Valor Econômico
Sem bala de prata, nem arma secreta.
O último
confronto frente a frente entre Lula e Bolsonaro não teve
declarações ou revelações bombásticas, mas deixou claro que a eleição de
domingo não está definida.
Não se sabe se por excesso de confiança em
função dos resultados das pesquisas ou pelo cansaço de quem chega ao fim de uma
dura campanha aos 77 anos de idade, Lula não esteve bem neste que pode ser o
último debate presidencial de sua vida – independentemente de vencer ou não a
eleição no próximo domingo.
Para piorar sua situação, Jair Bolsonaro se
mostrou muito mais bem preparado do que nos debates anteriores.
O formato mais livre dos debates do segundo turno – inaugurado na Band e repetido na Globo – favoreceu Bolsonaro. Sem a rigidez de perguntas pré-estabelecidas, Bolsonaro foi bem mais eficaz em controlar a temática e em fugir das armadilhas armadas pelo adversário.
No primeiro bloco, quando a audiência
estava em seus níveis máximos, Bolsonaro levou Lula às cordas explorando o tema
da corrupção e questionando as escolhas do petista quando presidente – uma
forma inteligente de escapar da torrente de números positivos que Lula costuma
utilizar como arma nos debates.
Criado e curtido em disputas, comícios e
negociações ao longo de toda a sua longa carreira política, Lula cometeu erros
infantis, como colocar gratuitamente na roda o tema do aborto, com o qual tem
uma relação muito controversa e que é um de seus pontos fracos junto ao público
religioso. Bolsonaro não deixou passar barato.
Bolsonaro também explorou pontos de
documentos da campanha de Lula para atacar em duas frentes relevantes para
potenciais eleitores que a esta altura do campeonato ainda estejam indecisos.
De um lado, elencou propostas do PT para a segurança pública. De outro,
levantou pontos sensíveis de ajuste fiscal, forçando Lula a se indispor com
Geraldo Alckmin, seu vice e fiador no plano econômico.
Lula repetiu a estratégia de tentar
emparedar Bolsonaro na questão da gestão da pandemia; porém, ao contrário do
ocorrido no debate da Band, o atual presidente conseguiu mudar de assunto com
maior rapidez.
Quanto ao tema mais quente da semana – o
episódio Roberto Jefferson – Bolsonaro por duas vezes rebateu a acusação de
Lula quanto à sua relação íntima com o cacique do PTB contra-atacando ao
relembrar o episódio do mensalão.
Todos sabemos a relação complicada que Jair
Bolsonaro tem com fatos, dados e números. Cultivando uma habilidade de se
comunicar em lives semanais, transmissões nas redes sociais e entrevistas nos
canais de seus apoiadores, Bolsonaro chegou ao último ato da sua campanha muito
à vontade.
Diante de um Lula cansado e pouco
inspirado, Bolsonaro mostra que não é carta fora do baralho na eleição de
domingo.
*Bruno Carazza é colunista do Valor
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