sábado, 25 de junho de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

Seria importante que aqueles de boa fé, que professaram, se filiaram e votaram no PT comecem a entender que este partido desmoralizou a atuação dos partidos brasileiros de esquerda com os crimes cometidos contra a administração pública. Nós hoje sofremos um grande processo de desgaste perante a sociedade por culpa de Lula, Dilma e seus aliados.

Assistimos algo meio paradoxal: aqueles que ainda apoiam Lula e Dilma participando de protestos contra as ações da PF, MPF e da própria justiça, defendendo integrantes da legenda que foram denunciados por crimes. O que está sendo apurado pelas autoridades são os roubos praticados contra o Tesouro Nacional. Contra toda a sociedade. É preciso dizer a esses: tenham vergonha. Deveriam, sim, apoiar o combate à corrupção. Mesmo resguardando o passado, é necessário que façam uma autocrítica e admitam que seus dirigentes cometeram erros graves. Essa compreensão é necessária para que possamos, no futuro, firmar um governo que busque maior igualdade, liberdade e maior fraternidade,"
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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS, Portal PPS, Brasília. 23/6/2016

Temer espera queda dos juros neste ano

Em entrevista a jornais, o presidente interino, Michel Temer, defendeu a redução da taxa de juros ainda neste ano e disse ter conversado com o presidente do Banco Central, llan Goldjafn, sobre o assunto. Temer afirmou que a Lava-Jato deve prosseguir, mas ressaltou que o “país não pode ficar dez anos nessa situação”. Para ele, o deputado Eduardo Cunha não atrapalha o governo em nada.

Corte de juros ainda neste ano

• Temer aposta na economia, defende continuidade da Lava-Jato e diz que Cunha não atrapalha

Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - O presidente interino, Michel Temer, disse ontem que espera uma queda na taxa de juros ainda este ano para ajudar no processo de retomada da confiança na economia, mas ressaltou que sua equipe econômica trabalhará de forma “responsável” para diminuí-la , sem “populismo”. Em entrevista aos jornais O GLOBO, “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S.Paulo”, “Valor Econômico” e “Correio Braziliense”, Temer afirmou que já conversou sobre o assunto com o presidente do Banco Central, llan Goldjafn.

A economia tem sido a principal trincheira de Temer, em meio a revezes políticos que culminaram na perda de três ministros por envolvimento ou tentativa de obstrução da Lava-Jato. Temer afirmou que a operação deve ser mantida, “enquanto houver irregularidades”, mas ressaltou que o “país não pode ficar dez anos nessa situação”.

O presidente disse ainda que tem conversado com Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara, e frisou que o peemedebista não o “atrapalha em nada". Ele diz que não pretende se envolver na eleição para a presidência da Câmara, mas que um candidato único seria “útil a todos”.

Temer considerou errada a estratégia da presidente afastada Dilma Rousseff de tentar voltar ao cargo para convocar eleições, “um golpe”. Veja os principais trechos da entrevista:

LAVA-JATO
“Eu acho que ela deve prosseguir enquanto houver eventuais irregularidades. Mas, num dado momento, o país não pode ficar dez anos nessa situação. As instituições estão funcionando de uma tal maneira que há pessoas presas, pessoas processadas, pessoas investigadas. Então, acho que isso deveria dar muita confiança para dizer o seguinte: olha aqui, o Brasil está sendo passado a limpo”.

DELAÇÃO DE SÉRGIO MACHADO
“Eu não me recordo de tê-lo encontrado. E até mandei verificar lá na base área. Não há mais registro desse encontro. Eu tenho até um pouco de pejo, de vergonha de contar isso, mas ele conta que tem uma sala da Presidência, e que eu o puxei para uma salinha. Não existe essa salinha. Até na última vez que eu fui embarcar fui checar. Não tem salinha. Podem ir, façam uma inspeção lá. Mas se eu me encontrei com ele na base área, se eu me encontrei com ele no Jaburu, se eu falei com ele na VicePresidência, é irrelevante. Eu não pedi a ele (R$ 1,5 milhão para campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012. E até seria curioso que eu, tendo contato com tantos empresários, precisasse me servir de uma figura como ele”.

DILMA E GOLPE
“Se ela voltar, talvez pudesse anunciar que vai continuar, porque, voltar para sair é uma coisa curiosa, não é um argumento que a favorece. Interessante, fala-se tanto em golpe, mas as pessoas não sabem o que é golpe. Golpe é a ruptura com a Constituição Federal. Ora, fazer eleição agora é romper com a Constituição”.

JULGAMENTO NO TSE
“Serei obediente às decisões do Judiciário depois de percorrer todas as instâncias necessárias. Tenho que pensar nos meus direitos e já lancei a tese de separação de contas. Este seria o único caso em que a condenação de alguém importa na condenação de outrem. É como se você estivesse dirigindo um carro, atropelasse alguém, fosse condenado, e o sujeito que está no banco ao lado também sofresse os efeitos da condenação”.

EDUARDO CUNHA
“Falo com ele, esteve comigo há umas três semanas. (Fizemos) análise do quadro dramático que ele vive. Mas ele não me atrapalha em nada. Aqui no Brasil temos esse preconceito. Acham que não se pode falar com ninguém. Eu tenho 33 anos de vida pública, falo com todo mundo”.

PRESIDÊNCIA DA CÂMARA
“Eu não vou me intrometer nessa disputa. Seria impróprio. Essas composições internas não alteram eventual apoio ao governo. Se pudesse haver uma composição com candidato único, acho que seria útil para todos”.

PAULO BERNARDO
“Vi a senadora (Gleisi Hoffmann) lamentando que ele foi preso na frente dos filhos. Sob o foco humano, fiquei com muita pena do Paulo Bernardo, sempre tive ótima relação com ele. Agora, não conheço os fenômenos investigatórios e não sei o que levou a essa atuação”.

JUROS
“Os juros têm que ser reduzidos responsavelmente. Há essa ideia, tanto que eu já conversei com o ministro da Fazenda e com llan (Goldjafn, presidente do Banco Central). Não adianta reduzir de 14,5% para 7% só para fazer populismo. Você precisa diminuir responsavelmente. Eu espero que sim (caia esse ano)”.

PREVIDÊNCIA
“Uma pequena diferença entre o homem e a mulher é razoável, por uma razão: a mulher, além do trabalho externo, faz o trabalho interno na sua casa, é mãe, às vezes cuida dos irmãos. (Quanto à idade mínima) eu não tenho objeção”.

AUMENTO DE IMPOSTOS
“Até o presente momento o governo não falou em tributo. Economia é assim. Você têm que fazer readequações, mas fá-las-á no tempo certo”.

MERCOSUL
“Sair do Mercosul não há nenhuma cogitação. O que talvez seja necessário é uma reequação das regras, especialmente tarifárias. Uma das ideias é criar possibilidade maior para países fazerem ações individualizadas”.

Teori envia denúncia contra Lula à Justiça do Distrito Federal

Teori envia denúncia contra Lula para Justiça no DF, e não a Moro

• Janot queria que suspeita de obstrução fosse analisada em Curitiba

Carolina Brígido - O Globo

BRASÍLIA O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou para a Justiça Federal em Brasília o inquérito em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado por tentativa de atrapalhar as investigações da Lava-Jato. Ele teria participado de uma tentativa de silenciar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró no ano passado, quando o executivo estava prestes a firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, queria que as investigações fossem transferidas para a 13ª Vara Federal em Curitiba, onde o juiz Sérgio Moro conduz os processos da Lava-Jato. Mas Teori ponderou que o caso não tem relação direta com os desvios da Petrobras. O ministro também explicou que os supostos crimes teriam ocorrido na capital federal, daí a remessa dos autos para um juiz de Brasília.

Justiça ouve três alvos da Custo Brasil

• Em audiência de custódia, já prestaram depoimento nesta sexta-feira, 24, investigados por esquema de desvios de recursos de empréstimos consignados que envolve ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo

Fausto Macedo, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A Justiça Federal em São Paulo já ouviu nesta sexta-feira, 24, três dos oito acusados presos na Operação Custo Brasil – investigação sobre desvios de R$ 100 milhões por meio de um esquema de fraudes com empréstimos consignados que teria sido montado a partir do Ministério do Planejamento na gestão Paulo Bernardo, em 2010.

Desde as 9 horas da manhã, o juiz federal Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal, que deflagrou a Custo Brasil, está tomando os depoimentos dos investigados em audiência de custódia. Foram ouvidos Daisson Silva Portanova, advogado em Porto Alegre e ligado a Paulo Bernardo, Joaquim José Maranhão da Câmara e Walter Correia da Silva, secretário municipal de Gestão em São Paulo (governo Fernando Haddad).

Servidores vão à Justiça contra fraude nos consignados

• ‘Chorei por mim e por meus amigos. Tem várias maneiras de ser assaltada’

- O Globo

Há 16 anos, a servidora pública Ana Gori vê um empréstimo consignado abocanhar boa parte de seu salário. Uma dívida levou a outra e, pelas contas dela, só termina em 2022. Na quinta-feira, a angústia de Ana aumentou quando viu o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo ser preso na Operação Custo Brasil, da PF, por fraude no consignado contratado por meio da empresa Consist. Ana chorou quando soube que, além dos juros, ela contribuía também com a taxa mensal de R$ 0,70 de propina. Pelas investigações, Bernardo embolsou R$ 7 milhões em propina.

— Eu chorei por mim e pelos meus amigos. Eu estou indignada. Tem várias maneiras de ser assaltada. Para mim, esse cara (Bernardo) é tão bandido quanto o cara que me aponta a arma e leva minha bolsa — desabafou Ana, que trabalha na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), em São Paulo.

O servidor Rogério Expedito, do Ministério Público de Minas Gerais, também paga a taxa de propina embutida nas parcelas do empréstimo consignado, ao qual recorre desde 2000.

Busca na casa de Gleisi e Paulo Bernardo foi legal, diz procurador

Bruno Fávero – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O procurador Rodrigo De Grandis negou nesta sexta-feira (24) que a operação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal no apartamento funcional da senadora Gleisi Hoffmann tenha sido ilegal, como defendeu o Senado.

A PF entrou no local nesta quinta-feira (23) durante a operação Custo Brasil, que prendeu o ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi e que também mora no apartamento.

Segundo o procurador, as buscas realizadas pela polícia se restringiram a itens relacionados a Paulo Bernardo e não tiveram como objetivo investigar a senadora, que tem foro privilegiado.

"O Ministério Público executou a ação de acordo com a Constituição e a lei. A medida recaiu exclusivamente sobre o ex-ministro Paulo Bernardo e documentos pertinentes a ele. O fato de o ex-ministro Paulo Bernardo ser casado com a senadora não confere a ele mesmo foro", afirmou De Grandis.

No mesmo dia da operação, o Senado entrou formalmente no STF (Supremo Tribunal Federal) com um pedido de nulidade da busca, alegando que a decisão de autorizar ou não o procedimento deveria ser dada pela corte, e não por um juiz de primeira instância.

O PT assaltou até funcionários públicos endividados

• A prisão de um ex-ministro de Lula e Dilma mostra que nada estava imune à mão invisível da corrupção nos governos do partido

Rodrigo Rangel - Veja

A cena acima resume a realidade de um partido político que surgiu como esperança de renovação, apresentou-se como baluarte da ética e terminou como uma organização criminosa, cercado pela polícia. Ainda estava escuro na quinta-¬feira passada quando homens do Grupo de Pronta Intervenção, a Swat da Polícia Federal, isolaram a rua onde funciona o Diretório Nacional do PT, no centro de São Paulo. Os agentes estavam cumprindo um mandado judicial, em busca de provas contra uma quadrilha que, durante cinco anos, embolsou 100 milhões de reais em mais um esquema de corrupção. Nada a ver com os intrincados desfalques contra a Petrobras, a Eletrobras, os Correios, a Infraero, os fundos de pensão das estatais e sabe-se lá o que mais.

Delator de Paulo Bernardo intermediou negócio milionário após viagem oficial com Lula à África

• “Chambinho” estava na comitiva oficial do ex-presidente, fez contato com a Engevix, uma das empreiteiras do petrolão, e, junto com o deputado petista José Guimarães, também recebeu propina

- Veja

O delator que levou à prisão do ex-ministro Paulo Bernardo integrou a comitiva do então presidente Lula em uma viagem à África em 2007. Nos depoimentos prestados como parte do acordo de delação premiada firmado como o Ministério Público, o ex-vereador petista Alexandre Romano, o Chambinho, contou que nessa viagem conseguiu abrir uma nova frente de negócios - àquela altura, graças à proximidade com petistas graúdos, como o ex-tesoureiro Paulo Ferreira, ele já intermediava facilidades no governo em troca de propinas para os políticos que o ajudavam.

Chambinho contou que, nessa viagem com Lula, ele conheceu executivos da empreiteira Engevix que mais tarde o acionaram para facilitar a obtenção de um empréstimo de 260 milhões de reais no Banco do Nordeste, presidido àquela altura por um apadrinhado do deputado José Guimarães (PT-CE). A Engevix queria o dinheiro para a construção de três usinas. Chambinho se prontificou a ajudar. Ele diz que procurou o próprio José Guimarães em seu gabinete na Câmara. Na conversa, sem rodeios, Guimarães quis logo saber quanto levaria no negócio. "Como você me ajuda depois?", perguntou o deputado, segundo o relato de Chambinho.

O casal encrenca

• Acusados de comandar esquema que desviou R$ 100 milhões dos cofres públicos, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann entram no rol de ex-ministros petistas carimbados com o rótulo da corrupção. Na última semana, Bernardo foi preso, enquanto que o processo contra sua mulher subiu ao STF

Pedro Marcondes de Moura - IstoÉ

Quando era criança em Curitiba, a pequena e espevitada Gleisi Hoffmann, ainda de madeixas rebeldes, ouviu de seu avô um ensinamento daqueles válidos para a vida toda e que se ajustou como uma luva à situação vivida por ela e pelo marido, o ex-ministro petista Paulo Bernardo, na última quinta-feira 23. Dizia ele, em tom professoral: se a campainha toca perto do cantar do galo, ou é vida nova ou é encrenca. Eram pouco mais de seis horas da manhã quando quatro homens bateram à porta do apartamento funcional do Senado em que o casal mora em Brasília. Se não estavam lá para anunciar o nascimento de ninguém, problemas à vista, conforme vaticinara décadas antes o avô da agora senadora Gleisi Hoffmann. Batata! Os agentes da Operação Custo Brasil desembarcaram no imóvel para comunicar a prisão preventiva do ex-ministro Paulo Bernardo.

Ato contínuo, vistoriaram o apartamento em busca de mais provas que ligassem os dois a um megaesquema de corrupção: o que desviou cerca de R$ 100 milhões de reais de contratos fechados pelo ministério do Planejamento entre 2010 e 2015, nas gestões Lula e Dilma. Segundo o juiz Paulo Bueno de Azevedo, Bernardo, por ser influente e dono de força política, foi detido porque poderia agir para atrapalhar as investigações e evitar que o dinheiro desviado ficasse fora do alcance de Justiça. De acordo com os investigadores, o petista, que tinha medo de ser preso há mais de um ano, efetuou depósitos em previdência privada para blindar os valores de possíveis ordens de bloqueio. Gleisi escapou de uma encrenca maior.

MPF investiga outros 28 investimentos de fundos de pensão e já tem 7 ações sobre Postalis

• Os investimentos foram realizados pelos fundos Previ, do Banco do Brasil, Petros, da Petrobras, e Funcef, da Caixa Econômica Federal (CEF)

Antonio Pita - O Estado de S. Paulo

RIO - O Ministério Público Federal (MPF) já investiga outros 28 investimentos suspeitos de irregularidades realizados pelos fundos de pensão, além do caso Galileo, alvo de uma operação da Polícia Federal nesta sexta-feira. Os investimentos foram realizados pelos fundos Previ, do Banco do Brasil, Petros, da Petrobras, e Funcef, da Caixa Econômica Federal (CEF). Há ainda sete procedimentos de investigação sobre o Postalis, concentrados em Brasília. Na última terça-feira, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, determinou um reforço na apuração, com a designação de três procuradores para acelerar as investigações.

Os investimentos sob investigação foram selecionados após indícios de irregularidades nos valores envolvidos. As investigações estão sendo conduzidas a partir de informações levantadas com outros órgãos de controle e investigação.

Sinal verde para a Lava Jato - Roberto Freire

- Diário do Poder

Mais uma narrativa criada pelo lulopetismo com o intuito de confundir a opinião pública acaba de ser sepultada pela realidade. Ao contrário da falácia propagada pelos defensores de Lula e Dilma Rousseff, as investigações da Lava Jato não sofreram nenhum tipo de ameaça desde que o presidente interino Michel Temer assumiu o cargo. O que se percebe, aliás, é o apoio total do governo à força-tarefa em Curitiba, ao Ministério Público Federal e ao juiz Sérgio Moro.

A deflagração da Operação Custo Brasil, uma espécie de desdobramento da 18ª fase da Lava Jato, revelou aos brasileiros o excelente trabalho conduzido pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo, indicando que outros Moros e novas forças-tarefas surgirão em todo o Brasil como legado benfazejo da Lava Jato.

Esqueceram do Brasil - Cristovam Buarque

• Para beneficiar cada grupo, sacrificamos todos e o país

- O Globo

Nesta semana, ouvi um professor chileno dizer: “Tenho pena do Brasil”. Esta frase me incomodou mais do que as matérias sobre as tragédias brasileiras destes tempos sombrios. Ainda mais quando imaginei a pergunta que ele não fez: “Como vocês deixaram o Brasil chegar a esta situação?” Como senador, senti constrangimento por esta pergunta não feita, e pela resposta que daria: “Há décadas, os políticos não colocam o Brasil como o personagem central de suas decisões”.

O Brasil tem sido preocupação de sociólogos, literatos, jornalistas, economistas, mas não dos políticos. A Lava-Jato está mostrando que alguns usam a política para o enriquecimento pessoal; outros, para financiar campanhas e continuarem com seus mandatos; os melhores fazem política servindo a desejos imediatos de grupos específicos dos eleitores que os apoiam; as leis são feitas para beneficiar trabalhadores, empresários, aposentados, servidores públicos, consumidores, mas raramente ao Brasil como um todo, no longo prazo.

Desentendimento e dogmatismo - Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

Cada época tem um conjunto de características que demarcam o modo como se desenvolvem as práticas sociais em cada campo específico de atuação.
Na política, a marca é a crise: nenhum sistema funciona bem, mais desagrada que agrada, cria mais problemas que soluções. Crise de governabilidade, crise de representação, crise da democracia, crise dos partidos – as etiquetas são muitas. Os governos estão na berlinda, seja de que partidos forem. Governam pouco.

Na economia, muita coisa gira em torno da flexibilidade. A localização perdeu relevância. Deve-se organizar a partir de planos elásticos, trabalhar de modo polivalente, evitar estoques, incrementar a produtividade mediante desproteção do trabalho e inovação tecnológica, explorar as vantagens da rotatividade, do consumo conspícuo e da substituição incessante de bens, seja por pressões da tecnologia, seja em decorrência da obsolescência programada.

Na universidade, fala-se sobretudo em produtividade: os incentivos são para que se faça mais em menos tempo, se conquiste sempre mais visibilidade, se publique sem interrupção e se frequente um número sempre maior de eventos.

Esquerda: Uma categoria, ainda, útil? – Elimar Pinheiro do Nascimento (*)

Revista Será? (PE)

Incitado por um jovem estudante que, coisa rara, se interessa por política e sofre amarguradamente o dilema de qual posição política adotar, resolvi algumas poucas linhas na esperança de lhe ajudar, e com ele outros que tenham o mesmo interesse. Em particular abordo o seu dilema de ser ou não de esquerda! Há vinte anos não teria dúvidas. Hoje penso diferente. As certezas de vinte anos foram substituídas por dúvidas. De toda forma tanto ontem quanto hoje faço esforço para compreender o contexto social em que nos encontramos e qual a melhor posição para criar uma sociedade mais racional, mais justa, mais democrática e hoje acrescento, mais sustentável.

A força da tradição, da inércia social, de repetirmos aquilo que aparentemente perdeu seu sentido, é maior do que imaginamos. Não adianta ler, entender ou concordar com Mayer (A força da tradição), pois ela é mais presente, e mais forte, do que supomos. Nos apegamos às formas antigas e consolidadas de pensar de maneira persistente, sem percebermos que o mundo mudou e que muitas das ideias antigas não têm mais validade, não possuem mais pertinência para explicar a sociedade na qual vivemos. Em parte, isso se deve a nossa ojeriza ao novo. Nossa resistência em sairmos de nossa posição de conforto. Conta igualmente a nossa capacidade de autoengano, para mantermos a zona de conforto em que fomos acostumados. Um exemplo é o uso da categoria política de esquerda, criada no final do século XVIII entre os franceses. O mundo deu mil voltas, é completamente distinto do final do século XVIII, contudo, continuamos a usa-la. Em um contexto tão diferente como o que vivemos atualmente será que ainda tem sentido?

Ganância sem limites - Merval Pereira

- O Globo

Duas operações policiais distintas, mas envolvendo figuras de proa de nosso mundo político, demonstram a que ponto chegou a corrupção no país, atingindo as camadas mais desassistidas e, também, a classe média baixa da população, justamente as que o governo petista dizia proteger com suas políticas sociais.

Já havia um caso anterior com a quebradeira da cooperativa Bancoop, dirigida pelo indigitado tesoureiro petista João Vaccari Neto. Os apartamentos da maioria dos cooperados não ficaram prontos, mas os de Lula e sua turma, sim.

Além do mais, Lula foi flagrado em um comentário preconceituoso sobre seus seguidores mais afetados pela crise. Disse que o famoso tríplex do Guarujá mais parecia um apartamento do programa Minha Casa Minha Vida. Não servia para ele.

Remédios amargos - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

Diz o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), que só remédios amargos conseguirão dar um jeito nas crises econômica, política e ética enfrentadas pelo Brasil. São enfermidades, concluiu o ministro, e já estão sendo tratadas.

Teori não disse. Mas um desses remédios amargos vem sendo ministrado justamente pelo STF ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ministros da Corte admitem que nunca um político foi tratado ali como Cunha vem sendo tratado. E não é um ato gratuito não. É porque há entre aqueles magistrados uma eterna desconfiança a respeito de Cunha. Eles suspeitam até mesmo de que seus gabinetes de trabalho tenham sido grampeados a mando do presidente afastado da Câmara.

Quando democracias erram - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

O povo falou e falou errado. Até onde a vista alcança, o Brexit,a saída do Reino Unido da União Europeia, causará mais prejuízos econômicos e políticos para os britânicos e para a Europa do que trará soluções. Mas, como nas democracias a vontade popular é soberana, só resta agora aos dirigentes acertar os termos da ruptura, tentando reduzir os danos.

Por que democracias às vezes levam a decisões objetivamente erradas? O problema, como sempre, é a natureza humana. Quando lidamos com características indesejáveis que se distribuem aleatoriamente pela população, como o pendor para o radicalismo, as democracias até se saem bem. As posições mais extremas do espectro ideológico tendem a anular-se, resultando em regimes cuja marca é a moderação e a responsabilidade. Não há registro de guerra entre dois países democráticos.

O que ronda a Europa - Míriam Leitão

- O Globo

Um terremoto tem sempre choques que vêm depois e que são, ao mesmo tempo, certos e imprevisíveis. Sabe-se que os novos tremores virão, mas não se sabe a intensidade. Assim estava ontem o Reino Unido depois da decisão de deixar a União Europeia, sem saber exatamente de onde viria o perigo. O primeiro recado de diversas autoridades do bloco foi que os britânicos saiam logo, porque este não é um divórcio amigável.

A estratégia que resta aos líderes europeus é endurecer com o Reino Unido. Se o país tiver ao mesmo tempo a vantagem da separação, e um custo baixo, isso será um incentivo para outras saídas. Será o começo do fim da Europa como nós a entendemos hoje. Além do mais um processo muito demorado alimentará a incerteza. Por isso, as lideranças da União Europeia querem que o processo seja rápido — “as soon as possible”, como vários disseram ontem — apesar de o artigo 50 do acordo que formalizou a união dar dois anos para a negociação da saída.

Blocos e lógicas - Igor Gielow

- Folha de S. Paulo

O estrondoso sismo político e econômico decorrente do referendo que vai tirar o Reino Unido da União Europeia ecoará por décadas. Efeitos deletérios à parte, ele apenas confirma a exaustão do bloco por suas contradições internas.

É uma pena. Como ideia, a UE é um avanço civilizatório, por buscar funcionalidade de democracias a ela associadas, evitando assim guerras, se só um argumento for necessário.

Formação de quadrilha - Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Hebe Mattos, Lilia Schwarcz, Laura de Mello e Souza e João José Reis, entre tantos outros, participam do movimento Historiadores pela Democracia, que foi ao Alvorada prestar solidariedade à presidente afastada. Eles anunciam um livro coletivo intitulado "O Golpe de 2016: a Força do Passado". Todos os cidadãos têm o direito de se manifestar sobre a cena nacional. A iniciativa, porém, viola os princípios que regem o ofício do historiador.

Não se tece a narrativa histórica em bando, sob uma baliza política coletiva. O historiador indaga o passado, formulando hipóteses que orientam a investigação e reconstrução da trama dos eventos. Do diálogo entre narrativas historiográficas distintas nasce alguma luz. Mas não é luz que eles buscam.

Visão conspiratória e vitimização lulopetistas – Editorial / O Globo

• O PT, mais uma vez, deve se explicar diante da descoberta de outro caso de corrupção no primeiro nível da administração de seu governo

Desde março de 2014, quando foi lançada a Operação Lava-Jato, casos de roubalheira de lulopetistas e aliados se concentraram no grupo Petrobras e em alguma outra empresa pública. Golpes dados contra o Erário na administração direta, na manipulação de verbas de ministérios, de que os desvios no Denit (Transportes) são grande exemplo, haviam ficado para trás.

Mas, vê-se agora, na Operação Custo Brasil, na qual foi preso o ex-ministro Paulo Bernardo, que a corrupção no primeiro nível da administração federal continuou campeando. O esquema montado no Planejamento, com Paulo Bernardo, é prova disso. Por ele foram ordenhados, segundo o MP de São Paulo, R$ 100 milhões em cobranças indevidas de servidores federais clientes de crédito consignado. Parte foi para o PT, sobraram R$ 7 milhões para o ex-ministro, e assim por diante.

Canal chapa-branca – Editorial / Folha de S. Paulo

Era de prever e foi previsto neste espaço: a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) nasceu e cresceu como aparelho de propaganda a serviço do governo de turno. Passou da hora de pôr termo a mais esse desperdício de dinheiro público.

Acreditou quem quis na fábula de que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criava em 2007 uma BBC brasileira. A empresa teria por núcleo uma emissora de televisão pública —a TV Brasil— e independente do Executivo.

Um lance de alto risco – Editorial / O Estado de S. Paulo

A primeira e mais agourenta consequência do Brexit, a decisão britânica de abandonar a União Europeia, é o estímulo a grupos de extrema direita, xenófobos e racistas. O resultado da votação no Reino Unido foi logo aplaudido pelo pré-candidato republicano às eleições americanas, Donald Trump, e pelo político francês Florian Philippot, vice-presidente do partido Frente Nacional, da líder direitista Marine Le Pen. O lema Britain First (Grã-Bretanha em Primeiro Lugar) foi rapidamente apropriado pelo populista do momento nos Estados Unidos, ao defender, ontem, a rejeição do “governo da elite global” e a consideração dos cidadãos americanos “em primeiro lugar”. Philippot desafiou o presidente da França, François Hollande, a propor um plebiscito semelhante ao realizado no Reino Unido.

O risco de ruptura da União Europeia pode parecer muito limitado, neste momento, mas de nenhum modo é desprezível. Líderes de outros países lamentaram a vitória do Brexit, mas tomaram os números da votação como confirmação de falhas importantes no funcionamento do bloco.

Adiamento – Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

Paulinho da Viola - Filosofia (Noel Rosa)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Opinião do dia – Merval Pereira

Os desdobramentos das investigações ligadas à Operação Lava-Jato em diversos pontos do país demonstram que há uma tendência nova no Judiciário brasileiro, o que abre caminho para uma superação de antigos vícios e costumes políticos no país.
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Merval Pereira é jornalista. ‘Os Moros agem’, O Globo, 24/6/2016

Dinheiro de consignado irrigava caixa do PT

• PF prende Paulo Bernardo, ex-ministro dos governos Lula e Dilma. Esquema desviou R$ 100 milhões

Petista é acusado de receber R$ 7 milhões desviados de taxas cobradas de servidores que contraíam empréstimos; esquema, que arrecadou R$ 100 milhões, abastecia o partido, alvo de buscas em SP

A Operação Custo Brasil, derivada da Lava-Jato, prendeu Paulo Bernardo, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, por envolvimento em esquema que desviava taxas pagas por servidores em empréstimos consignados. Em cinco anos, R$ 100 milhões irrigaram o caixa do PT e de políticos. A fraude usava empresas de fachada. Também são investigados o ex-ministro Carlos Gabas e o jornalista Leonardo Attuch, do blog Brasil 247. No Planalto, a avaliação é que a prisão representa uma “pá de cal” nas pretensões de volta ao poder de Dilma.

Fraude consignada

• Desvio de taxa paga por servidores em empréstimos leva à prisão ex-ministro de Lula e Dilma

Renato Onofre e Cleide Carvalho - O Globo

SÃO PAULO - Em desdobramento da Operação Lava-Jato, o ex-ministro Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), foi preso em Brasília acusado de movimentar R$ 7 milhões num esquema de propina organizado no Ministério do Planejamento, pasta que ele comandou. O petista é peça central do desvio de R$ 100 milhões cobrados de milhares de servidores federais que tomaram empréstimos consignados — descontados na folha de pagamento — entre 2010 e 2015. A operação de ontem foi batizada de Custo Brasil, referência ao prejuízo que a corrupção causa aos trabalhadores.

De real em real, milhares de servidores bancaram propinas a grupo de Paulo Bernardo, diz Receita

• Funcionários públicos que tomaram empréstimos consignados pagaram taxa quatro vezes maior à que deveria ser descontada em folha

Julia Affonso, Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO -Milhares de servidores públicos que usaram o crédito consignado, entre 2010 e 2015, em contratos ligados ao Ministério do Planejamento, “bancaram propina” ao grupo do ex-ministro Paulo Bernardo, que comandou a Pasta até 2011. Os funcionários que tomaram empréstimo deveriam ter pago no máximo R$ 0,30, mensalmente, por um serviço de gerenciamento e controle feito pela empresa Consist Software Limitada, mas acabaram arcando com R$ 1,25, valor quatro vezes maior ao que deveria ser descontado em folha.

“O dinheiro começa do servidor público que fez o empréstimo consignado para a mão dessa organização criminosa que usava esse dinheiro da corrupção”, destaca o superintendente-adjunto da área de Fiscalização da Receita Federal em São Paulo, Fábio Ejchel.

Paulo Bernardo e PT se beneficiaram de desvios no Planejamento, diz PF

Bela Megale, Wálter Nunes – Folha de S. Paulo

SÃO  PAULO - O ex-ministro Paulo Bernardo, preso nesta quinta-feira (23), e o PT (Partido dos Trabalhadores) teriam se beneficiado de contratos do Ministério do Planejamento que perduraram de 2010 a 2015, segundo os investigadores da Polícia Federal, Ministério Público Federal de São Paulo e Receita Federal. Cerca de R$ 100 milhões foram desviados na pasta nesse período.

O dinheiro corresponderia a 70% do contrato de R$ 140 milhões que a empresa de tecnologia Consist tinha com o ministério para gerenciamento e controle de créditos consignados para servidores públicos federais.

Desses 70%, o então ministro do Planejamento Paulo Bernardo se beneficiava de 9,5% do montante, disseram os investigadores. O valor teria caído pela metade em 2011, quando ele deixou o ministério, e, em 2012, teria sido reduzido para a margem de 2%.

Operação da PF em São Paulo recoloca PT no foco da Justiça

Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado – Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Ex-ministro do Planejamento (2005-2010) e das Comunicações (2011-2015) nos governos Lula e Dilma Rousseff, Paulo Bernardo foi preso preventivamente ontem durante a Operação Custo Brasil sob suspeita de receber ao menos R$ 7 milhões de um total de R$ 100 milhões que teriam sido desviados do Ministério do Planejamento entre 2010 e 2015, em esquema de terceirização de crédito consignado para o funcionalismo público federal por meio da contratação da empresa Consist Software, em 2009.

A investigação aponta que a licitação para o sistema de gestão dos empréstimos na base da folha de pagamento de mais de 2 milhões de servidores públicos federais (incluindo aposentados e pensionistas) foi direcionada à Consist, em acordo que envolveu também os ex-tesoureiros do PT Paulo Ferreira (que teve prisão decretada e é casado com a ex-ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma, Tereza Campello) e João Vaccari - que cumpre execução provisória de pena de 15 anos e quatro meses decorrente da Operação Lava-Jato.

Prisão debilita defesa de Dilma em comissão do Senado

• Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, é uma das integrantes da ‘tropa de choque’ da presidente na Casa

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A prisão preventiva do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo trouxe uma preocupação extra ao núcleo político ligado à presidente afastada Dilma Rousseff. Paulo Bernardo é casado com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-SC), que integra a tropa de choque de Dilma e é um de seus principais braços de defesa na comissão de impeachment no Senado.

A prisão dele, na avaliação de interlocutores de Dilma, enfraquece sua defesa durante os trabalhos e poderá selar seu destino na comissão. A presidente precisa de 28 votos de senadores para conseguir se manter no cargo – até ontem, o núcleo petista contabilizava 22 votos. O placar do Estadão aponta 18 votos a favor de Dilma.

Planalto vê ‘pá de cal’ para volta de Dilma; PT suspeita de manobra

• Governo Temer tem alívio após queda de ministros; petistas voltam ao foco

Cristiane Jungblut, Gabriela Valente e Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - Em momento crucial para a definição dos votos dos senadores em relação ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo causou ontem indignação no PT, que estranhou o fato no momento em que denúncias de corrupção atingiam o governo interino, e foi considerada pelo governo de Michel Temer como a “pá de cal” para as pretensões de volta de Dilma.

Enquanto no Planalto o clima foi de alívio, a nova operação abateu os petistas, pois atingiu indiretamente a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), esposa do ex-ministro preso e linha de frente na defesa de Dilma na comissão do impeachment. O comando do PT e Gleisi atribuem as prisões a uma operação para desviar o foco de delações envolvendo a cúpula do governo Temer, anular a possibilidade de mudança de votos no Senado e de criminalizar o partido.

Isolada no Palácio da Alvorada, onde aguarda o fim de seu julgamento, Dilma sumiu ontem das redes sociais e passou o dia buscando detalhes da prisão para entender os motivos.

Terceiro ex-tesoureiro do PT é alvo de operação

• Paulo Ferreira teria tentado atrapalhar investigações, segundo MPF

Dimitrius Dantas*, Jailton de Carvalho, Simone Iglesias e Eduardo Barretto - O Globo

Com a deflagração da Operação Custo Brasil, Paulo Ferreira, tesoureiro do PT de 2005 a 2010, tornou-se o terceiro ex-tesoureiro da sigla a ser alvo da Lava-Jato ou de um desdobramento dela. O sucessor, João Vaccari, está preso há mais de um ano. Réu, Delúbio Soares, que o precedeu, foi condenado no mensalão.

No pedido de prisão de Ferreira, os investigadores do MPF de SP afirmam que ele tentou “afinar o discurso” no caso Consist com Daisson Portanova, um dos seus assessores e alvo da operação ontem. A combinação de versões seria tentativa de atrapalhar as investigações.

Renan reclama ao STF de ação da PF no apartamento de Gleisi

• Senado também questiona no CNJ atuação de juiz; tucano apoia queixas

Cristiane Jungblut e Eduardo Bresciani - O Globo

O presidente do Senado, Renan Calheiros, questionou o STF sobre a legalidade da ação da PF, ordenada por juiz de primeira instância, no apartamento funcional ocupado pela senadora Gleisi Hoffmann, que tem foro privilegiado. Ela é casada com o ex-ministro Paulo Bernardo, preso ontem. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra a ação da Polícia Federal no apartamento funcional da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), onde ela mora com o marido Paulo Bernardo. Renan alega que a operação no imóvel foi autorizada por um juiz de primeira instância, e não pelo STF.

O ministro Celso de Mello, do Supremo, já foi sorteado relator da reclamação do Senado. A queixa dos petistas é que, como se trata de uma residência oficial do Senado, o Supremo teria de ter sido consultado. O objetivo do recurso é anular as provas obtidas na busca e apreensão e trazer o processo para Brasília, segundo integrantes da Mesa do Senado. A Polícia Legislativa do Senado acompanhou a ação.

Operação Custo Brasil é filhote da Lava Jato em SP

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Operação Custo Brasil, deflagrada nesta quinta (23), nasceu da 18ª fase da Operação Lava Jato, conhecida como Pixuleco 2.

Foram os procuradores e policiais federais da força-tarefa de Curitiba (PR) que descobriram o esquema de desvio de dinheiro em contratos do Ministério do Planejamento. O juiz responsável pela investigação era Sergio Moro.

Em setembro do ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o caso envolvendo o Ministério do Planejamento deveria ser separado das investigações do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.

'Presidentes caem, mas democracia persiste'

Por Diego Viana | Para o Valor Econômico

Se for confirmado o impeachment de Dilma Rousseff no Senado, será a 18ª vez que um presidente da América Latina deixa o cargo antes do fim do mandato, desde o início do atual ciclo democrático da região, nos anos 80. Conhecido como "colapso presidencial", o fenômeno representa um novo capítulo nas instabilidades institucionais da política do continente, segundo a cientista política argentina Mariana Llanos.

Em outras épocas, um conflito de poderes levava à interrupção da democracia e à instalação de uma ditadura. Hoje, os presidentes podem cair - de modo legítimo ou não -, mas o regime democrático prossegue, diz a pesquisadora. Um elemento determinante para a queda de presidente é a perda da coalizão que o elegeu. Assim como pode ocorrer com Dilma, outros líderes, como o boliviano Hernán Siles Zuazo (1914-1996), que renunciou em 1985, e o paraguaio Fernando Lugo, removido em 2012, passaram pelo mesmo processo.

Mariana é pesquisadora sênior do Instituto Giga de Estudos Latino-Americanos, em Hamburgo, Alemanha. Em 2010, coeditou o livro "Presidential Breakdowns in Latin America" (colapsos presidenciais na América Latina).

Os Moros agem - Merval Pereira

- O Globo

Quando, em setembro de 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu desmembrar a investigação da Operação Lava-Jato, retirando da jurisdição da 13ª Vara Federal do Paraná, do juiz Sérgio Moro, o processo sobre a corrupção no Ministério do Planejamento, houve comemoração nas hostes petistas. Mas houve também quem previsse que aquela medida criaria “vários Moros” pelo Brasil.

Ontem, com mandados expedidos pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, foram feitas várias prisões e executados mandados de busca e apreensão em diversos estados, atingindo, inclusive, dois ex-ministros dos governos petistas, Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência tão ligado à presidente afastada, Dilma Rousseff, que a levava a passear por Brasília na garupa de uma de suas possantes motocicletas Harley-Davidson; e Paulo Bernardo, em cujo Ministério do Planejamento que chefiava foi montado grosso esquema de corrupção, segundo as investigações da Polícia Federal.

Custo Brasil - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Ministério Público Federal e Polícia Federal acreditam que o roubo no Ministério do Planejamento na gestão Paulo Bernardo (PT), durante o governo Lula, chegou a R$ 100 milhões, desviados de contratos com a empresa Consist, responsável pelo sistema de crédito consignado dos servidores federais.

Em delação premiada, Sérgio Machado (PMDB) disse que, nos seus cerca de dez anos na presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobrás, repassou mais de R$ 100 milhões para integrantes da cúpula do seu partido: José Sarney, Renan Calheiros, Edison Lobão, Romero Jucá...

Um único gerente da Petrobrás, que nem diretor era, se comprometeu na delação premiada a devolver aos cofres públicos a bagatela de US$ 100 milhões: Pedro Barusco, ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da maior, mais simbólica e mais querida companhia brasileira.

A prisão que atrapalha Dilma – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

É cada vez mais difícil ver PT e PMDB dizendo a mesma coisa. Os ex-aliados voltaram a concordar nesta quinta (23) ao avaliar os efeitos daprisão do ex-ministro Paulo Bernardo. Nos dois partidos, a ação policial foi vista como um baque na defesa de Dilma Rousseff no Senado.

O ex-ministro é marido da petista Gleisi Hoffmann, uma das vozes mais ativas na comissão do impeachment. Ex-chefe da Casa Civil, a senadora continua a desempenhar o papel de escudeira de Dilma. Ela costuma se sentar na primeira fila e não perde uma chance de discursar a favor da presidente afastada.

Corrida de revezamento - Míriam Leitão

- O Globo

A “Operação Custo Brasil” trouxe uma boa notícia para o país e uma péssima informação para os investigados da Lava-Jato: não adiantou fugir do Paraná porque em São Paulo a investigação continuou com tanta competência quanto em Curitiba. Ontem, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal mostraram um outro braço do mesmo estado combatendo o mesmo crime.

Quando houve o primeiro fatiamento da Operação Lava-Jato, que levou de Curitiba para São Paulo o caso da empresa prestadora de serviços de informática, a Consist, que teria pago propina no Ministério do Planejamento, pareceu ser um problema. Não porque só em Curitiba houvesse competência e empenho na Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal, mas porque o caso se conectava com a investigação, na opinião dos policiais e procuradores, e porque isso poderia favorecer os investigados, na opinião deles próprios e dos seus advogados. Tanto que a notícia foi comemorada. Houve no fim de 2015 outro fatiamento, o que levou o caso Eletronuclear para o Rio de Janeiro.