sábado, 29 de outubro de 2022

José de Souza Martins* - Na antemanhã do que seremos

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

O que está em jogo neste domingo é o marco civilizatório que regulará nosso destino como nação

Qualquer que seja o resultado da eleição de 30 de outubro, o Brasil da manhã de segunda-feira já não será o mesmo da véspera. Se vencer Bolsonaro, o país amanhecerá com um desafio de, nas sombras de seu obscurantismo, se reconstruir, no marco das tradições inconformistas e poéticas do povo brasileiro. O de reencontrar-se como nação da esperança a partir dos valores e possibilidades da Constituição de 1988.

Se vencer Lula, ele, o PT e os grupos também democráticos não petistas terão que compreender os complexos desafios de superar o autoritarismo residual da ditadura de 1964. E viabilizar o diálogo entre a sociedade civil e as Forças Armadas, para que se convençam de que sua missão histórica não é a de tutelar a sociedade nem tratá-la como inimiga do Estado.

O Brasil não é um quartel, não é uma confraria religiosa, não é um curral político, não é um cercadinho de bajuladores de porta de palácio. A imensa maioria do povo brasileiro é constituída de gente que trabalha e pensa, para a qual o verde e amarelo não é o da cueca e da veste carnavalesca, mas o do coração.

Para que nos reencontremos na consciência de que a sociedade é a unidade do diverso e da retidão e não a desunião do único e da linha reta.

Ascânio Seleme - O que você vai escolher amanhã?

O Globo

Amanhã é um dia de escolhas. Inúmeras escolhas. Não pense que votando no 13 ou no 22 você estará apenas elegendo Bolsonaro ou Lula. Não mesmo. O número que você digitar amanhã na urna eletrônica vai representar mais do que seria possível resumir em uma lista que coubesse nos quatro mil toques do abre desta coluna. Mas, talvez respondendo a algumas questões, se possa entender tudo o que está em disputa nesta eleição. E qual o melhor caminho a seguir.

O que você vai eleger amanhã, o respeito às leis e à Constituição ou o desrespeito total e a permanente ameaça de interferir e destruir as instituições?

Na transparência ou nos cem anos de sigilo, sobretudo para malfeitos políticos ou familiares, em qual você votará?

Como terá de optar, você vai escolher a educação com recursos e dignidade ou escolas malcuidadas e meninos sem merenda?

Ao votar, você dirá quer um país culturalmente pujante e múltiplo, com incentivos fiscais a quem produz, ou uma nação de sertanejos que se recusa a fomentar uma indústria que gera 6,6 milhões de empregos e representa quase 3% do PIB?

Sua escolha de amanhã será em favor dos pregadores da paz e da esperança ou dos defensores do armamento generalizado da população? Você é Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) ou um cidadão que prefere ficar longe de armas?

Você que é cristão e acredita na redenção final, vai votar em quem defende pastores que trocam o amor de Deus por sacolas de dinheiro e barras de ouro ou em quem apoia religiosos que distribuem o pouco que têm com os que mais precisam?

Pablo Ortellado - O paradoxo da frente ampla

O Globo

Deputado federal por 28 anos, o presidente conseguiu se apresentar aos eleitores como 'outsider'

A campanha de Lula para a Presidência foi cautelosa. Seguiu as recomendações mais prudentes dos especialistas que indicavam constituir uma frente ampla em defesa da democracia para enfrentar Jair Bolsonaro. E, embora as pesquisas sugiram que a estratégia deverá ser bem-sucedida, ela também terminou por confirmar os fantasmas do discurso populista do atual presidente.

Cientistas políticos e a experiência de outros países recomendavam formar uma frente ampla, da esquerda até a centro-direita, para derrotar Bolsonaro. No meio acadêmico, o cientista político Steven Levitsky, de Harvard, foi o mais preeminente defensor da frente ampla. No influente livro “Como as democracias morrem”, mostrou como frentes amplas podem salvar a democracia de ameaças autoritárias, a exemplo do que aconteceu quando a oposição a Pinochet se uniu para derrotá-lo no plebiscito de 1988. Foi com uma estratégia assim, de união nacional, que Macron derrotou duas vezes a candidata da extrema direita Marine Le Pen, em 2017 e 2022.

Carlos Alberto Sardenberg - Entre pelegos e não pelegos

O Globo

A polarização é primitiva. Divide o mundo entre o bem e o mal, as situações pessoais entre ‘gosto’ e ‘odeio’

Foi positivo que tenha havido um segundo turno. Mesmo sem grandes novas alianças partidárias, Lula e Bolsonaro tiveram de ampliar repertório, elencos de apoio e foram mais expostos.

Se o objetivo de um e outro era sair da respectiva bolha, Lula saiu-se melhor. Obteve apoios importantes, que vieram sem cobrança e com uma posição que ajuda na busca de eleitores indecisos. Ajuda a escapar da polarização.

Sim, porque, se o embate se dá entre o bem e o mal absolutos, isso mantém no jogo apenas os fiéis de cada lado. Mas o Brasil seria isso? Metade lulista e metade bolsonarista?

Simone Tebet, cujo crescimento como figura nacional até se reforçou após o primeiro turno, respondeu. Não é lulista, não apoia o programa histórico do PT, mas vota no ex-presidente por entender que esse voto preserva a democracia. Não é apenas um voto anti-Bolsonaro, mas a favor de algo mais.

Ricardo Henriques - Amanhã são décadas

O Globo

Recolocar o país nos antigos trilhos já seria muito atualmente, mas seguramente insuficiente diante dos desafios do porvir

Vivemos uma encruzilhada sobre o projeto de futuro que queremos para o país. Como disse Nelson Rodrigues: “Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos”. Pois desenvolvimento também não se improvisa, mas tampouco pode ser obra de séculos. Desenvolvimento requer ciência, conhecimento de práticas, governança política e institucional, e intencionalidade no desenho do projeto de futuro.

Deve ser uma tarefa desta geração para podermos sonhar e projetar o Brasil do futuro, ousado, ambicioso, realista e democrático.

No entanto, as políticas públicas nas áreas de Meio Ambiente, Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura, Ciência e Tecnologia se encontram, nos últimos quatro anos, em um interregno. Assoladas pela pandemia e pela inoperância do governo federal, regrediram em compasso com o aumento da pobreza, da fome e do desemprego.

Hélio Schwartsman - Por que políticos mentem?

Folha de S. Paulo

Algumas mentiras, porém, são tão escancaradas que assustam até aliados

Às vezes, o logro está no cerne de sua estratégia. É o caso de líderes da extrema direita, mas não só dela, cujo sucesso depende de criar uma realidade paralela e nela manter a base mais fiel de seguidores. Só que essa não é a única situação em que políticos mentem. Eles o fazem também em circunstâncias em que só podem sair perdendo.

É o que ocorre quando exageram suas realizações e desfilam dados absurdos, que são incontinenti contestados pelas agências de checagem. Se sabem que serão desmentidos, por que insistem no logro? Parte da resposta é a cara de pau mesmo. Você sempre pode dizer que é o checador que está errado. Uma parte dos seus eleitores acredita mais em você do que nas agências e outra não liga para as mentiras. Os que ficam irritados são aqueles que já não votariam mesmo em você.

Cristina Serra - Navegar, com Lula, é preciso

Folha de S. Paulo

Votar no ex-presidente é a chance de reencontrarmos o território dos nossos sonhos

Neste domingo, vote como quem mergulha no fundo do oceano para nos resgatar de um naufrágio. Muitos navegantes, antes de nós, foram abatidos pelas tempestades, mas deixaram traçadas as rotas de navegação e o mapa-múndi dos nossos desejos de nação.

Vote por eles, construtores de Brasil, que tiveram a ousadia de projetar a pátria soberana. O país da educação e da ciência, de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e Paulo Freire. De Oswaldo Cruz e de todos os sanitaristas, de Nise da Silveira, de Milton Santos e de Josué de Castro, que apontou a chaga mais dolorosa, a fome, ainda a nos atormentar.

Alvaro Costa e Silva - Eleitores à beira de um ataque de nervos

Folha de S. Paulo

Chegam a Copa, o Natal, o Ano Novo, mas não chega o dia da votação

Chegam o Mundial do Qatar, o Natal, o Ano Novo, as modas do verão, o Carnaval, o Brasil do futuro de Stefan Zweig. Mas não chega o dia da eleição.

A importância do pleito de 2022 — que se transformou num plebiscito sobre a Constituição e a democracia — mexeu com a já combalida saúde mental dos brasileiros, que vão às urnas neste domingo (30) como uma personagem de Almodóvar: à beira de um ataque de nervos. Medo, raiva, desespero, ansiedade e angústia na escala máxima, tornando a convivência entre os adversários uma impossibilidade.

Muitas relações familiares já tinham ido para a cucuia desde 2018. As amorosas, idem. Mais importante que a atração física, hoje, é uma pergunta-chave: você é Lula ou Bolsonaro? Dependendo da resposta, não dá match. Freguês há mais de 20 anos da cerveja gelada, do caldinho de feijão e do papo no bar que fica na rua onde ele mora, um amigo meu cancelou o lazer dos sábados porque uma camisa da seleção, com o 22 às costas, surgiu tremulando na porta do boteco.

Bruno Boghossian - Candidatos buscam afastar indecisos do rival em debate de rejeição e confusão

Folha de S. Paulo

Candidatos reforçam discurso, mas encontro dificilmente produzirá avalanche a favor de um deles

Na última oportunidade de assegurar o voto dos eleitores que ainda não decidiram o voto no segundo turno, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) levaram ao debate da TV Globo uma rajada de ataques que tinham o objetivo de ampliar a rejeição do adversário.

O petista fez um investimento para dar à reta final da disputa a cara de um plebiscito sobre a continuidade do governo. Em praticamente todos os blocos, Lula perguntou repetidamente a Bolsonaro sobre as realizações de sua gestão –aproveitando a hesitação do rival para acusá-lo de fazer poucas entregas e não apresentar propostas.

Foi uma tentativa de levar a discussão para um terreno que o PT acreditava ser mais fértil antes do segundo turno. O comitê de Lula achava que o eleitor julgaria o governo Bolsonaro e encerraria rapidamente sua gestão, mas a dinâmica da corrida elevou o antipetismo a fator de definição de voto de uma parcela razoável do eleitorado.

Igor Gielow - Lula leva a melhor em debate de monólogos

Folha de S. Paulo

Evento na Globo coroa eleição de rejeições que marca a disputa que chega a seu fim

Coroando uma corrida presidencial marcada por uma disputa entre rejeições, o embate final do segundo turno desenhou-se como um debate entre monólogos.

O objetivo primário de qualquer encontro do tipo é evitar um escorregão fatal, e nisso tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o atual, Jair Bolsonaro (PL), foram bem-sucedidos.

Já o alvo secundário, a conquista de indecisos (2% segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, número que pode mudar a equação final), parece ter ficado bastante longe. Os candidatos falaram para si mesmos e com uma estridência colegial, trocando de temas incômodos para outros assuntos

Bolsonaro passou a campanha na casa dos 50% de rejeição, onde está segundo o Datafolha, e Lula subiu para os 45% atuais. Ao longo dos três primeiros blocos, o que se viu foram acusações alternadas, orientadas pelo que dizem pesquisas qualitativas a suas coordenações de campanha.

João Gabriel de Lima* - A véspera e o dia seguinte

O Estado de S. Paulo

Temos a obrigação de retomar o debate adulto e civilizado sobre as questões que importam

Que tal ler um livro na véspera da eleição? Aí vai uma sugestão: Nós do Brasil, da economista Zeina Latif. Trata-se de uma reflexão de rara clareza sobre a questão fundamental para nós, eleitores: de onde vem e para onde vai nosso país? Ou, nos termos do livro: estamos condenados ao baixo crescimento e ao desenvolvimento medíocre, ou há alguma perspectiva de mudar esse destino?

Para responder à pergunta, Latif mergulha na história brasileira e na melhor literatura acadêmica. As respostas são múltiplas – não existe solução simples para problema complexo –, mas a autora elege uma razão central para nosso atraso: a demora em criar um sistema nacional de educação pública. O livro mostra, com dados e gráficos, que ficamos na rabeira no Ocidente, em geral, e na América do Sul, em particular, atrás de países como Argentina, Chile e Peru.

Rafael Cortez* - Debate mostra campanha do passado e não deve ter peso eleitoral

O Estado de S. Paulo

Sensação de mais do mesmo logo apareceu por meio de acusações de quem seria mais mentiroso em meio às comparações com os governos anteriores

O cardápio de acontecimentos na última semana da corrida presidencial foi bastante farto, o que à primeira vista causaria impacto importante na cena eleitoral. A oferta de temas agradava diferentes freguesias; dos temas associados ao debate econômico, passando por discussões relativas à segurança pública e ao Estado democrático de direito. A particularidade da corrida presidencial de 2022 era justamente de combinar o protagonismo do voto econômico com peso crescente do debate moral/costumes.

As pesquisas mais recentes, contudo, apontam oscilações na margem de erro. Dito de outro modo: as mudanças no debate público parecem não afetar as preferências do eleitorado. Notem, leitoras e leitores estamos tratando de discussões relevantes como a política de ajuste do salário mínimo e de um ex-parlamentar que respondeu a autoridade policial com artefatos bélicos.

Maria Cristina Fernandes - Lula melhora desempenho

Valor Econômico

Lula não se deixou acuar pelo adversário e Bolsonaro mostrou-se nervoso desde o início

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisava de um empate para administrar sua vantagem frente ao presidente da República, mas ganhou o debate. Não se deixou acuar pelo adversário, que subiu o tom das acusações, administrou melhor o tempo e evitou ficar perto de Bolsonaro para não ser intimidado como o foi no encontro da TV Bandeirantes. Jair Bolsonaro mostrou-se nervoso desde o início ao começar o debate sem dar boa-noite aos telespectadores, sem cumprimentar o apresentador William Bonner ou ao seu adversário. Colecionou xingamentos (“Lula, tenha vergonha na cara”, “O crime compensa, Lula?”, “Você é um bandido, Lula”, “Ele só transpôs dinheiro pro bolso dele”, “Você é chefe de organização criminosa”, “Tu és um grande farsante, a começar pela escolha do vice”), levando Lula a pedir desculpas aos telespectadores pelo nível do debate.

A acusação de Lula de que Bolsonaro estava desequilibrado encontrou sua imagem literal nos escorregões de Bolsonaro no palco. Ele se manteve sempre à frente no palco mas não conseguiu mais trazer Lula para seu lado, condição que evidencia a diferença da estatura entre ambos.

Bruno Carazza* - Desempenho dos candidatos

Valor Econômico

Sem bala de prata, nem arma secreta. O último confronto frente a frente entre Lula e Bolsonaro não teve declarações ou revelações bombásticas, mas deixou claro que a eleição de domingo não está definida.

Não se sabe se por excesso de confiança em função dos resultados das pesquisas ou pelo cansaço de quem chega ao fim de uma dura campanha aos 77 anos de idade, Lula não esteve bem neste que pode ser o último debate presidencial de sua vida – independentemente de vencer ou não a eleição no próximo domingo.

Para piorar sua situação, Jair Bolsonaro se mostrou muito mais bem preparado do que nos debates anteriores.

O formato mais livre dos debates do segundo turno – inaugurado na Band e repetido na Globo – favoreceu Bolsonaro. Sem a rigidez de perguntas pré-estabelecidas, Bolsonaro foi bem mais eficaz em controlar a temática e em fugir das armadilhas armadas pelo adversário.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Transporte gratuito no dia da eleição favorece democracia

O Globo

Todas as 27 capitais decidiram liberar as roletas para tentar reduzir a abstenção nas urnas

É uma excelente notícia que as 27 capitais brasileiras tenham decidido oferecer transporte público gratuito para que os eleitores possam votar amanhã. A medida, que visa a combater a abstenção, deverá beneficiar quase 36 milhões de cidadãos, o dobro do contingente contemplado no primeiro turno. As capitais concentram um quarto dos brasileiros aptos a votar.

No primeiro turno, apenas 15 delas ofereceram gratuidade no transporte. Outras duas, Cuiabá e Natal, implantaram tarifas mais baratas para facilitar o deslocamento às seções eleitorais. A diferença é que agora os prefeitos ganharam o aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros entenderam que os gestores não podem ser punidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal por empregar recursos públicos para custear as passagens.

Ainda que a gratuidade não se estenda a todos os tipos de transporte (em geral o passe livre é para os ônibus), a iniciativa é uma medida importante para tentar reduzir a abstenção. No primeiro turno, 32,7 milhões de eleitores deixaram de comparecer às seções, ou 20,9% do eleitorado, índice pouco acima de 2018 (20,3%). Pelos dados do TSE, os moradores de cidades pequenas e médias (10 mil a 200 mil habitantes), especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, são os mais propensos a não comparecer. Entre as capitais, a maior abstenção no primeiro turno foi registrada no Rio (24,19%) e a menor no Recife (14,17%).

Poesia | Ferreira Gullar - Meu povo meu poema

 

Música - Chico Buarque - Mulheres de Atenas

 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Entrevista | Maria Hermínia - Despolitização foi a marca da eleição

Professora critica falta de debate sobre proposta social, política econômica e papel do Estado

Por Daniela Chiaretti /Valor Econômico

SÃO PAULO - A campanha para presidente de 2022 teve como marca a despolitização extrema, na análise de Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular aposentada de ciência política da Universidade de São Paulo. “Sem dúvida é a campanha mais despolitizada que já vi. Uma campanha onde não se discute proposta social, onde não se discute política econômica, onde não se discute o papel do Estado, onde não se discute nada. É um jogo pesado o tempo inteiro, dos dois lados”, critica. De pontos positivos ela enxerga o amadurecimento da sociedade na discussão do racismo e em permitir que o tema ambiental entre definitivamente na agenda.

Maria Hermínia, membro e uma das fundadoras da Comissão Arns, indicou uma grande mudança no espectro político da direita, que encontrou em Jair Bolsonaro um líder populista, e, portanto, forte eleitoralmente. A esquerda, por sua vez, protagonizou um grande avanço político com o apoio de muitos e diversos grupos em uma frente democrática em torno de Luiz Inácio Lula da Silva. “A grande revolução ocorreu no hemisfério da direita, não da esquerda”, constata. “O Brasil encontrou sua liderança de direita que não é de elite, é popularesca. Daí sua força”, diz. No polo oposto, ela enxerga na multiplicidade de apoios e na convergência de forças em volta de Lula, a conquista de um valioso patrimônio político: “As pessoas perceberam que era a hora da generosidade e de deixar para trás as mágoas porque o país está sob uma ameaça muito grande.”

A seguir os principais trechos da entrevista ao Valor:

Entrevista | Argelina Figueiredo - Governar depende de ter programa e partido

Especialista em governabilidade, professora do Iesp-Uerj considera que siglas precisarão se recompor

Por Caio Sartori e Paula Martini / Valor Econômico

RIO - Referência nos estudos de governabilidade, a cientista política Argelina Figueiredo refuta a ideia de que o perfil do Congresso eleito possa ser empecilho para um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por defender bandeiras como o combate à fome, Lula teria mais facilidade que Jair Bolsonaro (PL) na relação com o Legislativo. “Políticas de combate à pobreza são bem mais fáceis de congregar, porque é difícil o Congresso se negar a votá-las.” O atual mandatário, avalia a professora do Iesp-Uerj, representa uma forma distinta de encarar a política, concentrada em temas fragmentados e sem apelo a convergências, o que causa divisões nas instâncias partidárias. Ao Valor, Argelina analisa ainda o processo eleitoral, a futura configuração partidária e a força do bolsonarismo. 

A seguir, os principais pontos da entrevista.

Entrevista | Marcus Melo - Brasil não tem problemas institucionais que possam favorecer o autoritarismo

Para cientista político, superestimação dos riscos à democracia é subproduto da polarização

Fernando Canzian / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O Brasil não apresentaria "comorbidades institucionais" como outros países que sucumbiram ao avanço de presidentes autoritários que minaram o funcionamento de suas democracias.

Na opinião do cientista político e colunista da Folha, Marcus André Melo, é "descabido, para cenários à esquerda ou à direita", o risco de "venezuelização" do Brasil, em que as instituições perderiam espaço para o autoritarismo.

"A superestimação dos riscos à democracia é mais um subproduto da polarização. O fantasma da 'venezualização' interessa aos principais contendores, pois esvazia a discussão em torno de políticas econonômica e ambiental, entre outras", afirma em entrevista.

Fernando Gabeira - Um domingo em nossa vida

O Estado de S. Paulo

Assim como apenas um presidente não basta para o processo de pacificação do País, autoridades não bastam para conter o processo de ‘fake news’.

Domingo pode ser o fim da era Bolsonaro. Duas visões de Brasil muito diferentes se encontram. A possibilidade de mudança é alta.

Bolsonaro já foi derrotado no primeiro turno. Derrota inédita para um presidente em exercício.

Os fatos neste final de campanha parecem confirmar a tendência de derrota. O primeiro deles foi a frase de Bolsonaro confessando uma atração sexual por uma refugiada venezuelana de 14 anos: “pintou um clima”. Para um líder político que se diz defensor da família, dos bons costumes e da religião, a frase de Bolsonaro é escandalosamente contraditória. Seria o mesmo que um líder na luta contra a corrupção aparecer com milhares de dólares na cueca.

Mesmo sem pressão da mídia e da campanha opositora, o fato ganhou as redes e, num primeiro momento, produziu 1,5 milhão de postagens. Bolsonaro afirmou que as meninas venezuelanas estavam se preparando para se prostituir. Falso. Isso também causou revolta.

Vera Magalhães - Brasil: ontem, hoje e amanhã

O Globo

Eleição de domingo marca uma mudança de era, e está em jogo a vigência plena da democracia

A eleição de domingo será a última sob o signo da Nova República. Caso Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito para um inédito terceiro mandato desde que foram restabelecidas as eleições presidenciais, em 1989, anunciou que fará seu último governo. Isso projeta para 2026 um cenário de disputa com novos nomes. Se Jair Bolsonaro vencer, a superação do ciclo pós-redemocratização, que sua primeira vitória prenunciava, se completará quatro anos antes.

Nessa mudança de era, o que está em jogo é a vigência plena da democracia. A Nova República teve início com a escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, etapa final da superação da ditadura. Foi marcada por momentos de instabilidade econômica e política, inclusive com dois impeachments, mas não por ameaça real à independência dos Poderes ou às demais garantias constitucionais.

Foi esse risco, de uma vitória de Bolsonaro solapar a normalidade institucional, que levou forças tão distintas do espectro político, da esquerda à centro-direita, a se unir naquela que é a frente mais ampla desde as Diretas Já, que inaugurou o período histórico que caminha para o epílogo.

Luiz Carlos Azedo - Denúncia das rádios foi tiro no pé de Bolsonaro

Correio Braziliense

A ordem na campanha de Bolsonaro é esquecer a história das rádios e deixar o assunto morrer na Justiça, porque a denúncia foi uma Operação Tabajara, como diria o humorista Claudio Manoel, da antiga Casseta & Planeta. Não se sustentou 24 horas, porque revelou atraso na entrega dos programas às rádios, falhas no monitoramento das redes sociais e uma desconfiança, por parte da própria equipe de campanha, de que o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten, autor da trapalhada, comprou gato por lebre, ao acreditar que o dossiê com a denúncia tivesse total veracidade e poder de provocar até o adiamento das eleições.

A tese foi comprada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, que divulgou a denúncia em entrevista coletiva na segunda-feira, sem que o senador Fábio Bolsonaro (PL-RJ) e o marqueteiro da campanha, Duda Lima, fossem consultados. Como todo candidato que está perdendo a eleição acredita em qualquer coisa que possa mudar o rumo da história, Bolsonaro se empolgou e agarrou a denúncia com as duas mãos, mas foi demovido de um confronto mais sério com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, pela cúpula das Forças Armadas e os caciques do Centrão — o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto — tão logo as rádios começaram a desmentir as informações.

Eliane Cantanhêde – Hollywood é aqui

O Estado de S. Paulo

Só num país imaginário, o presidente inventa uma farsa eleitoral e todos temem golpes

Num certo país imaginário, um líder político inteligente, experiente e praticamente dono de um partido chocou todo mundo ao atacar de forma vil uma ministra da Suprema Corte, mesmo sabendo que, em estando em prisão domiciliar, seria levado de volta à cadeia. Como foi.

Antes, porém, nesse país imaginário, esse político preso, armado e amalucado recebe agentes da Polícia Federal com 50 tiros e três granadas. E o que faz o presidente da República? Destaca o ministro da Justiça para negociar, a favor do aliado criminoso, com quem ele disse que nunca tirara uma foto. A internet foi inundada de fotos dos dois.

Bernardo Mello Franco - Pintou um clima

O Globo

Se presidente queria demonstrar força, pronunciamento desta quarta teve o efeito contrário

Pintou um clima de derrota na campanha de Jair Bolsonaro.

Às vésperas do segundo turno, aliados do presidente passaram a pedir o adiamento da votação. Alegam que ele teria sido prejudicado na distribuição da propaganda eleitoral em rádios no Nordeste.

A queixa foi apresentada por Fábio Faria, dublê de ministro e animador de palanque. Anunciada em tom de escândalo, baseava-se num relatório vazio e apócrifo. Instado a dizer quem teria participado do boicote, o comitê bolsonarista listou apenas oito emissoras. A maioria de municípios diminutos, como Várzea da Roça e Santo Antônio de Jesus.

O factoide governista não sensibilizou o TSE. O ministro Alexandre de Moraes arquivou a reclamação por ausência de “qualquer indício mínimo de prova”. Para completar, determinou que seus autores sejam investigados por tentativa de tumultuar o processo eleitoral.

Ainda que a história fosse verdadeira, não teria a menor influência numa disputa que envolve mais de 120 milhões de eleitores. Além disso, a responsabilidade de fiscalizar a veiculação de propaganda é dos partidos políticos, não do Judiciário.

Maria Cristina Fernandes - O teste de estresse imposto à democracia

Valor Econômico

Segundo turno que começou pela votação surpreendente de Bolsonaro termina com investida contra TSE

Em quatro semanas, um segundo turno que começou pelo surpreendente percentual de votos obtido pelo presidente da República em 2 de outubro terminou sob o impacto de uma investida de sua campanha para desacreditar o processo eleitoral. As pesquisas de intenção de voto mostram um cenário apertado.

Marcada pelo recorde em denúncias de “fake news” pedidos de direitos de resposta no horário eleitoral e pelo inédito poder de polícia do TSE, a campanha estava marcada para terminar na noite desta sexta-feira, com o debate presidencial. Terá porém, manifestações em todo o país, no sábado, convocadas pela campanha de Jair Bolsonaro sob o mote “eleições limpas”.

No lugar das urnas eletrônicas, cujo relatório de fiscalização ainda não foi apresentado pelas Forças Armadas, entrou a denúncia de supressão de inserções publicitárias da campanha bolsonarista já rejeitado pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.

A guinada da campanha presidencial deu-se à medida que a arrancada do primeiro turno, que deixou Jair Bolsonaro a apenas cinco pontos percentuais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (48,4% x 43,2%), o equivalente a 6 milhões de votos, perdeu fôlego.

César Felício - O método na loucura

Valor Econômico

Golpismo de Bolsonaro sempre volta quando se perde a narrativa

“Embora seja loucura, há um certo método nela”, comentou Polônio, depois de ouvir um desvario de Hamlet, o príncipe que fingia ser louco na peça de Shakespeare para orquestrar sua vingança. O auxiliar do rei da Dinamarca desconfiou de que a loucura de Hamlet era uma fraude momentos antes de ser assassinado por ele.

A retórica do complô à qual o presidente Jair Bolsonaro desde sempre recorre para alimentar o golpismo segue um padrão: ela volta à tona quando, por um motivo ou outro, o bolsonarismo perde o controle da narrativa. É uma retórica assentada em bases frágeis, mas cuja possível letalidade não pode ser subestimada.

De certa maneira era esperada no meio político a volta com força do discurso anti-institucional, caso aumentasse a dúvida sobre as chances do presidente em se reeleger. Como sempre faz nestas ocasiões, Bolsonaro vai até um certo limite do qual não ultrapassa. A porta para o recuo está sempre aberta. O presidente acusou a Justiça Eleitoral de fazer vista grossa a um boicote generalizado por parte de emissoras de rádio, principalmente do Norte e Nordeste, a inserções suas no horário eleitoral do segundo turno. O presidente do TSE arquivou a denúncia. Assustando a República, Bolsonaro convocou uma coletiva no Palácio do Alvorada para dizer que vai recorrer e fazer discurso de campanha. Ponto.

Bruno Boghossian - O que muda com o último debate

Folha de S. Paulo

Encontro terá peso sobre decisão de voto do eleitor menos convicto e vontade de ir às urnas

debate na TV Globo não mexe na ampla base fiel de Lula e Jair Bolsonaro, mas as mensagens finais de cada candidato ainda podem ter influência sobre dois fatores importantes: a decisão de voto do eleitor menos convicto e sua vontade de ir às urnas.

Lula tem o privilégio de jogar pelo empate na sexta-feira (28). Ele não precisa tomar riscos, mas tem que evitar erros. Isso envolve calibrar o discurso para segurar eleitores que estão dispostos a derrotar Bolsonaro, ainda que não sejam fãs do PT.

O desafio do ex-presidente será corrigir pontos fracos do debate anterior, quando deu respostas vacilantes sobre corrupção e entregou o palco para uma pregação conservadora do rival. Bolsonaro deve insistir nesses temas, o que faz com que uma das prioridades de Lula seja impedir que o presidente surfe na rejeição à esquerda para capturar eleitores indecisos ou hesitantes.

Hélio Schwartsman – O que quer Bolsonaro?

Folha de S. Paulo

Não dá para descartar um cenário em que o atual mandatário tente algo na linha de um golpe

Uma coisa com a qual não precisávamos nos preocupar antes da extremização do país era a reação dos candidatos derrotados nas urnas. Quando a democracia funciona em seu ritmo normal, os perdedores se conformam em passar um tempo na oposição, aguardando uma chance de retorno. O cálculo político é o de que sai mais em conta entregar pacificamente o poder e passar um período sem acesso direto a suas benesses do que tentar impor-se pela força. Perdas momentâneas são preferíveis à possibilidade de eliminação definitiva.

Nosso problema, hoje, é que Jair Bolsonaro não faz essa conta. E ele não está de todo errado. Em seu caso, a perda da Presidência pode significar mais do que apenas uma temporada longe do poder, pois há uma chance não desprezível de que ele vá para a cadeia —e isso abre as portas da incerteza. A única coisa de que estamos razoavelmente seguros é que, em caso de derrota no domingo, Bolsonaro não vai telefonar para Lula parabenizando-o pela vitória.

Mariliz Pereira Jorge - O lado certo na história

Folha de S. Paulo

Terei paz ao olhar para trás e ver que engrossei nas ruas o coro de 'fora, Bolsonaro'

Não há mais nada a ser dito sobre Jair Bolsonaro. Nos últimos quatro anos gastamos todo o vocabulário, importamos palavras, incorporamos outras ao nosso repertório para descrever a tragédia que vivemos.

Eu poderia usar mais 1.900 caracteres para reafirmar que Bolsonaro é um golpista, corrupto, autoritário, insensível, preconceituoso, obtuso. Poderia gastar este espaço inteiro novamente para desqualificar o sujeito mais repulsivo da nossa história mais recente. Mas prefiro deixar aqui uma provocação inspirada no manifesto "Domingo a gente faz um país".De que lado você estará na história? Assim como Antonio Prata, que assina o texto distribuído pelo grupo Derrubando Muros, daqui a dez, trinta anos, se ainda estiver viva, poderei contar com orgulho que naquele 30 de outubro de 2022 eu estava do lado certo. Assim como Alckmin e Lula, Boulos e Tebet, Armínio e Emicida, João Amoêdo e Mano Brown, escolhi abraçar a democracia.

Vinicius Torres Freire - Lula 3 fala do ‘Brasil do Amanhã’

Folha de S. Paulo

Plano econômico imita objetivos de governos petistas, sem mostrar como fazer melhor e não estourar dívida

Um governo Lula 3 seria muito parecido com Lula 2. Talvez até com Dilma 1. É o que fica da leitura da "Carta para o Brasil do Amanhã", um programa sintético de governo divulgado nesta quinta-feira (27) pela candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Por fora, pelos nomes e intenções genéricas descritas na "Carta", os programas são quase idênticos aos dos governos petistas —"por fora, bela viola". Por dentro, não se sabe se é o caso de pão bolorento.

Vários desses programas deram errado ou são agora (ainda mais) insustentáveis. Os casos mais graves foram os subsídios para empresas, de criação de indústrias nacionais que produziriam bens para substituir importações e a atuação de BNDES e Petrobras. Vários deles terminaram em desastre.

Sim, é possível estabelecer os mesmos objetivos da "Carta" de Lula mudando métodos e a depender de tamanho e do prazo em que se quer atingir o resultado. Não é possível saber se será assim. A "Carta" de Lula não dá pistas do que seria novo. Apenas sugere o velho

Reinaldo Azevedo - Entre a frente ampla e a autocracia

Folha de S. Paulo

A frente do 'não' também é a do 'sim' à civilização

Estaríamos, como país, dando um passo civilizatório a mais se uma frente ampla tivesse se formado, de caráter duradouro, tentando levar adiante um programa de, vá lá, "modernização" do Brasil. Essa palavra escrita entre aspas é sempre complicada, e eu não ignoro os sortilégios que traz, assim, embrulhada em papel de presente. "Modernos" à moda Paulo Guedes —esses reacionários que se vestem de liberais em festinhas, mas praticam canibalismo social em festins— acham "moderna", por exemplo, a não obrigatoriedade de corrigir o salário mínimo pela inflação.

Entendem que tal imposição legal seria uma forma de tabelamento da mão-de-obra, o que inibiria os investimentos. Sei. Num país em que pelo menos 34% dos trabalhadores ganham até dois mínimos —a depender da métrica, esse índice passa dos 50%— e em que 51,2% dos adultos (69,5 milhões) não concluíram o segundo grau, fazer pregação contra a correção é conversa de nababos que concentram renda enquanto os pobres flutuam só ao sabor do mercado.

Flávia Oliveira – A eleição dos identitários

O Globo

Grupos que presidente tentou subordinar darão resposta a ele domingo

Quando o domingo de segundo turno chegar ao fim, o líder que assentou discursos e atos na supremacia de uns contra outros terá recebido dos grupos que tentou subordinar, no mínimo, um recado robusto; se as pesquisas se confirmarem, uma derrota retumbante. Jair Bolsonaro passou carreira política e mandato presidencial subvertendo o fundamento constitucional da igualdade ao declarar, e repetir, que “as leis existem para proteger as maiorias; as minorias têm de se adequar” — esse exemplo é de julho passado, em ato da campanha à reeleição, em Imperatriz (MA). A Carta de 1988 consagra o direito à diferença; proíbe discriminação por sexo, raça, etnia, religião. A corrida eleitoral de 2022 foi também sobre isso. Minorias feridas, quando juntas marcham, maiorias se tornam.

Pedro Doria - Musk e Twitter e Lula e Bolsonaro

O Globo

Os algoritmos incentivam a desinformação e os cancelamentos. Os atores políticos sem pudores de usar esses recursos crescem

Na quarta-feira de manhã, Elon Musk entrou na sede do Twitter carregando uma pia de louça nas mãos.

Let that sink in — escreveu.

Literalmente, “deixe esta pia entrar” — embora, em inglês, a frase também possa ser lida como “deixa essa ficha cair”. Enquanto publicava o vídeo na própria plataforma, modificou sua autodescrição: Chief Twit. Mais ou menos ao mesmo tempo, os funcionários da empresa receberam um e-mail geral.

— Elon Musk está circulando pelo prédio, aproveitem para dizer “oi”.

Pela cabeça de muita gente certamente passava outro recado — que, se Musk fosse comprar mesmo a companhia, cortaria 75% da mão de obra. (Ele nega.)

Pois é: domingo temos a eleição mais importante da História brasileira desde que Tancredo Neves foi escolhido pelo Colégio Eleitoral, lá se vão quase 40 anos. E cá o colunista está falando de Elon Musk comprando o Twitter. Ocorre que o foco habitual deste espaço é o encontro de tecnologia, sociedade e política. Ocorre que a maneira como a informação que circula entre nós foi corrompida pelas redes sociais é diretamente responsável pela eleição de tipos como Donald Trump e Jair Bolsonaro. O assunto é inevitável e está no centro do drama que continuaremos a enfrentar, mesmo que o único candidato democrata confirme sua vitória no domingo.