domingo, 10 de setembro de 2017

Opinião do dia – Jürgen Habermas

Para os cidadãos democráticos, a política é único meio de influenciar intencionalmente, com uma ação coletiva, os destinos e os fundamentos sociais da existência de sua coletividade. Os mercados são, por outro lado, sistemas autocontrolados que coordenam de maneira descentralizada uma quantidade inabarcável de decisões singulares. Em uma consideração normativa, ambos são media que asseguram potencialmente a liberdade. Nesse aspecto, o Estado democrático de direito pode ser entendido também como a descoberta engenhosa que entrelaça as chances iguais de participar na autoinfluência coletiva da sociedade com a garantia de liberdades subjetivas igualmente distribuídas, de sorte que ambos os media podem se complementar em seus efeitos. Uma característica especifica da crise presente é a destruição dessa complementaridade.


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Jürgen Habermas (1929, é um filósofo e sociólogo alemão, “Na esteira da tecnocracia: pequenos escritos políticos Xll”, pp.176-7. Editora Unesp, 2014.

Tchau, Janot | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Lambança da delação de Joesley e companhia macula atuação de PGR e mina a Lava Jato

Há alguns meses escrevi uma coluna sobre como era difícil traçar uma linha condutora do comportamento de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria-Geral da República.

Aquele personagem tímido, quase secundário, que se encontrava fora da agenda com José Eduardo Cardozo e era alvo de desconfiança da força-tarefa de Curitiba se transmudou por ocasião da primeira lista do Janot, criou um grupo de trabalho que passou a se dedicar apenas aos processos de políticos com foro implicados na operação, afastou a fama de engavetador e teve seu ápice com a delação do núcleo da J&F, quando se transformou no arqueiro-geral da República.

A penúltima semana no cargo, no entanto, tratou de desconstruir essa última versão heroica de Janot. A lambança verificada justamente na mãe de todas as delações não macula apenas sua passagem pela chefia do Ministério Público Federal. Pior: constitui o maior ataque aos fundamentos da Lava Jato e fornece munição àqueles que tentam enfraquecê-la.

O fim próximo | Merval Pereira

- O Globo

O pedido de prisão preventiva de Joesley Batista, de seu assessor Ricardo Saud e do ex-procurador Marcello Miller é o desfecho natural de uma aventura de empresários que se aproveitaram do sistema capitalista selvagem e corrupto que estava instalado no país, à medida que os governos petistas, secundados pelo PMDB, institucionalizaram a propina como instrumento de decisões governamentais.

Embora seja reconhecido que o PT não inventou a corrupção na política brasileira, ele se aproveitou dela para montar um projeto de governo que fosse eterno enquanto durasse, e que durasse o máximo que fosse possível alcançar. O Estado brasileiro estava entregue a grupos corporativos e a empresas, como a J&F e a Odebrecht, que estivessem dispostas a jogar o jogo da maneira estabelecida pelos novos donos do poder.

Poder disfuncional | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Depositamos tantas esperanças em que o Judiciário dê um jeito no Brasil que perdemos de vista o fato de que ele é possivelmente o mais disfuncional dos Poderes da República e também tem sua parcela de responsabilidade na crise que vivemos.

Com efeito, contamos com juízes e promotores não só para identificar e punir empresários e políticos metidos com corrupção como também para suprir as muitas inoperâncias do Congresso. Estão na pauta do STF questões importantes como a laicidade do ensino público, a descriminalização do uso de drogas e do aborto, para citar apenas as mais candentes.

Um depoimento para a história que um dia se contará | Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

Antes que os engulhos da indignação te sufoquem, você fica tentando descobrir o que está a passar na cabeça de Palocci durante as tratativas para conseguir uma delação premiada e no depoimento a Moro, em que fulminou Lula, Dilma e o PT com vários megatons de flechas envenenadas.

Por que fez o que fez, falou o que falou e do jeito que falou? A pergunta ressoa em vários ambientes e análises, Por certo comporta muitas explicações.

Foi um depoimento sereno e calculado. O ex-ministro falou com calma, tentando ser preciso, relatou detalhes e conversas sórdidas, contou de sítios, apartamentos, propinas e vantagens ilícitas como se estivesse conversando com amigos numa mesa de bar. Só faltou sacar do bolso uma agenda com tudo anotado. Insinuou que poderá fazer isso, caso o juiz assim o deseje.

Mas Palocci não jogou conversa fora, como se faz em um papo de bar. Concatenou e amarrou tudo direitinho, para justificar o prêmio que almeja com a delação. Mostrou saber perfeitamente o que fazia e quem pretendia atingir. Não apresentou provas, mas pôs na mesa uma narrativa difícil de ser contestada. No centro dela, não pareceu haver o desejo de prejudicar quem quer que seja. Falou mais alto a voz do interesse próprio.

Banho de rio, cabeça fria | Fernando Gabeira

- O Globo

-LARANJAL DO JARI- Tenho viajado pelo interior do Amapá, divisa com o Pará, para conhecer melhor a região que Temer quer abrir às empresas mineradoras. Não estava satisfeito com o debate. É preciso ver de perto. Tenho falado com geólogos, pilotos extrativistas, garimpeiros, para ouvir suas opiniões.

Devo refletir um pouco sobre algumas experiências decisivas do Amapá. Uma delas foi a extração de manganês na Serra do Navio. A outra é o projeto Jari, do famoso Daniel Ludwig, que aconteceu a poucos quilômetros do lugar onde estou baseado. Elas deixaram um rastro de decepção.

Navegando num calor de rachar, vi algumas pessoas no rio, à sombra de uma árvore, apenas com a cabeça fora d’água. Invejei seu conforto. Gostaria de estar assim no momento em que escrevo sobre a semana no Brasil. É preciso muito sangue-frio para falar de alguns temas, como as Olimpíadas de 2016 e as malas cheias de dinheiro de Geddel Vieira Lima, ou mesmo os diálogos de Joesley Batista.

2018? | Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

Qual é a solução que estamos todos a ansiar? A volta de Dom Sebastião nas eleições

Dom Sebastião, rei de Portugal, foi sequestrado ou morto na batalha de Alcácer-Quibir em 1578, no norte da África. Séculos depois, ainda havia quem depositasse esperanças em sua volta para redimir Portugal.

Mensalão, Lava-Jato e a incontornável constatação de que o Brasil não é uma sociedade emergente rumo ao desenvolvimento, e sim um capitalismo de Estado, selvagem e de compadrio, com uma desigualdade intolerável e instituições porosas e permeadas pelo crime.

Tudo isso movido pelo patrimonialismo, personalismo e prevalência das lealdades de grupo sobre as leis que deveriam ser iguais para todos, como mestre DaMatta insistentemente explica nesta página de jornal que orgulhosamente compartilho periodicamente.

Aposta na reforma | Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Temer tenta andar duas casas na frente da oposição, aproveitando a oportunidade criada pela escandalosa gravação da conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud

O presidente Michel Temer reuniu ontem, para um almoço, uma espécie de estado-maior das reformas política e da Previdência: os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE); os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles: da secretaria de Governo, Antônio Imbassahy; da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco; da Justiça, Torquato Jardim; e da Integração Nacional, Hélder Barbalho; além do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que virou uma espécie de ministro sem pasta, como articulador de bastidores no Congresso.

Temer tenta andar duas casas na frente da oposição, aproveitando a oportunidade criada pela escandalosa gravação da conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud, sobre a atuação do ex-procurador Marcelo Miller nas negociações da delação premiada da JBS. O caso pôs na berlinda o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que tem apenas uma semana no cargo para fazer a tão anunciada segunda denúncia contra Temer, baseada na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. Janot corre o risco, porém, de ver a primeira denúncia, já rejeitada pela Câmara, ser anulada pelo Supremo Tribunal Federal (ST¨F), o que significará uma espécie de saída pela porta dos fundos da Procuradoria-Geral.

Passo maior do que a perna | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

No sábado, dia 2 de setembro, houve manifestação de cientistas e professores universitários contra o contingenciamento do governo Temer aos recursos da educação universitária e da ciência brasileira em geral.

O que talvez os cientistas e professores universitários não saibam é que o gasto do Ministério da Educação (MEC) cresceu a taxas elevadíssimas de 2008 até 2014. Esse enorme crescimento, muito acima da expansão da economia e muito acima da capacidade fiscal do Estado brasileiro, explica a atual crise no setor.

Entre 1999 e 2008, o crescimento do pessoal ativo foi de 2.500 contratações por ano. Esse número elevou-se para 13.600 para o período entre 2009 e 2014. O ritmo anual de contratação do MEC multiplicou-se por cinco!

Erros de análise | Míriam Leitão

- O Globo

A semana passada terminou com sinais ainda mais contraditórios do que o normal nesta conjuntura brasileira. A bolsa só não bateu seu recorde histórico por causa do Irma, mas tem subido com os nossos furacões. As análises equivocadas no mercado financeiro são de que o autogrampo de Joesley enfraquece a PGR e que isso fortalece o presidente Temer, o que pode levar à aprovação de reformas.

A economia só vai se fortalecer de forma sustentada quando o país tiver um quadro político estável decorrente do sucesso no combate à corrupção. E um governante tão dependente, para permanecer no poder, dos lobbies e grupos de interesse não fará reformas consistentes. Ainda andamos sobre os escombros produzidos por essa luta intensa na qual o Ministério Público e o Judiciário estão no papel central, além da Polícia Federal.

Era para ser uma semana política enforcada, com o feriado da independência na quinta-feira, mas foi mais uma de revelações sobre o tamanho do fosso em que nos encontramos. Um apartamento com R$ 51 milhões com as digitais do ex-ministro de Lula e Temer, Geddel Vieira Lima, o notório Geddel; a divulgação de conversa sórdida do empresário Joesley Batista; o depoimento de Antonio Palocci contra os ex-presidentes Lula e Dilma foram alguns dos espantos da semana. Como começou-se a revisão do acordo do JBS, após a divulgação dessa conversa entre Joesley e seu executivo Ricardo Saud, algumas análises sustentaram que Temer, acusado com base nas delações dos dois, estaria mais forte.

Falta o longo prazo. O ajuste é só o começo | Rolf Kuntz*

- O Estado de S. Paulo

É preciso repensar o BNDES. O banco pode fazer mais que alimentar Joesley & Cia.

Com pouco dinheiro e muito gasto, o governo sua para fechar as contas deste ano, mas tem de cuidar do cenário para um bom final em 2018 – sem vaias e, se possível, com algum aplauso. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já fala em elevar as projeções de crescimento, animado, talvez, pelos sinais mais claros de reativação da indústria. A inflação baixa e a perspectiva de mais algum corte de juros, talvez para 7,5%, também são bons augúrios. Se os fatos confirmarem seu otimismo, a receita de impostos deverá aumentar. Isso facilitará a arrumação das contas públicas no resto de mandato do presidente Michel Temer, se nenhuma flecha mais perigosa abreviar esse período. Não se pagam contas com otimismo, no entanto, e por enquanto relaxar é muito perigoso. O desafio básico ainda é manter o saldo de receitas e despesas dentro do novo limite fixado para 2017 e para 2018, um déficit primário de até R$ 159 bilhões em cada exercício.

Gastar mais, sem medo de ser feliz? | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Um governo endividado de um país em recessão pode aumentar gastos a fim de estimular a economia, sem que o remédio provoque efeitos colaterais ainda mais daninhos? Isto é, sem que provoque aumento das taxas de juros, de preços e da própria dívida?

Sim, segundo bom estudo baseado na história de 20 países ricos, de Alan Auerbach e Yuriy Gorodnichenko, da Universidade da Califórnia (Berkeley), publicado em agosto ("Fiscal Stimulus and Fiscal Sustainability").

A conclusão se aplica ao Brasil ou a países assim complicados? Os autores não tratam do assunto e fazem ressalvas quanto a usar seus resultados como panaceia, mas o trabalho alegrou muito economista brasileiro crítico da política econômica, em particular heterodoxos e adeptos do estímulo fiscal (gasto público).

A chance de Lula ser candidato é próximo de zero, diz cientista político

Germano Oliveira | IstoÉ - Edição 07.09.2017 - nº 2491

O cientista político Antonio Lavareda, de 66 anos, já foi consultor de 91 campanhas eleitorais. Presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), do Recife, Lavareda escreveu também dezenas de livros sobre marketing eleitoral. Em entrevista à ISTOÉ, ele diz que, faltando um ano para as eleições, ainda é prematuro definir o quadro, mas de uma coisa tem certeza: Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, nem deverá ser candidato. “A probabilidade disso acontecer é próxima de zero”. Sem o ex-presidente no páreo, a esquerda se dividirá entre vários candidatos, como o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT). Marina Silva (Rede) pode crescer, enquanto que o deputado Jair Bolsonaro, atualmente em segundo nas pesquisas,“vai se desidratar”. Resta, então, saber se os partidos de centro, como PSDB, PMDB e DEM, vão se unir ou se seguirão divididos. Unidos, podem chegar ao segundo turno e ganhar. O problema é que o prefeito João Doria e o governador Geraldo Alckmin travam uma luta fraticida pela vaga do PSDB. Lavareda acha que a melhor solução seria a realização de prévias entre os dois.

Como o senhor vê o grande descrédito da população em relação aos políticos? É tudo por conta da Lava Jato?

A Lava Jato, na verdade, é apenas o acelerador moral específico no nosso processo de crise de representação. Além de afetar os partidos, agora fatores como a globalização e a tecnologia produzem, a cada dia, maior distanciamento entre os cidadãos e as instituições em todos os níveis, enfraquecendo a arquitetura democrática no seu pilar básico que é a confiança.

Pesquisa feita recentemente pelo Instituto Ipsos mostra que a desaprovação às autoridades atinge indiscriminadamente os políticos que estão no poder, como o presidente Michel Temer, mas também os principais candidatos a presidente. Isso mostra que falta esperança também em relação ao futuro?

Nós, brasileiros, queremos identificar uma lanterna na proa e um timoneiro seguro e confiável para nos levar adiante, ao menos para além da zona do redemoinho. Predominam na sociedade sentimentos de ansiedade, incerteza e até desânimo. Descrédito e desesperança elevados, alimentando um certo rancor amplamente disseminado. E algumas benquerenças da bagagem afetiva dos entrevistados, adquiridas pelo filtro da mídia. Nada nos diz sobre o futuro, nem poderia dizer com uma única questão. A cartomancia das pesquisas está longe de poder ser tão resumida.

O custo Janot – Editorial | O Estado de S. Paulo

A atuação descuidada do sr. Rodrigo Janot vai muito além dos efeitos sobre as pessoas envolvidas na corrupção da JBS

Na segunda-feira passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, admitiu aquilo que o Brasil já sabia há um bom tempo: a existência de fatos gravíssimos envolvendo a delação da JBS. Imediatamente após a declaração de Rodrigo Janot, surgiram especulações sobre os possíveis desdobramentos do reconhecimento oficial de que a delação da JBS não era exatamente aquele rosário de virtudes que o procurador-geral da República insistia em apregoar. Uma vez mais o País se via enredado em questões sobre o futuro de suas autoridades e de suas instituições. E ninguém deixou de perceber como está saindo cara ao País a atuação açodada do sr. Rodrigo Janot.

Desde a divulgação da delação da JBS em meados de maio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) foi questionada por conceder tão generosa imunidade ao sr. Joesley Batista. Além de ser uma clara afronta à lei – que proíbe esse benefício aos líderes de organização criminosa (Lei 12.850/2013, art. 4.º, § 4.º, I) –, a indulgência parecia confirmar a velha sina da impunidade para os ricos e poderosos, num inequívoco sinal de que o crime ainda estava compensando. Era um banho de água fria em tantos brasileiros que julgam ter surgido, nos últimos anos, uma Justiça mais efetiva.

O árduo e longo trabalho de reconstrução – Editorial | O Globo

O trabalho de desmonte do equilíbrio nas contas públicas foi extenso e meticuloso, uma obra compartilhada entre o presidente Lula, a partir do final do seu segundo mandato, e sua ministra da Casa Civil e sucessora, Dilma Rousseff, economista de formação, ex-guerrilheira, brizolista de coração. No primeiro mandato, Lula se curvara ao bom senso, e o que prometeu na campanha, em 2002, fez: manteve o “tripé” (câmbio flutuante, meta de inflação, gastos sob controle), instalado pelo antecessor FH, a partir de 1999. Colocou no Ministério da Fazenda o médico Antonio Palocci, ex-prefeito petista de Ribeiro Preto, um político hábil. Escalou no BC o tucano Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston mundial, e permitiu que o segundo escalão da área econômica fosse ocupado por competentes técnicos “neoliberais”.

Não poderia deixar de funcionar. O choque cambial que soltou as amarras da inflação já na campanha, devido ao temor da sociedade diante do risco Lula, foi contido no início do mandato por meio dos instrumentos clássicos (juros altos e gastos contidos), para gana da militância petista. A estabilização da economia, pelo receituário indicado, permitiu que o país aproveitasse minimamente um ciclo de crescimento mundial sincronizado, muito devido à expansão chinesa. Por isso, as commodities dispararam, o Brasil passou a ser credor do FMI e Lula, “o cara”. Sua popularidade foi às nuvens.

Mundo de muros – Editorial | Folha de S. Paulo

O século 20, com suas guerras mundiais e os conflitos que semearam, deixou muitas cicatrizes sobre a face da Terra. Entre elas, o famigerado Muro de Berlim, cuja demolição marcou o fim da Guerra Fria e o suposto final da história.

A história não termina, contudo. Novos e gigantescos muros continuam a ser erguidos, com alturas e extensões suficientes para deixar na sombra a barreira à liberdade erguida na capital alemã, que existiu por 28 anos.

A proliferação desses obstáculos a apartar pessoas e comunidades motivou a série de reportagens "Um Mundo de Muros". Publicada por esta Folha em sete partes, a partir de junho, a suíte multimídia reuniu um mosaico desconcertante de cenas de segregação.

Uma dessas feridas começou a se abrir com o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial, e ainda está muito viva em Israel.

Palocci escancara divisão do PT sobre futuro de Lula

Palocci divide PT sobre ‘plano B’ em 2018

Depoimento agrava desgaste de Lula, que defende Haddad para disputa caso não possa ser candidato; dirigentes temem ‘provas’ do ex-ministro

Alberto Bombig, Vera Rosa, Valmar Hupsel Fiho e Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo

O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro não apenas fechou o cerco ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como escancarou o racha no PT sobre quem encarnará o “plano B” para a eleição de 2018, caso ele seja impedido de entrar na disputa. Embora os petistas não admitam em público a possibilidade de a candidatura Lula ser inviabilizada politicamente ou juridicamente, há grande temor entre alguns dirigentes de que Palocci tenha reunido provas ou indícios do que contou ao juiz Sérgio Moro na quarta-feira da semana passada.

Segundo apurou o Estado, se fechar um acordo de delação premiada, Palocci detalhará, com provas, a movimentação financeira de campanhas eleitorais petistas e indicará quando e onde valores foram entregues ao partido e quem foi o responsável pela operação. Ao contrário do que dizem dirigentes do PT e apoiadores de Lula, um advogado e dois amigos de Palocci afirmaram que ele está “lúcido”, “sereno” e “aliviado” com a confissão a Moro.

Há ainda a possibilidade de os relatos de Palocci serem corroborados pelo sucessor dele na Fazenda, Guido Mantega, que também negocia uma colaboração. Ao assumir para Moro que era o “Italiano” nas planilhas da propina da Odebrecht, petista fez as investigações avançarem diretamente rumo ao ex-presidente e complicou ainda mais a situação jurídica e política dele.

Fachin determina prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud, da J&F

Polícia Federal disse que detenções devem acontecer ainda neste domingo, 10

Rafael Moraes Moura | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu atender ao pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e mandou prender os empresários Joesley Batista e Ricardo Saud, do grupo J&F.

Fontes da Polícia Federal informaram à esta reportagem que, em tese, não há nada que impeça que as prisões sejam realizadas neste domingo, 10.

Os pedidos de prisão foram motivados pela descoberta de que os executivos da J&F omitiram informações sobre supostos crimes ao negociar sua delação premiada.

Gravação entregue na semana passada à Justiça pela própria defesa da J&F mostra Saud e Joesley conversando sobre uma suposta interferência de Miller para ajudar nas tratativas de delação premiada, o que seria ilegal. O ex-procurador ainda fazia parte do Ministério Público quando começou a conversar com os executivos, no final de fevereiro. Ele pediu exoneração da instituição no mesmo mês, mas a deixou de fato apenas em abril.

Três milhões buscam vagas há 2 anos ou mais

Desemprego duradouro afeta um em cada cinco à procura de trabalho

Em São Paulo, a espera por uma nova oportunidade demora em média 11 meses

O desemprego duradouro tem atingido um grupo cada vez maior de trabalhadores. Segundo dados do IBGE, um em cada cinco desempregados está em busca de vaga há dois anos ou mais. Já são quase três milhões de pessoas nessa condição, revelam MARCELLO CORRÊA e CÁSSIA ALMEIDA. Especialistas avaliam que o desemprego de longo prazo é herança de uma recessão que só agora começa a ficar para trás. Quanto mais tempo sem trabalho, mais difícil é conseguir emprego. Em São Paulo, o prazo médio, de 11 meses, é o maior em mais de uma década. Para analistas, faltam políticas de recolocação profissional.

Uma longa espera pela vaga

Um em cada 5 desempregados está há 2 anos em busca de trabalho. São quase 3 milhões

Marcello Corrêa e Cássia Almeida | O Globo

O mercado de trabalho começa a ensaiar tímida recuperação, mas o número de brasileiros que enfrenta há mais tempo o drama do desemprego não para de crescer. Segundo dados mais recentes do IBGE, a parcela de trabalhadores em busca de vagas há dois anos ou mais cresceu na passagem entre o primeiro e o segundo trimestre e já está em 21,7%, ou um em cada cinco desempregados — o maior percentual desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), em 2012. Já são 2,9 milhões de pessoas nesta condição, de um total de 13,3 milhões de desempregados, o dobro dos que estavam nessa situação em 2015. Somados aos que estão parados há pelo menos um ano, o chamado desemprego de longa duração chega a atingir 5,2 milhões de brasileiros, ou quase 40% dos desocupados. Especialistas consideram esta a herança mais dura da longa recessão que começa a ficar para trás, principalmente porque, quanto mais tempo sem trabalho, mais difícil é conseguir uma oportunidade.

Consumo deve sustentar alta do PIB em 2018

Queda da inflação e recuperação da renda devem elevar gastos das famílias, mas patamar pré-crise levará tempo para ser retomado

Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo

Ajudado pela queda da inflação e dos juros e pela redução do desemprego e da inadimplência, o consumo das famílias, ainda que em ritmo gradual, deve avançar e sustentar o crescimento da economia neste ano e no próximo.

A virada do consumo começou a ser registrada no segundo trimestre. Entre abril e junho, o consumo das famílias voltou para o terreno positivo, depois de dois anos de queda. O avanço de 1,4% do consumo garantiu o crescimento de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no período, segundo os dados do IBGE.

As projeções dos economistas para o consumo das famílias para este ano giram em torno 0,7% de alta. Nas contas do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, 70% do crescimento do PIB, projetado também em 0,7% para 2017, virá do consumo. Para 2018, a expectativa da consultoria é que o consumo das famílias avance 2,8% e represente 60% do crescimento do PIB, estimado em 3%. “O consumo responderá mais no ano que vem, quando o mercado de trabalho será mais robusto e a evolução real da massa de renda, de fato, começar a crescer”, afirma o economista.

Conferência na ABL: 'Os novos populismos'

'O populismo na Europa' será o tema da palestra na ABL do 'brazilianist' Leslie Bethell, na segunda conferência do ciclo 'Os novos populismos', sob coordenação do Acadêmico José Murilo de Carvalho.

A Academia Brasileira de Letras dá continuidade ao seu ciclo de conferências do mês de setembro de 2017, intitulado Os novos populismos, com palestra do brazilianist inglês Leslie Bethell, historiador e Sócio-Correspondente da ABL. A coordenação será do Acadêmico e historiador José Murilo de Carvalho.

O evento está programado para o dia 12 de setembro, terça-feira, às 17h30min, no Teatro R. Magalhães Jr., Avenida Presidente Wilson 203, Castelo, Rio de Janeiro. Entrada franca

A Acadêmica e escritora Ana Maria Machado, Primeira-Secretária da ABL, é a Coordenadora-Geral dos ciclos de conferências de 2017.

O ciclo Os novos populismos terá mais duas palestras, às terças-feiras, no mesmo local e horário, com os seguintes dias, conferencistas e temas, respectivamente: dia 19, Sebastião Velasco, A presença da tradição: o populismo nos Estados Unidos; e 26, José Murilo de Carvalho, Povo e política no Brasil.

O tamanho do cinema | Cacá Diegues

- O Globo

É impensável que se acabe com a Lei do Audiovisual, ou que se reduza seu poder de imposição da existência de um audiovisual brasileiro

Quando comecei a me aproximar do cinema brasileiro, ainda na minha adolescência, o conceito vigente entre os representantes da inteligência nacional era o de que não tínhamos condições culturais e econômicas para construí-lo. Nosso cinema, se um dia existisse de fato e regularmente, jamais seria um produto cultural relevante, muito menos uma indústria como a que caracterizava o cinema que valia a pena, no mundo que prestava. O cinema brasileiro teria muito pouca chance de florescer, fora do que era tratado como vulgaridade nas comédias de carnaval, nossas populares chanchadas.

Para alguns mais radicais, o cinema brasileiro não poderia existir jamais, porque não tínhamos conhecimento técnico, nem talento criativo para fazê-lo. Lembro-me de um cronista escrever, em jornal importante da então capital do país, que estávamos condenados ao ridículo se tentássemos fazer filmes, porque simplesmente o português era uma língua que não servia para o cinema. Era impensável ouvir um artista enamorado dizer, na tela, em vez do clássico e universal “I love you”, um ridículo e improvável “Eu te amo”.

Os domingos | Paulo Mendes Campos

Todas as funções da alma estão perfeitas neste domingo.
O tempo inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um crédito desmedido de esperança
Nem a verdade dos supremos desconsolos –
Simplesmente a tarde transparente,
Os vidros fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência das cores, preciosas andorinhas.

Na tarde – lembro – uma árvore parada,
A alma caminhava para os montes,
Onde o verde das distâncias invencidas
Inventava o mistério de morrer pela beleza.
Domingo – lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos tristes, o porto do insofrido.
Na tarde, uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a desilusão dos que longe se buscaram;
No declive da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os azuis dos que se afastam,
O cristal intocado, a rosa que destoa.
Dos meus domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas caíam no dorso das campinas,
A noite aclarava os sofrimentos,
As crianças nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos se calavam, os suicidas se matavam.
Eu, prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando palavras que espelhassem os domingos.
E uma esperança que não tenho.

Mariene de Castro - Samba pras moças

sábado, 9 de setembro de 2017

Opinião do dia – Jürgen Habermas

Eleições e referendos devem não só reproduzir um espectro de preferências existentes, mas também juízos sobre os programas e sobre as pessoas que se encontram em eleições. Eles não podem expressar irrefletidamente a vontade da população, pois têm também um sentido cognitivo. O governo precisa elaborar problemas urgentes com base nessas decisões sobre diretrizes.

Em uma democracia, eleições políticas não satisfazem sua determinação sistêmica se meramente registram a distribuição de preferências e de prejuízos. Os votos eleitorais alcançam o peso institucional de decisões civis de um colegislador somente porque procedem de um processo público de formação da opinião e da vontade, no que esse processo é controlado pelos prós e contras públicos de opiniões, argumentos e tomadas de posição livremente flutuantes. As opiniões dos cidadãos devem primeiramente se constituir a partir da maré dissonante das contribuições, à luz de uma troca de opiniões publicamente articulada.

De maneira ideal, a política deliberativa se enraíza em uma sociedade civil que faz um uso anarquista de suas liberdades comunicativas. Mas, em nossas esferas públicas espaçosas, produzidas primeiramente pela rede comunicativa de mídias de massas, carece-se não só de informações e impulsos da parte de uma imprensa espontânea e independente, mas, em primeira linha, da iniciativa do esclarecimento e da capacidade de organização dos partidos políticos.

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Jürgen Habermas (1929, é um filósofo e sociólogo alemão, “Na esteira da tecnocracia: pequenos escritos políticos Xll”, pp.172-3. Editora Unesp, 2014.

Janot pede prisão de Joesley, Ricardo Saud e de ex-procurado

Janot pede prisão de Joesley, Saud e ex-procurador Miller

Procurador-geral da República encaminhou a decisão ao ministro do Supremo Edson Fachin no fim da noite desta sexta-feira, 8; os três negam irregularidades

Beatriz Bulla | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou nesta sexta-feira, 8, ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de prisão do empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo J&F, segundo apurou o Estado. O pedido ainda precisa ser analisado pelo ministro Edson Fachin, relator do caso na Corte.

Além de Joesley, o procurador-geral pediu que o Supremo autorize a prisão de Ricardo Saud, diretor do J&F, e do ex-procurador Marcello Miller.

Os pedidos foram motivados pelo conteúdo de uma gravação entregue pela própria defesa do Grupo J&F, na qual Saud e Joesley falam sobre a suposta interferência de Miller para ajudar nas tratativas de delação premiada. O ex-procurador ainda fazia parte do Ministério Público quando começou a conversar com os executivos, no fim de fevereiro. Ele pediu a saída da instituição em fevereiro e foi exonerado, de fato, apenas em abril.

Na segunda-feira, Janot abriu um procedimento de revisão do acordo de delação dos executivos. Ele pediu a revogação do benefício de imunidade penal concedido aos delatores. Segundo interlocutores, Janot ficou irritado com a gravação que demonstrou que Joesley e Saud omitiram informações ao fazer acordo com as autoridades.

Fachin leva a plenário pedido de Temer para barrar denúncia

Fachin manda ao Pleno do Supremo pedido de Temer contra nova flechada de Janot

Ministro relator da Lava Jato e do caso JBS na Corte máxima submete ao colegiado recurso da defesa do presidente para 'sustação de qualquer nova medida' do procurador-geral da República contra o peemedebista

Beatriz Bulla e Breno Pires, de Brasília, e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

O ministro relator da Operação Lava jato, Luiz Edson Fachin, remeteu, nesta sexta-feira, 8, o pedido de ‘sustação de qualquer nova medida’ de Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, movido pela defesa do peemedebista, ao Pleno do Supremo Tribunal Federal.

“Nada obstante, é possível, sem adiantar qualquer apreciação sobre o mérito, colher do pleito defensivo questão preliminar inédita e com repercussão geral relevante, apta a indicar seja conveniente e oportuno definição colegiada, como “questão de ordem” ao conhecimento e à discussão do Pleno”, anotou Fachin.

Na petição, os advogados do peemedebista insistem na suspeição do procurador-geral da República. Voltam-se contra Janot que, recentemente, questionado sobre seus últimos dias de mandato disse ‘enquanto houver bambu, lá vai flecha’.

Janot pede prisão de Joesley e de ex-procurador

Miller teria ajudado na delação do executivo da JBS quando estava no cargo

Decisão será do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF; envolvidos negam suspeitas

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Joesley Batista, dono da JBS, do executivo da empresa Ricardo Saud e do ex-procurador Marcello Miller. Uma conversa entre Joesley e Saud indica que Miller teria auxiliado na delação da JBS enquanto ainda estava na Procuradoria, o que integrantes do gabinete de Janot chamaram de “jogo duplo”. A decisão sobre a prisão caberá ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Joesley e Saud disseram que era uma “conversa de bêbados”. Eles e Miller negam irregularidades.

PGR pede prisão de Joesley, Saud e de ex-procurador que auxiliou a JBS

Para equipe de Janot, Miller fez ‘jogo duplo’ nas negociações da delação

Jailton de Carvalho | O Globo

-BRASÍLIA- A Procuradoria-Geral da República pediu ontem a prisão preventiva do empresário Joesley Batista, dono da JBS, do executivo da empresa Ricardo Saud e do ex-procurador da Marcello Miller.

Ex-procurador depõe sobre o caso por mais de 7 horas

Antes, Marcello Miller já havia negado ilegalidades na sua atuação

Marco Grillo | O Globo

O ex-procurador Marcello Miller depôs por mais de sete horas ontem na sede da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, no Centro do Rio, no procedimento interno do Ministério Público Federal (MPF) que apura se houve fraude no acordo de delação premiada da JBS.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abriu o procedimento após um áudio entre Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud indicar que Miller poderia ter atuado de maneira ilícita na negociação do acordo. Em nota, o ex-procurador já negou as acusações.

Dois procuradores tomaram seu depoimento: um procurador regional da República, que atua na segunda instância da Justiça Federal, e um procurador da primeira instância.

PGR denuncia cúpula do PMDB no Senado

O procurador Rodrigo Janot denunciou ao STF a cúpula do PMDB no Senado. Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão, Jader Barbalho, Valdir Raupp, José Sarney e Sérgio Machado são suspeitos de integrar organização criminosa.

A vez do PMDB do Senado

Janot denuncia Jucá, Renan, Sarney, Lobão, Jader, Raupp e Sérgio Machado

Carolina Brígido | O Globo

-BRASÍLIA- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra a cúpula do PMDB no Senado por participação em organização criminosa. Essa é a terceira das quatro denúncias esperadas no inquérito denominado de “quadrilhão” — já haviam sido feitas as que se referem a PT e a PP, e agora falta só a que trata do PMDB da Câmara, que ainda pode atingir o presidente Michel Temer.

São alvo da nova denúncia os senadores Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), além dos ex-senadores José Sarney e Sérgio Machado. O grupo teria recebido propina de R$ 864 milhões, além de ter provocado prejuízo de R$ 5,5 bilhões à Petrobras e de R$ 113 milhões à Transpetro.

Segundo a PGR, desde 2004 até os dias atuais, os políticos, “com vontade livre e consciência, de forma estável, profissionalizada, preordenada, com estrutura definida e repartição de tarefas, integram o núcleo político de organização criminosa estruturada, para desviar em proveito próprio e alheio recursos públicos e obter vantagens indevidas, sobretudo no âmbito da administração pública federal e do Senado”.

Janot alertou para o fato de que “a organização criminosa vigora até os dias de hoje”. De acordo com o procurador-geral, mesmo depois de ter sido deflagrada a Operação Lava-Jato, em 2014, “ante a forte atuação parlamentar e responsabilidade por outras indicações políticas, as quais ainda perduram, a organização criminosa permaneceu praticando crimes nos anos de 2015, 2016 e 2017”.

Para a Procuradoria-Geral da República, há indícios de que o grupo controlava nomeações da diretoria de Abastecimento e da diretoria Internacional da Petrobras, bem como cargos da Transpetro. Em troca, os políticos recebiam propina dos diretores escolhidos para os postos.

Além da condenação do grupo à prisão, Janot também pede o pagamento de danos financeiros ao poder público no valor de R$ 100 milhões e de danos morais no mesmo valor. Também quer perda de função pública para os condenados que ocuparem cargo ou emprego público.

Desde a semana passada, Janot denunciou ao STF políticos do PP e do PT por integrar organizações criminosas. Até o fim do mandato, na próxima sexta-feira, Janot deve apresentar denúncia pelo mesmo crime contra políticos do PMDB da Câmara dos Deputados. O presidente Temer está sujeito a ser denunciado nesse último caso, a depender da avaliação de Janot.

ESQUEMA COMEÇOU NO GOVERNO LULA
Segundo a denúncia, os partidos começaram a se organizar para desfalcar os cofres públicos em 2003, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Em comum, os integrantes do PT, do PMDB e do PP queriam arrecadar recursos ilícitos para financiar seus projetos próprios. Assim, decidiram se juntar e dividir os cargos públicos mais relevantes, de forma que todos pudessem de alguma maneira ter asseguradas fontes de vantagens indevidas”, escreveu Janot.

Janot pede prisão de Joesley e ex-procurador

Leandro Colon, Bela Megale | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta sexta (8) um pedido de prisão dos delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud e também do ex-procurador Marcello Miller, segundo a Folhaapurou.

A solicitação de Janot ainda vai ser analisada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na corte e o responsável pela homologação do acordo de delação dos executivos do grupo.

O pedido de prisão foi feito após a Procuradoria-Geral da República ouvi-los nos dois últimos dias sobre a gravação em que Joesley e Saud indicam possível atuação de Miller no acordo de delação quando ainda era procurador - ele deixou o cargo oficialmente em 5 de abril.

Para a equipe de Janot, houve patente descumprimento de dois pontos de uma cláusula do acordo de delação que tratam de omissão de má-fé, o que justificaria rever os benefícios.

O pedido de Janot está sob sigilo. Não há previsão ainda sobre quando Fachin vai despachá-lo.

Janot denuncia cúpula do PMDB no Senado sob acusação de organização criminosa

Angela Boldrini, Talita Fernandes e Bela Megale | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou sob acusação de organização criminosa políticos do PMDB, entre eles a cúpula do partido no Senado: Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA) e Valdir Raupp (RO).

Além deles, foram acusados o ex-senador José Sarney (AP) e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Em nota, a PGR informa que eles foram denunciados sob acusação de "receberem propina de R$ 864 milhões e gerarem prejuízo de R$ 5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e de R$ 113 milhões aos da Transpetro".

Segundo a denúncia, além dos políticos "ora denunciados, o núcleo da organização era composto também por outros integrantes do PMDB, do Partido Progressista (PP) e do Partido dos Trabalhadores (PT)".

"A organização criminosa denunciada foi inicialmente constituída e estruturada em 2002, por ocasião da eleição de Lula à Presidência da República. Iniciado o seu governo, em 2003, Lula buscou compor uma base aliada mais robusta", afirma a Procuradoria.

Segundo o órgão, "as ações ilícitas voltaram-se inicialmente para a arrecadação de recursos da Petrobras por meio de contratos firmados no âmbito da Diretoria de Abastecimento e da Diretoria Internacional, assim como da Transpetro".

De acordo com a PGR, os políticos denunciados atuam desde ao menos meados de 2004 em atividades ilícitas e afirma que os prejuízos causados foram de pelo menos R$5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e R$113 milhões aos da Transpetro, "em razão da manutenção do cartel formado pelo direcionamento dos contratos (...) para determinadas empresas".

Como contrapartida, as beneficiadas teriam pagado R$ 864,5 milhões em propina aos denunciados. Calheiros, Jucá, Lobão e Raupp teriam passado a receber vantagens indevidas dos contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras a partir de 2006, quando apoiaram a permanência do então diretor, Paulo Roberto Costa, que depois se tornou o primeiro delator da Lava Jato.

Operador de Lula | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

No depoimento, Palocci tentou passar a Moro mensagem de que cumpria tarefas

O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro arruinou o PT. Muito mais do que os petistas admitem. Não só porque teve Lula como alvo principal, e a presidente cassada Dilma Rousseff como alvo secundário. Mas também porque ofereceu informações que podem servir para o juízo de culpabilidade do ex-presidente quando o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) julgar o recurso de Lula contra a pena de nove anos e seis meses a que foi condenado pelo juiz Sérgio Moro no caso do triplex do Guarujá. Confirmada a pena, Lula vira ficha-suja e fica impedido de concorrer à Presidência da República no ano que vem.

Por causa do depoimento, que alguns mais íntimos de Palocci dizem se tratar também de um desabafo, o ex-ministro pode ter mudado o curso das eleições presidenciais do ano que vem. Tanto na parte jurídica, por comprometer Lula com o esquema de corrupção na Petrobrás e revelar relações promíscuas com empreiteiras, quanto na política, porque o que ele disse aparecerá na campanha caso o ex-presidente passe ileso pelo TRF. Logo Palocci, que foi um dos principais responsáveis pela vitória de Lula em 2002, ao defender a “Carta aos Brasileiros”, na qual o PT se comprometeu a não se meter em aventuras econômicas.

Todos no mesmo saco | Merval Pereira

- O Globo

Temer está seguro sobre JBS, mas em perigo com denúncias contra PMDB. A situação patológica da política brasileira faz com que o presidente Michel Temer sinta-se seguro em relação à confusão instalada sobre os áudios de sua conversa com Joesley Batista e, ao mesmo tempo, esteja em perigo com as denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a cúpula do PMDB, classificada como “organização criminosa”.

À denúncia contra a cúpula do Senado feita ontem se seguirá a contra a da Câmara, em que estão envolvidos o próprio Temer e seus principais assessores, sejam os que já estão presos, como Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha, sejam os ainda exercendo cargos no governo, até mesmo ministeriais, como Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Ontem o presidente ganhou tempo com a decisão do ministro Luiz Edson Fachin, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de levar ao plenário o pedido de sua defesa de suspender uma provável segunda denúncia contra Temer até que as investigações sobre a delação premiada dos donos da J&F terminem.

O segundo passo será pedir que o Supremo anule todas as provas baseadas na gravação feita por Joesley no Palácio do Jaburu. Com isso, o governo pretende inviabilizar uma segunda denúncia, que seria baseada na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, que já foi homologada. Funaro, que era o operador clandestino do PMDB, confirmou que recebia dinheiro de Joesley Batista para ficar calado sobre os crimes do PMDB, fato que foi relatado ao presidente Temer pelo próprio Joesley na fatídica noite do Jaburu e recebeu seu apoio com a frase emblemática “tem que manter isso, viu?”.

Problemas reais Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Estou curioso para ler "Só Mais um Esforço", livro que meu colega colunista Vladimir Safatle lança este mês, mas do qual a "Ilustríssima" já antecipou trechos.

Dentre as muitas ideias que o autor apresentou nessa prévia, destaco uma que gostaria de explorar melhor. Safatle faz uma crítica da tecnocracia que, segundo ele, procura transmutar "uma guerra civil contra setores pauperizados" num discurso de racionalidade econômica, no qual medidas como a reforma da Previdência são descritas como "remédio amargo, porém necessário". Para o autor, a tecnocracia tenta pintar os que criticam sua lógica "como uma criança que crê na onipotência do pensamento, incapaz de lidar com o princípio de realidade que ensina que só posso gastar o que ganho".

O que ainda causa espanto? | Zuenir Ventura

- O Globo

Depoimento de Palocci produziu um estrago definitivo na imagem que é oferecida aos eleitores, a de um partido impoluto e um líder incorruptível

Palocci fez estrago definitivo em Lula e no PT. Foi uma semana para desafiar quem achava que já vira de tudo, e para confirmar a tese de que no Brasil não houve surrealismo nem realismo fantástico como movimentos literários porque eles existem na vida real. Apenas alguns exemplos. Teve o inacreditável vídeo dos R$ 51 milhões contados por máquinas como numa cena na Casa da Moeda. O dinheiro continha as impressões digitais de Geddel Vieira, aquele que há dois anos se indignava na televisão: “Chega. Ninguém aguenta mais. Isso já deixou de ser corrupção, é roubo”. O candidato ao Prêmio Cara de Pau tinha razão. Como classificou um procurador, ele é “um criminoso em série”.

Sob o encanto da política | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

A substituição de Janot por Raquel Dodge não resolve o dilema da politização do Ministério Público

No ápice da crise provocada pela gravação da conversa entre Joesley Batista e Temer, a Folha noticiou que, bem antes do fatídico encontro, o advogado dos irmãos Batista recebera "aulas de delação" ministradas por um agente da PF e um procurador da República. Precisamente naquele período, o procurador Marcello Miller, lugar-tenente de Janot, preparava sua saída do Ministério Público negociando emprego num escritório de advocacia contratado pela JBS. Os novos áudios, entregues por um Joesley acuado, "com conteúdo gravíssimo" (Janot), podem evidenciar um nexo entre as duas informações. De qualquer forma, sua mera existência como novidade prova que há algo infectado no reino do Ministério Público.

Janot desmentira, peremptoriamente, em 20 de maio, os rumores sobre a participação de Miller nas tratativas do MPF com os irmãos Batista que culminaram com o acordo de delação. Agora, entre constrangido e indignado, o procurador-geral finalmente anuncia uma investigação do episódio, admitindo a possibilidade de que tenha sido ludibriado desde o início. De lá para cá, tudo mudou –menos a linguagem de Janot, perpassada de tons condoreiros, salpicada pela fúria santa dos justos. O rei ainda não está nu, mas já desfila de cueca em praça pública.

Viagem cara | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

Ajuda às Santas Casas cria um custo adicional de cerca de R$ 10 bilhões no Orçamento

Algumas viagens são muito caras. A ida do presidente à China trouxe um custo considerável para o governo federal. A ponto de a área econômica possivelmente querer pedir de joelhos a Michel Temer não mais viajar até o fim do seu mandato.

No cargo de presidente em exercício, o presidente da Câmara Rodrigo Maia não só deixou de assinar as legislações que garantiriam o envio de uma proposta de orçamento de 2018 crível ao Congresso, como também forçou a assinatura do Plano de Recuperação Fiscal do Estado do Rio, que ainda não estava pronto.

Como grand finale, Maia aprovou a criação de uma linha de empréstimos subsidiados para as Santas Casas (entidades filantrópicas), que vai trazer um custo adicional para o Orçamento da União de R$ 10 bilhões.

Recuperação gradual | Míriam Leitão

- O Globo

O setor de petróleo ainda vai esperar a superação da crise política antes de recuperar o nível de investimentos no Brasil. É o que mostra pesquisa da Accenture Strategy em parceria com a FGV Energia. No curto prazo, a agenda ainda é de austeridade, mas a partir de 2019 a expectativa é de retorno gradual dos projetos. Para 2026, no melhor cenário, os investimentos podem chegar a US$ 50 bilhões, contra US$ 16 bi de 2016.

O Brasil perdeu o melhor momento do setor para investir. Quando os preços estavam acima de US$ 100, o país ficou discutindo a mudança no marco regulatório, no final do governo Lula e início do governo Dilma. Foram cinco anos sem rodadas de licitação, e o bilhete premiado do pré-sal se transformou em uma conta bilionária de desvios revelados pela Operação Lava-Jato. Nesse período, outros campos de petróleo foram descobertos pelo mundo, e os Estados Unidos começaram a produzir fortemente o petróleo por exploração não convencional (shale gas). Hoje, os preços estão rodando a casa de US$ 50, e as petrolíferas estão mais seletivas na hora de investir.

O impacto da interferência política no setor de petróleo fica evidente quando se olha para os investimentos. Em 2013, eles chegaram a US$ 33 bilhões, mas despencaram para US$ 16 bi no ano passado. A estimativa da Accenture e da FGV Energia é que esse número só começará a subir de forma mais consistente no próximo governo.

Estúpido carisma | Dora Kramer

- Veja

Tudo de que o Brasil menos precisa é mais um populista

Apesar do imenso pesar que governantes populistas causaram ao país na figura de carismáticos presidentes e/ou governadores ao longo do século passado e início deste agora XXI, a praga ainda nos ronda, ameaçando nova ofensiva na próxima eleição presidencial. Conspira para isso o ambiente de desgosto geral, terreno fértil para a ideia de que um herói há de surgir a fim de quebrar o que parece ser um feitiço malsão lançado sobre um Brasil de mandatos interrompidos (por morte morrida ou por morte matada) e corrupção endêmica.

O populismo de Getúlio Vargas sustentou uma ditadura; o de Jânio Quadros abriu espaço para outra; o de Leonel Brizola marcou os primórdios dos territórios controlados pelo crime no Rio; o de Fernando Collor deu ensejo ao primeiro impeachment da República; o de Lula fez da corrupção política de Estado, plantou a semente da desconstrução dos pilares da estabilidade econômica, levou ao poder a primeira mulher presidente, que seria também protagonista do segundo impedimento e jogou o país numa crise de desfecho imprevisível.