quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Zuenir Ventura: Um campo de batalha

• Não por acaso têm estado tão presentes no noticiário e nos comentários políticos a linguagem bélica e as metáforas de guerra como "tiroteio", "batalha", "alvo"

- O Globo

Para falar de intolerância, Millôr Fernandes usava o futebol e dizia que só haveria democracia verdadeira no dia em que os vascaínos pudessem torcer para seu time no meio dos flamenguistas, e vice-versa. Se tivesse tido tempo de assistir à atual campanha presidencial, não precisaria buscar exemplo no esporte. A diferença é que a política tem sempre o pretexto de uma causa nobre: o bem do país. Pode-se alegar que sempre foi assim e que há precedentes piores, com as disputas partidárias levando a atentados, crimes e até a suicídio de presidente. Mas acreditava-se que a situação inédita de agora, com duas damas dignas e ainda por cima ex-companheiras de partido e de governo, permitiria uma disputa de alto nível, mais civilizada, com mais respeito mútuo. Que nada. Os debates se transformaram em embates; as críticas em denúncias; as discordâncias em acusações.

Não por acaso têm estado tão presentes no noticiário e nos comentários políticos a linguagem bélica e as metáforas de guerra como "tiroteio", "batalha", "alvo", "bombardeio", "ataques". E a previsão é que piore nessa reta final da propaganda gratuita, quando, segundo Ricardo Noblat, "Dilma, Lula e o PT continuarão com gosto de sangue na boca contra Marina". Outro comentarista, Josias de Souza, para descrever o debate na TV Record, preferiu a comparação com uma violenta luta de boxe, "na qual Marina Silva entrou com a cara. Dilma esmurrou-a e Aécio Neves desfechou-lhe um par de jabs". Isso lembra o que pensa João Santana sobre eleições: "São um combate quase sangrento", onde, pode-se acrescentar, não há muito lugar para escrúpulos éticos. Consultor do PT, ele é considerado um gênio do marketing político. Já conseguiu comandar três vitoriosas campanhas ao mesmo tempo: de Danilo Medina, na República Dominicana; de Hugo Chávez, na Venezuela; e de José Eduardo dos Santos, em Angola. Pertence, portanto, ao rico time de craques que o Brasil hoje exporta e que são responsáveis pela construção e venda da imagem dos candidatos, que, às vezes, se limitam a interpretar papéis preestabelecidos por eles, os estrategistas, aos quais interessa mais a forma que o conteúdo.

A Santana é atribuída a virada radical, o endurecimento de estilo da candidata do PT. Nada de Dilminha paz e amor. Tratado como um deus marqueteiro, ele, no entanto, pode não ser infalível. Em abril, disse à revista "Época": "A Dilma vai ganhar no primeiro turno porque ocorrerá uma antropofagia de anões. Eles vão se comer lá embaixo e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo." É possível que o mágico acerte mais uma vez, mas não como esperava. Pelo menos um anão, ou melhor, uma anã, está dando mais trabalho do que o previsto, sendo alvo dos dois gigantes.

Míriam Leitão: Acabou a mágica

- O Globo

Difícil atravessar o mar vermelho das contas públicas sem que isso tenha consequências na economia. Tudo é inédito: o maior déficit primário, o quarto déficit consecutivo, o menor superávit primário acumulado no ano. Não há como esconder, não há truques possíveis: o Brasil está vivendo o seu pior momento de deterioração fiscal desde que começou a atual série de dados do Banco Central.

O país já tinha se acostumado com a queda do superávit primário e o não cumprimento da meta este ano. O objetivo fiscal vem sendo reduzido nos últimos anos. E, mesmo assim, só tem sido atingido com os conhecidos truques, alquimias e pedaladas. Ontem ficou claro que acabou a mágica. Os efeitos especiais não escondem mais o tamanho da encrenca fiscal. Os sinais de piora são preocupantes, mas o debate político se passa como se a grande questão fosse saber se a candidata Marina Silva votou ou não na CPMF. Ora, quem não foi contraditório em relação à CPMF que atire a primeira pedra.

O PT votou contra e quando chegou ao poder lutou para mantê-la; o PSDB criou o imposto e foi ele mesmo que o derrubou, quando virou oposição. A questão realmente séria é outra. A presidente Dilma, candidata líder das pesquisas, afirmou que o país não precisa de ajuste fiscal e dias depois o Banco Central divulga que em agosto houve déficit primário — ou seja, sem contar as despesas com juros da dívida — de R$ 14,5 bilhões. E este é o quarto resultado negativo. O governo, que se comprometeu a economizar R$ 99 bilhões, só conseguiu economizar 10% disso em oito meses.

Foram R$ 10 bilhões, mas com a ajuda de R$ 5,4 bilhões de dividendos e R$ 7,1 bilhões de Refis, que são receitas extraordinárias. Sem esses recursos haveria déficit no ano. O resultado que o próprio governo anunciou como meta não será atingido e desta vez não há mágica que melhore o número. O leilão de telefonia para a banda 4G foi feito em um mau momento para o setor, quando duas operadoras — Oi e Nextel — se viram impossibilitadas de oferecer lances. Com isso, a concorrência foi menor e o governo arrecadou apenas R$ 5,8 bilhões, abaixo da meta esperada, de R$ 8,2 bi. Alguns economistas já fazem outras contas em que retiram as receitas extraordinárias para se saber o resultado primário efetivo.

Só o fato de fazerem isso já demonstra a perda de credibilidade dos dados fiscais do Ministério da Fazenda. Pelos cálculos da Rosenberg Associados, o superávit primário descontado de receitas extraordinárias é de apenas 0,07% do PIB nos últimos 12 meses até agosto. A consultoria calcula que, de janeiro a agosto, as receitas líquidas do governo cresceram apenas 0,2% enquanto os gastos primários — sem contar pagamento de juros — subiram 6%.

A queda do superávit primário tem três consequências diretas para a economia. Primeiro, ao gastar mais do que o esperado, o governo joga lenha na fogueira da inflação e dificulta o trabalho do Banco Central de controlar os preços. Segundo, o endividamento do setor público aumenta, e isso torna mais próximo o risco de um rebaixamento da nota de crédito do país. Terceiro, ao gastar mais, o governo contribui para a queda da taxa de poupança, e isso é um entrave para a retomada dos investimentos.

O risco de rebaixamento tem efeito direto no custo das empresas e das entidades públicas no financiamento externo. Além disso, se o Brasil perder o grau de investimento deixará de receber recursos dos investidores institucionais que, por estatuto, ficam fora dos mercados sem esse grau. Com os dados de agosto, o déficit nominal chegou a 4% do PIB e a dívida bruta rompeu a barreira de 60% do PIB.

Voto de protesto: O Estado de S. Paulo- Editorial

Na segunda-feira, primeiro dia útil depois da divulgação da pesquisa do Datafolha, que não apenas consignava que a presidente Dilma Rousseff abriu vantagem de 13 pontos sobre a rival Marina Silva, mas trazia de volta a hipótese de reeleição da petista já no primeiro turno, o Ibovespa caiu 4,52%, o maior tombo em um único pregão dos últimos três anos, e o dólar fechou a R$ 2,451, a mais alta cotação desde dezembro de 2008, no auge da crise internacional. Trata-se de uma reação impressionante pela intensidade e racional pelo que a motivou. É um enfático voto de protesto da comunidade econômica, depositado na urna dos mercados financeiros, diante da perspectiva, agora mais nítida, de que os próximos quatro anos podem ser um replay destes que estão para terminar (ver, abaixo, o editorial Desastre nas contas públicas).

O cenário de mais do mesmo não resulta, como quer fazer crer a presidente, de um patológico pessimismo dos agentes econômicos nem tampouco denota uma inclinação perversa pelo quanto pior, melhor - o jogo jogado pelo PT nos anos 1990 quando o País do Plano Real mudava, aí sim, para melhor. O pessimismo com o sombrio quadro presente e com o que muito provavelmente está por vir deriva de fatos insuscetíveis de controvérsia: a coleção de desastres de um governo que, desde o seu advento, carrega a duvidosa distinção de não ter feito outra coisa a não ser meter os pés pelas mãos. E que maliciosamente transfere para a retração do nível de atividade das grandes potências econômicas a responsabilidade pelo atolamento da economia nacional. Como se o mundo exterior - e não ela própria, com a sua combinação tóxica de soberba e incompetência - a tivesse conduzido ao charco.

Olhem-se pelo ângulo que se queira os resultados da "política econômica" dilmista e o que se enxerga é um país despencando ribanceira abaixo. Praticamente a cada dia pioram os prognósticos - entre os quais do próprio Ministério do Planejamento - sobre os números do PIB deste ano. O mais recente deles, do Banco Central (BC), rebaixou de 1,6% para 0,7% a taxa de expansão da economia em 2014. Trata-se de um desempenho de envergonhar, mesmo perante os nossos vizinhos. E não periga melhorar, dado outro indicador alarmante: a taxa de investimento em bens de capital e obras de infraestrutura deverá encolher 6,5% até dezembro. E o que dizer da indústria sucateada, com um retrocesso previsto de 1,6% em comparação com 2013? Já a inflação anual, na melhor das hipóteses, ficará em 6,3% - ou 1,8 ponto porcentual acima do centro da meta, que já é alto.

Não venha o governo jogar areia nos olhos do público, gabando-se do que seria o pleno-emprego obtido graças à clarividência da presidente. Os números oficiais escamoteiam que, nos últimos tempos, a taxa de ocupação não aumentou, mas, sim, o contingente de brasileiros que deixaram de procurar trabalho, excluindo-se da população economicamente ativa e, portanto, das estatísticas. Além disso, com as contratações se concentrando no setor público e no de serviços, cresce a proporção de empregos de baixa qualidade: os de alta qualidade sumiram porque o seu provedor natural, a indústria, se tornou um morto-vivo. Nenhum agente econômico que se preze pode ignorar essa realidade - e o seu prolongamento por mais quatro anos se as urnas confirmarem as últimas pesquisas. Quem se encarrega de fundamentar as piores previsões é a presidente em pessoa.

Diante do desmazelo das finanças públicas, por obra da gastança erigida em política de Estado, Dilma deixa explícito que dela não se espere, no segundo mandato, o choque fiscal imprescindível para resgatar a economia do buraco. Nesse ponto, uma comparação se impõe: em 2002, quando o favoritismo de Lula nas sondagens levava o dólar à estratosfera, bons conselheiros o induziram a acalmar os agentes econômicos garantindo numa Carta aos Brasileiros que o seu governo não faria aventuras. Lula tinha a seu lado interlocutores capazes como Antonio Palocci e Henrique Meirelles. Mas a interlocução só foi possível porque Lula era pragmático. Já Dilma é ideológica e onisciente. Diante disso, ninguém vê na anunciada demissão do titular da Fazenda, Guido Mantega, um sinal de mudança. O comportamento do mercado comprova o ceticismo.

Elio Gaspari: Há algo no ar além dos aviões de carreira

- O Globo

O presidente da seccional de Brasília da OAB quer proibir oex-ministro Joaquim Barbosa de advogar

De acordo com o paragrafo 1º ao artigo 5º do Ato Institucional nº 5, o presidente da República podia "fixar restrições ou proibições (...) ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados".

Com base nisso, o marechal Arthur da Costa e Silva proibiu que os jornalistas Antonio Callado e Léo Guanabara exercessem a profissão.

Mesmo para tempos de treva, a medida foi vista como uma exorbitância e o presidente revogou-a pouco depois.

Agora, em pleno regime democrático, o advogado Ibaneis Rocha Barros Junior, presidente da seccional de Brasília da Ordem dos Advogados do Brasil, pediu a impugnação do pedido de inscrição de Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Sem registro na OAB um bacharel em direito não pode advogar.

O doutor justificou seu pedido mencionando episódios em que, segundo ele, Barbosa ofendeu e prejudicou a classe dos advogados. Em todos os casos, o ministro agiu no exercício de função pública e em nenhum deles teve sua conduta condenada pelos poderes competentes. Felizmente, os tempos atuais são diferentes da treva que baixou sobre o país em 1968. O pedido de impugnação é uma iniciativa legítima e precisará ser ratificada por uma instância superior.

Do ponto de vista curricular, o doutor Ibaneis chegou à presidência da seccional da OAB de Brasília com menos títulos que o professor Luís Antônio da Gama e Silva, ministro da Justiça e redator do AI-5. "Gaminha" havia sido reitor da Universidade de São Paulo e diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Era um liberticida a serviço de uma causa. Achava que proibindo Callado e Leo Guanabara de exercer a profissão de jornalista contribuía para assegurar uma "autêntica ordem democrática". Afinal, foi isso que escreveu no preâmbulo do Ato Institucional. Essa "ordem democrática" expulsou do Supremo Tribunal os ministros Evandro Lins e Vitor Nunes Leal, mas não os impediu de advogar.

O doutor Ibaneis certamente acredita que a ordem jurídica brasileira e a própria advocacia terão a ganhar negando a um ex-presidente do Supremo Tribunal o direito de advogar. Há pessoas que aplaudem Barbosa na rua e há aqueles que o detestam. Em todos os casos, a opinião que se faz dele relaciona-se acima de tudo com a conduta que teve no STF ao relatar e presidir o julgamento dos réus do mensalão.

O pedido do presidente da seccional da OAB de Brasília é uma iniciativa individual, mas pode ser perigosamente associado a uma maneira de pensar do comissariado petista. Nenhum cidadão que aplaudiu a formação da bancada da Papuda acredita que Barbosa deve ser proibido de qualquer coisa, muito menos de advogar.

Em qualquer época, em qualquer governo, sempre haverá nos arrabaldes do governo um militar querendo fazer a bomba atômica e um operador político querendo limitar os direitos de seus adversários. Parecem figuras folclóricas, como "Gaminha" parecia sê-lo quando o marechal Costa e Silva colocou-o no Ministério da Justiça. O tempo passa, as coisas se complicam e os personagens folclóricos ganham aliados e tornam-se sábios clarividentes. Quando a festa acaba, atribui-se a ruína ao radicalismo de um "maluco". Gaminha não era maluco, era apenas liberticida. Doidos foram os outros.

Elio Gaspari é jornalista

Ana Bernardo - Seu Barbosa - Paulo Vanzolini

Fernando Pessoa: Eu, eu mesmo...

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. -
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito ? Incógnito ? Divino ?
Não sei...
Eu...
Tive um passado ? Sem dúvida...
Tenho um presente ? Sem dúvida...
Terei um futuro ? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Opinião do dia: Rubens Ricupero

Misturar diplomacia com demagogia nunca dá certo. Pior é quando presidente em busca de reeleição submete a Assembleia Geral da ONU ao espetáculo da propaganda de baixo nível do nosso horário eleitoral obrigatório. Os diplomatas estrangeiros não podem fazer como o espectador no Brasil, que simplesmente desliga a TV ou passa a outro programa. Foram obrigados a aguentar impávidos os disparates que lhes impingiu o discurso brasileiro de inauguração da assembléia.

O que o Brasil propôs de prático e efetivo para evitar tal desenlace, além de banalidades piedosas e ineficazes como aconselhar o diálogo com degoladores? Se não sabemos ou podemos tomar iniciativa para neutralizar os terroristas, deveríamos ter ao menos a decência de ficar calados. Condenar os bombardeios, único recurso existente naquela hora para afastar a ameaça, equivale a condenar ao massacre civis desprotegidos.

Rubens Ricupero, embaixador. Dialogando com o carrasco. Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 2014.

Marina acusa PT de distorcer sua posição sobre a CPMF

• Presidenciável diz que adversários "pinçaram" momentos para dizer que ela foi contra o tributo

Leonardo Fuhrmann – Brasil Econômico

A presidenciável Marina Silva (PSB) divulgou uma nota ontem em que acusa o PT de mentir e distorcer a posição dela a respeito da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e o Fundo de Combate à Pobreza. A campanha da presidenta Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, fez uma inserção de TV em que mostra quatro votos contrários da senadora, em 1995 e 1999, à criação do tributo. Em debate, a candidata afirmou que havia contrariado o seu partido na época, o PT, para votar favoravelmente à criação da contribuição. Marina alega que "foi um debate longo" e "uma votação complexa no Congresso Nacional, com idas e vindas de posicionamentos partidários". E, segundo ela, o PT "pinçou momentos", com uma "seleção maldosa e fora de contexto" para dizer que ela foi contrária à criação da contribuição.

Destacou que, em 1996, os senadores petistas foram favoráveis à proposta e os deputados do partido haviam sido contrários. A ex-senadora disse que foi favorável à proposta na comissão e só votou contra no plenário porque foram desprezadas emendas que garantiam que os recursos do fundo fossem aplicados só na saúde e no combate à pobreza. Ela chamou a estratégia petista de "manobra de desesperados" que perderam "as medidas". Ontem, ela e seu vice, Beto Albuquerque, fizeram campanha em Pernambuco. Também participaram o candidato ao governo Paulo Câmara (PSB), o governador João Lyra Neto (PSB) e o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB)

Sob orientação do PT, Marina votou contra a CPMF quatro vezes no governo FHC

César Felício, Marina Falcão e Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO, CARUARU (PE) e RECIFE - Ao contrário do que afirmou em entrevistas e debates, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, jamais votou contra a orientação da bancada do PT no Senado, seu antigo partido, quando esteve em pauta temas relacionados à CPMF, o extinto imposto sobre transações financeiras para financiar a saúde.

Marina disciplinadamente votou com sua bancada pela rejeição da emenda constitucional que criava o imposto em 1995 e na sua prorrogação, em 1999. Em todos os momentos da tramitação das diversas emendas no Congresso, Marina não fez uso da palavra para discutir o assunto.

No último ano do governo Fernando Henrique, em 2002, quando o imposto foi mais uma vez prorrogado, Marina não registrou presença para votar, mesmo estando em plenário, o que equivale a uma abstenção. Naquela votação a bancada do PT registrou uma dissidência, a do senador Eduardo Suplicy (SP), que votou a favor da emenda.

A presidente Dilma Rousseff tem explorado as contradições de Marina em relação ao assunto. No debate de domingo à noite na TV Record, a presidente se disse "estarrecida" com o que classificou de falta de clareza da sua principal oponente.

Ontem, a campanha de Marina divulgou uma nota oficial em que nega que Marina tenha sido contra a criação do tributo. Cita como argumento ter sido favorável às propostas que vinculavam a aplicação do recurso para a saúde. Mas nem mesmo nestas circunstâncias Marina desobedeceu propriamente a orientação do PT

Em 1996, o Senado aprovou a regulamentação do tributo, em votação simbólica, com manifestação contrária do então senador Fernando Bezerra (PMDB-RN), presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) à época. O então líder petista José Eduardo Dutra (SE) encaminhou a votação a favor e Marina não se manifestou.

Três anos depois, Marina apoiou a tramitação de uma emenda constitucional do senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), do PFL, criando um Fundo de Combate à Pobreza, que seria alimentado com recursos de diversos tributos, inclusive da CPMF. A nota afirma que Marina apoiou o projeto porque "considerava a iniciativa importante para avançar no combate à desigualdade social" e que o PT teria se oposto pelo projeto "ser de autoria de um histórico adversário político".

A senadora, entretanto, terminou votando contra o projeto no plenário do Senado, em 2000. Marina discordou publicamente do relatório preparado pelo então senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), e para isto usou da tribuna do Senado. O substitutivo de Alcântara diminuía pela metade os recursos do fundo.

"Esse movimento é que vem sendo exposto de forma distorcida na propaganda política do PT. Com dados parciais retirados do contexto inventa-se e repete-se uma mentira. Manobra de quem perdeu a cabeça e as medidas. Manobra de desesperados", disse a nota.

Em visita a Caruaru (PE), Marina antecipou as posições que seriam depois formalizadas na nota: afirmou ter sido a favor da CPMF em defesa de recursos para um fundo de combate à pobreza, mas que assumiu uma posição contrária em relação ao tema quando o texto foi alterado em plenário. "Naquela oportunidade defendi sim a CPMF. Fiz um debate na comissão e convenci os parlamentares do PT que eram contra que votassem favoravelmente. Quando houve a mudança foi que votamos contrário", disse.

Durante o comício, Marina atacou o adversário Aécio Neves (PSDB) dizendo que ele só apresentou o seu programa de governo de última hora porque sabe que não vai dar tempo do documento ser debatido.

Um pouco antes, Marina foi questionada por jornalistas sobre um eventual apoio do candidato tucano no segundo turno. "Segundo turno debatemos no segundo turno", afirmou. Marina disse ainda que não tratará Aécio como se ele fosse uma "linha auxiliar" da sua candidatura: "Não vou fazer com ele o que ele tentou fazer comigo".

Marina disse que um dos seus compromisso, caso eleita, é recuperar a eficiência da Petrobras e evitar que a diretoria da empresa seja submetida à política de "toma lá, dá cá". Ela disse lamentar que a empresa, que antes ocupava publicações científicas, hoje não consiga sair das páginas policiais.

A candidata também afirmou que vai honrar os compromissos que o atual governo não tem cumprido em relação ao Nordeste. Segundo Marina, as obras da ferrovia Transnordestina e da transposição do Rio São Francisco são prioridades. "O valor da obras da transposição começou em R$ 8 bilhões. Praticamente dobrou e obviamente que isso é falta de planejamento". Disse ainda que a presidente gosta "de se apropriar dos feitos alheios quando dão certo e não assume suas responsabilidades quando algo dá errado".

À noite, no Recife, Marina participou de um grande ato político com a família do ex-governador Eduardo Campos, morto no mês passado. A viúva Renata e quatro dos cinco filhos do casal dividiram o palanque com a presidenciável, que trouxe consigo Shalom, uma de suas três filhas. Marina tem ainda um filho.

Durante todo o ato político, Renata ficou abraçada com seu filho José, de 9 anos. João Campos, filho mais velho do casal, discursou por 11 minutos e lembrou um político profissional. No palco, João chamou os candidatos do PSB no Estado, Paulo Câmara, que disputa o governo de Pernambuco, e Fernando Bezerra, que tenta uma cadeira no Senado.

João lembrou de seu pai e de seu avô Miguel Arraes, que também governou Pernambuco, e disse que os dois políticos foram homens à frente de seu tempo. "Cada um em seu tempo fez o possível em seu Estado e, como meu avô dizia, o impossível o povo ajudou a fazer", afirmou. João agradeceu a Deus por aproximar seu pai de Marina Silva, "uma mulher de origem humilde, que veio do seringal do Acre". "Infelizmente nosso líder, meu pai, nos deixou, mas fico muito feliz de ver que meu pai se transformou no que esperava, nos seus ideais e nos seus sonhos", disse. "Tenho certeza de que vocês vão subir a rampa do Palácio do Planalto com a bandeira do legado de Campos". Foi a primeira vez que a viúva de Campos viu seu filho mais velho discursar.

Aécio lança programa de governo a conta-gotas

• A cada dia, até sexta, será apresentado um capítulo nas redes sociais

Silvia Amorim e Maria Lima – O Globo

SÃO PAULO e UBERLÂNDIA (MG) - A seis dias da eleição, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, começou ontem à noite a apresentar seu programa de governo. A divulgação, porém, se dará aos poucos até sexta-feira, e só nas redes sociais. Ele defendeu a forma inusitada como sendo mais "democrática" do que entregar um documento impresso:

- Vamos fazer de uma forma diferente e inédita, para que não seja apenas um documento acadêmico que poucos manuseiam, e a população não tem ideia do que ali está sendo tratado. Essa é a forma mais democrática e honesta de se apresentar um programa dessa complexidade - disse Aécio, antes de participar de caminhada com o governador Geraldo Alckmin em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Debate com Arminio Fraga
O plano de governo está dividido em quatro eixos: sustentabilidade, estado eficiente, cidadania e desenvolvimento econômico. O primeiro seria apresentado ontem à noite no Facebook pelo coordenador da área na campanha, o ambientalista Fabio Feldmann. Amanhã, será a vez do ex-governador de Minas Gerais Antonio Anastasia pôr em debate nas redes as propostas do segundo capítulo e, assim sucessivamente até sexta, quando haverá um bate-papo com o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, anunciado por Aécio como seu ministro da Fazenda.

- Não vou te dar um calhamaço, que nem você vai ler, nem ninguém que está aqui. Vou apresentar um programa para ser debatido. Essa é a forma mais democrática e honesta - disse Aécio.

O tucano vinha sendo cobrado diariamente pela imprensa pela ausência de um plano de governo. O anúncio ontem de que seria divulgado em pílulas surpreendeu até mesmo a aliados.

Para analistas, pouco efeito
Para cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a divulgação às vésperas da eleição interfere muito pouco na decisão de voto das pessoas.

- Traz muito pouco impacto. É mais uma prestação de contas formal - disse o professor de Ciência Política da Universidade de Campinas (Unicamp) Valeriano Costa.

- Plano na véspera, não creio que vá mudar nada o cenário eleitoral - avaliou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Testa.

A demora na apresentação das propostas atende a uma estratégia política: evitar o que aconteceu com o programa da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, que teve que divulgar erratas e recuar em alguns pontos.

- A apresentação em cima da hora atende a uma estratégia: reduzir eventuais danos. É não dar munição aos adversários. Ele foi muito inteligente - disse Costa.

Testa discordou:

- Considero essa demora um erro estratégico. Ele deveria ter publicado o programa dele assim que Marina lançou o dela, para fazer o embate de ideias com mais propriedade. Não acho que o plano dele traria algo muito polêmico que pudesse servir de moeda nas mãos dos adversários.

"Polícia federal está sucateada"
À tarde, em visita a Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Aécio voltou a criticar as declarações da presidente Dilma Rousseff sobre a investigação da Polícia Federal na Petrobras, na Operação Lava-Jato. Para ele, a afirmação de Dilma no debate de domingo na Rede Record, de que ela teria mandado a PF investigar o caso, mostra que o PT tenta se apoderar das instituições governamentais.

- Esse é o retrato mais claro dessa visão patrimonialista, atrasada e pouco democrática do governo do PT, que acha que pode se apoderar das instituições, como se elas estivessem ao seu serviço. A PF investiga porque essa é a sua responsabilidade constitucional - declarou Aécio.

Ele também falou de segurança:

- Infelizmente, a Polícia Federal está sucateada. Tem o menor orçamento de investimentos dos últimos cinco anos. Mas vamos resgatar a PF do ponto de vista de infraestrutura, da valorização dos seus agentes, delegados e da sua autonomia. A PF não investiga porque a presidente da República quer, ela investiga porque essa é a sua função, é uma função determinada pela Constituição - afirmou o tucano.

Aécio afirma que vai lançar plano de governo aos poucos

.Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, recuou da promessa de lançar seu programa de governo ontem. A justificativa oficial é a mesma dada pela presidente Dilma Rousseff: "ninguém lê" planos de governo. Em vez de documento impresso, os projetos tucanos serão anunciados e discutidos pelo Facebook pelos coordenadores de área temáticas e lançados de forma fatiada durante esta última semana de campanha antes do 1º turno. Dessa forma, o programa completo do candidato do PSDB poderá ser conhecido pelo eleitor apenas a dois dias do 1.º turno.

A estratégia de Aécio, na verdade, visa a evitar polêmicas como as que marcaram a adversária do PSB, Marina Silva, alvo de críticas após recuar de propostas e posições publicadas em documento impresso de mais de 200 páginas, em 29 agosto. Ao mesmo tempo, protege o tucano de eventuais ataques por não apresentar um programa de governo, a exemplo do que decidiu fazer Dilma. "Apresentar o programa de governo pela web é a forma mais democrática e honesta de discutir um documento dessa complexidade", afirmou Aécio na manhã de ontem, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. "Não vou divulgar um calhamaço (de papel) porque ninguém vai ler. Vou apresentar um programa para ser debatido e colocado em prática", disse oi tucano, repetindo a presidente, que anteontem afirmou que "modernidade não é um calhamaço de papel".

Na sexta-feira, em ato de campanha em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, Aécio havia dito que o programa de governo seria anunciado ontem, mas em nenhum momento mencionou a estratégia de fatiar o documento ou que não seria ele próprio a divulgar as propostas. O tucano afirmou ontem que vai "gastar sola de sapato" pelo País na última semana de campanha.

O candidato do PSDB está em terceiro na corrida eleitoral. Para tentar chegar ao 2.º turno, Aécio concentrou a agenda nos maiores colégios eleitorais do País, todos no Sudeste: São Paulo, Minas e Rio. Ontem, depois de São Bernardo, o tucano visitou Uberlândia (MG) e Belo Horizonte. Aécio decidiu fatiar o programa em quatro áreas gerais: Sustentabilidade, semeando o presente para colher o futuro; Estado democrático, soberano, solidário e eficiente; Cidadania plena: direitos do cidadão e da sociedade e desenvolvimento para todos - este último dividido em dois dias de apresentação -; e por fim o capítulo das políticas macroeconômicas.

A apresentação de cada fatia será feita pelos coordenadores setoriais. Ontem, quem abriu a discussão com internautas foi o ambientalista Fábio Feldmann. Hoje, será a vez do ex-governador de Minas e candidato ao Senado Antonio Anastasia, responsável pela melhoria da gestão pública.

Amanhã e quinta-feira, quem vai conversar com internautas sobre programas sociais, políticas de educação e saúde. Uma das coordenadoras da área é Maria Helena Guimarães de Castro, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na gestão FHC. Segundo Aécio, a "complexidade" e a "ousadia" das propostas para "não apenas administrar a pobreza, mas para superar a pobreza", levaram a essa subdivisão.

Por fim, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga vai falar sobre economia na sexta-feira, antevéspera do 1.º turno. O virtual ministro da Fazenda de Aécio será poupado de uma saia-justa enfrentada pelo próprio candidato: o programa tratará de forma genérica o fim do fator previdenciário. O tucano prometeu acabar com o cálculo redutor de aposentadorias, mas voltou atrás e disse que vai buscar uma "alternativa" para substituí-lo.

Ontem, ao explicar o fatiamento do programa, Aécio disse ter dado aval ao documento. "O programa está pronto.

Fiz alguns ajustes até para fazer uma síntese, porque não é só um diagnóstico. Fui o único a apresentar propostas para o Nordeste, com metas claras, como reduzir em oito anos os índices de criminalidade e incluir os índices de educação dessa região na média nacional."

PT usa mesmo expediente de Collor, afirma Marina em comício

• Candidata do PSB à Presidência da República afirmou, em Caruaru, que 'Brasil não merece ser governado na base da mentira'

Angela Lacerda - O Estado de S. Paulo

CARUARU - A candidata à Presidência da República, Marina Silva (PSB), disse, na noite desta segunda-feira, 29, em comício na cidade de Caruaru, a 130 quilômetros do Recife, nunca ter podido imaginar que o PT e a presidente Dilma viessem a usar contra ela o mesmo expediente utilizado pelo então presidenciável Fernando Collor contra o ex-presidente Lula, então seu adversário na eleição de 1989 - a mentira.

Aos gritos de "Fora Dilma", Marina lembrou que Collor dizia que Lula ia destruir a indústria brasileira, que a agricultura brasileira seria invadida, que os pastores deviam esconder suas bíblias, que seriam confiscadas. Agora, disse ela, o PT e a presidente mentem dizendo que ela acabará com o Bolsa Família e outras conquistas da população.

"Pela primeira vez uma candidatura é combatida a ferro, a fogo, a água a vento e a sal grosso que é para arder mais", disse ela. "Nunca vi uma violência tão feroz de calúnias, de mentiras contra nós". Frisou ainda que quando se defende, é criticada por se fazer de vítima. "Massacra e ainda pede ao massacrado que fique calado, dizendo sim senhor. O Brasil não merece ser governado na base da mentira", frisou.

Ao lado da viúva do ex-presidenciável e ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos e dos seus três filhos mais velhos - Maria Eduarda, de 22 anos, João, de 20, e Pedro, de 18 -, Marina lembrou ter percebido o valor de Campos depois dos pernambucanos, mas antes do Brasil, que só descobriu a potencialidade e o valor do ex-líder político com a sua morte, no dia 13 de agosto, em um acidente aéreo, em Santos (SP).

Ela prometeu levar para o Brasil várias políticas implantadas por Campos em Pernambuco e ouviu a multidão entoar "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro" e o refrão do "vira, vira, vira virou" em referência à subida de Paulo Câmara nas pesquisas. Indicado por Campos, desconhecido, no início da campanha ele aparecia em franca desvantagem em relação ao adversário Armando Monteiro Neto (PTB), apoiado pelo PT. Nas últimas rodadas, Câmara já ultrapassou o petebista.

Sobre Dilma. Antes do comício, em entrevista coletiva, Marina afirmou que "a presidente Dilma sempre que uma coisa dá certo, diz que o mérito é dela, é só ver o que acontece na política econômica e tantas outras questões". "Quando algo dá errado ela trata de culpar os outros - os prefeitos, seus ministros, os governadores - ou seja, ela gosta de se apropriar dos feitos alheios quando dão certo e não assume suas responsabilidades quando algo dá errado".

Acrescentou que no seu governo, a Petrobrás, que hoje tem metade do seu valor, voltará a ser eficiente e competitiva com a função de explorar petróleo e pré-sal. "Os diretores não ficarão mais sujeitos à lógica fisiológica do toma lá dá cá".

Campanha de Marina diz que PT 'distorce' e 'mente' sobre votação da CPMF

• Nota afirma que candidata - que foi eleita duas vezes ao Senado pelo PT do Acre - votou contra todas as propostas que ofereciam a possibilidade de distorção da finalidade social da CPMF

Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A campanha do PSB à Presidência da República divulgou nesta segunda-feira, 29, nota em que contesta a campanha petista sobre o posicionamento da então senadora Marina Silva na votação da criação e prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A campanha de Marina diz que o PT "distorce" e "mente" sobre a questão e que a reação da adversária Dilma Rousseff é "manobra de desesperados".

Sob o título "A verdade de Marina", a campanha diz que a ex-senadora "sempre lutou pela saúde e contra a pobreza" e alega que o PT, ex-partido de Marina, "pinçou" momentos da votação para dizer que a presidenciável votou contra a CPMF.

"O caso da CPMF é mais um ato da incansável campanha de fofocas e mentiras do PT, que distorce a história para tentar tirar proveito eleitoral. É mais uma peça do marketing selvagem daqueles que, apavorados diante da possibilidade de se verem destituídos de poder ter um pedaço do Estado para chamar de seu, atacam, mentindo. Extraem uma parte da verdade, distorcem e querem convencer a opinião pública do contrário da realidade", declara a campanha.

Segundo a nota, Marina - que foi eleita duas vezes ao Senado pelo PT do Acre - votou contra todas as propostas que ofereciam a possibilidade de distorção da finalidade social da CPMF.

Registros do histórico de votações no Senado Federal mostram que a ex-senadora Marina Silva votou em plenário contra a criação da CPMF e a prorrogação do imposto em 1999. Em 2002, a então petista não registrou presença na votação. O PT, no entanto, votou favoravelmente à regulamentação da CPMF em 1996. O projeto de lei passou pelo Senado em votação simbólica, portanto não houve registro nominal.

Na nota, a campanha ressalta que a então senadora petista votou de acordo com a posição de sua bancada na ocasião. "O PT desconstrói, assim, sua própria história com o único objetivo de, hoje, prejudicar a candidatura de Marina. Quem mente? Nos anais do Senado há a transcrição da fala do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) no dia da aprovação da CPMF, na qual afirma: 'De modo geral, votamos favoravelmente ao projeto'", diz a nota.

Fundo. Marina diz que em 1999 liderou a instalação de uma comissão mista do Congresso Nacional para analisar a criação do Fundo de Combate à Pobreza proposto pelo senador Antonio Carlos Magalhães, na época parlamentar do PFL, apesar da oposição do PT.

"Nas discussões na Comissão Mista que analisou o projeto, Marina, ao lado do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), foi uma defensora do uso da CMPF para a formação do Fundo. A liderança do PT na comissão era contrária à medida e só mudou de posição quando o relator da Comissão, deputado Roberto Brant (PFL-MG), incorporou sugestões articuladas pela senadora", acrescenta.

A campanha explica que as emendas aprovadas na Comissão foram retiradas na votação em plenário e, por isso, a ex-senadora se opôs ao projeto. "Esse movimento é que vem sendo exposto de forma distorcida na propaganda política do PT. Com dados parciais retirados do contexto inventa-se e repete-se uma mentira. Manobra de quem perdeu a cabeça e as medidas. Manobra de desesperados", afirma a nota.

FHC ironiza Dilma em Fortaleza

• A empresários, ex-presidente afirma que petista merece o Prêmio Nobel da Economia, pois 'conseguiu arrebentar tudo ao mesmo tempo', o que, na avaliação dele, é difícil acontecer

Carmen Pompeu – O Estado de S. Paulo

FORTALEZA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) ironizou a presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira, 29, em Fortaleza, ao falar para 1,2 mil empresários. "Ela merece o Prêmio Nobel da Economia, pois conseguiu arrebentar tudo ao mesmo tempo. Isso é muito difícil de fazer em economia", disse FHC, que foi aplaudido pelos empresários cearenses.

Acompanhado do candidato ao Senado, Tasso Jereissati (PSDB-Ceará), FHC pediu votos para o presidenciável tucano Aécio Neves, mas admitiu que é muito difícil ele ir para um segundo turno. "Se fosse pelas qualidades, ele iria, mas a máquina federal está muito organizada para reeleger a presidente e o apelo de Marina é forte", destacou.

FHC disse que "infelizmente o que vale agora nas eleições é o que marketing que confunde tudo e acaba elegendo presidente".

Outra crítica a Dilma foi a passagem dela na Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada. "É triste quando a presidente do Brasil diz que vamos negociar com quem quer degolar."

Fez referências à corrupção como mal maior atualmente no País. "Temos de abrir o jogo da corrupção, mas a crise política é muito maior que a dificuldades econômica. A dificuldade econômica é mais fácil de resolver que a crise política."

FHC esteve em Fortaleza participando do Fórum Brasil em Debate promovido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE) e pela Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Copercon-CE), que trará em 27 de novembro o economista Eduardo Gianetti.

Lula diz que PT é 'perseguido' por 'imprensa conservadora'

• Ao lado de Dilma, ex-presidente afirma que dono de jornal "não apita mais"

Andréia Sadi e Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em comício ao lado da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula voltou a atacar nesta segunda-feira (29) a imprensa, que chamou de "sempre conservadora", e disse que o PT e o governo sofrem "perseguição".

Durante o evento, que ocorreu na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, Lula disse que "houve um tempo em que a gente tinha donos dos jornais [com quem] a gente podia conversar".

"Hoje eles terceirizaram os jornais, então você não tem mais dono. Quando você tem que fazer uma reclamação o dono já não apita mais". Ele citou os jornais Folha e "O Estado de S. Paulo, a TV Globo e a revista "Veja". Para o ex-presidente, há "bronca" e perseguição" contra o PT.

"Então, Dilma, eu estou dizendo isso porque quero que você compreenda porque existe hoje tanta bronca contra o PT e contra o governo, tanta perseguição".

Logo após discurso de Lula, Dilma pediu votos e disse que a eleição será a hora de a "onça beber água", porque ficará claro o trabalho do governo federal em São Paulo.

"[Há] muita coisa aqui em São Paulo que passa por ser feita pelo governo do Estado, pelo governador e não é verdade. Ela foi feita com dinheiro do governo federal, metrô, monotrilho e rodoanel e várias outras obras foram feitas com o nosso dinheiro".

O evento em São Paulo faz parte da estratégia petista para tentar diminuir a rejeição da presidente no Estado. O comitê de Dilma priorizou no primeiro turno viagens da candidata à capital paulista, reduto do PSDB e onde Marina Silva (PSB) lidera as pesquisas de intenção de voto.

Participaram do comício desta segunda o candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, e os ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Thomas Traumann (Comunicação Social) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).

Na cabeça de Aécio

Marcelo Monteiro – Zero Hora (RS)

Para melhorar o atendimento das necessidades básicas da população, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, aposta naquilo que classifica como "Estado eficiente". O modelo ideal de administração do tucano se baseia no incentivo à profissionalização da administração, a valorização dos servidores – com remuneração justa e compatível –, o fortalecimento da cultura de planejamento de curto e longo prazos e a constante avaliação das políticas públicas. No mesmo sentido, a ideia é dar maior transparência às finanças públicas, tornando o governo mais leve, simples e operante.

Além de alterações profundas nos sistemas político e tributário, as "reformas fundamentais" defendidas por Aécio atingiriam as áreas de serviços públicos, segurança e infraestrutura. Caso eleito, o candidato promete que Estados e municípios terão maior poder, verbas e autonomia.

Para a elaboração das diretrizes gerais do seu plano de governo, um documento com 76 páginas, o presidenciável afirma ter contado com a assessoria de inúmeros especialistas nas mais diversas áreas. Para consolidar a versão final do programa, Aécio pretende estimular o debate e a busca de consensos por meio da participação social de grupos, coletivos, organizações não governamentais, movimentos sociais e populares, por meio, inclusive, de mecanismos virtuais, como as redes sociais.

Na área da economia, o tucano promete cumprir à risca os compromissos do chamado tripé – inflação no centro da meta, superávit primário sem artifícios contábeis e câmbio flutuante. No que se refere à infraestrutura, Aécio quer ampliar os investimentos em rodovias, portos, aeroportos, hidrovias e ferrovias em todo o país.

– Vamos dar um choque de infraestrutura no Brasil. No meu governo, são os portos brasileiros que receberão investimentos e não os portos cubanos – afirmou, em setembro, durante visita a Cascavel (PR).


Marina prega voto em tributo a Eduardo

• A presidenciável participou de atos políticos no Recife e em Caruaru com forte apelo à memória de Eduardo, contando com familiares do ex-governador no palanque

Carolina Albuquerque e Jumariana Oliveira – Jornal do Commercio (PE

A intensa agenda de campanha da candidata a presidente Marina Silva (PSB) nessa segunda-feira ao lado do candidato ao governo Paulo Câmara (PSB) foi marcada pelo tom emocional. No Recife, em um grande comício no Cais da Alfândega, e em Caruaru, o nome do ex-governador Eduardo Campos esteve onipresente nos discursos. O simbolismo ficou por conta da fala do filho mais velho, João Campos, 20 anos, que tratou de fazer a abertura e guiar o último comício, que terminou às 23h30.

“O povo pernambucano dividiu essa perda conosco. Ele chorou pelo futuro de um jovem estadista de 49 anos”, disse João. O prefeito do Recife Geraldo Julio também exaltou a lembrança de Eduardo. “Todos aqui somos irmãos e filhos dele”, falou. A tônica fez o governador João Lyra (PSB) quebrar o protocolo e falar de costas para o público do Cais da Alfândega. “A sua maturidade e força me deixou emocionado em vários momentos”, disse, virado para João Campos.

Em Caruaru, com a estrutura montada na Avenida Rui Barbosa (a mesma onde o ex-governador esteve em agosto), aliados de Eduardo utilizaram a emoção para pedir o voto da população. Apesar de as palavras serem diferentes o recado passado foi um só: o de que é preciso honrar o legado do ex-governador.

Para deixar o ato ainda mais cheio de significados, uma foto gigante do ex-governador foi colocada no palco ao lado de Marina Silva, Beto Albuquerque (candidato à vice-presidente), Paulo Câmara e Fernando Bezerra Coelho (candidato ao Senado). Canção tradicional nas campanhas do PSB, o frevo Madeira do Rosarinho chegou a ser entoado pelo locutor do evento. No Recife, uma banda também puxou o frevo. A presença, nas duas agendas, da ex-primeira-dama Renata Campos, de Maria Eduarda, João, Pedro e José fizeram do evento um ato ainda mais simbólico.

A memória do ex-governador pautou quase todo o discurso da presidenciável Marina Silva. A candidata falou do processo de aproximação com o ex-governador e disse que “agradece a Deus” por ter se aliado a ele antes da tragédia. Marina ainda falou que Eduardo sonhava em se tornar conhecido e lembrou da última entrevista do então presidenciável, concedida ao Jornal Nacional no dia anterior a sua morte. “Temos que valorizar as pessoas decentes que estão conosco e uma forma de homenagear Eduardo é elegendo Paulo e Fernando”, disse.

A presidenciável ainda fez alusão à canção Madeira do Rosarinho para falar da sua candidatura. “Eles (adversários) estão tremendo igual a vara verde. Nós somos madeira que cupim não rói”, disse. Beto Albuquerque, candidato a vice, disse que a chapa vai construir o Brasil “com a cara de Eduardo”.

O tom emotivo também foi usado por Fernando Bezerra Coelho, candidato ao Senado. Ele disse que quando a população enxergar “Marina no Planalto, vai enxergar Eduardo no coração dela”. Paulo Câmara, por sua vez, disse que vai continuar com as ações que Eduardo Campos iniciou.

Dilma e a diplomacia petista: O Estado de S. Paulo - Editorial

O vexame que a presidente Dilma Rousseff fez o País passar perante uma audiência mundial, ao utilizar a tribuna da ONU para fazer campanha eleitoral, não resultou apenas de reles cálculo marqueteiro. É a consequência natural de uma visão distorcida do que vem a ser o interesse nacional, deliberadamente confundido com o interesse do partido ao qual Dilma pertence. Logo, ao defender na ONU as supostas realizações da era lulopetista, como se elas qualificassem o Brasil no cenário internacional, Dilma sacramentou a diplomacia partidária que vem carcomendo a credibilidade brasileira. Essa crença de que a política externa do País não pode ser "apenas uma política de Estado" foi reafirmada pela presidente, com essas exatas palavras, em entrevista à revista Política Externa, a propósito de seus planos para as relações exteriores, caso seja reeleita.

Na conversa, Dilma afirmou que "aprisionar a política externa em um só modelo" - isto é, a diplomacia de Estado, e não de partido - "denota uma atitude conservadora por parte dos que não querem mudar nada". Para ela, as estratégias diplomáticas são, "antes de tudo", uma "escolha da sociedade, que se faz periodicamente por meio de eleições". Com isso, a presidente reafirma, com a maior clareza possível, que a política externa legítima é aquela ditada pelo partido vencedor das eleições - e os que a isso se opõem são desde logo "conservadores" que "não querem mudar nada".

É evidente que o partido legitimado pelas urnas pode e deve implementar seu programa nos diversos aspectos da administração pública, aí incluída a atuação internacional. No entanto, isso é muito diferente de obrigar a diplomacia brasileira a atuar como braço do PT, alinhando o Brasil a países párias e a ditaduras, somente porque estes compartilham da ideologia companheira, e amarrando o País a compromissos que o impedem de fazer acordos comerciais que o tornariam mais competitivo no mercado internacional. A julgar pelo entusiasmo com que Dilma defendeu esse modelo na entrevista, no entanto, pode-se esperar que ele seja até mesmo aprofundado no eventual segundo mandato.

Indiferente à realidade, em autêntico estado de negação, Dilma disse que as "novas prioridades da política externa brasileira produziram resultados extraordinários" - orgulhando-se do desastroso desempenho comercial de seu mandato, que recentemente obrigou o governo a incluir a exportação fictícia de plataformas de petróleo para ajudar a conta a fechar no azul. Na construção da triunfante narrativa petista, Dilma diz que essa performance "extraordinária" não se deve apenas à demanda internacional por commodities, "mas fundamentalmente porque o Brasil, com sua nova política externa, adaptou-se bem às profundas mudanças que ocorreram, e ainda ocorrem, na geoeconomia e na geopolítica mundiais".

Tal "adaptação" resumiu-se ao aprofundamento das chamadas relações "Sul-Sul" - política que justifica a prioridade dada a parceiros que ou têm pouca relevância ou demonstram escasso apreço à democracia. Essa estratégia representou ganhos pífios para o Brasil, mas alimentou o discurso petista contra os países ricos. Assim, para Dilma, o "resultado mais expressivo" dessa diplomacia foi o "claro e substancial aumento do nosso protagonismo mundial".

A despeito dessa megalomania companheira, no entanto, Dilma dá pouca ou nenhuma importância para a diplomacia formal, e o maior exemplo disso é o contínuo sucateamento do Itamaraty. São abundantes as reclamações de diplomatas a respeito das restrições orçamentárias - causadas em parte pelo fracasso da estabanada política de multiplicação de representações diplomáticas promovida pelo governo Lula.

Além disso, enquanto reivindica para o Brasil um lugar entre os protagonistas globais, Dilma descuida dos rituais mais elementares das relações internacionais. Só isso explica o chá de cadeira que a presidente está dando a 28 embaixadores estrangeiros que estão há meses esperando que ela os receba para lhe apresentar suas credenciais, formalidade necessária para que eles sejam reconhecidos oficialmente como representantes de seus países.

Sergio Fausto: Falhas na representação parlamentar


  • Para a maioria, a escolha do deputado equivale à emissão de um cheque em branco em nome de um favorecido sobre o qual se sabe muito pouco

- Folha de S. Paulo

As eleições para a Presidência, para os governos estaduais e para o Senado atraem muito mais o interesse geral do que as eleições proporcionais (para a Câmara Federal e as assembleias estaduais).

Passa despercebido como as eleições para deputado estadual e federal afetam as percepções do eleitor sobre os partidos, o sistema político e a política em geral. Tampouco se dá a devida atenção à relevância dessas eleições para a seleção das lideranças políticas.

Nelas estão engajados nada menos que 21 mil candidatos em todo o país, mobilizando mais de R$ 2 bilhões, aproximadamente 40% do total de gastos eleitorais nesta campanha. A julgar pelo passado, futuros governadores de Estado e mesmo presidentes da República estão em meio a esse grande contingente de candidatos (dos governadores eleitos em 2010, 80% passaram pela Câmara Federal e/ou pela assembleia legislativa de seu Estado).

Em boa medida, o desprestígio crescente da política no Brasil pode ser explicado pelas relações que se estabelecem (ou não se estabelecem) entre representados e representantes durante e a partir das eleições a deputado. Qualquer relação de representação requer, como ponto de partida, que o eleitor tenha condições minimamente razoáveis para informar-se sobre os candidatos. Sem isso, como escolher o representante e depois avaliá-lo no desempenho do seu mandato?

Falhas na engrenagem da representação se verificam em todos os sistemas eleitorais, mas, no Brasil, elas são particularmente graves, em especial nas eleições proporcionais.

Tome-se o exemplo de São Paulo, onde 1.318 candidatos concorrem à Câmara Federal e 1.879 à Assembleia Legislativa. Somados, temos quase 3.200 indivíduos correndo atrás do voto dos eleitores por todo o Estado, numa disputa de todos contra todos. Chegamos a esse ponto pela proliferação de partidos, hoje em número de 32, no quadro de um sistema eleitoral que favorece campanhas individuais.

Daí resulta a virtual impossibilidade de se estabelecer uma comunicação significativa entre eleitores e candidatos. Basta assistir ao horário eleitoral: um desfile patético de nomes e números esvaziados de qualquer conteúdo político.

É claro que a política e a sociedade encontram outras formas de se conectar (por meio de corporações profissionais, igrejas, sindicatos, lideranças locais, pela internet etc.). Mas para a grande maioria do eleitorado o processo de escolha equivale à emissão de um cheque em branco para um favorecido sobre o qual se sabe muito pouco. Mesmo o nome do escolhido some da memória poucos meses após a eleição.

Além de ruim, o sistema é caro. Sem ganho para o público, o gasto privado com campanhas eleitorais disparou nos últimos anos (aumento de quase 500% nas eleições para deputados federais de 2002 a 2010).

O estudo "Gastos em Campanhas Eleitorais no Brasil", elaborado por Ana Luiza Backes e Luiz Cláudio Pires dos Santos, da consultoria legislativa da Câmara, mostra que há uma alta correlação entre volume de gastos e sucesso eleitoral (mais de 70% dos deputados federais eleitos de 2010 estavam entre os de campanha mais cara em seus estados).

Assim, é óbvio que seus vínculos preferenciais de representação tendam a ser com doadores de recursos financeiros (empresas) e fornecedores de votos no atacado (igrejas, sindicatos, prefeituras etc.). Não é à toa que o eleitor se sente à margem desse processo.

Ao enfrentar a reforma política, o Congresso precisa encarar essas graves falhas, sob pena de hipotecar o futuro da instituição parlamentar, indispensável à democracia.

Sergio Fausto, cientista político, é superintendente-executivo da Fundação iFHC

Raimundo Santos: A conjuntura eleitoral

Às vésperas do primeiro turno, em 5 de outubro, as eleições já não se reduzem a encaminhar o que impropriamente vem sendo chamado de sucessão presidencial, como se elas fossem um processo naturalizado, e não um momento da vida nacional essencialmente político e movimentado, no qual sempre é possível o inesperado.

A morte de Eduardo Campos redimensionou o quadro político ao quebrar a ordem criada por um confronto entre o PT e o PSDB, que até então se mostrava estabelecida. Esta polarização recobria – e ainda procura se impor, como se vê na propaganda de um e outro lado –, visões simplificadoras da nossa sociedade. Somos uma sociedade que cada vez mais se diferencia no plano econômico-social, no extenso mundo associativo, nas múltiplas culturas, nos meios de comunicação livres e assim por diante.

Nesse novo curso após a morte de Eduardo Campos, com a consolidação competitiva da terceira via na candidatura de Marina da Silva, a disputa iria passar a ser mais congruente com a complexidade brasileira, e já não estaria destinada a um desfecho único prefigurado por aquele embate dualista que vinha subsumindo toda a eleição presidencial.

Redimensionadas, as eleições tanto podem reproduzir a atual presidência da república, como interromper, com a vitória das oposições, o ciclo dos 12 anos dos três últimos governos.

As interpelações dos protestos de opinião pública de junho de 2013, de significado político esquecido nas campanhas eleitorais, estão de volta, quer na questão da qualidade dos serviços públicos – que já vinha se afirmando e ora domina o pleito – quer nos temas políticos, que aí estão abrindo caminho, como a questão da função da política como tal, o mais importante deles.

O encontro de todos com todos, que a rigor são as eleições, por sua natureza enseja resultados anticatastróficos. Pelo que temos notado nos últimos 40 dias de lutas acirradas, mas também de debates que se apresentam aos eleitores de modo bem mais nítido, a própria política torna a ocupar o seu lugar de instrumento de transformação das coisas, agora, no segundo turno,e muito mais ainda no tempo difícil após a conclusão do processo eleitoral, tanto no cenário da reeleição como no de um novo governo.

Raimundo Santos é professor da UFRRJ.

[Publicado no boletim Rural Semanal (UFRRJ), 29/9 a 5/10/2014].

Merval Pereira: Quem é o antipetista ?

- O Globo

A disputa pelo voto antipetista é o que opõe nesta reta final a candidatura de Aécio Neves, do PSDB, à de Marina Silva, do PSB. O raciocínio que prevalece hoje no PSDB é francamente contrário a um acordo formal com Marina num eventual segundo turno. À medida que cresce a percepção entre os assessores de Aécio Neves de que é possível ir ao segundo turno passando por cima de Marina, o que tem que necessariamente ser confirmado pelas pesquisas Ibope e Datafolha que serão divulgadas hoje, aumenta também a visão crítica sobre a relação entre os dois partidos.

Afinal, raciocinam, não é justo cobrar do PSDB uma frente de oposição no primeiro turno para apoiar uma candidata que não apoiou o PSDB no segundo turno na eleição passada. Além do mais, Marina não ter ia feito nenhum sinal até o momento para uma aproximação, e Walter Feldman, que supostamente será o articulador político de um futuro governo, diz que o PSDB tende a acabar. Há uma espécie de orgulho na campanha tucana pelo "mérito", não "culpa", de terem feito um estrago na candidatura de Marina, revelando sua raiz petista — que, nessa visão da campanha de Aécio, não representar ia uma mudança verdadeira de cenário. O resultado prático na contabilidade dos tucanos foi inviabilizar o voto útil em Marina no primeiro turno.

Por que votar útil por Marina se ela já está perdendo no segundo turno para Dilma e dá mostras de fraqueza? Marina já deixou de ser "uma causa", virou uma candidata, o que seria meio caminho para ser superada nesta reta final. Boa parte do voto antipetista ainda está com Marina em São Paulo e Minas, e o esforço do primeiro turno é recuperá-lo para chegar nos últimos dias em empate técnico com a candidata do PSB. Nas simulações de segundo turno, já ganham de 70% a 80% dos votos de Marina, dizem os analistas da campanha tucana. A campanha em Minas tem um subproduto especial, a tentativa de reverter o quadro em que o petista Fernando Pimentel supera o tucano Pimenta da Veiga. O objetivo inicial é impedir que, lá, a eleição ter mine no primeiro turno.

Se Aécio Neves conseguir re ver ter a questão nacional indo par a o segundo turno contra Dilma, a disputa em Minas ganhará uma dimensão distinta. Caso apenas em Minas seja possível evitar a derrota no primeiro turno, o grupo político de Aécio Neves se dedicará integralmente à campanha estadual, para garantir seu reduto eleitoral. Hoje, o candidato petista tem, segundo o Datafolha, 51% dos votos válidos, o que o coloca no limite da vitória no primeiro turno. Há, porém, histórias famosas em Minas sobre reviravoltas em eleição, a mais recente delas com Hélio Costa em 1994, quando terminou o primeiro turno à frente, com 49% dos votos, e perdeu no segundo turno para Eduardo Azeredo. Na eleição anterior, Costa já havia perdido para Hélio Garcia por 1% dos votos no 2º turno. Superar Dilma e Marina em São Paulo e em Minas seria o primeiro passo para uma recuperação nacional, que viria em consequência.

Num segundo turno, a tentativa será fazer a maior diferença possível nos dois estados, conforme o planejamento inicial, para reduzir a diferença no Norte e no Nordeste. O problema é que, em ambos os estados, a presidente Dilma está tendo uma performance muito boa, e a recíproca não é verdadeira para Aécio no Norte e no Nordeste do país. As pesquisas divulgadas ontem, da CNT/MDA e do Vox Populi, mostram a presidente Dilma com 40% dos votos, a mesma pontuação que a pesquisa anterior do Datafolha, mas diferem em relação a Marina. Na CNT/MDA, a candidata do PSB caiu 2 pontos, e Aécio subiu os mesmo dois, o que representaria as curvas ascendente do tucano e descendente de Marina. Já o Vox Populi mostra Marina subindo dois pontos e Aécio subindo um, o que demonstraria que dificilmente o tucano teria condições de superar Marina até o próximo domingo.

Dora Kramer: Perdas inegáveis

- O Estado de S. Paulo

A menos que a presidente Dilma Rousseff saia em disparada nas últimas pesquisas antes do primeiro turno, esta agora terá sido a eleição em que o candidato com o maior índice de intenções de voto apresenta a menor vantagem em relação ao principal adversário.

O instituto Datafolha levantou os dados dos desempenhos dos candidatos de 1994 para cá, comparando as pesquisas feitas a uma semana do dia da primeira votação. Fernando Henrique Cardoso, há 20 anos, tinha 47% contra 23% de Luiz Inácio da Silva, mais que o dobro; venceu na primeira rodada por 54% a 27%.

Quatro anos depois, a pesquisa registrava proporção semelhante: 46% a 25%; FH ganhou no primeiro turno por 53% a 31%. A partir de 2002 as disputas ficariam mais difíceis e todas seriam decididas no segundo turno.

Naquele ano, Lula aparecia na pesquisa com 45% contra 21% de José Serra, 24 pontos de diferença; na simulação de segundo turno, a distância era de 22 pontos (57% a 35%). O resultado, Lula 61% e Serra 38%.

Em 2006, as pesquisas registravam uma redução da vantagem no primeiro turno com 49% para Lula e 31% para Geraldo Alckmin, 18 pontos. A simulação do segundo apontava a recuperação do petista (54% a 39%, diferença de 15 pontos) confirmada com folga pelo resultado das urnas, 60% Lula e 38% Alckmin.

Na eleição seguinte, Lula no auge da popularidade, governo com aprovação altíssima, a candidata Dilma Rousseff aparecia nas pesquisas uma semana antes da eleição com 46% contra 28% de José Serra; 18 pontos de diferença. Na simulação da segunda etapa a distância entre os dois era de 13 pontos (52% a 39%). Dilma ganhou por 12:56% a 44%.

As pesquisas desta semana é que vão permitir a conferência precisa da situação atual comparativamente aos dados acima. Mas, considerando os números mais recentes a margem é consideravelmente mais estreita: no primeiro turno Dilma tem vantagem de 13 pontos em relação a Marina (40% a 27%) e no segundo, inéditos 4 (47% a 43%).

A menos que as pesquisas finais que começam a sair hoje mostrem que o Brasil resolveu cair de amores pela presidente Dilma Rousseff, os números mostram como nunca foi tão estreita a margem de manobra para o governo do PT.

Está aí em parte explicado o recurso aos ataques ferozes à segunda colocada, arma em geral evitada por candidatos em situação razoavelmente confortável nas disputas, dado o alto risco de haver uma espécie de efeito bumerangue. Não havia outro jeito. Ou a campanha abatia Marina Silva ou entregava de bandeja a Presidência.

Mesmo com a perda já significativa de pontos da candidata do PSB, principalmente nos maiores colégios eleitorais, o ambiente no PT está longe de ser de serenidade e bom humor. No comitê central, em Brasília, a atmosfera está mais para manifestações de junho que para Copa do Mundo.

Na verdade o clima é tenso em todas as campanhas. O PSB teme o derretimento de última hora e no campo dos tucanos o inconformismo é com a confirmação da eliminação precoce pela primeira vez em 20 anos.

De um lado governar com muito menos, de outros fazer oposição com menos ainda.

Corpo mole. Compreende-se que o PSDB tenha investido pesado no Sudeste a fim de tentar tirar nos maiores colégios eleitorais a diferença da vantagem que o PT tem o Nordeste. O que não é compreensível é o desempenho de nanico que o partido apresenta na região.

Em redutos de aliados fortes. No Ceará, onde Tasso Jereissati será eleito, o senador Aécio Neves tem 7% na última pesquisa do Datafolha. No Rio Grande do Norte, terra de Agripino Maia, coordenador da campanha, o Ibope registra 11% para Aécio. Mesmo índice na Paraíba, onde o senador tucano Cássio Cunha Lima está em primeiro lugar para governador.

Os mesmos 11% o candidato do PSDB tem na Bahia, a despeito de o candidato ao governo Paulo Souto (DEM), seu aliado, estar cotado para vencer no primeiro turno.

Eliane Cantanhêde: Mato sem cachorro

- Folha de S. Paulo

A campanha do PSDB anda animada com os ventos de última hora em grandes redutos eleitorais, mas Aécio Neves está num mato sem cachorro. Se correr, o bicho pode pegar; se ficar, o bicho pode comer.

A boa notícia para o tucano no Datafolha é que ele cresceu seis pontos em São Paulo, por exemplo, e no geral está só nove pontos atrás de Marina Silva, a segunda colocada. A má notícia é que faltam poucos dias e o grande risco de Aécio, ao bater em Marina, é favorecer Dilma, não ele próprio.

A única chance de Aécio chegar ao segundo turno é atacar as fragilidades de Marina. Mas, se ele não calibrar bem os ataques, pode obter o efeito inverso ao que gostaria: a vitória de Dilma já no primeiro turno.

Depende de uma combinação de dados: o quanto Marina cair e o quanto ele subir. Aécio precisa bater, mas não pode bater muito. Tem de ser o suficiente para enfraquecer Marina e herdar os seus votos, não a ponto de enfraquecê-la demais e transferir pontos diretos dela para Dilma.

Uma operação delicada, ainda mais se Dilma tem todas as condições e vantagens. Quanto mais brotam notícias ruins da economia e quanto mais se sabe que ela não cumpriu as promessas de 2010, mais ela cresce. O que se discute não é o crescimento pífio, as contas públicas, o desequilíbrio externo. É se Marina é a candidata dos banqueiros. Raia o ridículo.

Isso comprova que as versões e o marketing valem mais do que os fatos e a realidade. São eles que determinam os rumos das eleições. E, além de todos os seus trunfos objetivos, Dilma conta com a oposição dividida, competindo entre si, atarantada, para fazer o jogo dela.

Aécio precisa medir adequadamente os ataques no primeiro turno. E PSDB, PSB, Rede, DEM e PPS não podem explodir pontes para uma rearticulação de forças no segundo. Senão, ficará cada vez mais difícil enfrentar o rolo compressor do governo e do PT. Apesar de tudo e de todo o grande desgaste, aparentemente irreversível, do partido.

Raymundo Costa: PT já pensa em como controlar Dilma 2

• Lula ajuda a eleger mas também quer a ajudar a governar

- Valor Econômico

O PT passou a considerar a hipótese de vencer a eleição presidencial no primeiro turno, em reunião realizada pela coordenação da campanha da presidente Dilma Rousseff, após o debate da Rede Record. "Não é provável, mas também não é impossível", dizem os integrantes do comitê eleitoral da reeleição, tendo por base uma série de números positivos mostrados pelas últimas pesquisas.

Essa hipótese será maior, na avaliação da campanha da presidente da República, se a candidata Marina Silva (PSB) repetir no debate da TV Globo, marcado para o dia 2, quinta-feira, o mesmo desempenho que teve no debate da Record, na noite do último domingo. Marina estava na defensiva. Aparentemente sentiu o impacto da queda nas pesquisas e perdeu um pouco do ímpeto que exibiu em outras ocasiões.

Dilma, ao contrário, incorporou o papel da "gerentona", investiu contra os adversários e deixou claro que eles podiam atacar, que ela estava preparada para rebater qualquer acusação. Aécio foi bem, segundo avaliação dos petistas, mas nada a ponto de mudar o curso de uma eleição que caminha para um segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva, se não se concretizar a possibilidade remota de o PT não ganhar no domingo mesmo.

"Resta saber se vamos bater na trave ou vamos para o segundo turno", diz o coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, Luiz Marinho, ex-ministro do Trabalho no governo Lula, atual prefeito de São Bernardo do Campo. O PT "bateu na trave" em 2006, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou a milímetros da vitória em primeiro turno, assim como Dilma em 2010 - nas duas eleições o PT perdeu votos devido a escândalos denunciados na reta final da campanha.

O PT justifica seu atual momento otimista com base em informações quantitativas e qualitativas, após um período de depressão que durou de meados de agosto até o início de setembro. Até o "Volta Lula" chegou a ser lembrado, quando Marina disparou dez pontos de vantagem sobre Dilma, numa simulação do Datafolha de segundo turno. Mas Lula era um dos poucos a dizer que a eleição não estava perdida e que a reação era possível.

Os sinais "qualitativos" que a campanha de Dilma passou a recolher nos últimos dias indicam, por exemplo, que já há duas semanas cresce a parcela da população brasileira que acha que a presidente conseguirá a reeleição (já foi de 51%, agora está em 61%), mesmo entre aqueles que não votam nela. 

Os eleitores de Dilma também são os mais fidelizados. A pesquisa MDA/CNT divulgada ontem revela que 85,9% dos eleitores de Dilma disseram que a presidente é sua opção definitiva. O percentual de Marina e Aécio é bem menor.

O ministro Miguel Rossetto, que se licenciou do cargo para se dedicar aos últimos 30 dias da campanha da presidente Dilma, também chama a atenção para outro aspecto, o fato de a candidatura da presidente chegar a esta altura da disputa em curva ascendente e com possibilidade de se manter assim até o próximo domingo, como sugerem os dados qualitativos. "Nós estamos entrando em crescimento na reta final da campanha. É o melhor momento de nossa campanha e é um momento de crescimento eleitoral, enquanto os nossos adversários estão em queda".

Com todos esses indicadores favoráveis, a campanha espera ainda ganhar a maior parte dos votos dos eleitores que consideram regular o desempenho do governo Dilma Rousseff, algo estimado em 35% do total. O movimento de "desconstrução" de Marina deve continuar, enquanto Lula dobrou suas atividades em São Paulo, o maior bastião da resistência ao petismo.

Segundo a coordenação da campanha, Dilma cresceu nas pesquisas porque se afirmou como uma líder capaz de governar o país, nos próximos quatro anos, com uma "estabilidade positiva". Tanto no que diz respeito à economia, como em relação às relações com o Congresso e às mudanças que o país exige e aparecem refletidas nas pesquisas, ainda agora quando a presidente retoma o favoritismo na disputa presidencial.

A última semana de campanha demonstra uma notável capacidade de adaptação do comando estratégico da campanha Dilma à nova situação criada com a morte do ex-candidato do PSB, Eduardo Campos, ocorrida em acidente aéreo no dia 13 de agosto. A campanha do PT se adaptou mais rapidamente à nova conjuntura e foi ágil ao trocar o que havia preparado para disputar a eleição com Aécio Neves por uma outra estratégia tendo como alvo a ex-senadora Marina. No momento, tem material tanto para disputar com Marina como com Aécio, na hipótese improvável de o candidato do PSDB passar para o segundo turno das eleições.

O PT já fala e age como vitorioso. É voz corrente na campanha da reeleição da presidente da República que o ex-presidente Lula pretende ter uma participação mais ativa nos rumos do segundo governo Dilma. Os petistas falam em inverter a equação do primeiro mandato, mais ou menos definidos nos seguintes termos: "A campanha é nossa, o governo é dela". Ou seja, o PT é bom para a campanha e para levantar a candidata, em seus momentos de dificuldade, mas não serviria para governar. Forte ressentimento. Mas é algo que segundo os petistas deve ser feito com muito cuidado, para não estressar e levar Dilma a se fechar em relação a empresários, congressistas e às críticas sobre a condução da política econômica, muitas delas surgidas no arraial do próprio Lula da Silva. E a impressão no PT é que Dilma sai de 2014 mais devedora que em 2010, quando era só um poste.

O apoio do PSDB a Marina, no segundo turno, não é ponto pacífico. A candidata do PSB demora muito a fazer um aceno para Geraldo Alckmin, que deve vencer em São Paulo em aliança com o PSB, quando o próprio vice de sua chapa, Beto Albuquerque, já gravou para os programas de Alckmin e de José Serra para o Senado. Os tucanos também acham que Marina mantém um forte ranço petista.