quinta-feira, 10 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Caos promovido por Trump atrai recessão e inflação

Folha de S. Paulo

Guerra comercial entre EUA e China se acirra; há risco de alta de preços aos consumidores e paralisação de investimentos

A maior tentativa de mudança na ordem comercial e geopolítica após a Segunda Guerra Mundial ainda está longe de um desfecho, mas já causa impactos tectônicos no mercado financeiro, produzindo riscos de aumento da inflação e de recessão global.

Há uma semana, o presidente dos Estados UnidosDonald Trump, anunciou uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações e instituiu cobranças adicionais, que chamou de recíprocas, a uma série de países.

A força da língua - Merval Pereira

O Globo

A língua portuguesa é oficial em 33 organizações internacionais — e precisa ser acolhida pela ONU

Depois de inexplicavelmente perderem tempo, os governos de Portugal e Brasil decidiram unir esforços na busca de reconhecimento, pela Organização das Nações Unidas (ONU), do português como língua oficial, assim como já são o mandarim, o espanhol, o inglês, o francês, o árabe e o russo. As navegações e descobertas portuguesas do século XV fizeram do português o primeiro idioma globalizado, mas o poder da língua portuguesa, falada por 280 milhões de pessoas no mundo, como ativo político continua mal explorado.

A escolha do Rio, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), como Capital Mundial do Livro neste ano é um largo passo nessa direção. É a primeira cidade de língua portuguesa homenageada. Para ressaltar a internacionalização da lusofonia, as comemorações começaram com uma solenidade na Academia das Ciências de Lisboa, em conjunto com a Academia Brasileira de Letras, com a presença de representantes dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), do embaixador do Brasil na CPLP, Juliano Féres, e do secretário municipal de Cultura do Rio, Lucas Padilha.

A fraternidade de Lula - Malu Gaspar

O Globo

Nos quatro dias que passou entre o Japão e o Vietnã, no final de março, o presidente assinou dez acordos bilaterais e 80 instrumentos de cooperação, celebrou a venda de 15 aviões da Embraer para uma companhia japonesa e fez lobby pelo fim de restrições ao etanol e à carne brasileira nos mercados asiáticos. Como em toda viagem internacional, porém, os resultados parecem um tanto vagos e incertos. Os efeitos mais concretos da excursão que levou 84 pessoas para o outro lado do mundo, incluindo oito parlamentares, apareceram mesmo no front doméstico.

Depois do tour, o senador Jaques Wagner (PT-BA) contou que Lula se apaixonou por Davi Alcolumbre, e auxiliares disseram que ele e o presidente da Câmara, Hugo Motta, estavam muito entrosados. Na entrevista que deu ainda no Japão, Lula fez questão de afirmar que foi uma viagem “de muita fraternidade”, e que ela inauguraria “o melhor momento da relação do Congresso com o Executivo”.

Trump recua e finge escalar - Míriam Leitão

O Globo

Donald Trump recuou por pressão do mercado, depois de ter escalado a guerra

A reviravolta de ontem mostra que a maior economia do mundo está desgovernada. O presidente Donald Trump tenta sair do buraco em que entrou, ao disparar rajadas tarifárias contra o mundo inteiro, e procura se concentrar em um “inimigo”, no caso, a China. O problema é que a China e os Estados Unidos somados representam mais de 40% do PIB mundial, o suficiente para produzir um estrago de dimensões sísmicas. Um país que amanhece estabelecendo tarifas e, de tarde, suspende por 90 dias, está perdido no tiroteio que ele mesmo iniciou. O mercado comemorou com altas vibrantes nos pregões, mas a incerteza permanece mesmo com essa capitulação de Trump às pressões do mercado e dos seus bilionários de estimação.

Para se ter uma ideia da tragédia que pode acontecer, se tudo isso for mantido: a economia americana era 6% do PIB global em 1930, quando, por força da emenda Smoot-Hawley, o país elevou as tarifas. O efeito foi aprofundar e estender a Grande Depressão. Além de o PIB americano ser hoje extremamente maior do que naquela época, o comércio global se intensificou nas últimas décadas depois de todo o projeto de integrar as cadeias produtivas, produzindo onde é mais barato e mais lógico produzir.

Trump revira o túmulo de Mao - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Recuo de Trump desnorteia o mundo e não permite que os EUA recuperem a confiança

Mao: “As pessoas estão comendo o suficiente?” “Estão comendo tanto que agora fazem dieta”

Mao: “Ainda são capitalistas?”

“Agora estão fazendo negócios com o resto do mundo”

Mao: “Produzimos mais aço que a Inglaterra?”

“Tangshan sozinha produz mais que a América”

Mao: “Superamos o imperalismo social (ex-União Soviética)?

“Eles mesmos se dissolveram”

Mao: “Acabamos com o imperialismo?”

“Somos imperialistas agora”

Mao: “E a minha revolução cultural?”

“Está na América agora”.

O diálogo, reproduzido em redes sociais chinesas anos atrás sobre as perguntas que Mao Tsé-Tung faria hoje se ressuscitasse, voltou a circular em alusão às mudanças que Donald Trump impõe aos EUA.

A da tarde desta quarta-feira, quando recuou do tarifaço global com uma taxa linear de 10% e esticou a corda ainda mais com a China, foi apenas a última. A mensagem que se seguiu, em que fez propaganda das ações de sua própria empresa de comunicação, foi a cereja de uma distopia capaz de sacolejar Mao no seu túmulo.

A próxima etapa do plano de Trump - Assis Moreira

Valor Econômico

Presidente dos EUA age como um comerciante que vende direitos de acesso, comenta professor da escola de negócios suíça IMD

O choque imposto por Donald Trump na semana passada elevou a tarifa de importação média dos EUA de 2,5% para 22,5%, a maior em mais de cem anos. “Isso é uma revolução econômica, e vamos ganhar”, tuitou ele.

Para o secretário do Tesouro, Scott Bessent, o tarifaço é apenas o começo da reordenação da ordem econômica que Trump quer estabelecer. Em mais de uma ocasião, Bessent repetiu que “o sistema de comércio internacional consiste numa rede de relacionamentos militares, econômicos e políticos. Não se pode considerar um único aspecto isoladamente. É assim que o presidente Trump vê o mundo, com interconexões que podem ser reordenadas para promover o interesse do povo americano”.

E agora, José? - Jorge Arbache

Valor Econômico

Caberá ao governo e às elites entenderem o momento histórico e as oportunidades que têm diante de si e agir com foco, ousadia, ambição e determinação

“A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?”

Este trecho de poesia do genial Carlos Drummond de Andrade expressa angústia, vazio existencial e sensação de não haver saída. Este talvez seja o sentimento daqueles que apostaram tudo na globalização e com ela cresceram, expandiram e até se tornaram protagonistas, mas que agora olham para o futuro com preocupação. Exemplos de frustração com o fim da globalização não faltam - pense na República de Cingapura e na empresa Apple, aos quais retornaremos à frente.

De fato, o “Liberation Day” enterrou de vez a globalização. O sistema de comércio e investimentos baseados em regras e instituições multilaterais está dando lugar a sistemas arbitrários, intervencionistas, protecionistas, discriminatórios e que ferem princípios de jurisdição internacional. O rechaço da Organização Mundial de Comércio (OMC) é apenas a imagem mais visível desse tormento.

A jogada de Trump - William Waack

O Estado de S. Paulo

Donald Trump colocou seu país, e o mundo, diante de um dilema conhecido por jogadores de xadrez. É quando o oponente executa uma jogada que parece ser muito burra, prejudicial a si mesmo, a ponto de suscitar incredulidade.

Mas será que a jogada é mesmo burra, um erro grotesco? Será que não existe um plano ardiloso por detrás de uma mexida nas peças aparentemente tão estúpida?

Como se sabe agora, no caso do tarifaço do “dia da libertação” de Trump, trata-se apenas de burrice mesmo. Economistas e especialistas ainda passarão um bom tempo debatendo aspectos de política comercial internacional, seus desequilíbrios e como o sistema poderia ser reformado.

Tarifaço do Dia do Delírio - José Serra

O Estado de S. Paulo

Cabe avaliar o mal que podem fazer para a humanidade aqueles que vivem das bravatas, os que têm o poder nas mãos e não fazem ideia do que isso significa

Donald Trump ameaçou e cumpriu, mesmo contra todos os analistas que não acreditavam que a irracionalidade tivesse se instalado na Casa Branca. As tarifas do “Dia da Libertação” perpetraram o maior choque comercial da História. Segundo o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, “embora a incerteza continue elevada, está cada vez mais claro que os aumentos tarifários serão significativamente maiores do que o previsto”.

Trata-se da maior tarifa média americana desde os anos 30. Perante os 3% atuais, as estimativas sobre a tarifa média, no pós-tarifaço, vão de 16,5% a 22%, segundo analistas e instituições financeiras. A única certeza é de que seu efeito será grande, o que já produz uma enorme fila de países à procura das autoridades comerciais americanas para negociar os termos do prejuízo.

A falta de critério técnico para a fixação das novas tarifas já virou chacota internacional e deve ser motivo de vergonha para as instituições americanas. Mas não cabe, aqui, enfileirar as cretinices da baunilha de Madagáscar ou da ilha de pinguins tributados. Cabe avaliar o mal que podem fazer para a humanidade aqueles que vivem das bravatas, os que têm o poder nas mãos e não fazem ideia do que isso significa.

A agenda inescapável - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Em 2027 País precisará de um programa de ajuste fiscal baseado na contenção do aumento da despesa, no corte das renúncias tributárias e na redução do grau de rigidez orçamentária

O compromisso do atual governo com a responsabilidade fiscal segue duas premissas: recuperação de receitas e cumprimento do chamado novo arcabouço fiscal. Essa estratégia, entretanto, é insuficiente para restabelecer as condições de sustentabilidade.

Para 2027, vença as eleições quem vencer, será preciso promover um programa de ajuste fiscal baseado na contenção do crescimento da despesa, no corte das renúncias tributárias e na redução do grau de rigidez orçamentária. Isto é, será necessário reverter as regras de indexação e de vinculação.

O resultado primário necessário para estabilizar a dívida pública como proporção do PIB, de acordo com nossas estimativas na Warren Investimentos, é de 2% do PIB. Isso se considerarmos a taxa real de juros neutra, de 5%, e um crescimento econômico real ao redor de 2,5%, para uma dívida de cerca de 80% do PIB.

Tarifaço entre EUA e China inicia a guerra comercial do século – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Kissinger previu que a China e os Estados Unidos — uma potência continental e uma potência marítima — travariam uma longa disputa pelo controle do comércio mundial

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escalou ainda mais a disputa comercial com a China e recuou em relação aos demais países, numa manobra com objetivo de isolar o presidente chinês, Xi Jinping, e forçar o gigante asiático a aceitar as exigências protecionistas norte-americanas.

A China resolveu adotar uma política de reciprocidade e taxou em 84% os produtos norte-americanos; em resposta, Trump resolveu pausar seu tarifaço por 90 dias, cobrando apenas 10% de impostos sobre os produtos de todos os países, menos da China, que aumentou para 125%, devido às retaliações anunciadas por Pequim.

Os EUA haviam imposto uma taxa de 104% aos produtos chineses, que entraria em vigor nesta quarta. Em resposta, o Ministério das Finanças da China anunciou que subiria tarifas para 84% sobre os produtos americanos. "Com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, estou, por meio deste, aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato", escreveu Trump na Truth Social, sua própria rede.

É o fim da era do dólar? - Benito Salomão*

Correio Braziliense

A nova política tarifária do governo dos Estados Unidos tem causado grande pânico sobre os mercados no mundo todo e produzido uma enorme volatilidade em preços financeiros 

Na última semana, a conjuntura de curto prazo piorou nitidamente. A nova política tarifária do governo dos Estados Unidos tem causado grande pânico sobre os mercados no mundo todo e produzido uma enorme volatilidade em preços financeiros. Desde o fim do regime de Bretton Woods, em que foi sepultado o padrão dólar-ouro e estabelecido o regime de câmbio flutuante, a moeda americana galgou o posto de padrão monetário internacional, o que gerou assimetrias nas relações monetárias entre países.

A teoria monetária de Keynes (1936), pautada na hipótese da preferência pela liquidez, trata a moeda como um ativo demandado por agentes econômicos pelas razões: i) transacional, a moeda é demandada para liquidar transações econômicas quaisquer; ii) precaucional, isto é, num contexto de incertezas, a moeda deve ser demanda para além das necessidades transacionais, a fim amortecer os impactos de choques adversos e; iii) especulativa, que trata a moeda como um ativo que concorre com outros ativos líquidos e ilíquidos como parte dos portfólios de agentes. Neste mundo, a moeda deve ter funções adicionais para além de um mero meio de troca, deve ser também uma unidade de conta e uma reserva de valor.

Cristovam na Academia - José Roberto Arruda*

Correio Braziliense

Nessa trajetória, o ponto mais alto da sua contribuição foi a criação do Bolsa Escola. Essa experiência, incipiente em Campinas e em Belo Horizonte, ganhou, com a ousadia de Cristovam, em Brasília, a visibilidade nacional

O professor Cristovam Buarque semeia educação. Candidato à Academia Brasileira de Letras, Cristovam fez de sua vida uma missão: salvar o Brasil pela educação. Todos sabemos que o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), governador de Brasília, senador da República e ministro da Educação tem uma obra literária vasta e profunda. Publicou algumas dezenas de livros e trabalhos, todos com um pensamento crítico sobre a formação da sociedade brasileira. A grande maioria voltada para a sua obsessão: a educação. Na vida pública, acrescentou muito ao pensamento político do Brasil.

Nessa trajetória, o ponto mais alto da sua contribuição foi a criação do Bolsa Escola. Essa experiência, incipiente em Campinas e em Belo Horizonte, ganhou, com a ousadia de Cristovam, em Brasília, a visibilidade nacional. E seu projeto foi o berço dos programas que se sucederam de renda mínima, inclusive do próprio Bolsa Família.

Dinheiro grosso chia, Trump pisca - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Prestígio do presidente dos EUA está no vermelho; bajulação dos Bolsonaro continua

A China acredita que pode aguentar o ataque comercial de Donald Trump por mais tempo do que os americanos. Pelo menos até que Trump e Partido Republicano percam as eleições de meio de mandato de 2026, pelos danos econômicos que teriam causado.

O povo dos EUA já não aguenta muito. O prestígio de Trump está no vermelho desde meados de março, segundo a média das pesquisas do Boletim de Nate Silver. Começou com 51,6% de aprovação e 40% de desaprovação, em 21 de janeiro; em 9 de abril, 46,1% a 50,4%.

No Brasil, Trump tem 22% de imagem positiva e 43% de negativa, segundo pesquisa Quaest de fins de março, antes do tarifaço. Entre os brasileiros que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2022, 44% de imagem positiva e 20% de negativa.

Lula acerta, com ressalvas, em segurança - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Em outros governos do PT, tema foi silenciado, piorado ou militarizado

Muito se diz sobre a inabilidade da esquerda em segurança pública. As políticas linha-dura da direita tampouco são eficazes. Afrouxar o controle sobre a polícia como quer a direita beneficia policiais corruptos, minoria das forças de segurança; priorizar policiamento ostensivo em vez de inteligência deixa casos sem solução e o crime organizado intacto, enquanto crianças morrem em operações para o asfalto ver.

Se a esquerda é pouco propositiva em segurança (fato), a direita é simplista. Com acertos e erros, Lula faz bem ao se engajar no tema, ao contrário de outros governos petistas, quando foi perigosamente silenciado (Dilma), tragicamente piorado (Rui Costa na Bahia) ou militarizado (Lula 1).

Volta da ultradireita é tragédia contratada - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Trump do segundo mandato é muito mais radical do que o do primeiro

Notável pensador alemão do século 19 fraseou que, na história, a tragédia só se repetia como farsa. No caso dos governos populistas de extrema direita dá-se o oposto: seu primeiro mandato é farsa; o segundo, tragédia.

Donald Trump é prova acabada disso. Desde que voltou à Casa Branca tem produzido destruição inigualável. Na mesma semana em que a imposição de tarifas arbitrárias a uma lista enorme de países virou de ponta-cabeça o sistema de comércio mundial, agentes do Doge (sigla em inglês para Departamento de Eficiência Governamental), comandado por Elon Musk, invadiram o Woodrow Wilson Center.

Seu diretor foi forçado a renunciar e no seu lugar foi instalada uma jovem líder da torcida organizada de Trump; chefias e altos executivos foram demitidos; seus funcionários federais colocados em disponibilidade; o reputado programa internacional de pesquisadores visitantes, desativado.

Trump recua diante de retaliação da China - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Presidente dos EUA vê potência asiática se apresentar como polo da guerra tarifária e tenta angariar apoio para enfrentá-la

Em sua insana guerra tarifáriaDonald Trump conseguiu a façanha de colocar o mundo contra os EUA. A cada dia colheu mais tempestade. Convicto de que o poderio econômico e militar de seu país permitiria usar a intimidação comercial como uma espécie de arsenal nuclear tático, o presidente americano bombardeou o pacto liberal e multilateral do Ocidente, perdeu suas alianças tradicionais na Europa e na Ásia e vê-se agora diante de uma escalada contra a China que, ao que tudo indica, não estava em seus planos iniciais.

Trump destruiu o mundo do pós-Guerra e não colocou nada no lugar. Os sinais são de que o lunático populista e seu estafe delirante sabiam que o tarifaço poderia ser uma arma utilizada em favor dos EUA, mas não exatamente quais seriam seus efeitos reais e não exatamente como lidariam com situações inesperadas.

Projeto China 2025: A batalha pela hegemonia tecnológica mundial - Cláudio Carraly*

Em um cenário global onde a tecnologia se consolida como o principal vetor de poder geopolítico, a China delineou uma trajetória ambiciosa para liderar as indústrias do futuro. O plano Made in China 2025 – MIC 2025, lançado em 2015 pelo Conselho de Estado chinês, emerge como um projeto estratégico fundamental para transformar o país em uma superpotência de alta tecnologia até o ano de 2025. Um dos pilares centrais deste plano é a drástica redução da dependência de importações em setores tecnológicos críticos, com a meta de alcançar uma autossuficiência de 70% até 2049, conforme aponta um relatório do Center for Strategic and International Studies – CSIS.

Esta análise, fundamentada em dados de instituições renomadas como a Organization for Economic Cooperation and Development e em entrevistas com especialistas como Scott Kennedy do CSIS e Paul Triolo do Albright Stonebridge Group, examina o estado atual das tecnologias prioritárias elencadas e definidas pelo MIC 2025, além dos consideráveis obstáculos que se interpõem no caminho da China e as perspectivas em um contexto de crescentes tensões globais.

A questão central que persiste é: o MIC 2025 representa um verdadeiro trampolim para a liderança tecnológica global, ou se configura como um plano vulnerável às sanções internacionais e às próprias limitações internas do gigante asiático? A resposta a esta indagação complexa reside na análise aprofundada de seis setores-chave, que não apenas moldarão o futuro tecnológico da China, mas também poderão redefinir a ordem econômica mundial em curso:

Poesia | João Cabral de Melo Neto - Psicologia da Composição

 

Música | Zizi Possi e Roberto Menescal - O Barquinho(Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli)

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Maioria contrária tira fôlego de ofensiva pela anistia

Folha de S. Paulo

Segundo o Datafolha, 56% se opõem a perdão aos condenados pelos ataques de 8/1; penas exageradas merecem revisão do STF

Algumas dezenas de milhares de brasileiros foram à avenida Paulista em São Paulo, no último domingo, dispostos a defender anistia para Jair Bolsonaro (PL) —que ainda enfrentará julgamento por tentativa de golpe de Estado —e a turba que invadiu as sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023. Eles são minoria na população do país.

Datafolha apurou que 56% dos brasileiros aptos a votar se declaram contra o perdão aos já condenados por golpismo, ante 62% em dezembro. Os favoráveis passaram de 33% para 37%.

Numa sinalização mais aziaga para o ex-presidente, 52% acham que ele deveria ser preso por ter liderado planos contra o resultado das eleições de 2022 —os que se opõem ao encarceramento são 42%. A margem de erro da pesquisa, que entrevistou 3.054 eleitores entre os dias 1º e 3 de abril, é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Mesmo sem recurso a sondagens estratificadas, parlamentares, que costumam manter contato com suas bases, já haviam concluído que o ambiente não é propriamente favorável à anistia, tanto que o projeto de lei que a estabelece vem encontrando dificuldades para avançar.

A anistia virou guerrilha – Elio Gaspari

O Globo

Bolsonaro defende aquilo que condenou

Jair Bolsonaro simula que põe na mesa a carta da anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro, mas pretende embaralhar o jogo. Ele e os demais denunciados pela Procuradoria-Geral da República são acusados de tentar um golpe de Estado no exercício de funções públicas. Nada a ver com o batom de uma cabeleireira.

As duas últimas anistias no Brasil serviram a regimes exauridos para fechar feridas da política nacional. Assim foi em 1945 e em 1979. (Durante seu governo, Juscelino Kubitschek — 1956-1961 — enfrentou dois levantes de militares aloprados e anistiou-os antes que as feridas se abrissem.)

Bolsonaro não conseguiu reunir multidões, mas foi hábil ao embaralhar as cartas, beneficiado pela bizarrice da dureza (teórica) das sentenças já proferidas.

Datafolha informa: 56% dos entrevistados são contra uma anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro (há um ano eram 63%) e 37% são a favor (eram 31%). Noutro recorte, 36% acham que as penas impostas deveriam ser menores, e 34% acham que são adequadas, enquanto 25% acreditam que deveriam ser maiores.

A lenta queda de Juscelino - Bernardo Mello Franco

O Globo

Lula ainda não havia completado um mês no Planalto quando Juscelino Filho estreou nas páginas policiais. Em janeiro de 2023, o jornal O Estado de S. Paulo informou que o ministro das Comunicações tinha usado verbas do orçamento secreto para beneficiar uma fazenda da família no interior do Maranhão. O presidente deveria ter afastado o auxiliar, mas preferiu deixar para lá. A história se repetiria por dois anos e três meses, numa incrível sucessão de escândalos com o mesmo protagonista.

Juscelino foi acusado de ocultar patrimônio da Justiça Eleitoral. De usar avião da FAB e embolsar diárias para assistir a um leilão de cavalos. De pendurar o gerente de seu haras na folha de pagamentos da Câmara. De falsificar dados sobre voos de helicópteros custeados pelo fundo partidário. A cada suspeita, o ministro ganhou um novo voto de confiança do chefe. Mesmo quando sua permanência já se mostrava insustentável.

O passado reprimido do Brasil - Roberto DaMatta

O Globo

A impessoalidade da lei que concretiza os interesses da coletividade é para os outros e, com certeza, para os inimigos

O Brasil certamente mudou, mas somos muito incomodados por permanências contraditórias reprimidas na mudança. Testemunhos da incompetência decorrente da ausência de um olhar crítico sobre as simpatias pessoais responsáveis por um sistema jurídico kafkiano, claramente desenhado para anistiar e anular corruptos confessos e inibir conflitos de interesses. Tudo isso produz a certeza desanimadora de que leis e instituições que valeriam para todos são passíveis de particularização se o criminoso tiver o benefício de estar do nosso lado.

O exemplo mais contundente dessa afirmação é o documento que oficializa a descoberta ou achamento de nossa terra por Cabral. Nessa carta-certidão, o escrivão da frota reitera ao rei sua lealdade para, em seguida, solicitar um favor. Vale citar o original:

Tentativa de anistia reconecta frente ampla - Fernando Exman

Valor Econômico

Governo precisa dar mais atenção à política, à manutenção das forças que podem manter Lula no poder

Concebido para dar um empuxo nos índices de avaliação do governo, que se encontram em um nível que pode levar o projeto da reeleição a naufragar, o evento promovido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República na quinta-feira (3) estava atrasado em cerca de uma hora quando uma voz solitária na plateia rompeu o burburinho. “Olê, olê, olê, olá; Lula, Lula”, gritou o militante, na expectativa de iniciar o cântico com o qual frequentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recebido em solenidades públicas. Ele obteve, porém, pouquíssimas adesões.

Ficou a impressão de que a pesquisa Genial/Quaest, divulgada na véspera mostrando a difícil situação do governo, deixara parte da plateia desanimada. Vários ministros já estavam acomodados nas primeiras cadeiras do auditório. A fila ainda era grande na entrada, onde cartilhas detalhando realizações de diversas áreas do Executivo eram distribuídas em tamanho grande e de bolso. Mas a militância só inflamou para valer quando alguém teve a ideia de puxar o coro pregando que os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é claro, não sejam contemplados com uma anistia pelo Congresso Nacional.

O ‘mau militar’ e o Alto-Comando - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Ao apoiar o ataque à honra dos generais, Bolsonaro obriga os governadores a dizer se estão com o líder

Era para ser mais um comício para salvar Bolsonaro. Um grupo de sete governadores compareceu ao palanque do ex-presidente de olho nos votos que o inelegível espargirá sobre a cabeça de seu eleito. Há ainda os que acreditam que ele terá uma solução republicana, em vez da dinástica, para o destino da direita.

Tudo parecia mais uma vez tomar o rumo da discussão sobre quantos milhares foram à Paulista e se as ruas seriam suficientes para influenciar os gabinetes parlamentares na distante Brasília. Quem foi ao comício no domingo encontrou um público eclético, assim como os oradores que se revezavam no palanque. Tudo corria como o esperado até um pastor tomar o microfone. Disse o homem: “Cadê esses generais de quatro estrelas, do Alto-Comando do Exército? Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem. Não é para dar golpe, não, é para marcar posição”.

Emendas parlamentares derrubam ministro das Comunicações – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O caso de Juscelino é apenas a ponta de um iceberg na Câmara dos Deputados, para a qual o ministro volta, com as prerrogativas de imunidade parlamentar

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, decidiu pedir demissão do cargo após ser denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Suspeito de participação em esquema de desvio de verbas, a situação do ministro na Esplanada se tornou insustentável, ainda mais porque já estava exposto a desgastes desde quando foi indiciado pela Polícia Federal no ano passado. À época, ele acusou a PF de realizar uma "ação política" e questionou as ações da corporação.

Juscelino é acusado de ter desviado recursos públicos no montante de R$ 5 milhões para a cidade de Vitorino Freire, no Maranhão, cuja prefeita é a irmã dele, para asfaltar uma estrada que dá acesso a propriedades da família. A PF também apontou fraude na licitação para fazer a pavimentação. Ontem, a PGR enviou a denúncia ao gabinete do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do caso. A situação criou um enorme constrangimento para o governo. O ministro nega qualquer irregularidade.

Parem com a barbárie! - Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O que acontece na Faixa de Gaza não é justiça pelo massacre de 7 de outubro de 2023 — diga-se de passagem, horrível e dantesco. É vingança cega, uma espécie de Lei de Talião que vitima civis

Vídeo 1: O jornalista está sentado, diante do computador, sob a tenda de imprensa em frente a um hospital de Khan Yunis. Ele queima. Os colegas, desesperados, jogam água sobre ele, que se parece com um boneco em chamas. Vídeo 2: Atordoado, um homem corre, segurando algo. É uma criança decapitada. Atrás, vem outro, com um menino sem as pernas. Vídeo 3: Com as sirenes e luzes acesas, um comboio de ambulâncias avança pela estrada e é interceptado a tiros, perto da cidade de Rafah, na fronteira com o Egito. Quinze paramédicos são assassinados pelos soldados. Enquanto agoniza, um dos funcionários de emergência pronuncia o shahada (juramento islâmico); também é possível ouvir uma das vítimas chamando pelo pai na hora da morte. Três vídeos que são provas cabais da barbárie cometida por Israel na Faixa de Gaza. Sem contar as fotos que chegam, quase todos os dias, pelas agências de notícias, de mães debruçadas sobre o corpo do filho, envoltas na pior dor que pode existir. 

Príncipe do samba - Irlam Rocha Lima

Correio Braziliense

Chamado de Príncipe do Samba, Paulinho da Viola lançou 35 discos e contabiliza sucessos que fazem parte da memória afetiva de incontáveis fãs

O Brasil vivia tempos de arbítrio, sob a égide da ditadura militar, quando, em 1969, Paulinho da Viola, sempre discreto, mas atento ao que ocorria em seu redor, emplacou um dos maiores sucessos de sua obra, Sinal fechado, composição vencedora da quarta edição do histórico Festival da TV Record.

Embora já fosse conhecido como um talentoso autor de samba, o que o levou a vencer aquele certame musical foi uma canção de protesto. Num dos trechos da letra, ele cantava: "Quando é que você telefona?/ Precisamos nos ver por aí/ Pra semana prometo/Talvez nos vejamos, quem sabe?".

O ex-bancário Paulo César Batista Faria recebeu o nome artístico em 1965, atribuído por Hermínio Bello de Carvalho, que o dirigiu no espetáculo Rosa de Ouro, em que dividia o palco com Clementina de Jesus, Aracy Cortes, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Anescar do Salgueiro, no Teatro Jovem do Sesc, no bairro de de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Lula não faz nada sobre ovo e Trump. Melhor assim - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Lula falou muito desses temas, sobre o que pouco poderia fazer, mas não criou mais problema

Carestia da comida, diesel caro na bomba, atravessador do ovo, imposto de importação de Donald Trump. Desde o início do ano, o governo disse umas demagogias sobre cada um desses assuntos, mas acabou por não fazer nada. Pelo menos do ponto de vista das políticas públicas e da economia, melhor assim.

Pode ser que o povo cisme com o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto falar sobre certos assuntos, sem notícia de ação. Mas isso é problema dos marqueteiros.

Na volta das férias de final de ano, o presidente cobrou os ministros, em reunião geral em Brasília: queria medidas para lidar com a inflação da comida, carestia que pouco tinha a ver com o governo e a respeito da qual o governo poderia fazer muito pouco.

Tarifaço de Trump é sintoma do vigarista - Rui Tavares

Folha de S. Paulo

Para o presidente americano, só há dois tipos de jogos: aqueles em que ele ganha e aqueles em que os outros jogaram sujo

Dizer, como tenho feito repetidamente nesta coluna, que não há nenhuma estratégia sofisticada por trás das ações de Donald Trump não é o mesmo que dizer que tudo é burrice e ignorância. Também não é o mesmo que dizer que as suas ações primam pela irracionalidade, o que no fundo seria pressupor que elas fossem meramente táticas, como defendem aqueles que acreditam que as tarifas de Trump são absurdas a não ser como tática negocial.

Nada disso. A minha tese é a seguinte: existe uma lógica simples que explica as ações de Trump. Essa lógica é a do vigarista com medo de ser otário.

Para quem é vigarista, como Trump tem demonstrado ser em toda a sua carreira desde que começou por não pagar a fornecedores e a tentar despejar inquilinos nos seus tempos de magnata do mercado imobiliário, todo o mundo é otário.

'Pressão das ruas' a favor de Bolsonaro está longe de se concretizar - César Felício

Valor Econômico

Pesquisas da Genial/Quaest e do Datafolha feitas na semana passada indicam que o poder de fogo dessa arma talvez seja mais fraco do que se supunha

A pressão popular é uma das poucas armas na mão que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem para tentar a restauração de seus direitos políticos e evitar ir para a cadeia, caso seja condenado no processo por golpismo a que responde. As pesquisas da Genial/Quaest e do Datafolha feitas na semana passada indicam que o poder de fogo dessa arma talvez seja mais fraco do que se supunha, em que pese as imagens da Avenida Paulista no último domingo (6).

Direita patológica - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Governadores-candidatos do campo bolsonarista estão fazendo o contrário do que deveriam para democracia brasileira recobrar a saúde

O mundo é mesmo um lugar injusto. Enquanto a direita brasileira padece do problema de excesso de candidatos para o pleito presidencial de 2026, a esquerda amarga a velha dependência de Lula, que é um outro jeito de dizer que, sem o nome do petista na urna, ela se veria em apuros.

Se Lula optar pela aposentadoria e a esquerda se dividir entre candidatos de peso eleitoral semelhante, corre o risco de nem passar para o segundo turno.

Se olharmos para nomes individuais, também encontraremos problemas. Fernando Haddad é visto como um sucessor natural de Lula. Mas, se o presidente decidir não concorrer, será porque a economia não vai bem. E, se ela não estiver bem, Haddad, que é o ministro da Fazenda, não teria a menor chance.

Trump e o populismo tarifário com jeito de faroeste - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Na guerra das tarifas, Trump encena western moral em que a punição vale mais que a economia

Não sou capaz de opinar sobre a racionalidade econômica por trás da guerra tarifária em que Trump empenhou seu governo nos últimos dias. Deixo a dor de cabeça para quem entende de comércio internacional. Mas gostaria de examinar essa confusão do ponto de vista da política ou, mais precisamente, da comunicação política. Mesmo porque tenho a impressão de que Trump entende tanto quanto eu sobre comércio e tarifas —e é na arena das narrativas e dos imaginários que está, de fato, jogando o seu jogo.

As tarifas de Trump vão prejudicar o mundo - Martin Wolf

Financial Times / Folha de S. Paulo

Os déficits comerciais permanecerão praticamente inalterados, e o mundo apenas acabará mais pobre

Agora sabemos qual economia é a maior ameaça aos Estados Unidos depois da China: Lesoto. Atualmente, a China tem uma tarifa combinada de 54% sob o novo plano de Donald Trump. Mas, aparentemente, Lesoto merece uma tarifa "recíproca" de 50% sobre suas exportações para os EUA, logo à frente dos 49% sobre o Camboja e 46% sobre o Vietnã, seguidos por 32% sobre a Indonésia e Taiwan, 26% sobre a Índia e 20% sobre a UE. O Reino Unido escapa com 10%.

O que talvez seja mais extraordinário sobre a derrubada de quase um século de política comercial é que ninguém, aparentemente, informou ao presidente que um procedimento que coloca Lesoto no degrau mais alto faria os EUA parecerem ridículos. Mas fez —e fez isso porque esse procedimento era ridículo.

Trump não faz ideia do que desencadeou com sua guerra tarifária - Edward Luce

Financial Times / Valor Econômico

Trump prometeu em praticamente todos os discursos de campanha desencadear a guerra comercial em que estamos agora

Devemos confiar nos instintos de Donald Trump, diz Mike Johnson, presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. Uma atitude mais sensata seria Johnson e sua bancada correrem na direção oposta.

É tarde demais para os republicanos voltarem a ser um partido normal – a fé em Trump é o princípio que os une. Mas eles ainda poderiam agir como aliados fieis, convencendo Trump a recuar do precipício. Além dos cargos que ocupam, o futuro da economia mundial e a aposentadoria de cada americano dependem disso.