quinta-feira, 9 de outubro de 2008

FRASE SELECIONADA

“A esquerda não tem nem uma puta idéia do mundo em que vive”.


(o escritor comunista José Saramago em 1/10/2008 em seu blog)

CRISE MUNDIAL

Crise no Leblon
Ancelmo Góis
DEU EM O GLOBO


Ontem, num sinal luminoso do Leblon, no Rio, para fugir da chuva, uma carioca ia comprar de um camelô um guarda-chuva. O ambulante pedia R$ 15, ela oferecia R$ 10, e o impasse foi desfeito pelo argumento econômico do vendedor:

- Ô gata, o dólar subiu muito e o produto é importado...

Gabeira e Paes largam empatados na disputa pela prefeitura do Rio


FOLHA DE S. PAULO
DA SUCURSAL DO RIO


Candidato do PV herda mais votos de Jandira e Solange; peemedebista atrai mais eleitor de Crivella

Pesquisa Datafolha feita ontem e anteontem mostra que Gabeira tem 51% dos votos válidos contra 49% do candidato do PMDB


A disputa pela Prefeitura do Rio no segundo turno começa empatada, revela pesquisa Datafolha realizada ontem e anteontem. O candidato do PV, Fernando Gabeira, tem 43% das intenções de voto contra 41% de Eduardo Paes (PMDB), a 18 dias do pleito.

Os dois candidatos estão tecnicamente empatados, já que a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Assim, Gabeira pode ter entre 40% e 46% dos votos, e Paes, entre 38% e 44%.

No primeiro turno, Paes recebeu 31,98% dos votos válidos (1.049.019), e Gabeira obteve 25,61% (839.994 votos).

De acordo com o Datafolha, entre os eleitores que disseram ter candidato no segundo turno, Gabeira herdou mais votos entre os eleitores de Jandira Feghali (PC do B) e de Solange Amaral (DEM), candidata do prefeito Cesar Maia, que já anunciou apoio ao deputado federal: 59% dos eleitores que haviam votado no primeiro turno em Jandira migraram agora para o candidato do PV e 41% foram para Paes; entre os eleitores de Solange, 55% foram para Gabeira e 45% para Paes.

A vantagem de Gabeira nessa migração o deixou numericamente à frente de Paes, apesar de o candidato do PMDB ser o principal beneficiário do eleitorado de Marcelo Crivella (PRB), terceiro colocado no primeiro turno. Desses 54% optam por Paes e 46% preferem Gabeira.

No domingo passado, Crivella recebeu 19,06% dos votos válidos (625.237), Jandira 9,79% (321.012), Alessandro Molon (PT) 4,97% (162.926) e Solange 3,92% (128.596).Os índices de Gabeira ficam acima da média entre os mais jovens (53%), os mais escolarizados (60%), os mais ricos (62%) e entre os que desaprovam os governos do prefeito Cesar Maia (47%), do governador Sérgio Cabral (55%) e do presidente Lula (58%).

As taxas de Paes são maiores entre os mais pobres (46%), os menos escolarizados (49%), os mais velhos (50%) e entre os que aprovam as gestões de Cesar Maia (48%), Sérgio Cabral (55%) e Lula (58%).

Votos válidos

A pesquisa Datafolha mostra que 7% dos entrevistados disseram pretender anular ou votar em branco, e 9% se definiram como indecisos, atingindo 16% os que não têm candidato. No levantamento realizado ontem e anteontem com 1.304 eleitores, em votos válidos (ou seja, excetuados os brancos e nulos), Gabeira tem 51%, e Paes, 49%.

No primeiro turno, dos 4,580 milhões de leitores do Rio, 17,91% não compareceram, 6,14% anularam o voto e 4,33% votaram em branco.

Na simulação anterior de segundo turno entre os dois candidatos, realizada pelo Datafolha nos dias 3 e 4 de outubro, o peemedebista tinha 52% das intenções de voto, e o verde, 36% -uma diferença de 16 pontos percentuais. Na simulação dos dias 29 e 30 de setembro, essa diferença era de 20 pontos (53% a 23%).

As simulações de segundo turno realizadas no primeiro turno são sinalizações dadas pelo eleitorado, mas não são comparáveis às pesquisas realizadas durante o segundo turno.

No primeiro caso, é pedido ao eleitor que analise seu comportamento na possibilidade de ocorrerem determinadas situações eleitorais, apresentadas com variações. Já no segundo cenário, o eleitor é convidado a se posicionar perante uma situação concreta de disputa entre dois candidatos.

Bodas de vento


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A caça frenética dos candidatos finalistas pelo apoio dos partidos que ficaram de fora do segundo turno impressiona. Serve como passatempo no intervalo até o início do horário eleitoral no rádio e na televisão, presta algum serviço ao exibicionismo, mas não funciona no essencial.

Principalmente nessa etapa final em que as disputas acontecem apenas nas grandes cidades e o horário gratuito é repartido ao meio entre os dois oponentes independentemente do tamanho da coligação, o peso das alianças sobre o resultado da eleição é quase zero.

Quase, porque há uma vantagem objetiva. Quanto mais partidos houver ao lado de um candidato, em tese mais estruturas e mais gente haverá trabalhando por ele.

Mas, se é patente a preferência do eleitorado por pessoas em detrimento dos partidos, evidente que ao fim e ao cabo conta mesmo a capacidade de sedução - ou convencimento, para tratar o assunto com mais formalidade - do candidato na percepção do eleitor.

Então, por que os partidos se dedicam com tanto afinco a conquistar o apoio das legendas restantes e alguns até fazem da exibição desses acordos um movimento estratégico?

Basicamente por dois motivos: para criar um fato político por dia no curto período de entressafra e para se posicionar no jogo de correlação de forças presentes e futuras. Não é a fase de diálogo com o eleitor, é o momento de conversarem entre si, passarem os seus recados, mostrar os músculos uns para os outros, demonstrar agrados e desagrados.

Em São Paulo, dificilmente há algum eleitor preocupado com o fato de o PTB apoiar Gilberto Kassab, o PPS anunciar neutralidade ou de Marta Suplicy dirigir gestos elegantes a Geraldo Alckmin.

Ali, o relevante foi o acordo da dupla DEM-PSDB com Orestes Quércia, pelo qual José Serra tirou do governo federal o PMDB paulista para a parceria de 2010. E ainda assim, nada garante a perenidade deste ou de qualquer outro acerto.

Todos dependem da direção dos ventos. No Rio, o PT saiu das urnas com algo em torno de 6% dos votos e, no entanto, o apoio do partido a Eduardo Paes é tido como um feito e tanto.

A direção petista sabe perfeitamente da irrelevância eleitoral presente nessa decisão, como conhece bem o perfil de seus adeptos para supor que sejam mais afeitos ao modelo Fernando Gabeira. Mas o partido do presidente da República precisa fazer agradar, e muito, o PMDB do governador Sérgio Cabral e seu candidato Eduardo Paes.

Carinho que se revelará útil ou inútil só mais à frente, quando os pemedebistas decidirem em qual porto suas canoas ficarão mais seguras na perspectiva do poder federal.

Antídoto

Depois de meses agindo de modo oposto, o PT, por meio de seu presidente, Ricardo Berzoini, decreta: “Não há transferência de votos no Brasil”.

Com isso, o partido cria a teoria adequada ao distanciamento do presidente Lula das eventuais derrotas do segundo turno, mas abre espaço para contestações internas à pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Se não há transferência, vale o patrimônio de cada um.

Cara-pálida

Candidato da aliança Aécio Neves-Fernando Pimentel em Belo Horizonte, Márcio Lacerda explicou em duas palavras a frustração da expectativa de vitória no primeiro turno: “Fomos incompetentes”.
Para um político aprendiz, Lacerda já socializa prejuízos com a autoridade de um autêntico catedrático.

Outro mineiro, este apenas um espectador apartidário da cena, lamenta o risco do desmonte de um trabalho administrativo muito bem avaliado pela população da capital, e levanta uma tese que, se correta, serve como lição e explicação: o governador Aécio provavelmente esteja pagando o preço de pretender alçar à condição de unanimidade.

Carapuça

Ao justificar sua não-interferência na decisão de Geraldo Alckmin de concorrer à prefeitura, o governador José Serra disse que o PSDB de São Paulo não é um “partido de coronéis”.

Feita assim, em tom de ressalva à seção paulista, a afirmação do governador presta-se a interpretações ariscas por parte de colegas de partido, que veriam nela uma indireta à existência do vezo do mandonismo em tucanos de outros Estados.

O senador Tasso Jereissati, por exemplo. Se não tivesse absoluta certeza de que José Serra achou perfeito seu apoio explícito à candidatura de Ciro Gomes em 2002, poderiam imaginar tratar-se de uma referência ao Ceará.

Não por isso

Se Lula fez de Mangabeira Unger ministro, por que negaria apoio no Rio a Eduardo Paes baseado em rancores do passado? Os dois achavam que Lula comandava um governo corrupto e, neste aspecto, fica mal quem se curva para beijar e não quem estende a mão para ser beijada.

Geografia da eleição de 5 de outubro


Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A Região Sudeste exerce historicamente um contrapeso ideológico em relação ao restante da Federação, em especial ao Nordeste. Nas vésperas da Revolução de 1964, o apelo por políticas populares, se movia ativistas do Sudeste, provocava verdadeira efervescência no Nordeste, em especial em Pernambuco, onde um governador de esquerda, Miguel Arraes, e um movimento atuante pela reforma agrária, faziam o sonho da esquerda nacional. A reação ao governo João Goulart veio, em especial, do Rio, onde Carlos Lacerda não era apenas o governador, mas a voz da UDN que conspirava; em Minas, onde Magalhães Pinto, também da UDN, conspirava baixinho; e em São Paulo, onde uma elite conservadora mais tarde ajudaria inclusive a criar e manter o "piloto" de aparelho de tortura que unificava as forças militares e policiais, a Operação Bandeirantes (Oban), depois denominada DOI-Codi. É certo, existiam nos Estados mais ricos da Federação uma oposição popular e democrática e grupos que mais tarde rumaram para a luta armada, mas é inegável que o movimento conservador que resultou num golpe de Estado era hegemônico, pelo menos nos primeiros anos de ditadura militar.

No período de desgaste da ditadura, quando o governo militar já havia esmagado a oposição no Nordeste e as tentativas da esquerda armada de organização no Norte do país, e as famílias que tradicionalmente dominavam a política nordestina tornaram novamente hegemônica a política de compadrio e de clientela, foi o Sudeste a primeira região a registrar a disposição civil à resistência e à luta pacífica pela redemocratização do país. O MDB ganhou musculatura no Sudeste, antes de tornar-se um instrumento nacional de mudança pelo voto. Em 1974, quando apenas dois partidos eram permitidos pelo regime - o MDB, de oposição, e a Arena situacionista -, o MDB conseguiu 16 das 22 cadeiras em disputa para o Senado, chegando a 30% da bancada; e fez 44% da Câmara dos Deputados. Em 1977 o general-presidente Ernesto Geisel fechou o Congresso e editou o Pacote de Abril, para garantir maioria situacionista no Congresso e no Colégio Eleitoral que escolheria seu sucessor no ano seguinte, e era composto por membros do Congresso Nacional e delegados das Assembléias Legislativas. Com uma penada, o general mudou a composição da Câmara, dando maior peso aos Estados do Nordeste e do Norte, teoricamente sob controle dos "coronéis" donos de votos e partidários do regime. Em 1978, graças ao pacote de Geisel, a Arena manteve a maioria no Congresso, mesmo tendo obtido 13,1 milhões de votos, contra 17,4 milhões de votos dados ao MDB.

Depois da redemocratização, houve um processo lento de transferência de votos dos partidos mais conservadores para os mais afinados à esquerda no Nordeste. Lideranças nordestinas da antiga Arena, ou do MDB conservador, que foram se abrigar no PFL depois da redemocratização, mantiveram suas posições naquela região como partidos da base parlamentar do governo central, exceto pelo curto período do governo Itamar Franco (PMDB), até o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso. O PFL tinha, em 1988, seu primeiro ano de existência legal, 1.058 prefeitos em todo o país, decresceu um pouco sua participação municipal nas eleições seguintes, de 1992 e 1996, mas recobrou musculatura em 2000, quando fez 1.026 prefeitos. Na oposição após a eleição de Lula, só fez cair: elegeu 792 prefeitos em 2004 e caiu para 494 no primeiro turno das eleições desse ano. O ex-PFL, hoje Democratas, quase foi varrido da sua base tradicional, o Nordeste: teve uma queda de 63% no número de prefeituras daquela região, de 2004 para 2008. Em compensação, três partidos à esquerda do espectro político cresceram assombrosamente em território nordestino: PT (105%), PDT (126%) e PSB (91%). No Sudeste, o DEM caiu 11% - muito menos do que caiu no Nordeste -, mas, mesmo em declínio numérico, conseguir acesso aos eleitores paulistas numa eleição para a prefeitura da capital é um feito. Gilberto Kassab tem grandes chances de vencer a eleição contra o PT no segundo turno, mas apenas tem essa oportunidade porque, desde 2006, São Paulo, Estado e capital, estão no meio de uma onda conservadora que se formou quase simultânea à queda do voto conservador no Nordeste. E isso ocorre num período em que o DEM mais manteve afinidade ideológica com o PSDB, que guinou para a direita no Estado e manteve, nessa posição, uma quase hegemonia nos últimos anos. A Região Sudeste foi a única em que o PSDB aumentou o número de prefeitos - em 8%; em todas as demais regiões o partido sofreu queda.

Dos números das eleições, pode-se concluir que a tendência do Nordeste à esquerda é uma inexorável atração da região pelo governismo - e o PT, afinal, está no governo federal; e que os partidos brasileiros, pela sua fraca organicidade, tendem a murchar quando na oposição. Isso parece ser um senso comum. O que existe de diferente no cenário, no entanto, é que desde 2006, com a radicalização que se seguiu ao escândalo do mensalão, as posições políticas dos partidos ficaram muito marcadas e eles passaram a representar com mais clareza estratos sociais. Assim como em 1964, o "ser governista" não explica, por si só, a virada política do Nordeste, nem o apelo maior dos setores conservadores na política do Sudeste.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

Fim ou troca de caciques?


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Novo mundo, novo Brasil. Enquanto o capitalismo se contorce com a quebradeira de bancos e a queda das Bolsas, no Brasil quem está na berlinda é o velho caciquismo político.

Na Bahia, ACM Neto é deputado federal em primeiro mandato e certamente promissor, mas ser excluído do segundo turno em Salvador foi um aviso: ele vai precisar comer muito feijão antes de assumir uma posição de liderança no Estado. O nome e a força do carlismo, sozinhos, já não dão para o gasto.

ACM, o avô, morto em 2007, era o "rei da Bahia". E não se fazem mais reis como antigamente, nem súditos. O eleitorado está mais mais disputado e diversificado, a correlação de forças é heterogênea.

No Maranhão, a família Sarney não apenas sofreu um revés como andou na contramão do que ocorreu com o PMDB no resto do país.

Sarney filiou-se ao partido para ser vice de Tancredo e foi ficando, ficando... e ficou. Agora, mais de 20 anos depois, também Roseana saiu do ex-PFL para ficar no PMDB e mais próxima de Lula.

Mas enquanto o partido é campeão em prefeituras em 14 Estados e avançou no Acre, no Amazonas, na Bahia, em Goiás, em Mato Grosso do Sul, no Pará, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, no Maranhão ele encolheu. E encolheu bem. O reinado dos Sarney dura meio século, mas não se fazem mais reis...

Em São Paulo, Kassab é um nome diferente no cenário. No Rio, Eduardo Paes é novo em idade e em liderança, e Fernando Gabeira não é novo, mas é uma novidade. Em Belo Horizonte, você já tinha ouvido falar em Márcio Lacerda, Leonardo Quintão ou mesmo Jô Moraes, a terceira colocada?

A dúvida é se a política está se desfazendo do caciquismo ou só trocando de caciques. Olho vivo na Bahia, onde termina o reinado de ACM, mas Geddel Vieira Lima está babando pelo cetro e pela coroa. E pronto para ser disputado a peso de outro entre PT e PSDB em 2010.

Coluna do Milton Coelho


Milton Coelho da Graça
DEU NO DIÁRIO DA MANHÃ (GO)

BARÃO DO RIO BRANCO TREME NO TÚMULO

Se alguém fizer uma lista dos 100, 50, 10 ou até apenas 3 dos maiores brasileiros de todos os tempos, sem dúvida nenhuma o Barão do Rio Branco será um deles. Depois de nos metermos em uma carnificina no Paraguai e inspirarmos natural receio pela diferença de tamanho de populaçao e recursos naturais em relação aos outros países da América do Sul, o nosso grande barão construiu as bases de um patrimônio inigualável no resto do mundo: temos fronteiras com dez países e nem um só problema, uma só divergência sobre elas com nossos vizinhos. E tudo resolvido na mais completa paz. Também firmamos na consciência de todos os companheiros de continente a confiança de que o Brasil tem uma política sagrada de não-intervenção nos assuntos internos de cada um deles e colocamos em nossa Constituição a renúncia a qualquer agressão guerreira.

No entanto, de vez em quando, influenciados por idéias, estratégias e interesses de outros países não-sul-americanos, nossos militares têm espasmos de grandeza bélica. Certa vez compramos dois porta-aviões, armas claramente de ataque, numa operação que só se explica como mamata. Durante décadas, mantivemos em Santa Maria, Rio Grande do Sul, talvez a mais poderosa de nossas bases aéreas, com a óbvia intenção de assustar os argentinos.

Nosso Exército até hoje foi incapaz de aproveitar a grande extensão de nosso país e a experiência internacional para formular uma estratégia defensiva apoiada na guerra de guerrilha, capaz de enfrentar e derrotar qualquer um que algum dia resolva nos atacar. Continua basicamente agarrado a grandes bases e fortalezas inúteis em nossas maiores cidades, evidentemente mais preocupado com convulsões internas do que possíveis inimigos externos.

Pois nosso ministro civil da Defesa de repente começa a falar em reequipar as Forças Armadas com o intuito cada vez mais nítido – e até claramente expressado em jornais por alguns admiradores belicosos – de “assustar” os vizinhos envolvidos em disputas políticas internas com a hipótese de uma possível intervenção brasileira.

Por que e para que vamos gastar bilhões de dólares em novos caças supersônicos, muito pouco úteis para proteger nosso país das reais ameaças externas – sejam terroristas, traficantes, falsos missionários ou ladrões de nossa biodiversidade? E por que voltarmos novamente a proteger as indústrias de armamentos, alucinadas por subsídios?

PMDB PREPARA FESTA,TEMPORÃO PAGA CONTA

Os chefões do PMDB já acertaram todo o esquema para ficar com a presidência das duas casas do Congresso: Michel Temer comandará a Câmara Federal, José Sarney, o Senado. O deputado Henrique Alves assume a presidência do partido e o alagoano Renan Calheiros ressuscita e será o líder no Senado, Tudo certinho, mas e o PT, que insiste no tal acordo de Senado para um, Câmara para outro, e quer lançar Tião Viana? Aí já está até embrulhado o presente de consolação: a cabeça do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que não vem “atendendo” bem os pedidos dos parlamentares peemedebistas;

QUEM VAI SE MOLHAR COM OS RESPINGOS?

Um veterano do Itamaraty disse esta semana, durante um jantar em Brasília, que a extrema tolerância do presidente Lula com as maquinações do PMDB parecem inspiradas naquela explicação que o presidente americano Lyndon Johnson deu para manter uma raposa inconfiável como J. Edgard Hoover na direção do FBI:

“Eu sei que, se tirasse o William da nossa tenda, ele iria ficar lá fora mijando aqui para dentro. Prefiro que ele fique aqui dentro mijando lá pra fora.”

DUPLA BIBI-JUCA BAIXA PORRADA NO CONGRESSO

A veterana-eternamente-maravilhosa Bibi Ferreira estrela no Rio, com o teatro sempre lotado, a peça “Às favas os escrúpulos”, de Juca Oliveira. Todos os nossos senadores e deputados deveriam ir assisti-la, não só para aplaudir Bibi, mas principalmente para ver a reação do público – predominantemente de classe média, feminino e meia idade.

A peça conta a história de um senador com fama de honesto e bom chefe de família, mas na verdade trambiqueiro, com milhões de dólares de dólares e derretido por uma secretária boazuda. Bibi, a mulher, descobre tudo e só não conto o resto porque não quero tirar o gostinho das surpresas para brasilienses e goianos quando ela se apresentar no Planalto Central.

Esta notinha é só para registrar o aplauso e o entusiasmo do público com todas as falas severas criadas por Juca, expressando o desprezo e a descrença crescentes do país em relação ao Congresso e – perigosamente – até em relação à democracia representativa.

PRESUNTOS E EUCALIPTOS EM NOSSA CRISE

Esse é um ângulo novo e brasileiro na crise financeira, que provavelmente também surgirá em outros países com políticas monetária e cambial iguais ou parecidas com a nossa. Indústrias exportadoras com diretores financeiros metidos a espertos mergulhavam nas operações de jogatina da Bolsa, para obter lucros extras com os dólares das exportações. Faziam mais ou menos assim: exportavam presuntos (Sadia) e resmas de papel (Aracruz) e, em vez de simplesmente meterem os dólares na caixa, iam à Bolsa e apostavam que o dólar não cairia.

O diabo é que o dólar caiu. E muito. Agora está pintando aquela velha história: enquanto estavam ganhando, os lucros eram deles - dos acionistas e controladores das empresas metidas nesse pagode. Mas, na hora dos prejuízos, o socialismo é a doutrina favorita, em alguns corredores do poder a idéia de que o Estado brasileiro deve socorrer suas empresas em perigo. Presidente Lula, cuidado para não cair no conto da Bolsa-Presunto ou da Bolsa-Eucalipto!

E AINDA NÃO HAVIA GELADEIRA NEM TIRA-GOSTO

Josef Reichholf, historiador alemão, defende uma nova versão para o homem primitivo ter deixado de ser nômade e se tornar agricultor: a descoberta da cerveja, amigos, é que fez o homem construir uma casa, ficar quietinho e começar a cantar “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

Parece doido, mas o catedrático da Universidade Técnica de Munique (logo onde!) tem argumentos sérios. O homem teria se estabelecido inicialmente no Oriente Médio, onde havia muita caça. Portanto, ele começou a plantar, um trabalho muito mais duro do que caçar, não para comer, mas sim porque descobriu a cevada e para o quê ela servia nas horas de lazer. E tome loura, mesmo quente, com qualquer churrasco, de camelo ou pássaro distraído. Dêem uma boa olhada nos bares, nas noites de sexta-feira. segundo Reichholf, vocês verão diretos descendentes daquele homem cabeludo que aderiu ao descanso bem irrigado.

NA HORA DA SOMA, CADA UM FAÇA A QUE QUISER

Está difícil determinar qual realmente foi o partido que mostrou mais força nas eleições municipais. Segundo resultados oficiais do TSE, foi o PMDB quem teve mais votos: 18.422.732 (18,6% do total de válidos), com 2.543 candidatos, dos quais 1143 já se elegeram prefeitos e outros 11 foram para o segundo turno. O PT, com 1609 candidatos, 545 eleitos mais 15 no segundo turno. foi o segundo em votos: 16.486.025 votos (16,6%). E o PSDB, também considerando o total de votos “oficiais”, foi o terceiro – 14.454.949 – obtidos por 1702 candidatos, dos quais 778 já eleitos e mais 10 ainda no páreo.

Mas a classificação se complica se levarmos em consideração a relação entre número de candidatos e eleitos: O PMDB já elegeu 47% dos candidatos, o PSDB 46% e o PT apenas 34%.

E se complica ainda mais se considerarmos que os votos foram somados aos partidos em que os candidatos estão inscritos e que nem sempre foram os principais nas coligações que os apoiaram. Por exemplo, Gilberto Kassab foi incluído no total do DEM e Gabeira no do PV. Mas, nos dois casos, receberam forte apoio dos tucanos. Mas, na conta do Tribunal, o PSDB ficou com os votos de Geraldo Alkmin, derrotado e afastado do segundo turno.

Confuso. E mais confuso ainda o caso de Belo Horizonte, em que os votos de Márcio Guerra estão no total do PSB, mas, na verdade, a grande maioria veio do apoio do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT)? E como calcular exatamente o número de votos espalhados por candidatos de todos os partidos da frente governista unicamente pela altíssima aprovação popular do presidente Lula?

Cada um pode fazer sua conta e escolher o partido vencedor das eleições.

ENTRE OS VEREADORES, A COISA É MAIS SIMPLES

O PMDB é o campeão dos vereadores no Brasil, elegeu 23% de seus 36.482 candidatos, com 11.977.196 votos. O PSDB derrotou o PT por escassa diferença de votos – 10.714.393 x 10.539.880 – elegendo 21% (5.894) de seus 28.681 candidatos, enquanto o PT só conseguiu emplacar 14% (4186) do total de 29.882 candidatos.

Mas, na área municipal, outros partidos chegaram mais perto dos Três Grandes, tanto em número de eleitos como de votos: DEM (4815, 7.999.337), PP (5.122, 7.233.167), PDT (3.509, 6.717.625), PTB (3.929, 6.315.928). O resto teve menos de 6 milhões de votos e de 3 mil eleitos

Vertigem


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


MADRI - Dá vertigem acompanhar os números envolvidos no noticiário sobre a crise financeira. Dupla vertigem, aliás: a primeira, porque são tão violentos que não é possível nem sequer imaginar aproximadamente o que significam. Alguém aí sabe "quem" é US$ 700 bilhões (ou, em reais, R$ 1,603 trilhão, ao câmbio do fechamento de ontem)?

A segunda vertigem vem da montanha-russa que é tentar acompanhar o cassino. Acordei ontem, liguei, como de hábito, o computador e, dos cantos da telinha, até dava para ver pedaços derretidos das Bolsas asiáticas. Se era assim lá, aqui na Europa tenderia a repetir-se o caos da segunda-feira.

Saio para assuntar e, lá pela hora do almoço, um interlocutor me informa que os BCs de meio mundo reduziram conjuntamente os juros, com o que as Bolsas (européias) se recuperavam algo. Já tinha feito perguntas a meia dúzia de interlocutores com foco no derretimento.Parecia trabalho meio perdido.

Depois do almoço, já não era trabalho perdido, porque as Bolsas podiam até não estar derretendo, mas caíam pesadamente. Não tenho mais idade para andar na montanha-russa.

Volto aos números. Carlos Eduardo Lins da Silva, o ombudsman, tem reclamado que a gente não consegue apresentar "quem" é US$ 700 bi ao leitor. No fundo, é uma abstração, não é?

Como tenho muito respeito pelo Carlos Eduardo, resolvi traduzir para o Brasil conta inspirada na edição eletrônica da "Der Spiegel", alemã: US$ 700 bi dariam para pagar um salário mínimo por dez anos para quase 30 milhões de brasileiros, se é que não errei nas contas, de tantos zeros.

Continua uma abstração, mas dá ao menos pálida idéia de como é a vida no que o Elio Gaspari chama de andar de cima e andar de baixo. Dá ou não dá vertigem?

Mudar os juros


Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO


O Banco Central deveria mudar sua política de juros, interrompendo o ciclo de alta, diante do agravamento da crise. Ontem, ao fim de mais um dia tenso, o clima começou a melhorar. O BC vendeu dólar físico e liberou mais compulsório. Além disso, algumas exportadoras começaram a negociar com bancos a liquidação das opções de câmbio. Lá fora, a ação conjunta dos BCs começa a surtir efeito.

As empresas exportadoras encalacradas com futuro de câmbio começaram a negociar com os bancos para fazer uma liquidação compulsória. A dívida delas com o derivativo começou a ficar tão alta que algumas empresas procuraram escritório de advocacia para contestar judicialmente os contratos. "Algumas cláusulas são leoninas", disse um exportador. Quanto mais o dólar subia, mais as empresas tinham que depositar margem, mais compravam dólar, mais faziam a moeda subir e maior era o prejuízo. Os bancos que operam com esse ativo poderiam simplesmente ficar sem receber e, além disso, enfrentar uma contestação judicial. Um banqueiro me confirmou a negociação.

- Cada banco cuida do seu cliente, mesmo porque não tem outra alternativa. O risco era não receber.

As duas partes estariam começando a negociar. Nos casos em que estas opções foram vendidas a terceiros, os bancos estão financiando as empresas. De qualquer maneira, essa operação está bastante disseminada. Não será tão simples acabar com o problema.

Outro banqueiro me informou que as empresas brasileiras aumentaram muito a exposição ao dólar nos últimos cinco anos, e não apenas as exportadoras, mas também as que têm qualquer atividade no exterior e as que têm competidores estrangeiros. Há rumores em relação às grandes empresas mineradoras e às da área siderúrgica. A Vale negou que tivesse problemas nessa área. A Votorantim informou que fez operações de opção de dólar nos últimos meses, mas garantiu que "a exposição, após um conjunto de operações programadas, foi totalmente eliminada na data de hoje" (ontem).

O Banco Central mudou de atitude novamente e passou a vender dólar físico, ajudando a acalmar o mercado de câmbio. Ele tem mostrado agilidade nos últimos dias, depois de ter ficado algum tempo prisioneiro daquela análise equivocada feita no governo brasileiro, de que a crise não chegaria aqui. Chegou, tem um capítulo só nosso nessa confusão cambial e exigia atitude do BC. Mas ainda que ele esteja mais ativo, um problema continua grave: a falta absoluta de linhas para o fechamento de contratos de câmbio.

Outro problema que começa a ser resolvido é das dificuldades dos bancos pequenos por não estarem tendo acesso ao interbancário. O presidente do Banco do Brasil, Antonio Francisco de Lima Neto, negou que tivesse comprado ontem carteira de consignado por imposição do governo.

- Fazemos porque é uma oportunidade. Nós temos liderança em crédito consignado, nossa participação no mercado é de 19%, com R$11 bilhões, e compramos mais R$900 milhões. É um produto padronizado, com baixo risco, e nós do Banco do Brasil queremos crescer em crédito à pessoa física urbana.

Mesmo que se resolvam estes problemas, o dinheiro continua sem circular. O problema é comum ao Brasil e ao mundo: mesmo quando o Banco Central injeta dinheiro, ele fica nos bancos. O crédito não circula.

A economia continua a funcionar por crédito liberado antes. Eu conversei com pessoas ligadas a três grandes empresas de varejo. Em uma delas, as vendas continuam, mas é um grupo com vendas diversificadas, inclusive muito eletroeletrônico; em outra, especializada em ramo mole, as vendas estão piores do que no ano passado e, na terceira, estão em queda. A economia real começa a sentir o tranco da liquidez. Os juros estão crescendo fortemente. Os últimos dados já superados - porque eles têm subido diariamente - são de taxas de 137% ao ano para empréstimos à pessoa física e 66% no crédito às pessoas jurídicas.

No mercado financeiro, a volatilidade intensa mostra que ainda se está longe da normalidade. O dólar chega a variar, entre quedas e altas, dez por cento; ontem a Bovespa oscilou 3.000 pontos entre quedas e altas. Vários economistas com quem a coluna entrou em contato acham que o mercado continuará ao sabor das notícias de cada dia.

O BC enfrentará agora o dilema da sua política de juros. No mundo, os juros estão em queda e ontem o corte coordenado dos maiores países do mundo confirma que essa é a tendência. Mas o BC brasileiro está no meio de um "ciclo de aperto de política monetária". Ele continuará subindo os juros, mesmo com a queda das taxas no mundo, com a inflação cedendo no Brasil e com a economia reduzindo o ritmo? Mas há também impacto inflacionário da alta do câmbio. O Bradesco acha que o BC deveria apenas aumentar mais 0,25 ponto percentual e encerrar a elevação. Nílson Teixeira, do CSFB, acha que os juros deveriam parar de subir já na próxima reunião, mesmo que venham a subir depois, caso haja elevação da inflação. Thomas Málaga, do BBA, acha que os juros deveriam parar de subir, ou até cair um pouco diante do novo quadro econômico brasileiro, de restrição de crédito, e novo quadro internacional, de forte desaceleração.

O medo da recessão


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. O fato de que nenhuma das perguntas dos eleitores reunidos anteontem no debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos se referiu aos "escândalos" que envolvem os dois, mas sim às questões econômicas, deveria servir de lição nesses últimos dias de campanha. Ninguém do público, escolhido pelo instituto de pesquisas Gallup entre os eleitores indecisos, estava interessado em saber sobre as relações de Barack Obama com o ex-terrorista Bill Ayers, ou com o pastor radical Jeremiah Wright; nem sobre o escândalo em que cinco senadores, entre eles McCain, foram acusados, anos atrás, de tentar proteger o banqueiro Charles Keating, que estava sendo investigado por irregularidades no Lincoln Savings & Loan Association, que quebrou em 1989, levando o amigo de McCain para a cadeia.

Esses temas têm dominado as campanhas dos dois candidatos, nas propagandas de televisão e nas mensagens pela internet, mas não interessam de fato aos eleitores, que estão mesmo preocupados com as conseqüências da crise econômica no seu dia-a-dia.

A atuação dos dois com relação ao tema tem provocado frustração nos eleitores, que não sentem firmeza nos seus discursos, que não encontram respostas nos programas de governo de nenhum dos dois. No debate de terça-feira na Universidade de Belmont, no Tennessee, os dois candidatos se aproximaram um pouco da verdade, mas ficaram a uma distância prudente para seus projetos políticos.

O republicano McCain porque tem uma missão quase impossível de se dissociar do governo republicano que está na Casa Branca há oito anos e, como Obama salienta a cada momento, recebeu um governo com superávit fiscal e hoje apresenta um déficit de cerca de US$400 bilhões este ano, e um déficit externo que era de US$5 trilhões e dobrou nestes oito anos.

Esse quadro econômico nada favorável, que já era objeto de crítica de Obama durante a campanha, acabou mostrando sua verdadeira face com a crise financeira que estourou há 15 dias, explicitando a gravidade da situação.

Isso tudo torna a posição de McCain cada vez mais difícil, e é previsível que não queira que o tema econômico domine os debates. Em Nashville, como não controlava as perguntas, não pôde evitar que o verdadeiro interesse do cidadão-eleitor se evidenciasse nas perguntas.

Já Obama, à frente das pesquisas, ampliando sua vantagem em estados-chave e tornando-se a alternativa natural do eleitor que quer mudar a política econômica, claramente não quer arriscar essa posição confortável. Os dois estão mais focados em ganhar a eleição do que em se mostrar em condições de enfrentar a crise econômica, o que está incomodando os eleitores.

A crise não apenas dominou a maior parte do debate; até mesmo quando a discussão passou para as questões internacionais, a primeira pergunta da platéia foi sobre se a crise econômica vai reduzir a capacidade dos Estados Unidos de intervir para manter a paz mundial quando necessário.

As perguntas dos eleitores indecisos mostraram também o quanto o cidadão comum está descontente com os políticos de maneira geral. Uma senhora perguntou por que confiar em um dos dois quando os dois partidos colocaram o país nessa situação; um jovem duvidou se o pacote econômico aprovado pelo Congresso, com o apoio dos dois candidatos, realmente resolveria o problema; uma outra, com a experiência de ter passado pela crise de 1929, foi direto ao ponto: qual o sacrifício que cada um deles exigiria de cada americano para superar a crise econômica?

Nem mesmo com essa "permissão" da eleitora os dois ousaram. O republicano McCain respondeu genericamente, dizendo que cortaria vários programas ineficientes, mas não citou nenhum. Voltou a defender que o orçamento federal deveria ser expurgado de adendos que não sejam essenciais, e ressaltou que só não pediria cortes em verbas para a segurança nacional e educação.

Já Obama conseguiu ser mais criativo, falando na necessidade de o país sair da dependência do petróleo estrangeiro. Os dois candidatos tratam do tema como sendo uma questão de segurança nacional, pois, os dois ressaltam, os Estados Unidos dependem do fornecimento de energia de países que, como diz McCain constantemente, "não gostam muito de nós".

O próprio Obama chegou a citar a Venezuela e países árabes, e até o Irã, como países de cuja produção os Estados Unidos dependem na questão de energia. E McCain citou a importância estratégica da Geórgia na distribuição de gás para a Europa como um dos motivos para que os Estados Unidos a defendam da Rússia.

Mas, além da política de combustíveis alternativos, Obama tocou num ponto crucial: a capacidade de cada americano de cortar seu próprio consumo, de economizar combustível no seu dia-a-dia, mudando os hábitos.

Essa é uma luta que é muito impopular, e talvez por isso o candidato democrata não tenha querido se aprofundar no assunto, mas será um dos principais papéis do futuro governo: fazer com que o desperdício de combustível seja evitado, mudando os hábitos da população, muito arraigada ao transporte individual.

Dois detalhes paralelos ao debate, mas que têm importância fundamental na percepção dos eleitores:

1. A certa altura, McCain referiu-se a Obama como "that one" ("aquele ali"), o que está sendo considerado falta de respeito pelo adversário. Já há camisetas com a frase, que vai ser explorada pela campanha democrata.

2. O formato do debate não ajudou McCain, que mostrou o peso da idade ao se movimentar pelo cenário, e não olhava para os eleitores em vários momentos.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1112&portal=

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Gabeira reinventa campanha eleitoral na TV e na Internet


DEU NO PORTAL COMUNIQUE-SE


E não foi só a campanha na TV. O candidato do Partido Verde à Prefeitura do Rio de Janeiro, deputado federal Fernando Gabeira, considerado por muitos, um candidato naninco, conseguiu a proeza de ir para o segundo turno contra o candidato apoiado pelo governador Sergio Cabral e pelo presidente Lula. Gabeira conseguiu o que para muitos parecia impossível. Derrotou candidatos poderosos, demonstrou que marqueteiro de sucesso e presidente popular não elegem até mesmo “poste”, foi para o segundo turno e reinventou a campanha eleitoral.

Aqui no Rio, evitou as armadilhas do tradicional “hilário eleitoral” na TV e fez toda uma campanha eleitoral inovadora: mais simples, honesta, jovem e principalmente, mais limpa. Mais limpa em todos os sentidos. Não sujou a cidade e não sujou sua própria imagem com promessas e alianças perigosas.

Gabeira, pela primeira vez, teve a coragem de reinventar a forma de lidar com o público pela TV. Seu programa é um festival de novidades em um oceano de mesmices caras e desgastadas. Ele não apareceu na telinha como mais um produto para consumo dos eleitores. Gabeira parecia gente como a gente. Não é a toa que foi provavelmente uma das maiores “surpresas” dessas eleições. E talvez, a era das grandes e caríssimas campanhas eleitorais pela TV produzidas pelos marqueteiros da moda estejam com os seus dias contados.

O candidato a prefeito do PV explorou bem todas as novas possibilidades de comunicação pela TV e pela rede. Além da página de campanha, manteve uma página pessoal com blog, notícias, fotos e vídeos atualizados. Deu um show de inovação na TV e ousadia na Internet.

Política e patinete

O velho “marketeiro” da campanha do Gabeira, o publicitário Lula Vieira parece ter aprendido com o passado. Ele procurou inovar ao mostrar ao público um candidato como ele é e não como a TV gostaria que ele fosse.

Acertou em cheio. A campanha do Gabeira pela TV pode ser um divisor de águas nas futuras campanhas eleitorais no Brasil. Principalmente, na TV.

Lula Vieira também preferiu investir na biografia do cliente e em uma imagem jovial.

Em entrevista para o UOL (ver aqui), ele disse que “A propaganda eleitoral é como uma luta de boxe, todos se apresentam e vêem como cada um vai lutar. Nós vamos mostrar imagens de quando o Gabeira saiu para a ‘porrada’ na política discutindo com o Severino Cavalcanti (ex-presidente da Câmara dos Deputados) e brigando com seguranças antes da cassação de Renan Calheiros (ex-presidente do Senado). Quero explorar o seu lado contemporâneo. Fiz uma ‘vinhetinha’ com ele andando de patinete na orla da zona sul da cidade para dar um ar jovial. Ele é muito ligado ao jovem e pouco tradicional”, afirmou o publicitário do candidato do PV.

Segundo o noticiário, “uma das novidades da campanha do Gabeira foi a utilização do serviço Google Maps - um detalhado mapa com base em imagens de satélites, que chega a ruas e quarteirões. O candidato a prefeito Fernando Gabeira (PV) usou para mostrar aos internautas as comunidades do Rio dominadas por traficantes ou milícias e mapear os bairros onde estão eleitores e simpatizantes. É um recurso semelhante ao da campanha de Obama, que estimula os eleitores a fazerem campanha na vizinhança e usa um mapa dos Estados Unidos para facilitar o contato dos simpatizantes com os vizinhos”.

Ainda segundo o noticiário recente, “O número crescente de internautas é o grande estímulo para a profusão de novos sites de candidatos, que não se resumem a informativos sobre a campanha, mas procuram oferecer novos atrativos… Uma das diferenças da campanha na internet do Rio para a maior parte das capitais é que o TRE fluminense autorizou o uso do próprio orkut e de outros sites de relacionamento para campanhas. Os candidatos criaram comunidades oficiais de suas campanhas, com acesso direto para os sites e os blogs políticos. A idéia é que usuários do orkut, enquanto navegam no site de relacionamento, acabem chegando às comunidades dos candidatos, mesmo que não tenham interesse especial pela política. Nas outras cidades, as comunidades oficiais no orkut são vetadas pela Justiça”. Tudo a ver.

Em tempos de descrédito da população nos políticos, nos mensalões e nas alianças de última hora, Gabeira soube convencer o público que uma política mais sincera e uma TV mais verde são possíveis.

Soube aproveitar bem os novos recursos comunicacionais da Internet como poucos. E assim como o candidato democrata Barack Obama nos EUA, criou aqui no Rio uma nova imagem para si e para a política local.

A partir de agora, as campanhas eleitorais, a TV e quem sabe, a política brasileira jamais serão as mesmas. Não custa sonhar!

Contenção de Lula enfraquece projeto de onda vermelha no 2º turno

Jarbas de Holanda

A disputa final para a eleição do prefeito de São Paulo entre Gilberto Kassab e Marta Suplicy deverá envolver um empenho pessoal menor – ao invés de mais intenso, como se programava e previa antes – do presidente Lula em favor da candidata do PT. O favoritismo ganho por Kassab na fase final do 1º turno e com os apoios partidários (PSDB, PPS e provavelmente PTB) que está recebendo, aumentou significativamente o risco de que uma derrota de Marta, no contexto de acirrado confronto dele com o governador José Serra, constitua fator de sério desgaste de sua imagem política e eleitoral. Desgaste que ele poderá atenuar com menor envolvimento nesta campanha, de par com a concentração de esforços, na Grande São Paulo, na de Luís Marinho, em São Bernardo do Campo, e nas de seus candidatos em Santo André e Guarulhos, cujas vitórias compensariam ao menos parte do insucesso petista na capital.

A esse tipo de risco se somam duas outras variáveis como principais condicionantes para um papel mais cuidadoso e contido de Lula no 2º turno: a contraposição entre finalistas de partidos da base governista, especialmente PT e PMDB, como em Salvador e Porto Alegre (mesmo que os peemedebistas gaúchos tenham postura de oposição ao governo federal), e os reflexos, crescentes, da crise financeira internacional, pelo que passam a representar de ameaça para a economia em 2009 e para o projeto sucessório de Lula em 2010, riscos que serão usados para proteger o presidente das pressões eleitorais de aliados, sobretudo de petistas.

E a tais variáveis se agregam embaraços que mantêm ou forçam o distanciamento de Lula dos dois outros embates, ao lado do de São Paulo, mais importantes do 2º turno: em Belo Horizonte, porque ele não quer reiterar nem pode mudar o apoio que deu no 1º turno ao candidato da aliança PSB-PT-PSDB, Márcio Lacerda; e no Rio, porque resiste a rever a forte antipatia que sente por Eduardo Paes, do PMDB de Sérgio Cabral , em face da agressiva atuação oposicionista que, como deputado, ele teve no processo do mensalão.

A contenção do presidente agora – por esses motivos, e também por avaliação que deve ter feito (com base nos resultados gerais do 1º turno) das limitações de seu poder de transferência de prestígio ou votos – esvazia em boa parte ou amortece o preparo de uma onda ou maré vermelha lulista para ser deflagrada entre os dois turnos do pleito municipal. Na perspectiva de vitórias emblemáticas na capital paulista e em Porto Alegre e da influência delas em todo o Centro-Sul, bem como com o objetivo de turbinar a força do lulismo nas demais regiões.

A respeito da crise, enquanto de um lado o presidente Lula mistura algumas manifestações de preocupação séria com o problema à insistente retórica de palanque contra “pacotes dos governos anteriores” e o FMI e para desqualificá-la como “marolinhas”, de outro lado, o Banco Central adota várias ações para reduzir o estrangulamento do crédito externo e tentar conter a disparada do dólar. Mas medidas de maior abrangência destinadas à preservação em 2009 do equilíbrio fiscal (impostas por um contexto em que a receita de crescimento bem menor será insuficiente para atender à expansão dos gastos com a máquina federal e com programas assistencialistas, exacerbada sobretudo neste ano eleitoral), tais medidas – do próprio Executivo e dependentes do Congresso – só serão tornadas públicas e desencadeadas após o 2º turno, a partir de novembro. Como antecipação de sacrifícios econômicos e sociais que Lula procurará limitar no máximo a 12 meses, a fim de poder voltar ao “nunca antes neste país tivemos tanto crescimento e tantos benefícios sociais”, ao longo do 2010 decisivo para sua sucessão.

Saindo de uma fria


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A mudança de tom foi nítida. Duas semanas antes do primeiro turno, o presidente Luiz Inácio da Silva e o governador José Serra anunciaram convictos e entusiasmados que, na etapa final, mergulhariam “de cabeça” nas campanhas de seus candidatos em São Paulo.

Contados os votos, consolidada a falácia da transferência automática de prestígio como valor absoluto na expressão eleitoral, Lula anuncia presença “na medida do necessário” e Serra avisa que comparecerá “se for chamado”.

Noves fora, o presumido embate entre o presidente da República e o candidato mais cotado à sua sucessão pelo jeito queda-se devidamente adiado. Se houver, será só depois das eleições municipais.

Nada indica - muito menos aconselha - que o presidente Lula vá se jogar de peito aberto na campanha de Marta Suplicy ou em qualquer outra. Como o governador de São Paulo pretende se balizar pela intensidade da atuação do presidente, se Lula for mais devagar, Serra seguirá o ritmo.

Um confronto direto agora valeria o tira-teima sobre o peso de cada um em São Paulo para 2010.

Se tiver bom senso, Lula pisará com mais cuidado. Se, numa hipótese improvável, resolver dobrar o investimento, multiplica também o risco. Com a desvantagem de não aumentar na mesma proporção a chance de vitória.

O presidente pessoalmente só tem a perder. Como no primeiro turno a presença dele não influiu nem contribuiu objetivamente para o resultado, mas serviu para integrá-lo ao rol dos tidos como derrotados, se Marta ganhar, a glória será dela. Se perder, Lula abre de novo o debate sobre sua incapacidade de transferir votos.

Descredencia a si como cabo eleitoral privilegiado, e desidrata as expectativas a respeito das possibilidades de Dilma Rousseff em 2010. Ainda que a transferência na eleição presidencial ainda careça de comprovação, a pré-candidatura da ministra hoje sobrevive dessa “promessa”.

Quanto mais derrotas o presidente colecionar agora, menos promissora parecerá sua força para tirar uma presidente da República da própria costela. Isso vale para fora e para dentro do PT. Se porventura Dilma começar a ser vista como mera miragem, a perspectiva de poder muda de direção e, com ela, muda junto a correlação de forças hoje favorável ao governo.

Não há, portanto, nenhum motivo racional para o presidente imprimir a crueza da realidade a um quadro ainda ilusório, mas confortável.

O comedimento é bom para Lula e para todos os padrinhos cujas famas de maiorais saíram abaladas pela insuficiência de desempenho de seus candidatos. Se puderem escolher, antes deixar os afilhados morrerem pagãos que desembolsar capital político para pagar as contas dos enterros.

Não quer dizer que haverá abandono em massa. Há casos de patronos bem-sucedidos - Geddel Vieira Lima, que reergueu a massa falida do prefeito João Henrique em Salvador - e casos de recuo impossível.

Em Belo Horizonte, o governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel não têm saída: ou carregam Márcio Lacerda até o fim para tentar uma vitória apertada ou amargam uma derrota acachapante.

Minas, porém, é exceção. Ali houve erro de pessoa na escolha, colaborou a inesperada competência do adversário (visto em retrospectiva, bem mais adequado para formar uma trindade com Aécio e Pimentel) e o pupilo não consegue dar dois passos sem o amparo dos patronos.

A aposta era alta, tinha tudo para dar certo - inclusive o apoio da população à aliança do governador e do prefeito - e agora é trabalhar para reduzir os danos.

Neste aspecto, Aécio continua dono da faca, porque conseguiu dizimar o PT na capital. Mas teve um substancial pedaço do queijo subtraído pelo eleitorado que o impediu de registrar, para efeito da disputa pela legenda do PSDB à Presidência, a condição de senhor absoluto dos votos na capital de Minas Gerais.

Bolsa-Rio

Enquanto o eleitor dá uma demonstração de independência na escolha de seus representados, os representantes do Rio de Janeiro dão sucessivas mostras de subserviência ao governo federal. Sinal inequívoco da decadência de um Estado forjado na prática da autonomia, quando não da rebeldia, eleitoral.

Todos - do governador ao espectro completo de candidatos - manifestam temor reverencial ao poder de manipulação do Orçamento federal. É generalizado o discurso de que o Rio precisa ser “amigo” de Brasília, a fim de ter garantidos os repasses de verbas da União.

Em algum ponto do caminho o princípio da impessoalidade que rege a administração pública foi substituído pelo critério da esmola mediante uma política de boa vizinhança.

A relação isenta entre os entes federativos é mais que uma obrigação, é uma imposição legal.

No lugar de mostrar isso ao cidadão carioca, os representantes do Rio alimentam a mentalidade cortesã imaginando recuperar importância no cenário político nacional na base da esmola.

Votação Prefeitos - Partidos


Votação Vereadores - Partidos


À distância regulamentar


Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


A eleição de São Paulo é a única onde o presidente Lula é obrigado a subir no palanque. Mas é uma casa de caboclo em termos políticos

A grande diferença entre o primeiro e o segundo turno das eleições é a natureza da contradição eleitoral. Em tese, no primeiro turno, nada impede que dois adversários mantenham um pacto de boa convivência, de olho na aproximação futura. No segundo turno, há um combate frontal, mesmo quando estão no mesmo campo político, que inviabiliza a recomposição das forças locais. Por essa razão, o presidente Lula ficará longe da maioria dos palanques.

São Paulo —A eleição de São Paulo é a única onde o presidente Lula é obrigado a subir no palanque. Mas é uma casa de caboclo em termos políticos, uma vez que Gilberto Kassab (DEM) virou o primeiro turno à frente de Marta Suplicy (PT). O governador paulista, José Serra (PSDB), fará campanha para Kassab com gosto. Se conseguir a reeleição do prefeito paulistano, será uma vitória estratégica: a derrota de Lula. Com isso, o tucano aumentaria a expectativa de poder criada por sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2010. Agora é tarde para Lula evitar o confronto. Seria fugir à luta.

Rio de Janeiro — Lula não cruza com os dois candidatos, para usar uma expressão bem carioca. O candidato do PV, Fernando Gabeira, que galvanizou o voto da esquerda, sempre fez oposição. Eduardo Paes (PMDB), apadrinhado pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), luta pelo apoio do presidente da República, mas é um aliado de última hora. Lula não esqueceu os ataques que sofreu de Paes na CPI do Mensalão. Caso típico de idiossincrasia.

Belo Horizonte — Para o presidente da República, o melhor é passar ao largo da disputa de Belo Horizonte. A cozinha do Palácio do Planalto pensa diferente e torce contra o candidato do PSB, Márcio Lacerda, apoiado pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) e pelo governador Aécio Neves (PSDB), embrião de uma aliança “pós-Lula”. O vice-presidente José de Alencar, os ministros petistas Luís Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) querem que o vitorioso seja o azarão Leonardo Quintão (PMDB). Quem lucra é o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB).

Salvador — O governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, entraram em rota de colisão. Estão em lados opostos na disputa de Salvador, onde o prefeito João Henrique (PMDB) foi para o segundo turno contra o petista Walter Pinheiro. Para Lula, será mais fácil juntar os cacos se o prefeito de Salvador for reeleito.

Porto Alegre — O prefeito José Fogaça (PMDB) faz parte da lista de peemedebistas indesejáveis do presidente da República. Não está descartada a possibilidade de Lula subir no palanque da candidata do PT, Maria do Rosário. Seria uma exceção no critério de não se envolver nas disputas dentro da base.

Manaus — Ficou mais distante de Brasília nesse segundo turno. O prefeito Serafim Correia (PSB) foi atropelado pelo ex-governador Amazonino Mendes (PMDB). Como ambos são aliados do governo, Lula vai assistir ao embate de camarote.

Belém — A mesma situação se repete no confronto entre Duciomar Costa (PTB) e José Priante (PMDB). O Palácio torce pela reeleição do prefeito, para limitar a influência do deputado Jader Barbalho (PMDB), eminência parda do PMDB, no governo do Pará.

Cuiabá — Em tese, a eleição em Cuiabá não cria problemas na base. Mas o tucano Wilson Santos (PSDB) quase levou no primeiro turno. O risco de subir no palanque de Mauro Mendes (PR) é perder.

São Luís — A mesma situação se repete no Maranhão, onde José Castelo (PSDB) enfrenta Flávio Dino (PCdoB) e virou o primeiro turno com muita vantagem.

Macapá — A eleição na capital do Amapá não faz a menor diferença. Clodomir Paz (PDT) e Camilo Capiberibe (PSB) são da base governista. A briga entre os dois é um problema do ex-presidente José Sarney (PMDB).

Florianópolis — Dos dois “manezinhos”, o preferido de Lula é o ex-governador Espiridião Amin (PP). Dario Berger (PMDB), que lidera a disputa, é da ala do PMDB na qual Lula não confia.

O PT, as estrelas e uma outra leitura


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

É natural e ordinário: o governo, de posse dos cargos, das verbas e da inédita popularidade, cresce nas eleições municipais, amplia seus tentáculos e conquista capitais e grotões. A oposição, ao contrário, se reduz. O PT, o PSB, o PCdoB, partidos de maior nitidez entre os integrantes da aliança em torno do presidente da República e do governo federal, cresceram significativamente. O PMDB, também integrante deste governo, é um caso à parte, o que também não surpreende: continua com o maior número de prefeituras, 1.194, no primeiro turno, conquistou novos espaços importantes e está na disputa do segundo turno, inclusive contra aliados, sem perder a pose e a pseudo coerência. O PSDB, o DEM e o PPS minguaram nas eleições municipais de 2008, como esperado.

Era previsível que os partidos de oposição perdessem posições importantes no Brasil inteiro. Em especial, os dois principais. O DEM perdeu até agora 298 prefeituras com relação às que conquistou em 2004 (já tinham ficado dezenas pelo caminho entre uma eleição e outra), era esperado seu rebaixamento para a segunda divisão partidária, mas ainda manteve uma boa rede de prefeituras no interior da Bahia, de onde se esperava que fosse varrido, e até em cidades importantes do interior de São Paulo. E se vencer na capital, São Paulo, no segundo turno entre Gilberto Kassab e Marta Suplicy, volta ao patamar dos grandes. O PSDB perdeu 91 prefeituras até agora. Mas continua sendo o segundo maior partido do país em governos municipais. Derrotas, portanto, amenizadas pela força das conquistas.

Não surpreende o crescimento dos dois partidos que, historicamente, se coligam ao PT, como o PSB e o PCdoB. O PSB, sobretudo em Pernambuco, onde a liderança do governador Eduardo Campos fez a diferença, passou de 177 para 309 municípios. O PSB ganhou 132 novas prefeituras agora, consolidando-se como um partido médio com postos importantes em capitais e grandes cidades. O PCdoB saltou de 10 para 40, e foi protagonista nestas eleições municipais de 2008, venceu no primeiro turno em Aracaju, disputa o segundo em São Luis, venceu em Olinda pela terceira eleição consecutiva, chegou em terceiro - ameaçando os fortes PT e PMDB - em Porto Alegre, desequilibrou a disputa em Belo Horizonte.

Estes cenários partidários estavam, bem ou mal, previstos. Não há como compartilhar, porém, de duas análises que têm sido feitas desde a totalização dos votos, no domingo eleitoral: as de que Luiz Inácio Lula da Silva não transferiu votos aos seus candidatos preferidos, e a de que o PT não ampliou seus horizontes. Se Lula não conta, por que seus opositores evitam brigar e buscam alguma identificação com ele? Porque, claro, fazem campanha com base em pesquisas. Candidatos da oposição enalteceram o carro-chefe eleitoral de Lula, o Bolsa Família, falaram em PAC para os municípios, e se desculparam por críticas ao presidente. Qual a razão para renegar o passado?

Deixemos de lado a transferência indireta, traduzida, por exemplo, em confiança no candidato por ele apontado ou na redução da rejeição. As análises mostram que Lula acrescentou de 3% a 4% de prestígio e votos aos candidatos que apoiou. Ele não elegeu Luiz Marinho (São Bernardo do Campo) e Marta Suplicy (São Paulo) no primeiro turno, como não conseguiu levar a candidata do PT em Natal, Fátima Bezerra, ao segundo turno, para falar de três de seus mais ardentes desejos manifestados na campanha. Mas os próprios candidatos reconhecem que tiveram a votação que tiveram graças a Lula. Dilma Rousseff, realmente, não influiu e não transferiu, mas ela não foi à rua para isto. Fez campanha municipal para se mostrar, ser apoiada a pretexto de apoiar, e não se pode dizer que tenha sido inadequada.

É preciso redimensionar também a crítica ao desempenho do PT, até aqui. O partido evitou fixar metas para não se frustrar, como ocorreu em 2004, mas preparou meticulosamente sua estratégia, a começar da escolha de candidatos competitivos para as cidades mais importantes até a concessão da liderança na chapa a partido coligado que estivesse em melhor situação. Pode não ter obtido o número de prefeituras que esperava, mas passou das 413 obtidas em 2004 para 548 no primeiro turno de 2008. São 135 prefeitos a mais.

O partido vai se empenhar, com a ajuda de Lula, no segundo turno do chamado "cinturão vermelho", onde ainda estão em disputa as prefeituras de Mauá, São Bernardo, Santo André, Guarulhos, além da cidade de São Paulo. Pode até ser criada uma coordenação de campanha centralizada. Foi o melhor desempenho do PT em eleições municipais. Antes restrito a prefeituras "poucas e boas", como define um de seus analistas, de que são exemplos São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza, agora conseguiu vitória em prefeituras "boas, médias e pequenas". O PT se espalhou, entrou pelo Brasil. E se vencer em São Paulo - entre todas, a empreitada de segundo turno mais difícil, tendo em vista a onda ascendente que leva Gilberto Kassab, do DEM, à liderança - será como um arremate importante deste desempenho.

O partido venceu em seis capitais no primeiro turno e consolidou algumas lideranças, novas estrelas que vêm se firmando na política por méritos próprios. Luizianne Lins, que foi eleita em 2004 prefeita de Fortaleza, contra a vontade de Lula, e reeleita agora sem Lula, desponta como um nome nacional do PT. Também demonstrou força Walter Pinheiro, o candidato do PT em Salvador, que insistiu na candidatura própria contra a aliança com o PMDB que tinha sido vitoriosa para derrotar o carlismo na disputa do governo do Estado. Chegou ao segundo turno derrotando o que restou do carlismo e contrariando o novo "painho" da Bahia, Geddel Vieira Lima, que substituiu um coronelato por outro, espalhando o seu PMDB pelo interior. O prefeito de Recife, João Paulo, é outra liderança consolidada que passa a ter projeção nacional ao eleger, em primeiro turno, um candidato em que só ele apostava. Está sub judice, é verdade, mas esta, no Brasil, é sempre outra história.

Há que se destacar, nesta releitura de resultados, o muito do desempenho do partido que foi produzido na raça da militância. A melhor máquina partidária de que se tem notícia, e assim continua sendo.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Chega de onda

Marcos Coimbra
DEU NO ESTADO DE MINAS
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

A eleição de 2008 está sendo rigorosamente igual à de 2004, quando Lula não estava nem perto de ser a quase unanimidade nacional que as pesquisas atuais revelam

Abertas as urnas (expressão antiga, que não quer dizer mais nada hoje em dia), saímos das especulações e chegamos à realidade. Muita coisa some nessa hora, inclusive algumas que pareciam grandes verdades.

Uma das que não se fala mais é a tal “onda vermelha”, que muitos analistas afirmavam que teríamos nas eleições municipais deste ano. Se ainda lembrarmos do que se lia na imprensa há algumas semanas, era a hipótese de que Lula seria capaz de içar quem quer que fosse à vitória. Impulsionados por seus índices de popularidade, imaginavam, seus indicados, país afora, surfariam na preferência dos eleitores.

Muita gente acreditou nessa conversa, dentre os quais inúmeros candidatos, que chegaram a se estapear na disputa pela imagem do Presidente em suas campanhas. Não só eles, porém, pois políticos e comentaristas comungavam da mesma convicção.

Apurados os votos, se há uma coisa que os resultados não comprovam é que houve uma onda desse tipo. Ela nem chegou a ser uma marola.

Isso não quer dizer que muitos candidatos do PT não venceram, pois vimos que o partido cresceu no número de prefeituras conquistadas, dentre as quais as de muitas capitais e cidades médias. Desempenho que pode ficar maior agora no segundo turno, pois o PT tem condições de vencer em diversas capitais importantes.

A pergunta é em quais das ganhas e das por ganhar houve influência apreciável da popularidade de Lula. Foi uma hipotética “onda vermelha” que levou o PT a obter os resultados que alcançou?

Pensando nas capitais, a partir das quais se costuma fazer a contabilidade dos partidos vitoriosos e derrotados, a eleição de 2008 está sendo rigorosamente igual à de 2004, quando Lula não estava nem perto de ser a quase unanimidade nacional que as pesquisas atuais revelam.

Nas capitais, o PT só ganhou onde já estava no poder, o que sugere que foram as administrações dos prefeitos que os levaram à reeleição ou, como no caso do Recife, à continuidade. Isso independeu da maior ou menor presença de Lula.

Em Fortaleza, por exemplo, Lula sequer foi para prestigiar a campanha vitoriosa de sua companheira de partido. Indo ou não a Rio Branco, Porto Velho, Palmas ou Vitória, faria pouquíssima diferença. Desde o ano passado, eram prefeitos cuja reeleição era considerada favas contadas.

O mesmo vale para maioria das cidades médias onde houve vitória de candidatos do PT no primeiro turno. Nelas, os novos prefeitos petistas, ou vieram de reeleições ou tiveram que se virar sozinhos, pois poucos deles contaram com Lula em seus palanques.

E onde Lula se empenhou, às vezes até demais? O que aconteceu em Natal e Curitiba, por exemplo, em cujas campanhas Lula fez de tudo, desde comícios a gravações para a propaganda eleitoral das candidatas de seu partido?

E o que aconteceu em São Paulo? Não era lá que Lula mais se comprometera com uma candidatura? Ou foi em São Bernardo, onde escalou um ministro para disputar a prefeitura e se envolveu até onde era possível? Em nenhuma das duas a eleição se resolveu domingo, sendo que Marta chegou atrás de Kassab.

Em si, a tese da “onda vermelha” foi apenas um desses factóides jornalísticos com os quais nos divertimos antes das eleições. Fala-se muito deles, mas não querem dizer nada.

Mas há nisso um aspecto a considerar. Se a “onda vermelha (ou lulista)” em 2010 for do tamanho que foi em 2008, é bom que Lula e o PT ponham suas barbas de molho na sucessão presidencial.


O cenário fosco do segundo turno


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Com a natural empolgação dos vitoriosos no primeiro turno e o contraste com o abatimento dos derrotados, não sobrou um palmo de serenidade na inundação de entrevistas, palpites e previsões da cobertura maciça das redes de televisão para o encaixe de uma análise, ainda que superficial, sobre o cenário fosco do segundo turno, espremido entre três semanas de articulação de alianças e de debates já anunciados por jornais, revistas e TVs.

Há muitas novidades a examinar na mudança da água para o champanhe do desmoralizante desperdício de tempo e dinheiro dos ridículos e milionários programas gratuitos de propaganda eleitoral no primeiro turno, especialmente de candidatos ao maná de uma vereança e o mano a mano entre os finalistas a prefeito em 29 cidades, para a decisão pelo voto de mais de 26 milhões de eleitores.

Com menos e mais qualificados candidatos, a propaganda na TV e no rádio será intensa e comprimida, com cada concorrente dispondo de dez minutos, em cada um dos dois programas diários. E cada candidato ganhará o mimo de mais 15 minutos diários para inserções de até um minuto na programação das emissoras.

Não é apenas no enxugamento de candidatos e o melhor nível dos que passaram pela peneira do voto que deve ser analisado o contraste que já se vislumbra na agitada corrida pelo voto.
Para o governo, do presidente Lula ao seu candidato ao mais desfavorecido dos municípios, a visão que se vai desenhando é turva, com manchas dos respingos da crise que esmurra a porta e pede passagem.

E o desempenho escapista e sinuoso do presidente abre furos no seu escudo de proteção e expõe o risco dos seus equívocos. Lula tentou afugentar a crise com a arrogância das suas afirmações categóricas. E que, com a cambalhota do mundo, rolam pelo tapete do ridículo. Ditas e repetidas à exaustão; com a impostação da soberba de que a crise dos Estados Unidos, que se espalhava pelos mercados mundiais, se chegasse ao Brasil seria quase imperceptível. Quando a imperceptível inchou, Lula subiu meio-tom na imodéstia, para admitir que se o tsunami "chegar aqui, vai ser uma marolinha".

Três semanas de campanha é um prazo curto para inverter a tendência de voto do eleitorado que fez a sua cabeça nos meses de envolvimento pela eleição que passa pela sua porta e mexe com a sua vida.

O segundo turno pega o carro em disparada de ladeira a baixo. Já há espaço para especular sobre as vantagens e desvantagens da presença do maior presidente, etc. e tal, com o fantasma da crise derrubando o preço nas feiras e mercados e reabrindo a discussão sobre o delírio de gastança do governo deslumbrado com os índices recordistas de popularidade, o perdulário do inchaço da burocracia com o maior ministério de todos os tempos, com pastas e secretarias que não resistem à cobrança sobre a sua eficiência.

A pavimentação da passarela para o desfile da eleição da ministra-candidata Dilma Rousseff para guardar a cadeira presidencial para a volta de Lula em 2014 ou 2018 terá que passar pelo enxugamento do PAC, para os ajustes impostos por uma crise que apenas começa com o pé no acelerador.

E se Lula baixar à Terra para um segundo de reflexão não necessita de melhor conselho do que a do eleitorado do Rio Grande do Norte, na dose dupla dos resultados de Natal e de Mossoró. Indignado com a atuação parlamentar do senador José Agripino Maia, líder da bancada do DEM, Lula ameaçou participar da campanha em Natal para derrotar o adversário, apoiando a candidatura de Fátima Bezerra, do PT. E cumpriu o prometido para cair da montaria. A prefeita eleita no primeiro turno, jornalista Micária de Sousa, do PV, legenda até aqui sem maior expressão no Estado, foi apoiada pelo senador José Agripino Maia.

Lições da vida que poucos aprendem.

Um país de todos


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Em número total de prefeitos, o PMDB é o campeão eleitoral. Dados preliminares indicam 1.194 municípios sob o comando de peemedebistas em 2009. Conhecido mundialmente pela total falta de identidade e por ser um livro (ou ônibus) aberto a qualquer um, o PMDB conquistou 18,4 milhões de votos para prefeito. É o equivalente a 18,6% do total do país.Um recorde.

PT e PSDB se revezaram nas últimas três eleições (96, 00 e 04) como os campeões de voto. Nunca atingiram o percentual obtido pelos candidatos do PMDB.Parte do combustível para o crescimento do PMDB foi a infidelidade partidária em cidades pequenas.

Em 2004, a sigla elegeu 1.057 prefeitos. Depois de aderir por inteiro ao governo Lula, pulou para 1.212 cidades. Ou seja, o recorde da eleição de domingo já existia antes, sem um voto sequer.

A Bahia é emblemática acerca de como o PMDB faz política. É de lá o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima -peemedebista histórico, ex-quase cassado pela CPI dos Anões do Orçamento, ex-adorador de FHC e hoje pró-Lula desde criancinha. Em 2004, o PMDB era raquítico em solo baiano. Elegeu só 20 prefeitos. Geddel então converteu-se ao lulismo. A legenda inchou para 57 municípios governados na Boa Terra. Apurados os votos, saltou para 113.

Não há notícia de uma única nova proposta administrativa revolucionária vinda dos intelectuais do PMDB para conquistar tantos novos adeptos e votos. Como a sigla passou a exercer grande atração sobre prefeitos, o fato deve ser atribuído à extrema capacidade gerencial (sic) de peemedebistas como Geddel Vieira Lima. Seu talento teve espaço menos vistoso nos anos FHC. Lula percebeu. Deu a Geddel a liberdade merecida por um político assim num governo cujo slogan é "Brasil, um país de todos".

Começa a era da incerteza


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

MADRI - As falhas grosseiras que o mercado apresentou e as sucessivas intervenções dos governos levaram à suposição de que o liberalismo morreu ou está em coma e que o intervencionismo estatal está de volta com toda a força, certo?

Errado, escreve Daniel Innerarity, professor de filosofia da Universidade de Zaragoza, em artigo para o jornal "El País".

"Se estivéssemos ante o final do neoliberalismo e o retorno das certezas social-democratas, talvez nos sentíssemos mais aliviados, mas não teríamos entendido que o que se acaba é outra coisa: uma determinada concepção de nosso saber acerca da realidade social e de nossa capacidade de decidir sobre ela", escreve.

Conseqüência: "Agora, nos toca acostumarmo-nos à instabilidade e à incerteza, tanto no que diz respeito às predições dos economistas, ao comportamento do mercado ou ao exercício das lideranças políticas", acrescenta o filósofo.

Fecha com: "Nosso principal desafio é a governança do risco, que não é a renúncia a regulá-lo nem a ilusão de que poderíamos eliminá-lo completamente".

Desagradável, não é? Os seres humanos, com poucas exceções, preferimos as certezas, mesmo que sejam ilusórias. Os mercados ofereceram certezas absolutas, acompanhados pelo coro que lhes conferia características de semideuses ou de "Mestres do Universo", para remeter a Tom Wolfe e a sua "Fogueira das Vaidades".

Agora vem o papa Bento 16 e constata: "Vemos que, na queda dos grandes bancos, o dinheiro se desfaz e que todas essas coisas que parecem a única verdade são na realidade de segunda ordem". Sorte do papa (e dos crentes), para quem "só a palavra de Deus é uma realidade sólida".

Para todos os demais (e mesmo para os crentes que têm dinheiro nas Bolsas), resta administrar a instabilidade e a incerteza.

O bicho-papão


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. Está em cartaz num pequeno cinema de Greenwich Village um documentário que tem tudo a ver com a onda de propaganda negativa que está dominando a campanha presidencial americana, faltando 28 dias para a eleição. O filme está sendo exibido em poucos cinemas pelos Estados Unidos, e em apenas uma sala em Nova York. A sessão a que assisti tinha apenas outros quatro pagantes. Trata-se de "O Bicho-papão, a história de Lee Atwater", um marqueteiro político ligado aos republicanos, a tal ponto que foi nomeado pelo então presidente George Bush pai, em agradecimento pelos serviços prestados, para presidir o Partido Republicano, a primeira vez que um não-parlamentar ocupou o cargo.

Nasceu com ele um estilo de fazer campanha política que continua marcando o Partido Republicano e que tem sido mais freqüente desde o último fim de semana. Atwater é o iniciador do uso permanente da propaganda negativa nas campanhas políticas e chamou a atenção pela primeira vez em termos nacionais quando, aos 29 anos, teve papel importante na indicação de Ronald Reagan como candidato oficial do Partido Republicano em 1980 e depois na concepção de sua campanha, que teve início propositalmente na Filadélfia, lugar onde em 1963 foram assassinados três militantes dos direitos civis.

Durante o governo Reagan, Atwater trabalhou na Casa Branca e teve papel importante durante o escândalo Irã-Contras, organizando as manobras de marketing para livrar o presidente das acusações. Foi nesse período que se aproximou do então vice-presidente George Bush pai, de quem depois seria o principal assessor.

O marqueteiro de Ronald Reagan, Ed Rollins, que o levara para trabalhar com ele, dá um longo depoimento no documentário, revelando as traições políticas de que foi vítima por parte de Lee Atwater.

Atwater foi o primeiro assessor político a fazer pesquisas induzidas, e instintivamente entendeu que poderia incutir medo nos eleitores, explorando seus sentimentos patrióticos e religiosos.

Na sua primeira campanha, em 1978, curiosamente no partido democrata na Carolina do Sul, ele ajudou a derrotar Max Heller, um popular prefeito de Greenville, dando a vitória a Don Sprouse - que fez uma campanha orientada por Atwater na qual acusava Heller de, por ser judeu, não acreditar "no nosso senhor Jesus Cristo".

Foi a campanha de George Bush pai em 1988 que trouxe de vez a fama para Lee Atwater, e o documentário mostra bem os caminhos da campanha, começando pelas primárias, onde o primeiro a ser atacado foi o senador Bob Dole, acusado em propagandas de ser "O Senador Indefinido", mostrando-o como um político inconsistente, que mudava de opinião a toda hora.

A tal ponto que, em um debate, perguntado pelo moderador Tom Brokaw se tinha algo a dizer a seu adversário, respondeu rispidamente: "Pare de mentir a respeito de minha história".

A campanha negativa marcou a marcha de George Bush para a Casa Branca, e a propaganda até hoje lembrada como uma das mais sujas da história política americana foi a sobre o prisioneiro Willie Horton, que saiu da cadeia dentro de um programa social implantado no estado pelo governador Michael Dukakis, estuprou e matou novamente.

O candidato democrata, que tinha uma ampla vantagem, acabou sendo batido por Bush. O programa social tão criticado por Bush havia sido implantado pela primeira vez na Califórnia pelo então governador Ronald Reagan, mas os democratas não souberam responder ao ataque.

Durante essa campanha, Atwater ficou amigo da família Bush, especialmente do filho George W. Bush, e foi dele a idéia de fazê-lo candidato ao governo da Flórida. Lee Atwater foi apanhado no auge de sua carreira de glórias e poder por um câncer no cérebro, e morreu aos 40 anos, em 1991, ainda no cargo de presidente nacional dos republicanos.

Poucos meses antes de morrer, Atwater enviou cartas, escreveu artigos e deu depoimentos de arrependimento pelo que fizera durante sua atividade política. "Só agora aprendi mais, com minha doença, sobre a natureza humana, o amor, a fraternidade e coisas que não entendia e provavelmente nunca iria entender. Desse ponto de vista, há um pouco de verdade e coisas boas em tudo", escreveu ao senador Turnipseed, a quem ajudara a derrotar espalhando a história de que, na juventude, passara por tratamento psiquiátrico à base de eletrochoques.

Pediu desculpas também a Mike Dukakis pela "crueldade" de algumas declarações, como a de que "arrancaria a carcaça" do "bastardo".

No documentário, há um depoimento de um amigo pessoal de Atwater que tem uma visão dele completamente idealizada. Ele garante que se Lee Atwater estivesse vivo, Bill Clinton não teria vencido a eleição contra George Bush. De fato, segundo o documentário, Atwater foi o primeiro a identificar em Clinton um rival na sucessão, e defendia que era preciso fazer tudo para impedi-lo de concorrer.

Conhecido como "o Dart Wader" da política, Lee Atwater marcou para sempre as campanhas políticas americanas, especialmente do Partido Republicano. Deixou um discípulo até hoje poderoso dentro do partido, o marqueteiro Karl Rove, que atuou nas campanhas de George W. Bush em 2000 e 2004 e até hoje é muito ouvido pela campanha de McCain.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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terça-feira, 7 de outubro de 2008

Lula e a crise

Se houvesse uma lei sobre “decoro de cargo público” Lula seria o primeiro réu. É um craque em inventar, mentir. Só falta inventar que foi ele quem criou a figura de Deus. Bom, ele é pernambucano, daquela tradição gabolice que afirma, com toda a certeza, que o oceano Atlântico é criação do Rio Capibaribe, o maior Rio do Estado.

Todos os dias inventa algo. Cria adversários fictícios, falsos e na seqüência passa a combatê-los.

Esta manhã, aqui no Rio, repetiu a dose. Raivoso, ou representando um ator em peça de teatro, afirmou que tem muita gente torcendo para que a crise globalizada atinja o país. E afirmou que o Brasil é outro, muito melhor, muito mais forte. Mas, esqueceu de informar ao distinto público que as medidas tomadas lá atrás, como o Proer, ele próprio acusou de neoliberalismo.

Só Lula e mais ninguém ouviu e leu declarações de opositores ou críticos de seu governo falando ou escrevendo essas bobagens.

Muito pelo contrário. É do próprio governo que vem os alertas da crise. Ontem mesmo, o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central convocaram a imprensa para acalmar os empresários e banqueiros. Eles declararam que essa crise é pior e mais duradoura que aquela de 1929. E como se conhece, aquela atingiu o Brasil. E, mais, anunciaram providêcias que foram sacramentas em medida provisória.

O que não pode são os responsáveis pela política econômica falarem uma coisa e o Presidente andar falando tolices nas suas apresentações teatrais.

Só os visionários enxergam o óbvio


Arnaldo Jabor
DEU EM O GLOBO


Pego o avião e vou ao Rio votar. Lá embaixo, a cidade se amontoa em milhares de casebres como uma grande inflamação cor-de-tijolo subindo nos morros - uma casca de feiúra e tristeza encurralando a beleza natural do mar e o desenho sensual das montanhas. Lá está o verdadeiro Rio, a metástase crescente de um câncer original de descaso, anomalias populistas e economia precária, fragilizada depois do fim do Estado da Guanabara. Penso: "Não tem solução... Que adianta votar em alguém diante desse labirinto?" Quem vai dar jeito nisso? - pergunta a manchete do O Globo. Sei lá - a cidade está emperrada desde a teimosia da honrada burrice do Geisel, que disse na época: "Não consultei ninguém para acabar com o Est. da Guanabara; eu sabia que era bom." Pois não era, general. O senhor quebrou o Rio e nos fez engolir os vícios do atraso fluminense.

Militares têm a arrogância, o prazer sádico de fazer aquilo de que todos discordam. Assim, destruíram o Palácio Monroe por nada, criaram o imundo minhocão sobre o Centro Histórico do Rio na Praça 15, acabaram com as cachoeiras das Sete Quedas sem avisar ninguém, puseram as usinas nucleares poluentes e perigosas no paraíso de Angra dos Reis. Por isso, olhava o Rio lá embaixo com amargo desgosto.

Só que, a meu lado no avião, ia o economista Paulo Rabello de Castro, diretor do Instituto Atlântico, mais dedicado à busca de soluções do que à angústia dos problemas. Paulo tem fama de visionário para uns e de pragmático para outros. Eu o considero um mix: visionário do pragmatismo. Ensaio com ele um papo desesperançado de carioca típico, mas Paulo revida e dispara várias idéias animadoras, arquejante de fé, anulando meu sorriso desiludido que tanto nos consola, justificando a depressão e o chope. Paulo é rápido e inteligente e fala em possibilidades para o Rio.

"O Rio tem saídas múltiplas - anuncia Paulo, de dedo em riste, comendo o triste, escasso biscoito de goiabinha que a Gol oferece (será que o Nonô Constantino planta goiabais?) - "o Rio pode brilhar de novo..." E, pálido de esperança, me desfia soluções.

Seu programa (imaginário ou realista?) seria uma legislação especial que desse conta do vazio deixado pelo sumiço do Estado da Guanabara, talvez a criação aqui de uma Zona Franca Financeira, algo como Hong Kong. Nas favelas e outras periferias de "invasão", a viabilização de títulos de propriedade aos moradores mudaria a mentalidade das favelas, com os novos e inúmeros proprietários que, defendendo seus bens, se sentindo mais cidadãos, resistiriam melhor a milícias e tráficos. O Rio já é por vocação, vide TV Globo e pólos de cinema, um centro de produção de arte e cultura, de entretenimento, design, moda. Por que não investir fortemente nesse vértice? Nos fundos da cidade, em remotos subúrbios, poderia haver a criação de ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação). Com mão-de-obra abundante, isso possibilitaria condições reais de emprego e desenvolvimento. E a cidade da beleza, com o turismo imensamente incrementado?

Quando Paulo falava, me bateu a certeza inapelável: o verdadeiro visionário enxerga o óbvio que ninguém vê. No caso do Rio e em (outros municípios) nosso labirinto "corrupto-burocrático-indolente-incompetente-paralítico" é tão impenetrável, que a melhor maneira de combatê-lo seria acoplar fatos e obras novas, inéditas, não testadas que reajam contra o sistema velho, criando oposições, alternativas e corroendo velhos hábitos. Uma ZPE nos fundos do Rio pode mudar uma região, econômica, cultural e psicologicamente. Só as coisas podem mudar as coisas.

Em São Paulo, por exemplo, Kassab fez o óbvio: sem ranços ideológicos, teve imaginação, limpou a cidade, civilizou centros decadentes e marginais. No Rio, se Gabeira for eleito, poderá colocar sua vivência de aventura e luta numa administração imaginosa, original, até em experiências público-privadas como foi o Museu do Futebol em SP.

Mas nada que seja parecido com os factóides catastróficos do ex-prefeito atual blogueiro César Maia, que inviabilizou o projeto viário de Lúcio Costa para a Barra através do monstrengo da Cidade da Música, um transatlântico encalhado nos cruzamentos, além do custo astronômico, como apontou o especialista Hugo Hamann, outro dia em O Globo.

Nessa nova fase política para o Rio, S.Paulo, Belo Horizonte, não dá mais para engolir os teóricos do impossível, os analistas críticos do labirinto sem solução. Um pensamento puramente quantitativo, lógico, não dá em nada, como os famosos apelos ao bom senso dos abraços na Lagoa de camisa branca. Não há como resolver por dentro a paralisia. Como limpar a banda podre da polícia? Como transformar a Câmara Municipal em templo de honestidade, como desburocratizar a cidade, como desfazer favelas e tráfico, como resolver a segurança? Quem faria essa grande mudança? Onde haverá tão gigantesca e utópica vontade política, onde arranjar os bilhões e os longos anos de reformas? Quem faria? Um superprefeito com superpoderes, um exército de burocratas arrependidos, uma súbita câmara de vereadores purificados, faxineiros do bem, pelotões de generosos e solidários, uma revolução? Não adianta. Não dá mais pé vermos de um lado os práticos homens do mal, dentro e fora da política, roubando e impedindo o progresso e, do outro lado, os desesperançados teóricos da análise crítica lamentando impossibilidades.

Agora que parece que o Rio de Janeiro vai se livrar de décadas de populistas e mentirosos, pode ser que entremos em nova era política e administrativa. As prefeituras têm de ser o lugar de experimentos imaginosos. Em vez de serem chocadeiras para deputados federais e senadores, as prefeituras têm de ser as células descentralizadas do "novo", centros de experimentação de soluções maiores, células sim que podem regenerar as atrofias do Sistema maior.

Essas coisas graves me surgiram enquanto Paulo falava com seu biscoito de goiabinha e me seguiram até a hora em que votei na maquininha democrática.