto pelas reviravoltas na avaliação da capacidade de Dilma se sustentar por todo o mandato quanto por sua histórica dificuldade de marchar unido em qualquer direção que não seja a de adesão ao poder. O rompimento foi o golpe mais forte, desferido, como previsto, quando impopularidade, baixo apoio político no Congresso e efeitos da Operação Lava-Jato se somassem para deixar o Planalto incapaz de qualquer ação.

A incompetência política do governo Dilma, desde que venceu a batalha pela reeleição, ajudou a cavar a cova na qual se pretende enterrar seu mandato. O Planalto tentou, logo depois do pleito, libertar-se simultaneamente do PMDB e da ala majoritária de Lula, uma trapalhada que deu a presidência da Câmara a Eduardo Cunha, criou atritos com o vice Michel Temer e deixou desconfiados os aliados. A volta atrás foi pior, com Temer fazendo o papel efêmero de bombeiro e sendo boicotado pela equipe de Dilma pelas costas.

A sucessão de erros não se restringiu à esfera política. A presidente aceitou o ortodoxo Joaquim Levy no ministério da Fazenda, mas em nenhum momento mostrou-se convencida de que precisava mudar de política. Atraiu para si então não só a fúria irresponsável da oposição, disposta a rasgar seus princípios para desgastar o governo, mas também a gritaria do próprio PT, inconformado com o desvio dos rumos prometidos na campanha eleitoral.

Tantos e sucessivos movimentos incongruentes exasperaram até Lula, alvo de um movimento, no fim de 2015, para que ingressasse no governo. Naquele que pode ter sido um erro fatal, o ex-presidente aceitou o convite no pior momento da história de Dilma. A improvisação e a pressa agudizaram a crise, após a divulgação de grampos legais autorizada pelo juiz Sergio Moro. Lula tomou posse, não assumiu e se desgastou na manobra. Nem todo seu carisma demoveu Temer de dizer-lhe, em conversa direta, que a saída do PMDB era irreversível. E assim foi.

Apesar de tudo, não é um passeio para o PMDB e para a oposição colocarem em plenário 342 deputados que aprovem o processo de impedimento. Governo e opositores travarão batalha para conquistar um "centrão" bem mais pulverizado, mas representado em maior número de parlamentares por PP, PR e PSD. O governo buscará cativar quantos "avulsos" puder, inclusive no PMDB, em uma jogada que, se for vitoriosa, terá o alto custo político, compatível com a situação desesperadora da administração petista.

A tarefa de remover Dilma não é fácil, mas agora tornou-se um pouco menos difícil. O argumento das pedaladas fiscais não teve força suficiente para arrastar a maioria dos partidos para o impeachment, mas o governo se desgastou a tal ponto que o impedimento será um julgamento puramente político, no qual vale a soma dos votos. Não importa que governadores e prefeitos tenham "pedalado" à vontade até há pouco, nem que políticos do PMDB e da oposição que capitaneam a insatisfação contra a corrupção estejam envoltos até o pescoço em suspeitas de tenebrosas transações. É o que Dilma e o PT chamam de "golpe", embora a disputa esteja toda ela sendo travada no campo legal.

Pelo passado de movimentos a esmo, errados, descoordenação e trapalhadas, é difícil, embora não impossível, que Dilma e o PT vençam essa guerra. Fora do Congresso, a falta de uma saída para a recessão criou um ambiente ruim, propício a permitir a atribuição da culpa de todos os males ao governo, que é responsável pela desarrumação da economia. As ruas estão inquietas e os grupos que querem Dilma fora do governo ganharam força. Segue-se agora um mês decisivo para o futuro do país.

A farsa do ‘ golpe’ construída pelo lulopetismo – Editorial / O Globo

• Aceitar a tese de que seria ilegal o afastamento de Dilma é admitir que o STF participaria de uma ação de cunho político contra princípios da Constituição

Na estratégia de defesa e nas ações de agitação e propaganda do PT e de uma presidente acuada no Planalto, a palavra “golpe” ganha grande relevância. “Golpe” é curto, fácil de pronunciar e adequado para ser gritado em manifestações — mas nada tem a ver com a crise política por que passa o país, na qual estão atolados PT e Dilma, e muito menos com o processo de impeachment da presidente em tramitação na Câmara.

O partido se encalacra a cada avanço da LavaJato, e ontem a presidente sofreu derrota emblemática, com a formalização pelo PMDB da saída da base do governo. Deve puxar uma fila de novas defecções, porque político, em geral, não gosta de ser sócio de derrocadas.

À medida que a campanha pelo impedimento crescia e o juiz Sérgio Moro, com a força- tarefa da Lava- Jato, se aproximava do ex- presidente Lula, a militância criou termos paradoxais, como “golpe constitucional”. Ora, se é golpe, não pode ser constitucional.

PT e aliados marcaram para amanhã, 31 de março, manifestações em defesa do governo e, por óbvio, farão referência ao golpe dado pelos militares, apoiados pelas classes média e alta, há 52 anos.

Pura manipulação, porque o Brasil de 2016 nada tem a ver com o de 1964. A Lava- Jato, em que atuam de maneira coordenada a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal, trabalha sem atropelos constitucionais. E quando a defesa considera haver alguma ilegalidade recorre às devidas instâncias judiciais. Se não tem conseguido muitos êxitos é pela solidez das provas e pelos argumentos do juiz Sérgio Moro. Equivocam-se, então, os que enxergam uma conspiração antidemocrática no combate à corrupção.

Já o processo de impeachment de Dilma, por sua vez, transita pelas instituições sem ilegalidades. Em 64 seria diferente. Acreditar no conto da carochinha do “golpe” é aceitar como verdadeiro o conluio do Supremo numa operação para defenestrar por vias ilegais Dilma do Planalto. Só numa alucinação. Vários ministros da Corte já negaram esta ideia tresloucada: seu presidente, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Luís Roberto Barroso, Celso de Mello, por exemplo. Prova irrefutável da institucionalidade do impeachment é que seu rito foi estabelecido pelo próprio STF, com base naquele seguido contra Collor, em 1992.

Em 1964, houve ruptura institucional, com o esmagamento, pelos militares, das instituições. O golpe farsesco convence apenas desinformados e ingênuos, serve tão- somente aos mal- intencionados — estes, sim, golpistas — que desejam envolver numa espessa nuvem de fumaça as provas e as evidências de grossa corrupção que envolve quadros petistas.

Aceite quem quiser que políticas de supostos benefícios aos pobres podem justificar a roubalheira. Não num país com instituições republicanas sólidas.

terça-feira, 29 de março de 2016

Opinião do dia – Luiz Roberto Barroso

– Impeachment não é golpe, é um mecanismo previsto na Constituição para afastar presidente da República, mas se impõe respeito à Constituição e às normas estabelecidas.

– O que os senhores decidirem vai prevalecer, na Câmara e no Senado. O Supremo não tem pretensão de fazer juízo de mérito nessa matéria.

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Luiz Roberto Barroso é Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do processo do Impeachment. O Globo, 29/03/2016

PMDB rompe com Dilma hoje, e PT já declara guerra a Temer

• Ministro do Turismo, Henrique Alves é o primeiro peemedebista a desembarcar

Líder do governo no Senado, Humberto Costa afirma que Temer “será o próximo a cair”, caso a presidente seja afastada; Lula tenta conquistar dissidentes do antigo aliado e formar uma coalizão informal contra o impedimento

Começou ontem o desembarque do PMDB do governo Dilma. Henrique Eduardo Alves (Turismo) foi o primeiro dos sete ministros do partido a pedir demissão, alegando que o diálogo com a gestão petista “se exauriu”. Hoje, o PMDB formalizará a saída do governo, e o vice Michel Temer atua para que o rompimento ocorra por aclamação na reunião do diretório nacional. O ex-presidente Lula tenta conquistar votos de dissidentes do partido, numa coalizão informal, mas a debandada do governo provoca efeito dominó, atingindo outras legendas da base. No Congresso, o PT reagiu. O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT), disse que Temer “será o próximo a cair”, caso o impeachment seja aprovado. Coordenador do MST, Alexandre Conceição afirmou que o vice, se assumir, não terá paz.

PMDB tenta saída por aclamação; Planalto ainda busca dissidentes

• Ministros poderão ser liberados pelo partido para ficar nos cargos

Júnia Gama, Simone Iglesias, Catarina Alencastro, Eduardo Barreto e Cristiane Jungblut - O Globo

- BRASÍLIA- Com o processo de impeachment caminhando a todo vapor na Câmara, o PMDB, maior partido da base aliada, tenta formalizar hoje, por aclamação, o desembarque do governo em reunião do Diretório Nacional. Ainda há uma divisão a respeito das centenas de cargos ocupados em todos os escalões da República. Ciente da iminente derrota, o Palácio do Planalto ainda trabalha para angariar votos entre os dissidentes, em especial os agora seis ministros do PMDB ( Henrique Eduardo Alves, do Turismo, pediu demissão ontem), e evitar um rompimento unânime que signifique um completo descolamento do governo. A unanimidade dificultaria ainda mais a busca de votos contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ontem, o dia foi intenso em reuniões de ambos os lados. As articulações do vice- presidente Michel Temer, que é presidente do PMDB, foram no sentido de conseguir um desembarque sem resistências na reunião do Diretório Nacional. Para evitar constrangimentos, a decisão foi que os contrários ao rompimento imediato, como os ministros, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e alguns parlamentares, não comparecerão ao evento de hoje. Nem Temer estará presente. Segundo pessoas próximas a ele, o objetivo é ele não ficar carimbado de “capitão do rompimento”.

Rompidos, mas com cargos
O vice-presidente orientou os dirigentes do PMDB a procederem a uma votação rápida, que apenas aprove o desembarque por aclamação, sem entrar em especificidades como prazos para que os ministros deixem os cargos. Isso significa que o partido ficará “rompido” com o governo, mas mantendo os cargos que o Planalto deixar. Ainda assim, como gesto de fidelidade a Temer, Henrique Eduardo Alves decidiu ontem pedir demissão do Ministério do Turismo. A maioria dos ministros, no entanto, não deve acompanhar Henrique Alves neste momento.

Na prática, o desembarque é uma separação entre os aliados que resultará numa posição ainda mais crítica do PMDB na Câmara, em meio ao processo de impeachment. O diretório não decidirá sobre o afastamento de Dilma do cargo, mas, objetivamente, deixará os parlamentares liberados para votarem como quiserem, sem que estejam sujeitos a pressões do Planalto em razão dos cargos que o partido ocupa.

— Temer não quer criar problemas para ninguém. Os mais radicais insistem nesse prazo até o dia 12 de abril para os ministros deixarem os cargos, mas sentimos Temer trabalhando para que não haja constrangimentos — afirmou um ministro que esteve ontem com o vice-presidente.

Temer também se encontrou ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira, e expôs sua posição. Renan era o mais refratário à saída do governo.

O vice-presidente recebeu ainda ministros que resistem em deixar o governo, como o de Minas e Energia, Eduardo Braga, e o de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera. Ambos ouviram de Temer que não há mais o que fazer para mudar a posição do PMDB, mas que não há intenção de criar problemas para quem quiser permanecer no governo. Para Temer, a partir de amanhã, os ministros que ficarem em seus cargos o farão por iniciativa própria.

É justamente nesta brecha que o Planalto aposta para evitar uma debandada geral do partido. O Planalto quer garantir sua base no Congresso com urgência e irá acompanhar os desdobramentos do processo de impeachment para mexer no tabuleiro ministerial. Ontem, a presidente Dilma afirmou aos ministros do PMDB que são bem-vindos a permanecer no governo, mesmo com o desembarque do partido. O Planalto avalia que o PMDB fora do governo não significa que todos os votos da sigla estarão a favor do impeachment.

Lula encontrou Temer
O ex-presidente Lula estará na linha de frente dessas negociações com os dissidentes do PMDB e de outros partidos da base aliada. Ontem, Lula desembarcou em Brasília para acompanhar de perto as movimentações. No domingo, após semanas sendo evitado pelo vice-presidente, Lula conseguiu um encontro com Temer em São Paulo. Segundo relatos de peemedebistas, Temer traçou um panorama da situação interna do PMDB, cujo clima para a reunião do Diretório Nacional é pelo rompimento, e disse ao ex-presidente que não há mais condições de reverter o quadro. Lula perguntou sobre a possibilidade de adiamento da reunião do Diretório Nacional, mas Temer disse que o resultado pró-rompimento já estava consolidado e que não seria mais possível “segurar o partido”.

Uma amostra dessa impossibilidade foi a decisão de ontem do diretório do PMDB de Minas Gerais de romper com o governo Dilma, a exemplo do que já fizera o diretório do Rio.
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PSD libera votos de sua bancada

O PSD do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, liberou a bancada de 31 deputados para votar como quiser no processo de impeachment. 

Começa o desembarque

  • PMDB formaliza hoje saída do governo; Henrique Alves entrega cargo, e Kassab libera bancada do PSD

Silvia Amorim, Isabel Braga, Simone Iglesias, Catarina Alencastro – O Globo

SÃO PAULO E BRASÍLIA- Às vésperas do rompimento do PMDB, marcado para hoje, o governo sofreu ontem dois novos golpes que revelam o agravamento da crise política: o ministro Gilberto Kassab ( Cidades) admitiu publicamente ter liberado a bancada do PSD para votar livremente sobre o impeachment; e o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, entregou no fim da tarde sua carta de demissão, justamente quando o Planalto fazia esforço para manter a fidelidade dos sete ministros peemedebistas em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Apesar dos esforços do Planalto e até de uma conversa do ex- presidente Lula com o vice- presidente Michel Temer, o PMDB formaliza hoje, em reunião do Diretório Nacional, o fim da aliança com o governo. Henrique Alves foi o primeiro ministro do partido a entregar o cargo, e, em carta à presidente Dilma, disse que o diálogo entre a legenda e o governo “se exauriu”.

Com 31 deputados, o PSD também começou a dar os primeiros passos para se afastar do PT e da presidente às voltas com um processo de impeachment. Esse movimento envolveu ações costuradas em Brasília e São Paulo, que ganharam corpo nos últimos dias. Em São Paulo, onde ontem à noite participou de um evento na Assembleia Legislativa, Kassab admitiu que os deputados de sua bancada votarão como quiserem, mas negou a existência de um racha na legenda quando indagado qual seria a voz majoritária no partido, se a favor ou contra o governo.

— Não existe racha. Em partido que libera não existe racha. O PSD é um partido unido em cima de propostas claras para o país. Em algumas circunstâncias, entende que, até pela razão de ser partido novo, precisa da liberação ( da bancada) para que cada um tenha o conforto de votar de acordo com a sua história — disse Kassab.

A decisão foi tomada semana passada, logo depois que o partido permitiu que um de seus parlamentares, Rogério Rosso (PSD- DF), assumisse a presidência da comissão especial do impeachment na Câmara.

O partido ocupa desde dezembro de 2014 o Ministério das Cidades, um dos mais cobiçados da Esplanada. Mas lideranças do PSD dizem que não há condições políticas para o partido impor uma postura favorável ao governo a seus parlamentares. Nas contas de dirigentes da sigla, ao menos metade da bancada apoia hoje o impeachment de Dilma.

— Os parlamentares estão sofrendo uma pressão muito grande de suas bases. Eles sabem que dependem dessas bases nas eleições, e neste momento fica difícil ir contra o que elas pedem — explicou uma liderança do PSD sobre o movialega mento pró- impeachment.

Diferentemente do PMDB, que marcou para hoje uma reunião para anunciar o afastamento do governo, o PSD não tem reuniões marcadas para isso. O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, fundador do PSD, vinha evitando falar publicamente sobre o futuro da sigla. Por isso, o desembarque oficial do governo ainda é considerado algo remoto por lideranças da legenda.

Em São Paulo, uma outra frente do PSD que converge para o descolamento gradual do governo Dilma e do PT deverá ser oficializada nos próximos dias. O PSD terá uma candidatura a prefeito de São Paulo de oposição ao PT. Até pouco tempo atrás, Kassab costuravam uma candidatura neutra na maior cidade do país com o candidato Ricardo Patah. Nos últimos dias, o ministro acertou com o ex-tucano Andrea Matarazzo os detalhes finais da filiação dele ao PSD para sair candidato a prefeito de São Paulo.

— É tudo uma coisa só. São movimentos que indicam a forte tendência de afastamento do PSD do PT — afirmou uma liderança paulista do PSD.

No PMDB, o apoio ao governo está em franca deterioração. Ministro mais próximo de Michel Temer, Henrique Eduardo Alves pediu demissão do cargo de ministro do Turismo no fim da tarde de ontem. Há menos de um ano no comando da pasta, Alves se tornou ministro na “cota pessoal” de Temer em abril de 2015, quando Dilma resolveu agradar ao vice e se indispôs com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL).

Alves assumiu no lugar de Vinícius Lages, afilhado político de Renan. A troca de ministros, à época, foi vista como gesto equivocado de Dilma, que comprava briga com um dos seus principais fiadores no Congresso. Assim que Lages foi demitido, Renan pôs em votação no Senado projeto que tinha forte resistência do Planalto: a mudança de indexador das dívidas dos estados e municípios com a União, que recalculou para menos os débitos.

Antes de entregar a carta de demissão, Alves conversou com Temer. Pesou na decisão a relação com o vice e os 46 anos de filiação ao PMDB. Entre os peemedebistas próximos a Temer, a permanência de Alves vinha causando mal-estar, pela iminência do desembarque. Ontem, na véspera da reunião do Diretório Nacional, Alves decidiu sair.

Na carta entregue à presidente, o peemedebista “coerência ideológica” e diz que o diálogo “infelizmente, se exauriu”.

“Todos sabem que sempre prezei o diálogo permanente. Diálogo este que, lamento admitir, se exauriu. Assim, presidenta Dilma, é a decisão que tomo. Estou certo de que sendo a senhora alguém que preza acima de tudo a coerência ideológica e a lealdade ao seu próprio partido, entenderá a minha decisão”, justifica a demissão.

Henrique Alves afirma, ainda, que a decisão ocorre porque seu partido resolveu seguir outro caminho e que deve ficar do lado de Temer, “companheiro de tantas lutas”: “O momento nacional coloca agora o PMDB, meu partido há 46 anos, diante do desafio maior de escolher o seu caminho sob a presidência do meu companheiro de tantas lutas, Michel Temer”.

A reação do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), ao saber da demissão de Alves do Ministério do Turismo, deu o tom de como o governo atuará para reagrupar a base após o desembarque do PMDB:

— Esse ministério do Henrique Alves vai ser ótimo para redistribuir para quem quer ficar com o governo — afirmou ontem o deputado. (Colaborou Júnia Gama)

Barroso: ‘ O que o Congresso decidir prevalecerá’

O ministro do Supremo Luís Roberto Barroso afirmou a um grupo de deputados da comissão do impeachment que o tribunal não tem pretensão de analisar o mérito do processo, que, para ele, não pode ser chamado de golpe. “O que os senhores decidirem vai prevalecer, na Câmara e no Senado”, disse Barroso. O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, também afirmou: “Golpe é uma expressão que pertence ao mundo da política.” Com os dois, já são cinco ministros do STF a rechaçar a tese do governo de que o impeachment é golpe.

Impeachment cabe ao Legislativo, diz Barroso

• Relator do tema na Corte também defendeu que processo não é golpe, como já fizeram três ministros

Eduardo Bresciani - O Globo

- BRASÍLIA- O ministro do Supremo Tribunal Federal ( STF) Luís Roberto Barroso afirmou ontem que a Corte não tem pretensão de fazer juízo de mérito sobre o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ou seja, de avaliar se houve a prática de crime de responsabilidade. Barroso, que foi relator do tema na Corte, afirmou que o processo não pode ser chamado de golpe, enquanto o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, por sua vez, afirmou que tal expressão não cabe no debate jurídico. Os ministros Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Celso de Mello já se posicionaram publicamente refutando que impeachment possa ser reconhecido como um “golpe”.

Barroso e Lewandowski receberam ontem deputados da Comissão do Impeachment em reuniões abertas à imprensa. O relator afirmou aos deputados que a decisão do STF sobre o rito devolveu o assunto às mãos dos parlamentares e que cabe a eles decidir o futuro de Dilma.

— O que os senhores decidirem vai prevalecer, na Câmara e no Senado. O Supremo não tem pretensão de fazer juízo de mérito nessa matéria — afirmou Barroso. ‘ UM INEVITÁVEL FLA- FLU” O ministro afirmou que impeachment não é “golpe”, que há um “inevitável Fla- Flu” sobre o tema e que cabe à Corte o papel de árbitro da disputa.

— Impeachment não é golpe, é um mecanismo previsto na Constituição para afastar presidente da República, mas se impõe respeito à Constituição e às normas estabelecidas — disse o ministro.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, afirmou que a expressão “golpe”, utilizada pelo governo para contestar o processo de impeachment, pertence ao debate político e não ao andamento jurídico do tema.

— Golpe é uma expressão que pertence ao mundo da política, nós aqui usamos apenas expressões do mundo jurídico — afirmou Lewandowski, após se reunir com deputados da comissão do impeachment.

O presidente ressaltou que a Corte, na decisão que proferiu sobre o impeachment, se limitou a reafirmar a jurisprudência do processo de 1992, que levou à saída do presidente Fernando Collor de Mello. Disse ainda que o objetivo da decisão tomada pelo STF não foi afrontar a forma como a Câmara conduzir o processo, mas colaborar com o andamento dos trabalhos. Ele reconheceu que podem haver novos questionamentos sobre o processo. Afirmou que caso isso ocorra a Corte se posicionará com celeridade. O ministro disse ainda aos parlamentares que é necessário serenidade e trabalhar para evitar conflitos no andamento do processo.

Participaram das reuniões no STF o presidente da Comissão do Impeachment, Rogério Rosso (PSD- DF), o relator, Jovair Arantes ( PTB- GO), e os demais integrantes da mesa do colegiado, Carlos Sampaio ( PSDB- SP), Maurício Quintella Lessa ( PR- AL) e Fernando Coelho Filho ( PSB- PE). O relator ressaltou que a intenção é levar os trabalhos de forma a evitar que o tema retorne para discussão no STF.

— Estamos agindo com isenção e não vamos dar oportunidade de que isso aconteça cometendo qualquer erro premeditadamente — afirmou Jovair.

O presidente da comissão afirmou que sua intenção é continuar levando o trabalho adiante com cautela, serenidade e respeito às instituições.

Na Câmara, o presidente Eduardo Cunha (PMDB- RJ) manteve ontem a decisão tomada pela comissão especial do impeachment na semana passada de não incluir a delação premiada do senador Delcídio Amaral na análise do processo contra a presidente. Em decisão lida no plenário, Cunha afirma que não cabe à Presidência da Casa interferir em decisão tomada pela comissão especial e que ao colegiado definir que documentos irão compor a análise. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB- SP) queria que a delação fosse considerada por entender que ela é “pública e notória”.

Depois de ouvir a decisão de Cunha, o deputado Arlindo Chinaglia ( PT- SP) anunciou que também recorreria à CCJ contra ela, para evitar qualquer manobra de retirada do pedido. A CCJ ainda não foi instalada na Casa e isso só deverá acontecer na próxima semana.

Cunha minimizou as críticas do PT, que pede que a presidente seja novamente notificada em função da retirada dos documentos de Delcídio.

OAB entrega novo pedido de afastamento de Dilma em meio a tumulto

• Briga entre advogados pró- impeachment e defensores do governo tomou a Câmara

Evandro Éboli, Isabel Braga e Manoel Ventura (*) - O Globo

BRASÍLIA - Advogados deixam a Câmara depois de a OAB protocolar novo pedido de impeachment da presidente Dilma. Houve tumulto até próximo do plenário após manifestantes pró- governo tentarem impedir que a documentação fosse registrada. - BRASÍLIA- A entrega pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de novo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ontem, na Câmara, transformou o Salão Verde — principal espaço de acesso do público à Casa — e também o lado de fora em palcos de discussões, batebocas e troca de socos e pontapés entre manifestantes dos dois lados. Dentro da Câmara, foi uma guerra de palavras de ordem. Do lado de fora, os grupos chegaram a brigar fisicamente. Um conjunto de advogados ligados à OAB compunha a claque pró- impeachment. Do lado pró-governo, estavam muitos servidores e funcionários da Câmara e de gabinetes de parlamentares do PT, do PSOL e do PCdoB. A confusão teve início quando o grupo pró- governo tentou impedir o acesso dos integrantes da OAB ao setor de protocolo da Câmara.

— A nossa bandeira jamais será vermelha — gritavam os anti-Dilma, e também provocam os servidores ligados aos partidos de esquerda: — Vão ter que trabalhar! — Lula ladrão! Os pró-Dilma devolviam com gritos de guerra: — A verdade é dura, a OAB apoiou a ditadura! — Fora golpistas! Fora coxinhas! Seguranças da Câmara chegaram a se posicionar entre os dois grupos. O presidente da OAB, Claudio Lamachia, precisou usar um elevador privativo de deputados para acessar o setor de protocolo, fugindo da confusão. Ao deixar a Câmara, preferiu não seguir de carro e foi levantado nos braços de seus colegas da OAB. Lamachia também segurou uma bandeira brasileira, e quando deixou os ombros dos amigos, disse próximo ao ouvido de um integrante do grupo, em conversa presenciada pelo GLOBO:

— Esses filhos da puta acham que vão me intimidar — afirmou. Depois, mais calmo, disse: — Esperamos serenidade, que as pessoas tenham calma, que esse ódio diminua.

Do lado de fora, houve troca de socos e de pontapés. O estudante da UnB Rodrigo Mateus Almeida, que estava junto com um grupo de universitários, se envolveu numa briga com um grupo de pessoas ligadas à OAB, que o acusaram de dar uma voadora em um deles. Rodrigo foi encurralado e, depois de o jogarem ao chão, levou socos e pontapés.

— Eles me agrediram primeiro. Apenas reagi — disse Rodrigo Almeida.

Os manifestantes da OAB disseram que foi o estudante quem começou a confusão.

— Foi você quem começou tudo, deixe de ser mentiroso — disse André Assis, ligado à OAB.

Na petição entregue ontem, a OAB faz duros ataques à atuação da presidente Dilma e a acusa de usar o cargo de forma permissiva e de praticar atos para se manter no poder. A OAB não se restringiu às acusações de supostas irregularidades cometidas por Dilma nas pedaladas fiscais e incluiu trechos da delação de Delcídio Amaral, classificando ainda de “açodada” a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. O documento também cita as gravações dos diálogos de conversa entre Dilma e Lula e a acusa de tentar assegurar fôro ao petista.

“O açodamento da Excelentíssima Senhora Presidente da República na nomeação do senhor Luiz Inácio Lula da Silva (...) destinado a acomodar seu aliado no posto de Ministro de Estado (...) Daí surge o questionamento: qual o interesse público relevante e inadiável a justificar uma edição extraordinária do Diário Oficial da União que teve como único propósito formalizar a nomeação de um ministro de estado? (...) A instituição Presidência da República foi utilizada para a satisfação de interesses outros que não aquele de matiz pública (...)”, diz o documento da OAB.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), foi irônico ao comentar o pedido de impeachment apresentado pela OAB. Antigo desafeto da instituição, Cunha afirmou que a OAB estava “atrasada”, que o novo pedido vai entrar na fila e que não poderá ser aditado ao que está em tramitação.

— São momentos diferentes, circunstâncias diferentes e pessoas diferentes. Agora a Ordem veio um pouquinho atrasada, o pedido de impeachment já está tratando aqui há muito tempo — disse Cunha. (* Estagiário sob a supervisão de Paulo Celso Pereira)

Temer diz a Lula que PMDB deixará a gestão e vai atuar para afastar Dilma

• Vice-presidente, em acordo com Renan Calheiros, definiu que reunião da Executiva decidirá por aclamação pelo rompimento do partido com o governo

Adriano Ceolin, Erich Decat, Ricardo Brito, Vera Rosa e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Diretório Nacional do PMDB oficializa nesta terça-feira,29, seu rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff. A decisão será tomada por aclamação – sem necessidade de votação – após um acordo entre o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os seis ministros deverão ter um prazo até o dia 12 de abril para deixar seus cargos. Henrique Alves, do Turismo, pediu exoneração na segunda-feira, 28, mesmo. Com a decisão, o impeachment ganha ainda mais força.

Junto com Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esforçou-se ao máximo para tentar um adiamento da decisão. No domingo, 27, Lula encontrou-se com Temer em São Paulo. Na conversa, o vice disse que não havia como conter o rompimento, principalmente depois que Dilma nomeou o deputado Mauro Lopes (MG) para a Secretaria de Aviação Civil, passando por cima da moção aprovada em convenção nacional que proibiu o ingresso de filiados ao partido no governo.

“Eu avisei o senhor que esse episódio ia cair muito mal”, afirmou Temer ao petista.

O peemedebista também disse que, antes da decisão de Dilma de enfrentar o PMDB, tinha feito um acordo para que a reunião do diretório da sigla ocorresse somente em 12 de abril. “Mas tudo mudou depois disso e o ambiente agora é completamente contrário ao governo. Não tem jeito. O PMDB vai sair do governo”, afirmou Temer.

Segundo apurou o Estado, Temer também deixou claro a Lula que o PMDB vai trabalhar pelo impeachment da presidente da República. Os dois teriam até iniciado negociações sobre o pós-Dilma, com o vice-presidente se comprometendo a não realizar uma “caça às bruxas” no governo.

Lula ponderou que ainda conversaria com alguns políticos do PMDB, na tentativa de obter votos contra o impeachment de Dilma. Temer disse que era direito dele fazer isso, mas observou que a situação só havia chegado a esse ponto por culpa da própria Dilma. “Ela não ouve e ninguém é consultado para nada. Não há mais capacidade de aglutinação nesse governo”, argumentou Temer.

Na manhã desta segunda-feira, Dilma fez um apelo aos ministros do PMDB para que, pelo menos, não marcassem presença na reunião do diretório do partido. No encontro, segundo os presentes, ela demonstrou “abatimento e conformismo”.

Michel Temer não deve comparecer à reunião desta terça-feira do PMDB. Contudo, não está descartada a presença dele após a divulgação do resultado final da convenção. Aliados do vice querem transformar a reunião em um ato político em favor da sua chegada ao comando do País.

Morte. Os oposicionistas do PMDB apostam que o desembarque do partido é o “começo da morte do governo”. “Não tiveram a capacidade de manter a coalizão com as direções partidárias. Duvido que mantenham no varejo”, disse o deputado federal Lúcio Vieira Lima (BA).

A proposta de se tomar uma decisão por aclamação partiu dos senadores do PMDB, que historicamente são mais afinados com o governo. Ainda no domingo, o líder da bancada do Senado, Eunício Oliveira (CE), pediu a Temer que evitasse uma votação no diretório, que tornaria o racha do partido evidente. À tarde, foi a vez de Renan Calheiros fazer a mesma ponderação a Temer. Fechado o acordo, Henrique Alves divulgou sua saída do Ministério do Turismo.

Eunício participou da conversa entre Temer e Renan. Segundo ele, com a decisão pelo rompimento, os cargos vão ficar à disposição de Dilma. Portanto, não poderão ser mais considerados da cota do partido. Apesar da resistência a deixar cargos, o PMDB do Senado concluiu que não tem como barrar o impeachment se a Câmara aprová-lo.

Supremacia. A consolidação da tese em favor do rompimento deu-se a partir da quinta-feira, quando o diretório do PMDB do Rio de Janeiro aprovou o desembarque. A seção fluminense é a que detém o maior número de integrante no diretório nacional (12). Como o Estado informou, a decisão “contaminou” outros diretórios estaduais. Na segunda-feira, a seção de Minas, a segunda maior do partido com, 10 votos, também oficializou o desembarque do governo por unanimidade.

Para evitar constrangimentos, os integrantes da ala governista deverão faltar à reunião do diretório nacional. O presidente do Senado, por exemplo, decidiu que não deve comparecer. O encontro será presidido pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), que tem trânsito entre as duas alas do partido.

Após desembarque do PMDB, outros aliados dão sinais de saída

• Partidos do chamado ‘centrão’ poderão desembarcar em breve da base do governo no Congresso

Igor Gadelha, Erich Decat, Gilberto Amendola - O Estado de S. Paulo

Com o anúncio do desembarque por “aclamação” do PMDB do governo, partidos do chamado “centrão” da base aliada começaram a dar sinais mais fortes de que também poderão desembarcar em breve.

No comando do Ministério das Cidades, o PSD decidiu liberar seus 31 deputados para votar como quiserem em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. No comando do Ministério da Integração Nacional, o PP cogita fazer o mesmo.

No PSD, a liberação dos deputados teve anuência do ministro das Cidades e presidente do partido, Gilberto Kassab. Dirigentes da legenda preveem que a bancada do partido no Senado, de três parlamentares, também deverá ser liberada.

Pelos cálculos de lideranças do PSD, de 70% a 80% da bancada na Câmara deve votar a favor do impeachment. O cálculo foi feito antes da saída de ministros do PMDB e do anúncio prévio de que o desembarque será aprovado por aclamação.

No PP, o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), admite que não terá como segurar suas bancadas na Câmara e Senado, principalmente após o desembarque do PMDB. Semana passada, o partido já tinha informado Dilma dessa dificuldade.

Pelos cálculos da direção do partido, dos 49 deputados da legenda, pelo menos 15 são declaradamente a favor do impeachment e outros 35 “aguardam” definição oficial da presidência da legenda sobre como votar.

“Só conseguimos garantir os 35 votos para o governo se for para o governo ganhar. Se for para perder, não conseguimos”, afirmou um interlocutor de Ciro. Para a direção do PP, o governo precisa reagir para tentar segurar a base.

Convenção. Na semana passada, parlamentares do PP pró-impeachment entregaram ao presidente do partido uma lista com assinaturas de 22 deputados e de quatro dos seis senadores, pedindo a antecipação da convenção nacional da legenda, para votar o desembarque.

Ciro prometeu marcar uma nova reunião das bancadas para tratar do assunto. O dirigente diz que quer “ganhar tempo” e só deixar uma decisão oficial sobre rompimento para depois que outros partidos anunciarem o desembarque.

Após a reunião do PMDB de hoje, esses partidos do centrão devem se reunir para avaliar como se posicionar. Assim como PP e PSD, o PR deve se reunir para alinhar um discurso. Apesar de mais da metade dos 40 deputados do PR defender o impeachment, o ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, que é do partido, diz que, se depender dele, a sigla “não sai do governo de jeito nenhum”.

“Eu não saio do governo, faço parte do governo Dilma”, afirmou o ministro, acrescentando que vai trabalhar para convencer o partido a ficar na base. Ele ressalta que o PR tem vários cargos no governo Dilma e não seria correto abandoná-lo agora.

No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o PTB só deve tomar qualquer decisão de liberar a bancada ou desembarcar após o deputado Jovair Arantes (GO) apresentar seu relatório na comissão do impeachment.

Apesar de, nos bastidores, a maioria dos 19 deputados do PTB ser pró-afastamento da presidente Dilma Rousseff, a sigla quer evitar que qualquer decisão da bancada levante suspeita sobre o trabalho do relator do impeachment, que é aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Governo quer associar Temer a ‘golpe’

• Plano no Palácio do Planalto será transformar vice-presidente no 'chefe' de estratégia contra Dilma e mostrar sua ligação com Eduardo Cunha

Vera Rosa e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Prestes a perder o apoio do PMDB, o governo decidiu subir o tom e carimbar o vice-presidente Michel Temer, que comanda o partido, como “chefe do golpe” contra a presidente Dilma Rousseff. A ordem no Palácio do Planalto é mostrar a ligação entre Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é réu da Operação Lava Jato, enfrenta um processo de cassação e conduz o processo de impeachment contra Dilma no Congresso.

Com a nova estratégia, o governo espera desconstruir o discurso da ética e da unificação nacional entoado por Temer.

Em reunião, na noite desta segunda-feira, 28, com Dilma e com os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), no Palácio da Alvorada, Lula deu voz de comando para a estratégia de reação. Além de atuar no “varejo” das negociações, o ex-presidente – que teve a nomeação na Casa Civil suspensa – disse que as bancadas do PT na Câmara e no Senado devem partir para a ofensiva nas esferas política, jurídica e econômica.

Tudo está sendo feito pelo Planalto para barrar o impeachment ou, ao menos, adiar ao máximo a votação do processo. Do ponto de vista político, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), acusou Temer de estar à frente de uma conspiração. “O PMDB é o PMDB. Agora, por mais que o vice-presidente esteja no comando dessa operação do golpe, duvido que os senadores e deputados queiram abrir mão dos espaços que têm no governo”, provocou. Na mesma linha, o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), disse que Temer “seguramente será o próximo a cair” se Dilma for deposta pelo impeachment.

O Planalto admite que perdeu a batalha da comunicação, mas, na estratégia do “tudo ou nada”, pretende lançar dúvidas na população e um dos planos é justamente mostrar que Temer e Cunha são “beneficiários” do impeachment. “Essa estratégia estava anunciada desde a semana passada. É muito ruim que as pessoas que hoje governam o Brasil tenham escolhido um caminho que diminui a esse nível a atividade política brasileira. A política deveria se pautar por outros valores”, disse Temer, por meio de sua assessoria.

Recursos. No campo jurídico, os petistas vão tentar questionar no Congresso e também no Judiciário o rito de impeachment adotado por Cunha, assim como o mérito da própria acusação. Desta forma, o PT tentará desacelerar o andamento do processo imposto pelo presidente da Câmara.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) expôs a estratégia, em discurso no plenário, ao afirmar que querem destituir Dilma pela edição de créditos suplementares. Lindbergh destacou, porém, que, se for assim, 14 governadores que fizeram o mesmo também terão de ser cassados. “Concretamente, os senhores não têm resposta. Estão, sim, com um problema jurídico nas mãos. Querem dar um golpe sem base concreta alguma”, reclamou o senador.

Na frente econômica, o PT vai insistir em que um eventual governo Temer representará um retrocesso na área social. A intenção é explorar “pontos fracos” do documento “Uma Ponte para o Futuro”, batizado de Plano Temer, e dizer que um eventual mandato do vice no comando do País acabará com propostas como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.

Acordão. Além disso, petistas também vão bater na tecla de que o PMDB e o PSDB costuram um acordo para salvar Cunha – que teria apenas uma “punição”, mas não perderia o mandato – e aplacar as investigações da Operação Lava Jato.

“É isso que nós precisamos deixar claro para o povo: que o impeachment da presidenta Dilma não é uma resposta à Lava Jato nem uma resposta à corrupção”, disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil. “Aliás, esse acordão do PSDB com setores do PMDB pode significar o fim das investigações da Lava Jato. Afinal, se já tiraram a presidente, já entregaram o PT e o PT já respondeu por todos os crimes de corrupção neste País, vão dizer ‘paramos por aqui’. É isso o que vai acontecer”. / Colaborou Igor Gadelha

Nova eleição será julgamento ético dos partidos, diz Marina

• Para a ex-senadora, eventual impeachment de Dilma não inviabiliza as ações no TSE que pedem a cassação da chapa da petista e do vice-presidente Michel Temer por abuso do poder econômico

Cristina Padiglione - O Estado de S. Paulo

A ex-ministra Marina Silva, principal líder da Rede Sustentabilidade, afirmou nesta segunda-feira, 28, ao Estado que "uma nova eleição possibilitaria um julgamento político, ético e moral dos partido". Segundo ela, o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff não inviabiliza as ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação da petista e do vice-presidente Michel Temer (PMDB) por abuso do poder econômico na campanha eleitoral de 2014. Marina conversou com o Estado após a gravação do Programa do Jô (TV Globo), em São Paulo. A seguir trechos da entrevista:

Impeachment
O que eu tenho dito é que, primeiro, o impeachment não é golpe, está previsto na Constituição. A Constituição acolhe o pedido de impeachment de qualquer cidadão. Obviamente que vai ser analisada a admissibilidade ou não do pedido que está sendo feito. O presidente Cunha, por razões conhecidas, subtraiu toda a parte que tinha a ver com a corrupção da Lava Jato e ficou só com as pedaladas fiscais.

Obviamente que, como ele é indiretamente implicado, talvez por isso ele tenha subtraído a parte da Lava Jato, mas o processo está em tramitação. Os dados trazidos pela Lava Jato têm reforçado politicamente a tese do impeachment, que está em tramitação dentro do Congresso, porque o impeachment é um processo jurídico, mas também é um processo político. Há uma retroalimentação entre as duas coisas. E, no meu entendimento, quanto mais o lado político é reforçado pelo que está sendo comprovado no âmbito da Lava Jato, mais se impõe a tese de que a saída deve ser pelo TSE. Porque os dois partidos ficaram 20 anos no poder praticando juntos essas irregularidades. As diretorias da Petrobrás foram distribuídas entre o PT e o PMDB, havia uma coordenação entre PT e PMDB para o gerenciamento da propina. Como é que agora a gente pode acreditar que uma parte é punida e a outra parte é ungida ao bastião da salvação dos problemas que eles mesmos criaram?

No meu entendimento, o imperativo ético de que, sem querer pressionar obviamente a Justiça, o TSE, com seus sete ministros, analisando os fatos comprovadamente estabelecidos de que o dinheiro do petróleo foi usado para as eleições, devolva a 200 milhões de brasileiros a possibilidade da escolha de um novo presidente para essa transição de dois anos, com base no debate que dê saídas para um repactuamento da crise que estamos vivendo.

Posição da Rede
A Rede, desde o princípio, colocou a seguinte questão: uma vez aberto o processo, nós iríamos firmar nossa posição no debate. Hoje, a maioria dos parlamentares da Rede tem uma posição de votar favoravelmente ao impeachment. Publicamente, o deputado (Alessandro) Molon tem afirmado a posição dele, contrária a essa tese, mas a maioria tem defendido que irão provavelmente votar com o impeachment. Independentemente disso, é fundamental que a gente busque não a saída mais rápida, mas a saída mais efetiva.

E eu tenho insistido na tese, que ainda que haja uma aparente diferença ou contradição entre as duas forças que hoje estão em disputa, tem um ponto em que elas estão convergindo. De um lado você tem o campo tentando estabilizar a crise, o PT, puxando o PMDB, do outro lado você tem um grupo tentando estabilizar a crise com PSDB puxando PMDB, mas, a maioria dos membros dos dois campos, no meu entendimento, tem um ponto de convergência, que é o arrefecimento das investigações. O que, no meu entendimento, assegura uma saída, com maior efetividade, é o processo no TSE, até porque os cidadãos brasileiros querem resolver a crise, mas querem que a Lava Jato dê continuidade ao seu trabalho de passar o Brasil a limpo.

Acho que uma boa parte de pessoas começa a perceber também a importância desse processo via TSE e a gente não tem que ficar preocupado com o que é mais rápido, a gente tem que se preocupar com o que é mais efetivo. Não são sete juízes, sete ministros passando por cima de uma eleição. São sete ministros, juízes do Tribunal Superior Eleitoral, se comprovado que houve de fato dinheiro da corrupção para a campanha, porque a prática, dentro do governo já foi feita pelos dois partidos e isso está nos autos da Lava Jato. Então, que seja cassada a chapa e que se faça uma nova eleição.

Tribunal Superior Eleitoral
Uma coisa não inviabiliza a outra, no meu entendimento. A saída via TSE tem uma diferença em relação ao impeachment. Numa situação como essa, há três possibilidades: a renúncia, o impeachment ou a cassação, se houver comprovação de fraude. A renúncia tem a legalidade, mas não tem a razoabilidade porque a presidente insiste que ela entende até o ato de renúncia como se fosse fraqueza e o processo do impeachment cumpre com a formalidade, mas não cumpre com a finalidade. Se a finalidade é passar o Brasil a limpo, por que se tira de um partido que é igualmente implicado e entrega-se a outra que é igualmente implicado para que ele agora produza o resultado de corrigir o erro que os dois juntos praticaram? O PMDB e o PT praticaram juntos os mesmos crimes.

O processo no TSE cumpre com a formalidade e cumpre com a finalidade porque devolve a 200 milhões de brasileiros a possibilidade de fazer uma outra eleição e com base em um programa, em um debate em cima da realidade, da forma como ela está posta nua e crua, porque agora não há mais como esconder, como foi escondido, em 2014, eleger quem a sociedade eleger quem a sociedade quer eleger.

A estrutura está pronta, que é a estrutura das eleições municipais. E mais: todos os partidos terão a oportunidade de se reapresentar. E mais: todos os partidos terão a oportunidade de se apresentar. Num momento em que há um descolamento tão grande da sociedade, em relação aos partidos, às lideranças políticas, por razões mais que merecidas desse afastamento, ter a possibilidade de se recolocar, fazendo inclusive autocrítica, apresentando um programa, falando a verdade pra população, talvez seja a grande oportunidade de fato haver um aprendizado com todos os erros que foram cometidos durante todos esses anos, todas essas décadas.

Costumo dizer que a Lava Jato está fazendo o julgamento criminal dos que cometeram crimes e uma nova eleição possibilitaria um julgamento político, ético e moral dos partidos políticos, obrigando-os talvez a terem que fazer uma espécie de ajustamento de conduta. As empresas não estão fazendo acordo de leniência? Por que os partidos não se reapresentam para a sociedade, debatendo condutas, fugindo da mentira, do ataque violento que foi feito em 2014? Para agora de fato reconhecer que numa eleição, a partir das ideias que são expostas e das críticas que são feitas, obviamente , quem escolhe é o cidadão. A alternância de poder não é nem um problema. Não se pode ter um projeto maravilhoso de País que só funciona com um grupo. A alternância de poder é a garantia de que a democracia está funcionando.

Num processo de um novo pacto, estabelecido pelo voto do cidadão, com certeza você teria muito mais sustentabilidade para as medidas que precisam ser tomadas nessa transição. O vice-presidente tem apenas 16 ou 17% de crença do cidadão de que fará um bom ou ótimo governo (segundo pesquisa do Datafolha).

Lava Jato
O que eu acho é que tudo o que está sendo trazido pela Lava Jato deve continuar. Em numa campanha, a sociedade poderá ouvir de fato qual é o compromisso que, de fato, dá suporte à Lava Jato. É isso que a população quer. A população não quer construir a casa em cima da areia da corrupção

Estratégia agora será negociar no varejo, afirma Lula

• Ex-presidente deu como certo o desembarque do PMDB do governo e indicou o caminho para barrar impeachment: rachar o ex-aliado

Ricardo Galhardo e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

São Paulo - Um dia depois de se reunir com o vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta segunda-feira, 28, em São Paulo, que o PMDB deve formalizar na reunião de hoje do partido o desembarque do governo Dilma Rousseff.

Segundo Lula, o objetivo agora é negociar com os peemedebistas no varejo para tentar manter o maior número possível de parlamentares da legenda na base do governo. Ele citou seu primeiro ano de mandato, em 2003, quando o PMDB decidiu integrar o governo, mas lideranças de vários Estados se mantiveram na oposição.

“Vai acontecer o que aconteceu em 2003 e vamos ter uma espécie de coalizão sem a concordância da direção. Não sei se é possível mas acho que é”, disse o ex-presidente em entrevista a meios de comunicação estrangeiros ontem de manhã em um hotel em São Paulo.

Pouco depois da entrevista, Lula embarcou para Brasília acompanhado do presidente do PT, Rui Falcão, com a missão de negociar pessoalmente com os setores do PMDB propensos a manter a fidelidade à Dilma.

O objetivo de Lula é minimizar a debandada e evitar que a reunião de hoje do PMDB, na qual o partido decidirá por aclamação o desembarque, sinalize para os demais partidos da base que o impeachment de Dilma se tornou algo inevitável.

Aos jornalistas estrangeiros Lula afirmou que os sete ministros do PMDB não entregariam seus cargos, independentemente da decisão da direção. Poucas horas depois, Henrique Eduardo Alves anunciou sua saída da pasta do Turismo.

Lula falou durante mais de duas horas aos cerca de 30 jornalistas estrangeiros que participaram da entrevista. O ex-presidente tentou passar a imagem de otimismo, disse confiar no “bom senso” dos parlamentares, mas acabou admitindo que será preciso um “esforço muito grande” para evitar que o Brasil repita Honduras e Paraguai, países onde governos de esquerda eleitos diretamente foram derrubados por decisões judiciais.

‘Mosca azul’. O ex-presidente também comentou as investigações da Operação Lava Jato das quais é alvo e sugeriu que o juiz Sérgio Moro está deslumbrado pelo sucesso. “Espero que Deus ponha a mão na cabeça dele. Tudo que se sabe do juiz Moro é que ele é uma figura inteligente, competente, mas como ser humano temo que a mosca azul faça seus efeitos”, disse o petista.

‘Água gelada’. Lula criticou a política econômica do segundo mandato de Dilma. Segundo o ex-presidente, as medidas de ajuste fiscal ajudaram a distanciar Dilma da base petista histórica. “Nós descemos do palanque e fomos tratar de fazer um ajuste que dizíamos que não íamos fazer. Jogamos um balde de água gelada na nossa base, a começar pelo movimento sindical, movimentos de moradia. Essas pessoas ficaram profundamente irritadas”, disse ele.