• Ex-presidente deu como certo o desembarque do PMDB do governo e indicou o caminho para barrar impeachment: rachar o ex-aliado
Ricardo Galhardo e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo
São Paulo - Um dia depois de se reunir com o vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta segunda-feira, 28, em São Paulo, que o PMDB deve formalizar na reunião de hoje do partido o desembarque do governo Dilma Rousseff.
Segundo Lula, o objetivo agora é negociar com os peemedebistas no varejo para tentar manter o maior número possível de parlamentares da legenda na base do governo. Ele citou seu primeiro ano de mandato, em 2003, quando o PMDB decidiu integrar o governo, mas lideranças de vários Estados se mantiveram na oposição.
“Vai acontecer o que aconteceu em 2003 e vamos ter uma espécie de coalizão sem a concordância da direção. Não sei se é possível mas acho que é”, disse o ex-presidente em entrevista a meios de comunicação estrangeiros ontem de manhã em um hotel em São Paulo.
Pouco depois da entrevista, Lula embarcou para Brasília acompanhado do presidente do PT, Rui Falcão, com a missão de negociar pessoalmente com os setores do PMDB propensos a manter a fidelidade à Dilma.
O objetivo de Lula é minimizar a debandada e evitar que a reunião de hoje do PMDB, na qual o partido decidirá por aclamação o desembarque, sinalize para os demais partidos da base que o impeachment de Dilma se tornou algo inevitável.
Aos jornalistas estrangeiros Lula afirmou que os sete ministros do PMDB não entregariam seus cargos, independentemente da decisão da direção. Poucas horas depois, Henrique Eduardo Alves anunciou sua saída da pasta do Turismo.
Lula falou durante mais de duas horas aos cerca de 30 jornalistas estrangeiros que participaram da entrevista. O ex-presidente tentou passar a imagem de otimismo, disse confiar no “bom senso” dos parlamentares, mas acabou admitindo que será preciso um “esforço muito grande” para evitar que o Brasil repita Honduras e Paraguai, países onde governos de esquerda eleitos diretamente foram derrubados por decisões judiciais.
‘Mosca azul’. O ex-presidente também comentou as investigações da Operação Lava Jato das quais é alvo e sugeriu que o juiz Sérgio Moro está deslumbrado pelo sucesso. “Espero que Deus ponha a mão na cabeça dele. Tudo que se sabe do juiz Moro é que ele é uma figura inteligente, competente, mas como ser humano temo que a mosca azul faça seus efeitos”, disse o petista.
‘Água gelada’. Lula criticou a política econômica do segundo mandato de Dilma. Segundo o ex-presidente, as medidas de ajuste fiscal ajudaram a distanciar Dilma da base petista histórica. “Nós descemos do palanque e fomos tratar de fazer um ajuste que dizíamos que não íamos fazer. Jogamos um balde de água gelada na nossa base, a começar pelo movimento sindical, movimentos de moradia. Essas pessoas ficaram profundamente irritadas”, disse ele.
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